Angels or demons escrita por Aline


Capítulo 18
Grandes perdas


Notas iniciais do capítulo

Olá lindões! Bem-vindos a mais um capítulo! Saiu um pouco antes porque consegui escrever e aditar tudo ontem. Espero que comentem o que acharam, COMENTEM!
PRÓXIMO CAPÍTULO: TERÇA!
Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/710900/chapter/18

— Bom dia, Gabrielle - Anthonny abriu a porta de minha clausura e entrou com uma bandeja de comida. — Como se sente hoje?

— Claustrofóbica - respondi, com um sorriso falso.

— Como o tempo, vai acabar por se habituar - afirmou, pousando a bandeja na cama. Tinha um prato com torradas, talheres, uma caneca de metal com leite a fumegar e - o pior de tudo - uma flor de pétalas grandes cujo nome desconhecia. Nunca me interessara muito por botânica.

— Eu vou sair daqui.

O anjo assumiu uma expressão de falsa compaixão.

— E quem é que vem buscar você? O seu demônio? - sentado-se junto a mim, pegou minha mão nas suas. Tetei afasta-las, mas não deixou. — Infelismente, tenho o dever de informar você que isso não vai acontecer, já que ele está demasiado ocupado com o novo rabo de saias da zona. Uma demônio, como ele. Uma Guardiã muito sensual, por sinal. - aproximou sua face da minha e fez um sorriso vitorioso.

— Não acredito em você! - atirei, rispidamente, tirando a mão do meio das dele, desta vez com sucesso.

— Os anjos não mentem, Gabrielle - declarou. — Já deveria estar esperando que algo assim acontecesse, afinal ele é um demônio. - baixou a voz nas palavras seguintes. — Ele nem sequer veio à sua procura. Nem uma única vez.

Senti uma lâmina fina, mas grande, se espetar em meu peito e perfurar as várias camadas de pele e músculo até chegar ao coração, onde se cravou e girou, rasgando tudo à sua volta. O meu estômago se remexeu e pensei que fosse vomitar. As lágrimas começaram a desejar sair, talvez mais do que eu própria desejava abandonar aquele local.

O som do ferrolho a ser corrido me alertou para a saída de Anthonny e foi essa a única autorização que precisei para levar as mãos aos cabelos e puxar.

Gritei, mais alto do que gostava. Libertei o sofrimento que sentia pelos olhos e pela dor que causava no couro cabeludo.

Raiva. O que passava por mim era, acima de tudo, raiva. Ódio. Sentia-me suja e usada. Tudo parecia estar a correr tão bem! Aqueles momentos dormindo encostada em Nickolas, no conforto de seus braços ou, pouco antes, quando me confessara sua história.

Era tudo falso. Tudo incrivelmente falso, e eu patética, acreditara em tudo. Acreditara nele, acreditara que, no fundo, ele poderia ser bom e até gostar um pouco de mim, nem que fosse só um pouco.

Usara sua história para me convencer que tivera razão para escolher o inferno, para trair o Senhor. Dizia que os anjos Serafins lhe haviam mentido. Que burra! Todo mundo sabia que os anjos não mentem! Contudo, ele mesmo admitira mentir sobre mulheres, enquanto anjo. Por que inventar isso?

Começava a ficar confusa. Meu lado racional dizia que era tudo falso, que era tudo mentira dele, mas meu coração gritava que os anjos mentiam e que o que eu sentia, nossa história, o pouco que já vivêramos e tudo o que ainda podíamos viver, tudo isso merecia que eu não tivesse dúvidas, que lutasse pela verdade, que não desistisse.

O brilho da caneca de metal entrou em meu campo de visão e se mostrou mais sedutor do que o que seria normal. Observei o ferrolho com atenção e, depois novamente a caneca.

Sim, talvez houvesse uma hipótese.

Peguei na caneca e me levantei, indo até à porta. O ferrolho estava localizado na parte de dentro, contudo, a maçaneta estava do lado de fora, travada de algum modo. Se conseguisse desprender aquele meio aro de metal preso na parede que segurava o ferrolho e mantinha a porta fechada, talvez conseguisse sair dali.

Num impulso, despejei o conteúdo da caneca no chão e bati com ela contra o aro. Estremeceu, mas não cedeu. Tentei mais uma vez e outra, e mais outra, até que um fos lados da alça da caneca se soltou e o aro pareceu começar a ceder. Usando a alça com alavanca, forcei o metal. Reuni toda a minha força, precisava sair dali.

Deus ouviu minhas preces, como sempre fazia, porque não muito tempo depois, a porta se abriu na minha frente.

 

Nickolas's POV

As palavras de Anael haviam feito curto-circuito em minha cabeça, abrindo brechas que, simplesmente não conseguia ou não desejava fechar.

Enquanto fazia, mais uma vez, o caminho até a casa do anjo, a possibilidade de Anael estar errado e eu estar prestes a passar a maior vergonha de minha existência passava por mim, contudo, não ficava ou me comovia. Percebi que não me importava de correr esse risco, se a outra possibilidade fosse ela voltar para mim, seríamos felizes.

Ser feliz. Mas o que era, verdadeiramente, ser feliz? Havia sido feliz, alguma vez? Não me lembrava. Quando pensava em momentos felizes, ela estava em todo, o que me causava grande confusão porque o tempo que a conhecia era uma minúscula fatia no espectro de minha existência. Estranho, não é? Era esta força que me compelia a continuar meu caminho, o mais rápido que conseguia. Tivesse eu as habilidades de Anael!

Já estava perto. O edifício era tão alto que se tornava facilmente visível. Pensei no que diria, quando a visse. O que se dizia numa situação daquelas? Volte para mim? O seu lugar é a meu lado? Eu sou o melhor para você? Tem de ficar comigo? Vai voltar comigo, quer queira quer não, porque eu sou assim, egoísta.

Sim, era isso que diria. Obrigá-la a ficar comigo, quer quisesse quer não. Podia vir contrariada, mas acabaria por se habituar à minha presença novamente. Não tinha como não.

Estava tão, mas tão concentrado no que lhe diria, como se fosse a coisa mais importante do mundo, que não notei o barulho das asas nem o cheiro cítrico. Não notei nada, apenas senti um grande peso na parte de trás de minha cabeça.

 

Gabrielle's POV

A verdade é que não estava nem um pouco longe da casa de Anthonny. A verdade é que estava num anexo escondido na parte de trás, um anexo que nunca antes vira ou conhecera, mas que dera direito para a liberdade, com uma facilidade muito tremenda. Dali, iniciar o trajeto para casa de Nickolas foi fácil então, estava naquele momento, a entrar pela porta principal. Nada de Fontes ou Eliel, mais uma vez. Parei um momento para refletir que Nickolas necessitava mudar de empregados ou, pelo menos, de lhes fazer um ultimato, já que estavam fugindo de suas funções de um modo tremendo.

Inspirei fundo apenas para recordar o odor de canela que, por mais estranho que pareça, me fazia sentir em casa.

— Nickolas! - gritei, abrindo a porta da biblioteca, para encontrá-la totalmente vazia.

Subi as escadas em passo acelerado, sem parar de chamá-lo. Abri a porta de seu quarto. A cama estava por fazer. Aproximei-me e toquei no lençol. Estava frio, já saíra há algum tempo. Talvez estivesse me procurando. Sim, era isso! Estava me procurando. Não o encontrar em casa esquentou meu coração, porque abria, ainda mais, a possibilidade de ele me ter procurado, de se preocupar comigo. Dei um pulo de felicidade! Ia ficar tudo bem! Ele voltaria para casa e eu estaria ali e nos beijaríamos e seria tudo perfeito!

Passei pelo closet e entrei em meu quarto, todavia, não fui capaz de dar mais um passo sequer. Minha cama estava revolta, em vez da arrumação meticulosa em que havia deixado. Os cobertores estavam espalhados no chão e, embrulhado no lençol, um corpo moreno desnudado parecia descansar.

Aproximei-me mais, para ter certeza de que não sonhava.

Era uma mulher, uma demônio, de cabelos negros e pele perfeita. Parecia bonita, muito bonita, com seios grandes e pernas que nunca acabavam e a imagem dela, nua, ali em minha cama, deu-me náuseas tão grandes que pensei que vomitaria ali mesmo. Um arrepio de terror percorreu todo meu corpo, me deixando tonta.

O que estava acontecendo? Quem era ela? O que fazia ali? Onde estava Nickolas?

De repente, minha mente fez click. Aquela só podia ser a Guardiã de que Anthonny falara. Tinha de ser ela.

Quando dei por mim, observava-a de tao perto que seus olhos se abriram. Não mostravam surpresa e suas sobrancelhas não apresentaram nem sequer um leve franzir. Sentou na cama, sem qualquer vontade de tapar sua nudez mais do que evidente.

Provavelmente, se sentia orgulhosa daquilo que tinha, e não era para menos. Olhar para ela fazia-me sentir inferiorizada.

— Quem é você? - perguntou, sem sequer me encarar, como se eu não importasse.

— Eu... - engasguei. O que era suposto dizer? Gabrielle, a escrava? Gabrielle, a humana? Gabrielle, a amante? — Gabrielle.

— Pf... - encolheu os ombros de um modo despreocupado e, ao mesmo tempo, sensual. — Desculpe, queridinha, mas isso não me diz nada. - levantou, confirmando que não usava uma única peça de roupa. Tinha marcas avermelhadas nas coxas e na cintura, como se alguém a tivesse agarrado com demasiado força.

— Este é meu quarto...

— Oh, então você é que é a escrava do Nickolas? - lançou-me um sorriso malicioso, se aproximando de mim. Levantou uma mão e afastou uma madeixa de cabelo de minha cara. — Obrigada por entretê-lo, mas seus serviços não são mais necessários.

— O que quer dizer? - dei um passo para trás, me afastando de seu toque.

Novo encolher de ombros.

— Eu estou aqui, agora. O Nickolas e eu voltamos aos bons velhos tempos, como logo depis de nós termos tornado demônios. Éramos bastante próximos naquela altura, mas as coisas mudam, não é? Que sorte que mudam para melhor, não é?

Senti o chão fugir de meus pés, muito rápido, muito brusco.

— Tenho a certeza de que o Nickolas gostaria ele mesmo de dispensar você, mas depois de toda a energia gasta na última noite necessitou de... Repô-la - fez uma pausa e assumiu um olhar ligeiramente pensativo. — Espero que me traga algo. Francamente, estou exausta.

Mordi o interior da bochecha porque não fazê-lo seria autorizar as lágrimas a correrem livremente.

— Docinho, - aquela mulher pousou uma mão em meu ombro. Cogitei me afastar, mas não consegui me mover, — não pensava que ele... gostava de você, não é? Quer dizer, provavelmente gosta, deve ter um certo carinho por você, mas nada mais. Tem consciência disso, certo?

Olhei para ela, com uma expressão que tinha a certeza de ser uma mistura entre surpresa e incompreensão. Por outro lado, ela apenas mostrava pena. Pena. Não estava habituada a ser alvo de pena. Os anjos não sentiam pena por seus escravos, os demônios muito menos, os outros humanos se encontravam exatamente na mesma posição que eu.

— Eu vou... Fazer minha mala. - consegui dizer.

— Fique à vontade, docinho. Eu sei como Nickolas pode ser... Tentados.. - vestindo o robe que era suposto ser meu mas eu nunca usara, se escapuliu para o quarto de vestir, me deixando só em minha própria desilusão.

Fiquei durante um bom tempo parada no meio do espaço formado por aquelas paredes que já não pareciam me dizer o que quer que fosse, completamente chocada, me auto censurando. Eu deveria saber. Como poderia o resultado daquela história ser diferente? Eu era uma humana, uma simples humana jogada entre anjos e demônios. Eu valia menos do que nada, é claro que todos pensavam em mim como algo com a qual pudessem se divertir e usar.

Anthonny tinha toda a razão. Que estúpida!

Raiva, muita raiva. Por mais estranho que parecese, não estava com raiva de Nickolas, ou da mulher, mas de mim, por ter sido tão obtusa e ingênua que me deixara seduzir por um demônio sem coração, logo o Guardião da Luxúria. Merecia o prêmio para a escrava mais pateta da era! Minha mãe tinha razão. Todos tinham razão, menos eu. É como aquela história do sapo e do escorpião: o escorpião pode ter dito ao sapo que não o mataria se o ajudasse a atravessar o rio, mas a verdade é que essa era a verdadeira natureza do escorpião e assim o fez. Nickolas era o escorpião. Eu era o sapo.

Com uma atitude derrotada, arrumei o pouco que tinha para arrumar e saí daquela casa. Desejava colocar a maior distância possível entre aquele lugar e mim, e o mesmo se aplicava à casa de Anthonny. Reparei que não tinha para onde ir, não tinha onde ficar. Os dois únicos locais onde se sentia segura estavam totalmente proibidos.

Aparentemente, tornaria-me uma foragida, uma rebelde, um sem teto. Lembrava-me de, um dia, esse ser meu maior desejo, ser livre. Minha ideia era encontrar um grupo de Resistência e me tornar um deles. Ponderei aquela hipótese no momento corrente. Haviam sido eles a torturar Nickolas, contudo, depois de bem cigitada a situação, eles haviam deixado de ser os vilões. Fizeram o que fora necessário para poderem ajudar na guerra, guerra essa que apenas complicava tudo e ainda estava por vir.

Assim, fui recebida pelos vigias no refúgio da Resistência. A maior parte recordava-se de mim, então não foi difícil ser conduzida até a uma sala e esperar por Joshua.

— Gabrielle? Aconteceu alguma coisa? - perguntou ele, mal entrou.

— Eu quero ficar aqui. Quero me juntar a vocês.

Joshua não conseguiu esconder uma ligeira expressão de surpresa, que rapidamente foi substituída por um sorriso largo.

— Seja bem-vida.

Não fui capaz de presenteá-lo com um sorriso genuíno em troca, todavia, a entrada calma de Ary se tornou a escapatória perfeita de perguntas muito privadas.

O menino se aproximou de mim, sempre com seu semblante demasiado sábio e perscrutador. Na mão, trazia um desenho, que ergueu para mim.

Fiz um afago em sua cabeça com a mão.

— Então pequeno, o que traz aí? - peguei na folha de papel e virei-a para mim. A primeira coisa a chamar minha atenção foi a grande quantidade de vermelho que ocupava todo o branco, como se uma cortina daquela cor ocupasse todo o espaço. Mesmo no centro, era possível ver duas figuras, era impossível entender se eram anjos, demônios ou, simplesmente, humanos. — O que isto quer dizer? - questionei.

Em resposta, Ary levou a mão ao papel e virou-o na minha mão, mostrando a parte de trás.

Uma sensação pesada ocupou meu estômago. Linhas vermelhas e horizontais se cruzavam, mas algumas dessas linhas não eram completas, deixando espaços vazios, como se o lápis tivesse falhado ao passar. Observando mais de perto, consegui distinguir silhuetas dentro desse desenho, mais concretamente, quatro pontos negros e três círculos brancos.

Engoli em seco.

— O que foi? Por que essa cara? - inquiriu Joshua, tirando o desenho de minhas mãos para vira-lo e revirá-lo. Sem conseguir perceber, procurou em mim uma explicação.

— Existem quatro Cavaleiros do Inferno e três Cavaleiros do Paraíso. - afirmei. — O Ary voltou a prever a abertura dos portões. - olhei para o menino, questionando se minha interpretação estava correta.

Ele limitou-se a assentir.

— E a parte da frente?

Voltei a observar a imagem de vermelho.

— Não faço a mínima ideia.

— Eu preciso falar com você, Joshua!

Um tumulto externo despertou nosso interesse. Ary escondeu-se atrás de mim, ao som daquela voz muito alta e, estranhamente muito familiar.

— O que está acontecendo? - perguntou Joshua, abrindo a porta da sala.

Para minha surpresa, Anael se encontrava ali, olhando para mim, pasmado, como se fosse uma assombração.

— Gabrielle? - entrou na sala, sem se importar com os humanos que tentavam impedi-lo. — O que está fazendo aqui? E por que é que veio para aqui? Por que é que não foi para casa do Nickolas? - as sobrancelhas do demônio estavam franzidas em incompreensão.

Engoli em seco e desviei o olhar para o chão de madeira.

— Podem nos dar um momento a sós, por favor?

Se tivesse olhado para Joshua, tenho a certeza que veria uma carranca em sua face, mas não demorei muito a ouvir a porta fechar.

— Antes de mais nada, ainda bem que está bem! O Nickolas estava louco! Pensava que você o tinha abandonado de vez. - passou uma mão pela nuca. — E devo admitir que até eu estava começando a ficar preocupado. Mas, por que é que veio para aqui?

Fiz o caminho até o sofá e sentei, para ter tempo para pensar numa resposta. Aproveitei também, para colocar o desenho de Ary no bolso do jeans.

— Eu fui até a casa de Nickolas, mal consegui sair, foi a primeira coisa que fiz. O Anthonny me contou coisas, me contou que o Nickolas não me procurava, que andava... Entretido com uma demônio.

— O quê? - Anael setou a meu lado e seu franzir de sobrancelhas se acentuou. — Isso é mentira!

— Quando cheguei a casa de Nickolas, encontrei a tal demônio. Estava em meu quarto. Nua.

— Essa filha da puta é uma mentirosa, Gabrielle. Tudo mentira. O Nickolas não tem nada com ela. Ele foi procurar você! O anjo disse que não estava lá, mas depois ele descobriu que era mentira. Quando foi confrontar o Domínio, ele lhe disse que você não queria mais saber dele. Mas ele engoliu o orgulho e foi atrás de você novamente, para convencer você a voltar para ele.

— Mas ela estava lá, Anael... Ela...

Se aproximando de mim, colocou suas mãos em meus ombros e me olhou fixamente, tão intensamente que não consegui resguardar as lágrimas para mim.

— A Khaya é a Guardiã da Fraude, Gabrielle. Tornei-me o Guardião da Traição porque todos os dias morro um pouco por ter traído o Senhor. É minha penitência. Ela se tornou a Guardiã da Fraude porque, juntamente de Lúcifer, enganou metade dos anjos caídos para que se tornassem demônios e os condenou à vida no inferno. A Khaya não é de confiança!

— Eu quero acreditar em você, Anael. Quero acreditar em você com todas as minhas forças, me é tão difícil quando tudo o que vejo é uma mulher muito mais bonita do que eu alguma vez serei, nua na cama que era suposto ser minha.

— Primeiro, você é linda. A Khaya é a pior espécie de demônio a andar por aí, e ela sempre teve um fraquinho por Nickolas. Juntando isto ao seu círculo, a possibilidade de toda esta história ser parte de um plano maquiavélico daquela mente distorcida é bastante grande.

Desviei o olhar. Mais uma vez, duas partes diferentes de mim guerreavam pelo controle de minhas ações, mas eu queria tanto, mas tanto, que tudo aquilo fosse mentira...

— Então, onde é que ele está? - questionei, desejando o que quer que Anael estivesse prestes a dizer não acabasse com minhas dúvidas, de uma forma negativa.

Novamente, o demônio coçou a nuca.

— Não sei. Ele foi, mais uma vez, a casa do anjo para exigir ver você. Ele lhe disse, de todas à vezes, que não desejava vê-lo. Agora, você está aqui e o Nickolas ainda não voltou.

— O quê? Mas isso é mentira! Está tudo ao contrário! O Anthonny me tirou da casa do Nickolas e me escondeu. Não me deixava sair e me disse que o Nickolas não me procurara, que andava... Entretido com a demônio.

Anael me olhava, estupefato.

— O Domínio te enganou, Gabrielle.

— Mas os anjos não...

— Mentem, sim. O Nickolas e eu mentimos um monte de vezes. A questão agora, é: onde ele está? Porque não está no inferno, não está em casa, não está em nenhum dos locais conhecidos e não está, obviamente, aqui e, pior do que tudo, não está recuperado a cem por cento.

Um aperto agarrou meu coração.

— Por que é que não o encontrei quando escapei? Nem no caminho? Anael, poderá o Anthonny ter feito alguma coisa à ele?

— Num dia normal, diria que não, mas com todas aquelas lesões... Vamos lá. Não perderemos nada se averiguarmos.

Assenti e aceitei a mão que me estendia. No momento seguinte, a fachada do edifício alto se erguia na nossa frente.

— Estive presa do outro lado. - sem esperar, contornei a casa até ao lado oposto. A porta continuava sem tranca, não servindo realmente como qualquer entrave à entrada, mas não era necessário porque, lá dentro, deitado na cama e totalmente imobilizado por cordas grossas, Nickolas jazia de olhos fechados.

— Anael! - gritei, ao mesmo tempo que acabava coma quele pequeno espaço, me ajoelhando no chão frio. — Nickolas. - chamei, espalhando as mãos em sua cara. — Nickolas, acorda! Anael!

O demônio da traição se apressou a desfazer as cordas.

Sua pele estava tão fria, tão fria... Muito fria.

— Nickolas...

 

Nickolas's POV

Não sabia onde estava. Não conseguia reconhecer aquele local simplesmente, porque não o conseguia ver, tal era a escuridão. Era como se fosse uma sala vazia, com paredes, teto e chão pintados de negro.

Meu corpo doía, não uma dor muito intensa, mas uma que nunca havia sentido antes. Calma, suave, mas aterradora. Tentei me mover, contudo, não era capaz. Não conseguia sentir meus braços ou minhas pernas ou, sequer minhas asas. Era como se não fosse um corpo físico, mas apenas a voz que soava em minha cabeça. Apenas espírito. Seria aquilo a morte?

— Nickolas, acorda!

Outra voz se uniu à minha, num murmúrio familiar, ainda que difícil entendimento. Tentei me recordar a quem pertencia, todavia, parecia impossível. Era tão quente. Transmitia uma paz diferente do sentimento vazio do quarto negro. Uma paz mais... Humana.

— Nickolas...

A voz era um lamento. Tornara-se mais baixa, mais triste. Franzi, mentalmente, as sobrancelhas em incompreensão. Por que é que estava tão triste? Não devia. Uma voz como aquela fora feita para ser alegre e cantar e fazer todos à sua volta felizes. Por que é que chorava?

— Por favor, Nickolas, não me deixe... Eu te amo.

Não fique triste, humanazinha. Eu estou aqui, sempre estarei aqui. Para onde quer que vá, eu acompanharei você, é esse meu destino. Eu sei que sim. Estar com você. A todo momento. Para sempre. Se conseguisse, beijaria suas lágrimas até desaparecerem e apenas restar um sorriso. Se conseguisse, beijaria sua boca até você se derreter com um daqueles olhares ingênuos e encantadores que só você sabe fazer. Quero tanto tocar em você. Quero tanto sentir você e passar os dedos por seus cabelos e por sua pele suave. Quero olhar para você e ver você crescer. Pior do que tudo, quero estar com você quando tudo isto acontecer. Quero mesmo

Oh, Gabrielle, como você abrilhantou minha existência! Um pontinho de luz em minha vida tenebrosa. Tudo o que eu precisava para deixar de ver o mundo em tons de negro. Obrigado querida. Obrigado. Não chore, humanazinha. Nunca estarei muito longe. Estarei sempre um passo atrás de você, mesmo que não consiga me ver.

Sempre.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostou? Comenta aqui embaixo o que achou. Comenta vai?
Beijão anjinhas, um abraço demôniozinhos. Nos vemos terça!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Angels or demons" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.