ALMARA: Ameaça na Ilha de Xibalba escrita por Xarkz


Capítulo 19
CAPÍTULO 18 | Ascensão Divina


Notas iniciais do capítulo

Kore, agora sem um braço, está à beira de ser derrotado.
A batalha continua e chega à seu climax.
Surge um mistério: qual será o segredo por trás dos braceletes e tornozeleiras de Voughan?



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A movimentação à frente chama a atenção das pessoas nas carruagens, que tentam sair para verem o que está acontecendo.

Imediatamente os soldados se aproximam, à cavalo, impedindo a saída das mesmas dos veículos.

— Por favor, voltem para dentro dos veículos. — orientam os soldados.

— Estamos preocupados. — diz um homem de dentro da carruagem. — O que está acontecendo lá na frente? O senhor Uriel está bem?

— Já estamos resolvendo a situação. Não é nada com que tenham de se preocupar. Por favor não entrem em pânico, voltem para dentro das carruagens e fechem as janelas até tudo estar em segurança.

 

No chão, urrando de dor, está Kore, segurando o que sobrou de seu braço.

O sangue escorre sem parar e Araziel, ainda se recuperando de seu ferimento na asa, corre para ajudar.

— KORE! — grita o anjo. — Precisamos fugir. Vamos abortar a missão, ele é forte demais.

O monge serra os dentes para não gritar e aproxima seu rosto do ouvido de Araziel, falando baixo, pois a dor não o permite falar mais alto do que isso.

— Faça… esse sangue… parar.

— Primeiro vamos fugir, não temos tempo pra isso agora.

Com a mão que sobrou, Kore aperta o ombro do aliado, manchando-o com seu sangue.

— Pare este sangramento… Eu ainda não perdi.

— Está louco? Você não está mais em condições de lutar.

— PARE A DROGA DO SANGRAMENTO! — esbraveja, num misto de raiva e dor.

Imediatamente o anjo saca de seu cinto um pó dourado e o espalha pelo ferimento. O monge novamente range os dentes de dor, mas suporta. O sangue começa a escorrer cada vez mais devagar.

— Isso só vai deter o sangramento por alguns minutos.

— É o suficiente para eu acabar com esse cara.

— Kore, por favor, veja a diferença de poder entre vocês. Uriel liberou o terceiro selo, você obviamente ainda não.

— Eu não vou deixar o campo de batalha. Se quiser fugir, fuja sozinho.

— Porque faz questão de morrer aqui? Precisamos recuar e bolar um plano. Só então vamos atrás dele.

Com um olhar sério, Kore fita os olhos de Araziel e então aponta para Belvedere, que está amarrado dentro da carruagem.

— Está vendo aquele cara? Eu o odeio e não me importo nem um pouco com a vida dele. Se ele viver ou morrer para mim da no mesmo, volto para casa à tempo para o café da manhã, sem peso na consciência. Mas não é dele que se trata. Se ele morrer, uma pessoa irá ficar muito triste e eu não quero vê-la assim. Então eu vou dar uma surra nesse arcanjo e vou trazer Belvedere de volta. Vou fazer isso sozinho se precisar, mas sem a sua ajuda vai ser mais difícil.

Araziel imediatamente se volta para Uriel, preparando-se para a luta.

— Sua motivação é nobre, meu amigo. — diz o anjo. — Então proponho o seguinte. Você distrai Uriel enquanto eu resgato Belvedere.

— Feito!

— Mas temos de ser rápidos, seu ferimento vai voltar a sangrar em alguns minutos.

— Não precisa me dizer. A dor não vai me deixar esquecer disso.

O monge respira ofegante enquanto o suor escorre por seu rosto, não pelo cansaço mas pela força que precisa fazer para resistir a dor de seu braço esquerdo que foi amputado.

— Se eu tivesse um ataque à distância isso seria mais fácil. — pragueja Kore.

Em sua frente, Uriel, o poderoso arcanjo da luz, lança uma rajada de penas afiadas, com um balançar de sua asa.

As penas, que mais parecem lâminas, passam raspando por Kore, deixando alguns cortes em seu corpo, porém, uma delas atinge Araziel, enterrando-se em seu ombro.

Kore tenta se aproximar, mas a outra asa do inimigo se estica e se espreme, lembrando vagamente uma enorme perna de aranha, que tenta perfurar sua presa com a ponta.

A estocada erra por pouco, atingindo o chão e deixando um furo profundo na rocha.

Uma segunda investida obriga o monge à recuar, tomando distância novamente.

— Mas que droga. Assim não vou chegar à lugar algum. — se zanga, enquanto parte para cima do arcanjo, desta vez em linha reta.

Novamente, com um balançar das asas, Uriel lança a rajada de penas, mas desta vez Kore desvia apenas o mínimo necessário, novamente recebendo vários cortes de raspão. Ao ver que não conseguiu detê-lo, Uriel prepara ambas as asas e tenta perfurar Kore com uma estocada de suas pontas afiadas.

Ele desvia da primeira, com dificuldade da segunda, mas quando o terceiro golpe vem, não há tempo para esquiva e ele tenta algo inusitado.

Com seu punho, ele golpeia de encontro à afiada ponta da asa e, estranhamente, com um som de impacto metálico, a ponta da asa é repelida.

Ao redor do punho de Kore, se formou uma massa de ar em movimento, girando em diversas direções ao mesmo tempo.

Novamente um ataque da asa de Uriel avança e Kore segue de encontro à ela com seu punho. Ao atingir o ar em movimento, a asa é repelida novamente.

— Subestimei você, monge. — diz Uriel. — Achei que seu elemento fosse apenas o fogo. Não imaginei que alguém tão fraco dominasse dois elementos.

— Você ficaria surpreso. — responde, entre os dentes, já não suportando mais a dor do braço perdido.

— Já estou. Lutar nestas condições já fez com que você tivesse o meu respeito.

Desta vez Uriel ataca pelos dois lados, com ambas as asas. Kore defende apenas um deles e salta para trás, sendo obrigado a recuar novamente.

Ele encara o próprio punho por alguns instantes, ainda com a massa de ar o rodeando.

Nesse momento, Araziel avança velozmente por terra, visto que sua asa está ferida demais para que ele possa voar, com sua lança em punho.

O arcanjo usa uma de suas asas para lançar suas penas afiadas, atingindo uma delas no abdômen de Araziel.

Aproveitando a situação, Kore avança novamente mas é surpreendido também por mais penas afiadas. Ele se vê obrigado a saltar e girar no ar, para desviar das lâminas.

Percebendo que não conseguirá se aproximar a tempo ele tenta algo novo. Ao tocar o chão ele prepara um soco, mesmo estando à dez metros de distância do oponente. O monge pisa forte no chão e então gira seu corpo socando o ar. Ao realizar este movimento, a massa de ar que envolvia seu punho é arremessada para frente, na direção em que o soco apontou.

O ataque se molda no formato de um punho feito inteiramente do elemento ar e atinge em cheio o rosto de Uriel.

Seus cabelos ficam desarrumados e ele cambaleia um passo para trás.

— Um mortal tocando um deus? Isso é inadmissível. — com seus olhos cheio de ódio, que agora fitam o monge.

 

Na cidade, Eril acorda e procura seus amigos pela mansão, quando avista Algar, sentado em um sofá, olhando para a chama na lareira à sua frente.

— Bom dia, Algar! Está tudo bem?

Como se acordasse de um transe, ele volta-se para Eril. — Ah, bom dia, princesa! — responde, um tanto cabisbaixo. — Ainda estou digerindo o que aconteceu em Bantara.

A maga senta-se ao seu lado, tentando reconfortá-lo.

— Não tenho ideia da dor que você está sentindo, mas saiba que estarei aqui para lhe ajudar com o que eu puder. Não precisa passar por isso sozinho.

— No passado eu perdi meus pais para a doença de Veldellis, agora perdi meus amigos, conhecidos e minha cidade natal inteira. Ela não existe mais, desapareceu completamente como se nunca houvesse existido. Não há túmulos para visitar, não há mais nada.

— Foi realmente uma tragédia. A cidade de Phaedra também teve o mesmo destino.

— A cidade de Phaedra desapareceu, mas a grande maioria de seus habitantes conseguiu fugir. Agora me diga: Onde estão os habitantes de Bantara? — exaltando-se um pouco.

Algar recebe apenas o silêncio como resposta.

— Eles não tiveram chances de fugir. Isso só me faz pensar que o que Ákyros buscava estava em Phaedra. Bantara apenas estava em seu caminho então era mais fácil desintegrar a cidade do que dar a volta. Esse não é um fim digno. Eles sequer sabem que estão mortos. Alias, eles não foram mortos, Ákyros parece simplesmente apagar a existência das coisas. Nem mesmo suas almas devem ter sobrado.

— Não sei o que há na vida após a morte, mas acredito que as coisas não acontecem por acaso. Talvez este seja o motivo de seus pais terem morrido para a doença. Se estivessem vivos até hoje, provavelmente estariam em Bantara e teriam suas existências apagadas. Você também estaria lá. Pelo menos suas almas estão em segurança.

— Não acho que os deuses tenham um plano especial para mim, princesa.

— Talvez seja seu destino achar a cura para a Degeneração Pétrea.

— Obrigado, princesa! Mas gostaria de ficar sozinho por um tempo.

— Tudo bem. — diz Eril, levantando-se do sofá. — Você pode ter tido uma grande perda, mas não esqueça que agora você tem uma nova família. Tenho certeza de que Kore e Voughan também pensam assim.

Mesmo que um pouco forçado, Algar consegue esboçar um leve sorriso.

— Tenho minhas dúvidas quanto ao Voughan.

— Pense nele como um irmão rebelde. Ele vai precisar da sua ajuda para entrar na linha. — diz a maga, enquanto afasta-se em direção à porta de saída.

— Princesa… Obrigado!

Eril apenas sorri e segue para o lado de fora da mansão.

 

As gigantescas asas do arcanjo se abrem totalmente, ficando maiores do que nunca e ele inicia uma sequência de rajadas de penas afiadas.

Araziel se defende com a sua própria asa, enquanto corre para se esconder atrás de um rochedo, mas Kore está desprotegido e tenta desviar de todas as penas.

Nesse momento o ferimento de seu braço amputado começa a jorrar sangue novamente e o monge é atingido no corpo por várias das lâminas.

— Droga! — exclama o anjo, temendo pela vida do aliado. — O tempo acabou.

Caído, muito ferido e perdendo sangue, Kore cai de joelhos.

— Desapareça da minha presença, humano imundo. — diz o arcanjo, preparando seu último ataque.

A ponta de sua asa brilha novamente, como metal refletindo a luz do Sol. Com um rápido movimento da asa, se desprende um feixe de energia luminoso que se assemelha à uma lâmina de luz e segue em direção à Kore, que permanece inerte, sem forças.

O ataque segue cortando o ar, mas ao se aproximar, é detido por alguém, que o defende simplesmente com os braços cruzados em frente ao corpo.

É Voughan, que ficou na frente do ataque, protegendo o monge.

O grandalhão olha para Kore, vendo-o em estado lastimável e sem um braço.

— Você está um trapo. — comenta o shamarg, sem se importar muito com o ataque que acabou de levar.

Um corte foi aberto em seu ombro, lateral do abdômen e braços, além de trincar seu bracelete da mão direita. Apesar do sangue que escorre, ele não parece estar gravemente ferido.

— Nunca achei que ficaria feliz em te ver, Voug.

— Queria ficar com toda a diversão, é? Porque não me chamou?

— Parece que estou me divertindo?

O gigante olha para Kore de cima à baixo.

— Pra mim parece que está.

— Não vou nem dizer mais nada.

Ao olhar para seus próprios braços, Voughan percebe algo que o deixa muito irritado. Sua expressão muda para a de uma fúria até então nunca vista no shamarg.

Sua testa franze ele mostra os dentes, como um animal.

— O que houve, Voug? — estranha o monge, sem receber uma resposta.

— OLHA O QUE VOCÊ FEZ! — berra Voughan para Uriel, correndo em disparada em sua direção.

O arcanjo lança suas penas afiadas, mas o grandalhão apenas as afasta, golpeando-as com as costas das mãos.

Uma das asas ataca o shamarg que, apesar de ter sua mão perfurada, consegue segurá-la e continua sua investida.

Ao chegar bem próximo, o arcanjo sente-se pressionado e então aponta sua mão espalmada para frente, criando uma barreira invisível, contra a qual Voughan se choca.

Sem se ater, ele golpeia a barreira de novo e de novo, com seus poderosos punhos.

Percebendo a chance, Uriel o ataca pelas costas com a ponta de sua asa, atingindo-lhe em cheio e perfurando sua pele. Ainda sim ele continua a bater na barreira, ignorando seu ferimento.

— Essa couraça sobre sua pele é um verdadeiro incômodo, shamarg. — diz Uriel. — Mas existem outras formas de ferir sem ser com ataques físicos.

A asa pontiaguda ataca repetidas vezes no mesmo ponto, enquanto Voughan continua à golpear a barreira. Neste momento, surgem no ar ao redor dele, alguns flocos luminosos de energia, mas Voughan não dá importância. Os flocos dançam pelo ar mas não se pode ver exatamente para onde vão.

Após a quarta estocada no mesmo ponto, o shamarg para de golpear, quase dobrando seus joelhos e abaixando a cabeça, pela dor.

Ele parece estar subjugado, mas quando Uriel começa a sentir-se no controle, Voughan golpeia novamente, com toda a força, trincando a barreira, para desespero do arcanjo.

Em um bater de asas mais forte, Uriel é suspenso no ar, afastando-se o perigo.

— Desça aqui e me encare, frangote. — pragueja Voughan. — Vou quebrar todos os seus ossos. Vou matar você.

Kore apenas assiste tudo sem entender ainda o que deixou seu amigo tão furioso. Geralmente ele não leva nada à sério, sempre achando divertido lutar não importando as condições, mas desta vez ele tinha um ódio incomum no olhar.

Além disso existe outra coisa estranha. Nas costas de Voughan há um círculo branco luminoso ao redor do ferimento que foi causado pelos repetidos golpes da ponta da asa e é deste círculo branco que parecem brotar os flocos luminosos.

— Sua força vital é impressionante. — impressiona-se Uriel, sobrevoando à uma altura segura. — Graças à simplicidade de sua raça, posso absorver sua energia vital muito mais rápido do que poderia com qualquer outra. É como drenar uma besta selvagem, talvez até mais fácil.

Inesperadamente, em um gigantesco salto, Voughan alcança o arcanjo, que tenta desesperadamente se proteger com sua barreira, apenas para vê-la se despedaçar ante o punho do shamarg, que após atravessá-la, atinge o rosto de Uriel, arremessando-o para longe.

O arcanjo cai no chão, sangrando por um grande corte acima do olho direito. Ainda zonzo, ele percebe Voughan aterrissando também e então correndo em sua direção.

Em desespero, Uriel cambaleia alguns passos e então se lança em voo, conseguindo pousar sobre uma rocha alta. Lá ele se ajoelha, tentando recuperar-se. Sua visão está embaçada e ele percebe o risco que correu, tendo conseguido voar quase que por milagre.

No pé do rochedo, o shamarg salta e começa a escalar, tentando alcançar sua presa, que voa novamente para um segundo rochedo com uma forma semelhante à de um pilar, à uma certa distância, claramente fugindo, acuado.

Voughan sobe até o topo do rochedo onde Uriel estava anteriormente e parece muito cansado.

— Vai ficar fugindo, seu covarde. — berra o shamarg. Irritado e ofegante.

Começando a se recuperar, a visão de Uriel normaliza e ele fica em pé. A raiva que ele sente só é diminuída quando percebe o cansaço de seu oponente, transformando sua expressão para uma mais calma.

— Está ficando mais lento, shamarg. Está cansado apenas por escalar esta pequena rocha?

— Do que está falando? Posso fazer isso o dia inteiro.

Mas não era o que parecia, de fato seu cansaço era aparente.

— Sabe o que é isso? — apontando para os flocos de luz que seguem na direção de Uriel e penetram em sua pele. — Isto é sua energia vital. Ela está fluindo de você para mim, é por isso que está cansado e é por isso que estou sendo curado. — apontando agora para sua própria ferida acima do olho direito, que lentamente vai se fechando e parando de sangrar.

— Não sei o que é isso, mas você pode ficar com ela. Agora venha até aqui pra eu quebrar você no meio.

— Vai precisar de mais do que isso para me fazer ir até aí.

Ficando cada vez mais irritado, Voughan segue para a borda do rochedo e salta, despencando alguns metros, porém, antes de cair metade da altura, ele toca a parede rochosa com seus pés e então se impulsiona com violência na direção do pilar onde Uriel está, atingindo a estrutura em sua metade e fazendo com que desmorone.

Não completamente recuperado e sem reação ao movimento inesperado de Voughan, o arcanjo despenca alguns metros antes de usar suas asas, pairando no ar.

Ao recuperar a estabilidade, Uriel olha para baixo, procurando seu oponente, mas tudo o que vê é uma enorme pedra indo em sua direção, que foi arremessada pelo shamarg, atingindo-lhe a base de sua asa e fazendo com que despenque mais alguns metros.

Aproveitando a baixa altitude do inimigo, Voughan salta em sua direção. É muito tarde para que ele possa desviar, então este cria novamente sua barreira, apenas para vê-la estilhaçar ao ser atingida pelo soco do shamarg.

Ainda sim, seu salto não teve propulsão suficiente para atravessar a barreira e ainda atingir o inimigo, despencando junto dos estilhaços do campo de força translúcido.

Percebendo o perigo que seu oponente representa, Uriel decide por uma retirada. Antes disso ele desce até o solo, à uma distância segura.

— Não iremos chegar à lugar algum assim. — inicia o arcanjo.

Ele olha de relance para sua carruagem, percebe alguns de seus soldados caídos e a cadeira, onde Belvedere estava, vazia. Também não avista Araziel e Kore, apenas um rastro de sangue que segue em direção à cidade.

— Como pode ver, seus amigos resgataram Belvedere e fugiram. Não há mais nada que o mantenha aqui, shamarg. Já pode ir, não irei atrás de vocês.

— Não tô nem aí pra eles. Você vai pagar pelo que fez.

— O que você diz não tem sentido. Por um lado diz que não se importa com seus amigos, mas ao mesmo tempo diz que vou pagar pelo que fiz à eles.

— Mas heim? Não tô falando deles. Já disse que não tô nem aí. Se arrancar mais braços e pernas deles só significa que são uns fracos.

Novamente Uriel olha para sua carruagem e avista o cocheiro. Com um movimento da mão, apontando para a direção da próxima cidade, ele o ordena que prossiga a viagem e o cocheiro obedece, liderando todas as demais carruagens.

— Então me diga, shamarg. O que eu lhe fiz para ter lhe causado tamanha ira?

Enquanto fala, os flocos luminosos, que roubam a energia vital de Voughan continuam o drenando sem que ele perceba ou se importe.

— Isto, foi o que você fez! — exalta-se Voughan, apontando para um de seus braceletes, agora com uma rachadura. — Seu primeiro golpe fez isso.

Abismado com a revelação, Uriel prossegue.

— Não imaginaria que um bracelete tão simples fosse algo tão valioso para você. Obviamente deve ter algum valor sentimental, pois logo se vê que não é um material valioso e acho que itens mágicos não funcionam para shamargs. Para um item de aumento de força funcionar, é necessário que o usuário possua mahou e sua raça simplória não possui.

Voughan fica cada vez mais cansado, enquanto sua energia é roubada e transmitida para Uriel, que claramente está ganhando tempo.

— Você dá valor à um pedaço de metal e não dá valor aos seus amigos. Isso é intrigante.

Analisando é possível ver que ele também possui tornozeleiras semelhantes e do mesmo material dos braceletes.

— Você não cala a boca mesmo, não é? — irrita-se Voughan, partindo para cima novamente, em carga.

Uriel aponta o indicador para cima e, da ponta de seu dedo, emana uma luz extremamente forte, cegando seu oponente completamente por alguns instantes, fazendo com que ele pare de correr.

Enquanto Voughan permanece com sua visão debilitada pela luz, Uriel faz um movimento com ambas as asas, lançando dois ataques cortantes pelo ar, que atingem o shamarg, causando-lhe um corte em forma de “xis”, no peito.

Ele cai de joelhos, seu ferimento sangra consideravelmente, mas sua visão começa a voltar ao normal. Ele avista Uriel pairando no ar, o observando do alto.

— Esta luta está encerrada. — decreta o arcanjo. — Se continuássemos, esta luta poderia durar tempo demais e, sinceramente, não tenho certeza se eu sairia vitorioso. Volte para seus amigos e mantenha-se fora de meus domínios. Prometo não ir atrás de nenhum de vocês. A palavra de um arcanjo é sagrada.

Ainda furioso, mas muito enfraquecido, Voughan apenas se levanta e o encara, até que Uriel decide seguir seu caminho, voando na direção das carruagens, que já estavam longe dali.

Ferido, cansado, mas principalmente decepcionado por não ter conseguido derrotar seu inimigo, Voughan volta sua atenção para a rachadura em seu bracelete, causada pelo primeiro ataque de Uriel.

Ele cerra o punho com força, enquanto sua mente é invadida por memórias do passado, que trazem tanto alegrias quanto tristezas.


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Notas finais do capítulo

Opiniões e críticas construtivas são bem vindas.