ALMARA: Ameaça na Ilha de Xibalba escrita por Xarkz


Capítulo 13
CAPÍTULO 12 | Último Desafio em Waltrode


Notas iniciais do capítulo

Quando os dois últimos inimigos unem forças, nossos heróis precisam de atenção redobrada. Tem início o último desafio para livrar da vilania a cidade de Waltrode.



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— É melhor sairmos daqui. — sussurra Eril.

— Eles não seriam tão mal agradecidos assim, seriam? — questiona Kore.

— Um povo que passa por necessidades tem seu senso de moral e ética fragilizado. — responde Algar. — Esse dinheiro lhes seria de grande ajuda. A quantia é muito alta, diferente do valor pago nos cartazes que pegamos, onde arriscar a própria vida não valia à pena.

— Posso esmagar cada um deles. — diz Voughan.

— Não faça isso, por favor. — pede a maga. — Vamos apenas sair daqui. Não quero machucar essa gente.

À medida que se aproximam da saída da cidade, mais e mais pessoas se reúnem ao seu redor, fechando o cerco.

Já bem próximo do portal que demarca o limite do território da cidade, nossos heróis se veem cercados por, praticamente, toda a população da cidade.

Um homem um pouco mais bem vestido que a maioria, mas ainda sim de vestes humildes, aproxima-se, ficando frente à frente com Eril.

A maga parecia preparada para qualquer reação daquele homem, menos para a que veio à seguir.

O homem ajoelha-se em sua frente e abaixa sua cabeça.

— Por favor, continuem a nos proteger. Não podemos fazer isso sozinhos.

Com um certo alívio mesclado com confusão, a tensão é cortada.

Ao seu redor os aldeões ajoelham-se um por um.

— Vocês são os heróis de Waltrode. — diz um senhor à direita de Algar.

A palavra “heróis” pode ser ouvida por todos os lados, saídas das bocas dos poucos habitantes que conheciam o idioma comum.

Quando a euforia começa a aumentar, Algar toma à dianteira e, com a mão espalmada para frente, faz um gesto para que todos se acalmem. Ele diz algumas palavras no idioma local e, após um instante de silêncio, um soldado aproxima-se e conversa com o anão.

O soldado aponta para uma certa direção enquanto dá coordenadas e explicações.

— Vamos para Waltrode do norte. — diz Algar, voltando-se para seus amigos. — Os dois inimigos restantes parecem ter unido forças e se reuniram lá.

— Tudo o que eles fizeram foi facilitar nosso trabalho. — debocha Kore. — Agora podemos acabar com todos eles de uma vez só. Vamos limpar essa cidade e seguir em frente.

— Gostei disso. — diz Voughan, com um brilho nos olhos. — Espero que esses sejam mais fortes do que aquele bárbaro.

O povo segue os heróis até a saída norte, mas não ousam sequer sair da cidade principal.

O quarteto cruza o caminho estreito até que avistam uma cidade totalmente diferente das demais.

O segmento norte de Waltrode está completamente tomado por plantas e árvores muito altas, cujas copas ficam acima dos telhados e cobrem, quase que completamente, o céu.

Algo ainda mais estranho é avistado. Quatro enormes colunas podem ser vistas, cada uma em um ponto diferente da cidade, sendo possível enxergar apenas sua ponta, um pouco acima da altura das árvores.

— Mas que diabos aconteceu aqui? — questiona o Kore.

— Um dos procurados é uma Xamã. — responde Eril. — Isso deve ser obra dela. Mas o que mais me chamou a atenção foram aquelas quatro colunas. Não consegui identificar o que são.

— São tótens. — esclarece Algar. — Os xamãs podem invocar tótens que alteram os atributos das pessoas à sua volta. Perceba que na ponta é possível ver o final de um símbolo. Consegui identificar apenas um. É um símbolo do tótem de aumento de força, isso significa que aqueles que estiverem dentro do raio de ação daquele tótem terá sua força aumentada. Eles estão dispostos de uma forma em que seu raio de ação cubra praticamente a cidade inteira, pois são tótens muito grandes.

— Mas se é assim, nós também seremos afetados pelos tótens, nossa força vai ser aumentada. — arrisca o monge.

— Não é assim que funciona. O xamã é quem decide quem será e quem não será afetado pelo tótem. Assim como pode fazer um tótem de aumento de força para seus aliados, pode fazer um de diminuição de força para os inimigos.

— E como não sabemos o que são os outros três tótens, não temos como saber quais seus efeitos. — completa Eril.

— Exatamente. Se quisermos vencer, precisamos primeiro derrubar aquelas estruturas. Elas devem estar aqui à muito tempo pois, como xamãs não podem utilizar tantos tótens de uma só vez apenas com seu mahou, ela deve ter utilizado de outros artifícios para criar tantos. Sem falar que são gigantescos. Também deve ter sido necessário um longo e exaustivo ritual para torná-los permanentes.

— E o que estamos esperando? — questiona Voughan, já caminhando para a entrada.

— Espere! Precisamos estar preparados. Xamãs e alquimistas possuem alguma semelhanças, como a produção de poções, então deixe eu lhes preparar para o que virá.

Dentro da cidade, uma mulher orc, vestindo uma roupa de pele de animais e uma espécie de helmo feito de um crânio monstruoso, está sentada sobre uma pedra grande, olhando em uma cumbuca.

Dentro dela há um líquido rosado, onde algumas imagens aparecem. Ela vê nossos heróis, na entrada da cidade, mas parece não poder ouvir o som.

— Eles chegaram. — diz para um homem alto e magro, ao seu lado.

O homem, de cabelo loiro comprido, com orelhas que entregam sua origem élfica, utiliza roupas escuras, botas, luvas e um capuz cinza, pendurado atrás da cabeça, além de portar duas adagas presas às costas, na altura da cintura.

— Não podemos nos descuidar, eles são perigosos. Já derrotaram Nevora e Abgardingard.

— Eu sei. Obviamente eles tentarão destruir meus tótens antes de nos enfrentar, e é aí que pegamos eles.

— Acha que os krig-ha serão o suficiente? Eu acho que não.

— Meus bichinhos são fortes, mas meus tótens os tornarão ainda mais.

— De qualquer forma não podemos baixar a guarda. Vou garantir, pessoalmente, que eles não cheguem aos tótens. Você deveria fazer o mesmo.

Puxando o capuz de forma que ele cubra sua cabeça, o elfo, em um salto rápido, desaparece em meio às sombras.

Já dentro da cidade, que no momento se parece mais com uma grande floresta, nossos quatro heróis caminham por entre árvores e casas. Algumas das residências estão tão cobertas de plantas que mal se consegue distingui-las.

A única forma de vida avistada, são pequenos monstros semelhantes à ursos, mas com feições monstruosas, dois pares de chifres e braços muito musculosos, eles medem cerca de um metro à um metro e meio. Parecem ter sido derrotados facilmente por nossos heróis, enquanto avançavam para dentro da cidade.

— Está muito estranho. Tenham cuidado, nenhum de nós é especialista em armadilhas, podemos cair em uma à qualquer momento. — aconselha Algar.

— O que mais me incomoda é o fato de que esse caminho é uma linha reta, sem caminhos alternativos. — comenta Eril. — Dessa forma eles nos obrigam a ir para onde eles querem.

Algar prepara seu laboratório portátil, encaixando-o no braço. Com a outra mão ele pega o que parece ser um chifre, retirado de um dos krig-ha, derrotados na entrada, e o coloca em um dos buracos do laboratório portátil.

O equipamento produz um som das engrenagens trabalhando e logo algo sai pelo outro buraco. Um pote com um líquido cinza. Algar adiciona mais alguns ingredientes e o guarda em um frasco.

Neste momento o chão, que é coberto de plantas e raízes, começa a se mexer debaixo de seus pés.

— Isso não é bom. — resmunga Kore.

No instante seguinte, diversas colunas de madeira, composta de raízes e troncos, surge do solo, formando um imenso paredão entre nossos heróis, dividindo-os em dois grupos. Enquanto tentam entender o que acontece, o chão continua em movimento, dificultando a movimentação.

— Humph! Acha que uns galhos vão me deter? — desdenha Voughan, aproximando-se do paredão, enquanto tenta manter o equilíbrio devido ao tremor do solo.

Ele fica de frente à parede e a golpeia com muita força, partindo as colunas de madeira, porém, estranhamente, os dois aliados que haviam ficado do outro lado não estão lá, deixando-o apenas na companhia de Eril, enquanto Kore e Algar desapareceram.

— MAS O QUÊ? — estranha o shamarg. — Eles estavam bem ali e agora sumiram. Será que morreram?

— Eles estão nos separando aos poucos, é claro. Assim é mais fácil nos vencer.

— AAAAAAH! Esses joguinhos me irritam. Quero lutar logo, aqueles bichinhos na entrada não serviram nem pro aquecimento. Eu vou na frente.

— Espera! Você não ouviu o que eu acabei de falar?

Eril tenta dialogar mas Voughan sai correndo na frente, de forma totalmente irresponsável, enquanto a maga tenta alcançá-lo.

Em outro lugar, Kore parece ter derrubado uma parede à sua frente, da mesma forma que Voughan fez, apenas para não encontrar ninguém do outro lado.

— Como isso é possível? Eles estavam aqui agora mesmo.

— Esse movimento do solo… — raciocina Algar. — Não é apenas um tremor, nós estamos nos movendo. No momento em que aquela parede surgiu, o chão se moveu de forma a nos afastar dos outros. Dividir para conquistar.

— Tenho certeza de que eles vão ficar bem. Além do mais, você já tinha previsto isso. Caso fôssemos separados, cada um de nós ficaria encarregado de um tótem.

— Talvez designar um tótem para cada um tenha sido um erro.

— Você se preocupa demais. Somos todos bem fortes, principalmente aqueles dois.

— Espero que o suficiente. São muitos perigos em potencial neste lugar.

— Uma xamã, um ladrão e uns monstrinhos. — debocha. — Podemos dar conta.

— Aqueles monstros se chamam “krig-ha”, alguns deles passam por uma metamorfose, tornando-se maiores e mais poderosos. Além disso, os mais fortes batalham entre si e o vencedor passa por uma segunda metamorfose, tornando-se o mais poderoso e líder do bando. Isso sem falar que, quando enfrentamos aqueles primeiros, na entrada, acredito que não estávamos dentro da área de ação dos tótens. Você também está tirando da equação as armadilhas, algumas podem ser letais.

— Relaxa, ô “sabe-tudo”. Nós vamos sair dessa.

Nesse instante, Kore parece pressentir algo que o faz desviar rapidamente para o lado, evitando um golpe mortal de uma adaga, empunhada pelo elfo aliado da orc xamã.

— DE ONDE SURGIU ESSE CARA? — pergunta o monge, espantado.

— Impressionante! Conseguiu desviar do meu ataque furtivo. Se não fosse isso, estaria agonizando no chão, agora mesmo.

— Sua habilidade de se esconder nas sombras é realmente boa. — afirma Algar. — Você é Grimmhewron, o bandido do cartaz.

— Eu prefiro o termo “ladino”. Tive de esperar até vocês estarem dentro da área de atuação dos tótens, para agir. Ainda sim, seu amigo aqui percebeu meu ataque. Está de parabéns. Ou terá sido apenas sorte?

— Então já estamos na área de atuação dos tótens. — compreende o monge. — Quer dizer que suas habilidades estão todas ampliadas. Vamos ver o quão forte você está. — enquanto se prepara para lutar.

— Não é assim que eu luto, meu amigo. Posso estar com minhas habilidades ampliadas, mas prefiro não tentar a sorte contra um monge. Vou matá-lo aos poucos, no caminho. Agora venha atrás de mim.

— E porque acha que eu iria, depois de você ter me dito isso?

— Porque você quer recuperar algo de valor, que roubei de você. — diz o elfo, enquanto mostra os braceletes e luvas, presentes de Aldrah, em suas mãos.

— O quê? — se surpreende, enquanto procura, em vão, por seus pertences na mochila. — Quando foi que você…? Me devolva, isso sequer tem algum valor, pra você.

— Se não tem valor financeiro e você o quer de volta, significa que pode ter algum valor sentimental. — Grimmhewron fita os olhos de Kore, enquanto fala. — Será uma herança? Lembrança de alguém que morreu? Um presente de alguém especial?

Ao falar a última frase, Kore aperta levemente os olhos.

— Ah! Um presente de alguém especial. Se o quiser de volta, terá de me encontrar. — diz enquanto desaparece em meio às sombras.

— Mas que desgraçado.

A mão de algar pousa em seu ombro, fazendo-o se acalmar um pouco.

— Não faça nada impensado, garoto. Você sabe bem que o que ele quer é nos dividir.

Kore pensa por algum tempo e então parece tomar uma decisão.

— Algar! Nós estamos nessa para reunir um time forte o suficiente para invadir um dos lugares mais perigosos do mundo. Talvez o mais perigoso. Se não pudermos dar conta disso, que chances teremos em Xibalba?

Dessa vez é Algar quem fica pensativo. Ele retira a mão do ombro do companheiro e pensa por um instante, acabando por concordar.

— Vá atrás dele. Mas, desta vez, você estará sozinho, então não tem o direito de falhar.

Kore sorri e faz um sinal de positivo, com o dedão em riste. — Pode deixar.

O monge avança em direção à um vão entre as raízes e galhos, enquanto Algar vai por outro caminho, visando o tótem mais próximo, que pode ser visto pelos pequenos espaços entre as folhas das árvores.

O monge encontra uma clareira, com dois corredores de galhos à esquerda, mas ele decide ir em linha reta, derrubando o paredão à sua frente.

Atrás do paredão, há dois corredores mas, no momento em que ele os avista, o corredor da direita está terminando de se fechar, coberto pelas plantas.

— Não quer que eu vá por aí, não é? — fala para ninguém. — Isso porque é para este lado que fica um dos tótens.

Ele avança na direção da parede, mas é detido pelo ataque de uma dezena de krig-ha.

Os pequenos monstros se lançam contra ele, que desvia de um ou outro ataque, aproveitando para atingir dois deles, cada um com  um soco e um terceiro é derrubado com um chute.

Os krig-ha atingidos caem mas, com algum esforço, tornam a se levantar.

— Estão mais resistentes do que os primeiros e também mais rápidos. Neste caso não vou mais me conter. Podem vir.

Uma segunda investida começa, mas Kore é mais rápido, golpeando-os com muita força. Metade deles foi derrubado, o restante avança e o monge se prepara, concentra-se e então começa a golpear com diversos socos muito rápidos. Uma verdadeira chuva de socos, que atinge à todos os oponentes diversas vezes e derrubando-os de vez.

Enquanto isso, mesmo feridos, os dois primeiros que caíram, começam a se erguer novamente.

— Mas ainda conseguem se levantar? Será que um desses tótens está curando seus ferimentos?

Os dois monstros saltam em sua direção. O primeiro recebe um chute no lado do corpo, sendo arremessado contra uma árvore. Kore desvia do ataque do segundo e o segura pela cabeça, suspendendo-o no ar.

Enquanto segura o monstro, observa a passagem que ele pretendia seguir, fechada pelas plantas, e fica desconfiado.

Ainda segurando o monstro pela cabeça, Kore arremessa, com muita força, o monstro contra a passagem, acabando com as plantas e, ao mesmo tempo, ativando uma armadilha. Vários espinhos saem das paredes, perfurando o pequeno monstro.

O monge aproxima-se, quebrando os espinhos, libertando o monstro e removendo as estacas de seu corpo. Ele ainda está vivo mas bastante ferido.

— Sinto muito. De qualquer forma, acho que o tótem vai te curar aos poucos.

E então avança pelo caminho, agora aberto.

Em outro ponto, Eril encontra o primeiro tótem, que está em uma área de mata fechada ao lado de uma árvore muito grande.

Ela observa as inscrições, mas não entende do que se trata.

— Se Algar estivesse aqui, pelo menos saberíamos o que esse tótem faz.

Sem receber nenhuma resposta, Eril se vira para trás e não avista ninguém.

— Mas o quê? Aquele shamarg irresponsável fugiu de novo? Mas que droga!

Apesar da indignação, Eril avança para o destino, preparando-se para lançar uma magia e destruir o alvo, quando ouve um ruído.

A enorme árvore, ao lado do tótem, parece ganhar vida e move seus galhos, atacando a maga.

Eril já havia concentrado uma pequena quantidade de energia em uma bola de fogo, ainda não o suficiente para criar um ataque poderoso, mas o suficiente para lançar no galho que vinha em sua direção e detê-lo.

A pequena bola de fogo explode no alvo, destruindo metade do galho e incendiando o restante.

— Ah! Uma maga do fogo. — ressoa uma voz feminina. — Acho melhor tomar cuidado, ou pode acabar incendiando a cidade inteira.

— Posso controlar muito bem minhas chamas, elas só irão até onde eu quiser. Como esta árvore, por exemplo. Acho que terei de transformá-la em cinzas.

— Você parece não ter o menor respeito pela natureza, elfa.

Da metade do tronco uma figura parece emergir, saindo de dentro da árvore.

— Quentra! — deduz a maga. — Então decidiu vir pessoalmente.

— Mas é claro. Você parece ser a mais poderosa do grupo, porém, aqui é meu território. A vantagem é minha.

A orc, que até então havia saído com apenas metade de seu corpo, retorna para o interior da árvore, desaparecendo novamente. Em seguida ela reaparece, saindo da mesma árvore, mas um pouco acima do galho que foi atacado por Eril e que ainda está em chamas.

Quentra saca uma espada pequena das costas e corta o galho, antes que as chamas se espalhem.

— Vai pagar muito caro por ter feito isso. — diz enquanto guarda novamente a lâmina.

Agora ela ergue seu cajado com ponta de crânio na direção do topo da árvore que, lentamente, começa a florescer.

— Veja como ela é linda. Como teve coragem de machucá-la?

— Eu só me defendi. Ela… Você é quem me atacou.

Logo surgem alguns brotos, que vão crescendo e começam a se abrir. Suas pétalas são azul e branca com o centro amarelo, dando à árvore uma aparência realmente bela.

A xamã faz menção de que iria começar à falar, mas parece sentir algo e então sorri.

— Você deve estar se perguntando onde seu aliado grandalhão está. Pois vai gostar de saber que ele acaba de chegar no outro tótem. Acho que vou lhe dar os parabéns.

Ela então fecha os olhos e, quando os reabre, estão completamente brancos, sem pupila ou íris.

Em outra parte da cidade, Voughan corre, derrubando algumas paredes e árvores pela frente, até que se depara com um dos tótens.

— Há! Muito fácil. Só tenho que derrubar essa torre e então vou procurar por mais ação.

O shamarg segue na direção do tótem, porém, parece ouvir uma voz diretamente em sua cabeça.

— Muito bem, shamarg. Encontrou o tótem mais rápido do que eu esperava.

— Hã? Quem ta falando?

— Meu nome é Quentra, sou uma orc, sou uma xamã e, à partir de agora, serei sua mestra. Curve-se à minha vontade, criatura de mente frágil.

— Humph! Já sei o que ta tentando fazer. Mas não vai dar certo. — diz enquanto aponta para um pequeno e estranho símbolo, desenhado no lado de sua cabeça. — O velhote disse que você ia tentar fazer isso, então desenhou essa coisa na minha cabeça. Assim não vai conseguir me controlar.

— Uma runa de proteção mental. Acho que subestimei demais aquele anão. De qualquer forma, sua companhia acabou de chegar. Espero que sejam gentis com você.

Saídos das laterais do local, cinco monstros com mais de dois metros de altura surgem.

São semelhantes aos krig-ha, encontrados na entrada, porém, bem maiores, com um par de chifres à mais, mais musculosos e com um par extra de braços. Seus dentes e chifres também parecem maiores e mais afiados. Uma grossa protrusão óssea rígida cobre os punhos, pés, costas e uma parte da cabeça, lhes garantindo uma proteção extra natural.

Um deles ruge com ferocidade para Voughan, que parece gostar do desafio.

— Ora, ora. Os mesmos monstrinhos da entrada, só que agora crescidinhos. Vamos ver do que são feitos.

O krig-ha mais à frente, se lança em carga. Voughan tenta segurá-lo mas é empurrado para trás e então golpeado por um dos quatro braços do monstro.

Antes que pudesse se recuperar, um segundo monstro o agarra pelas costas, segurando seus braços, imobilizando-o, enquanto um terceiro começa a golpear diversas vezes com socos.

Apesar da ferocidade, os monstros demonstram um certo nível de raciocínio.

Voughan se irrita e puxa os braços para frente, com força, desvencilhando-se daquele que o imobilizava e, em seguida, atinge o monstro da frente com um poderoso soco, derrubando-o para trás.

Em seguida, o shamarg segura pela perna o krig-ha que estava atrás e o rodopia no ar, o jogando em cima de um terceiro oponente.

Mal consegue arremessar o inimigo e já é atingido nas costas por outro monstro.

Um embate feroz tem início e Voughan parece muito feliz com isso.

— ÓTIMO! O QUE PODERIA SER MELHOR DO QUE ISSO? —

Em outro lugar da cidade, quase que respondendo a pergunta de Voughan, Algar se depara com uma criatura gigante. Uma versão ainda maior dos krig-ha. Este, além do par de braços extra, tem a protrusão óssea cobrindo quase todo seu corpo, como uma armadura natural. Os chifres são ainda maiores e sua aparência é assustadora.

— Ótimo! O líder. — sussurra Algar para si, de forma irônica.

O enorme monstro, de quase quatro metros, guarda o último tótem e, para a sorte de Algar, ainda não o avistou, mas parece estar farejando algo no ar.

O anão saca o frasco com o composto, criado com o chifre de um dos krig-ha e mais alguns componentes, e joga em si, disfarçando seu cheiro.

— Não posso enfrentá-lo de frente, vou precisar de algumas armadilhas.

Ele olha ao redor avistando árvores, plantas, pedras, imaginando as possibilidades, enquanto saca uma fina linha de uma sacola presa à sua cintura.

Chegando ao quarto tótem, Kore se depara com Grimmhewron, que o aguardava.

— Devolva meus pertences. — ordena ao ladino.

— Você é melhor do que imaginei, garoto. Superou todas as minhas armadilhas no caminho. Primeiro achei que era pura sorte ou instinto mas, observando suas ações, percebi que foram todos atos pensados. Você pode não ser muito inteligente para algumas coisas, mas em uma situação de confronto consegue chegar às melhores conclusões lógicas.

— Monges não são como bárbaros, que lutam sem pensar. Somos treinados para prever as ações do inimigo e contra-atacar da melhor maneira. Inclusive, para seu azar, um dos treinamentos no monastério consiste justamente em sobreviver em uma caverna com diversas armadilhas espalhadas. Instinto não seria o suficiente para um desafio desses.

— Não é necessário explicações. Não sou um completo leigo sobre os monges. Sei, por exemplo, que vocês são extremamente resistentes a venenos e, quando se tornam muito poderosos, acabam por ficarem imunes à todos eles. Isso te torna o pior tipo de oponente para mim. Acho que estou em desvantagem. — ironiza.

— Se está dizendo isso provavelmente essa sua adaga e suas armadilhas deviam estar envenenadas. Tudo que eu tenho à fazer é não ser cortado.

— Será que você consegue?

— É o que vamos descobrir.

Em um movimento rápido, o ladino desaparece da vista de Kore, reaparecendo novamente, vindo com um ataque por trás, com sua adaga.

Kore consegue desviar por pouco e o golpeia, com muita força, com  um soco no abdômen, fazendo com que Griemmhewron seja lançado para trás com o impacto.

Mesmo tendo recebido o ataque em cheio, não parece ter surtido efeito e o vilão sorri, praticamente ileso.

— Você não é um ladino convencional. — estranha. — Geralmente não aguentam bem ataques diretos.

— Você está certo. Minha defesa é um pouco melhor do que a maioria, mas o meu segredo é outro.

O elfo remove o manto com capuz que cobre maior parte do seu corpo, revelando uma fina camada de armadura trançada, numa coloração metálica um pouco azulada.

— Esta é uma armadura que roubei de um elfo da nobreza. É meu maior tesouro. Nunca a vendi pois me dá segurança em ocasiões como essa.

— Obviamente  não é um metal comum, pois não lhe protegeria tanto sendo tão fino e armaduras com boa proteção geralmente são pesadas, esta parece não prejudicar seus movimentos. Uma armadura mágica.

— Assim como os seus braceletes, que roubei. Alias, não sei porque não os estava utilizando. Mas além desta armadura, ainda existe outro fator ao meu favor…

— Um tótem de defesa, certo?

— Na mosca. Como você pôde ver, ao todo são quatro tótens. Um de aumento de defesa, aumento de força, aumento de velocidade e um de cura. Você não pode me ferir, sou muito rápido pra você e meus ataques irão lhe causar grande dano. Além do mais, se por acaso conseguir me ferir, em poucos instantes estarei recuperado. Não há como me vencer.

De fato, ele parecia estar certo. Aqueles tótens precisavam ser derrubados à todo custo ou a vitória não seria possível.

O mesmo valia para os demais, que encontravam dificuldades ao enfrentar seus oponentes.

— Esta cidade abrigará o túmulo de cada um de vocês. Jamais deveriam ter tentando nos enfrentar.


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Notas finais do capítulo

Opiniões e críticas construtivas são bem vindas.