Angels or demons escrita por Aline


Capítulo 16
Enganação


Notas iniciais do capítulo

OII! Sentiram saudades? Opa hahaha
Agradeço a todos que comentaram no último capítulo, isso me motiva tanto, MAIS TANTO!! Só tenho a agradecer! :)
PRÓXIMO CAPÍTULO: TERÇA
Graças ao feriado, irei postar mais cedo do que os outros capítulos.
Boa leitura.



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Nickolas's POV

Não demorei praticamente tempo nenhum para chegar onde queria, mas quando apenas uma porta nos separava, parecia que havia passado anos desde que vira Gabrielle.

Não me importei em bater, esperar, nada. Apenas entrei de rompante naquela casa muito limpa, muito cheirosa, muito divina e, ao mesmo tempo, muito humana.

— Onde ela está?

Procurei ao meu redor por algum sinal de vida e encontrei. Reconhecia aquela cara. Era o pai dela. Aproximei-me sem conter minha fúria ou nervosismo, apena refreando as mãos que desejavam pegar no pescoço do homem e obriga-lo a confessar que ela voltara para lá, que me abandonara, que fugira de mim.

— Ela desapareceu? - os olhos do homem se esbugalharam, numa mistura de surpresa e medo. Não. Não era suposto ser assim.

— Onde é que está ele? - vi Anael entrar, pelo canto do olho. Me seguira.

Ainda bem. Precisaria de alguém para me segurar, se fosse necessário, ou aquele sítio e todo os que ali se encontravam virariam chamas.

— Ele?! Ele quem? - questionou o pai dela.

— O anjo, homem! O Domínio!

— Posso saber o que estão dois demônios fazendo em minha casa, assustando meu porteiro e perturbando meu descanso?

Não esperei que o anjo se aproximasse, naquele seu passo irritante. Simplesmente, saltei em cima dele e agarrei o colarinho daquela camisa imaculada, com tanta força que os nós de meus dedos ficaram brancos.

— ONDE É QUE ELA ESTÁ?

— QUEM?

— Não se faça de estúpido! Ela! A Gabrielle!

— O que quer dizer com "onde é que ela está"? Ela preferiu ficar com você, não foi?

— Ela desapareceu. Eu sei que ela está aqui.

O anjo colocou suas mãos em cima das minhas e me obrigou a larga-lo.

— Por que é que ela haveria de estar aqui?

Soltei uma risada irônica.

— Por que será? Talvez por ser o único lugar que ela conhece?

— Ela não está aqui, demônio.

— Tem de estar!

— Não está! Os anjos não mentem, ao contrário de vocês, demônios.

Nova risada.

— Deixe de merda, Domínio. Ambos sabemos que isso não é verdade.

Ele não respondeu. Simplesmente, manteve aquela expressão de sobrancelha levantada como se tudo aquilo fosse um desafio.

— Nickolas - a voz de Anael me chamou, tal como sua mão em meu ombro. — Ela pode estar com os outros humanos.

Não tinha cogitado essa possibilidade. Sim, podia. Talvez. Talvez fosse isso.

— Vamos lá - ordenei, mas antes de partir, dirigi uma última frase àquele anjo com cara de idiota. — Se você a tem aí, em algum lugar, pode começar rezando ao teu Deus por misericórdia, porque eu não terei nenhuma.

Ele tentou falar algo, mas o ignorei e saí com Anael.

Eu tinha de encontrá-la.

 

Gabrielle's POV

Perder a noção do tempo era fácil estando presa num quarto sem qualquer contato direto com o exterior. Não sabia se era de dia ou de noite, se estava ali há uma hora ou há um dia. Estava com fome e sede. Neste momento, me encontrava bem quieta, apenas observando tudo, poupando energia, mas ao mesmo tempo, procurando uma saída.

Estava frio. O fato de estar fria apenas me dizia que ou era de noite ou pelo meno um dia passara, porque na altura em que fora raptada, um sol brilhante decorava o céu, sem qualquer prelúdio de chuva ou mau tempo.

Não conseguia compreender como é que alguém conseguira entrar na casa de Nickolas. Fontes, Anael estavam lá. Como é que não perceberam a presença estranha, como? Infelizmente, eu estava de costa para a porta, então era impossível saber quem era, ou adivinhar o que estava prestes a fazer. Era tão sorrateiro.

Por que é que alguém haveria de me querer raptar? Eu era apenas uma escrava, uma humana sem valor algum. A não ser que fosse um meio para atingir um fim, fim esse que era muito mais valioso do que eu, como Nickolas, por exemplo. Exato. Provavelmente, seria alguém com algo contra Nickolas.

Mesmo assim, não conseguia descobrir que era. Não estava assim há tanto tempo com ele, mas nesse tempo, conseguira perceber que ele tem certo carinho por aborrecer os outros. Sua lista de inimigos devia ser tão grande quanto a altura da casa de Anthonny.

Não, Anthonny não era o alvo porque eu já não estava com ele. Se o objetivo era atingi-lo, eu não era a melhor pessoa para utilizar.

O som de passos me obrigou a levantar. Já não era tão silencioso assim. Os passos eram duros, contra o chão, que pelo barulho, seria pavimentado e não terra batida, ou mesmo pedra. Eram azulejos ou algo do gênero.

Os passos cessaram, ao mesmo tempo que se fez ouvir o ferrolho sendo corrido. Engoli em seco enquanto espera que a porta abrisse, tudo em câmera lenta.

Quando finalmente isso aconteceu, não consegui não esbugalhar os olhos em reconhecimento.

— Anthonny?

Meus olhos não queriam acreditar no que viam. Era Anthonny! Ali mesmo na minha frente! Ri de alegria e alívio. Levantei e caminhei até ele para o abraçar com força e agradecer. Apenas esperava que não pensasse que, porque havia me salvo, voltaria para sua casa. Mas isso era um assunto para mais tarde. Naquele momento, tudo o que eu desejava era colocar algum - muito espaço entre mim e aquele local.

— Estou tão feliz por ver você! Obrigada!

— Oi, pequena Gabrielle. Está confortável?

— Por favor vamos embora daqui.

Não respondeu, se limitou a me encarar de olho demasiado abertos e inexpressivos, com um sorriso conhecedor em seus lábios. Era uma expressão estranha e desconfortável.

— Anthonny? - pressionei, me afastando para ter um melhor visão de seu rosto.

Ele fechou a porta e sentou na cama, me chamando para junto dele.

— Não estava em segurança com aquele demônio - levantou a mão para me tocar. — Não estava bem ali, com ele.

— O quê?

— Não se preocupe. Virei ver você todos os dias. Passaremos muito tempo juntos. Não era isso que desejava, antes de ter conhecido o demônio?

Meu raciocínio tinha congelado, com certeza, porque me dizia, com todas as letras, sons e imagens, que o responsável por meu cativeiro era Anthonny e isso era impossível.

Impossível.

— Não me desejava antes? - não me deu tempo para responder. — Vou dar a você algo para relembrar esses momentos. - quando dei conta, tinha os lábios dele junto aos meus.

Fiquei sem resposta, petrificada e, provavelmente ele tomou isso como um acordo porque penetrou minha boca com sua língua, de um jeito que ele nunca fizera antes, de um modo carnal, luxuriante, tão pouco angelical e tão demoníaco. Contudo, não despertava as mesmas sensações que Nickolas. Era estranho, desconfortável e quase nauseante, apesar de aparentemente não existir uma razão definida para o ser.

Acordada do estado abúlico em que me colocara, tentei lutar. Coloquei a mãos em seu peito e empurrei, com toda a força que tinha. Forcei meus dedos contra sua camisa, numa tentativa frustada de o afastar.

Tentei fechar a boca, ei que o mordi, mas ele simplesmente não queria saber, muito pelo contrário, pareceu gostar porque continuou se impondo, com ainda mais vigor e rigidez. Esperneei, bati-lhe com os punhos cerrados, pontapeei sua canela, virei o rosto, mas nada parecia capaz de o deter. Minha mão tentou acertar em sua face, mas foi impedida e segurada no topo de minha cabeça, ao mesmo tempo que me deitava na cama, fechando meu corpo com o seu, me impedindo de mover, de fazer o que quer que fosse para o impedir.

A imagem de Nickolas enchia minha cabeça, me preenchendo de culpa, mesmo sabendo que, em termos práticos, não tinha nenhuma.

E Anthonny continuava passando a língua por minha boca, continuando pregando meus braços acima de minha cabeça. Sentia sua mão fria subir no interior de minha camisola, apalpando minha pele, tocando, sentindo.

Sentia-me impotente. O que poderia eu fazer, se a violência, a recusa, apenas parecia agradá-lo e incitá-lo cada vez mais?

Quando me largou, por sua própria vontade, parecia feliz consigo próprio e a gargalhada que soltou, enquanto saía, só mostrou isso mesmo.

Estava feliz, por razões que eu não conseguia compreender.

Por outro lado, eu estava devastada. Meu corpo tremia, meu maxilar doía. Meus braços estavam dormentes.

Talvez ele tivesse razão. Talvez, eu fosse fraca e frágil, afinal de contas.

Ficara à sua mercê e nada acontecera porque ele não quisera. Não conseguira pará-lo, nem sequer abrandá-lo.

Nada.

 

Nickolas's POV

Nada.

Nem um fio de cabelo dela foi encontrado junto da Resistência. Gabrielle não estava lá, nem sequer voltara lá.

Analisei os fatos:

Primeiro: o anjo dissera que ela não se encontrava em sua casa.

Segundo: a Resistência garantia que ela não voltara lá.

Terceiro: definitivamente, não se encontrava em minha casa.

Bati com o puno na mesa do escritório. Já chegara há algum tempo, mas ainda não me dera ao trabalho de contornar a mesa para me sentar na cadeira. Pensava melhor em pé. As ideias fluíam melhor ou assim eu gostava de pensar porque, naquele momento, pensar era bom. Estava ficando louco.

Aquela humanazinha me deixava louco. Se tinha mesmo fugido, a primeira coisa que faria, quando a encontrasse, seria acariciar aquele seu doce traseiro com umas boas palmadas a alta velocidade. Repetidas vezes, até ela aprender que não pode, simplesmente, brincar com os sentimentos das pessoas daquela maneira.

Sentimentos? Mas quais sentimentos? Sem dúvida que estava precisando e umas agradáveis horas de sono. Já não dizia coisa com coisa.

A sensação de frustração deu lugar a um relaxe ao sentir um par de mãos suaves massagearem meus ombros e as curvas de meu pescoço.

Por momentos, pensei que fosse ela, imaginei e imaginei que fosse ela. Não me virei logo por saber que, quando o fizesse, seria a face e o corpo de Eliel que veria e não o dela. Dei-me ao luxo de acalmar meus instintos, apenas o suficiente para poder sentir aqueles dedos experientes por mais um pouco, fazendo de conta que era ela e que, quando me virasse, a encontraria, com aquela camisa de noite branca que usara na noite em que a chamara a meu quarto, com os cabelos rebeldes emoldurando suas faces, como a mais bela das pinturas, como uma cortina de fogo. A inocência e a perversidade.

— Acho que já está na hora de você retribuir, não lhe parece, docinho?

Aquela voz junto ao meu ouvido me gelou por completo. Era muito rouca, muito sensual, mesmo para Eliel. A conhecia de uma época distante, de um local diferente, de circunstâncias parecidas.

Afastei suas mãos e me virei para encará-la. A pele bronzeada, cor de azeitona, os cabelos negros ondulados até a cintura, os grandes olhos de gato, tão escuros quanto os cabelos, aquele corpo poderoso e bem definido que eu conhecia tão bem. Não havia como ela ter sido um anjo um ida, porque tudo nela era pecado.

— O que é que você está fazendo aqui?

— Isso é forma de me tratar? - questionou, fazendo-se de ofendida.

— Quando você aparece, nunca nada de bom acontece. Apenas quero estar preparado para seus estragos.

— Isso foi cruel, mesmo para você, Nickolas - se sentou, com seus particulares movimentos felinos, no sofá do escritório, fazendo sua, já de si curta saia, mais ainda.

— Deixe de história e responda, Khaya - ordenei, encostando na secretária.

— Sempre adorei essa sua rudeza.

Pressionei com uma sobrancelha erguida.

— Se eu disser que estava com saudades, acredita? - forçou um de seus muitos sorrisos destinados a seduzir os homens.

Não respondi.

— Oh, está bem - assumiu uma expressão séria. — Também recebi a mensagem dos cavaleiros. Apenas quero declarar a você meu apoio.

Sondar uma mentira nela era sempre infrutífero. Simplesmente, não valia a pena, por isso, nem tentei. Khaya era a Guardiã do Círculo da Fraude, se havia algo na qual era especialmente boa, era em enganar.

— Supondo que isso é verdade, o que pensa fazer?

— Tudo o que você desejar que eu faça, já que você não pode contar com a ajuda de Lúcifer - piscou o olho.

— Lúcifer é um merda! - esbravejei. — Não estou com paciência para seus jogos, Khaya.

Ela gargalhou.

— Consigo provar a você que isso não é verdade

Não me dei ao trabalho de responder. Contornei a secretária para me apoderar de minha cadeira e acender um cigarro.

— Alguém já te disse que você fica particularmente sensual com isso na boca?

— Várias pessoas, em variadíssimas situações - disse, aborrecido.

Ela se levantou, como se já estivesse farta do sofá, e me seguiu até atrás da mesa, sentando nela. Num movimento sutil, se inclinou para mim, mostrando uma boa porção de seu generoso decote.

— Mas aposto que não como eu - senti tirar o cigarro de meus dedos e levá-lo a sua boca. Quando o tirou, consegui distinguir a marca redonda de seu batom.

— O que deseja de mim, Khaya? - questionei.

— Não é óbvio?, docinho? - sem tirar seus olhos dos meus, aproximou o cigarro à pele de minha clavícula e pressionou, apagando-o. Ardeu, mas nem sequer gemi. Já havia suportado muito mais. — Quero você.

— Já tivemos essa conversa. Sabe que isso não é possível.

Quando me dei conta, já se encontrava sentada em meu colo, acariciando minha mandíbula com a unha.

— E se eu disser a você que aquela que tanto deseja não quer mais vê-lo? Não quer saber de você... Preferiu o de asas brancas. O macho mais confiável e... Angelical.

Sobressaltei-me.

— Do que é que está falando?

Deu uma pequena risada, antes de aproximar os lábios de meu ouvido e sussurrar:

— Seu brinquedinho humano fugiu para casa do anjo e nunca mais, repito, nunca mais, quer ter nada a ver com o inferno.


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Notas finais do capítulo

Gostou? Comenta aqui embaixo o que achou. Comenta vai?
Beijão anjinhas, um abraço demôniozinhos. Nos vemos terça-feira!



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