ALMARA: Ameaça na Ilha de Xibalba escrita por Xarkz


Capítulo 34
CAPÍTULO 33 | Contagem Regressiva para Xilbalba


Notas iniciais do capítulo

Algar reencontra um velho amigo e após a revelação bombástica de Eril, os treinamentos continuam. Lisica parece ter um plano para lidar com os traumas de infância de Kore.



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Os dois ficaram sentados na beirada do barranco sem trocarem uma só palavra por alguns minutos.

— Me desculpe! — inicia Eril, quebrando o gelo. — Eu fiquei fora de mim. Tanta coisa passou pela minha cabeça. Minha linhagem, Xibalba, essa pressão do Império Mundial. Acabei descarregando em você, como se a culpa fosse apenas sua. Você é jovem, eu é quem deveria ter sido a mais madura.

— Então eu vou ser pai mesmo? Não imaginei que seria tão cedo. Acabei de fazer dezoito. Mas, apesar de todas as coisas que estamos passando, estou feliz com isso. Sempre sonhei em um dia ter um filho e ensinar ele a lutar. — com um leve sorriso no rosto.

— Que bom! Acho que você será um bom pai. Mas ao mesmo tempo eu tomei uma decisão. Sei que é contraditório, mas não podemos mais ficar juntos.

— O quê? Como assim? Agora que vamos ter mais um motivo para ficarmos juntos você quer terminar?

— Eu me deixei levar. Jamais deveria ter começado esse relacionamento com você. Não tenho como voltar no tempo, então vou fazer o que é certo a partir de agora.

— E porque terminar é o certo à se fazer?

— Eu já te expliquei sobre isso. Não posso casar com alguém que não seja um nobre. Este filho é seu, é claro, mas é preferível que eu o crie sozinha do que assumir esse relacionamento.

— Vai me impedir de criar meu filho?

— Não, é claro que não. Você vai vê-lo sempre que quiser.

— Mas você jamais vai assumir que o filho é meu. É isso?

Eril não responde.

— Isso é sério? Não esperava isso de você.

— Você é quem não entende sobre a realeza e a importância que tem a imagem da família real para a sociedade. Minha mãe já maculou essa imagem uma vez. Os aldeões, por adorarem minha família, não tocam no assunto, mas é óbvio que nos julgam em silêncio. Se eu repetir o mesmo erro dela, que confiança eles vão ter em mim?

— É muito diferente. Sua mãe já era casada com o rei quando engravidou de outro. Além do mais, até onde eu sei, você sequer gosta de ser uma princesa. Deixe que seu irmão cuide da linhagem da família.

— É da minha mãe que estamos falando. Não quero que ela fique marcada como o galho maldito da família. Eu posso não ter sangue nobre, mas quero que meu filho tenha. Pelo menos metade.

— O antigo rei escolheu sua mãe como companheira, ela era uma plebéia e ele não se importou nem um pouco com isso.

— E olha no que deu? Por mais que você diga que não faz diferença ela ter sangue real ou não, o que todos vêem é que o único rei que deu a chance para uma plebéia entrar para a família real acabou sendo traído e morto.

Mesmo contrariado, acabam os argumentos de Kore.

— Ainda sim, nossa história é diferente. Se vai levar em frente essa história de nunca revelar que sou o pai, tudo bem. Por respeito à você eu mantenho o segredo. Mas não concordo com nada disso.

— De qualquer forma, uma gravidez na atual conjuntura não é uma boa coisa. Justo quando preciso focar toda minha atenção em me fortalecer para entrar em Xibalba. E o que vai ser dessa criança se morrermos lá?

— Nós não vamos morrer. Essa criança é mais um motivo para nos esforçarmos ainda mais. Não vou me permitir morrer e deixar essa criança órfã.

— Queria ter um pouco desse seu otimismo.

— Não sou otimista. Eu simplesmente me recuso a falhar quando algo tão importante está em jogo. Vamos dar um jeito nisso.

— Espero que você esteja certo. Agora vamos treinar, não temos tempo à perder. Felizmente não sou uma guerreira e posso melhorar minhas habilidades adquirindo conhecimento ao invés de exercitando o corpo. Vou deixar para ler os livros de magia no final da gravidez.

 

Os dias passam e o treinamento continua.

Eril finalmente consegue lançar uma minúscula bola de fogo utilizando o cajado negro e, quanto a Kore, inicia um novo treinamento, extremamente puxado.

Durante um dia inteiro ele desce e sobe a montanha, sem comer ou beber.

Percebendo a situação perigosa, Eril decide intervir.

— Lisica, eu não quero questionar seus métodos, mas o Kore está sem se alimentar e desidratado. Isso não irá fazer bem a saúde dele.

— Está preocupada que ele fique doente? Que os músculos parem de responder? Que os órgãos dele se enfraqueçam?

— Claro! Se seus órgãos falharem será um problema. Eu sei que você pode cuidar de quase qualquer doença com magia, mas isso só vai atrasar o treinamento e não vejo como pode deixá-lo mais forte com isso.

Lisica fica em silêncio, negando-se a responder, até que Eril desiste.

Durante a noite inteira Kore continua subindo e descendo a montanha e o mesmo ocorre durante o próximo dia, sem parar, sem dormir, sem comer ou beber.

No terceiro dia, Lisica prende algumas rochas em uma extremidade de uma corda e amarra a outra extremidade no corpo de Kore, que deverá realizar o percurso puxando as pedras.

Já não há suor em seu corpo, devido a desidratação, suas olheiras são fundas e seus pés, descalços, estão machucados.

Lisica aguarda o retorno de Kore, que está prestes a chegar ao topo da montanha pela enésima vez, mas agora ele se rasteja, praticamente sem forças.

Novamente Eril decide intervir.

— Lisica, me perdoe mas não posso permitir que continue com essa tortura. Isso sequer é um treinamento. Os músculos dele já passaram do limite e após a fadiga muscular não há evolução. Se ele continuar só vai se machucar mais.

— Eu sei disso.

— Mas então porque continua?

— Não estou treinando seu corpo.

Ambas avistam Kore, arrastando-se montanha acima.

— Estou testando seu espírito. E ele já entendeu isso.

Mesmo compreendendo, Eril ainda parece não concordar com aquilo e Lisica percebe, fazendo questão de explicar.

— Kore me perguntou outro dia, o que fazer quando enfrentar alguém que é mais forte do que ele, e eu respondi: use sua agilidade. Então ele me perguntou o que fazer se o oponente também for mais rápido, e eu respondi: então use sua inteligência. Ele sabe bem que não é o cara mais esperto do mundo, então ele me perguntou o que fazer se o oponente for mais forte, mais rápido e mais inteligente do que ele, e eu respondi: Nesse caso, você deve esmagá-lo com seu espírito.

Eril parece confusa e sente que entendeu apenas parcialmente a ideia. Lisica continua.

— Ter um espírito forte não tem nada a ver com resistência física, tem a ver com o quão persistente você é. O quanto você aguenta antes de desistir.

— Mas você acha que dá para treinar isso? Força de vontade me parece algo mais da personalidade do que algo que você possa desenvolver.

— É por isso que eu disse que estou TESTANDO seu espírito. Eu acredito que Kore tenha um espírito forte, que ele consiga aguentar muito além do seu limite. Aliás, aqui entre nós, ele não é nenhum gênio das lutas. Ele se fortalece um pouco mais rápido do que a maioria dos guerreiros, mas nada de extraordinário. A única coisa que me chamou a atenção foi o seu espírito e é nisso que estou apostando. Só que se ele falhar, pode tirá-lo do time, pois será um peso morto.

 

No mesmo dia, na cidade de Danathrya, Algar aguarda em uma taverna, lendo um livro de alquimia enquanto seca uma caneca de chope.

— Ervas do leste? — diz uma voz, próxima a Algar. — Não tem nada de interessante aí pra você.

Algar avista à seu lado um anão careca, com uma barba preta curta, porém, com um enorme bigode.

— Beogrim! — exclama Algar, enquanto levanta-se, saudando o homem com um abraço. — Seu velho rabugento.

— Quase não te reconheci, Algar. Da última vez que te vi sua barba ainda era rala.

— Não exagere. Mas o que aconteceu com o seu olho? — referindo-se à uma prótese biônica que o recém chegado possui no lugar do olho direito.

— Um acidente de trabalho. Fiz essa prótese, mas ela é uma porcaria. Mal consigo enxergar com ela. A única vantagem é que posso alterar o tipo de visão. — enquanto gira um anel ao redor do aparelho. — Tenho visão noturna, visão térmica e até uma lente que eu inventei depois do acidente, que me indica perigo de explosão. Assim posso evitar de perder outro olho.

— Ou de ficar ainda mais feio.

— Ora essa! Mas vejo que tem algo interessante aí. — apontando para um equipamento mecânico nas costas de Algar, com alças em forma de mochila.

— Esta é minha obra prima. — diz Algar, colocando o aparelho em cima da mesa. — É um laboratório portátil. Além do mais, adaptei para que eu possa usar como arma, encaixando-o no meu braço.

— “Laboratório portátil”, heim? E que tal vir conhecer um laboratório de verdade?

— Pensei que não iria me convidar nunca.

Após terminar de beber, Algar deixa algumas moedas de cobre sobre a mesa e segue pela rua com seu amigo Beogrim.

Eles andam algumas quadras até que chegam na biblioteca principal de Danathrya.

Um colossal acervo de livros, dispostos de centenas de livros de todos os tipos.

— Nunca me canso de admirar esse lugar. — diz Algar, maravilhado. — De qualquer forma, achei que iríamos ao seu laboratório. O que estamos fazendo na biblioteca?

— Eu sempre deixo a chave do laboratório aqui na biblioteca, é mais seguro.

Sem entender bem, Algar apenas segue o amigo por entre os corredores de estantes. Sobem três lances de escadas e então mais alguns corredores, até que chegam em frente à uma estante em especial.

Beogrim procura até que encontra um livro em específico, retirando-o da prateleira.

Algar olha de um lado e de outro, como se esperasse algo.

— Achei que ia abrir uma passagem secreta quando você pegasse o livro. — ironiza.

— Mas que besteira. Está lendo histórias de mistério demais.

De volta à rua, a dupla caminha para um local mais afastado, chegando em um grande bosque.

— Chegamos! — informa o anão careca.

Algar estranha, por não haver absolutamente nada ao redor além de árvores, grama e pedras, mas continua quieto.

Beogrim saca de sua mochila o livro que pegou na biblioteca, o folheia até encontrar a página desejada e coloca-o aberto no chão.

Em seguida concentra sua energia na palma da mão direita e então toca o livro com ela.

Um círculo luminoso, de três metros de diâmetro, surge no chão à sua frente, com diversos símbolos igualmente luminosos e, em seguida, algo começa a emergir do círculo.

Uma construção de pedra com uma porta de metal aparece. O círculo luminoso se desfaz e Beogrim recolhe o livro.

— Venha, pode entrar. — convida Beogrim abrindo a porta, após ter girado uma roda metálica, que a destrancou.

Uma escadaria é revelada e, após descerem alguns degraus, é possível ouvir um som do lado de fora e a porta atrás deles desaparece completamente, selando a entrada.

Mais alguns metros e surge uma segunda porta, Beogrim a empurra e Algar fica boquiaberto com o que encontra do outro lado.

Construtos delgados e mais ágeis caminham de um lado para o outro, carregando equipamentos que Algar sequer faz ideia do que sejam. Ferramentas que apenas profissionais possuem acesso e algumas até desconhecidas decoram as paredes e bancadas de trabalho.

Tanques e tubos com diversas soluções, que passam de um para o outro por canos, passando por máquinas complexas.

Não era o maior dos laboratórios, mas com certeza o mais tecnológico que Algar já viu. Nem mesmo o Laboratório das Ciências Místicas poderia competir com aquilo.

— É impressionante, não é? — gaba-se Beogrim.

— Você fez tudo isso sozinho? — olhando de um lado para o outro, maravilhado.

— Gostaria de dizer que sim, mas seria mentira. Só fui capaz de conseguir tudo isso graças à um garoto que conheci. Ele era um viajante planar e tinha o conhecimento de uma tecnologia muito acima da nossa. Os viajantes planares que geralmente se vê por aí, além de não falarem nossa língua, parecem mais atrasados que nós, mas esse era diferente.

— Ele veio da cidade flutuante?

— Sim! Ele veio de Neo Kalak. A cidade tecnológica. Muito do que ele me passou só consegui me aproximar do resultado verdadeiro e outras sequer consegui reproduzir.

— E o que houve com ele?

— Um viajante planar fora de Waltrode já não passa desapercebido, que dirá um tão civilizado e com tanto conhecimento. Não demorou muito para levantar suspeitas. Eu e ele criamos esse laboratório secreto e trabalhamos aqui por dois anos.

— E então?

— E então aconteceu o de sempre. O Império Mundial tomou conhecimento e decidiu que o garoto era propriedade deles. Tentaram levá-lo com vida, mas ele acabou morrendo na fuga. Hoje tento decifrar muitas das tecnologias que ele trouxe e foi por isso que entrei em contato com você. A única pessoa em quem eu confiava era o seu pai e tenho certeza de que você deve ter herdado a fidelidade dele, além da inteligência. Posso confiar esse segredo à você?

— Acho que agora não tenho mais escolha, já que você me trouxe até aqui.

— Na verdade eu poderia apagar sua memória com um aparelho que tenho aqui.

— Isso é verdade? Pode apagar a memória de alguém?

Beogrim cai na gargalhada, dando-lhe um tapa nas costas.

— Não, eu não tenho nada que faça uma coisa dessas. Só estava brincando com você.

— Espero que tenha me trazido aqui para te ajudar com as pesquisas e não só para fazer brincadeiras com a minha cara.

— Sim, quero que me ajude, mas também tem outra coisa.

Beogrim puxa o cachecol de Algar, revelando a marca escura em seu pescoço.

— Também quero te ajudar a descobrir a cura para Veldellis.

Os olhos de Algar se enchem com uma esperança que a muito não sentia. Com toda aquela tecnologia, o conhecimento de Beogrim e o seu combinados eles poderiam finalmente encontrar a cura. Não só isso, mas aquele era o lugar perfeito para aperfeiçoar suas habilidades, reforçar seus equipamentos e se preparar para Xibalba.

O destino parece finalmente ter sorrido para ele.

 

De volta a casa de Lisica, desta vez Eril está segurando uma espécie de luva de treino e Kore se prepara para golpeá-la.

— Mestra, você sabe que não consigo fazer isso. — reclama, irritado.

— Apenas tente.

— Eu já tentei diversas vezes, o resultado é sempre o mesmo.

— Eu mandei tentar.

Kore respira fundo e acata a ordem.

Ele posiciona-se, concentra-se o máximo possível. Tudo o que se passa por sua cabeça é “foco”.

Seu pé esquerdo avança, pisando forte no chão e ele desfere um soco contra a luva, sem muita força, mas ainda sim seu corpo congela e ele não atinge o alvo.

— Droga, mestra. Eu lhe dou o maior crédito como instrutora, mas não acho que esse seja o melhor método para resolver esse problema. Por mais que eu fique o restante desses dois anos tentando acertar a luva da Eril, o máximo que vai acontecer é eu conseguir lutar apenas com ela, assim como consigo lutar com você. Não vai me curar.

— Eu sei! Na verdade só queria testar uma última vez antes de passar para o plano B.

— Plano B? Então você tem uma ideia de como me curar?

— Na verdade o plano B não envolve curar você. Seria mais um remendo para o caso de você precisar enfrentar uma garota. Você teve muita sorte de não ser atacado por uma amazona até agora. Se isso acontecesse você estaria morto pois não iria conseguir nem reagir e amazonas são realmente muito fortes.

Lisica aproxima-se de Kore e até mesmo Eril fica curiosa em saber qual seria esse plano B.

— Não será fácil o que vou lhe propor, mas será um ótimo treinamento. — colocando a mão sobre a cabeça do monge. — Kore, a resposta para este problema está nas trevas.

 

Resta 1 ano e nove meses para o ataque à Xibalba.


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Notas finais do capítulo

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