O cara da sala ao lado escrita por choosefeelpeace


Capítulo 15
Capítulo 14




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Meu peito estava cheio de boas energias esperando a festa nova. Tudo bem que a anterior havia sido a definição de um caos total, mas essa estava programada para ser todo o contrário. Meus amigos, meu ponto de paz.

E todos poderiam beber, se quisessem porque nada errado aconteceria.

Que salto enorme de uma semana para outra. De dias para outros. Acho que, às vezes, quando algo vai de mal a pior, coisas melhores estão por vir.

E a festa de Peter era, realmente, a coisa melhor.

Passei a noite um pouco distraída e o dia seguinte também, tentando pensar nos gostos do aniversariante e em como poderíamos decorar tudo, de modo temático, talvez. Ali estava eu, montando mentalmente uma festa, tal como se estivesse preenchendo páginas e páginas de uma revista.

Na hora do almoço, saí para comprar alguns post its e artigos de decoração. O que um escritor gostaria de ver? Letras. Então também comprei canetas de todos os estilos, tamanhos e cores para que os convidados escrevessem mensagens para ele. Voltei para minha mesa e verifiquei as coisas enquanto transportava algumas coisas das sacolas para minha bolsa.

 

— Desistiu do emprego e vai voltar para a escola? — Alex riu, beirando minha mesa.

— Tudo para ficar longe de você. — Arrisquei um sorriso.

— E de onde tirou isso? Roubou do estoque da Glam? — Empurrou meu ombro com o seu.

— Comprei, olha só. Você quer a com purpurina? Não precisa implorar. — Mostrei a nota fiscal e em seguida uma caneta laranja brilhante, colocando próxima ao seu rosto.

— Não combina com os meus olhos, obrigado. — Curvou o corpo, espiando minha bolsa. — Tem balões! Vai dar uma festa?

— Minha amiga vai. É o aniversário do marido dela.

— Peter vai ter uma festa surpresa?

— Vai, se você fechar a boca. — Ergui a sobrancelha. — Como sabia que era ele?

— Sou bom em ligar os pontos. — Deu de ombros. 

— Então você é amigo dele?

— E quem não é? Não vai me convidar?

— Não é minha festa. — Ri, fazendo uma careta. — Mas tecnicamente sim, então hoje à noite no apartamento deles.

— Combinado, então!

 

Alex foi para sua sala e eu encarei a de Ryan. Será que Rachel o convidou?

Claro que não.

Claro que ela espera que eu faça isso.

Todos esperam.

Então me dirigi à sua sala e toquei sua porta duas vezes, antes de entrar. O ambiente parecia mais claro, mas não tão arejado — isso deve explicar porque, na maioria das vezes, sua porta está aberta. Ele estava trabalhando no seu computador, vendo fotos de um ensaio.

Provavelmente essa seja a capa da próxima Glam.

 

— Ocupado? Prometo não tomar tanto seu tempo. — Dei um sorriso envergonhado e coloquei o cabelo atrás da orelha.

— Você pode tomar meu tempo sempre que quiser ou precisar. — Piscou, sorrindo de volta.

— Então, é que hoje vamos dar uma festa surpresa para o Peter e acho que ele ia adorar que você fosse.

— E você? Digo, tudo bem para você se eu for?

— Claro! Por favor. Sei que são amigos. 

— Então te vejo na casa dele, certo?

— Isso!

 

Deixei sua sala assistindo seu belo sorriso enquanto eu fechava a porta. Era inevitável lembrar de quando eu o vi pela primeira vez e porque o vi: ele era um dos melhores amigos do Peter e, essa noite, todos estaríamos reunidos novamente.

Dessa vez poderíamos conversar, mas tudo mudou tanto! O que não mudou era o fato de eu seguir tendo alguém, então isso deve ser algum aviso do destino.

Ryan e eu nunca vamos acontecer.

Nem que todas as festas do mundo queiram nos unir.

E ponto final.

 

•••

 

A hora passou voando, até que Rachel estava na portaria da revista, me esperando com mais artigos de festa no carro. Ainda bem que Peter não estava na cidade, porque com a quantidade de coisas que havia no banco de trás, todos, menos ele, sabiam que Rachel daria uma festa.

Ela parecia ansiosa na porta e me deu um longo abraço assim que me alcançou. Geralmente, ela é calma e comportada, mas não tanto comigo e não tanto quando nos juntamos. Ter minha amiga tão perto é voltar à adolescência. E todos esses mini segredinhos precisavam mesmo de uma alma jovem e inocente para acontecer.

Depositamos, com calma, as sacolas no banco de trás, tentando encontrar espaço na sua bagunça e então entramos, por fim.

 

— A Glam é linda! — Dizia enquanto girava a chave na ignição e reparava na placa da revista.

— É um sonho! Prometo que ainda te arrasto para fazer uma tour por todos os corredores. — Sorri, colocando o cinto. — Como vai Lola?

— Ótima! Está com a avó para podermos organizar tudo. Na hora do jantar elas chegam.

 

Rach ligou o rádio e, logo depois New Rules, da Dua Lipa começou à tocar. Essa música nada mais é do que uma canção para garotas que estão precisando sair do círculo vicioso de sofrer por um ex-namorado. Não vou mentir, sei cada verso e cantarolei baixinho, o que fez a morena me olhar com uma risadinha.

 

— Aprendeu bem as regras da música?

— Sim! Sim, ok? — Ri, envergonhada. Pensei, por um tempo, se ela estava tentando relacionar isso ao Ryan, mas eu nunca contei. Não para ela.

— Eu sei que com Jonathan você faria isso realmente bem, mas como está se saindo com Ryan?

— O que disse? — Meu susto tomou outras proporções, o que me fez tossir de repente.

— Xeque-mate, eu sabia! Aconteceu alguma coisa.

— Há um tempo. — Admiti. — Foi apenas um dia, somos adultos, isso ficou para trás. Ele vai estar na festa, Rachel, por favor, finge que não sabe de nada.

— No último aniversário do Pete, nós nos beijamos no quarto dele. — Suspirou, pensativa. — Foi bom, sabe? Maravilhoso, com sentimentos... E por outro lado um erro, porque eu namorava Josh.

— Uau, Rach, eu imagino como foi complicado tudo isso. — Eu realmente me imaginei no lugar dela.

— Você vai dar uns beijos nele hoje se ele ficar te olhando daquele jeito de novo? — Escapou uma risadinha e eu respondi com um soquinho no seu braço.

— Não! Eu aprendi as regras e Kyle vai me encontrar na festa. — Chequei o celular à fim de conferir se ele iria mesmo.

— Kyle? Do prédio? Eu não estou sabendo nada sobre você!

 

Ri do seu draminha básico e contei, pelo resto do trajeto como estavam indo as coisas. Era bom me ouvir, em voz alta, ajustando minha vida e, ainda que não houvesse rótulos, consegui demonstrar com afeto o quanto aprecio Ryan — mesmo que nem sempre seja assim — e como Kyle vem me fazendo feliz com tudo que é e representa.

Estava bem mais leve por poder dividir um pouco da minha vida confusa com a minha melhor amiga. Às vezes, acabamos guardando tudo para nós mesmos como se fôssemos super heróis, mas se até eles se juntam em bando para resolver grandes problemas, por que nós não fazemos o mesmo? Conversar com alguém é relaxante. Tira um peso das costas.

Foi assim que me senti, literalmente, enquanto transportávamos as decorações para o elevador. Rachel não me julgou em nenhum momento e sorriu sempre que podia, parecendo absorta em seus próprios pensamentos.

O elevador era grande, com uma cor que variava entre o branco e o verde. Limpo, bem cuidado. O prédio era o máximo! No entanto, entre tantos balões, ficamos apertadas e imóveis durante o trajeto.

 

— Sua história, em alguma coisa se parece tanto à minha! E, provavelmente, em algum momento, a vida vai te fazer escolher entre eles. Espero que você tome a decisão certa... E se não tomar, recomeçamos, estarei aqui por você, o tempo todo e até sempre.

— Ah, Rachel! Você virou uma poetisa como seu marido? Eu te amo. Obrigada.

 

Tentamos dar um abraço, mas o balão prateado em formato da letra P se colocou entre nossos corpos, nos fazendo dar um abraço desajeitado e torto. 

Saímos rindo do elevador e não se falou mais nisso.

Eu não preciso escolher entre eles outra vez, certo?

Eu escolhi e estou incrivelmente bem assim.

E Ryan também escolheu seu caminho.

 

•••

 

Decoramos o apartamento com pequenas coisas e deixamos todo o resto para criar uma festa na cobertura do prédio. Alex, Kyle, Paul e Stacey chegaram antes do resto, o que foi útil para encher mais balões e subir com o resto das coisas. Stacey nos ajudou na cozinha com o jantar e dispensamos os salgadinhos e docinhos de mais tarde, pois ela veio carregada deles.

Stacey pensa mesmo em tudo. Eu adoro que ela seja amiga da minha amiga e ainda assim se leve tão bem comigo. O clima estava, definitivamente o melhor.

Quando Peter chegou, os gritos sincronizados de parabéns e palmas preencheram o ambiente. Não havia tanta gente, na parte familiar da festa, então conseguimos recepcioná-lo bem. Assistir como Rachel o abraçava e sorria, tinha seus braços ao redor dele e emanava amor era emocionante. Ela merecia esse final feliz. Lola agarrou as perninhas do papai e eles a pegaram no colo.

Após o jantar calmo, subimos para a cobertura. Música alta, lugar aberto, mesas com diversos copos e docinhos da Stacey. À medida que seus amigos subiam pela escada de emergência, anotavam seus nomes e mensagens próximo à chegada, com papeis pendurados e coloridos. Tudo improvisado, mas especial.

Peter tem mais amigos do que imaginei. E agora, com a fama, um par de escritores da nossa faixa etária circulavam por ali. Apesar de reconhecer alguns rostos, eles não me reconheciam de volta. E por que o fariam? Sou apenas uma secretária.

Talvez, um dia, isso mude...

Kyle me desviou dos meus pensamentos trazendo um copo para mim enquanto deixava seus lábios tocando meu cabelo. Ele é tão carinhoso e especial. Dançamos um pouco, até que seus amigos lhe chamaram e eu voltei à observar ao meu redor.

Atrasado, Ryan chegou empurrando a porta, com sua jaqueta no braço e a câmera em mãos. Trabalhando até tarde, pelo jeito. Os olhares se direcionaram à ele que abriu um sorriso largo como pedido de desculpas. Piscou para mim e foi de encontro ao Peter, dando um abraço duro de homens e dizendo algumas vogais expressivas. Isso era tudo o que eu podia ouvir por cima de uma música que não conhecia.

Logo, me misturei entre as pessoas. Fiquei com as minhas amigas, jogando conversa fora como há tempos não fazia. Elas são tão divertidas! Planos de sairmos em breve pareciam estar sendo formados.

Meus olhos acompanhavam Kyle e Ryan, juntos numa mesma roda com Alex. Daria um dólar para descobrir o conteúdo da conversa. Um, em cada momento, me olhava, como se quisesse ter certeza de que não havia fugido da festa. Kyle, sorria e remexia os lábios prometendo que estaria comigo em breve e Ryan, me olhava por tempo prolongado e nem sempre sorria, usando seu lado protetor.

 

— Estou com uma sensação de Dejavu. Ryan e Anna de novo. — Stacey disse, entre um gole e outro.

— Eu disse isso para ela! Eles são amigos agora, trabalham juntos. — Rachel sorriu para mim, como se estivesse guardando a outra parte do segredo.

— Isso. E aquele é Kyle, o homem com quem estou saindo, garotas. — Apontei-o, descaradamente.

— Qual shippamos mais? Rynna ou Kynna? — Stacey indagou, dando uma gargalhada.

— Eu sou libriana, não sei escolher! — Rachel riu.

— O que as minhas meninas estão aprontando? — Peter usou seus longos braços para abraçar as três.

— Estamos irritando Anna, sobre Ryan e Kyle. — Rachel encostou no seu ombro. 

— Kyle Wood? — Peter avançou o olhar para mim.

— Sim. Estamos saindo. 

— Depois do Ryan? Com Kyle?

— Sim. — Estreitei o olhar.

— Inesperado, mas boa sorte, gatinha.

 

Peter tocou meu braço fraternalmente e voltou para a festa. As duas me olharam, parecendo tão confusas quanto eu, mas quando virei o copo, elas entenderam que era melhor arquivar o assunto.

Ótimo, todos sabiam da minha confusão sentimental.

E me confundiam mais ainda.

 

•••

 

Quando vi Peter um pouco solitário, curtindo seu copo em um sofá que conseguimos levar, não aguentei de curiosidade e me aproximei. 

Ele me deixou com uma pulga atrás da orelha, então era o único que poderia retirá-la.

 

— Peter... — Iniciei a conversa ao me sentar, incerta da continuação. — Porque você me olhou estranho sobre os dois? Como... Se fosse proibido que eu tivesse um caso com um e depois o outro. 

— Não, de jeito nenhum! Não pense que eu te julguei. — Apoiou as mãos nos joelhos. — Eu só achei curioso.

— Por eles se conhecerem? — Estreitei os olhos.

— Não... Quer dizer, um pouco. Eles tem uma ligação antiga, Anna.

— Ryan e Kyle? — Queria dizer os nomes em um tom estridente, mas me controlei. — Por uma garota?

— Pode-se dizer que sim, uma garota era a ligação entre eles. E as coisas acabaram mal para os dois.

— A ex do Kyle que sumiu... — Pensei em voz alta.

— Essa! Então você sabe a história?

— Sim! Sim, eu sei.

— É só isso, mas fico feliz que vocês dois estejam felizes novamente.

— Obrigada.

 

Ambos sorrimos e um de seus amigos se aproximou para puxar conversa. De onde eu estava, podia ver Ryan, sentado no muro de concreto, balançando seu copo vermelho, provavelmente com cerveja. Ele conversava com algumas pessoas, mas parecia mais quieto. Ele sempre está assim. 

Kyle se despediu de uns amigos e se lançou até mim com seu sorriso largo e amoroso. Enquanto ele se aproximava, eu podia olhar os dois em contraste. Se a namorada de Kyle que foi embora, foi com alguém e o fez sofrer, logo...

Ryan é o homem que fez Kyle sofrer?

 

— Hey! Estava com saudades. — Beijou minha testa, colocando sua mão na minha cintura. — Podia ter ido me ver, queria te apresentar para algumas pessoas.

— Podemos ir depois. — Dei um sorriso fraco, sem deixar de pensar na minha provável descoberta. — Kyle, queria te perguntar uma coisa.

— Hora do parabéns! — Rachel gritou.

— O que disse? — Ele perguntou.

— Eu disse que quero...

 

No instante que deveriam abaixar o volume do rádio para que o parabéns se iniciasse, um dos amigos bêbados de Peter girou o volume para o lado contrário, aumentando à todo volume Like A Boy, da Ciara, me impedindo completamente de continuar a frase, mas eu tentei.

 

— Quero te fazer uma pergunta. — Gritei.

— O quê? — Gritou de volta.

— Preciso de você para me ajudar com o bolo, vem! — Rachel apareceu, me puxando.

 

Sorri para ele e neguei com a cabeça ao ser puxada para o lado oposto do ambiente. Não era mesmo o momento de fazer perguntas e por mais que eu estivesse ardendo em curiosidade, o destino estava me empurrando para o lado oposto.

Estava posicionada para repartir o bolo após a cantoria e Ryan estava próximo à mim, fazendo as fotos da festa. Seus lábios se contorciam, positivamente para cima em cada um dos cliques. Ele gostava mesmo de retratar momentos.

Será que retratou a tristeza de Kyle quando lhe roubou a namorada?

Anna, pare.

Quando o flash encontrou meus olhos, eu estava de cara feia para o fotógrafo. Ele riu debochado.

 

— Essa é a sua cara para festas agora?

— Eu não estava esperando fotos.

— É o meu trabalho não anunciar, mas eu realmente quero um sorriso seu essa noite e não tenho certeza se tem algum nas outras fotos. Então, oficialmente, estou pedindo, sorria para mim.

— O que escreveria atrás dessa foto? — Indaguei, com uma mão na cintura, esperando a resposta.

— O sorriso de quando se deixa os problemas e o passado para trás. — Piscou.

 

Pensei duas vezes sobre sorrir naquele momento. Ele merecia isso? Eu deveria deixar tudo no passado?

E se acontecesse o mesmo na minha vida?

E se eu fosse só parte de uma conspiração? De um plano?

Por outro lado, eu precisava seguir a festa. Não era meu dia ou meu momento para me preocupar com nada além de ver os seres que amo felizes.

E como se eles escutassem meus pensamentos, assim que Ryan posicionou sua lente à altura dos olhos, Rachel e Stacey correram para tomar minha cintura, ao passo que Peter e Paul tomaram as delas e as abraçaram, respectivamente. Alex parou atrás de mim, fazendo chifrinhos em Stacey e em mim e Kyle se juntou ao lado de Paul, ao canto da tela.  Ryan bateu uma foto com todos sorrindo.

Em seguida, Kyle se ofereceu para ocupar o lugar dele, para que ele se juntasse à uma foto, pelo menos, essa noite. Ele aceitou e ao invés de usar o canto da tela, se abaixou à minha frente e abriu os braços, como se alcançasse todos que sairiam na imagem. E Kyle sorriu ao tirar.

Se a energia entre os dois é boa, o que realmente deu errado entre eles?

Qual era o fato que eu estava perdendo?


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