ALMARA: Ameaça na Ilha de Xibalba escrita por Xarkz


Capítulo 15
CAPÍTULO 14 | Conclusão na Cidade do Norte


Notas iniciais do capítulo

Eril encontra-se na pior das situações na luta contra Quentra. A dura batalha tem início no capítulo de conclusão da cidade do norte. Um de nossos heróis recebe um duro golpe e terá de lidar com uma terrível perda.



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Dos quatro totens erguidos em Waltrode do Norte, três foram derrubados.

Algar derrotou o líder dos krig-há, destruindo o totem da defesa; Kore venceu o Ladino Grimmhewron e destruiu o tótem da velocidade; Voughan, em desvantagem numérica, subjulgou cinco krig-há em suas formas evoluídas, destruindo, em seguida, o tótem da força.

No momento, Eril enfrenta o último e mais difícil dos desafios, a orc xamã, Quentra.

Por algum motivo a maga não consegue utilizar suas chamas e a vilã se delicia com a cena, gargalhando em cima de um dos galhos da enorme árvore consciente.

— Algum problema, elfa? — satiriza, com arrogância. — Seus truques não vão mais funcionar. — diz enquanto aponta para cima, onde estão as flores da árvore, que desabrocharam à alguns instantes atrás. — Elas são o motivo. Essas flores são bem especiais, elas lançam um pólen pegajoso no ar e esse pólen tem uma propriedade que impede qualquer tipo de chama. Ela é uma árvore  protetora das florestas e usa esse recurso para impedir as queimadas.

— Você manipulou tudo desde o início. — deduz, analisando os fatos. — Movimentou o cenário de forma a nos dividir e me trouxe direto até aqui.

— Você é a mais forte do grupo, preparei tudo isso para você. Depois que eu te matar, será fácil eliminar os outros.

Em um movimento amplo, novamente a árvore lança pedaços de galhos pontiagudos contra Eril, mas desta vez ela não desvia, apenas aponta sua mão espalmada para frente e, quando o galho está quase a atingindo, ela lança um pequeno turbilhão de vento, que desvia o galho para longe.

— Vejo que o elemento fogo não é a única coisa que você sabe usar. — desdenha. — Mas isso não será efetivo contra nós.

A face da orc se distorce como se entrasse em um transe e seus olhos ficam totalmente brancos. Ao erguer ambas as mãos para cima, surgem três figuras translúcidas, flutuando no ar.

Se parecem com figuras humanóides de feições distorcidas, todos com menos de um metro. São esbranquiçados e quase transparentes, sempre com um sorriso psicótico e olhos esbugalhados.

Eles voam pelo ar, circundando Eril, que tenta se afastar.

Um deles voa em sua direção e a maga tenta golpeá-lo com o cetro, mas este o transpassa, atravessando também o corpo da maga.

Ao sair de seu corpo, pelas costas, a figura carrega em sua mão uma especie de orbe, com uma energia azulada. Isso parece causar um enorme desconforto à Eril, que fraqueja, quase dobrando seus joelhos.

— Diga “olá” para os meus Draugar. Eles são uma graça, não são?

— O que é isso que ele tirou de mim? — pergunta, assustada.

— Não seja egoísta, foi apenas um pouquinho. Parece que eles adoraram a sua alma.

— Isso é… um pedaço da minha alma?

Um segundo Draugar investe contra Eril, ela se prepara para desviar mas, ao mesmo tempo a árvore lança outro galho pontiagudo. A maga consegue desviar do galho, mas o segundo Draugar atravessa seu corpo, roubando outro pedaço de sua alma.

Desta vez seu joelho toca o chão e ela apoia-se em seu cetro, mas levantando-se novamente em seguida.

Sem poder usar suas chamas, seus principais ataques estão selados e ela sabe que precisa pensar em algo rapidamente, ou realmente irá morrer.

— Venham à mim, meus Draugar.

Ao sinal de sua mestra, dois dos fantasmas, que estavam com pedaços da alma de Eril, seguem em direção à sua dona e adentram em seu corpo, que parece se fortalecer. Até mesmo seus músculos ficam um pouco mais aparentes.

— Sua alma é realmente poderosa. Obrigada por compartilhá-la comigo. — satiriza, enquanto saca uma espada com a mão direita e desce do galho da árvore.

Enquanto a árvore lança outra rajada de galhos pontiagudos, a xamã avança contra a maga, atacando com sua espada.

Eril lança um pequeno turbilhão de vento, detendo os galhos e então usa seu cetro para deter o golpe de espada de Quentra, que sorri.

No instante seguinte, Eril salta para cima, no exato momento em que o último Draugar tentara transpassar seu corpo pelas costas.

O pequeno fantasma passa direto e acaba atravessando o corpo de Quentra por engano, mas não leva nenhum pedaço de sua alma, não causando dano algum.

— Não achou que isso iria funcionar, não é?

— Sinceramente? Tinha esperanças de que funcionasse.

Em uma tentativa desesperada, Eril tenta concentrar chamas em sua mão direita. Ela se esforça até que sua mão fica em brasa. As chamas não saem, mas sua mão começa a arder.

— Aaaaaaaah! Droga!

— É inútil, não vai conseguir passar pela camada do pólem. Suas próprias chamas podem até não te ferir, mas o calor que elas produzem no pólem sim.

Isso é ruim. — pensa, enquanto segura pelo pulso a mão queimada. — Está queimando minha mão. O calor vai demorar para se dissipar.

O solo do local é todo coberto por raízes da árvore gigante. Uma delas, mais fina, se ergue como uma corda, tentando prender a maga, que a destrói com um forte golpe de seu cetro.

Quentra investe novamente atacando com a espada e Eril vai desviando da maioria e se defendendo com o cetro quando a esquiva não é possível.

Com a mão espalmada, ela lança seus ventos contra a xamã, a empurrando para trás.

Outra raíz tenta prender seu pé e ela salta no ar, apenas para ser surpreendida pelo Draugar, que transpassa seu corpo, coletando mais um pedaço de sua alma.

Ele imediatamente encarna no corpo de sua dona, deixando-a ainda mais forte, e Eril ainda mais fraca.

— Você está acabada. Lhe agradeço por eliminar os concorrentes, agora posso dominar as demais cidades dos arredores. Depois disso, irei para a cidade principal. Dominarei de fora para dentro. Há, há, há, há…

— Dentro? — sussurra Eril, para si.

A elfa, com certa dificuldade de manter-se em pé, respira fundo e encara Quentra.

— Não será assim. Eu não vou deixar.

Um turbilhão de ventos surge ao redor de Eril, ele gira espalhando folhas, galhos e pedras para todos os lados, afastando-os do centro, onde está a maga.

— Sei o que está tentando fazer. — diz a xamã. — Não adianta espalhar o pólen que está no ar, seu corpo está cheio de pólen.

— Sim, mas apenas do lado de fora.

Sob o controle da elfa, o turbilhão muda de direção e avança contra da árvore.  No caminho, os ventos se afunilam e atingem uma pequena área da árvore, criando um buraco de um metro de diâmetro.

— Só isso? — desdenha. — Veja o tamanho dessa árvore, mesmo que fique o dia inteiro atacando, golpes como esse não são nada.

Eril coloca ambas as mãos em sua barriga, concentra-se e respira fundo.

— O que ela vai…

Antes mesmo que Quentra pudesse completar sua frase, Eril lança uma baforada de fogo pela boca, que atinge o buraco na árvore, queimando-a por dentro.

— O QUE? MAS O QUE VOCÊ FEZ?

— O pólem estava em todo o meu corpo e até nos meus pulmões, mas não no meu estômago e foi onde eu concentrei minhas chamas.

— Maldita. Por isso você espalhou o pólen antes com o vento, e por isso abriu aquele buraco. Sabia que a árvore também estava protegida por fora e a queimou por dentro.

— Sua amiguinha já foi, agora é a sua vez, Quentra.

— SUA DESGRAÇADA! — grita enquanto avança vorazmente contra a elfa.

Eril lança outra baforada de fogo, mas Quentra, extremamente irada, recebe o golpe em cheio e continua avançando por entre as chamas.

Com seu corpo pegando fogo, a xamã agarra Eril, usando sua mão para fechar a boca da maga.

— Agora você irá me dar o resto da sua alma.

Utilizando a mão, que está tapando a boca da elfa, uma energia transparente começa a ser sugada do corpo de Eril e passando para o corpo de Quentra.

A maga começa a sentir-se mais fraca. Não consegue mais perceber se o que está em sua frente é a fumaça da árvore em chamas ou apenas sua visão ficando turva.

Em um último esforço, Eril tenta concentrar suas chamas na mão direita. Novamente ela fica apenas em brasa e, mesmo com a dor, ela continua, cada vez deixando sua mão mais incandescente. Quando a dor se torna insuportável, ela usa sua mão como uma lâmina quente, perfurando o abdômen da xamã, que se contorce de dor.

Eril cambaleia alguns passos para trás, concentra novamente suas chamas no estômago e, desta vez, lança uma imensa bola de fogo com toda a força que ainda lhe resta.

A enorme bola de fogo atinge Quentra e a carrega consigo em direção ao tótem. Ao atingí-lo, a bola de fogo explode, derrubando o pilar e acabando com a xamã.

A maga, sem forças, desmaia.

Três orbes de energia azulada saem da xamã, desfalecida no chão, e voam até Eril, retornando para seu corpo.

 

Seguindo o ruído da queda do último tótem, Algar  enxerga a gigantesca árvore em brasa. Ela queima por dentro e algumas fagulhas escapam por pequenos buracos em sua casca.

Imediatamente ele entende que é onde Eril deve estar.

Estacas de madeira cravadas no chão e em outras árvores ao redor e um pedaço do chão desmatado, causado pelo turbilhão de vento de Eril, é o que Algar encontra, bem como a maga e a xamã, ambas desacordadas próximo à árvore em chamas.

Ele corre para socorrer, já sacando algumas poções curativas.

— Você precisa beber isto. — colocando um frasco encostado em sua boca, enquanto tenta reanimá-la.

Lentamente Eril abre os olhos e bebe a poção.

— Isso, vai se sentir melhor daqui a pouco.

Deslizando o dedo indicador sobre o rosto da elfa, Algar percebe uma espécie de óleo pegajoso transparente e então olha para a árvore.

Flammae Ignis Devorantis. Você acabou de destruir uma árvore raríssima, princesa.

— Não dê uma de botânico agora, Algar. — balbucia, quase sem forças. — Era ela ou eu.

Aproveitando a situação, Algar colhe algumas flores da árvore, que caíram no chão e que não haviam sido afetadas pelo fogo.

 

A batalha finalmente havia terminado.

Os quatro retornam, vitoriosos, para a cidade principal. Kore e Voughan estão feridos mas a que está em pior estado é Eril, que é levada por Algar.

Amarrada com uma corda, a xamã Quentra, desacordada, é carregada por Voughan.

Ao chegarem na cidade, são recebidos por aplausos e ovação.

— Eles conseguiram! Eles conseguiram! — diz um aldeão.

— Venceram! Waltrode está livre. — festeja outro.

A algazarra toma conta da cidade e nossos heróis recebem elogios e abraços.

Eril, após ser medicada por Algar e alguns médicos locais, é deixada em repouso na pousada, vigiada por uma enfermeira.

Os demais descem para a taverna, onde uma grande festa se inicia.

Muita comida e bebida é servida, enquanto uma música alegre toma conta do recinto.

Durante a madrugada Eril acorda e, mesmo debilitada, junta-se à festa, assistindo Algar secar um barril de vinho, Voughan devorar um porco assado inteiro e Kore dançar de forma ridícula, mesmo tendo bebido quase nada.

O restante da estadia na cidade permanece agradável e, após quatro dias, nossos heróis estão recuperados o suficiente para seguirem sua jornada.

Seus suprimentos são repostos e o quarteto se lança na estrada com sua carruagem à vapor, guiada por Algar.

Enquanto o grupo se distancia, as pessoas acenam para seus heróis, porém, uma figura sinistra espreita nas sombras.

— Acham que fizeram um grande bem para a cidade, não é? Idiotas. Agora que vão embora, esta cidade será minha. Obrigado por derrotarem todos os meus concorrentes.

Ainda escondido, a figura sinistra avista um homem bem vestido na varanda de uma das casas mais belas do local, trata-se do prefeito da cidade.

Em meio às sombras, ele aproxima-se do prefeito e, ao chegar perto, pode-se ver suas feições. É Grimmhewron, o ladino que fora derrotado por Kore.

Após o término da luta, Kore deixou o campo de batalha atrás do último tótem, deixando-o desacordado, porém, após retornar ao local, o ladino havia fugido.

Maquinando em sua cabeça, Grimmhewron planeja capturar o prefeito e tomar a cidade para si, à força, se necessário, visto que ninguém ali poderia fazer frente às suas habilidades.

O caminho parecia livre. Seus rivais foram eliminados e o grupo de Eril já estava longe.

O ladino prepara-se para sacar sua adaga, porém, ele pressente algo. Havia alguma coisa errada, seus instintos lhe diziam, ele procura e então encontra um arqueiro em cima do telhado de uma casa.

Império Mundial? — pensa, confuso. — Não, o uniforme é diferente. Quem são eles?

— Achei que iria demorar para se mostrar, Grimmhewron. — diz uma voz vinda de trás dele.

Ao se virar, o ladino depara-se com um soldado elfo com o mesmo uniforme do arqueiro que avistara antes, este está com uma espada apontada para o seu pescoço.

— Como me encontrou? — questiona, confuso. — Escondi completamente minha presença.

— Talvez você esteja superestimando suas habilidades. Me chamo Quan Han, sou um ótimo rastreador e também um ladino, muito melhor do que você, por sinal.

Ao olhar em volta, Grimmhewron se vê cercado por vários soldados, alguns com espadas, lanças e outros com arcos.

— Quem são vocês? — pergunta, enquanto se rende.

— Somos soldados do reino de Galvass. Fomos contatados pela princesa Eril e, a partir de hoje, iremos proteger esta cidade de pessoas como você. — enquanto o pequeno construto, “Acólito”, decola de seu ombro, voando para longe.

De fato, dezenas de soldados podem ser vistos patrulhando as ruas e alguns conversando com os cidadãos.

Waltrode finalmente está à salvo.

 

Longe dali, na carruagem automatizada, o grupo dirige-se para a próxima cidade.

Kore folheia um livro de poções, de propriedade de Algar, enquanto Eril aproveita a viagem para ler mais sobre magia e aprimorar seus conhecimentos.

Voughan está inquieto e entediado e Algar apenas conduz a carroça, em silêncio.

— Hei! — exclama o shamarg, para chamar a atenção dos demais. — Estou ficando com sono só de olhar vocês lendo isso. Vamos falar sobre as lutas. Tinham que ver como foi, derrubei aqueles bichos um por um.  — ficando mais empolgado. — A casca deles era dura, mas não tanto quanto a minha, então abri a boca de um deles e…

— Voug! — Interrompe o monge. — Você já contou essa história. Todos nós já contamos as nossas e tenho que admitir que a melhor luta foi a da Eril. A sua não foi grande coisa.

— O que? Mas é que meus oponentes eram fracotes.

— Até a luta do Algar foi mais interessante, afinal, ele enfrentou o líder dos Krig-há e você pegou os medianos.

Algar faz sinal de positivo, com o polegar em riste.

— Da próxima vez eu pego o líder.

— Boa sorte. Alias, é bom você se empenhar, senão logo logo eu vou te buscar.

— Vai sonhando, verme.

 

À medida que avançam, o ambiente vai se modificando de uma paisagem selvagem para um campo florido, árvores que parecem serem desenhadas à mão e a grama muito verde, quase como um tapete.

— Ainda falta muito? — pergunta Kore, para o piloto.

—  Estamos perto, após chegarmos no topo daquela colina poderemos ver a cidade. Não vejo a hora de rever meus amigos. Já lhes disse que em Bantara existe um dos melhores centros de alquimia?

— Acho que você mencionou algo. — responde a maga. — É onde você nasceu, certo?

— Exato, princesa! — responde. — Eu e meus pais vivíamos em Bantara, que era conhecida como “A Capital da Alquimia”. Mas isso foi antes de Tenkgkorak abrir as portas para os gnomos e seus construtos, tornando-se a potência da alquimia que é hoje.

— Faz muito tempo que não vê seus amigos?

— Pelo menos seis anos. Vou aproveitar a viagem para reuni-los e debater sobre a doença de Veldellis.

Ao tocar no assunto, imediatamente Eril e Kore ficam um pouco cabisbaixos ao lembrarem que se trata da doença que está matando Algar. O anão percebe a mudança no clima.

— Não precisam ficar assim toda vez que eu tocar neste assunto. Já aceitei bem minha situação. Além do mais, foi uma decisão minha que culminou no meu estado atual.

— Decisão sua? — estranha o monge. — Como exatamente isso aconteceu?

— Eu lhes conto quando sairmos da cidade, não quero estragar o momento.

De fato, nos arredores, tudo era tão bonito que parecia tornar todos os problemas menores.

Pelas janelas laterais o grupo aprecia a paisagem, até que o balançar suave da carruagem cessa de forma abrupta.

— O que aconteceu, Algar? — Pergunta Eril. — Nós chegamos?

Os olhos arregalados do anão fitam algo que o faz suar frio. Seu corpo treme e o pavor fica visível em seu rosto.

Com a falta de resposta de Algar, o grupo decide deixar a carruagem e se depara com uma cena impressionante.

Uma imensa cratera, preenchida por destroços, é vista logo à frente, após chegarem ao topo da colina.

— Mas o que aconteceu aqui? — questiona Eril.

Saindo do estado catatônico, Algar também desce da carruagem e aproxima-se da borda da colina, caindo de joelhos no chão.

— Bantara… Minha cidade natal… desapareceu completamente!


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Notas finais do capítulo

Opiniões e críticas construtivas são bem vindas.