Let me know escrita por Loretha


Capítulo 11
Encontros e reencontros


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas vim e aqui estou. Eu espero que gostem, apesar de ele não 1) muito esclarecedor e 2) independente disso, espero que gostem.



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Os sonhos começaram depois de um grande nada. O vazio que era seus pensamentos foi substituído por imagens desordenadas e confusas.

Primeiro veio o rosto de sua mãe, sorrindo num momento e furioso em outro. Depois Félix se viu andando numa estrada que levava direto a uma caverna e, logo na entrada, ele era cercado por pessoas com máscaras que lembravam animais.

Um som estranho o fez olhar para o lado. A pessoa com a máscara de um lobo negro agarrou seu braço e espetou alguma coisa. Depois, bateu os dentes e então desmanchou-se, virando uma poça negra sob seus pés.

Félix arfou quando abriu os olhos. Sua cabeça girou por alguns segundos enquanto ele tentava focar em alguma coisa, mas a visão turva e o zumbido nos ouvidos o deixavam desnorteado.

Seu corpo todo tremia. A camisa grudava no corpo com o suor frio. Tinha uma sensação estranha e ruim na boca seca.

Depois de piscar algumas vezes, seus olhos conseguiram se manter abertos. Encarou o teto branco, tentando não mexer a cabeça. O estômago pesava uma tonelada.

Félix ouviu uma porta se abrir. Não se deu o trabalho de levantar. Seu corpo ainda parecia anestesiado.

— Você acordou. — Uma voz feminina soou à esquerda. — Fez efeito.

— O que fez efeito?

A mulher se debruçou sobre ele. Os cabelos verde limão logo atraíram os olhos de Félix, que franziu o cenho para a cor gritante.

— Como está se sentindo? — Perguntou ela, se afastando.

— Seu... cabelo é... — Murmurou, olhando para as mechas longas e brilhantes.

— Eu sei, ele é incrível. — Ela pegou uma mecha entre os dedos. — Eu adorei a cor. Até semana passada ele era vermelho... Mas então eu vi uma garota num filme com o cabelo dessa cor e... — Ela parou de falar. — Desculpa.

— Hum... — Eram muitas palavras para digerir de uma vez só.

— Você apagou por quase 24 horas. Como se sente? — Ela repetiu a pergunta, cruzando os braços enquanto olhava para Félix.

— Pesado e ao mesmo tempo leve. — Respondeu. Sua voz estava rouca. Passou a língua nos lábios rachados.

— Isso é normal depois de um sedativo.

— Sedativo?

— Usaram uma espécie de tranquilamente em você. Meu irmão conseguiu identificar e então fez um antídoto ou algo assim . — Ela fez uma careta. — Quer tentar sentar? 

Félix assentiu. Talvez as coisas clareassem um pouco. Estava confuso.

Com a ajuda da garota ele sentou-se na cama, apoiando as costas na parede.

Sua cabeça girou por um momento, mas ele conseguiu não vomitar. Devia estar com fome, mas seu corpo anestesiado não sabia dizer exatamente.

— Onde está minha... mãe? — Perguntou, pressionando os dedos sobre o lugar onde havia sido acertado. — Que lugar é esse?

Estranhamente ele não sentia perigo, mesmo estando diante de uma desconhecida. Félix de alguma forma sabia que ela estava do seu lado e não com aquelas pessoas que o queriam.

O garoto não lembrava de nada do que havia acontecido nas pirâmides, exceto o rosto de sua mãe. A expressão assustada estava congelada em sua mente.

— Eles a levaram. — Foi uma resposta direta que Félix não esperava que quebrassem seus pensamentos. — Só resgatamos você.

— Ela foi de boa vontade. — Ele disse. Ouviu o ressentimento na própria voz. — Só não entendi porquê estou aqui se eles me queriam.

— Eles não queriam você exatamente. — Félix virou para olhar o homem que entrou no cômodo.

— Ah, olhe, meu irmão sabe-tudo chegou. — Freya resmungou, fazendo uma careta para Félix.

Talvez fossem os óculos, talvez não, mas ele tinha aquele ar de inteligência que deixava qualquer um intimidado. Pelo menos foi assim que Félix se sentiu. 

— C-como sabe? 

— Seguimos vocês desde a Grécia. — A garota dos cabelos verdes respondeu. — Por favor, não faça essa cara. Sua mãe sabia. 

— Freya, não. — Repreendeu o homem. Seu rosto moreno suavizou um pouco quando voltou os olhos para Félix. — Não agora. 

— Ele precisa saber mais coisas. Não acho certo esconder, ainda mais agora que estamos com ele. — A garota Freya, que agora Félix sabia o nome, ergueu o queixo de forma desafiadora.

— Não, ele não precisa. Eu decido o que ele deve saber ou não.

— Hum... Eu deveria decidir o que quero e não quero saber, certo? — Perguntou Félix, alternando olhares entre os dois irmãos.

— Errado! — Responderam juntos, descruzando os braços.

Félix franziu o cenho, mas permaneceu calado quando eles voltaram a erguer seus queixos e se desafiarem com o olhar. Pareciam duas crianças, apesar de, claramente, serem mais velhos que ele alguns anos.

Enquanto olhava Freya e o irmão, que Félix ainda não sabia o nome, ele pode analisar melhor os dois. 

Freya lembrava vagamente alguma cantora famosa. Tinha toda a confiança estampada nos olhos e por trás das íris castanhas ainda era possível ver a diversão. Sua altura era mediana. E ela era bonita, mesmo com os cabelos verdes limão.

Ela e o irmão eram fisicamente parecidos. Seus olhos tinham o mesmo quê de desafio e mistério dos de Freya, mas nos dele faltava diversão, ao invés disso, pareciam ter, sob as lentes dos óculos, um grande segredo. 

Ele era mais alto, quase da mesma altura que Félix e não fossem as roupas estranhas, poderia se passar por um modelo. Tinha os ombros largos e seu jeito de se mover era ágil. Aquela áurea de inteligência parecia emanar dele para o ambiente.

— Dominic, agora que ele está aqui, entramos na fase dois, plano b! — Freya recomeçou a discussão cruzando os braços novamente. 

Dominic olhou de relance para Félix e voltou a atenção para a irmã suspirando.

— Podemos esperar pelo menos ele melhorar? — Perguntou, ajeitando os óculos.  

— Está acordado. Pra mim, isso está ótimo. — Retrucou Freya. 

De súbito, quase como para provar o contrário do que a garota dizia, Félix se curvou para frente e vomitou. Não sabia como podia colocar qualquer coisa para fora depois de tantas horas sem comer nada, mas ainda assim o fez. 

— É, definitivamente vamos esperar ele melhorar. — Disse Freya, se afastando e virando o rosto com a mão tapando a boca e o nariz. 

— Efeito colateral. — Dominic franziu o cenho. — Pelo menos funcionou do melhor jeito. 

— O que funcionou? — Perguntou Félix, voltando a se encostar na parede. Seu estômago doía pelo esforço, mas agora ele se sentia um pouco melhor. — Que droga é essa?

— Uma droga rara, usada em alguns tranquilizantes. — Dominic empertigou-se, mexendo na armação dos óculos. — Eu demorei a identificar por causa das substâncias que estavam misturadas, mas o antídoto funcionou bem e rápido.

A irmã revirou os olhos e olhou para Félix.

— Injeção na veia é sempre mais rápida. — Descruzando os braços ela suspirou parecendo irritada. — Pelo menos você não morreu. 

E saiu pisando duro. Os pequenos saltos dos coturnos batendo no chão.

— Freya é um pouco temperamental. — Dominic olhou a poça aos seus pés e fez uma careta. — Vou pedir para alguém limpar isso. Você deveria tomar um banho. Vamos sair em duas horas.

— Aonde nós vamos?

— Procurar algumas coisas perdidas nas pirâmides. Depois, para qualquer lugar longe daqui. — Dominic respondeu

Félix assentiu devagar. Não queria chegar perto das pirâmides novamente, mas também não queria contestar o que havia sido dito. 

Quando ficou só no quarto, deixou a cabeça pender para trás, encostando-a na parede. Seus pensamentos ainda eram uma confusão.

Desde que sua memória foi fragmentada por algo que ele não lembrava, tudo parecia mais complicado do que deveria ser. 

Félix sacudiu a cabeça, ignorando a dor insistente na nuca. Levantou com dificuldade da cama e olhou ao redor.

O quarto amplo tinha poucos móveis. A cama em que estava, um guarda-roupas, uma mesa de escritório com apenas um jarro sem flores em cima e uma cadeira. As cortinas cinza escondiam uma janela que Félix não se deu o trabalho de abrir. 

Um quarto qualquer como todos os outros em que esteve.

Entrou no banheiro e evitou olhar o espelho. Apenas passou direto para o box. A água morna relaxou seus ombros e ele se permitiu ignorar os pensamentos que se acumulavam em sua mente.

Quando saiu do banho, viu que o chão já estava limpo e o cheiro de produtos de limpeza era forte. 

Encontrou sobre a cama sua bolsa preta e procurou uma roupa. Vestiu uma calça cáqui e uma camisa azul escura. 

Toc, toc.

— Pode entrar. — Falou, enquanto virava tudo da bolsa em cima da cama. 

— Opa, muito melhor agora, ein? — Freya disse olhando Félix de cima a baixo. Ela sorriu e piscou brincalhona. — Temos que ir. Meu irmão quer almoçar antes.

— Só vou... — Aprontou para a mochila. 

— Estaremos esperando no corredor. — Disse antes de sair.

Félix arrumou suas coisas, deixando de fora o que não precisaria. Deu uma última olhada no quarto, então saiu com a mochila nas costas.

Dominic e Freya estavam conversando em voz baixa quando Félix chegou. Trocaram olhares e então agiram como se não estivessem sussurrando segundos antes.

— Já decidiram se vão me contar seja lá o que queiram contar? — Perguntou Félix olhando de um para outro. 

— No avião. — Dominic respondeu, olhando de relance para a irmã, que revirou os olhos. — Vamos almoçar.

Félix se obrigou a comer qualquer coisa enquanto Dominic e Freya devoravam a refeição. Ele ainda sentia um desconforto no estômago e tentou evitar pensar na sensação ruim que sentia.

— Nós vamos entrar direto, mas tudo tem que ser rápido e sem erros. Félix, você vai esperar no carro. — Dominic começou quando saíram do pequeno restaurante. — Freya já sabe o que fazer, mas não exagere dessa vez. 

Freya fez bico e então sorriu, dando de ombros.

— Sem problemas.

O homem atrás do volante tinha o rosto fechado. Em voz baixa trocou palavras com Dominic e Freya enquanto Félix se ajeitava no banco de trás. 

— Se algo der errado, Antony vai te levar direto ao aeroporto. Lá terão mais instruções. — Dominic colocou a cabeça para dentro através do vidro para olhar Félix.

Ele assentiu. Antes que Dominic saísse, o chamou de volta.

— Posso pelo menos saber se vocês estão atrás da mesma coisa que eu e minha... mãe? — Hesitou. Se não estivessem agora saberiam que havia algo. 

Dominic sorriu e bateu no ombro do garoto. 

— Não se preocupe. Conversamos no avião. 

                                ***

— Tem certeza que vai fazer isso? — Tikki perguntou a Marinette. — Talvez seja melhor esperar mais um pouco, Mari. Você não está totalmente curada.

— Preciso fazer isso, Tikki. — A garota abriu a janela e olhou o céu com poucas nuvens. — Eu só quero sair um pouco. Prometo que não demoro. 

— Espere até ter alta, sair do hospital. — Tikki insistiu.

— Já eu devo sair. Um ou dois dias, se não for amanhã. Estou muito melhor. 

— E quanto a dor nas costelas? Você deu um pulinho e quase chorou a noite toda com dor. 

Marinette bufou. 

— Não foi assim, está exagerando, Tikki. Mas desde então não senti nada. 

— Você não vai desistir, não é? 

A garota olhou sua kwami e balançou a cabeça. Estava cansada daquele hospital. Queria sentir a noite em sua pele. O ar, os cheiros e os sons. Queria apenas não estar no quarto. Sentir como era estar livre depois de meses presa no subterrâneo. 

— Não, Tikki. — Baixou a cabeça e mordeu o lábio, pensativa. 

— Tudo bem, só prometa que não vai longe. 

— Obrigada por entender. — Agradeceu, abraçando Tikki antes de se transformar. 

Sentiu-se estranha, mas bem, quando a roupa vermelha, tão escura na noite, se moldou ao seu corpo. Esticou os braços e pernas, depois o tronco, procurando possíveis desconfortos, mas não sentiu nada. Sorrindo, Ladybug subiu na janela e analisou o prédio.

Era fácil, a parede era cheia de curvas por onde ela podia escalar. Decidiu subir. Com cuidado, chegou ao telhado do hospital. 

— Uau. — Exclamou, sorrindo, quando viu a cidade se estender até onde a vista alcançava. — Como senti falta disso! 

O vento balançava seu cabelo. Não sentia frio, mas apreciava a carícia do ar da noite em sua pele descoberta. Era tão bom estar ali e sentiu como se fosse o topo do mundo. 

A torre Eiffel brilhava, chamando sua atenção como um holofote. E Ladybug decidiu para onde ir primeiro. 

Atraída para a torre luminosa como um uma mariposa na noite escura, procurando uma única luz, a garota começou a correr pelos telhados. No começo de forma hesitante, preocupada em sentir dor, mas então viu que tudo parecia em ordem, que seu corpo respondia a corrida como antes, e então se deixou ir. 

Não teria parado até chegar a torre se não tivesse visto o vulto negro correndo nos prédios ao lado.

Parou abruptamente, quase caindo quando viu quem era. O vulto parou também.

— C-chat Noir?

O gato tomou impulso e pulou para onde ela estava. Um prédio mais baixo.

O sorriso presunçoso estampado em seu rosto era nostálgico. Chat Noir caminhou até estar frente a frente com a garota.

— My Lady. — Curvou-se sem tirar o sorriso do rosto. Sua voz parecia mais cálida que a garota jamais lembrava. — Por onde esteve? — Então pegou sua mão, depositou um beijo, olhando nos olhos de Ladybug. — Senti sua falta.


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Notas finais do capítulo

O que acharam dos personagens novos, Freya e Dominic? Eu aodrei esses nomes, tanto porque Freya é o nome de uma deusa nórdica (cuja carruagem é puxada por linces) e Dominic ser um nome romano, comum entre os cristãos. Sobre o reencontro? Estão ansiosos?? Acham que a Mari estava pronta pra dar uma volta como Ladybug?



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