Angels or demons escrita por Aline


Capítulo 3
Prisão infernal


Notas iniciais do capítulo

Obrigado pelos comentários, li todos com um sorriso no rosto, valeu mesmo.
A você que ainda não comentou.. comenta vai?
Espero que gostem, até lá embaixo.
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— O que é que um anjo das Dominações deseja de mim? – Nickolas, era assim que o demônio se chamava, questionou, atirando-se, sem preocupação, para um cadeirão de cabedal negro.

Da primeira vez que o vira, talvez, devido à distância, não me apercebera da exata perfeição das suas feições, do seu nariz direito, dos lábios bem desenhados e curvados num sorriso sarcástico, das sobrancelhas inquiridoras e insolentes.

— Vim em missão de paz – declarou Anthonny.

— “Paz” – corrigiu o demônio, fazendo o símbolo das aspas com os dedos.

— Paz – insistiu o anjo.

— Continue – pressionou Nickolas, com visível impaciência.

— Trouxe uma oferenda – Anthonny fez sinal para que me levantasse. – Como prova da nossa boa-fé. Essa é Gabriella.

Engoli em seco e, com as pernas a tremer, fiz o que ele me pedia. Fui assustada por uma gargalhada que ecoou pela sala, uma gargalhada seca e sem qualquer sentimento.

— Fé? Esse não está preso, com os outros? – o demônio interrompeu o seu discurso para olhar para mim.

O seu olhar tomou uma tonalidade verde-escura e observativa. Segui os seus olhos pelas pontas dos meus pés, subindo pelas minhas pernas, pelo meu estômago, peito, pescoço e, finalmente, parando no meu rosto e nos meus cabelos revoltos.

As suas feições mantiveram-se numa máscara, sem qualquer rasto de emoção que não fosse tédio. – Não a quero.

Uma onda de alívio espalhou-se pelo meu corpo.

Os meus músculos começaram a relaxar e até me dei ao luxo de fechar os olhos por um momento, apenas para descansar as pálpebras. Quando os abri, olhei para Anthonny e sorri, num pedido silencioso para ir embora. Doeu vê-lo ignorar-me e fitar ) com uma atenção redobrada.

— Consideraremos tal ação como um insulto, Guardião, portanto, é melhor reconsiderar.

O demônio deu outra gargalhada como a primeira.

— E acham que me importo? Não quero saber de vocês, nem dos humanos, especialmente dos humanos. Não tenho servos humanos. São fracos, lentos, possuem vidas curtas e têm a estranha tendência de se apegarem às coisas e aos outros. Não me servem para nada.

— Nem para alimentação?

O meu coração passou uma batida em falso e olhei, novamente, para Anthonny, pedindo uma explicação. Era suposto estar do meu lado. O que estava fazendo?

— Alguns nem para isso – declarou Nickolas. – Sabe,Anthonny, para um demônio conseguir alimentar-se convenientemente de um humano, este deve de possuir uma característica muito importante que o torna tão puro que quase que se aproxima daquele poder que vos alimenta e que nos alimentou a nós, um dia.

— Está falando do nosso Senhor – interrompeu Anthonny, irritado.

— Depende do que quiser acreditar. Continuando, bem, essa característica… Pelo modo como esta humanazinha olha para você, como se você próprio fosse o tal senhor que proclama, me leva a crer que ela não a possui.

— Ela é virgem.

O anjo nem pestanejou. Então, por isso é que me haviam escolhido? Por ser virgem? E não era suposto Anthonny me defender? O que se estava passando? Começava a sentir que o mundo todo estava contra mim. Uma pressão no peito ameaçava transformar-se em choro e eu não queria ser assim. Queria ser forte para enfrentar aquilo, para enfrentar todos.

— Virgem, ah? – vi o demônio fazer uma nova avaliação de mim. – Devia ter adivinhado, pelo vestido. Fontes!

Enquanto eu me perguntava o que estava errado com o meu vestido, o demônio que nos abrira a porta entrou na sala e prostrou-se na frente dele.

— Chamou, senhor?

— Como estamos de mantimentos?

— Será necessário abastecer daqui a pouco tempo, senhor.

O demônio pareceu meditar sobre a situação. Olhou-me, tão fixamente como da primeira vez, o que fez todo o meu interior se revolver. Colocou uma mão no queixo e assumiu uma expressão pensativa, como se pesasse os prós e os contras, como se estudasse as suas próprias probabilidades, como eu fizera, na noite anterior.

— Muito bem, criatura de Deus. Aceito a vossa oferta.

Mesmo com o seu olhar sobre o meu, gelei. Ele aceitara. Depois de tudo o que dissera, aceitara. Não. Não. Não. Não queria. Queria voltar para casa. Queria ir embora!

Anthonny se levantou e estendeu a mão ao meu novo dono. Dono, patrão, senhor, amo.

— Todos somos criaturas de Deus. Espero que esta seja o início de uma longa amizade – o anjo disse.

— Não contes com isso. Você me deu um presente e eu aceitei-o. Ficamos por aí. Não sinto qualquer vontade de retribuir. Agora, com licença. Tenho uma casa para mostrar a minha nova serva.

Uma mão possessiva apoderou-se do fundo das minhas costas e pressionou com alguma força, me fazendo segui-lo em direção à porta. Não tentei olhar para Anthonny. Ele me traíra, contudo, olhar para o demônio que me conduzia escadas acima não era nem um pouco melhor. O seu odor me entorpecia e eu tinha plena consciência de que, se ele olhasse nos meus olhos e ordenasse o que quer que fosse, eu faria, sem pestanejar. Porquê? Não sei.

— Vai dormir aqui, quando eu o permitir – disse ele e abriu uma porta de madeira escura e muito trabalhada, que nos levou para um quarto muito maior do que aqueles a que estava habituada, maior, até, do que o de Anthonny, maior do que a junção dos espaços de todos os seus criados. Tinha uma enorme cama de dossel, no centro, e alguma mobília simples mas com um aspeto muito mais antigo e requintado do que qualquer peça da minha antiga casa.

Olhei para o meu novo senhor, querendo lhe perguntar o porquê de me estarem a ser atribuídos tais aposentos.

— É o quarto mais próximo do meu. Posso precisar de você a qualquer momento – ele explicou, como se fosse óbvio e como se conseguisse ler meus pensamentos. – Agora, me siga. Preciso descansar – entrou por uma porta que eu ainda não tinha visto e, indo atrás dele, me vi dentro de um armário, um closet, com roupa de tons escuros e neutros de ambos os lados. O demônio não parou. Saiu pela porta contrária àquela por onde entráramos e passou para um quarto com, aparentemente, o mesmo tamanho daquele que era, agora, meu, e com o mesmo tipo de mobília. – Posso chamar você a qualquer hora, do dia ou da noite, e, quando o fizer, tem de vir, imediatamente, não interessa onde estiver ou o que estiver a fazer, compreende?

Assenti, sem falar.

— Feche as cortinas.

Franzi as sobrancelhas à sua ordem mas não o questionei e me apressei a cumprir o que ordenara. Depois de correr os dois pares de cortinas das janelas, me virei para o meu novo senhor e encontrei a sua camisa totalmente aberta e as suas mãos à volta do cinto das suas calças.

Aquela era a primeira vez que via o tronco de um homem – bem, de um demônio, mas sabia que, anatomicamente, anjos, demônios e humanos eram semelhantes. Os anjos eram muito pudicos em relação à nudez. Não consegui resistir a observar a tensão dos músculos do seu peito e as ondas suaves que apareciam na zona da sua barriga.

A ideia dele tentar algo comigo passou pela minha cabeça mas saiu com a mesma velocidade com que entrara. Sabia que não faria nada. Precisava de mim pura, além de que, provavelmente, não era do tipo de utilizar humanas. Se nem sequer serviam para suas escravas, como poderia servir para outra coisa?

— Tire isto – ele ordenou, fazendo um gesto com os ombros que fez com que a camisa escorregasse ligeiramente para baixo.

Me posicionei atrás dele e coloquei as mãos nos seus ombros, deslizando o tecido para baixo, ficando com ele nas mãos e Nickolas com as costas descobertas. Eram bonitas, eu suponha. Musculosas mas com omoplatas salientes, como se servissem de apoio para as mãos de alguém, quando era abraçado pela frente. Uma marca negra, um desenho, como uma tatuagem, ocupava grande destaque e espaço no seu corpo. Asas, abertas.

— Todos vocês têm isto? – questionei.

Ele olhou por cima do ombro, para ver do que é que eu falava.

— Alguns em preto, outros em branco. Algumas maiores, outras mais pequenas.

— As suas são enormes – me lembrei do dia em que o vira, durante a luta.

— Porque fui um Querubim.

Os Querubins eram a segunda classe de anjos mais poderosa, logo a seguir aos Serafins. Dizia-se que guardavam o jardim do Éden e que Lúcifer fora um deles.

— Oh…

Quase caí na tentação de lhe perguntar o porquê de ter abandonado o paraíso e traído o Senhor, mas, mesmo antes de o fazer, ele atirou as calças que vestia para os meus braços.

— O que é que vai fazer comigo? – questionei, com medo e com curiosidade. Tendo nascido e crescido sob a alçada de Anthonny, sempre foi bastante óbvio o meu papel na sua casa. E ali? O que faria? Como seria?

Ele se aproximou de mim, muito mesmo, fazendo-me recuar até bater com as costas na parede mais próxima. O seu olhar era aterrador, de um verde-esmeralda tão escuro que me fazia lembrar os confins do inferno. Aquele ardor familiar quando ele estava presente voltou, com toda a força da primeira vez que o vira e com tudo incluído: pernas a fraquejar, cabeça à roda. O seu cheiro estava por todo o lado: nele, do quarto, nas roupas que eu segurava. Encostou a mão na parede, à altura da minha cabeça, me deixando aprisionada. Tudo o que ele era e tudo o que representava estavam apontados numa única direção: eu, mais concretamente, em me intimidar.

Mesmo praticamente sem roupa, a sua presença possuía mais poder do que qualquer outra pessoa que eu alguma vez conhecera. Compreendia agora o porquê de anjos e demônios lhe obedeceram. Era aterrador e, ao mesmo tempo, emocionante.

— Vou fazer o que quiser – ele sussurrou, numa voz mais enrouquecida e íntima. – Vou fazer o que quiser com você e você não vai poder dizer que não porque, agora, você é minha. Não te interessa saber o que te vai acontecer porque não vai conseguir mudar nada. Quem manda sou eu. Se quiser que você limpe o meu quarto, limpará. Se me quiser alimentar de você, alimentar-me-ei. Se quiser você nua de baixo de mim, terei. Não sei como eram as coisas na casa do anjo mas aqui, humanazinha, é sempre a minha vez de jogar, compreende? – não continuou a falar enquanto não fiz um aceno trémulo com a cabeça. – E responde, quando falo com você. “Sim, senhor” ou “sim, Guardião” está bem para mim. Percebeu?

Voltei a assentir com a cabeça. Em resposta, o demônio aproximou mais o corpo do meu, passando a me tocar.

— Sim, Guardião – murmurei, em voz fraca.

— Assim está melhor – imediatamente, se afastou, andando até à cama e se sentando. – Não vale a pena lutar. Não vai mudar nada – se deitou e e se virou de costas, me mostrando as asas desenhadas. – Agora, saia. Procure a Eliel.

Respirei fundo numa tentativa de ganhar forças para fugir daquele quarto. A sua presença me abalava. Possuía um poder distinto, eletrizante, talvez por ser o guardião da luxúria. Nunca sentira os efeitos dela mas, tinha a certeza, deviam ser parecidos com aquilo que ele fazia. Me desencostei da parede, com alguma dificuldade, e arrastei os pés até à porta do armário, daí, passei para o meu quarto. Me senti obrigada a sentar na cama, durante uns minutos, antes de sair à descoberta daquela casa e da tal Eliel.

Algo me dizia que viver ali, com aquela gente, com ele, não seria fácil. Nessa prisão infernal, literalmente.


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Notas finais do capítulo

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Olha.. foi difícil achar um cueca que parecesse com o Nickolas. Gastei um bom tempo procurando.
Comenta ai o que achou.
Beijão anjinhas, um abraço demôniozinhos. Nos vemos amanhã!



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