Naruto, A Criança Hokage: escrita por Yori Sora


Capítulo 8
Aquilo Que É Importante:




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/710160/chapter/8

 

— Velhote! – chamei, abrindo abruptamente a porta. Depois abaixei o olhar. – Me desculpe, mas... precisamos conversar - eu estava ali, minutos depois da declaração do Itachi-sensei.

 

O Sandaime sorriu fragilmente, ele era realmente um senhor doce e sábio, mas o assunto não era sobre doçura e sabedoria. Eu lembro que a tarde estava começando a esquentar, eu poderia pedir um copo de água, mas apenas fiquei ali, na porta, esperando a deixa para entrar no escritório.

 

— Sobre o que deseja conversar, Naruto-kun? – ele perguntava, tragando o seu velho cachimbo.

 

— Creio que o senhor compreenda – eu respondi, formalmente, mas meu olhar se fragilizou e notei que ele percebeu. – Eu... – balbuciei. – Eu quero entender a minha vida para saber o que fazer daqui em diante.

 

— Sente-se – foi tudo que ele disse.

...

 

Um silêncio que seria constrangedor se aquilo fosse um assunto trivial: não era. O Sandaime suspirou, como que cansado ou, pelo menos, pronto para falar de um assunto delicado. Olhei para ele, tentando parecer paciente – suas rugas eram evidentes, assim como um cansaço comum aos idosos em sua face, notava que em seus olhos, havia um terror que somente aquele que tirou vidas sem querer fazê-lo compreende.

 

Mas eu sabia, pela sua linguagem corporal e pelo que conhecia nele, que se tratava de uma alma gentil. Eu sorriria para ele em aprovação, aprovação a uma das minhas maiores inspirações como aspirante a Hokage, mas eu pretendia permanecer sério, sentado naquela cadeira. E os instantes logo se transformaram em minutos horripilantes.

 

O meu coração batia bem rápido, disso eu lembro.

 

— Vou começar – o Sandaime começou, interrompendo aquele silêncio assustador. – Naruto-kun, você sabe da Kyuubi no Yoko, não é? Que ela está selada em ti e que isso foi obra do Yondaime Hokage – ele continuava –, certo?

 

— Certo – respondi.

 

— Normalmente – ele dizia, pausadamente –... esse tipo de assunto seria acompanhado de alguns jounins, pelo menos um anbu e os meus conselheiros, mas todos do alto escalão da vila estão cientes da situação – o seu tom de voz era sério, eu quase nunca o via tão focado nas palavras dessa forma.

 

— Compreendo – eu disse e, então, bufei. – Começando: quem são meus pais? Eu sei que a Kyuubi no Yoko foi controlada, provavelmente por um Uchiha, o que deve ter causado desconfiança das pessoas sobre o clã e originado a revolta – compartilhei a minha opinião sobre os fatos.

 

— Perspicaz como sempre – ele me elogiou. – A sua mãe, como o seu nome diz, era uma Uzumaki, uma moça bonita, mas muito enérgica – ele estava parecendo ficar... nostálgico? – O nome dela era Uzumaki Kushina, última sobrevivente que se tem notícia do Clã Uzumaki, principal na já destruída Vila do Redemoinho – ele dizia, para depois continuar. – Os Uzumaki foram mortos durante a Primeira Guerra Ninja por serem temidos por sua incrível habilidade em fazer selamentos e eles também tinham um corpo adiantado, muita vitalidade e uma quantidade de chakra assustadora, além de viverem bastante.

 

— Isso explica muita coisa – eu comentei, baixinho, para mim mesmo.

 

— Hum? – ele soltou essa expressão, confuso. – Explica o quê? – decidi explicar.

 

— O meu corpo sempre foi extremamente adaptativo – eu comecei. – Notei que quando eu luto, mesmo nos meus treinamentos com o Kakashi-ojii-san, as minhas habilidades crescem sem eu fazer muita coisa, é como se o meu corpo e a minha mente criassem um sistema que aumentasse o meu poder físico, alongamento dos músculos, sentidos e produção de chakra a cada vez que me esforço.

 

— Isso explica suas habilidades – ele respondeu –, mas em partes – continuou. – Por exemplo: pessoas com muito chakra possuem dificuldade em dominá-lo e, embora você não saiba, o seu selo que prende a Kyuubi em você limita o uso do seu chakra, que é usado para manter o selamento.

 

Havia ficado ainda mais claro para mim, tudo aquilo.

 

— Eu pratico meditação desde que aprendi a usar força bruta e os fundamentos do chakra, justamente por essa facilidade – eu expliquei. – Aprendi sobre chakra lendo apostilas velhas para crianças e aplicando, mas para controlar, comecei a praticar meditação, desde os meus cinco anos; ela afina as habilidades mentais e o controle do chakra espiritual, o meu corpo produzia o físico e junto da mente, ambos produziam e facilitavam o controle de chakra.

 

— Daí a sua genialidade – ele disse, para depois sorrir. – Brilhante!

 

— Perdão, Hokage-sama, mas isso não vem ao caso – eu disse, meio sem jeito, por estar tenso, já que normalmente sou confiante, mas não estava muito nos últimos dias.

 

— Tudo bem, eu entendo as suas necessidades e vejo que está num equilíbrio emocional melhor – ele admitiu. – Continuando: Kushina-chan se mudou para essa vila como refugiada e então conheceu o seu pai e eles se apaixonaram rapidamente. Adultos, tiveram você. O chakra da Kyuubi é extremamente venenoso e somente um Uzumaki tem a estrutura energética e física para suportar esse poder maligno, pelo menos que se tenha notícia.

 

— Então a mamãe era... – eu estava frágil e não consegui terminar.

 

— Sim, ela era a portadora da Kyuubi – ele respondeu, com pesar. – Naruto-kun, compreende como outras pessoas sabem a sua dor? Aliás, muitas, nesse momento.

 

— Como assim? – perguntei, ainda abatido.

 

— A Kyuubi não é o único demônio de caudas que existe, na verdade, ela é um tipo de ser, existindo nove assim, chamados bijuus. Cada bijuu tem um número a mais de caudas, em relação ao anterior: Ichibi ou Shukaku, Nibi, Sanbi, Yonbi, Gobi, Rokubi, Nanabi ou Shichibi, Hachibi e, por último, a mais poderosa: a Kyuubi – ele explicava com incrível precisão, como se conhecesse o assunto de uma forma profunda. – Quem possui uma besta dessas no corpo é chamada de jinchuuriki e são pessoas como você.

 

— Desprezadas? – eu perguntei, arqueando uma sobrancelha.

 

— Sim – ele estava desconfortável ao falar sobre isso, eu o entendia. Ser um jinchuuriki sempre foi difícil na História da vida ninja, hoje sei disso. – Só tenho notícias do portador do Ichibi, um manipulador de areia de Sunagakure.

 

— Interessante, mas terrível – eu dei minha sincera opinião. – Eu apenas gostaria de saber sobre o meu pai, afinal, a Kyuubi foi controlada e atacou a vila e foi selada em mim, provavelmente tirada da mamãe anteriormente e o choque para o corpo energético deve ser tão grande que o jinchuuriki... – eu tentei terminar, mas minhas palavras não saíam, era como se minhas emoções bloqueassem a minha garganta e apertassem o meu peito.

 

— Sim, ela faleceu em seguida, não havendo tempo e nem recursos para a raposa ser selada nela novamente – ele confessou. – Você foi a única opção.

 

— E quem foi o meu pai? – questionei.

 

— O seu pai foi um homem incrível e um herói de fama internacional, conhecido por sua gentileza e compaixão, mas por sua incomparável força. Mesmo novo, eu não teria chances contra ele e ele certamente foi um Hokage melhor – eu mal podia reparar o olhar de tristeza e piedade do velho Sandaime. – Sim, Naruto-kun, quem selou a Kyuubi em você foi Namikaze Minato, seu pai.

 

Demoraram alguns segundos para as minhas lágrimas começarem a cair. Grossas e insistentes, molhando o meu rosto infantil. Mas, então, os meus olhos se arregalaram e eu saltei da cadeira, esmurrando a mesa, que se partiu em dois.

 

— É ISSO QUE É SER HOKAGE?! – eu explodi, indignado. – Como ele ousa... como vocês ousam?! – eu gritei.

 

— Naruto-kun, abaixe o tom agora! – o Sandaime ordenou.

 

— Oh...? – soltei, em deboche. E comecei a rir. – Eu vou ser preso por muitos anos? Serei morto? Sei que não serei exilado, sou uma arma para a vila – e continuava rindo. – E o senhor tem o direito sobre a minha vida e morte.

Continuei rindo.

 

— Você faz ideia de como foi difícil?! – eu continuava, num tom irônico. – Claro, o senhor se esqueceu como é o sofrimento dos jovens, é mais fácil designar missões aos ninjas – sorria cada vez mais violentamente, agressivamente. – Você sabe o que é ser desprezado sem nem saber o porquê?! Sabe como foi difícil fazer amigos para a minha pessoa?! – eu esbravejava. – Não, não sabe! Então que me prenda, que me mate!

 

Abaixei a cabeça, olhando insistentemente para a mesa partida em dois.

 

— E você sabe como é o seu pai te abandonar, te jogando um demônio e simplesmente indo embora para sempre? – eu disse, ainda baixinho.

 

Comecei a secar o meu rosto e meus olhos, sem a mínima intensão de me desculpar por algo, o que quer que fosse.

 

— Eu não sei – o Hokage admitiu.

 

Olhei para ele, com nojo. Ser Hokage era abandonar o seu filho em um mundo cruel em prol de uma vila que nunca mudava? Ser Hokage era assistir o sofrimento da geração seguinte? Se assim fosse, eu não iria mais querer ser Hokage!

 

— Eu nunca passei pela sua dor e eu sinto muito – o velho Kage dizia, aparentemente constrangido. – O Yondaime apenas queria que te vissem como o herói que impede que a Kyuubi escape e destrua tudo e ele queria algo a mais que isso – ele terminou.

 

E eu permaneci calado.

 

— Ele queria proteger o que era importante e que você protegesse também – ele continuou, entre um suspiro e outro. – Ele queria proteger os seus amigos, que era toda a vila, isso significa ser um Hokage: é proteger Konoha com todas as suas forças e confiar o que você não pôde à geração seguinte.

 

— Eu... – não sabia o que dizer, mas eis que me surge um flash na mente: o teste de Itachi-sensei, Sakumo-nii e a Arika-nee estavam em perigo!

 

Eu não poderia esperar ajuda direta do Sandaime, era um teste particular de gennins, eu sabia, mas eu não poderia deixar que eles morressem no dia seguinte!

 

— Eu prometo pensar nisso depois e se eu for preso pelas ofensas, peço que não seja agora, há algo que eu devo fazer – eu dizia, ainda de cabeça baixa, mas então levantei a cabeça, o encarando. Eu tinha um plano. – O senhor conhece a teoria de algum jutsu de rastreamento do meu pai, que era o Relâmpago de Konoha? – sim, pois se ele era rápido, logicamente deveria ser um bom perseguidor.

 

— Depende – o Sandaime hesitou. – O que vai fazer com esse conhecimento?

 

Eu vou... – falei, pausadamente. – Proteger o que era importante para mim! – eu finalizei, com toda a minha determinação.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Naruto, A Criança Hokage:" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.