Let me know escrita por Loretha


Capítulo 8
Breu




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 Chat Noir agradeceu mentalmente pelas aulas de esgrima. Não fosse por isso, teria morrido logo no começo. Seus reflexos eram rápidos e ele conseguiu desviar de boa parte dos ataques de Breu. Ele não sabia o que o toque de uma daquelas tiras de névoa podiam fazer, mas não queria saber.

A bolha parecia se encurtar em volta da torre. A enorme massa escura se tornando mais densa começava a atrapalhar a visão de Chat Noir. Cada salto que ele dava era mais lento que o anterior, mas pelo menos ainda estava sob a torre. Não queria despencar trezentos metros de cima do telhado e virar sopa no térreo de um dos lugares mais conhecidos do mundo.

Usava o bastão para rebater os ataques. Pareciam línguas negras, cordas ou correntes. Parecia tudo, exceto algo que pudesse ser atravessado como fumaça, apesar da aparência frágil e da leveza como se movia até ele. Chat Noir desviou de uma das tiras que quase cercou seu tronco deslizando para trás, usando a base da antena da torre para impulsionar para frente, na direção de Breu, mas um muro negro se ergueu e Chat Noir se afastou no último segundo, derrapando sobre os pés quando se jogou para trás num salto.

— O gatinho está ficando mais lento. — Breu disse. Ele nem parecia minimamente cansado. Todo movimento que ele fazia era apena mexer os braços e comandar as sombras, mandando-as para cima do gato, sem nenhum esforço adicional.

— Lento? Eu? — Chat Noir riu, a respiração controlada. Demonstrar cansaço era algo que ele não podia fazer, mesmo que quisesse se jogar no chão e desistir. — Eu sou um gato, lentidão não existe no meu vocabulário.

Chat Noir observava atentamente os movimentos das sombras. As espirais negras saiam do manto de Breu, descendo pelo telhado da torre como areia. A névoa que atacava Chat Noir parecia chiar, quase que imperceptivelmente. Ele podia jurar que pareciam sussurros. Quanto mais lento ficava e por pouco não conseguia desviar, mais ele ouvia com clareza. Pensar aquilo era assustador, mas aquelas vozes sussurradas nas sombras que o cercavam eram muito familiares. Assustadoramente familiares.

— Eu consigo sentir seus medos, Chat Noir. — A voz de Breu tinha mudado algum tom, se tornando grave demais para ser a voz de um garoto. — Você já percebeu, não é?

O garoto olhou para Breu. A voz havia chamado sua atenção, distraindo Chat Noir dos ataques de névoa do vilão. Uma fita negra capturou seu pé, puxando-o para o baixo. As costas de Chat Noir encontraram as ferragens que eram o telhado com uma pancada dolorosa.

— Vamos ver qual o maior dos seus pesadelos. — Breu ergueu o punho e as sombras cercaram Chat Noir, subindo lentamente por seu corpo a partir da perna presa, cobrindo-o por completo.

Ele tentou se erguer, mas caiu sobre os joelhos quando o corpo pesou sob o poder de Breu. Sua visão foi escurecendo, até Chat Noir não enxergar absolutamente nada. Arfou quando lembranças se materializaram diante dos seus olhos, bem ali, no meio da escuridão total. Eram tão reais que tudo que ele queria fazer era levantar e correr para longe ou fechar os olhos e fazer aquilo desaparecer, mas seu cérebro estava adormecido, dominado. Ele nem podia piscar, então tudo que Chat Noir pôde fazer foi encarar de olhos bem abertos seu pior pesadelo.
                                               ***

Alya se sentia desajeitada, mas incrivelmente bem. Não era a roupa que usava, mas sim a situação. Ela era agora alguém que nunca pensou que pudesse ser. Alguém como sua maior inspiração, Ladybug, era e tinha medo de não ser boa como sua super-heroína. Agora ali estava ela, saltando pelos telhados em direção ao primeiro vilão que iria derrotar para salvar seu novo companheiro, sem nem saber direito o que podia fazer com os poderes de seu Miraculous.

A Torre Eiffel era mais uma silhueta gigante do que a própria torre . Alya não conseguia ver nenhuma luz sequer e sentia alguma coisa estranha emanando dali. De longe conseguia ver uma bolha maior no topo da torre. Quanto mais se aproximava, ela via mais distintamente o que estava no centro.

— Ah, não, Chat Noir. — O peito da garota se apertou quando viu Chat Noir no chão, imóvel, olhando fixamente para alguma coisa invisível diante dele.

Na última casa, Alya saltou para o chão e correu para pegar impulso e subir na torre através das vigas. No escuro era mais complicado achar uma que pudesse se segurar e subir, mas não desistiu. Com agilidade, Alya escalou até o topo.

De costas para ela, um garoto usava uma capa que ondulava no vento e dela uma nuvem escura se derramava.

— Opa, quem apagou a luz aqui em cima? — Alya perguntou, descendo para a base da antena e girando nela até parar a alguns passos de Breu.

Quando a atenção dele foi direcionada a Alya, a sombra que cercava Chat Noir retrocedeu. O gato desabou no chão, se encolhendo e tremendo.

— Quem é você? — A máscara que Breu usava mudou de expressão de repente, parecendo surpresa. — Eu não sinto nada. Não tem medo em você.

— Bem, sou uma garota corajosa se quer saber. — Alya olhou de relance para Chat Noir no chão. Ele havia se sentado, mas ainda olhava assustado para Breu. — E quem é você? — Perguntou a garota,  voltando a atenção para o vilão.

— Você tem um Miraculous. — Não era uma pergunta. Novamente a máscara negra mudou, se tornando confusa. — Volpina?

— Volpina, é... Não— Alya levou a mão ao queixo, pensativa. — Eu sou Rena Rouge.

Ela se sentia mais confiante agora, mais ainda do que normalmente era. Sentia que não precisava  temer nada, nem mesmo aquele cara com um vestido esquisito. Principalmente aquele cara. Ela não tinha medo de escuro.

— Vamos ao que interessa, não é. — Alya caminhou devagar até a amurada e olhou para baixo, aproveitando a cara surpresa de Breu e pensando no que poderia fazer. Distraindo-o. — O que podemos fazer sem Ladybug pra pegar os akumas?

Chat Noir se levantou e respirou fundo. Breu se recompôs e ergueu os braços. As sombras se intensificaram, deixando a bolha negra pesada e mais escura. Agora não era possível ver a cidade lá embaixo, nem as estrelas sobre eles.

— Não sei, mas vamos dar um jeito. — Chat Noir olhou para Rena Rouge e depois para Breu. — Temos que achar o akuma.

— Estão diante de mim e ignoram toda essa escuridão? — Breu abriu os braços e expandiu a bolha, que voltou a se espalhar por todos os lugares.

Alya riu. Sua atenção voltou para Breu. A máscara parecia furiosa.

— Tudo bem, se você quer ser notado. — Então atacou.
                                              ***

— Marinette você não pode sair. — Tikki ergueu os bracinhos para impedir que a garota levantasse. — Eles vão dar um jeito!

— Tikki, eu sou a única que pode pegar os akumas. — Marinette desceu da cama, cambaleando um pouco. A dor nas pernas era um aviso que todo passo doeria. — Certo, eu consigo, Tikki.

Tikki virou para a porta, procurando algo que pudesse impedir Marinette de sair.

— Mas... E seu pai? —  Perguntou Tikki. — Como ele vai ficar se você não estiver aqui quando ele voltar?

— Eu... Não pensei nisso. — Respondeu, sentando-se na cama. — Você viu o que aquele Breu pode fazer, não viu? E tem a Volpina! Ela voltou e o Chat Noir confiou nela de novo, Tikki!

— Dessa vez eu sinto que é a verdadeira. Mari, quem você acha que pegou os akumas enquanto você estava desaparecida? Chat Noir deu um jeito antes e pode resolver de novo.

Marinette se rendeu. Em parte pela insistência de Tikki, em parte pela dor. Deitando na cama, ela alcançou o controle remoto da televisão e aumentou o volume.

Não era possível ver nada através da bolha escura, mesmo a câmera dando zoom até não poder. Parecia impenetrável, com a consistência de algodão doce.
                                               ***

As garras de Chat Noir arranharam o chão quando ele foi jogado para trás. No mesmo instante, Rena Rouge criava uma ilusão de si mesma acima de Breu, descendo perigosamente para atacar. O garoto de negro desviou para o lado, caindo bem onde ela queria.

— O akuma está na máscara! — Gritou Alya para Chat Noir enquanto Breu tentava soltar a capa presa às ferragens da torre. — Use o bastão, Chat Noir!

Ouvindo a garota, Chat Noir se ergueu num salto e expandiu o bastão. Quando ele acertou Breu, o som de ferro com ferro foi estridente no silêncio que pairou no ar. A máscara voou alguns metros acima, antes de cair no chão, deslizando até os pés de Rena Rouge.

— O que eu faço? —  Perguntou ela segurando a máscara o mais afastado do corpo quanto podia. — Se o akuma sair ele vai se multiplicar.

Chat Noir pegou a máscara e a jogou no chão. Ergueu a mão, mostrando as unhas de gato.

— Cataclismo! — Quando Chat Noir cravou as garras na máscara, ela se desfez em pedaços minúsculos, se espalhando pelo chão em várias direções.

O akuma se materializou, saindo de um dos cacos do metal negro e bateu as pequenas asas, se preparando para voo. Rena Rouge se precipitou para frente, observando a borboleta. Antes que voasse, Chat Noir agarrou o akuma.

— O que vai fazer? — Perguntou a menina, vendo alguma coisa brilhar nos olhos de Chat Noir. Alguma coisa que não era normal num herói.

A resposta do gato foi fechar a mão em volta da borboleta negra.
                                               ***

Não era que sua consciência realmente doesse, mas ela pesava. Pesava muito. Não era a primeira vez que destruía um akuma daquela forma. Sem Ladybug, Chat Noir não sabia o que fazer para impedir que eles se multiplicassem. Achou que aquela fosse a única solução e, até então, era.

Sua atenção foi chamada por um sacudir de cabeça de Rena Rouge. Chat Noir virou para olhar a garota.

— Temos que levar ele daqui. — Sussurrou, apontando com os olhos para o garoto encolhido no chão.

Chat Noir assentiu. Obrigando seus músculos a obedecerem, ele abriu os dedos e deixou  borboleta,  agora branca e comum, cair no chão. O akuma não estava mais ali.

— Eu resolvo isso, seu Miraculous vai desativar logo, logo.— Rena Rouge disse, apontando para o anel que havia avisado o começo a última carga.

Evitando olhar ao redor, Chat Noir agradeceu com um aceno de cabeça e pulou sobre a amurada. Descendo habilmente pelas ferragens da Torre Eiffel, ele chegou ao chão quase no mesmo instante que a chuva começou a cair.

                                             ***

A televisão estava desligada fazia algumas horas e o silêncio no quarto era interrompido apenas pelo estalar da chuva na janela. Marinette revirava na cama, presa em pesadelos. Sua respiração estava acelerada e a dor parecia ultrapassar a barreira da inconsciência.

Um som suave, como uma janela sendo aberta, fez a garota despertar. Piscou algumas vezes, desnorteada, olhando ao redor. Não havia nada no quarto e a janela estava fechada. As gotas de chuva escorriam pelo vidro e ensopavam o peitoril da janela.

Marinette sentou-se na cama devagar. Esfregou os olhos e tentou acalmar a respiração. Foi só um sonho, volte a dormir, pensou, olhando para a janela novamente. Dessa vez, a garota viu algo que não estava ali quando foi dormir. Tinha certeza. Uma rosa vermelha estava no criado mudo. As gotículas de água da chuva ainda brilhando sobre a flor.

Esticou a mão e pegou a flor, aproximando do nariz. Olhou para a rosa e dela para a chuva na janela.

— Obrigada. — Sussurrou, sorrindo para a flor.


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