ALMARA: Ameaça na Ilha de Xibalba escrita por Xarkz


Capítulo 29
CAPÍTULO 28 | Por um fio


Notas iniciais do capítulo

Surge, finalmente, o Imperador do Império Mundial.
Nossos heróis terão de enfrentar as consequências de se erguerem contra o Império e Kore fica entre a vida e a morte.



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A sala era branca e de uma limpeza impecável, com diversos instrumentos estranhos, alguns presos à parede e outros sobre mesas de alumínio, igualmente impecáveis.

Uma mulher, de cabelos presos e uma touca, utilizando uma máscara quadrada que cobre apenas a boca e o nariz, retira suas luvas de borracha, cobertas de sangue, colocando-as em uma lixeira.

— Em duas horas faça a troca de turnos e me mantenha informada de qualquer alteração no quadro do paciente. — solicita à um homem com vestes semelhantes às suas, que apenas sinaliza com a cabeça que entendeu.

Enquanto sai da sala, ela retira também a máscara e a touca, saindo por uma porta dupla que leva à um longo corredor.

Ela caminha rápido, ajeitando seu jaleco branco. Desce um lance de escadas, passa por mais corredores e portas, até que chega à um salão maior, onde diversas pessoas aguardam sentadas em cadeiras enfileiradas.

Entre eles estão Eril e Algar.

Ao ver a mulher de jaleco branco, Eril prontamente corre em sua direção.

— Doutora, como ele está? — com um ar de extrema preocupação.

O rosto da mulher indica que algo não vai bem.

— Serei sincera com vocês. O quadro dele é gravíssimo. Todos os seus órgãos foram afetados. Alguns deles foram destruídos quase que por completo. Os músculos do abdômen rasgaram de uma forma que não sabemos se iremos conseguir refazer, além de vários ossos quebrados. Sua coluna se partiu, o que acabou sendo melhor, pois se tivesse sido esmagada, mesmo nossa magia não poderia consertar. No momento estamos tentando reconstruir seus órgãos vitais, mas vocês devem se preparar para o pior.

Eril segura a mão de Algar, apertando-a com força.

— É um verdadeiro milagre ele ainda estar vivo, mas não creio que ele passe desta noite.

— Não tem nada que vocês possam fazer? — suplica a maga, com lágrima nos olhos.

— Princesa, nós somos o melhor hospital de Almara, com os mais qualificados alquimistas médicos e magos de cura que existem e lhe garanto que iremos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para salvá-lo. Ainda sim…

Algar abraça Eril, tentando confortá-la.

— Eu lhes manterei informados. — inclinando-se em reverência e então voltando pelo corredor que veio.

Antes que a doutora consiga chegar até a porta dupla, para seguir o caminho de volta à sala de cirurgia, ela se abre e surge Voughan, com seu tórax enfaixado e dois médicos ao seu redor, tentando impedi-lo de sair.

— Me deixem em paz! — enquanto tenta driblá-los. — Eu estou bem. Me deixem passar.

— Seu ferimento é profundo, seu coração foi atingido e ainda não está totalmente recuperado. — informa um dos médicos.

Vendo que não o deixariam passar, o shamarg coloca sua mão no rosto de um dos médicos e o empurra de leve para trás, abrindo caminho e conseguindo chegar até Eril e Algar.

— Eu ouvi bem? O verme vai morrer? — pergunta, com uma preocupação anormal para ele.

— Ainda não temos certeza. — responde o anão. — Mas o quadro dele é realmente ruim.

— Mas que droga! — ele bate com força na própria perna e o movimento brusco parece lhe causar dor em seu ferimento no peito. — Porque ele lutou contra meu irmão? Aquela luta não era dele.

— Foi tudo tão rápido. Ele acabou entrando em uma luta sem sequer saber direito o que estava acontecendo. Ele te carregou quando você foi nocauteado e então partiu para cima de Radagart quando ele disse que iria levar a princesa com ele. Um único soco fez todo este estrago. Aquele cara é realmente assustador.

Voughan olha para baixo, pensando em algo em silêncio.

— A culpa é minha. — inicia Eril, ainda chorando. — Não havia nada o que ser feito a não ser fugir, mas eu tentei atacá-lo. Kore apenas tentou me proteger.

Voughan aperta os punhos, parecendo irritado.

— Como um herói! — balbucia o shamarg, de forma quase imperceptível.

— Algar, me mantenha informada, por favor. — solicita a maga. — Não sei se o Acólito conseguirá entrar no lugar para onde eu vou sem ser abatido, mas dê um jeito de me avisar, não importa o que aconteça.

— Eu o farei, alteza. — responde, enquanto faz uma reverência. — Cuide-se! Daremos um jeito de tirá-la de lá de alguma forma.

— Obrigada, mas não faça nada antes do Kore melhorar ou dele…

— Pode deixar!

Eril caminha em direção à saída, onde um pelotão do Império Mundial a aguarda.

Um elfo alto, de aparência jovem, com um tom de pele escuro como o de Eril e com a mesma cor de cabelos da maga também a espera.

Suas roupas demonstram toda sua nobreza e uma coroa em sua cabeça deixa claro de quem se trata.

Ao se aproximar, o elfo lhe dá um abraço apertado.

— Não se preocupe, minha irmã. Você estará de volta assim que tudo estiver resolvido. Não permitirei que nada de ruim lhe aconteça.

— Obrigada! Mas, por favor, não façam nada até que tenhamos uma resposta definitiva do quadro do meu amigo.

— Como você quiser. Este hospital é um dos maiores orgulhos de Galvas. Eles operam milagres aí dentro.

Com um aceno, ela é escoltada para dentro de uma enorme carruagem, puxada por búfalos de mais quase três metros de altura, que partem em direção à central do Império Mundial.

 

Durante o dia inteiro Algar se manteve nas imediações do hospital, deixando-o apenas no momento em que visitou a biblioteca para pegar alguns livros de alquimia, que utilizou para passar o tempo enquanto aguardava notícias.

O ferimento de Voughan tornou a sangrar e ele foi levado novamente para uma sala, às pressas.

Na sala de cirurgia, onde Kore está sendo atendido, pode-se ver que a mesa cirúrgica está localizada acima de um grande círculo mágico desenhado no chão com diversas runas que brilham de forma ordenada, enquanto três magos de cura, do lado de fora do círculo, estendem suas mãos na direção do enfermo, emanando uma luz branca que recobre o local, criando uma espécie de bolha de energia que se encaixa perfeitamente no círculo mágico.

Próximos à mesa, quatro alquimistas médicos trabalham no corpo de Kore, cujo tórax está aberto.

Enquanto um costura os órgãos, outro injeta um líquido azulado em alguns pontos específicos, e os outros dois tentam reparar a coluna, partida ao meio.

Um deles olha para os demais e balança a cabeça negativamente.

— Este é um dos amigos da princesa Eril. — respondendo ao balançar de cabeça do primeiro. — Não vamos desistir até que se esgotem todas as possibilidades.

Todos se olham e então continuam com seu árduo trabalho.

 

A noite chega e, em um reino próximo, podem-se ver três castelos imensos dentro do mesmo pátio, sendo o castelo central ainda maior, colossal. Muito maior que qualquer outro, com seu topo próximo às nuvens e de aparência majestosa.

Ao redor, um muro muito alto com milhares de arqueiros, catapultas e balestras gigantes.

Há apenas uma entrada, por uma larga ponte acima do fosso, que circunda o muro.

No alto de cada castelo há uma bandeira diferente, representando seu respectivo reino.

No castelo principal, além da bandeira de seu reino, tremula uma segunda bandeira, esta maior que as demais. A bandeira do Império Mundial. Símbolo da aliança de três dos maiores reinos do mundo, formando a maior potência de toda Almara.

Em seu interior, um grupo composto por quatro capitães e dois majores escoltam Eril por um enorme corredor de pedra com decorações douradas, quadros e esculturas caríssimos e com soldados da guarda real ao longo de todo corredor.

No final do percurso há uma porta branca dupla, com guarnição dourada e desenhos em relevo, protegida por dois soldados, cujas lanças se cruzam, formando um xis em frente a porta.

Ao verem os oficiais chegando, prontamente descruzam as armas, destravam a grande porta e as empurram, abrindo-as para trás.

Ao atravessar, um salão imenso os espera, incrivelmente luxuoso.

Se as pinturas e esculturas do corredor eram caríssimas, as que ali se encontravam eram de valor incalculável.

Os pilares eram de ouro maciço e um tapete vermelho, com desenhos bordados nas laterais em fios de ouro, os levavam de encontro ao trono do Imperador.

Ornado de pedras preciosas e com detalhes talhados meticulosamente em ouro, o trono em si era uma verdadeira obra de arte e, sentado sobre ele, um humano magro mas com uma barriga saliente, barba comprida e grisalha, vestindo um manto da realeza, bem com diversos anéis com brilhantes e uma coroa.

Ao seu redor, cinco mulheres seminuas, cada uma de uma raça diferente. Elfa, orc, tulku, kemono e humana, todas dedicadas em satisfazer a luxúria do imperador.

Enquanto uma delas senta em seu colo, as demais acariciam seus braços e pernas, em uma cena que causa revolta em Eril.

— Mas que surpresa temos aqui! — diz o imperador, com um sorriso sarcástico revelando seus dentes tortos. — A bela princesa de Galvas. Ou deveria dizer: a filha bastarda de Euridice.

— Acho que estes não são modos de um imperador se portar diante de um igual. — responde a maga, claramente incomodada.

— Perdoe-me se eu estiver errado, mas você sequer tem sangue real correndo em suas veias. Sua mãe, aquela adúltera, não passava de uma aldeã qualquer e que foi acolhida por Ghaladar. E mesmo depois deste gesto benevolente, ela o traiu, dormindo com um maldito pirata imundo.

A raiva explode dentro de Eril, mas é contida por seu autocontrole, deixando transparecer apenas por seu olhar. E o imperador continua.

— Considerando sua posição, você deveria se tornar minha vassala e ficar no lugar de uma dessas garotas. Já estou cansado dessa elfa aqui. — segurando uma de suas escravas pelo pescoço. — Você é muito mais bonita. É só dizer que aceita e eu quebro o pescoço dela agora mesmo para você poder ocupar seu lugar.

A escrava se apavora e tenta se desvencilhar, mas a mão do imperador é forte. Ela olha como se pedisse por piedade para Eril, enquanto suas lágrimas escorrem.

— Vamos, diga! É só dizer e então já pode tirar suas roupas.

Eril olha com sua visão periférica para os lados e percebe os dois majores, prontos para atacá-la, caso tente algo contra o imperador, então a maga respira fundo, tentando se acalmar.

— Não quero o lugar de sua escrava, imperador.

— Espero que saiba que a outra opção é ir direto para as masmorras e, dependendo do meu humor, ter sua cabeça cortada.

— Sei bem que não me matará, ou irá iniciar uma guerra contra Galvas. Por mais poderoso que seja o Império Mundial, sabe bem o quanto Galvas é forte. Somos mais úteis como aliados.

— O que eu sei é que você se opôs, quando atacamos aqueles bárbaros. Que são seus aliados, pelo que sei.

— E até onde eu sei, você os atacou para tentar roubar o espécime de Xibalba que eles tiveram tanto trabalho em conseguir.

— E o que eles fariam com aquele espécime? Iriam dissecá-lo para estudar? Aprender seus hábitos para descobrir seus ponto fracos? — irrita-se o imperador. — Eles são bárbaros. São como animais. Iriam deixar uma chance importante como essa passar. É do destino de Almara que estamos falando.

— Mesmo assim. Você não tinha o direito.

— Tentamos dialogar com aqueles selvagens, mas não nos deram ouvidos. Então enviei meu exército. Realmente acho que os subestimei. São realmente fortes. Não achei que seria necessário um general agir.

— Radagart! — lembrando-se do momento em que Kore foi mortalmente ferido.

— Ele mesmo. É um de nossos trunfos. O Império Mundial possui como generais os dois Titans dessa era, é por isso que somos invencíveis.

Ao ouvir a notícia, o espanto fica evidente na expressão de Eril.

— Você disse que os dois Titans dessa era trabalham para você?

— Exatamente! É por isso que Galvas não me assusta. Isso parece ter sido novidade para você. Talvez queira reconsiderar sua decisão e tirar logo suas roupas para mim. — com um sorriso malicioso no rosto.

— Prefiro as masmorras. — responde com nojo e desdém.

— Seu desejo é uma ordem, princesa bastarda. — satiriza o Imperador. — Levem-na daqui. — puxando sua escrava elfa de volta para perto de si e lambendo-lhe o pescoço, enquanto os oficiais acompanham Eril até a prisão.

 

Três dias se passam e, no hospital, Voughan caminha pelos corredores, com uma faixa em seu tórax, devido ao seu ferimento.

Ele aguarda a saída de um médico e então entra em uma sala onde há um aviso grande informando ser um local privado, apenas para a entrada de médicos.

Caminhando por entre algumas máquinas ele encontra uma área isolada e entra no local, encontrando uma parede transparente onde, do outro lado, pode-se ver uma cama envolta em diversos aparelhos.

Deitado na cama está Kore, inconsciente.

O shamarg se aproxima e coloca sua mão sobre a parede transparente, observando o monge do outro lado.

— Você está péssimo, heim, verme! — inicia, com a mão sobre o peito ferido. — Disseram que você não passa dessa noite. Mas o que você queria? Achou que ia lutar contra o meu irmão mais novo e sair vivo? Você não viu quando ele partiu aquela montanha no meio? — dando um leve soco na parede. — Você é realmente muito burro… Mas você me fez entender uma coisa. Quando aquele bárbaro matou meu pai, eu não entendi direito o que eu senti. Eu quis muito brigar com aquele cara, mas achei que era apenas admiração, porque ele era muito forte. Depois de conhecer vocês eu comecei a entender que o que eu queria era me vingar. Não gosto de perder pessoas. — colocando a mão sobre a cabeça, como se quisesse chorar. — Por isso eu pulei na sua frente quando aquele Uriel te atacou. Por isso eu pulei na frente da Eril quando o dragão morto atacou ela. Mas foi quando você protegeu aquela menina que eu entendi de verdade… Um herói. É isso que eu quero ser. Aquele soco que o meu irmão te acertou... — apertando o punho e exaltando-se. — EU É QUE DEVIA TER TOMADO AQUELE SOCO!

Após se exaltar, ele lembra-se de seu próprio ferimento e olha para o peito.

Não há sangue, a ferida já está fechada e seu coração já está se recuperando, apesar de ainda um pouco debilitado.

Ele verifica suas faixas, quando ouve uma fraca voz.

— E deixar toda a diversão para você? — com uma grande pausa para respirar. — Sem chance!

Voughan reconhece a voz e avista o monge, com os olhos entreabertos.

Kore sobreviveu.


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Notas finais do capítulo

Opiniões e críticas construtivas são bem vindas.



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