O cara da sala ao lado escrita por choosefeelpeace


Capítulo 11
Capítulo 10




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"Arrume seu cabelinho, vista seu melhor sorriso e siga em frente." —  Minha autoria.

Quando decidimos ser imbatíveis, nada pode nos tirar desse caminho. E quando eu digo nada, é nada mesmo. 

Foi isso o que refleti nas horas seguintes ao transtorno com Ryan. É um fato que tudo relacionado à ele me confunde e que, para completar, Jonathan havia ressurgido, mas nenhum desses probleminhas eram meus de verdade. 

Ambos tinham garotas que colocaram acima dos pseudo sentimentos por mim. E eu tinha um trabalho — e um jantar — à zelar.

Não tenho visto Jennifer com tanta frequência ou conversado como eu gostaria, já que Alex se mete em todos os assuntos do corredor e faz uma ponte entre nós, mas quando eu resolver isso — ou tentar dar um jeito no bisbilhoteiro —, pedirei que tudo relacionado à Ryan, seja ela quem organize. Em troca eu posso fazer todo o trabalho dela durante semanas. Séculos!

Um pouco de ar livre do que estava me sufocando viria bem.

Como combinado, subi ao apartamento de Kyle, quem me recebeu com o melhor sorriso do mundo. Era um sorriso de tirar o fôlego e isso era inegável. Aqueles olhos que se iluminaram quando eu cheguei era novo para mim. Sua energia perto da minha é algo inspirador.

Kyle preparou um pouco de spaghetti para nós dois e eu tratei de contar como foi meu dia, evitando a maioria dos nomes até onde podia. Foi bem aí que percebi que a cidade me deu bem mais do que pude reparar por debaixo das minhas catástrofes. E o melhor de tudo era saber que meu trabalho ou minha casa não dependiam mais de um homem.

Mergulhei nos braços firmes do moreno enquanto assistíamos mais um ou dois episódios da nossa série favorita quando seu nariz e sua barba apenas nascente passearam pela minha bochecha. A noite estava sendo relaxante e até mesmo esses movimentos dele, então permiti que aquilo continuasse um pouco mais.

Seu queixo traçou um círculo sobre o meu e ele plantou um beijo próximo aos meus lábios. Trocamos olhares e depois de tantos dias sob a sua companhia e dedicação, senti que poderia, que finalmente estava aberta para mais alguma coisa, então acenei, permitindo que ele me beijasse.

Tudo era doce e macio enquanto minha boca dava passagem à dele. Seus cafunés bem lentos e a ponta dos seus dedos nas minhas costas me levaram à uma bolha onde de fundo, no máximo haviam as risadas da televisão. Ele me deitou no sofá e seu corpo se apoiou sobre o meu, deixando os beijos continuarem.

Eu voei. Por cinco minutos, eu voei.

Seus beijos escorregaram para o lóbulo da minha orelha e pescoço. Meu corpo estremeceu. Ele era suave e bom.

Mas...

Era certo eu deixar que isso acontecesse, outra vez? Conhecer alguém, me apressar e pular na cama dele? Logo depois de toda bagunça que isso criou na minha mente?

E se ele também trabalhar na Glam?

E se ele também tiver outra Seline?

Preciso conhecer Kyle antes de tudo.

 

— Ky... Kyle. — Toquei seus ombros, indicando que precisava de um pouco de espaço.

— Sim? — Sussurrou, depositando seus lábios sobre os meus por um curto momento.

— Não posso fazer isso agora. — Sacudi a cabeça em negativa.

— Por que? Fiz alguma coisa errada? 

— Não posso mais me apressar com coisas e pessoas nessa cidade.

— Anna, é New York e as coisas aqui são rápidas! — Riu, tirando alguns fios de cabelo do meu rosto. — Não quer mesmo?

— Preciso de mais momentos com você antes de... — Indiquei o que queria dizer com a cabeça. —  Não posso ficar fazendo coisas sem respirar. E não ando respirando.

— Respirar...

 

Apenas essa palavra saiu da sua boca antes de ele estar completamente em pé na minha frente — e, felizmente, vestido. Estendeu uma de suas mãos para que eu fizesse o mesmo e quando eu o cumpri, ele se dirigiu à janela, abrindo-a e colocando uma das pernas para fora.

Incrível! Como se tudo já não tivesse caído na minha cabeça, agora um cara vai cair da janela por minha causa.

 

— O que você está fazendo? Kyle! Não! — Arregalei os olhos e tentei caminhar, mas meus pés deram nada mais do que um passo.

— Respirando. — Ele sorriu e me chamou com a mão. — Vem!

— Você entendeu tudo errado! — Balancei as mãos no ar. — Não quero me matar e nem quis te repreender, eu só...

— Mas quem falou em se matar? — Gargalhou, apoiando a cabeça na janela. — Anna, tem uma escada de emergência próxima às janelas, você nunca reparou? Vem! Vamos respirar.

 

Certo, depois dessa eu precisava mesmo de ar puro. Esperei que ele saísse completamente e me ajudasse à passar ao lado de fora do edifício. É muito alto. Do tipo muito mesmo. Na minha perspectiva, os carros estacionados parecem de brinquedo.

Eu me sentei bem próxima à ele, já que o espaço não era grande. O ferro estava escuro e desgastado, mas firme para suportar nós dois e quando o vento beijou meu rosto, era só isso que importava.

 

— Por que você me trouxe aqui? — Virei o rosto para o dele, percebendo meu cabelo chicotear em nossas costas enquanto voava.

— Porque você precisava respirar. — Apertou minha bochecha de leve.

— Era uma coisa metafórica, Kyle.

— Na verdade não, nunca é. Para nenhum de nós. — Kyle apoiou os braços sobre os joelhos e apreciou a vista. — Quando eu fico assim, é para cá que eu corro.

— Por que?

— Porque as coisas não são sempre como a cabeça diz. Olhe ao redor, Anna, o quão longe estamos do chão. Isso é vida, é quase como voar. E estando aqui, é quando você percebe que não está no fundo ou no chão, como pensa.

 

Ficamos em silêncio, o que foi útil para entender e apreciar o que ele tinha à dizer. Basicamente, meus dias anteriores foram dispostos apenas para me queixar sobre homens, sem que eu me desse conta de que moro em um dos melhores lugares do país e que sequer conheço coisas nesse quarteirão.

Assim como eu, fisicamente, estava no oitavo andar, a minha vida também estava subindo e todo esse medo constante que eu sentia, era apenas medo de altura. Era o momento de olhar as coisas de cima, de ter o controle. E parar de me queixar urgentemente.

Pensei em descobrir mais coisas sobre Kyle naquele instante, mas quando ele me envolveu em um abraço doce, percebi que aquele lugar era mais valioso do que qualquer pergunta que eu pudesse fazer. Estávamos ali para descobrir à nós mesmos ao invés de um ao outro. 

Apesar de até agora ser o melhor lugar da cidade, quando o vento começou a tecer ruídos contra as grades, optamos por entrar. Parecia tarde e eu ainda teria o resto da semana pela frente, assim que já era hora de voltar para casa.

Gentilmente — e fofo! — ele se dispôs a descer e me acompanhar, o que não era necessário, pois eram só uns degraus de escada, mas todos sabem que sendo a piada que sou, esses degraus poderiam se transformar em comensais da morte para mim. Não que ele tenha dito qualquer coisa, mas era preciso? Depois de tudo que ele sabe e viu de mim?

Descemos a escada em bom humor, comentando as mais diferentes coisas, especialmente nosso assunto preferido, Friends. Estávamos revigorados e despreocupados.

 

— O episódio que a Monica dança com o peru na cabeça... — Riu, levantando as mãos. — Não tem igual.

— E o episódio do cheesecake? E o do Joey na premiação? Não, é difícil competir. — Gargalhei enquanto procurava a chave no bolso.

 — E o do sanduíche do Ross... Qualquer um já passou por isso alguma vez.

 

Concordei e virei um pouco o corpo, a fim de colocar a chave na maçaneta e um silêncio se instalou entre nós. Nada ruim, mas era um indicativo de que a conversa descontraída passaria para outro tema à seguir.

 

— Adorei o jantar, a maratona e todas as coisas com você. Minha semana só começou e já está incrível. — Deslizou os dedos pelo próprio cabelo liso e escuro.

— É sempre bom passar um tempo com você, Kyle. Você sempre encontra um tempinho para mim e nessa correria toda, me faz sentir especial. — Sorri, mordendo o lábio. Eu deveria ter dito apenas obrigada.

— Você é especial e eu sempre vou ter tempo para você, Anna. — Seu polegar contornou minha bochecha. — Falando nisso, será que podemos jantar fora amanhã? Quinta você vai estar ocupada com os preparativos e sexta é a festa da sua chefe.

— Uau! — Disse, impressionada por ele ter feito minha linha do tempo da semana. — Claro, seria ótimo.

— Perfeito! Saímos às 7?

— Te espero, então.

 

Kyle deu um de seus sorrisos espetaculares e se curvou, segurando meu queixo. Um beijo na porta de casa? Nada mal.

Só que o barulho de alguém rodando um molho de chaves distraiu nossa atenção antes que acontecesse.

Ryan.

Era Ryan no topo da escada.

Não sei se foi impressão minha, mas ele parecia ter desencostado da parede no momento em que olhei para ele. Como se tivesse observando a conversa há certo tempo.

Hashtag Anna paranóica.

 

— Boa noite aos dois. — Tinha o maxilar tenso ao caminhar rumo sua porta.

— Boa noite. Qual é a boa? — Kyle respondeu entusiasmado e eu franzi o cenho. Por favor, não sejam amigos.

— Nada novo, além de um fora que levei e ter trabalhado até tarde. — Me encarou por segundos e logo direcionou seu olhar ao Kyle. — E você?

— Até agora? Uau! Sinto muito pela garota... — Fez uma pausa e acariciou meu braço. — A boa é que vamos jantar amanhã.

— Eu escutei. — Limpou a garganta depois de se denunciar. — Primeiro encontro?

— É uma história engraçada, mas podemos dizer que sim. — Deu uma risadinha.

 

Cocei a ponta do nariz buscando algum tipo de contato com a realidade. Era real. Os dois estavam rindo e conversando na minha frente. Sobre mim. 

 

— E já escolheram o lugar? Conheci esses dias o Balthazar, comida francesa, é ótima! — Ryan cruzou os braços e ergueu as sobrancelhas, empolgado.

— É uma boa! Eu sei onde é. Vamos? — Kyle me olhou e Ryan o acompanhou. — Você gosta?

— Nunca provei. Eu não sei. — Encarei Ryan de volta. — Mas acho que podemos tentar.

 

Se ele estava suficientemente bem para me indicar um ponto de encontro romântico, eu posso aceitar a opção educadamente, certo?  Agora somos amigos ou coisa parecida? Ou Kyle é amigo dele? Grr, perguntas demais e zero respostas.

Os dois se despediram amigavelmente e Kyle subiu as escadas como um relâmpago, com sua boa forma. Ryan colocou a chave na fechadura e só a rodou quando eu fiz o mesmo e quase rolei para dentro de casa, para desviar daquele olhar penetrante que mudou para mais escuro quando meu mais-que-amigo deixou o andar.

Não que eu devesse me preocupar com os pensamentos dele. Não mais. Eu só sei que havia um julgamento por trás daquela capa. Assim como eu o julguei, acredito eu. Acho que quando fazemos algo que interfira na vida do outro, acaba dando o direito de que isso vire um reflexo na sua própria.

O que importa é que acima de tudo estamos refazendo ou progredindo com as nossas vidas depois do que tivemos. 

Simples assim.

Adultos assim.

 

  ••• 

  

O dia seguinte parecia uma chuva de flores para mim. Diane me encarregou de diversas tarefas que desempenhei bem e no prazo, mesmo sem nunca ter feito. Ela, inclusive, me enviou para uma reunião onde eu deveria anotar tudo e dar pequenas sugestões em seu lugar. O que é ótimo, já que consegui encaixar uma entrevista com ela, na próxima edição e eu serei a entrevistadora. Isso não é o máximo? Tão perto do meu sonho...

Voltei para o meu andar com um sorriso que não queria deixar meus lábios e logo localizei Jennifer em minha mesa, se ocupando do meu trabalho cotidiano e Alex em pé, contando qualquer piadinha, porque ela estava dando risadinhas sem parar.

 

— E aquela vez que Roger bebeu todas, começou a cantar o tema do Rambo depois de dizer que se alguém jogasse ovos na sede da Vogue ele daria um aumento, você lembra disso? — Começou a cantarolar e ela confirmou, perdida entre risos. — Será que na festa da Diane vai ter isso ou pior?

— Fecha a boca, grandão. Dá pra ouvir tudo da sala dela. — Apertei seu ombro e despejei algumas pastas na mesa, acenando para Jennifer com a mão, agora, livre.

— Olha só quem se lembrou de trabalhar hoje! Toda arrumada, produzida, nem parece que cai do sofá e tropeça o tempo todo. — Estendeu a mão, para que eu desse uma viradinha. Não vou negar que meu vestido azul me deixou mais confiante. — Você até merece sair comigo um dia desses!

— O dia que eu precisar sair com você, vou me desarrumar de propósito! — Mostrei a língua. — Vocês sabem se tem mais alguma coisa para fazer? Eu queria mesmo sair no horário, hoje.

— Não... — Jennifer respondeu, intercalando o olhar entre Alex e eu. — Pode ir, sortuda. Diane te liberaria de qualquer forma, se você pedisse.

— E mesmo que apareça qualquer coisa, damos um jeito, pode ir. — Alex piscou. — Depois passa em casa e me conta o motivo da pressa.

 

Dei alguns pulinhos e corri para o elevador, antes que mudassem de ideia. A ideia de ter um encontro — fora de casa, dessa vez —, sem estar de coração partido ou bêbada parecia alucinante, mesmo que fosse algo simples. As coisas com Kyle seguiam tão bem e em paz que sair juntos tinha um gosto especial. 

Meu primeiro encontro normal depois de Jonathan. Isso soa até normal demais para qualquer garota. Menos para quem não é normal, como eu.

Talvez Kyle desmarcasse de última hora.

Talvez meu salto quebrasse na porta do restaurante.

E talvez, só talvez... Tudo ficasse bem.

Ajeitei o vestido e a maquiagem em casa e, pontualmente, a campainha tocou.

 

— Cedo demais? — Kyle sorriu e seus lábios se desgrudaram enquanto seus olhos passeavam pelo meu corpo. — Meu Deus, Anna!

— No prazo! — Ri e alisei a barra do vestido. — Obrigada, eu acho.

— Você está linda. Linda! — Ressaltou. — Eu até esqueci que trouxe essas flores. Deveriam ser rosas, mas eu gosto de tulipas e... Acho que você ia gostar de saber disso.

— Tulipas são ótimas e diferentes para um encontro, então obrigada, mais uma vez!

 

Recebi as flores e senti o aroma enquanto ia até a cozinha, colocá-las em um vaso com água. 

 

— Vamos? — Sorri.

 

Caminhamos sem pressa por algumas ruas e eu tratei de gravar as melhores coisas delas na minha mente. Eu ainda sou uma turista em meu próprio bairro e a verdade é que a arquitetura e a forma como todas as coisas se completam por aqui, sempre vai me fascinar. Kyle me mostrou diversos lugares e já fizemos planos para alguns, mesmo sem ter começado o primeiro encontro.

Chegamos ao nosso destino e Ryan parecia ter bom gosto na escolha. É um lugar aconchegante e de baixa luz que torna tudo mais íntimo. Ao mesmo tempo, o ar de padaria francesa torna tudo mais descontraído.

Entramos e escolhemos uma mesa de canto. Meus olhos famintos por civilização adorariam espiar a rua pelo resto da noite.

O garçom dispôs nossos cardápios e Kyle o abriu primeiro, circulando o olhar rapidamente por ele, até que o fechou.

 

— Vamos fazer uma loucura? — Sorriu de lado, bem convidativo.

— O que? — Abaixei as sobrancelhas, confusa e ri.

— Eu quero o último pedido que você recebeu e ela quer o à moda da casa.

— Kyle!

 

Gargalhei e enquanto o garçom anotava o pedido, o mesmo tampouco controlava um sorriso. Kyle era maluco, mas a sua estranheza e diferença eram tudo que eu precisava. Aquele conjunto de manias irreverentes me faziam bem. 

Conversamos sobre coisas do cotidiano ao esperarmos nossa comida surpresa. Várias risadas surgiram, especialmente quando começamos à jogar algo que ele inventou "O que ele(a) está pensando?", o que consiste basicamente em notar pessoas aleatórias e criar uma vida imaginária para elas. O que as pessoas achariam que eu estou pensando agora se também jogassem isso? Que eu estou apaixonada e estamos cumprindo meses de namoro ou somos irmãos? Que eu sou a bilionária ou que vamos fugir sem pagar? Que acabamos de fugir de um manicômio ou apenas estamos vivendo as maluquices de Kyle?

Meu olhar se revezava entre as pessoas na rua, até que havíamos brincado com todas e decidimos procurar por uma história ali mesmo, no restaurante. Meu rosto se moveu de um lado para o outro, até que olhei por cima dos ombros dele, onde haviam mais 6 mesas. Pessoas focadas nos celulares ou casais de mais idade, uma mesa vazia e...

 

— Ryan?


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