Unnatural Rosemary escrita por A Borralheira


Capítulo 4
Capítulo III - The Thing’s We Left Behind - Parte I




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1 – Bedtime Stories

Daiana Lessa morreu poucas semanas depois da visita de Rosemary. O enterro aconteceu em uma pequena cidade no sul do Brasil, no Cemitério de Todos os Santos. Diferentemente dos cemitérios espalhados pelo país, essa era uma pequena necrópole familiar, um pedaço de terra onde repousava apenas um sangue. Tinha cerca de vinte metros quadrados e mais parecia um jardim. Não havia lápides ou criptas para cima do chão. Em cada túmulo, apenas uma pequena pedra de mármore fincada no barro e coberta por flores. Na entrada, um singelo anjo de mármore e um grande carvalho plantado por algum imigrante holandês, séculos atrás. O simples lugar de sepultamento pertencia à família do pai de Daiana, Tito Lessa. 

Tito era um homem carinhoso e letrado. Passava dias e dias perdido em sua fazenda, lendo o quanto fosse possível. Daiana, sua única filha, crescera no meio dos livros e do cheiro de mato. Adorava subir em árvores, andar a cavalo, brincar com os cães e alimentar os patos no lago. Daiana era uma menina mulher sensível e determinada. Agora que ela se fora, era sempre noite, sempre frio. O ar estava sempre gélido e pesado. Não era natural que um pai enterrasse um filho.

A mãe de Daiana, Lorena, estava desolada. Para Tito, Lorena e, principalmente, Isaac, a única coisa que os mantinham vivos era a menina agora sentada embaixo do grande carvalho, segurando um livro nas mãos.

Rosemary era uma cópia abstrata e absolutamente real de Daiana. Tinha os mesmos olhos, o mesmo cabelo, a mesma boca, a mesma voz, o mesmo riso. Após a morte de Daiana, a pequena Rose chorava todos os dias e todas as noites. Acordava durante a madrugada chamando pela mãe, que jamais apareceria.

Nesse meio tempo, Isaac tornara-se um homem quieto e taciturno, não aguentava se aproximar da filha, não aguentava vê-la gritar e se debater com saudades da mãe. Aquilo o estava matando. Era Tito quem ia ao encontro da neta, dia após dia, pesadelo após pesadelo.  Pegava Rose em seus braços e apertava seu corpo trêmulo contra seu peito. Dizia que estava tudo bem e que, em breve, aquela dor passaria, que a mamãe estava olhando por ela. Tito falava tentando, ele mesmo, acreditar no que dizia.  

 

2 – Fresh Blood

Sam chegou à cozinha de Rosemary com o rosto pálido. Rose segurava uma arma apontada para a cara de Dean, Dean segurava seu braço ensanguentado, uma híbrida expressão de dor e perplexidade. O caçula dos Winchesters tirou sua arma de trás das costas e apontou para Rose.

— Claro, Sam está aqui também. Vocês não sabe que é proibido invadir a casa do coleguinha?

— Eu vou matar você! – gritou Dean. 

Rosemary virou lentamente o rosto para ele, as bochechas ficando vermelhas.

— Não se eu te matar primeiro. O que diabos vocês estão fazendo na minha casa?

— Rose, abaixe a arma e vamos conversar – Disse Sam, tentando mostrar tranquilidade.

— Nós íamos conversar, às duas. O seu relógio está quebrado ou algo do tipo?

— Você tem razão. Essa é a sua casa e nós não deveríamos estar aqui, mas...

— Diga-me Sam, você acha que John Winchester entraria na casa de uma garota que vive sozinha e sabe atirar? Ele seria tão estúpido assim?

— O que diabos você sabe sobre o meu pai?! – berrou Dean,  furioso e sem cor.

— Eu sei que ele nunca tomaria um tiro por trás.  — desdenhou Rose.

— Olha, nós temos problemas de confiar, ok? Você disse que conhecia nosso pai, nós queríamos saber quem você era — a voz de Sam estava trêmula.

— Problema de confiar? — interrompeu Rosemary — Eu não bati na sua porta. Vocês bateram na minha porta. Aliás, nem se deram ao trabalho de bater, não é mesmo? Bom, agora sou eu que tenho um problema de confiar. Diga-me Sam, porque eu não deveria matar você e esse seu irmão grosseiro?

— Rose, isso foi um erro. Não deveríamos vir aqui sem a sua permissão, mas nós precisamos da sua ajuda e precisamos ajudar Dean, está bem? Ele está sangrando muito. Eu vou abaixar a minha arma e nós podemos conversar. Só me deixe ajudar meu irmão. – disse Sam, abaixando a arma e se aproximando de Dean.

Rosemary continuou encarando os Winchesters. Não sabia o que pensar, não gostava que invadissem sua privacidade. Ela confiava em John, mas poderia confiar em seus filhos? Não sabia, mas preferiu não deixar Dean morrer. Rosemary abaixou a arma e disse:

— Esperem aqui. E, Dean vê se não desmaia até eu voltar.

Rosemary desapareceu escada acima e voltou uns minutos depois com um kit de primeiro socorros e uma garrafa de Bourbon.  

— Aqui. Para de drama. Foi só de raspão, você vai ficar bem. Tenho certeza que já viu dias piores, certo? — E piscou para Dean — Isso aqui é pra acalmar os ânimos — disse Rosemary enchendo três copos com a bebida.

Dean estava incrédulo, possesso de raiva. Tanta coisa estava passando em sua cabeça... Ele mal podia respirar. O que havia de errado com essa mulher?

Sam pegou a caixa e encontrou tudo o que precisava. Usou uma pinça prateada para remover a bala alojada na carne de Dean, limpou bem a ferida, costurou a pele e fez um quase perfeito curativo. Muito melhor do que costumavam fazer nas beiras de estrada, dentro do Impala ou em quartos de hotéis vagabundos.

Enquanto bebia silenciosamente, Rosemary observava as caretas que Dean fazia e a preocupação explícita de Sam com o irmão. Quando o sangue de Dean parou de escorrer e os ânimos pareciam ter se acalmado, ela quebrou o silêncio.

— Você está bem? Está com fome? Toma, bebe isso. Vai te fazer bem. Eu vou esquentar algo pra vocês.

— Esquentar algo? Você realmente acha que eu vou comer alguma coisa que você me der depois de ter me dado um tiro? — Perguntou Dean, estridente e chocado.

— Exatamente por isso. Se eu quisesse te matar, teria matado. Acho que já ficou bem claro que eu não tenho escrúpulo pra isso, certo? - Rosemary deu de ombros e abriu a geladeira.

Sam não deixou de esboçar um sorriso. Até a voz de Rosemary mudara. Estava prestativa e preocupada, quase maternal. Era essa mesma mulher que há poucos minutos estava cheia de cólera e atirara em seu irmão, ameaçando matar ambos?

— Você é maluca? Porque eu não tenho obrigação de lidar com gente maluca. — retrucou Dean, com seu humor habitual agora voltando à ativa.

— Olha, eu atirei em você e eu não me sinto mal por isso. Mesmo assim eu quero recompensar, está bem? E já que temos muito pra conversar, é melhor conversarmos comendo. Você perdeu sangue demais e Sam precisa dar um tempo desses hambúrgueres de lanchonete. Estou certa? — diante dos olhares apreensivos e desconfiados que recebia, Rose emendou — Por favor, rapazes. Porque não terminam de vasculhar minha casa enquanto eu cozinho? Aí nós conversamos sobre o caso.

Rosemary não falou como se fosse uma opção, então Sam e Dean tomaram um grande gole do Bourbon que estava sobre o tampo de mármore da bancada e foram em direção à sala.

— Eu juro por Deus, essa mulher é louca!

— É. E eu ainda não acredito que ela atirou em você. Sério — disse Sam, quase rindo.

— Ah, sério Sammy? Isso é engraçado para você?

— Desculpe Dean, mas você tomou um tiro de uma garota. Pelas costas. 

Sam riu, mas o olhar de Dean o fez mudar de semblante.

— Bom, de qualquer forma nós precisamos saber quem ela é como ela conhecia o papai e principalmente se ela pode nos ajudar com nosso caso. Então, tenta não atirar nela ou arranjar algum tipo de problema. Seja quem ela for ou o que ela for, nós vamos descobrir, mas precisamos resolver esse caso primeiro. Ok?

— Sam, ela apontou uma arma para a sua cara, atirou no meu braço e agora está cozinhando pra nós. Tudo isso em um único dia. Você sabe quem faz isso? Gente doida! Eu não quero perder meu tempo com uma professorinha alucinada enquanto tem gente correndo perigo em Brookeville. Ou ela nos diz o que ela sabe ou caímos fora.

— Certo — Concordou Sam — Mas ela está cozinhando, então, vamos olhar por aí.

— Ah claro. Você realmente vai comer a comida dela? Sério? Ela é veneno, Sam. Ela é puro veneno — disse Dean enquanto iam caminhando pela sala.

3 – Heartache

— O que há de errado com você, Isaac? Você está escondendo alguma coisa?! Você está sempre quieto, taciturno. Mal olha para a sua própria filha e agora quer levar ela de volta? Depois de tudo o que eu passei...

— Depois do que nós passamos! Eu a perdi também, mais do que você. Onde você esteve todos esses anos? Onde estava você e Lorena quando ela mais precisou de vocês?

— NÃO SE ATREVA A FALAR ASSIM!

— Porque não, Tito? Você levou anos para atender os telefonemas dela.

— EU AMAVA MINHA FILHA!

— Eu também. Mas sua filha se foi e agora eu preciso cuidar da filha dela. Rosemary vai comigo e não tem nada que você possa fazer para impedir isso.  

— Por um ano, Daiana voltou pra casa. Pra cá, para nossa casa. Ela estava assustada e com medo. Não falava de você, chorava e dormia com as luzes acessas. O que aconteceu, Isaac? Onde diabos você estava?!

— Eu estava tentando protegê-la.

— Do que? De você mesmo? Aonde você vai durante a noite? Porque você não está com a sua filha? Você está tentando proteger ela também?! Quem é você de verdade? Eu nunca confiei em você. 

— Eu não me importo se você confia ou não em mim. Eu sou o pai de Rosemary e ela vai comigo.

— Se você levá-la agora, você matará minha esposa e a mim.

Who cares? We’re all dead anyway— Finalizou Isaac, em um inglês pessimista e provocador. 


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Notas finais do capítulo

Próximo Capítulo : The Thing’s We Left Behind - Parte 2

Sam e Dean contam uma história. Rosemary vê uma fantasma. Mais uma vítima é feita.



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