Como me (des)apaixonei por Peeta Mellark O Pedido escrita por Ellen Freitas


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas!!!

Um dis desses estava olhando minha conta e vi que a fic CMDPPM estava chegando aos inacreditáveis 100 mil acessos. Esse foi um feito mais de vocês leitores do que meu, então como agradecimento prometi que quando virássemos essa marca, faria um capítulo bônus que muitos tem me solicitado: o tão falado pedido de casamento!!!

Então ontem, faltando apenas vinte e um dias para a fic completar dois anos que foi encerrada, conseguimos!!! Aew!!!
Espero que gostem, foi um capítulo feito com muito carinho para vocês. Espero que mate pelo menos um pouquinho da saudade que sentimos.

Boa leitura!! Bjs*



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Passei as mãos pelo jeans, uma fraca e frustrada tentativa de diminuir o suor das minhas palmas. Constatei no segundo seguinte que havia sido uma péssima ideia, pois logo senti em meu bolso o volume quadrado da caixinha que continha o anel.

E aquilo me aterrorizou como o inferno.

A compra da joia não havia sido planejada, eu apenas estava em busca do presente de aniversário da Katniss, mas ao colocar meus olhos no pequeno aro de ouro branco com o diamante adornando a parte superior, não pude evitar. E agora, eu estava há seis meses com ele e não conseguia pensar em outra coisa além do pedido.

Como, quando e onde fazê-lo.

― ‘Tá me estressando ― Cato reclamou do sofá sem me olhar, apertando os botões do controle remoto e fazendo com que eu parasse minha frenética caminhada pela sala, enquanto esperava meu melhor amigo chegar. ― Você não tem que ir trabalhar ou coisa assim?

― Pedi um dia de folga ― retruquei simplesmente, não dando atenção ou mesmo importância à sua despreocupação crônica. ― Você também não foi? Nosso pai deve ter ficado exultante sem a presença de ambos na empresa. ― Sentei-me ao seu lado no sofá, torcendo e estalando os dedos das mãos um por um.

― É sábado. ― Também conhecido como “dia de Cato enrolar o papai e deixar a preguiça vencer”. ― Clove ‘tá escondendo alguma coisa de mim, e tenho quase certeza que sua namorada sabe.

― Katniss? ― questionei surpreso, torcendo o nariz para a mão dele alaranjada por causa dos cheetos que ele jogava na boca.

― E tem outra? É a mesma garota, sempre a mesma ― comentou distante, e franzi a testa em estranheza.

― Você tem alguma observação sobre meu relacionamento com a Katniss, mano? ― Me virei para ele, que respirou fundo e desligou a TV para me dar atenção.

― Você tem 26 anos e está nesse namoro há 10 anos. 10 anos, Peeta!

― Não fale como se seu relacionamento não tivesse começado meses depois do meu ― rebati.

― Anos depois ― me corrigiu com o dedo em riste. ― E é diferente, eu aproveitei minha juventude, transei bastante com pessoas diferentes. Sem falar que Clove é obcecada pela pós-graduação, e ao contrário de você, não sou o vice-presidente mais jovem da história da Mellark’s. ― Apesar de tudo que ele disse parecer meio louco, eu sabia exatamente para onde a conversa estava indo, mas precisava que ele falasse.

― Faça sentido, Cato.

― Você comprou e está terminando de mobiliar um apartamento duplex de quatro quartos, e está a dois passos de assumir a presidência da empresa da família. Você sabe onde está indo, não precisa que eu te diga. Apenas peça, ela vai dizer sim e me poupe de toda essa caminhada doida pela sala. ― Sorri e ele voltou a ligar a TV.

Meu irmão tinha mudado tanto nos últimos anos, que eu não poderia deixar de estar orgulhoso. Ainda tinha seus momentos de babaquice, super controle e falta de interesse no legado da família, mas estava sem dúvida estava crescendo.

― Vou pedir hoje ― confessei, tirando a caixinha azul marinho do bolso e lhe mostrando anel, o deixando de boca aberta por alguns segundos. ― Por favor, fala alguma coisa.

― Caralho, quanto o papai ‘tá de pagando? Quer dizer, aquele apartamento e agora esse anel? Segunda teremos uma reunião séria no escritório! ― Meu irmão falou exagerando uma revolta, mas logo começamos a gargalhar juntos. ― Ela vai amar, não tem como dizer não pra um Mellark.

― Valeu, mano. ― O abraço de congratulações chegou a uma brincadeira de luta no meio da sala do nada, porque quando você está entre irmãos, não existe essa de idade adulta.

A campainha tocou minutos depois, quando eu já estava bem menos tenso e bem mais suado, jogado com Cato no chão.

― Atrasado! ― acusei um Finnick sorridente quando a abri a porta, e me surpreendi ao ver Gale logo atrás dele. ― Ei, Gale.

― Isso lá é jeito de receber o melhor amigo que viajou seis horas para estar aqui? ― Ele abriu os braços e acabei rindo, lhe dando um abraço. ― Salvei Gale de mais uma obrigação nojenta. ― Apontou com o polegar para o moreno, que lhe deu um soco no ombro.

― Entra aí, galera. Vocês precisam me ajudar numa coisa.

― Mas antes, preciso comer, ‘tô morrendo de fome. Estou em um avião há horas, só deixei Annie na Katniss e vim pra cá. ― Finn pareceu meditar sobre algo. ― Quer dizer, eu fui expulso do apartamento dela. O que há de errado com a Coração, Peeta, o que você fez?!

― O que ele ainda vai fazer. ― Cato começou misterioso e fez uma continência com dois dedos para os outros dois, os cumprimentando. ― Hoje nosso bebê fica noivo! ― Gale abriu a boca surpreso e logo um sorriso misterioso desenhou-se em seus lábios.

― Sério, Peeta? Isso explica o quanto nossa garota ‘tá surtada.

― Primeiro, ela não é nossa garota, Finn! E depois, que história é essa de “surtada”?

― Você sabe que eu sou o cara mais legal do planeta, não sabe? ― Finnick se gabou com um sorriso enorme. ― Pois ela não me deu a mínima atenção e quando falei que vinha na sua casa, ela quase me bateu. Aliás, apenas mencionar seu nome, fez ela gritar comigo e começar a chorar, pensei que vocês haviam brigado.

― Não, não brigamos. ― Minha voz ficou mais baixa e levemente entristecida.

Eu não via Katniss desde o último fim de semana, e nossas conversas por telefone haviam sido bem rápidas, mas isso era porque eu estava nervoso e tinha medo que Kat descobrisse o pedido antes da hora. Ela sempre sabia quando eu estava mentindo ou escondendo algo.

― Relaxa, cara, vocês vão ficar bem. ― Gale me tranquilizou. ― Hoje vai ser um dia que ambos nunca vão esquecer.

― E eu ainda estou com fome! ― Finnick reclamou do sofá. ― Faz alguma coisa pra gente, Peeta?

― Por que eu?

― Simples, maninho. Você é o único de nós que entra em uma cozinha sem colocar fogo na porra toda, então... ― Rolei olhos indo para a cozinha e deixando os três disputando os controles do videogame.

Coisa muito estranha para três caras de quase trinta.

Enquanto pegava os ingredientes dos sanduíches, disquei o número de Katniss e coloquei no viva-voz, em cima da bancada ao meu lado.

― Florzinha?

Quase, sou a espinho ― a voz de Johanna me respondeu, simpática como sempre. ― Qual é, Peetalícia?

― Cadê a Katniss, Jo?

Ali.

― Posso falar com ela?

Acho melhor não.

― Me fala o que está acontecendo, então. ― Bati o pé no chão, já perdendo a paciência para aquelas respostas vagas.

Me dá isso aqui, Jo! ― Minha morena pediu e uma pontada de felicidade me atingiu. As coisas não estavam estranhas como todo mundo disse. ― Peeta, agora não. ― Felicidade veio cedo demais.

― Tudo bem com você?

Eu... ― Ela fungou discretamente. ― Eu... ― Então começou a soluçar. ― Eu vou desligar. ― Ainda ouvi seu choro antes que a ligação fosse cortada. Meu coração afundou em meu peito e deixei tudo largado de qualquer jeito na bancada e fui direto para a sala, onde os outros estavam.

― Esqueçam a droga do pedido, Katniss vai terminar comigo!

.

|| * || * || * ||

.

Katniss vai terminar comigo.

Vai começar tudo de novo.

― Relaxa, cara. ― Tommy apertou meu ombro tentando me passar força, enquanto eu tinha o rosto entre as mãos. ― Ela não vai terminar com você.

Eu e Thomas estávamos cada vez mais amigos. Com Finnick morando longe, Gale lutando para levantar a firma de advocacia e cuidar da família, e nós dois trabalhando juntos na empresa, essa aproximação foi natural e espontânea.

Confesso que no início todo mundo estranhou, até mesmo nós dois, dado o histórico da família dele com a minha, mas isso foi relevado e substituído por uma amizade sincera. Se nós mesmos não conseguíamos entender o objetivo de recuperação de pessoas carentes a que se destinava a Fundação Madge Undersee Mellark, ela não valia de nada.

Tomatinho está certo. ― Finnick adotou o apelido que Johanna deu para o coitado logo que o conheceu. ― Se Clove aguenta o Cato, não vai ser a Kat que vai arregar, o que nos leva ao próximo passo: o pedido. ― Rolei olhos.

― Esqueçam, vou na casa dela e perguntar.

― Não, não, não! ― continuou. ― Johanna pode aceitar isso, Clove também, mas Katniss e Annie não diferentes, meu colega. Elas precisam de romance, daquela coisa com demonstração de sentimentos e tudo, capiche?

― O que fazer então?

― Só estava esperando você perguntar. ― O Odair levantou e subiu na mesinha de centro, assumindo uma postura de professor, mesmo com minha reclamação de “minha mãe vai te matar”. ― Não adianta falar com o Tommy, já que ele não tem ninguém, coitadinho, nem com Cato que nunca fez sequer um pedido de namoro na vida, muito menos com Gale, que já fez dezenas e já levou dezenas de nãos na cara. Por isso o mestre está aqui. ― Apontou os dois polegares para si mesmo ao som dos protestos dos outros três.

― Não estou à procura de relacionamento.

― Eu e Jo somos muito felizes sem aliança, só pra você saber!

― E eu e Clove não queremos casar antes que ela termine a pós!

― O ponto é que eu sei essas coisas, eu fiz um pedido majestoso que Ann aceitou na hora, então vamos lá. Tive uma ideia a caminho daqui. ― Ele friccionou as palmas das mãos. ― Você leva a Coração para dar uma volta naquele mega aquário da cidade, daí quando vocês estiverem mergulhando com uns tubarões, o maior chega perto e de dentro da boca dele você tira a caixa com o anel! Diz aí, arrasei! ― Todos nós ficamos olhando para Finn em puro choque por alguns segundos silenciosos. Meu amigo estava doido! Correção, era doido.

― Peeta quer que ela aceite casar com ele, não que tenha um infarto! ― Cato expressou em palavras o que acredito ser uma opinião da maioria.

― Não escuta ele, Peeta. Você deve fazer o tradicional, velas, rosas e chocolates. ― Gale aconselhou.

― Igual o trágico pedido de namoro? ― Meu irmão mais uma vez criticou.

― E qual sua ideia, gênio?

― Simples. Leva pra jantar, motelzinho depois, daí pergunta.

― Cara, não fala essas coisas da Catnip na minha frente, ela é como se fosse minha irmãzinha!

― Ah, meu filho, pois o Peetazinho tem fodido sua irmãzinha há anos, reclama com ele. ― Finn e Gale fizeram uma careta de nojo conjunta.

― Eca, Cato, você é boçal. Agora entendo porque Peeta precisou de um padrinho importado de Cupertino para ajudar a fazer...

― Ei! ― Cato interrompeu Finnick. ― Quem disse que você vai ser o padrinho? Eu sou o irmão!

― E eu o melhor amigo dela. E dele!

― Nada disso, eu sou o melhor amigo! Não há distância que separe nosso amor, não é Peeta?

― Mano, fala pra eles que eu vou ser o padrinho! Moramos na mesma casa, trabalhamos na mesma empresa, saímos do mesmo pinto! Tenho meus direitos.

― Cato, ninguém gosta de você ― Gale apontou. ― Sem contar que é desorganizado e preguiçoso, não sabe ser padrinho. Vai acabar perdendo as alianças!

― Até onde sei o padrinho só precisa saber dar uma boa despedida de solteiro, e festa é comigo mesmo!

― Conformem-se, jovenzinhos, eu sou a melhor escolha. Dirijo uma empresa e sei dar festas, o equilíbrio perfeito! E nem estou citando o fato que sou o mais rico e mais bonito daqui.

― Rico e bonito... Isso lá justificativa? ― o advogado desdenhou. ― Sou inteligente e responsável, e Johanna vai ser a madrinha com toda a certeza. Nada mais justo.

Os três falavam e falavam, jogando cada vez argumentos mais absurdos na discussão, e minha cabeça martelava de dor. Se ainda era metade da tarde e meu dia já estava desse nível, eu não queria nem saber o que ainda me esperava.

― Calados! ― Tommy parou a confusão com um grito. ― Vocês três estão enlouquecendo o cara que ainda nem é noivo! E não vai ser com um tubarão, ou flor ou motel que ele vai fazer isso. Nenhum dos três namora a Kat, nenhum conhece ela tão bem como Peeta, então quem tem que decidir é ele!

― Eu ainda tenho uma ideia com asa delta, se ele quiser ― Finn sussurrou alto o bastante para provocar a todos.

― E quem vai ser o padrinho, vocês estão mesmo brigando por isso? Ele escolhe, o casamento é dele, e não vai acontecer se vocês continuarem soltando tanta merda pela boca!

― Valeu, Tommy ― agradeci pelo silêncio que ele conseguiu, então levantei pegando minhas chaves e rumando à saída.

― Onde você vai?

― Ao apartamento da Katniss. Se ela for terminar, vai ter que fazer isso na minha cara, e se não, daqui a pouco a gente vai estar noivo.

Bati a porta nas minhas costas, ouvindo logo em seguida o burburinho dos meus amigos discutindo sobre quem iria comigo e quem guardaria o anel enquanto eu conversava com minha florzinha. Deixa pra lá, eles não tem jeito!

.

||*||*||*||

.

Clove abriu a porta do apartamento de Katniss, mas tentou fechar logo em seguida ao ver que eu estava parado ali.

― Vá embora, ela não quer falar com você agora ― a morena ordenou quando espalmei minha mão na porta, a mantendo aberta.

― Mas eu preciso...

― O que você precisa não é exatamente a prioridade do momento, cunhadinho, então vaza!

― Não antes de falar com minha namorada. ― Passei por ela sem pedir licença. ― Katniss está no quarto?

― Peeta!

O apartamento não era grande e eu o conhecia como a palma da minha mão, já que passava mais tempo aqui do que em minha própria casa. Uma construção simples de apenas um quarto, sala, cozinha e banheiro, tudo decorado com a simplicidade e beleza que Katniss tanto valorizava.

― Florzinha? ― irrompi no quarto, fazendo Johanna saltar de susto e Katniss arregalar os olhos na minha direção, levantando a cabeça do colo de Annie.

― Cai fora, loiro, ou esqueço em como você é delícia e te chuto onde você não vai querer ser chutado. ― Rolei olhos para as ameaças de Johanna e me ajoelhei ao lado da cama, tomando as mãos pálidas e frias da minha namorada entre as minhas.

― Você ‘tá bem, amor? ― Os olhos dela estavam inchados e o nariz vermelho.

― Acha que estou brincando, Peeta? ― Jo continuou a ameaçar.

― Jo, faz um favor pra mim e cuida dos três patetas que me seguiram até aqui e Clove não vai conseguir segurar sozinha na sala. ― Pedi a ela, ignorando seu estresse.

― Vocês dois me metem em cada merda! Um dia ainda me pagam, e vai ser caro, muito caro! Vou querer tudo em euro! ― A morena saiu resmungando do quarto.

― Ann? ― questionei à ruiva, um pedido subentendido que ela nos deixasse a sós.

― Kat, vocês precisam conversar. ― O tom sério da sempre tão sorridente e atrapalhada Annie, seguido pela negação insistente de Katniss fez meu estômago afundar.

― Você poderia ser menos teimoso, não? ― Foi a primeira coisa que ela falou quando estávamos a sós. Ao fundo eu podia ouvir o burburinho das pessoas no cômodo ao lado. ― Não quero conversar agora, significa não quero conversar agora!

― Katniss. ― Sentei ao seu lado na cama. ― Acho que devemos falar sobre isso. ― Eu não desistiria do meu namoro de 10 anos sem uma boa briga, ainda mais um relacionamento que eu acreditava tanto. ― Eu sei o que está acontecendo.

― Sabe? ― Seus olhos cresceram um par.

― E não concordo com você, em hipótese alguma. Não importa o que isso seja, não vai atrapalhar nosso relacionamento ― afirmei com o máximo de certeza que consegui colocar na voz.

― Isso? ― Não entendi quando ela começou a chorar copiosamente, e afastou com tapas minhas tentativas de consolá-la com um abraço.

― O que foi?

― Sai daqui, Peeta. Sai da minha frente, agora!

― Mas, Katn...

― E não me liga, não tenta mais falar comigo. Eu não sei o que deu na sua cabeça de vir aqui falar esses absurdos para mim, mas se eu ouvir sua voz hoje mais uma vez sequer, eu juro que te mato com muita dor! ― A Mason era uma péssima influência, fato.

― Eu não vou sair antes de você me dizer porque diabos eu sou o culpado aqui!

― Você está mesmo me perguntando essa estupidez? ― ela gritou de volta.

― Quando você começar a fazer sentido, eu paro de falar estupidez! Porra, Katniss! Eu só queria...

― Sempre tem que ser o que você quer... Não dessa vez. Sai daqui!

― Ou o quê? Vai chamar suas amiguinhas, chorar e comer chocolate como uma adolescente, ao invés de conversar e resolver problemas como uma pessoa adulta?

― Filho da mãe!

― Ok, já chega. ― Johanna entrou no quarto. ― Vai embora, Peeta, só está piorando.

― Amor, deixa eles...

― Cala a boca você também, Galho!

Antes que eu pudesse controlar, todos já estava dentro do quarto fazendo a já costumeira confusão e com todo mundo falando ao mesmo tempo, ninguém entendia nada.

― Quer saber? Quando sua TPM passar a gente se fala, Katniss. ― Saí do quarto como um foguete.

― Peeta, espera. ― O advogado correu atrás de mim, me alcançando quase na saída.

― Não, Gale, não quero conversar.

― Mas eu acho que...

― Eu acho que eu e Katniss precisamos de um tempo sem todas essas pessoas escutando conversas atrás da porta e dando opinião. Então se você puder fazer isso por mim e por ela, agradeço muito. ― Lhe dei as costas, quando lembrei de um detalhe. ― Ah, mais uma coisa: não conta da droga do pedido pra ela, já que não vai rolar mesmo.

.

||*||*||*||

.

A luz azulada do raio iluminou o quarto inteiro, me distraindo de pegar a bolinha quando ela saltou da parede de volta para mim, acertando em cheio meu olho. Até minha distração tinha resolvido foder minha paciência.

― Que merda! ― A chuva começou a cair lá fora quando levantei da cama para pegar a maldita bola que quicava perto da cômoda.

Meu celular apitou a chegada de mais uma mensagem, que ignorei e voltei ao meu trabalho de me machucar involuntariamente com objetos indefesos.

Eu tinha sido idiota com Gale, isso tinha admitir.

Falar aquilo foi rude e sem propósito, eu não imaginava minha vida sem meus amigos. Eles era barulhentos, briguentos, extremamente diferentes uns dos outros, mas depois de tantos anos, éramos uma família. Foram eles que estavam ao meu lado nos piores e melhores momentos da minha vida e minha explosão logo com Gale foi injusto.

Mas o comportamento de Katniss estava me enlouquecendo. Eu odiava essa mania que ela tinha de guardar para si o que a incomodava, me deixando totalmente no escuro quando o assunto eram seus problemas. O tempo me fez ficar um especialista em lê-la, mas por algum motivo, hoje esse trabalho estava ainda mais difícil.

O que começou como o que deveria ser o dia mais feliz das nossas vidas, estava caminhando para ser o pior, já que aquela briga tinha sido a mais terrível desde o nosso último término no acampamento de férias do último ano. Desde o casamento do Finnick e da Annie estávamos bem.

Claro que enfrentamos desafios, muitos deles, inclusive. O período da faculdade foi difícil, o intercâmbio dela na Europa também, pois nos fez ficar um ano inteiro sem nos ver pessoalmente, porque eu estava atolado demais em um processo de transição da empresa, mas nada gerou uma briga tão grave.

Mas gastar uns bons minutos relembrando de cada dificuldade que conseguimos ultrapassar desde que nos conhecemos, me fez pegar minhas chaves e descer as escadas correndo.

Se não foram dez anos de TPM, uma ex namorada possessiva, a morte da minha gêmea seguida por uma depressão profunda, um sociopata assassino, exaustivas horas de estudo e trabalho, ou milhares de quilômetros que nos separaram, não seria uma briga que eu nem sabia o motivo que conseguiria esse feito. Peeta e Katniss são para sempre, era o que Madge dizia e Prim não nos deixava esquecer. E eu a amava demais para deixá-la ir sem ao menos tentar fazer o pedido.

― Katniss?

Para minha surpresa ela estava ali quando abri a porta da frente, tremendo de frio como um animalzinho assustado em minha varanda, a água pingando se seus cabelos e suas roupas encharcadas.

― Meu Deus, entra. ― Dei passagem a ela, logo pegando a jaqueta que tinha nas mãos e colocando sobre seus ombros. ― Eu estava indo te encontrar.

― Tem alguém em casa?

― Só eu ― respondi sua pergunta mesmo sem entender o motivo dela.

― Precisamos conversar ― ela começou decidida. Nunca pode vir algo bom daí.

― Eu sei. ― Suspirei triste. ― Mas você não quer se aquecer antes? ― Era uma das noites mais frias do ano, e ela ter pego toda aquela chuva, que a cada minuto ficava mais forte, não ajudava em nada.

― Não, isso é mais importante. ― Ela colocou uma mecha do cabelo úmido para trás da orelha e coçou o nariz, espirrando logo em seguida. ― Droga, vou ficar gripada.

― Quer um cobertor? ― perguntei solícito.

― Não, Peeta, eu não quero um cobertor, quero te contar uma coisa. Uma coisa que você foi babaca demais para me deixar falar essa tarde, mas que quando Gale expulsou nossos amigos, eu pude pensar melhor.

― Está mudando de ideia? ― questionei com cuidado.

― Claro que não! ― afirmou categórica.

― Então ainda vai terminar comigo. ― Joguei meu peso em uma das poltronas. É isso, parece que nem Peeta e Katniss estavam destinados a ser para sempre.

― Quê? ― A total surpresa na voz dela, me fez a olhar esquisito. ― Terminar?

― Você não pensou em terminar comigo essa tarde?

― Ah, querido, pensei, e muito. Mas foi depois que você saiu, não antes de chegar lá. ― Eu estaria aliviado, se não estivesse profundamente confuso. ― O que te fez achar isso?

― Você toda esquisitona e temperamental no telefone, sei lá.

― Eu sou esquisita e temperamental sempre ― justificou-se. Pura verdade. ― Espera aí... Então todo aquele seu showzinho foi achando que eu fosse terminar nosso namoro? ― Katniss apontou para si mesma, mordeu o lábio, então um sorriso sincero brotou ali. ― Você é uma figura, Cupcake. ― Então ela começou a gargalhar. Bipolar? Imagina!

― Katniss, estou entendendo cada vez menos dessa história. Se não foi por isso, o que estava acontecendo com você?

― Ok. ― Respirou fundo. ― Talvez seja melhor você sentar.

― Não, talvez seja melhor você sentar. ― Katniss estava muito pálida e parecia que ia desmaiar a qualquer momento. ― Tem certeza que está bem?

― Só um pouco fraca. Tudo bem, respira fundo, Kat.

A alcancei antes que ela caísse no chão, pois logo em seguida suas pernas fraquejavam e ela desfaleceu em meus braços, e só teve tempo de me pedir que ligasse para Johanna. E lá vamos nós, mais uma vez para o hospital.

.

||*||*||*||

.

― Isso está demorando, isso deveria demorar tanto? ― Eu caminhava de um lado a outro da sala de espera, sob o olhar atento de Finn, Annie, Clove, Cato, Gale e Tommy. Quando Katniss passou mal e liguei para Jo, ela disse que nos encontraria no hospital, e acabei ligando para Finn também, que chamou os outros. ― Eu vou entrar.

― Johanna arranca tuas bolas com um daqueles bisturis. ― Gale alertou de braços cruzados e relaxado no encosto da cadeira com os olhos fechados. ― Mas fica à vontade.

― Droga! Mas não tenho certeza se confio a vida da Katniss à uma residente do segundo ano, ainda mais uma doida igual a Johanna.

― Senta, Peeta, é melhor. ― Annie pediu, dando espaço para que Finn se aconchegasse em seu ombro, quase caindo de sono. Já era quase meia noite e a chuva estava bem mais fraca agora.

― E se ela tiver algo grave?

― Não tem, agora senta ou te passo uma rasteira aqui no meio do hospital. Eu já disse como essas suas caminhadas frenéticas me enlouquecem? ― Cato imitou a ideia de Finnick e se aninhou no colo de Clove.

― E não é como se fosse a primeira vez da desastrada da Katniss em um hospital ― a morena baixinha comentou com um sorriso.

Fiz uma careta de desgosto e me encostei na parede. Eu estava estranhando como todos estavam bem calmos diante de situação, parecendo até que já sabiam o que ela tinha. Abri a boca para perguntar, quando Johanna abriu a porta.

― Ela quer falar com você agora. E vai com calma, faz favor.

Coloquei meu melhor sorriso no rosto e fechei a porta às minhas costas, recebendo de volta um sorriso confortador dela.

― Você ainda vai acabar com meu juízo, Florzinha. ― Apoiei a mão ao lado de seu rosto e beijei sua testa.

― Como sempre, o exagerado. ― As mãos frias dela acariciaram meu rosto. ― Mas não consigo amar menos. ― Agora seus lábios envolveram os meus com delicadeza e carinho, gesto que logo retribuí.

― Eu continuaria a te beijar a noite toda, meu amor, mas posso fazer isso depois de te dizer o que venho tentando o dia todo. ― Meu corpo começou a mostrar sinais intensos de nervosismo, um inexplicável suor frio se formando em minhas palmas e testa.

― Também tenho uma coisa pra falar.

― Me deixa ir primeiro ― pedi com um sorriso.

― Mas eu também pensei em te dizer o dia todo ― insistiu.

― Tudo bem, vai você primeiro.

― Não, agora não quero ir primeiro só porque você cedeu às minhas vontades, pode ir.

― Qual é, Kat, vamos ficar nisso a madrugada toda?

― Juntos no três? ― O sorriso dela foi tão honesto, mas sentia que ela estava nervosa, assim como eu. Para um leigo em Katniss Everdeen, isso passaria despercebido, mas eu notei pelo canto do lábio tremendo e o modo ansioso como me olhava. ― Vamos contar.

Um... Dois... Três!

― Casa comigo?

― Estou grávida! ― falamos ao mesmo tempo. ― Espera, o quê? Você acabou de me pedir em casamento?

Tudo começou a se mover em câmera lenta. Katniss levando as mãos à boca com a surpresa, seus olhos cinzentos fazendo-se notar ainda mais por estarem arregalados, assim como as lágrimas grossas que formaram-se de emoção.

Quanto a mim, eu não saberia dizer o que fiz em seguida. Eu seria pai?

Foi como se o chão sumisse da planta dos meus pés e meu coração parou de bater por alguns segundos, então apertou forte, fazendo com que uma respiração curta escapasse de meus lábios. Passei a línguas pelos lábios e abri a boca para falar o que pareceu ser uma dezena de vezes, mas sem que nenhum som saísse dali.

― Fala alguma coisa. Peeta! ― Katniss sentou-se na cama chacoalhando meus ombros. ― Deus, ele vai desmaiar. Johanna!

Nem o barulho da porta abrindo e quase uma dezena de pessoas entrando me tirou do estado de torpor, onde eu não desviava os olhos do rosto da minha amada, e logo senti minha visão turvada pelas lágrimas que chegaram.

― O quê?

― Ele está em choque. Congelou nessa posição faz tempo.

― Acorda, loiro! ― Jo, a delicada, deu um tapa nada gentil na parte de trás da minha cabeça, me despertando no susto. ― Pronto, nada como o bom uso da antiga medicina do tapa.

― Vamos ter um bebê? ― perguntei receoso, minha respiração normalizando aos poucos.

― Vamos sim, Cupcake. Um loirinho lindo como você.

― Ou mais uma morena que vai dar um trabalhão pro Peeta. ― Finnick comentou em algum ponto atrás de nós.

― Você ainda parece que vai desmaiar. ― Kat estreitou os olhos para mim. ― Tem certeza que não quer que vejam sua pressão?

― Não, não preciso ― neguei. ― Gale tinha razão, esse dia é de longe o mais inesquecível da minha vida, porque nunca pensei que tanta alegria coubesse em uma só pessoa ― declarei com toda a sinceridade que consegui reunir, a fazendo soltar um suspiro de alívio.

Agora toda a confusão de mais de mais cedo fazia sentido e pude entender como ela ficou tão brava com minhas palavras. Mas paralelo a isso, não entrava na minha cabeça porque Katniss ainda conseguiu pensar que eu ia querer e amar essa criança mais que a mim mesmo.

― Eu amo tanto você, Peeta Mellark!

― Também te amo demais, Katniss Everdeen. Amo os dois. ― Me inclinei sobre sua barriga plana, depositando um beijo ali.

Sempre achei essas cenas clichês, mas agora compreendia porque pais faziam esses papeis de bobos da frente de todo mundo e de milhares de pessoas no Instagram. A sensação era que meu peito explodiria a qualquer momento e eu queria estar o mais perto que conseguisse desse novo serzinho que estava por vir.

Logo subi meus lábios para encontrar os dela, trazendo-os para mim com vontade, a beijando como se meu oxigênio só estivesse ali, minha vida interligada com a dela. E, de algum modo, depois daquela notícia, estávamos sim ligados para sempre.

― Agora fica a pergunta. ― Cato elevou a voz, quebrando a concentração que dispensávamos ao beijo e fazendo com que olhássemos para ele. ― Quem vão ser os padrinhos do pestinha? Porque eu sou o tio, então meio que já estou um passo à frente.

― Que tio, o quê? Eles são padrinhos do meu filho! ― Gale alegou.

― Não vamos esquecer que eles também foram os padrinhos do meu casamento. E eu também pretendo colocar muita gente linda no mundo, sem falar do fator lindo e rico que essa criaturinha vai precisar para se espelhar.

― Vai começar tudo de novo. ― Descansei minha testa na curva do pescoço de Katniss, a ouvindo gargalhar.

― Quietos! ― Clove gritou. ― Essa decisão não vai set tomada por vocês que serão uma péssima influência para essa criança. Devemos escolher com base na sanidade das garotas, o que me deixa dez passos à frente das outras duas.

― Ei! Tu é mais doida que eu e Annie juntas, sua contrabandista de tarja preta!

― Acho que também devo ter uma chance.

― Claro que deve, Ann ― Finn defendeu. ― Você é a melhor, mais bonita e mais inteligente.

― Ela nem mora aqui!

― Tem razão, Clo, Annie ‘tá fora. E Cato é um demente, enquanto meu Gale é um advogado estruturado, e já tem experiência em cuidar dessas coisinhas, então já ganhamos. Vamos acabar a discussão por aqui.

― Vamos acabar nada! E demente é a mãe!

Os gritos seguiram-se nos minutos seguintes, com Thomas tentando sem sucesso acalmá-los. Não dava para negar, eu e Katniss amávamos aqueles loucos daquele jeito e eles não mudariam nunca.

― Ei, você não respondeu minha pergunta. ― Tirei a caixinha do bolso, lhe estendendo o anel. ― Aceita casar comigo, com o risco de começar uma família meio maluca, mas com a certeza de terminar de me fazer o homem mais feliz do mundo?

O sorriso dela se estendeu de orelha a orelha, sussurrando em meio àquela balbúrdia o sim mais lindo que já ouvi em toda minha vida.


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Notas finais do capítulo

Ai ai ai... ~suspiro~
Espero mesmo que tenham gostado e que tenha saído pelo menos pertinho do que esperavam.
Pelo epílogo já sabemos que meses depois nasceu nossa adorável Madinha, e ainda teremos nosso pequeno encrenqueiro Oliver anos depois, e a história continua...
Se quiserem mais dessas aventuras dessa família e agregados, acompanhe em Como me (des)apaixonei por Oliver Mellark, que estou lutando para manter sempre atualizada.

Então é isso pessoal, espero vocês nos reviews. Sinto saudades de falar com todos!! Bjs*

p.s.: Capítulo não completamente revisado. Qualquer erro, me avisem. ;)