Angels or demons escrita por Aline


Capítulo 26
O fim


Notas iniciais do capítulo

Oláááá. A história está acabando... :(
Falta mais dois capítulos. Então sua hora de deixar de ser leitor fantasma chegou hem!
Próximo capítulo quinta!
Boa leitura :)



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Nickolas's POV

Fechar aquela porta foi das coisas mais difíceis que fiz em toda minha vida, mas se aquela era a única maneira de a manter viva, então que fosse. Ainda tentava fazer com que minha cabeça e, acima de tudo, meu coração, compreendesse que nunca mais a veria. Nunca mais. Que transtorno que aquela humana fizera em meu patético mundo.

— Você está bem? - perguntou Anael.

Respirei fundo e desencostei a porta. Assenti.

— Sabe que não poderá fazer aquilo que prometeu, não sabe? - inquiri.

— Sei, mas se isso a deixa mais aliviada, então me chame de mentiroso. Não usarei esse título por muito tempo, de qualquer forma.

Batei nas costas de Anael e começamos a subir as escadas.

— Pronto para morrer? - questionei.

— Pergunta errada. A correta seria: pronto para sobreviver ao apocalipse e salvar a humanidade?

— Ainda tem esperanças?

— Mais demônios chegaram. Se dizem não terem dono. Mas creio que foi Lúcifer que os mandou.

— Ótimo. Já era hora de mostrar que liga para os acontecimentos.

Encontrei os anjos, demônios e humanos, todos já armados e prontos.

Começou.

Gabrielle's POV

Não sabia dizer quanto tempo já havia passado. Como é que era suposto saber, quando os dias não passavam no inferno e eu nem sequer tinha um relógio. Estava sentada num canto, junto à porta, com um Ari encostado, dormindo em minhas pernas. Como é que ele conseguia dormir? Acho que era o bom de ser criança.

O que se estaria passando lá em cima? Será que já estava tudo acabado? Será que alguém sobrevivera? Nickolas não dissera que me viria buscar, quando tudo acabasse, o que me levava a crer que ele não acreditava em sua sobrevivência, mas eu sim. Eu sim. Eu acreditava com todas as minhas forças e não conseguia parar de pensar nele e de rezar a Deus para que o protegesse e o ajudasse, como já fizera antes, e com sucesso. Por que é que tinha de ser o herói? Ele nunca fora o herói. Ele era mau e arrogante e um demônio, não era suposto ser o herói.

Anthonny que fosse o herói, ele que era o anjo, o salvador, não Nickolas. Nickolas devia ser egoísta. Devia ser egoísta e estar ali comigo, naquele momento, enquanto esperávamos que o mundo acabasse e se recompusesse. Era assim que devia ser. Onde estava ele?

Onde estavam todos eles? O inferno estava vazio, totalmente vazio. Eu tinha problemas em ver, ali devido à cor, mas depois de algum tempo, meus olhos foram se adaptando e conseguia afirmar, com certeza, que não se encontrava nem um demônio no inferno. Nenhum. Estavam todos lá em cima, lutando pelo mundo, pela sobrevivência, enquanto eu estava ali, escondida. Até os demônios arriscavam a vida pela continuação do mundo e eu, uma humana, um membro da raça que mais tinha a perder com tudo aquilo, estava ali, em segurança, como uma covarde. O que era eu afinal?

Foi então, que tive uma epifania. Por que é que eu deveria sobreviver quando todos os outros morreriam? Para ser a única mulher no mundo? Totalmente sozinha com uma criança?

Olhei para Ari.

Não, ele precisava de alguém para tomar conta dele. Nunca sobriveria sozinho, ainda mais no inferno. Não podia ser assim tão egoísta.

Ele se moveu e esfregou os olhos. Ficou quieto, durante uns segundos, até que me encarou.

— Podemos ir lá pra cima. - ele disse, numa voz fina que, provavelmente, num ninguém ouvira antes de mim.

— Você... Está falando...

Ele me encarou, com aquela expressão tão adulta e intensa dele. Todo ele era tão adulto, como se fosse uma alma velha colocada dentro de um corpo jovem.

— Já acabou. Podemos ir lá para cima. - repetiu.

— Acabou? Como assim? Já? Como é que eles estão? - questionei, segurando suas mãos.

Ele não respondeu, se limitou a levantar e ir até a porta. Com um puxão, a abriu.

Era o momento para encarar a realidade.

Minhas pernas tremiam, enquanto subíamos as escadas, de mãos dadas. Parecia tudo igual, pelo menos ali dentro. A casa estava intacta. Talvez, tudo estivesse bem. Imaginações férteis com fenômenos climáticos estranhos. Talvez fosse isso. Comecei tendo esperança, contudo, não via ninguém. Não estava ninguém ali. Isso fazia minha garganta apertar. E se... Estivessem todos mortos? Se já tivesse acontecido tudo e...

Ari puxou minha mão para fora da casa e tive que cobrir os olhos com a mão. Já não era escuro, muito pelo contrário, parecia manhã uma luminosa manhã de verão. Quando minha visão já se tinha adaptado à luz, observei o que se passava à minha volta. Tudo estava intacto: todos os edifícios, todas as árvores. Tudo parecia igual ao que estava antes de entrar no inferno.

— Parece que nada aconteceu.

Ari fez sinal para um movimento, à nossa esquerda.

— Está ali alguém! - corri para o local onde parecia que alguém fazia algum esforço para se levantar ou, pelo menos, para se mover. Era Joshua, deitado no chão, com os olhos fechados devido à luminosidade. — Joshua! Você está bem? O que aconteceu? Já passou? - me ajoelhei junto a ele e coloquei a mão em sua testa. Parecia bem. Ari se juntou a mim.

— Gabrielle? Você está bem? - ele tossiu. — Claro que está bem. É humana.

— O que é que aconteceu? Já acabou? Onde está o Nickolas?

Ele tomou o seu tempo para se endireitar e sentar. Apesar de parecer bem, havia uma sombra estranha e seus olhos.

— O perigo passou, mas o mundo não acabou. Sobrevivemos. Ele existe!

— O quê? Me explique o que aconteceu!

— Os Cavaleiros chegaram e se encontraram, mas nem sequer se enfrentaram. - parecia perdido em suas próprias memórias. — Não precisamos de fazer nada. Estava prestes a começar a batalha quando uma luz muito forte, ainda mais do que esta, apareceu e invadiu todo o céu. Não conseguimos ver nada. Apenas ouvir. Havia uma voz, uma voz que disse que tinha de fazer algo que intervir ou seus filhos estariam perdidos. Então, afirmou que queria uma tábua rasa. Nem bom, nem mau, apenas... - olhou para mim, com pesar. — Apenas humano.

Um arrepio atravessou minha coluna.

— O que é que isso quer dizer? - perguntei, com medo, mas tendo a necessidade de saber.

— Eu ache, o que quer que fosse aquela luz e aquela voz, destruiu os anjos. - fez uma pausa. — E os demônios.

— O quê? - levantei-me. — Não pode ser...

— Olhe à sua volta.

Olhei. Movimentos começavam se espalhando, movimentos de corpos se levantando. Corpos sem asas, corpos que eu reconhecia como serem humanos.

— Não... Nickolas. Onde é que ele está? - comecei andar de um lado para o outro, sem qualquer sentido ou direção, apenas tentando encontrá-lo, tentando provar que ele estava ali, em algum lugar, vivo e prestes a se levantar e a me abraçar e a me dizer, com aquele tom de voz sério: Nunca ouve nada do que eu digo, porque é que não ficou onde eu mandei?

Tinha de estar ali. Tinha de estar.

Mas não estava. Durante horas vageei pelas ruas da cidade, o procurando. Não o encontrei. Nem a ele, nem a qualquer outro demônio. Nem Nickolas, nem Anael, nem Yeres, ou Fontes ou Eliel. Nem sequer um anjo, nem sequer Anthonny. Nada. Enquanto caminhava sozinha, via gente se erguendo e, sempre que isso acontecia, corria para lá, com um pouquinho de esperança que era imediatamente destruído no momento em que não reconhecia ninguém que me interessava, mo momento em que não reconhecia Nickolas. Onde é que ele estava? No vazio? Será que o vazio existia mesmo? Talvez, talvez tivesse voltado ao inferno. Todos eles, talvez. Era isso. Corri de volta para casa. Caí, algumas vezes, e tive que parar outras tantas, porque a distância parecia maior do que caminho de ida. Já tinha escurecido.

— Gabrielle? - Joshua estava à porta, ajudando uma mulher que tinha caído de maneira errada, ao que parecia. — Ainda bem que voltou. Começava a ficar preocupado.

Não lhe dei atenção. Entrei em casa e desci as escadas. Tropecei a meio e fui rebolando até o fim. Minhas costas doíam, mas não foi por isso que me deixei cair no chão. Levantei e segurei a maçaneta da porta. Empurrei e ela abriu.

Nada. Entrei e a única coisa que encontrei foi madeira e uma cave pequena e escura. O inferno desaparecera. Não havia nada ali. O único vestígio do que aquilo fora um dia, era o cheiro intenso de queimado e especiarias. A canela. Cheirei canela em toda a casa. Como é que nunca antes me apercebera do modo como o cheiro de Nickolas estava espalhado por toda a propriedade? Eles estava em todo o lado e, ao mesmo tempo, em lado algum. Ele se fora. Para sempre.

Encostada à parede, escorreguei até o chão e as palavras de Joshua, finalmente fizeram sentido em minha cabeça. Uma tábua rasa. Nada de bom, ou de mau, apenas humano. Nada de anjos, ou demônios, apenas pessoas. Nickolas estava morto. Desaparecera.

Mas ele não era mau! Se revoltou uma voz em minha cabeça. Ele não era mau, nem bom, era parte das duas. Era quase humano. Quase.

O que era suposto eu fazer a partir dali?

Me vieram à memória momentos com ele: quando o vira pela primeira vez, as sensações que me nunca deixara de me provocar e que levaram tanto tempo até que eu me habituasse a elas, nosso primeiro beijo, a ida ao inferno, quando me salvara de Beijamin, como fizeram amor comigo depois de me ir buscar a casa do Avaritia, como se deixara torturar pelos humanos e a dor que eu sentira. Nada se comparava ao que sentia naquele momento.

Olhei para o anel que tinha no dedo. Nickolas queria que aquilo significasse ter uma pequena parte dele sempre comigo. Talvez fosse isso que significasse, que ele nunca me abandonaria, onde que que o vazio fosse.

Apoiei a cabeça nos joelhos e abracei as pernas. E chorei.


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Notas finais do capítulo

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