ALMARA: Ameaça na Ilha de Xibalba escrita por Xarkz


Capítulo 12
CAPÍTULO 11 | Um Inimigo Conhecido


Notas iniciais do capítulo

A medida em que os desafios continuam em Waltrode, nossos heróis se tornam mais experientes. Para a surpresa de todos, um velho inimigo retorna, trazendo o terror consigo.



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Próximo ao centro da cidade de Waltrode, um homem vestido como samurai contempla um quadro de avisos.

Presos ao quadro estão diversos cartazes de procurado com os mais distintos bandidos, entre eles, a bruxa Nevora, capturada por nossos heróis.

O samurai é humano, cabelos avermelhados e veste um kimono branco, além de carregar uma katana presa à cintura.

Um segundo homem, com vestes comuns de aldeão, aproxima-se do quadro, observando-o, e sem querer, acaba ficando na frente do samurai.

Sem motivo aparente, em um movimento rápido, a katana atravessa o corpo do aldeão das costas até o peito, ceifando-lhe a vida instantaneamente.

Uma garota humana, com cerca de dezoito anos, cabelos castanho claro liso e olhos azuis, trajando um uniforme de artes marciais semelhante à um vestido aberto dos lados, azul, com uma faixa branca na cintura, chega correndo, indo em direção ao samurai que acabara de assassinar o aldeão.

— Aaaah! Não acredito! Você fez de novo. — diz a jovem, desesperada, com as mãos na cabeça. — Eu saio por cinco minutos e você faz uma coisa dessas.

— Ele estava na minha frente, eu queria ver os cartazes.

— E não podia pedir licença?

Algumas pessoas ao redor avistam o cadáver e gritam por ajuda, chamando a atenção para o ocorrido.

— Droga! — exclama a garota, enquanto puxa o samurai pelo pulso. — Precisamos sair daqui, rápido.

Alguns guardas, os poucos que existem na cidade, chegam ao local, mas o samurai e a garota já haviam fugido.

Ainda correndo, a dupla segue na direção do portão da cidade. No caminho, quatro figuras caminham em sua direção. São Kore, Eril, Voughan e Algar.

O samurai, que já está com sua espada em mãos, tenta golpear Voughan, que é quem estava imediatamente à sua frente.

O ataque causa um pequeno corte no ombro, que sangra um pouco, deixando o shamarg irritado.

— Hei! Se queria brigar era só falar. — diz Voughan, já revidando com um soco.

Saltando para trás, enquanto se desvencilha da mão da garota, o samurai desvia do ataque.

— Saia da minha frente. — ordena o samurai.

— Me obrigue. — responde, enquanto aperta o punho direito com a mão esquerda, estalando os dedos.

O embate está para começar quando a jovem garota se coloca entre os dois, parando a luta.

— Esperem! — com os braços abertos apontando uma mão espalmada para cada um. — Foi um mau entendido, por favor, nos perdoem. — se desculpa, abaixando a cabeça em reverência.

— Você não pode sair atacando as pessoas sem mais nem menos. — diz Eril, revoltada pela atitude do samurai.

— Eu sei, é que o meu amigo Ryuuti tem uns probleminhas. Não vai mais acontecer, he, he.

— Não me importa. — prossegue Voughan. — Ele me atacou e agora vou esmagar a cabeça dele.

A situação vai ficando mais tensa entre o shamarg e o samurai Ryuuti, até que o grupo avista uma movimentação estranha, próximo do centro da cidade.

— Hei, parece que aconteceu algo. — avisa Kore. — Vamos deixar essa briguinha pra lá, pode ser algo importante.

— Ta brincando? — indaga o shamarg. — Não tenho ação de verdade à algum tempo. Primeiro vou esmagar esse samurai.

Percebendo que Voughan está irredutível, a garota puxa de uma pequena sacola, presa à sua perna, uma pequena esfera e a joga no chão, explodindo e gerando muita fumaça.

Voughan avança na direção da fumaça, tentando pegar o samurai, que havia ficado encoberto. Suas mãos atingem apenas o ar e, quando a fumaça baixa, a dupla havia sumido.

— Mas que porcaria! — pragueja o gigante. — Odeio esses truques.

— Esse samurai parecia bem forte. — ressalta o monge. — Com um golpe só ele conseguiu cortar a couraça do Voug. Isso não é pra qualquer um.

— Além do mais, ele obviamente não usou toda sua força naquele ataque. — acrescenta Algar. — Tivemos sorte que o escolhido para ser atingido era um shamarg. Mas tem uma coisa que me chamou à atenção...

Os demais voltam sua atenção para o anão.

— A espada dele já estava suja de sangue antes dele nos atacar.

— Melhor irmos logo ao centro da cidade. — conclui Eril. — Estou com um mau pressentimento sobre esse tal Ryuuti.

O grupo avança para o local, onde uma aglomeração de pessoas se encontra. Apesar da cidade não ter tantos habitantes, quase todos estavam ali naquele momento, bem como quatro guardas da cidade.

Entrando em meio a multidão, Kore abre caminho, até que se depara com o motivo da aglomeração.

Um homem caído em frente ao mural das recompensas, com suas roupas embebidas em sangue, segurado por uma mulher e uma criança, que choram sua morte.

Os guardas tentam afastar as pessoas, enquanto dois homens vestidos de branco colocam o corpo sobre uma maca. Eles o cobrem com um lençol, carregando-o para longe dali, seguidos pela mulher e pela criança.

— Com licença. — diz Eril, para um dos guardas. — Sabe quem fez isso?

— Não sabemos, senhorita. Mas alguns aldeões afirmam que viram um samurai de cabelos vermelhos e uma garota próximos ao corpo.

Não havia dúvida. Eram os dois que acabaram de passar por eles.

— Nós os vimos. Eles foram para à segunda saída à leste. — informa a maga, apontando para o local de onde vieram.

— Agradeço a cooperação, senhorita, mas não temos soldados o suficiente para fazer uma busca. E mesmo que o achássemos, as chances dele matar à todos nós seria grande. Infelizmente não possuímos treinamento para estas situações, somos uma milícia criada pelo próprio povo, já que nenhum reino ou mesmo o Império Mundial nos auxilia.

O soldado se retira, deixando uma sensação de injustiça no ar.

A mão de Algar pousa sobre o ombro de Eril.

— Princesa, estas pessoas precisam de nós. Não podemos deixá-las desamparadas.

— Eu sei. Mas não podemos resolver todos os problemas do mundo. Temos uma missão importante pela frente.

— Você quer ir até a ilha de Xibalba para salvar o mundo. Então que tal primeiro tentarmos tornar o mundo um lugar que mereça ser salvo?

— Não acho que isso seja da nossa conta. — contesta Kore, cruzando os braços.

— Você gosta de ajudar as pessoas. — diz Algar, para o monge. — Porque insiste em tentar parecer alguém que não se importa?

— Porque as pessoas que tentam ajudar todo mundo nunca alcançam seus objetivos próprios.

— Isso me parece o discurso de um belo perdedor, coisa que você não é. De que adianta alcançar um objetivo próprio ignorando todos à sua volta? Além do mais, o que você sabe sobre objetivos? Nem parece ter algum na vida.

O garoto fica incomodado com as palavras de Algar, pois percebe ser a verdade e tenta desconversar. — E o SEU objetivo, qual é?

Alguma lembrança desagradável parece vir à tona e o anão olha para o chão, perdido em suas memórias.

— Dentre as patentes de meu pai, uma delas era a de Alquimista Médico. Como ele, procuro a melhor forma de tratar os enfermos mas, em específico, procuro a cura para a doença de Veldellis. É uma doença degenerativa que afeta apenas anões. Seus órgãos entram em processo de putrefação ainda em vida. Em média o indivíduo não dura mais do que dez anos, após o contágio.

— Já ouvi falar disso. Veldellis também é conhecida como doença da degeneração pétrea. — complementa a maga. — A pessoa com essa doença pode ser identificada por uma marca no corpo, semelhante à uma cicatriz, mas muito escura.

— Uma marca como esta. — Mostra Algar, puxando a gola e revelando uma estranha marca em seu pescoço, com características semelhantes às da marca citada por Eril.

O espanto é imediato, diante da revelação.

Todos se entreolham e tentam falar algo, mas nenhuma palavra consegue ser dita.

— Não precisam falar nada. — determina Algar. — Afinal de contas, ainda tenho alguns bons anos pela frente. Até lá, já terei encontrado a cura.

O ânimo é restaurado, mesmo que não completamente.

— Bem, se você está disposto à usar um pouco do seu tempo para ajudar essa gente, eu seria muito egoísta de não fazer o mesmo. — responde o monge, envergonhado.

— Ótimo! — exclama o anão, colocando a mão no ombro do garoto. — Além do mais, você pode usar essa experiência para lapidar suas habilidades de combate. Será proveitoso.

Enquanto a conversa se desenrola, Voughan já está com um dos cartazes de procurado na mão.

— Eu vou atrás desse aqui. — apontando para a foto no cartaz.

Para o espanto de Kore e Eril, o homem no cartaz é alguém conhecido.

— Abgardingard, o bárbaro. — diz a maga, lendo os dizeres abaixo da foto.

— Esse é o cara que nos atacou na cidade do pé da montanha. — complementa o monge. — Esse cara me deve uma. Vou retribuir mostrando o quanto melhorei.

Com um empurrão, Voughan afasta Kore, chamando-lhe à atenção.

— Sem essa, verme. Eu já disse que sou eu quem vou lutar com esse cara. Ele parece ser forte. Vocês podem pegar os outros todos, nem ligo.

Apesar de contrariado, Kore sabe que não vai conseguir convencer o shamarg do contrário.

O grupo investiga a cidade atrás de pistas e em pouco tempo descobrem a localização do bárbaro.

A facilidade de encontrar seu paradeiro se dá pelo fato de que ele sequer se esconde. Sua localização é conhecida por quase todos. Como ninguém era capaz de fazer frente à ele, não se deu ao trabalho de se esconder.

A cidade principal, onde nossos heróis estão, é circundada por quatro cidades menores, bem próximas à principal. Cada cidade menor é de propriedade de um vilão diferente.

Nevora, a bruxa que foi derrotada, dominava a cidade de Waltrode do Leste, utilizava a caverna apenas como altar para seus sacrifícios. Abgardingard domina Waltrode do Oeste e é para lá que o grupo se dirige, após Algar conseguir a informação de alguns viajantes planares da cidade.

Cruzando o portão leste, há uma pequena estrada que leva a cidade destino. A estrada é curta, permitindo que percorram o caminho à pé facilmente.

Ao chegar no portão de entrada, dois bárbaros, portando lanças, os detêm, cruzando suas armas e cobrindo a passagem.

— Aonde pensam que vão? — diz um deles, com ar arrogante.

— Devem estar querendo virar escravos ou morrer. — debocha o segundo.

Voughan e Kore tomam a frente e, com um único chute, cada um golpeia um dos bárbaros, partindo suas lanças e arremessando-os para dentro da cidade.

O barulho causa um certo alvoroço aos que presenciaram a entrada. Eles marcham portão à dentro, passando por cima dos dois bárbaros caídos no chão, encolhidos de dor.

Alguns poucos aldeões que sobraram na cidade caminham com correntes presas ao pescoço, sendo guiados por bárbaros, como escravos.

A cidade está parcialmente destruída e com marcas de incêndio para todos os lados.

— Quanta destruição. — lamenta Algar. — De que adianta isso? Ele quer ser o rei de uma pilha de escombros?

Em um acesso repentino de êxtase, Voughan soca a palma da outra mão, sentindo-se feliz por estar em meio à batalha.

— Quem liga? Só quero socar a cara de alguém forte. Saiam da minha frente, vermes.

O enorme shamarg sai em disparada, correndo para o centro da pequena cidade, atropelando alguns bárbaros em sua frente, sem nem lhes dar atenção.

— TRAGA-O VIVO, VOUG! — grita Kore, sem ter certeza se foi ouvido.

— Então é isso. — conclui a maga elfa. — Vamos dar um jeito nesses caras, mas tomem cuidado para não ferir os aldeões.

Ao comando de um bárbaro alto e magro, que parece ser algum tipo de capitão, os demais bárbaros se preparam para a batalha. Os que estão nas partes altas, telhados e janelas das casas, preparam suas flechas e então as lançam todas de uma vez. Em meio às flechas, outros arremessam lanças.

Concentrando seu mahou, Eril cria uma ventania ao seu redor, afastando as flechas, protegendo a si mesma e Algar, enquanto Kore avança contra os inimigos, desviando habilmente das flechas e pegando uma das lanças no ar.

Ele utiliza a parte de trás da lança para golpear a cabeça de um dos atacantes, partindo a arma no meio. Em seguida, salta por cima de um bárbaro e, ainda no ar, lhe atinge com um chute.

Com um soco no estômago, outro inimigo é lançado para trás e, após desviar de um golpe de espada, Kore derruba mais um com um soco no rosto.

Cada golpe deixa um inimigo fora de batalha instantaneamente.

Da parte da luva que cobre seu antebraço, Algar retira duas lâminas e as arremessa, cada uma contra um grupo de arqueiros, localizados no teto das casas.

A lâmina erra os alvos, que riem da falta de destreza do anão, porém, um gás quase invisível é liberado pelo cabo das lâminas, que fincaram próxima aos alvos, e os arqueiros, sem perceber, o inalam.

Enquanto isso, Algar pega a caixa com as engrenagens e mecanismos, que carrega consigo, e a coloca em cima de seu antebraço direito. Ao girar um botão, a caixa se modifica, encaixando-se em seu antebraço, criando uma soqueira que lembra um braço robótico.

Com a soqueira, Algar golpeia os bárbaros, bem como a utiliza para se defender.

Um grupo de bárbaros corre na direção do anão mas são alvejados por uma saraivada de flechas, vindas de seus próprios aliados, localizados no teto das casas. O gás finalmente fez efeito, transformando-os em marionetes de Algar. Uma das marionetes ateia fogo na ponta de sua flecha e aguarda o comando de seu novo mestre para atacar.

Com uma habilidade incrível com a mão, Algar saca, entre os dedos, três frascos com líquidos de cores diferentes. Ele coloca uma quantidade específica de cada um nos buracos da parte de cima do seu braço biônico e então puxa, com força, uma corda que parece dar a partida de um tipo de motor. Ele aponta a mão, com o punho biônico fechado em direção aos inimigos e lança um gás pressurizado contra eles. Um instante depois, uma das marionetes lança a flecha em chamas que, ao contato com o gás, entra em combustão, causando uma explosão, derrotando vários inimigos de uma vez.

À alguns poucos metros, Eril derrota outros bárbaros mas propositalmente deixa a maioria para o mais novo integrante do time, a fim de testar suas habilidades.

Mais próximo do centro da cidade, Voughan continua correndo, praticamente atropelando os inimigos que surgem em sua frente sem lhes dar importância, até que um feixe de energia vem abrindo uma fenda no chão e seguindo em sua direção. O shamarg salta por cima do ataque, que acaba por atingir uma casa, cortando-a ao meio.

De dentro de outra casa, do lado oposto da rua, surge o enorme bárbaro portando uma alabarda com lâmina semelhante à de um machado e, na parte inferior do cabo, há uma lâmina de ponta de lança.

— Está fazendo barulho demais na minha cidade. — demonstrando arrogância, enquanto repousa a alabarda sobre um dos ombros.

— Você deve ser o Abgard. — com um sorriso no rosto. — Vim aqui pra arrebentar você.

— Invade minha cidade, espanca meus guerreiros e acha que vai sair vivo?

— Corta a conversa fiada e vamos logo pra ação. Vamos lutar.

— O que te trouxe aqui? Por acaso quer salvar os escravos? Eles são meus.

— Não estou nem aí para escravos. Só quero lutar.

— Devo admitir que nunca enfrentei um shamarg. Vai ser uma boa experiência arrebentar essa couraça de que tanto se orgulham.

— Você fala muito, verme. Vamos lutar logo, droga.

Irritado com a petulância do adversário, o bárbaro gira a alabarda acima da cabeça e então parte para o ataque.

Seu primeiro golpe, de cima para baixo, erra o alvo, que salta para trás.

Voughan se lança para cima do bárbaro, mas este é mais rápido e atinge sua perna com o cabo de sua arma, fazendo com que seu joelho esquerdo toque o solo.

Aproveitando o inimigo no chão, a alabarda desta vez vem em um golpe horizontal, mirando o pescoço do shamarg, que defende a lâmina com o braço.

O ataque é poderoso o suficiente para trincar a couraça, causando-lhe um corte próximo ao ombro, mas isso não o detém. Ele se levanta já com um poderoso soco no rosto do bárbaro, que é lançado para trás, cambaleando.

Com mais uma investida, Voughan se lança de cabeça, atingindo o abdômen de seu adversário, que cospe sangue, mas consegue segurar o shamarg depois de ser arrastado para trás por alguns metros.

Ele ergue a alabarda, mirando a ponta de lança nas costas de Voughan, que ainda está empurrando sua cabeça contra a barriga do bárbaro, e a abaixa, perfurando um pouco da couraça, por onde escorre sangue.

Voughan se levanta rápido, acertando uma cabeçada no queixo de Abgard e então continua o ataque, golpeando com poderosos socos em seu estômago.

Cada soco faz o bárbaro se curvar de dor, até que ele revida com uma joelhada no rosto de seu algoz.

Eles se afastam, ambos feridos, mas Voughan não parece se importar muito, enquanto Abgard se esforça para não demonstrar dor.

— Sua couraça é realmente forte. Qualquer outro já estaria morto.

— Você até que é resistente, para um humano. Mas seus golpes mal me arranharam.

— Isso é uma mentira. Você está sangrando.

— Vou te mostrar o que é sangrar. — estalando os dedos das mãos, enquanto aperta os punhos.

Erguendo a alabarda, Abgard prepara seu ataque, abaixando-a rapidamente e lançando uma onda de energia que segue pelo chão em direção à Voughan, enquanto cria uma fenda por onde ela passa.

Voughan recebe o ataque em cheio, se defendendo com os braços cruzados na frente do corpo.

O ataque resulta em um corte em ambos os braços, por onde escorre um pouco de sangue.

Abgard corre na direção de seu adversário, com a alabarda em riste.

Ao golpear com a arma, Voughan a detém com a mão, segurando a lâmina, lhe causando mais um corte. Ele, então, segura a arma de seu inimigo com ambas as mãos, puxando com força para trás, trazendo consigo o bárbaro. Ainda segurando a alabarda, Voughan a puxa com força, fazendo um momento de arco e arremessando Abgard contra uma casa de madeira, partindo uma das paredes e causando um grande estrago em seu interior, deixando-a à ponto de ruir.

Correndo em carga, Voughan adentra a casa, atravessando outra parede, derrubando-a com o ombro. Ele continua o percurso na direção de Abgard, que estava se levantando quando é atropelado.

Ainda em carga, levando o bárbaro consigo, Voughan vai derrubando as paredes da casa com as costas de seu inimigo, até que terminam por atravessar completamente a casa, que desmorona em seguida.

Com uma parada brusca de Voughan, Abgard é lançado para frente pela inércia, deixando cair sua arma.

Voughan caminha calmamente, pega a alabarda do chão e, utilizando a ponta de lança, começa a palitar os dentes, fazendo pouco da arma do adversário.

— Então parece que você era só isso mesmo. — debocha. — A graça acabou. Mas até que foi um bom aquecimento.

Abgardingard, caído no chão, apoiado com as mãos, tenta se levantar mas está ferido demais. Cuspindo sangue, percebe o shamarg se aproximar. Ao erguer a cabeça, tudo o que ele vê é a planta do pé de Voughan aproximando-se violentamente de seu rosto e então tudo escurece.

Próximo da entrada da cidade, a batalha também chega ao fim.

Para todos os lados podem ser vistos bárbaros desmaiados no chão, enquanto alguns fogem ao longe.

Os escravos, agora libertos, festejam junto aos seus heróis, a maioria falando o mesmo idioma dos moradores da cidade principal, compreendido apenas por eles próprios e por Algar.

— É, ver a felicidade no rosto dessas pessoas faz valer à pena o esforço. — admite Kore, para Algar.

— Eu não disse? E ainda teve a chance de testar sua nova força após liberar o segundo selo de mahou. Como se sente?

— Muito mais forte. Desta vez eu teria vencido o Abgard. Queria lhe dar o troco por isso. — afastando a parte superior da vestimenta de monge, deixando aparecer uma cicatriz em seu peito, conseguida em seu primeiro encontro com o bárbaro.

— Parece que não irá ser desta vez. — responde, apontando para Voughan, que chega arrastando Abgard, desacordado, pelo pé.

— Foi esse cara que surrou você, Kore? — satiriza Voughan. — Não teve nem graça.

— Mas que bela mentira, você está sangrando. — responde indignado.

— De novo isso? O que vocês humanos tem contra sangrar um pouco? Todos sabem que se o sangue fica tempo demais dentro do corpo ele apodrece.

— Isso não existe. De onde você tirou essa idiotisse?

— O sangue velho tem que sair pro corpo criar sangue novo.

— Mas que besteira. O sangue foi feito pra ficar do lado de dentro do corpo.

— Vocês não acreditam nisso, por isso são fraquinhos. Devem estar cheio de sangue podre por dentro. O que é um desperdício, já que vocês são tão frágeis que o sangue sai fácil, fácil.

— Então porque os deuses fizeram vocês com essa couraça sobre a pele? Pra impedir que o sangue saia, não?

— Que deuses? Isso não existe. Uns são fortes e outros são fracos, só isso. Você precisa sangrar muito ainda pra ser como eu. Teria que perder o sangue todo, pra renovar.

— Se você perde o sangue todo do corpo você morre.

— Se morrer por causa disso você é um fraco.

— Mas que…

Enquanto Kore e Voughan discutem, Algar e Eril afastam-se um pouco, orientando os ex escravos à mudarem-se para a cidade principal mas, mesmo com o perigo de ataques, as pessoas preferem continuar naquele local, que prometeram reconstruir aos poucos.

— Princesa Eril, não temos como manter a segurança destas cidades ao partirmos, mas precisamos limpá-las para, pelo menos, dar uma chance à essa gente.

— Quanto ao futuro daqui, não se preocupe. — responde Eril, tendo uma ideia. — Vou me encarregar da proteção deste lugar. Por hora, vamos acabar com os bandidos e então continuamos nossa jornada.

Algar sorri aliviado.

Ao voltarem para a cidade principal, a noite se aproxima e o grupo é bem recebido na pousada, cuja dona foi ajudada por nossos heróis.

Todos festejam com comida e bebida liberada e também muita música, oferecida por um grupo de bardos locais, em agradecimento aos atos heróicos de Kore, Eril, Voughan e Algar.

As horas passam e a festa acaba.

Todos descansam em seus quartos, recuperando-se de um dia cansativo.

Ao amanhecer, após o desjejum, os quatro heróis novamente se dirigem ao centro da cidade, onde os cartazes de procurado estavam.

No quadro, inicialmente haviam quatro cartazes:

Nevora - A humana bruxa - Que havia sequestrado a filha da dona da pousada, para realizar um sacrifício, a fim de aumentar seus poderes.

Abgardingard - O humano bárbaro - Que invadiu e destruiu uma cidade, fazendo de escravos as pessoas que ali residiam.

Quentra - A orc xamã - Que mata aldeões da cidade para colher seu sangue raro de viajantes planares e utilizar em suas poções.

Grimhewron - O elfo ladino - Líder dos bandidos, que saqueia a população das cidades locais, bem como os viajantes.

Porém, ao aproximarem-se do quadro de avisos, nenhum dos cartazes estava lá. Em seu lugar estava uma caveira, talhada na madeira, e um bilhete preso ao quadro por uma faca.

No bilhete, escrito à mão em letras garrafais, é oferecido uma grande recompensa pela cabeça dos quatro forasteiros que derrotaram Nevora e Abgard.

Olhando ao redor, percebe-se que o bilhete já foi lido pelos aldeões, que aproximam-se aos poucos, rodeando nossos heróis.

Aquele povo sofrido, de poucos recursos e esquecido pelo mundo agora mostrará sua verdadeira índole.


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Notas finais do capítulo

Opiniões e críticas construtivas são bem vindas.