O cara da sala ao lado escrita por choosefeelpeace


Capítulo 10
Capítulo 9




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O fim de semana passou se arrastando, mas, aos poucos, meu corpo enfermo dava lugar à uma Anna sadia, novamente. 

No Domingo, Alex me ajudou à consertar o buraco estranho e Kyle — que passou os últimos dias me fazendo curtas visitas para checar meu estado — o ajudou, deixando minha casa menos estranha do que a dona.

Não vi Ryan durante esse tempo. Provavelmente ele estivesse no estúdio ou se divertindo por aí. Tentei não pensar nisso e no meu peito sentindo direito de reivindicar sua ausência, como se me devesse algo. 

Ninguém me deve nada. Eu não devo nada à ninguém.

Esse é meu mantra. Mesmo que ele tenha que ser repetido algumas milhares de vezes.

A semana começou e tudo foi tão melhor para mim! Trabalhos que me deixavam confiante, além de me levar à outros andares do prédio. Conheci muita gente — alguns que eu lembrava o rosto do dia no Sparkles — e minha mente esteve ocupada o tempo todo.

Esse lugar se torna fascinante à medida que caminho por ele. Aprendi coisas e vi coisas. Sem contar na animação geral e nos segredos sobre o aniversário de Diane que será na Sexta. Ainda tenho alguns dias para me preparar e comprar algo especial com um troco que tenho guardado.

Mil papéis em mãos e uma mente ocupada. Era tudo que eu precisava. Estar na Glam e ser parte do que sempre quis é um sonho realizado. É claro que não é o cargo que eu aspirava, mas realmente gosto do que estou fazendo. Isso tudo me faz ser uma nova pessoa e deixar para trás um par de coisas que não deveria mais ter importância.

 

— Anna. Anna, volta aqui! — Alex me gritou de sua sala enquanto passei apressada.

— O que foi? Aconteceu alguma coisa? — Estreitei os olhos, apertando a pilha de papéis contra o corpo.

— Me empresta sua senha do Facebook. — Disse, despreocupado.

— Você tem sua conta, não vou fazer isso. — Ri um pouco.

— Tenho, mas não consigo ver o perfil porque fui bloqueado! Anda, Anna, quem é a melhor pessoa que eu conheço? Você!

— Se você me meter em problema com as suas mulheres, vou te matar. É iwantahouse123. Não adiciona ninguém, só espia!

— Que senha é essa? — Gargalhou ao digitar. — Tarde demais, já enviei a solicitação.

 

Revirei os olhos e contornei a mesa para observar o que tanto ele queria, afinal. Adicionar uma garota com namorado que o bloqueou na conta pessoal ou qualquer coisa assim. Se tem uma coisa que aprendi nesse pouco tempo é que Alex é um teimoso e que não precisa de conselhos, nem desiste de algo tão facilmente. Ele é como uma planta que você rega algumas vezes e ela fica perfeitamente bem sem bajulação.

Não entendo de plantas. Nem de homens. 

Acompanhei sua conversa por um curto tempo, decidindo voltar para o meu trabalho quando outra conversa se abriu no meu perfil.

 

Jonathan Mayers

Ei! Passei pra saber como você está... 

 

Meus olhos poderiam furar a tela quando li aquele nome e vi seu sorriso na foto de perfil. Quão canalha Jonathan pode ser? Será que ele não tem a menor cara de pau? O que interessa para ele saber de mim, depois de tudo?

Mil vezes cretino.

 

— Ih, quem é esse cara? Quer responder? — A expressão de Alex estava confusa, tentando me ler.

— Meu ex. Não quero responder, não quero nada com ele. Pode excluir.

— Excluir? Tem certeza?

— Eu tenho certeza que posso excluir um cara que me excluiu da vida dele faltando semanas para o casamento. Estou bem certa de que posso fazer isso. Nunca estive tão certa!

— Que nervosinha! — Brincou, mas sua expressão se fechou. —  Se eu visse esse cara, excluiria a existência dele do mundo... 

 

Eu deveria dizer obrigada ou apenas sorrir, mas meu sangue borbulhava e meus músculos estavam rígidos demais para isso, então apenas o deixei conversar com quem quisesse e marchei rumo à minha mesa.

Por que as pessoas fingem que se importam? Por que algumas pessoas não deixam apenas as outras seguirem em frente? Por que quando você finalmente consegue superar ou está perto, algo aparece para te lembrar daquilo?

Sei que deveria tê-lo excluído antes, mas tudo foi tão rápido que entre me mudar e entrar na empresa, poucas vezes usei minhas redes sociais. Até porque algumas postagens seriam sobre a pobre garota abandonada e eu não queria criar minha reputação através disso. Em New York sou apenas Anna e poucas pessoas aqui sabem meu passado. Nenhuma delas liga.

Toda aquela falsidade me deu nos nervos e quando meu celular vibrou, pensando que poderia ser Jonathan e sua insistência quase o atirei na parede. 

Não era. Por toda a sorte que eu podia ter, não era.

 

Kyle:

Saudades de você... Sei que é dia de trabalho, mas você vai precisar jantar, então... Às 7 aqui em casa? Beijos 15h49

 

Com o nervosismo que me colocaram, não fazia a menor ideia do que responder e possivelmente seria grossa sem que o fofo do Kyle merecesse. Talvez, sim, eu quisesse jantar com ele e manter algo legal. Sua companhia é leve e agradável, mas minha cabeça parecia ver apenas Jonathan.

Jonathan e sua canalhice.

Jonathan e sua falsa preocupação repentina.

Jonathan, Jonathan e Jonathan.

Argh.

Ao dar atenção para o celular enquanto caminhava rapidamente pelo andar, a má combinação fez com que meu sapato prendesse em um fio de algum eletrônico que ia até o estúdio principal no fim do corredor e a pilha de papel se estendesse por todo o chão. Junto com quem os segurava. Caí de joelhos.

Alex estava ocupado demais para notar o barulho que fiz e antes que ele o fizesse, comecei à organizar e pegar tudo sozinha. Agora agradeço por todo mundo ter sua própria sala e não ter visto meu desastre. 

Ou não.

 

— Mas você desapareceu!

 

A voz vinha da sala de Ryan. Ele respondeu.

 

— Eu sumi esses dias. Tinha coisas para resolver!

— Seline pensou que tinha a ver com o beijo que te deu...

 

O quê?

 

— O quê? — Disse, em voz alta ao terminar e levantar com os papéis em mãos.

Você ouviu isso? — A garota disse baixo.

 

A porta se abriu e antes que nossos olhares se cruzassem, comecei à andar, sem olhar para trás. Senti os passos nas minhas costas e ele chamar meu nome, o que ignorei completamente. Minha mesa se aproximava e eu parecia estar segura quando sua mão agarrou meu pulso.

 

— Anna! Eu sei que você ouviu e está me ouvindo agora. Olha para mim. — Sua fala era apressada, mas muito decidida.

— O que você quer? — Virei para ele, puxando meu pulso de volta.

— Sobre Seline, eu...

— Não precisa me dar explicações, ouvi sem querer. — Interrompi.

— Você estava doente e eu falhei com você, só quero que saiba que não foi por isso. Nem pelo beijo, sei que mulheres pensariam isso diretamente. — Seu maxilar estava tenso.

— Que parte você não entendeu, Ryan? Não quero saber sobre esse beijo! E você não é meu pai, não precisava mesmo se preocupar com meu fim de semana enquanto sequer estava no seu apartamento e estava quem sabe onde beijando pessoas. Como vê, estou ótima! 

— Sim, você tem toda razão. Você não merece saber sobre esse beijo porque já está com outro cara, mas eu queria que soubesse por mim que eu não provoquei ou quis esse beijo.

— Mas aceitou mesmo sem querer? Oh, pobre Ryan! — Ironizei totalmente a situação. — Aposto que se as pessoas descobrirem e te interrogarem sobre o que houve sobre nós, ou melhor, se a Seline fizer isso, você vai dizer o mesmo.

— O que você tem hoje? — Suas sobrancelhas se fundiram.

 

E ele tinha razão, eu estava fora de mim.

 

— Estou cansada de homens. É bem simples. Cansada das mentiras de vocês, das desculpas, da forma que sempre querem escapar do que fazem culpando as mulheres. Vocês são absurdos. E uns idiotas! — Suspirei irritada enquanto ele não dizia nada. — Nem sei porque estamos tendo essa discussão como se fossemos namorados ou casados há anos. Não faz o menor sentido.

— Faz. E só faz porque você se importa e eu me importo com que você se importe. Mesmo que essa frase tenha saído péssima, é isso que está acontecendo aqui. — Disse, todo seguro de que estava certo.

— Eu. Não. Me. Importo. Prefere mais devagar?

— Seus olhos dizem o contrário.

— Se você se importa tanto... — Passei os dedos pelo cabelo, organizando as ideias. — Diga à garota que foi só um beijo, mas que prefere se distanciar na parte pessoal. Sem ela me rebaixando diariamente quando vem te visitar, sim, eu ficaria feliz.

 

O olhar de Ryan caiu ao chão, como se eu tivesse lhe dado uma sentença de morte.

Eu havia pedido demais e não tinha a menor intimidade para isso. Tão estúpida.

 

— Eu não posso fazer isso. — Sacudiu a cabeça.

— Por que? — A pergunta saiu com som de desistência.

— Porque ela tem algo que preciso. Simplesmente não posso me afastar, não conseguiria.

— Então pare de fingir se preocupar comigo. Exatamente como todos estão fazendo hoje.

— Sinto muito, Anna. Um dia você vai entender.

 

Confirmei com a cabeça, sinalizando que tudo estava bem, mesmo que nada estivesse. Ver como ele se dividia entre me dar explicações e se segurar naquela garota insuportável me partia em duas. 

Ao mesmo tempo que os olhos de Ryan me mostram que eu sou importante, os mesmos se escurecem e voltam ao seu costume, vida fácil. À coisas mais lindas e fortes, menos bagunçadas e quebradas como eu.

Ele não podia lidar comigo e com o que quer que fosse, naquele momento.

É isso. Além do que Seline possa oferecer e indicar para ele, existe algo maior do que nós duas nessa história toda. Algo que também o quebrou. E pela sua expressão, o quebrou mil vezes mais do que eu estava.

Ryan tem um segredo.

Não tenho a menor ideia o que ele queria dizer sobre que um dia eu fosse entender. O que é preciso para que ele me fale o que é? Talvez esse dia nunca nem mesmo chegue.

E eu tenho que lidar com a ideia de que ele optou por ter a garota em sua vida, seja da maneira que for. Com ela aqui, não há um lugar para mim. Sempre vou perder.

Perdemos segundos nos olhando enquanto eu me perdia em pensamentos, mergulhada no escuro de seus olhos, mas precisávamos sair daquilo de uma vez.

Olhei sobre seus ombros e a garota estava na porta, provavelmente esperando para darem continuidade na conversa ao passo que uma voz chamou por mim.

 

— Anna,  preciso que transcreva a entrevista por vídeo que vou começar agora. Você tem até às cinco para ter tudo pronto. Venha! — Era Diane, me apressando antes de entrar de volta para a sua sala.

— Claro! Estou indo! — Acenei para ela e depositei os papéis em minha mesa. Ryan seguia me encarando. — Preciso ir. Boa tarde.

— Boa tarde e boa sorte.

 

Peguei meu celular sobre a pilha, meio que automaticamente e enquanto caminhava o revisei, encarando a mensagem de Kyle mais uma vez. 

Tudo parece mais claro para mim, agora. Preciso me libertar dos fantasmas que tentaram me puxar para o passado, hoje. Preciso esquecer as sensações contraditórias que tenho sempre que Ryan encontra um lugar na minha vida.

Preciso esquecer de todos para me lembrar de mim.

 E o que eu quero? Ser feliz. O que eu busco? Um momento de paz.

O que eu procuro não está nas mãos de um homem ou uma mulher, mas sim de momentos. Preciso criar um momento bom. Depois outro. E outro.

Paro na porta de Diane e leio a mensagem mais uma vez. Sorrio no fim.

 

Anna:

Ansiosa por uma boa comida e maratona de Friends, te vejo mais tarde, beijos! 16h01

 

Ao que ele respondeu imediatamente.

 

Kyle:

Comida e Friends? Joey não divide comida, mas estamos ansiosos por te ver mais tarde 16h02

 

Trabalho e Kyle.

Sonho e paz.

Posso me acostumar com isso.


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