ALMARA: Ameaça na Ilha de Xibalba escrita por Xarkz


Capítulo 3
CAPÍTULO 2 | O Inferno de Xibalba


Notas iniciais do capítulo

Eril conta seu objetivo ao tentar reunir os mais poderosos membros para seu time. O terror de Xibalba é revelado.



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Ilha Avici, mil e trinta e oito anos no passado. A ilha abriga um dos mais prósperos reinos que existe, liderada pela família imperial Avici, que cuida de seus cidadãos da melhor forma possível.

O reino é semelhante aos atuais, porém, ainda mais rústico, onde a única construção de pedra é o castelo.

Um certo dia, sem qualquer explicação, um feixe de luz vindo do céu, iluminou cerca de metade do reino. A luz era mais forte que a do Sol e, em poucos instantes, foi ficando mais e mais forte.

A área tocada pela luz vai diminuindo à medida que a luz fica mais forte, até que resta apenas um pequeno foco de luz, iluminando uma área de dois metros de diâmetro, próximo ao centro do reino e então, tão inesperadamente quando a luz surgiu, um feixe de energia cai do céu exatamente naquele ponto, como um gigantesco raio que destrói tudo ao seu redor, devastando o reino completamente.

O impacto criou uma cratera com praticamente o tamanho do reino e devastou a ilha quase que completamente.

Dos poucos remanescentes, que estavam mais afastados do local da explosão, alguns seguiram para o local alvejado, à procura de sobreviventes, mas, misteriosamente, nunca mais voltaram.

No local onde o feixe de energia atingiu, surgiu uma enorme cúpula, que parece ser feita de metal e partes orgânicas, medindo cerca de um quilômetro de diâmetro.

O solo ao redor da gigantesca semi-esfera foi enegrecendo aos poucos, aumentando cada vez mais sua área, tomando conta de quase toda a ilha. O mesmo ocorreu com todas as plantas que, ao invés de morrerem, se tornaram uma versão corrompida delas mesmas.

Os habitantes restantes da ilha rumaram para o continente, fugindo do horror que presenciaram, com exceção de alguns poucos, que preferiram continuar naquele lugar mesmo com o perigo de morte, montando seus acampamentos nas beiradas da ilha onde o solo escurecido não chegou.

A cúpula foi apelidada de Xibalba e o evento hoje é chamado de O Grande Cataclismo de Xibalba.

Quase todos que se aventuraram em Avici perderam a vida. Os poucos que sobreviveram contavam histórias sobre criaturas humanóides com couraças intransponíveis, força e velocidades absurdas que mataram à todos sem piedade.

A cúpula de Avici ficou tão conhecida que, com o tempo, a ilha, que fora nomeada com o sobrenome real da família que ali habitava, aos poucos foi substituído pelo da cúpula, chamando-a erroneamente  de ilha de Xibalba.

Quatrocentos e quinze anos se passaram, sem que nunca fossem descobertos os mistérios da ilha. Os tais monstros jamais saíram da área enegrecida e, após várias tentativas frustradas de invadir o local, o povo desistiu e marcou o local como proibido.

Neste ano, se formava uma aliança entre três dos maiores reinos do mundo, essa aliança ficou conhecida como Império Mundial, onde o rei do maior dos reinos foi nomeado, por votação, como Imperador do Mundo.

O Império Mundial decidiu, então, reunir os maiores e mais poderosos guerreiros para uma invasão à Xibalba, que culminou na morte de todos eles.

O exército enviado foi derrotado, assim, os magos do império criaram uma barreira ao redor de Xibalba, cobrindo a maior parte do território enegrecido. A barreira não tinha como intenção impedir a saída dos monstros e sim a entrada de estranhos.

Para pessoas comuns e até mesmo para os guerreiros mais fracos, a barreira, que se parece com uma gigantesca redoma de vidro, se torna uma parede intransponível. Já, para os mais poderosos, a barreira se torna intangível, fazendo que com apenas os mais fortes possam adentrar no local.

Mais duzentos e noventa anos se passaram e, em um local desolado do continente, em meio à uma floresta, um segundo feixe de luz destrói tudo ao seu redor, criando outra cúpula, semelhante à de Xibalba, mas com menos da metade do tamanho.

O evento se repete novamente cento e sessenta e sete anos depois. Esta maior do que a anterior, mas menor do que a de Xibalba

E por fim, mais dois feixes, com cúpulas do tamanho da segunda, depois de cento e dezessete anos, totalizando cinco cúpulas misteriosas no mundo. Todas apareceram em lugares desolados, com exceção de Xibalba.




Voltando ao tempo no qual nossa história acontece, Eril conta à Kore e Lisica sobre seu plano de invadir a maior das cúpulas.

— Até hoje, os poucos que se aventuraram sob o domínio da cúpula de Xibalba não tiveram sucesso, porém, as investidas às demais cúpulas foram mais proveitosas. São três tipos de cúpulas, três das cinco cúpulas tem cerca de duzentos metros de diâmetro e a concentração de monstros parece ser menor. No segundo tipo, há uma cúpula com cerca de quinhentos metros de diâmetro. Nessa, além dos monstros normais, há indícios de um segundo tipo de monstro, maior e muito mais forte, não temos dados sobre ele. Esse segundo tipo de monstro parece existir também em Xibalba e algumas pessoas teorizam que existe um terceiro tipo, uma espécie de líder, que comanda todos os outros, pois eles parecem organizados, o que seria impossível sem a presença de liderança. Não penso em derrotar todos os monstros, mas descobrir o segredo que Xibalba esconde. Se há algo que possa nos ajudar a expulsar esses inimigos, está lá.

— Ninguém conseguiu encontrar nada além de monstros até hoje nas cúpulas menores, porque acha que vai ter sucesso em Xibalba? — pergunta Kore.

— É por isso que preciso apenas dos mais poderosos.

— Porque não começar com uma das cúpulas menores? —  questiona Lisica. — A chance de sucesso parece maior.

— No reino de onde eu vim, fizemos um estudo e conseguimos captar uma onda de energia de duas vias, uma espécie de rede de comunicação. Essas vias conectam Xibalba às outras quatro cúpulas. A central é Xibalba, não há dúvidas. Entrar em qualquer um desses lugares é arriscar diversas vidas, se vamos arriscar, não podemos nos dar ao luxo de acabar não descobrindo nada, por isso temos que ir direto à fonte.

— Você falou em extinção, o que quis dizer com isso?

— O tempo entre a chegada de uma cúpula e outra foi diminuindo ao passar dos anos, achamos que em breve mais cúpulas chegarão. Além disso, durante os estudos da energia de duas vias de Xibalba, captamos um envio esporádico de energia diferente, desta vez lançado, não para outras cúpulas, mas direcionado para o céu. Achamos que isso possa ser uma espécie de sinal, talvez com dados coletados ou até para que sejam enviadas mais cúpulas.

Eril aperta os punhos, em sinal de nervosismo.

— Vocês entendem? Isso é uma invasão. Se não os impedirmos, vamos ser exterminados. É só questão de tempo.

— Quanto tempo acha que temos? — questiona o monge.

— Acreditamos que alguns anos até a próxima cúpula. Mas isso não tira a urgência da missão. Quanto antes descobrirmos os segredos de Xibalba, mais tempo teremos para nos preparar. Por isso preciso que venha comigo, Lisica.

A mulher tulku deixa a mesa e começa a recolher os pratos, copos e talheres sobre a mesa.

— Já disse que não vou. Espere os quinze dias e lhe indicarei alguém no meu lugar.

Kore também se retira, preparando sua cama improvisada, no chão da sala. Para a elfa, tudo o que resta é aguardar.




Um novo dia nasce e, novamente, Kore carrega Eril em suas costas e as cumbucas em ambas as mãos, montanha à baixo. O teste de resistência se repete dia após dia, pois Kore não consegue bater a marca das oito horas.

Os dias passam, o trajeto feito pelo monge é ajustado aos poucos, tentando economizar o máximo de tempo possível.

No vilarejo, Kore se hidrata e medita, recuperando ao máximo sua energia nos quinze minutos em que o vendedor prepara as ervas e suprimentos.

Na subida, Kore começa à prestar atenção no Sol para ter uma noção do tempo, assim, ao chegar no topo, mesmo sem precisar olhar para a ampulheta, já sabe que não conseguiu.

No décimo quarto dia, Kore está nervoso mas mais concentrado do que nunca, ele dispara como se sua vida dependesse disso. A velocidade é maior do que nos dias anteriores. Eril pensa que dessa forma ele poderá se esgotar mais rapidamente, mas ela sabe que, se não for assim, não há esperanças de chegar à tempo.

Na subida, quando o corpo do monge já parecia estar no limite, sua determinação era tudo com o que ele podia contar.

Chegando próximo do final do percurso, seu corpo já não respondia bem, suas pernas não agiam como deveriam, seus braços mal podiam suspender o peso das cumbucas que, em condições normais, não deveriam ser problema para ele.

Cuidando a altura do Sol, Kore cruza a chegada e então cai de joelhos no chão, enquanto Eril desce de suas costas.

Ainda cuidando a altura do Sol, Kore abaixa a cabeça.

— Falhei novamente, certo?

Um silêncio permanece por alguns instantes, até que o monge resolve olhar para a ampulheta.

Ao lado dela estão Lisica e Eril sorrindo, enquanto os últimos grãos de areia terminam de cair.

— Parabéns, meu novo aluno. — congratula a mestra tulku.

Ao ouvir a frase, Kore salta de alegria, dando um soco no ar. Em seguida pula em cima da casa, saltitando, contente.

— Ele não estava esgotado? — estranha a elfa.

— Ele é um bebê chorão, isso sim. — responde Lisica.

— Agora me diga a verdade, você alterou o tempo da ampulheta para ele conseguir, certo? Afinal, o Sol não está com uma diferença tão grande quanto à de ontem, quando ele chegou.

— Pelo contrário. Eu alterei sim o tempo da ampulheta, mas ele já havia conseguido a marca das oito horas três dias atrás. Hoje ele terminou o percurso em sete horas e meia.

O trio festeja o feito com uma janta farta.

Por uma noite, a alegria toma conta, fazendo com que, até mesmo Eril, esqueça do problema de Xibalba. Nem mesmo as histórias constrangedoras, que Lisica conta da infância de Kore, tira sua alegria.

No dia seguinte, o décimo quinto dia, Kore descansa, após os quatorze dias de grande esforço físico.

Pouco antes do anoitecer, o trio recebe uma visita já esperada. Farkas.

— Olá, pessoal. Sentiram saudades?

— Nem um pouco. — responde Kore, sorridente, enquanto saúda o amigo com um soco de brincadeira, que é defendido por Farkas com a mão.

Farkas coloca o braço ao redor do pescoço de seu amigo, como se estivesse lhe dando uma chave de braço, enquanto da alguns cascudos de leve em sua cabeça.

— Essa é a saudação deles? — cochicha a elfa, para Lisica.

— É o jeito deles de demonstrar afeto. — responde, achando graça da cena.

O convidado se volta para Lisica.

— E então, lutaremos agora?

— Amanhã. Por hoje, descansem.

Ao cair da noite uma segunda cama, improvisada no chão da sala, acomoda o hóspede, que se prepara para dormir.

— Ei, Farkas! — chama Kore. — Está dormindo?

— Estou. — responde o amigo, sonolento.

— O que você ficou fazendo nesses quinze dias?

— Primeiro desci até o vilarejo ao pé da montanha, depois rumei para uma cidade próxima. Fiquei lá esse tempo, consegui algum dinheiro fazendo trabalhos pequenos. Capturei até um bandido, sabia?

— Virou mercenário?

— Não exatamente. Quer dizer … sei lá. Na cidade tem um mural com cartazes de procurado. Peguei o com a menor recompensa, pra começar. Foi difícil de encontrar o cara, mas ele era bem fraco. Vi que alguns dos bandidos procurados sequer se escondem, só não são capturados porque ninguém tem coragem. Vou fazer minha reputação assim.

— Porque não capturou o outro que você viu?

— Eu sei que sou meio inconsequente, mas aquele parecia forte até pra mim. Mas e você, o que vai fazer depois que terminar seu treinamento?

Kore pensa por um tempo. — Ainda não sei. Fiquei tanto tempo no monastério, sempre esperando pelo dia de partir e quando acontece não sei o que fazer. Estou precisando de um objetivo.

— Ta precisando é virar macho. Você parece uma garotinha.

— Quero ver repetir isso depois… — Kore faz uma pausa, como se estivesse arrependido do que disse.

— Depois do que? Da luta de amanhã? Acha que vai vencer, é?

Kore fica apreensivo. Lisica marcou aquela luta, afirmando que ele venceria, mas não é o que o monge sentia no momento. Sua confiança está baixa e ele não entende como ele poderia vencer. A corrida teria sido o treinamento? Lisica disse que não, mas Kore estava convencido disso. Ainda sim, como aquilo seria suficiente para vencer?

— Ficou calado de repente. — zomba Farkas. — Talvez agora você me deixe dormir.

Farkas vira para o lado e dorme. Kore demora para pegar no sono naquela noite.




O dia amanhece e, aos primeiros raios de Sol, se ouve sons de alguém treinando do lado de fora. Desta vez é Farkas.

Lisica e Eril acordam e notam Kore, tomando café da manhã.

— Achei que era você lá fora. — diz a mestra. — Parece que seu amigo está mais animado do que você.

— Porque disse que eu posso vencer a luta de hoje? — pergunta Kore, incomodado.

— Está preocupado com isso? Ha, ha, ha, ha… — gargalha, fazendo graça do dilema de seu pupilo, o que deixa Kore ainda mais nervoso. — Esse é seu segundo teste.

— Você disse que eu era seu novo aluno, quando completei a tarefa de descer e subir a montanha.

— Isso é porque você vai passar neste segundo teste, tenho certeza.

O monge levanta e parte para fora da casa.

— Vamos terminar logo com isso.

Decidido, o garoto se aproxima de Farkas, que cessa seu treino imediatamente.

Kore faz alguns movimentos de aquecimento e então respira fundo. Apesar de já terem lutado várias vezes, ele está nervoso. Provavelmente porque suas lutas foram todas amistosas, nunca valendo algum tipo de prêmio. Enquanto os monges se preparam, as duas garotas se posicionam próximo aos guerreiros, à uma distância segura para observarem o embate.

Farkas se aproxima de seu companheiro e estica o braço, com o punho fechado, em sua direção.

— Preparado, colega?

— Nem um pouco. — responde, irônico, enquanto responde ao cumprimento, tocando seu punho com o de Farkas.

Os lutadores se afastam um do outro e se colocam em posição de luta. Eles se encaram e a tensão aumenta.

Kore ameaça um movimento, avançando lentamente com seu pé esquerdo, mas é Farkas quem ataca, correndo na direção do oponente e lançando um chute giratório. Kore se abaixa e tenta lhe dar uma rasteira, mas Farkas tira o outro pé do chão e, ainda com o impulso do giro, usa-o para chutar, atingindo Kore no rosto.

Kore perde o equilíbrio e seu oponente aproveita a situação, partindo para cima com vários socos. Kore consegue defender ou desviar dos ataques, mas não revida.

Tem algo estranho. — pensa Kore.

Farkas chuta com força em direção ao abdômen de Kore, mas este defende com os braços cruzados na frente do corpo, sendo empurrado para trás com o impacto.

Os golpes dele continuam pesados como sempre, mas algo está diferente.

Kore se abaixa um pouco e então pega impulso, se aproximando rapidamente de Farkas, que é pego desprevenido com um soco no corpo. Apesar de ter ter causado dano, Farkas ignora a dor e ataca de volta mas seu oponente continua desviando e bloqueando os ataques.

Eu posso ver todos os ataques dele. — se surpreende em pensamento.

Kore para de bloquear e começa apenas à desviar. Farkas faz um balanço maior em um soco e seu alvo passa por baixo, desferindo um soco em cheio no rosto de Farkas.

Já irritado por não estar conseguindo acertar, Farkas fica ainda mais irado, novamente ignorando a dor e partindo pra cima. Seus golpes ficam cada vez mais fortes, mas também imprecisos.

Se você aguenta meus golpes, então que tal isso. — pensa Kore, enquanto desfere um soco ao mesmo tempo em que Farkas golpeia, também com um soco. Os punhos passam ao lado um do outro, porém, apenas do punho de Kore atinge Farkas, cujo punho passa ao lado do rosto do oponente.

Desta vez Farkas cambaleia.

Um contragolpe usa o impulso do oponente em sua direção somado ao seu ataque, praticamente dobrando o dano.

Em seguida, Kore se abaixa e novamente se levanta, golpeando com um soco de baixo para cima, atingindo o queixo de Farkas, que é lançado para trás e cai no chão, atordoado.

A raiva de Farkas aumenta, até que ele parece perceber seu erro.

Não posso perder o controle. — pensa Farkas, tentando recuperar a razão. Ele respira fundo e se levanta, mais calmo agora. — Meus golpes não estavam atingindo porque ele estava antecipando meus movimentos. Depois ainda acabei perdendo a cabeça. Eu estava priorizando força, mas se é assim, vou usar velocidade.

Farkas se lança para a batalha novamente, desta vez com golpes rápidos e curtos. Ainda sim, Kore desvia de novo e de novo.

Mas que diabos está acontecendo aqui? — pragueja Farkas, em pensamento. — Ele não era tão habilidoso assim. Está prevendo todos os meus movimentos.

Kore começa a contragolpear a cada dois ou três ataques de Farkas e, quando ele cambaleia, Kore parte para cima, desferindo vários socos rápidos. O dano parece ser baixo, mas a quantidade supre a falta de força. Farkas consegue desviar de alguns e bloquear outros mas, aos poucos, os socos vão passando pela guarda, até que todos os ataques entram. Kore aumenta ainda mais a velocidade dos golpes, transformando o ataque em uma verdadeira chuva de socos. Farkas é empurrado para trás e, após a sequência de ataques, Kore desfere um último soco, desta vez com menos velocidade mas com muito mais força, atingindo-o no rosto e lançando seu rival ao chão, derrotado.

— Eu… venci? — se pergunta Kore, incrédulo.

— Ele venceu. — afirma a elfa, sem entender.

Lisica bate palmas de leve, chamando a atenção para si.

— Como eu previ, você venceu. Espero que tenha mais fé no que eu digo, daqui pra frente.

Enquanto isso, Farkas se senta no chão, com uma das mãos sobre o rosto, ainda zonzo. Ele olha para sua mão e sua visão embaçada começa a voltar ao normal. Ao olhar para cima, vê a mão de seu amigo, estendida em sua direção. Farkas pega a mão de Kore, que o ajuda a levantar-se.

— Como foi que isso aconteceu? — questiona o monge derrotado. — Você parecia prever todos os meus ataques. Como ficou tão habilidoso?

— Eu não sei, parecia que eu podia enxergar todos os seus golpes.

— Kore sempre foi mais habilidoso que você, Farkas. — interrompe Lisica. — O que aconteceu é que ele era mais lento. Sua visão dos golpes é a mesma de sempre, o que mudou é que agora seu corpo responde à tempo.

— Mas porque isso aconteceu? — pergunta Kore, confuso. — Tudo o que me fez fazer foi aquela corrida sem sentido. Só aquilo foi suficiente pra me deixar mais rápido? Eu treino à muitos anos no monastério, o mesmo treino de Farkas, ainda assim nunca senti uma mudança tão rápida.

— Eu vou explicar. — informa enquanto chama Kore com um gesto de mão.

Lisica pega o pulso de Kore e então estica o braço do monge, apertando seu bíceps com a outra mão.

— Basicamente, ficar mais forte, significa forçar os músculos de forma à machucá-los um pouco, para que tonifiquem ao se recuperar. O que acontece é que seus músculos parecem ser um pouco mais resistentes que o normal e o treino do monastério parece ser uma porcaria.

— E aquela corrida com cumbucas nas mãos e uma elfa nas costas foi mais efetiva que vários anos no monastério?

— O treino do monastério era leve demais para você. A corrida não te deixou mais forte, apenas acordou seus músculos.

Kore pensa um pouco e então sorri.

— Então eu estava certo. Aquilo era o treinamento.

Com uma coronhada na cabeça, Kore é jogado no chão por Lisica.

— Já disse que aquilo não era o treino. — diz a irritada mestra. — A partir de agora é que ele vai começar, esteja preparado.

Nisso, Farkas está arrumando suas coisas para partir. Ao perceber, Lisica o chama.

— Ei, perdedor! Já vai?

— Não tenho mais nada a fazer aqui. — responde Farkas, visivelmente incomodado pelo modo como foi chamado.

— Fique mais um dia, tenho certeza de que você não tem nada melhor pra fazer.

Farkas estranha o convite, mas aceita de bom grado.

Ao voltar para a casa, Lisica desembrulha um objeto, semelhante à um pequeno bastão de vinte centímetros com uma esfera de cristal em cada ponta. O objeto é prateado e com diversos ornamentos, além de algumas escrituras ininteligíveis, as esferas possuem cerca de dez centímetros de diâmetro.

Ao perceber a curiosidade dos visitantes, Lisica começa a explicação.

— Fogo, água, terra, ar. Os quatro elementos básicos ou primários. Luz e trevas. Os elementos secundários. Todas as pessoas capazes de desenvolver Mahou, mesmo que não os utilizem, são capazes de controlar os elementos. Algumas pessoas são mais compatíveis com determinados elementos e não com outros. Se você, por exemplo, não for compatível com o elemento fogo e ainda sim quiser utilizá-lo, terá muito mais dificuldade de aprender, dependendo do seu nível de compatibilidade talvez nem consiga e, mesmo se aprender, suas magias de fogo não terão grande poder. O ideal é desenvolver aquele elemento que mais é compatível com o seu Mahou e é pra isso que serve este objeto. Ele te mostra quais elementos são mais compatíveis com o Mahou de cada um.

Lisica segura o objeto pela parte de metal e, alguns instantes depois, algumas cores aparecem nas esferas de cristal.

— Estão vendo? Na esfera da direita mostra quais dos elementos primários eu sou compatível e no da esquerda os secundários. Vermelho é fogo, azul é água, marrom é terra e verde é ar. Do outro lado o branco é luz e preto é trevas.

Na esfera dos elementos primários, quatro cores surgem. Quase metade da esfera se tornou marrom, em segundo lugar o azul e, muito pequenas, vermelho e verde. Na outra ponta, o preto predominou em cerca de setenta por cento da esfera.

— Então, se entendi bem, seu elemento primário principal é o elemento terra, certo? — pergunta Farkas.

— Exatamente, também tenho uma boa afinidade com o elemento água, mas quase nenhuma com fogo e ar. Também tenho muita afinidade com o elemento trevas ao contrário do elemento luz. — diz Lisica, enquanto joga o objeto para Eril. — Tentem vocês. É só concentrar seu Mahou no objeto. Você é uma maga elemental do fogo, então certamente vamos ver o vermelho na maior parte do cristal.

Eril faz como lhe foi dito e, rapidamente, surgem as cores. Como previsto por Lisica, pouco mais da metade do cristal se torna vermelho, uma boa parte se torna verde, em terceiro lugar o marrom e, quase nulo, o azul. Do outro lado, o branco toma conta de pouco mais da metade.

— Interessante, mais da metade do seu Mahou tem afinidade com elemento fogo, isso quer dizer que você pode se tornar muito forte. — informa a mestra.

— Não conhecia este objeto. — responde Eril. — Mas, de onde eu venho, nós temos outras formas de verificar qual a predisposição do nosso Mahou. Por isso eu sabia desde cedo minha vocação.

Eril passa o bastão para Farkas, que se concentra. Após alguns instantes as cores aparecem. Cerca de quarenta por cento está como elemento terra, outros trinta por cento para elemento ar e os outros dois elementos divididos por igual com o que sobrou. O elemento trevas ocupa cerca de setenta por cento.

— Elemento terra. Então é nisso que vou me especializar. — diz Farkas, satisfeito. — Talvez use algo do elemento ar também.

Dito isso, Farkas passa o bastão para Kore.

— E então, o que vai ser, Kore? — diz o Farkas. — Será terra contra o que? Qual elemento seu eu vou esmagar na nossa próxima luta?

— Está muito confiante pra alguém que acabou de perder.

— Você ganhou uma única luta até agora e não vai acontecer de novo.

— É o que vamos ver. — enquanto concentra-se no objeto. — terra será derrotada por…

Alguns instantes se passam e as cores surgem nos cristais. Lisica e Eril olham incrédulas para o resultado.

— Espera um pouco. — diz a mestra, retirando o objeto das mãos de Kore. — Você deve ter feito algo errado.

— Você quebrou o artefato, seu idiota. — acusa Farkas.

— Eu só fiz o que disseram.

Lisica novamente concentra seu Mahou e as mesmas cores que lhe apareceram antes surgem.

— Está funcionando. — afirma Lisica, devolvendo em seguida o artefado para Kore. — Tente novamente agora.

Mais uma vez o monge se concentra e novamente as duas garotas ficam espantadas.

— Mas o que tem de errado? — pergunta Kore.

— As cores… — responde a mestra. — Estão em perfeita harmonia.


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Notas finais do capítulo

Opiniões e críticas construtivas são bem vindas.