O cara da sala ao lado escrita por choosefeelpeace


Capítulo 3
Capítulo 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/710902/chapter/3

Eu tinha segurado mais um litro de lágrimas quando entrei no ônibus e viajei para New York, mas soltei cada uma delas depois de um pote de sorvete gigante e o colo de Rachel e Stacey. Estamos na casa do Paul, já que esse prédio é o único lugar que eu sei chegar sem me perder. Eu sei que Stacey e ele moram juntos, mas ela preferiu não falar disso quando cheguei, pensando que falar de amor me quebraria.

Bem, talvez um pouco...

 

— Você precisa parar de chorar ou vai desidratar! — Rachel tocou meu braço e senti sua mão um pouco trêmula.

— Eu já estou melhor. — Tirei o ultimo lenço de papel da caixa para enxugar minhas lágrimas.

— Como você é mentirosa. — Stacey sacudiu a cabeça.

— O que fazemos com ela? — Rachel e ela se entreolharam.

— Festa. Ela precisa de festa! Bebidas, música e nada que a lembre do... Para de chorar!

— Garotas, está tudo bem, o fim do dia está ótimo para vocês voltarem ao que estavam fazendo. Vou procurar um hotel para ficar até o apartamento do Carter ficar pronto. — Levantei, mas me puxaram de volta e caí sentada.

— Não! Hoje é dia de festa! — As duas exclamaram juntas como se já tivessem feito isso mil vezes.

 

Por volta de duas horas depois, roupas espalhadas em um cenário repleto de lenços amassados no chão, eu pareço pronta. Mais pronta do que na noite anterior. Meu salto é o maior que tenho e novo, pois nunca tive coragem de usá-lo. Ficaria tão maior que Jonathan que ele ficaria bravo.

Agora... Não existe mais Jonathan.

 

— Eu nunca te vi tão linda. — Rachel mordia o lábio, sorrindo como uma mãe orgulhosa.

— Eu estou com os olhos inchados, não é para tanto... — Sorri, ficando logo vermelha.

— Mas tem maquiagem o suficiente até para você ser outra pessoa. Ninguém vai notar.— Stacey disse, despreocupada.

— Vocês duas vão comigo, não é?

— Vamos!

 

•••

 

Eu mal sabia que isso era um complô e só descobri na porta do bar que as duas tinham hora para voltar para casa. Stacey porque tinha um evento de moda para comparecer e Rachel, porque Peter precisaria escrever algo para o programa que vai aparecer na próxima semana e não pode cuidar de Lola. 

Meu frio na barriga apareceu quando entramos. Não estou acostumada à isso, mas meu corpo sente as batidas da música alta e começa à se acertar. Está tocando In The Name Of Love, da Bebe Rexha e eu adoro! Sentamos em uma mesa de canto, pedindo uma dose de tequila e petiscos de camarão, que acabam rapidinho.

Algo começa à ficar diferente e confortável para mim, nesse lugar. Talvez porque estou no segundo copo, mas talvez mesmo... Porque comecei à rir. Pessoas dançando de todos os jeitos, fazendo caretas, gravando histórias para o Snapchat. Provavelmente, uma parte desse bar esteja tão quebrado quanto eu, mas está passando por cima disso. Posso fazer isso. Eu vou conseguir.

Minhas amigas levantam para dançar e me puxam junto. Cantamos, rimos, brincamos. Minha cabeça vai se liberando e à medida que meu cabelo sacode de um lado para outro, lembranças ruins são jogadas para fora de mim. 

Algumas fotos são tiradas no celular de Stacey e fico um pouco cega com os flashes. Tenho certeza que as fotos estão horríveis! A morena de cachos longos comenta que precisa ir e ficamos Rachel e eu, curtindo mais um pouco.

 

— Você lembra da última vez em que viemos aqui? — Rachel retocava seu batom no banheiro.

— Que você viu o James e eu quase arranquei o coração dele fora? É claro. — Só de lembrar dos ex que tivemos em Los Angeles me dá vontade de me afogar na pia frente à mim.

— Certo! Não dessa parte, Annie. — Riu. — Você pode tentar, por favor, não ficar tao bêbada quanto eu estava? 

— Vou me cuidar! Além do mais, eu vou voltar sozinha, preciso estar bem. — Fiz beicinho.

— Se qualquer coisa der errado, me liga! Pete tem o sono leve e me acorda, eu venho correndo. 

— Tudo bem, mas eu vou me comportar. 

— Perfeito!

 

Nos abraçamos e eu fui com ela até a porta principal, para que encontrasse um táxi para voltar. 

O vento me recebeu com fúria e eu deixei. Não tenho mais quem me repudie por querer fazer o que realmente quero. Abri os braços e inalei uma grande e renovadora parcela de ar antes de abrir os olhos e encontrar um emaranhado de cabelos tampando, parcialmente, a minha visão. Estou tentando lutar com o vento e arrumando meu cabelo quando um cara anda em minha direção, me olhando fixamente. Eu gelo. Será que estou bêbada ou já vi aquele homem antes? Abro a boca para pronunciar algo, mas ele apenas entra no bar.

Duvido que ele estivesse olhando para mim, era apenas para a entrada, porque estou parada no meio dela, como se fosse dona da mesma.

Ou talvez estivesse olhando o horror que fiz com o meu cabelo.

 

•••

 

Volto para a minha mesa quando pareço mais normal e peço mais uma rodada de camarão e uma dose amiga. É só mais uma, murmuro para mim mesma. Sigo olhando em volta, tentando me acostumar à loucura dessa cidade. Sei que posso.

Morar sozinha nunca foi a minha praia, mas nos últimos meses, aprendi a me virar muito bem e sei que não vai ser uma tarefa impossível. Há outros solitários vagando pelo bar, também, mas não em uma mesa, como eu. Decido mover minhas coisas para o balcão, para que não pareça que alguém me deu o fora. Ou pelo menos que não fique tão nítido...

Depois de comer tudo e me tornar uma loba solitária, o barman parecia estar sorrindo demais para mim. Eu vou dar gorjeta, prometo!

 

— Moça, meu amigo ali quer te oferecer mais uma dose de tequila. — Apontou para o meu lado esquerdo e um homem acenou.

 

Arregalo um pouco os olhos e encaro o moreno sentado há uns três bancos para o lado. Ryan? O cara do jogo de futebol? Não pode ser. Tinha certeza que o tinha visto lá fora, mas eu achei que minha cabeça estava armando para mim.

Talvez não seja ele, só muito parecido. Idêntico. Clone.

Aceito a tequila e ele sorri, fazendo o que faz de melhor e eu acabo sorrindo de volta. É só um drink, posso lidar com isso. Começamos à nos encarar e competir, mas um homem senta do meu lado, bloqueando minha visão para ele. 

O cara, rapidamente começa à puxar assunto comigo e tento responder como posso, mas estou enferrujada — e não estou nem um pouco afim de conversar com ele. Uma mão repousa no seu ombro e olhamos para trás.

 

— Minha namorada é linda, não é mesmo? — Ryan estava parado atrás dele, sorrindo para mim. Namorada?

— Não sabia que vocês estavam juntos, me desculpe. — O grisalho se levantou, sem jeito e eu tinha os olhos vidrados nos dois, sem saber o que dizer.

— Sem problemas, eu faria o mesmo no seu lugar! — O descarado beijou minha bochecha e se sentou no banco ao meu lado.

— Você é um descarado e mentiroso. — Afirmei.

— Se com descarado e mentiroso você quer dizer salvador de conversas cretinas, pois bem, eu sou! — Rebateu.

— A pergunta é... Por que? — Estreitei os olhos.

— Porque já te perdi de vista uma vez e não vou repetir meu erro. — Ergueu o copo de um jeito vencedor, como se tivesse guardado essa resposta.

— Você diz... Do dia da casa do Paul ou de quando me viu descabelada, lá fora? — Perguntei.

— Certo, contando assim, já são três encontros, mas lá fora, eu não tinha certeza se era você. Em todo caso, já errei antes e você sumiu.

— Isso vai ser uma conversa cretina? Quem vai me salvar? — Brinquei.

— Eu acho que seu super herói está descansando, agora... — Riu, estendendo a mão. — Ryan.

— Regina. — Apertei a mão de volta. Eu menti? Ah, meu Deus!

— É um prazer, Regina. Quando você vai embora? Tenho certeza que não é daqui...

— Em dois dias. — Eu não controlo minha boca! Pelo menos é um jeito de não criar muitos laços com desconhecidos em balada.

— Tempo suficiente para aproveitarmos. Quer dançar?

— Claro!

 

Fomos para a pista e sua mão na minha cintura me acompanha perfeitamente. Seus dedos são longos e seu toque firme, agindo como meu namorado ou algo próximo à isso. Especialmente quando passamos perto do cara que estava conversando comigo há uns minutos. A mão de Ryan caiu para a minha cintura, me puxando de lado para ele e repousei minha mão sobre a dele até chegarmos na parte melhor da pista improvisada. Está tocando Girls Talk Boys, do 5SOS, o que me deixa solta, na hora!

Começo a dançar e fecho os olhos, deixando que o som recaia sobre mim. Levanto meus braços e movo minha cabeça para os lados, esquecendo totalmente de onde estou e porque estou aqui, até que Ryan encaixa seu corpo por trás do meu e começa à cantarolar uma parte do refrão, que é algo do tipo Quando você está com as suas amigas, você fala de mimE lembranças boas me invadem. Eu ri tanto com as minhas garotas sobre ele e suas provocações, que ele sabe e está brincando sobre isso. Seu humor é bom e vai me divertindo. Sinto sua risada no meu pescoço e rio, também.

A música vai nos deixando, dando lugar para Sweater Weather, do The Neighbourhood e a melodia, por si só, nos envolve de maneira diferente. Sua mão passeia pela minha barriga, me causando um arrepio frio e ele me puxa contra o seu corpo. Minhas mãos sobem do seu peitoral à sua nuca e começamos à dançar. Ou nos provocar, não sei bem, mas há algo novo, aqui. Seu olhar segue no meu, como se quisesse me ler e roubar minha alma e eu deixo, hipnotizada pelo seu sorriso e pelo ambiente que parece dizer para não recusarmos nada, hoje.

Ele aproxima e me beija. Primeiro lento, saboreando meus lábios e meu gosto enquanto mantém seu polegar bem posicionado no meu queixo. Eu retribuo, sentindo meus sentidos se dissolverem contra as batidas da música e de seu coração, que estão tão altas quanto.

Um beijo, depois outro... E outro. Agora tenho a certeza que o olhar que ele me deu, meses atrás, foi um tipo de interesse imediato e eu adoraria ter correspondido, se eu não tivesse comprometida com Jonathan.

Ah, não. Droga! Pensar no meu ex fez minha boca secar e minha garganta, idem. Paro o beijo porque sei que uma bomba de choro pode explodir à qualquer momento. Especialmente depois de beber.

 

— Regina, está tudo bem? — Ele franziu o cenho, notando algo diferente em mim.

— Sim. Só lembrei de coisas que não deveria... — Balancei as mãos, dando um sorriso triste. Eu aceitei que ele me chamasse de Regina, de novo!

— Prefere sair daqui? Podemos ir para um lugar menor...

 

Um lugar menor é o que preciso. Parece que as caixas de som no teto começaram à me sufocar e antes que eu comece à chorar no meio do bar, é melhor ir embora. Ele me sugeriu seu apartamento, mas acho melhor um lugar neutro. Não quero pensar que Ryan vai sair com a "Regina" outras vezes. E no momento, Anna está indisponível para compra e venda. Saímos do bar sem um destino certo. Ele me pergunta onde estou e conto que estou na casa de Rachel, mas ambos sabemos que ir até lá, juntos, não era uma opção. Ele me conta, brevemente sobre seu estúdio, dizendo que seu apartamento está em reformas e ele está ficando por lá. Me garantiu que era um lugar normal, porque nunca fica lá e eu aceito. 

Eu nunca estive em um apartamento de outro homem.

•••

 

Trocamos uns beijos dentro do carro e no elevador. Risadas altas e divertidas. Não consigo pensar muito quando sinto esse perfume e o jeito carinhoso e atrevido de Ryan. Sei que ir para a casa de um cara na primeira noite não é comum e, muitas vezes, até perigoso, mas eu acho que temos alguma conexão desde bem antes. Posso confiar à ele pelo menos essa noite. A primeira e a última, ou eu terei muito o que explicar.

Entramos no seu mini espaço e parece bem arrumado para um homem, tenho que dar algum crédito, Ryan parece esforçado. Ou é um psicopata. A porta é de ferro e range um pouco quando fecha. Me distraio com o barulho e ele pega uma máquina fotográfica — uma Polaroid, na mesa que apareceu quando a porta se fechou. Um clique repentino e arregalo os olhos, assustando com o barulho. Ele tirou uma foto minha!

 

— O que você está fazendo? — Eu ri, fazendo uma careta, imaginando o desastre da foto.

— Registrando. Pode continuar o que estava fazendo. — Sorriu, posicionando a câmera no rosto.

— Você é louco? Não! Eu estou horrível e bêbada! — Coloquei uma das mãos na frente e outro clique veio. Gargalhei. — Essas fotos vão ficar horríveis!

— Eu sei o que estou fazendo e me arrependo de não ter feito antes. — Segurava uma das fotos entre os dentes e balançava a outra para que secasse.

— Você é um psicopata! O que vai fazer com essas fotos? Ai! — Esbarrei o tornozelo na cama e caí sobre ela. Dessa vez ele quem gargalhou e tirou outra foto.

— Eu registro tudo o que meus olhos gostam de ver. E eu não posso perder esse rosto outra vez. — Seu corpo se debruçou sobre mim e eu arrepiei. 

— Aposto que existem muitos rostos que você não pode perder e essas fotos vão se perder em uma caixa qualquer. — Minha fala foi lenta. Não estava certa do que estava dizendo. Ando mais desconfiada do que o normal e com mais drinks na cabeça, também.

— Eu duvido, mas olha só o que posso fazer. — Ele repousou a cabeça entre meus seios e tirou uma foto nossa. — Agora você pode jogar meu rosto em uma caixa por aí. 

— Vou escrever "louco do bar" atrás da foto, antes de fazer isso. Prometo! — Levantei as mãos e fiz beicinho.

 

A risada de Ryan acendeu algo divertido em mim e continuamos rindo até que o corpo se acalmasse, mantendo nossos olhos e cabeça confusos sobre o próximo passo. Ele toma as rédeas da situação e me beija devagar, com carinho, com mais conhecimento do que no bar e eu me permito corresponder, levando as mãos à tocar aquela barba que faz um pouco de cócegas na minha mão. 

Seu beijo é doce e paciente e sua mão começa à passear pelo meu corpo, conhecendo todo o caminho entre a lateral e minha coxa. Seus dedos sobem levando o tecido e seus olhos me olham com desejo, pedindo permissão. Eu assinto com a cabeça e ele tira, juntamente à sua camisa. Seu peitoral é bem definido e meus dedos passeiam pelos gominhos da sua barriga. Ambos rimos e ele volta à me beijar.

Vou me perdendo naquele conhecido-estranho como se já tivesse feito isso mil vezes, no entanto, a ansiedade do meu peito denuncia a primeira vez com ele e a primeira vez inconsequente de uma garota perdida na cidade grande. Perdida em sua própria vida. Perdida em si mesma.

Perdida em uma cama.

Não é a Regina que está sentindo cada um desses impulsos e uma corrente elétrica que seus beijos e pele me causam.

Isso tudo é mérito de uma nova Anna.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O cara da sala ao lado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.