Angels or demons escrita por Aline


Capítulo 14
Recuperação


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, aqui está o outro capítulo que falei :)
Espero que comentem! Favoritem! Vai lá embaixo e digita um mísero oi pra eu ver se alguém está lendo.
Quero perder os dedos respondendo vocês.
PRÓXIMO CAPÍTULO QUARTA-FEIRA.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/710900/chapter/14

Nikolas estava apagado há três dias. Deitado naquela grande cama, - sua cama, nossa cama - parecia tão frágil quanto uma criança. Quando o trouxemos, fora difícil saber como o deitar, devido à lesões que se espalhavam por seu tronco e asas. Três dias depois e já com as feridas do tronco se recuperando, ele se encontrava deitado de barriga para baixo, com a face virada para mim, que me sentava no caldeirão tal como ele fizera quando fora minha vez de apagar naquela cama. A única diferença era que eu não tinha um copo de whisky na mão e nem a certeza de que ele alguma vez acordaria, apenas uma preocupação alarmante.

O problema eram suas asas. Os progressos nessa parte continuavam muito perto de zero e, sem elas, Nickolas não conseguia retirar a energia do que quer que fosse. Isso só piorava tudo.

— Como é que ele está? - perguntou Anael entrando no quarto. Na maior parte daqueles dias, Anael passara-os naquela casa e, quando não o fazia, era porque estava no inferno, tentando segurar o barco.

— Igual. Mas se moveu, há coisa de uma hora - respondi, me levantando apenas para me aproximar da cama e afastar os cabelos da testa de Nickolas

— Ele vai ficar bem, Gabrielle.

— Como é que você pode ter tanta certeza? - não era uma pergunta, mas mais uma acusação por me dar esperança de algo que poderia nunca acontecer.

— Nickolas é teimoso, corajoso e forte. Isto não é nada para ele - suas palavras me fariam sentir melhor, não fosse o franzir de sobrancelhas que me fazia pensar que o próprio Anael tentava acreditar no que dizia.

Ele saiu logo a seguir. Não conseguia ficar durante muito tempo no quarto e eu sabia por quê. Custava-lhe, doía-lhe ver o amigo assim. Para Anael, Nickolas era o ser mais forte e capaz que já conheceu e vê-lo ali, naquele estado, mexia com suas estruturas, quase como se fosse ele quem segurava seu mundo e, estando ele tão abalado, isso se refletisse no modo como encarava a vida. Eu conseguia compreende-lo perfeitamente, mas não conseguia me mover, sair dali. Talvez, a tal tendência suicida que Nickolas dizia que os humanos possuíam existisse, afinal.

Me aproximei dele, apenas para afastar o cabelo que teimava em lhe cair para os olhos. Não que lhe fizesse muita diferença, não que ele notasse. Pousei a mão em sua testa, apenas para ver se tinha febre. Os demônios possuíam uma temperatura corporal superior aos humanos, portanto, eu não era capaz de definir se o calor que passava para minha pele era natural ou não.

Ele estremeceu, por baixo de meu toque, como se tivesse tido um arrepio. Me afastei imediatamente com medo de estar causando algum dano, no entanto, provavelmente apenas fora minha mão muito fria a transtorná-lo.

— Ela não está aqui, Anael...

Não precisei procurar a origem daquela voz porque os lábios que estavam na minha frente se moviam ao som dela.

— ... Eu a mandei embora... Está melhor lá... Eu não... Sou o melhor... Sou um demônio...

Me baixei junto a ele para conseguir ouvir melhor. Sabia que não deveria dar atenção às palavras de um homem delirante, mas não consegui resistir.

— Não... Anael... Não posso... Eu quebro-a... Ela é tão... Feminina e doce... Eu sou trevas e eu...

— Menina Gabrielle, está uma humana no salão, garantindo ser sua mãe.
Virei para a porta, assustada. Era Fontes.

Não compreendia o porquê de me tratar tão formalmente, sendo eu uma escrava e, consequentemente, estando abaixo dele na hierarquia; E também não tive tempo para perguntar.

Depois de recuperar o ritmo regular de minha respiração, me levantei e perguntei:

— Minha mãe?

— A humana garante e o cabelo não engana.

Olhei para Anael, que voltara com Fontes.

— Não é por que o deixará por uma hora que ele vai piorar, Gabrielle - assegurou o demônio, com um toque de humor em sua voz.

Assenti e segui Fontes até o salão. Quando entrei e vi minha mãe ali parada me olhando com um misto de emoções, corri para a abraçar ignorando as lágrimas que me assaltavam, não só por ela, mas também por o que se encontrava no andar de cima.

— Pronto, minha menina, pronto - afagou meus cabelos, enquanto eu soluçava. — Pronto. O que aconteceu?

— Desculpe por não ter voltado para casa.

— O Domínio Anthonny disse que você preferiu ficar aqui. Então, por que chora? Tratam mal você? - perguntou com preocupação pousando as mãos em meus ombros.

— Não mãe, ninguém me trata mal. É que... eu cometi um erro... e magoaram alguém de quem eu gosto por causa disso - acabei por admitir.

— Quem?

Retive a respiração e olhei para cima, para o local onde sabia que encontraria Nickolas.

— Meu novo dono.

A expressão de minha mãe se endureceu, de repente.

— O Domínio Anthonny disse-nos coisas. Disse que era por esse demônio que você não voltava para casa, que te manipulara...

— É verdade que foi por ele que fiquei, mas não me manipulou, eu...

— Por favor, não diga que o ama. Ainda há um mês pensava que amava o Domínio Anthonny e, assim de repente, mudou para um demônio? Não pode ser.

— É diferente, mamãe! Tente compreender - supliquei.

— Estou tentando, mas tem de convir que é difícil.
Fiz sinal para que me acompanhasse até o sofá e nos sentamos. Procurei as palavras exatas para exprimir o que sentia, mas não era fácil não cair no ridículo. Acho que isso faz parte de gostarmos das pessoas, ser ridículo.

— O que eu sentia - e ainda sinto - pelo Anthonny é cálido e morno, é fraternal. Vejo-o como protetor de minha infância, como o príncipe encantado que todas as meninas sonham encontrar. Mas, o que aconteceu, foi que cresci e percebi que não é um príncipe encantado que desejo, não quero perfeição. O que sinto por Nickolas é quente, escaldante, mesmo. Faz todo meu corpo amolecer quando o vejo e meu coração bater mais depressa - tirei o sorriso idiota que cobria meu rosto e respirei fundo. — Sei que é um demônio, sei que, por vezes, é cruel, mas nunca fez nada contra mim que eu não pudesse aguentar, muito pelo contrário. Me protege e, ao mesmo tempo, me ensina, me mostra o mundo sem a proteção de um mestre. Deixa que eu tome minhas próprias decisões, mesmo que saiba que são as erradas, apenas para conseguir tirar uma lição delas.

— Deixa que você se magoe - interrompeu minha mãe.

— Sim, mas depois está sempre lá para me tratar das feridas - levantei. — Agora é minha vez. Ele matou por mim, foi torturado por mim. Não o abandonaria num dia normal e não o farei hoje, quando precisa de mim.

— Eu também quero proteger você, Gabrielle - se levantou. Tinha os braços tensos. — Eu sou a sua mãe, sei melhor do que ele o que é bom para você e estar aqui não o é.

— Pode não ser - disse, com uma serenidade que me espantou. — Provavelmente, não é. Provavelmente, vou acabar por sair daqui magoada. Tenho noção disso, mas prefiro arriscar e ter certeza do resultado do que passar o resto da vida pensando como poderia ter sido.

— É uma loucura!

— Desculpem por interrompê-las - a cabeça de Anael entrou pela porta. — Boa tarde, senhora - ele cumprimentou, educadamente demais para um demônio, o que penetrou a mente pré-fabricada de minha mãe. — Ele acordou, Gabrielle.

— Graças a Deus! - fechei os olhos e expirei fundo, por um momento.
Quando voltei a abri-los, vi Anael mexer o nariz, como se algo lhe fizesse comichão.

— Pediste a Deus ajuda para salvar um demônio? - minha mãe perguntou, atônica.

— Pedi. E pedirei uma e outra vez, até que deixe de dar resultado. Quer mais uma prova de que meu lugar é aqui O Senhor quer-me aqui.

Não respondeu. Não havia mais nada que pudesse fazer.

— Sabe onde é a saída. Mande um beijo ao pai.

— Gabrielle, espera! - me abraçou, abruptamente. — Nós também estaremos lá para curar suas feridas quando isto acabar.

— É a única coisa que peço a vocês - dei um beijo em sua bochecha e me afastei, ainda com as mãos dela nas minhas. — Obrigada.

Ela sorriu, ainda que forçadamente. Não havia mais nada a fazer ali, não conseguiria mudar aquela opinião pré-definida que minha mãe - e a grande maioria dos escravos dos anjos - possuía, apenas me restava agradecer-lhe e esperar que o tempo e as circunstâncias tratassem disso.

Fiz o caminho até ao andar de cima flutuando. Quando me aproximei do quarto, uma jovem, uma adolescente saía. Primeiro veio o choque inicial da surpresa, até o ciúme e a fúria. Depois, chegou a luz. Nickolas acabava de acordar, precisava de se alimentar e eu já não era um prato possível, por mais estranha que esta informação pudesse parecer.

Entrei no quarto e foi quando o vi que deixei de conseguir segurar as lágrimas. Nickolas estavam bem. Estava sentado, recostado no espaldar da cama. A cor ainda não voltara totalmente às suas faces e, apesar de ter estado adormecido durante tantos dias, continuava com um semblante cansado.

Quando me viu sorriu ligeiramente, quase como se fosse um pedido de desculpas.

Não aguentei mais e me atirei para junto dele, abraçando-o, deixando de lado qualquer cuidado que devesse ter devido à situação.

— Parece que alguém teve saudades minhas - sussurrou, enterrando o nariz em meu pescoço, tal como eu fazia a ele.

— Desculpe. Desculpe. Prometa-me que não voltará a fazer algo assim, por favor.

— Eu fiz o que era necessário, Gabrielle.

— Não, não foi assim, mas me prometa, por favor - me agarrava a ele com força e, consequentemente, perdia qualquer capacidade de raciocínio coerente.

Senti seu rosto abrir ainda mais em contato com minha pele.

— Prometo, humanazinha.

Me afastei, ligeiramente e a custo, para poder olhá-lo nos olhos. Estavam escuros e expressivos, como o habitual, mas precisavam de descansar.

— Vou deixar você dormir um pouco - levantei, mas Nickolas segurou minha mão.

— Não vá. Fique comigo.

Como poderia recusar o que quer que fosse, especialmente naquele momento? Como poderia dizer-lhe não quando apenas o fato de ele conseguir fazer tal proposta era suficiente para eu dizer que sim?

Nickolas não era do tipo carinhoso o tempo todo, contudo, quando ocupei o espaço a seu lado na cama, me puxou para junto de si, me obrigando a encostar a cabeça em seu ombro e a pousar a mão em seu peito, mesmo abaixo de uma marca de queimadura em forma de cruz, símbolo do que eles, os humanos, lhe tinham feito. Por minha culpa.

— Me perdoa, por favor - murmurei e uma lágrima caiu, encontrando sua pele quente.

— O que são três dias na vida de um demônio, humanazinha? - ele perguntou e pude sentir seus dedos balançarem pelos fios de meu cabelo, numa carícia aconchegante.

— E o sofrimento?

Ele baixou a cabeça para beijar o topo da minha, para logo depois, sussurrar em meu ouvido:

— Que sofrimento?

Fechei os olhos, com força.

— Me perdoa - repeti.

— Não há nada para perdoar, humanazinha. Você fez o que tinha de fazer e eu respondi como tinha de responder. Se acreditasse no destino, diria que ele era o único responsável.

Onde estava o rancor? Onde estava o alienamento? Onde estava o desprezo? Esperava tudo de Nickolas, tudo desde o escárnio à ignorância e ao abandono. Tudo exceto o que me dava. Perdão, carinho, apoio. Ele estava bem. Nós estávamos bem.

Não muito longe dali...

Ela observava-o do local onde estava. Observava o modo como ele respirava, como falava, como olhava. Imaginava-o fazendo coisas com ela, coisas boas, como ela gostava e sabia que ele também. Não seria difícil para ela conseguir o que queria, nunca era. 

— Desta vez será mais difícil.

Ela riu.

— Não. Vai ser mais fácil do que nunca.

Ela tinha um plano. Um plano diabólico, melhor do que os de todos os outros. Ela conseguiria tudo o que desejava.

Vingança e amor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostou? Comenta aqui embaixo o que achou. Comenta vai?
Beijão anjinhas, um abraço demôniozinhos. Nos vemos quarta!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Angels or demons" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.