ALMARA: Ameaça na Ilha de Xibalba escrita por Xarkz


Capítulo 22
CAPÍTULO 21 | Monge x Cavaleiro


Notas iniciais do capítulo

Farkas treina em outro monastério com um novo mestre, quando recebem uma visita inesperada.
Liderados pelo tenente Darin, um pelotão do Império Mundial está no encalço de um perigoso cientista e todo o cuidado é pouco.



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A área era montanhosa e coberta de neve, de forma que apenas formas de vida adaptadas para viverem no frio existiam ali. Algumas poucas vegetações insistiam em se desenvolver, mesmo que de forma modesta, servindo de alimento aos animais.

Em meio à lugar nenhum, um templo todo feito de pedras amareladas destoa do restante do cenário, com centenas de degraus e uma enorme porta de entrada.

Do lado de dentro, no pátio, dezenas de monges, enfileirados de forma ordenada, recebem ordens de um monge mais velho, que caminha entre as fileiras.

Entre eles está uma figura conhecida.

— Farkas! — chama o mestre. — Sua mente não está no que você está fazendo. Enquanto estiver aqui, tudo que há fora desses muros não lhe diz respeito.

— Sim, mestre! — responde, com ênfase.

Na mão direita de Farkas há um globo de energia translúcido, semelhante à uma bolha, e, em seu interior, fragmentos de pedras circulam lentamente, como asteróides orbitando um espaço vazio.

Na mão esquerda não há nada, mas Farkas parece se concentrar nela.

Após alguns segundos, outro globo surge nela, mas este com um pequeno tornado em seu interior.

— Consegui! — diz o monge, extasiado.

Porém, ao olhar para a outra mão, vê que o primeiro globo havia sumido.

— Droga! — a alegria some, tão repentinamente quanto surgiu. — Concentrar dois elementos ao mesmo tempo é muito difícil, são duas coisas muito diferentes para se fazer ao mesmo tempo.

— Quando você nasce, até mesmo mover os membros, um de cada vez, é uma tarefa difícil. É algo que vem com o tempo e treinamento. — diz o mestre. — Quero que crie os elementos separadamente. Faça o globo do elemento terra e então desfaça, repetindo o processo cem vezes, para que se torne um movimento natural. Então faça o mesmo com o elemento vento. Depois disso tente fazer ambos ao mesmo tempo novamente.

— Sim, mestre Jinukai! — iniciando o treino imediatamente.

Enquanto caminha por entre os estudantes, o mestre dá dicas específicas para cada um.

Na segunda parte da manhã, o treinamento se volta para o fortalecimento físico, com diversos tipos de exercícios terríveis, levando os alunos à exaustão.

Uma pausa para o almoço e descanso é seguido de mais treino, onde Jinukai demonstra formas de ataques mais precisos, evitando movimentos desnecessários durante a luta. Técnicas elementais de todos os tipos são demonstradas por ele e pelos alunos, como em todos os outros dias, porém, uma surpresa inesperada os aguardava.

Ao entardecer, ecoa pelo templo uma batida no portão de entrada.

— Visitantes? — indaga o mestre.

Ele se dirige à entrada e então destranca o enorme portão, abrindo-o.

Para seu espanto, um pequeno pelotão do Império Mundial o aguarda. Um homem de pele negra e cabelo raspado, vestindo uma armadura de cavaleiro, toma a frente, aproximando-se de Jinukai.

— Há quanto tempo, mestre. — diz o cavaleiro.

— Darin! Não esperava vê-lo novamente.

— Só porque deixei de ser um monge não posso visitar meu antigo mestre?

— Não! Mas desde que se tornou sargento do Império Mundial, não é mais bem vindo aqui.

— Tenente! Agora sou um Tenente.

— Dentro destes portões, sua patente não significa nada.

— Mas eu ainda estou do lado de fora. — ironiza.

— E é aí onde deverá permanecer. — fazendo menção de fechar o portão.

— Espere! — se adianta Darin. — Não tenho a intenção de afrontar o senhor. Apenas gostaríamos de usufruir de sua hospitalidade por essa noite. Estamos caminhando à dias e tivemos problemas com o equipamento para montar o acampamento.

O velho mestre o encara por alguns instantes, antes de se decidir.

— Apenas não causem problemas meus alunos, ok?

— Nem irá perceber que estamos aqui, mestre.

O pelotão, constituído por vinte e cinco soldados, três sargentos e liderados por Darin, adentram no templo, deparando-se com os monges, alunos de Jinukai.

— Quem são esses soldados? — sussurra um dos alunos.

— Eles têm emblemas do Império Mundial. — comenta outro.

— Olá, garotos! — saúda Darin. — Continuem o treino, não quero atrapalhá-los.

— Mestre Jinukai! — chama um dos alunos. — Porque estes soldados estão aqui?

— Eles estão apenas de passagem. Irão ficar aqui esta noite, mas irão embora ao amanhecer. Enquanto isso, quero que sejam cordiais com eles e cedam seus aposentos.

— Vamos ter que dormir no chão? — indaga  Farkas. — Não que isso seja um grande problema, mas esses caras não são bem vindos aqui, porque temos que deixar eles dormirem em nossas camas enquanto nós temos que ficar no chão?

— E quanto à comida? — questiona outro. — Irão comer nossa comida também?

Um alvoroço tem início entre os alunos, até que o mestre decide colocar um basta, pisando forte no chão, o que gera uma onda de energia, fazendo com que algumas pedras do solo se desloquem, erguendo-se e gerando um pequeno terremoto.

Todos se calam no mesmo instante.

— Nós arranjaremos nossa própria comida, quando à isso não precisam se preocupar. — diz Darin, tomando a frente, antes mesmo que Jinukai possa falar algo. — Mas vamos fazer o seguinte: todos estão aqui para treinar e se tornarem mais fortes. Então que tal uma aposta? Se um de vocês me vencer, nós dormiremos no chão. Caso contrário, terão de nos ceder suas camas.

No que Darin completa sua frase, outro alvoroço tem início mas, desta vez, Farkas salta por cima de todos, parando em frente ao tenente.

— Aceito seu desafio.

Para o espanto de todos.

— Todos estão de acordo? — pergunta Darin.

Eles olham uns para os outros, até que acenam positivamente. Farkas acaba de se tornar o representante dos alunos e o peso da responsabilidade recai sobre seus ombros.

Darin começa a tirar sua armadura, quando é repreendido pelo monge.

— Hei! Não tire a armadura. Você é um cavaleiro, então lute como tal.

— Tem certeza disso?

— Absoluta!

— Se perder, não venha usar isso como desculpa.

— Não se preocupe, eu não vou perder.

Com a armadura completa, Darin ergue seus punhos, ignorando a espada e escudo, presos nas costas de sua armadura.

— Você realmente está me subestimando.

Após fazer menção de que vai avançar com tudo, Farkas para no meio do caminho, como se lembrasse de algo.

— Interessante. — comenta o cavaleiro. — Controlou seu impulso de me atacar sem pensar. Parece que as aulas do Jinukai estão dando frutos. Você faz o tipo esquentadinho, mas está pensando antes de partir para cima do inimigo.

— Não fale como se me conhecesse.

Lentamente os dois combatentes se aproximam, até que Farkas percebe uma brecha e ataca com um soco, mas é defendido.

Agora é a vez de Darin, que consegue golpear o rosto de Farkas com um soco, mas este, aproveitando o impulso que recebeu do golpe do inimigo, gira o corpo e ataca com um chute certeiro, no rosto do cavaleiro, que é empurrado para trás.

O monge avança em sua direção e o oponente cruza os braços na frente do corpo, tentando defender o ataque, porém, uma torrente de vento, vindo da lateral, empurra rapidamente Farkas para o lado, posicionando-o ao lado de Darin, que não teve tempo de se mover e é atingido novamente por um soco no rosto.

Ele cambaleia para trás, enquanto sangra pelo canto da boca.

— Usou o elemento vento para se deslocar rapidamente para meu ponto cego, atrás do meu bloqueio. Parabéns! — Sacando sua espada e escudo. — Parece que realmente subestimei você.

Surge um brilho na espada e, com um movimento dela, um ataque cortante de energia é lançado no ar, na direção de Farkas, que cria uma espécie de escudo de pedra, que parece brotar da pele de seus braços.

O ataque cortante divide o escudo de pedra em dois, mas resistiu o suficiente para amortecer o golpe, que causa apenas um arranhão no braço do monge.

Eles avançam um na direção do outro e um embate tem início, onde Farkas desvia dos ataques da espada enquanto Darin defende os golpes com seu escudo.

Os monges e soldados vibram com a luta, que começa à ficar mais intensa.

Em pouco tempo, Farkas já está com vários cortes pelo corpo e Darin com marcas roxas em seu rosto, além da pálpebra de um dos olhos começando a inchar.

— JÁ CHEGA! — ordena o mestre, em um grito que faz os combatentes pararem no mesmo instante. — Está decidido. Essa noite iremos fazer um treinamento intensivo que irá durar até o amanhecer. Nesse meio tempo os soldados usarão suas camas. Quando eles se forem, deixarei que descansem até a metade do dia.

Apesar de um pouco indignados, os alunos acabam aceitando a ideia.

O treinamento prossegue normalmente até o cair da noite.

Após a refeição, os soldados seguem para os aposentos para dormirem, enquanto os alunos começam seu treinamento intensivo.

Depois de dar as instruções, Jinukai aproxima-se de Darin, que está sentado na escadaria da entrada dos aposentos, observando o treino.

— Não vai dormir? — pergunta para seu antigo aluno.

— Ainda não. Ver esses garotos treinarem me lembra dos velhos tempos.

— Não fale como se fosse um velho, como eu. Isso foi à poucos anos, você ainda é jovem.

— Eu sei. Você está treinando uns garotos promissores aqui. Aquele que me enfrentou, Farkas, é tão jovem e conseguiu me enfrentar de igual para igual.

— Ele tem dificuldade com certas coisas, mas a evolução dele é muito rápida. Quando chegou aqui era um lutador comum, mas agora talvez ele seja o mais forte entre os alunos.

— Bem diferente de mim.

— Você realmente não foi um bom aluno. Não tinha futuro como monge. A primeira pista que tive foi quando me pediu para lhe ensinar a utilizar Ki ao invés de Mahou.

— Eu sei. Achei que seria um diferencial. Tem poucos monges especializados em Ki. Mas graças à isso acabei descobrindo minha vocação.

— Não sei o que faz neste fim de mundo, mas creio que você tenha uma missão importante. Acho melhor dormir para recuperar suas forças e curar seus ferimentos.

— Está certo. Aquele garoto realmente me deu trabalho.

— Eu diria que vocês estavam empatados.

— Eu não teria tanta certeza. — discordou Darin, mostrando seu escudo com mostrando vários amassados e algumas pequenas rachaduras, causados pelos golpes de Farkas.

— Isso é um indicativo de que você precisa se esforçar ou a nova geração irá lhe esmagar.

— Sei bem disso. Quero subir de cargo para Capitão e então para Major. Aí terei alcançado meu sonho.

— Espero que consiga. — disse o mestre, afastando-se do pilar onde estava escorado. — Agora me dê licença. Preciso educar essas crianças.

 

O dia amanhece e os soldados já estão preparados para prosseguirem viagem, aguardando próximo ao portão de entrada.

Com um aperto de mão, o tenente se despede de Farkas.

— Você é bem forte, garoto.

— Você também. Espero que possamos lutar novamente um dia.

— Espero que sim.

— Aí eu vencerei.

— Então fique forte rápido ou vou lhe deixar para trás. E se quiser ficar forte mesmo, entre para o Império Mundial. Vou ficar feliz em tirar seu couro nos treinos.

Todos acenam e o pelotão se afasta, neve à dentro.

 

A caminhada é árdua, mas não para aqueles cavaleiros treinados.

Mesmo após quatro horas de marcha, vencendo o frio e a resistência da neve, se mantêm firmes.

Eles contornam uma grande montanha por um caminho estreito, onde passam apenas duas pessoas lado-a-lado por vez.

Um dos sargentos aproxima-se de Darin, vindo do final da fila.

— Senhor, recebi o sinal de um de nossos espiões. A entrada está trezentos metros à nossa frente.

— Ótimo! Vamos surpreendê-lo. Bom trabalho, sargento.

— Obrigado, tenente!

O pelotão avança mais um pouco e então, ao sinal do tenente Darin, todos cessam seu caminhar.

Com um segundo sinal com a mão, dois soldados, trajando capas e roupas um pouco diferentes dos demais, se posicionam de frente para o paredão de gelo e estendem suas mãos em sua direção. Suas palmas emanam uma energia escura por alguns segundos e então tocam no paradão, que se torna translúcido e em seguida desaparece. Uma ilusão. No lugar dela, uma enorme porta de ferro surge.

Do lado de dentro, um homem humano, magro com vestes de um mago e com um sobretudo branco por cima, semelhante à um jaleco, faz algumas experiências em alguns frascos quando a porta de seu laboratório vem abaixo.

O Exército invade e arqueiros apontam suas flechas para o cientista, enquanto os demais o cercam, com espadas e lanças em punho.

No meio está o tenente Darin, um pouco mais próximo à ele.

— Levante suas mãos e vire-se lentamente. — ordena o tenente.

O homem respira fundo, não levanta suas mãos, mas vira-se de frente.

Apesar de aparentar ser jovem, seus cabelos são brancos. Em sua mão direita à uma lâmina cirúrgica e em sua direita, um frasco que ele coloca de volta na bancada de trabalho.

Observando ao redor, podem-se ver diversos aparelhos, tubos e frascos, além de grandes recipientes, cheios de um líquido verde com criaturas bizarras, algumas incompletas, deformadas. Fetos monstruosos criados por uma mente doentia.

— Olá, tenente! O que trás o poderoso Império Mundial ao meu humilde laboratório? — diz o homem, com desprezo.

— Tawiata, você está preso por realizar pesquisas proibidas, corrupção e assassinato. — responde Darin, enquanto aponta sua espada para ele.

— Mas que falta de respeito. — ironiza, fazendo sinal de negação, balançando de um lado para o outro o dedo indicador em riste. — Por favor, dirija-se a mim pelo título correto. DOUTOR Tawiata.

— Largue a lâmina e coloque as mãos onde eu possa ver.

Ele olha para sua lâmina e então olha para o tenente à sua frente.

— Que decisão. Mas acho que terei que decepcioná-lo. Não vou poder ficar para desfrutar da recepção das masmorras do Império Mundial. — diz enquanto segura com força a lâmina.

Nisso os arqueiros se preparam, ficando prestes a disparar.

— O que foi? Vão atirar em mim? Me façam esse favor. — prossegue, de forma sarcástica. — Admitam, os únicos sem saída aqui são vocês mesmos.

Os dois bruxos do exército lançam uma onda de energia escura, atingindo Tawiata e criando um circulo negro ao seu redor.

— Magia de paralisação? Não acham que isso realmente vai funcionar comigo. Não dentro do meu território.

Com um leve balançar da mão esquerda, o círculo é destruído e com a mão direita, em um movimento brusco, o cientista enfia a lâmina em seu próprio pescoço, puxando-a para o lado e rasgando sua garganta enquanto sorri de forma insana. O sangue jorra, para o espanto de todos presentes.

Até o último segundo Tawiata fita os olhos do tenente, e então cai no chão, sem vida.

— Mas… que diabos ele fez? — questiona um dos sargentos, sem entender o que acabou de presenciar.

— Ele fugiu. — responde Darin.

— Como assim? Ele acabou de se suicidar.

— O protocolo do Império dizia que a identidade deste homem deveria ser segredo para todos com patente abaixo de tenente, mas agora já não importa mais. Este homem, que acabou de tirar sua própria vida em sua frente, é aquele capaz de, após a morte, ligar sua alma à um feto recém formado, podendo voltar de novo e de novo. Doutor Tawiata é um dos quatro imortais, e graças ao meu fracasso, agora ele está livre para tomar um novo corpo e renascer.


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Notas finais do capítulo

Opiniões e críticas construtivas são bem vindas.