Angels or demons escrita por Aline


Capítulo 12
Boneco de tortura - parte I


Notas iniciais do capítulo

Olá! Estou com um sorriso congelado no rosto. GANHEI MAIS 2 FAVORITOS!
Amo vocês! Beijão na têmpora. Muito obrigado.
Quero mais comentários, quero saber sua opinião. Ou qualquer coisa.
Valeu! ♥



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Fui apanhada de surpresa. Franzi minhas sobrancelhas enquanto meu raciocínio de reconhecimento começava.

— Então, parece que estou em ligeira desvantagem - declarei.

— Sabemos que você é escrava do demônio da luxúria e sabemos o que se está passando.

Tentei avaliar a possibilidade de um bluff.

— Da luxúria e da ganância - corrigi e Joshua lançou um olhar confuso. — Acumulação de cargos - expliquei. — E o que é que está acontecendo?

— Os cavaleiros vão escapar.

— Têm um demônio com vocês?

— Temos algo melhor, mas não vou revelar, pra já.

Cauteloso. Não estava cem por centro no controle.

— E o que querem de mim?

Joshua deu um passo na minha direção.

— Sabemos que o seu mestre está interessado em parar isto. Queremos ajudar.

Com aquela aproximação, consegui perceber que o humano era muito novo, muito mais do que seus olhos ou sua atitude faziam crer. Devia ter perto da minha idade, mas parecia mais velho do que eu alguma vez seria.

— Boa sorte com isso. Nickolas nunca vai aceitar sua ajuda - queria virar-lhes as costas e ir embora mas algo naquela conversa não me deixava fazê-lo.

— É por isso que precisamos de você. Parece bastante íntima dele, deve conseguir convencê-lo.

— O que é que está insinuando?

Joshua fez uma careta de retenção e vi sua garganta se movimentar quando engoliu em seco, ou talvez, uma resposta.

— Podemos ajudar - acabou dizendo. — Nós temos... - fez uma pausa e seus olhos pararam num ponto qualquer no chão. — Nós temos um profeta.

Olhei-o, fixamente, não querendo acreditar em suas palavras.

— Sou toda ouvidos.

Observei o menino sentado na minha frente, apoiado na mesa baixa para conseguir desenhar. Era muito pequeno. Joshua garantia que tinha, pelo menos, seis anos, mas parecia ainda menor. Tinha um aspecto frágil e olhos que pareciam vazios devido a sua cor tão pálida.

Era difícil acreditar que aquela criança fosse um profeta, contudo, também não podia descartar essa opção. Joshua mostrara alguns dos desenhos que o pequeno Ary fizera. Alguns eram bastante confusos e perturbadores, no entanto, era fácil distinguir, nos mais recentes, a figura de alguém com cabelos vermelhos, ao lado de outra pessoa, com um par de asas negras.

— Não fala? - questionei.

— Se fala nunca ninguém ouviu - respondeu Joshua.

— E seus pais?

Ele encolheu os ombros.

— Não sabemos. Ele, simplesmente apareceu.

De repente, Ary se levantou, deixando o desenho a meio. Se aproximou de mim, com a mãozinha levantada para tocar meu cabelo. De início, parecia algo retinente e indeciso, como se não tivesse bem a certeza se deveria se aproximar ou não. Olhando com atenção, acabou por encostar as pontas dos dedos nos fios e fechá-las ao seu redor, sem fazer força, apenas sentindo-os, como se fosse algo totalmente novo e diferente.

— Vem aí alguém - ouvi Joshua dizer, se colocando de pé, entre a porta e nós.

E ele tinha razão. Primeiro veio o som, abafado e duro, se espalhando pela sala com um estremecimento. Aproximei Ary de mim e coloquei o braço à sua volta. Ele retesou, ligeiramente, mas parecia muito assustado para fugir.

A porta de madeira caiu no chão, com um baque surdo, e dela saiu poeira tão negra que era difícil distinguir o que quer que fosse dentro dele. Senti cheiro da canela antes de O ver. As asas abertas e seu corpo nas vestes escuras se confundiam com a poeira, mas nem mesmo o cheiro de queimadura disfarçava as especiarias. Quando já entrara na sala o suficiente para ser possível distinguir suas feições, engoli em seco. Sua espressão era de pura ferocidade, desprovida de qualquer sentimento de compaixão ou caridade. Seus olhos estavam cortantes e frios, seus lábios serrados numa linha fina.

Talvez aquilo não tivesse sido assim tão boa ideia, atraí-lo ali, para conversar.

— Mas que merda é essa? - contrariamente ao que pensava, sua voz não estava alta ou grutual, daquele modo que fazia tremer tudo a sua volta. Não passava de um sussurro, muito seco, muito calmo tão gelado que a temperatura pareceu descer vários graus.

— Nickolas... - levantei do sofá, colocando o pequeno profeta atrás de mim. —

Me deixa explicar.

— Explicar o quê? Explicar que fugiu de mim depois de ter dito que ficava?

Ele estava... magoado?

Passei por Joshua, a caminho de Nickolas, mas este colocou um braço na minha frente. Afastei-o e continuei.

— E quem é este? Seu namoradinho humano? - questionou o demônio com puro escárnio. — Um anjo e um demônio já não são o suficiente para você?

— Joshua, leve o Ary daqui - ordenei.

— Mas... - Joshua pareceu perplexo, seus olhos expressavam preocupação. Mas Nickolas não faria nada. Eu acho.

— Agora.

Quando ouvi a porta lateral bater, levantei a mão e atirei-a contra a face de Nickolas.

Infelizmente, o movimento foi quebrado por um gesto seu, segurando meu braço.

— Nunca mais volte, sequer, a cogitar fazer uma coisa dessas - afirmou sem qualquer tom na voz.

— Como pode me acusar? Não sabe de nada!

— Sei que fugiu de minha casa e veio para a desse humano!

Afastei o braço de sua mão, tentando manter a calma.

— Eles querem ajudar, os humanos. Eles sabem de tudo.

— Como podem saber? Contou para eles? - perguntou, com um ligeiro tom de gozação.

— Eles têm um profeta, Nickolas. Podem ser úteis!

— Humanos nunca são úteis. Quando vai perceber isso? - declarou, recolhendo as asas.

— Se os humanos nunca são úteis, por que quis que eu ficasse com você? Por que é que me foi buscar na casa do Avaritia? Por que o matou por mim?

Check mate.

Vi-o fraquejar. Notei o atraso em seu pensamento, o acelerar do bater de seu coração, a gota de suor a escorrer por sua têmpora.

Aproximei-me ainda mais, colando os lábios na sua orelha:

— Se os humanos nunca são úteis por que é que veio atrás de mim? Por que é que está aqui? - sussurrei.

No momento seguinte, estava contra a parede mais próxima, com os lábios comprimidos contra os de Nickolas e suas mãos nas laterias de meu pescoço. Era um beijo de castigo e advertência. Servia para me calar, para não tocar mais na ferida e para me punir por tê-lo feito. Sua língua se movia violentamente contra a minha. Colocou uma perna entre as minhas e uma de suas mãos me apertou, com força. Meu lábio inferior foi puxado por seus dentes, senti gosto de sangue, mas não tinha certeza se era dele ou meu. Nickolas jogava sujo. Arranhei sua nuca com as unhas, fazendo pressão suficiente para deixar marcas vermelho-sangue.

Finalmente, soltou minha boca, me dando oportunidade para respirar, mas apenas o fez para chupar a pele sensível de meu pescoço, para morder o lóbulo de minha orelha. Coloquei as mãos dentro de suas camisa, a abrindo, deixando e pele de seus ombros e peito descoberta e costas. Eu adorava tudo dele. Adorava-o em demasia. Amava-o em demasia.

Mordíamos, arranhávamos, nos magoávamos um ao outro. Por quê? Pela necessidade que tínhamos de libertar nossa frustração, nosso ódio momentâneo um pelo outro, toda aquela tensão acumulada.

Segurei um gemido, meio de dor, meio de prazer. Não podia gritar, pois o primeiro a fazê-lo perdia o jogo.

A última jogada de Nickolas foi nítida, desleal e vencedora. Sem mais nem menos, colocou as mãos no meu traseiro, me erguendo, afastando a roupa interior que usava de baixo da saia, e entrando em mim, sem qualquer delicadeza ou carinho. Apoderou-se, novamente, de meus lábios, com mais garra do que antes, com mais ardor.

Aquele não era, simplesmente, Nickolas. Aquele era o Guardião da Luxúria, o demônio, o braço direito de Lúcifer e me torturava de um modo doloroso. Mas, ao mesmo tempo, delicioso.

Foi tudo tão rápido. Em poucos minutos, a intensidade de nossas ações resultava num estado de relaxe e flutuação partilhada. Nickolas me baixou e encaixou o rosto na curva de meu pescoço. Estávamos ofegantes, cansados, mas aliviados e certos de que nossa pequena guerrilha resultara num empate.

— Nickolas, dê a eles uma oportunidade - murmurei, contra o seu pescoço. — Dá-nos uma oportunidade.

Demorou tanto tempo para reagir que pensei que não tivesse ouvido. Quando se afastou, sua expressão voltara à máscara e fúria anterior, ainda que com um leve franzir de sobrancelhas de incompreensão.

— É isso mesmo que quer? - questionou de um modo tão intenso que estive prestes a negar, mas no fim, acabei por assentir.

Ele retrocedeu, rapidamente.

— Muito bem. Vocês, que se auto-intitulam de Resistência - chamou alto, — Podem aparecer, quero saber o que vocês têm.

A primeira porta a abrir foi aquela por onde Joshua saíra e foi ele mesmo a passar por ela, na frente de um grupo de humanos.

— Vocês dizem serem capazes de combater quatro Cavaleiros do Apocalipse, não é? - num gesto rápido, deixou a camisa meio aberta cair por completo no chão e abriu asa asas, mostrando aquela figura de anjo negro. — Quero ver o que são capazes de fazer a um demônio. Sou todo vosso. Não reclamarei, façam de mim o que quiserem.

Pasmei ao olhar para Nickolas.

— O que quer dizer com isso? - perguntei, com a voz tremida.

— Isso mesmo que você ouviu - respondeu, me olhando por um segundo antes de voltar a encarar os outros humanos. — Me mestre sua força. Sua determinação, sua vontade de vencer. Serei um boneco em suas mãos. Façam de conta que sou um dos Cavaleiros, me torturem, espanquem, enfolem, queimem com ferro e fogo. Quanto mais longe forem, melhor saberei que estão preparados para a batalha.

— Nickolas, não! - pedi, tentando me aproximar dele, mas sendo impedida por uma qualquer força invisível.

— Como podem ter certeza que não mataremos você? - questionou Joshua.

Não, ele não estaria, seriamente, ponderando aceitar aquela proposta ridícula.

— Precisam de mim, além de que não sou tão fácil de matar - Nickolas parecia muito calmo, muito confiante.

— Nickolas, por favor, não faça isso.. por favor - implorei, não contendo as lágrimas que começavam a cair por meu rosto.

— Muito bem. Aceitamos.

As palavras de Joshua gelaram o meu coração.

— Joshua, não pode fazer uma coisa dessas... Nickolas... por favor... não.

Repentinamente, dois homens agarraram ambos os braços do demônio e colocaram-lhe correntes nos pulsos, e deixou-se conduzir até a porta.

— Por que chora humanazinha? - inquiriu, olhando para trás, para mim. — Até parece que não foi você quem começou este jogo.


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Notas finais do capítulo

Gostou? Comenta aqui embaixo o que achou. Comenta vai?
Beijão anjinhas, um abraço demôniozinhos. Nos vemos terça!



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