ALMARA: Ameaça na Ilha de Xibalba escrita por Xarkz


Capítulo 27
CAPÍTULO 26 | Carga Preciosa


Notas iniciais do capítulo

Na cidade dos bárbaros, nossos heróis são apresentados à algo que lhes remete à sua missão em Xibalba.
Uma carga tão preciosa que chamou a atenção do próprio Império Mundial.



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A cidade dos bárbaros se situa ao pé do monte Giron, cujo topo quase toca as nuvens. É rodeada por um terreno pedregoso e desnivelado, tão rústico quanto o povo que lá reside.

Já no local, nossos heróis se deparam com uma cena terrível.

Não há um lugar sequer para onde olhe, que não haja destruição e morte.

Alguns apagam os últimos vestígios de incêndio, outros carregam corpos e feridos.

Uma enorme parte da cidade está em ruínas, mas ainda sim, corresponde à menos de um quinto dela toda.

— Quanta destruição. — espanta-se Eril. — Não consigo imaginar que alguém tenha tido coragem de atacar a cidade dos bárbaros. Eles jamais se rendem, a única forma de vencê-los é matar até o último deles. Isso não é algo que possa ser feito sem um poderio militar absurdo.

Entre os corpos, Algar percebe o uniforme e emblema do Império Mundial.

— Parece que já descobrimos quem foi o atacante, princesa. Acho que era a resposta mais óbvia. Somente eles e o reino de Galvas em todo o mundo deve ter um exército capaz de fazer frente aos bárbaros.

— Mas porque fariam uma coisa dessas?

Algumas crianças humanas e orcs saltitam por entre os destroços e os corpos, brincando, como se nada tivesse acontecido. Entre elas um menino orc de cabelos loiros e espigados, bem magro mas com uma musculatura muito definida para uma criança de dez anos.

Junto com seus amigos, batem com seus porretes nos corpos dos soldados mortos do Império Mundial, rindo de forma infantil, até que o garoto avista Eril.

— HEEEEEI! TIAAAAA! — grita o menino, com sua voz esganiçada, chamando a atenção de Eril, enquanto corre em sua direção.

— Hã? Você me conhece? — pergunta a elfa, com estranheza.

— Mas é claro. Sou eu, Tork.

— Ah… Tork… É claro. — claramente não lembrando quem é o garoto.

Percebendo o constrangimento, Algar decide ajudar a conseguir informações sobre a identidade do garoto, de forma sutil.

— Tork, não é? Como você e a princesa se conheceram?

— Ela veio aqui na cidade na festa de confi… cofrentizaç… confratezaç… Ah, de união das nossas cidades, à dois anos. Ela não parava de olhar pra mim, porque eu sou muito forte.

— Ah! Como eu poderia esquecer do “poderoso” Tork. — rindo discretamente, apesar de ainda estar chocada com a cena ao redor. — Você parece ainda mais forte agora do que era na confraternização.

— Vocês viram? Acabamos com o Império Mundial. Quiseram pegar o que é nosso e se deram mal. — batendo novamente na cabeça de um soldado morto.

Kore, não acostumado com tanta morte, parece indignado com uma criança ter tanto desprezo pela vida, mesmo que sejam inimigos. Ela sequer parecia ter algum vestígio de medo diante de tudo aquilo.

Em seguida, o menino pega Eril pela mão, puxando-a.

— Vem! O rei e a rainha vão querer ver você.

Todos seguem Eril e Tork até uma grande tenda, no meio da cidade, rodeada por milhares de bárbaros, alguns humanos e outros orcs.

Lá dentro, um homem e uma mulher bárbaros, claramente os reis, com suas vestes mais rebuscadas e uma tiara de proteção na cabeça, que vagamente lembra uma coroa, estão sentados em tronos de frente à uma mesa imensa cheia de comida.

O homem é um humano, enquanto a mulher é uma orc, ambos enormes, com praticamente a mesma altura um do outro.

Ao redor da mesa, diversos guerreiros festejam, comendo e bebendo, enquanto gritam e cantam, em uma algazarra completa.

Tork se aproxima, passando entre os bárbaros e trazendo consigo a maga.

Ele acena por algum tempo, até que finalmente consegue a atenção do rei e da rainha.

— Rei! Rainha! Vejam quem está aqui. — Apontando para a elfa.

O rei faz um sinal com a mão para que todos fiquem quietos. O que obviamente não acontece, mas o barulho diminui o suficiente para que se possa conversar.

— Ora, ora! — inicia a rainha orc. — Mas é Eril, a princesa de Galvas. Chegou tarde. Como vêem, não precisamos da sua ajuda.

— Sinto muito pelo que ocorreu aqui, majestade. Mas o fato é que estou aqui por coincidência. Sequer sabia que estavam sendo atacados. Para mim foi uma surpresa.

— Parece que sim, afinal, não vejo nenhum guarda com você. — ajeitando-se no trono, de forma a ficar mais de frente para a convidada. — Então, o que a trouxe até nossa cidade?

A eloquência da rainha, apesar de não ser algo tão formal quanto a maioria dos nobres, era realmente polida, se comparada com os demais.

— Estou indo para Galvas, apenas passei aqui para pegar mantimentos. Mas o que aconteceu aqui? Porque o Império os atacou?

O braço do trono trinca com o impacto do golpe da mão do rei, exaltado.

— Aqueles desgraçados acham que são os donos de tudo. Mas deixe que venham. Acabamos com todos, um por um.

A mão da rainha paira sobre o ombro do rei, acalmando-o.

— Não se exalte tanto, querido.

— Como não vou me zangar? Nós conseguimos algo que eles não têm, então querem tomar de nós?

— O que vocês conseguiram que poderia despertar tanto a ira do Império Mundial? — pergunta Eril, com imensa curiosidade.

De trás dos tronos, surge um orc mais magro do que a maioria, trajando vestes semelhantes à trapos e um manto, cobrindo-lhe a cabeça de forma a deixar uma sombra sobre seus olhos.

— Será melhor que veja com seus próprios olhos, princesa de Galvas. — com uma voz arrastada e quase sussurrante.

O grupo é levado para fora da tenda, onde caminham em direção ao castelo, que mais parece uma construção inacabada e retorcida, feita apenas de pedra.

Eles atravessam uma ponte, adentram no castelo e caminham por alguns corredores, escuros, iluminados por algumas poucas tochas, descendo uma grande escadaria que leva ao sub-solo.

Intrigado com a situação, Kore aproxima-se de Eril e sussurra.

— Esse cara de capuz me da calafrios. Tem certeza de que ele é confiável? Será que não está nos levando para uma armadilha.

— Não precisa se preocupar. Ele é um xamã e conselheiro do rei e da rainha. — tranquilizando o monge. — Os conheço à muito tempo e nossos reinos são aliados.

Algar observa o lugar e as pessoas ao seu redor, até que repara a ausência de alguém.

— Desde que chegamos aqui, Voughan desapareceu. Espero que esteja bem.

— Aquele inconsequente. — esbraveja Kore. — Saiu correndo como um louco e sumiu no meio da multidão. Mas deve estar se sentindo em casa. Esse pessoal é igualzinho à ele.

Após muito andarem, passando por três grandes portas, trancadas por enormes cadeados e correntes e fortemente guardadas por soldados bárbaros, finalmente chegam na último salão.

Seu interior é o de uma masmorra, sem janelas e com apenas uma porta. Em seu centro, uma gaiola, grande o suficiente para comportar pessoas em pé, ao redor de uma espécie de altar, situado no meio, onde há algo coberto por um lençol.

— O que vocês irão presenciar, é algo inédito em todos os reinos de Almara. — informa o xamã, com um tom de mistério. — Uma verdadeira preciosidade. Algo que nunca foi conseguido antes.

Ao encaixar a chave na fechadura da gaiola, algo debaixo do lençol começa a se mexer bruscamente, deixando os convidados ainda mais intrigados. Seus corações batem forte, imaginando o que poderia haver ali embaixo.

A trava se destranca e a grade se abre.

Após todos entrarem, a gaiola é trancada por fora, aumentando a tensão, que naquele ponto fazia com que a gaiola parecesse cada vez menor, provocando uma sensação claustrofóbica.

Eril, Kore, Algar, acompanhados do xamã e mais seis bárbaros grandes, se colocam ao redor do altar, onde algo ainda continua se movendo por debaixo do lençol.

— Contemplem! — diz o xamã, dramaticamente puxando o lençol, revelando o que havia por debaixo. — A fera de Xibalba!

Ao mencionar o nome da terrível ilha, o choque é imediato, fazendo com que os visitantes dêem um passo para trás, inconscientemente.

No altar, uma criatura humanóide, sem rosto, cujo corpo se assemelha ao de um boneco, com uma couraça que parece de um metal negro, cobrindo-o completamente. No lugar das mãos e dos pés, há pinças com lâminas pontiagudas e afiadas.

— Por muitos anos a ilha de Xibalba permaneceu um tabu. Guerreiros de todos os cantos, cheios de coragem, invadiam a ilha, cada qual com sua razão. Porém, o final era sempre o mesmo. Morte ou uma retirada humilhante. Tantas foram as mortes que ninguém mais ousou tentar a sorte. Muitos anos se passaram e nós finalmente decidimos invadir. Juntamos os melhores homens, preparei minha melhor magia e partimos para Xibalba.

— Incrível! — espanta-se a elfa, não acreditando no que via. — Vocês realmente conseguiram um exemplar de um monstro da ilha de Xibalba. E vivo!

O xamã abre um sorriso irônico.

— Não que tivéssemos outra escolha além de trazê-lo vivo, afinal, parece que nada consegue matar essas criaturas.

— De qualquer forma é uma vitória. Ninguém havia conseguido capturar um de forma alguma. Dizem que eles são extremamente fortes e ágeis.

— Sei bem disso, princesa de Galvas. Presenciei seu poder pessoalmente, bem como todos os bárbaros que morreram em batalha. Mas sabe o que é mais assustador nestas criaturas? Elas parecem imunes à magia. Aliás, a impressão que tive é que, cada vez que eu as atacava com magia, elas ficavam mais fortes.

— Nesse caso, o seu povo realmente era o mais indicado para esse serviço. — observa Algar. — Pois, pelo que você diz, apenas dano físico parece causar algum dano à eles.

— Eu tenho minhas dúvidas, Algar, filho de Dhondal. — para espanto do anão, ao ter seu nome pronunciado por alguém que não deveria sabê-lo. — Não tenho certeza se mesmo ataques físicos causam dano à essas criaturas. Como as lendas afirmam, eles realmente parecem invencíveis.

Kore estica-se para ver a criatura mais de perto e, neste momento, a criatura volta-se para ele, como se o encarasse e a região onde deveria haver um rosto se ilumina na cor vermelha.

— Acho que ele ficou zangado. — constata o monge.

A criatura se debate mais do que nunca, sem conseguir se soltar.

Chapas de metal enormes, com runas mágicas, prendem seus braços, mãos, pernas, pés, tórax e pescoço, além de outras runas espalhadas ao seu redor, por todo o altar. Até mesmo nas grades da gaiola existem runas.

Com um olhar mais atento, percebe-se que na verdade o salão inteiro tem runas mágicas espalhadas, bem como quatro tótens nos cantos.

— É uma segurança e tanto. — comenta o anão.

— E eu ainda preciso retornar aqui duas vezes ao dia para reforçar a magia das runas, pois parece que elas enfraquecem apenas por estarem próximas da fera.

— Então é isso que o Império Mundial queria. — constata Eril.

— Eles tentaram impor sua vontade sobre nós, princesa de Galvas. Mas escolheram o povo errado. Podem tripudiar em cima dos reinos fracos e covardes, mas eles nunca lidaram com o reino dos bárbaros. Então decidiram tomar à força. Mal sabiam eles que era tudo o que nós queríamos. Um motivo para guerrear.

— Mas entrar em conflito com o Império não é uma coisa boa. Eu sei que sua nação é gigantesca, uma das maiores do mundo, mas o Império possui diversas nações sob controle. Se atacarem com todo o poderio militar, não sei se vocês resistiriam.

— Nesse caso, pediríamos auxílio ao nosso aliado. O reino de Galvas. — com um sorriso sinistro no rosto.

— Nós ajudaríamos, com certeza, mas não sem antes tentar um acordo. Além do mais, não sei se mesmo nossos dois reinos seriam páreo para eles.

— Uma morte gloriosa nos esperaria, neste caso.

Eril engole seco, imaginando os problemas que podem estar chegando. Um confronto com o maior poderio militar do mundo poderia acabar se tornando inevitável, se as coisas continuarem como estão. A aliança com o reino dos bárbaros com um reino tão pacífico quanto o de Galvas só existe para protegê-los de um ataque dos bárbaros, homens e mulheres aficcionados por batalhas. E agora isso acabava de lhes trazer justamente o que tentavam evitar.

 

A noite chega e nossos heróis descansam em seus aposentos, dedicados aos aliados vindos de Galvas.

Kore treina em um pátio interno, socando e chutando o ar, até que em certo momento tenta golpear com o braço esquerdo, por instinto, apenas para lembrar que não mais o possui. Ele parece ficar deprimido.

Sua força não é o suficiente para entrar em Xibalba e, com um braço a menos, seu potencial de luta fica ainda menor.

Ele aperta as faixas que cobrem o que sobrou de seu braço, respira fundo e continua a treinar.

Algar utiliza o final da noite para estudar alguns pergaminhos, cedidos pelo xamã, tentando incorporá-los à alguns experimentos, que testa em seu laboratório portátil.

Diferente dos demais, Voughan seca um barril inteiro de cerveja, festejando junto à outros bárbaros, que berram e cantam freneticamente.

Já Eril, não conseguindo dormir, caminha até um barranco de frente para o mar e senta-se em uma pedra, observando as ondas sob o luar, até o amanhecer.

Quando finalmente o Sol se revela, um estranho estrondo é ouvido, vindo de muito longe.

Eril, que já estava na rua, caminha pela cidade, até um ponto mais alto, procurando saber de onde veio aquele som.

Não conseguiu avistar nada e parecia que nada anormal havia acontecido.

Passado alguns minutos, um segundo estrondo, este muito mais alto é ouvido e, desta vez, junto à ele, um tremor de terra ocorre.

Não é muito forte, mas é o suficiente para ser notado por quase todos da cidade.

Enquanto corre para o castelo, Eril encontra Kore e Algar no caminho.

— Ouviram isso? — pergunta, assustado, o monge.

— Acho que toda a cidade ouviu. — responde a maga.

— Parecia uma explosão ou o impacto de algo, tão forte que fez o chão tremer. — raciocina Algar. — Poderia ser um Gigante Real. É possível que o Império tenha um desses. Seria uma arma e tanto.

— Mesmo um Gigante Real não seria suficiente para derrotar os bárbaros. — diz Eril, dando continuidade ao raciocínio de Algar. — A não ser que seja um exército de Gigantes Reais.

— Tudo o que dá para saber é que veio da direção do monte Giron.

Um terceiro estrondo, ainda mais forte, acompanhado de um forte tremor de terra, faz a cidade inteira se voltar na direção do monte.

— Acho que devemos nos preparar para o pior. — orienta a maga, sacando da cintura seu cetro.

Algar, que carregava seu laboratório portátil nas costas, o encaixa no braço, transformando-o em um braço mecânico.

Kore avança na frente, ficando no alto de uma casa, atento à qualquer coisa ao seu redor.

Um burburinho tem início entre os bárbaros, tentando entender o que estava acontecendo. Boa parte deles já havia corrido até o monte, escalando-o. Alguns já haviam subido um quarto da altura total do monte, quando o impensável acontece.

O quarto estrondo ocorre e, desta vez, o monte Giron, literalmente, se parte ao meio.

O impacto estremece a cidade inteira.

A fenda que se cria no meio do monte Giron engole uma parte dos bárbaros que estavam escalando, outros são atingidos por rochas que rolam do monte, por causa do tremor.

Uma poeira sobe, tirando a visibilidade de todos.

Uma silhueta pode ser vista, em meio a fumaça, como que saltasse de uma distância muito grande e aterrissasse dentro da cidade.

Parece ser um homem muito grande e muito musculoso. Sua silhueta é larga, muito mais do que o mais musculoso dos bárbaros.

A medida que a poeira vai baixando, é possível ver que um único homem está próximo ao invasor.

Eril, Kore e Algar correm na direção do invasor solitário e descobrem que, aquele que está frente à frente com ele é Voughan.

Enquanto avançam, percebem que, até mesmo os destemidos bárbaros, parecem estar com medo do recém chegado.

— Isso é possível? — diz Kore. — Esses caras estão com medo? Existe algo neste mundo que pode fazer isso?

— Estes homens marcharam para dentro de Xibalba. — responde Algar. — Quem quer que seja que consiga colocar medo neles, certamente tem um poder além da nossa compreensão.

— Essa pessoa… partiu uma montanha ao meio. Isso é realmente possível?

Ao longe, já é possível identificar o invasor.

Um shamarg com uma musculatura desproporcionalmente exagerada, sem cabelos, utilizando uma calça com o distintivo, identificando ser a mais alta patente do Império Mundial… Um general.

Em sua frente, Voughan o observa, com certa raiva.

O invasor solta um leve sorriso.

— A quanto tempo, Voughan! Meu irmão!


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Notas finais do capítulo

Opiniões e críticas construtivas são bem vindas.



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