O Sol em meio à tempestade escrita por nsbenzo


Capítulo 68
Capítulo 67


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas cá estou *-*
Boa leitura ♥



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Gale

— Você fez o quê? – Madge perguntou, incrédula.

Cocei a parte de trás da cabeça, e suspirei.

— Eu peguei o número deles na agenda do seu celular, há algumas semanas – ela elevou a sobrancelha esquerda –, mas só hoje tive coragem de fazer a ligação.

Madge soltou a minha mão, de supetão, e acertou um tapa ardido em meu braço.

— Ai – resmunguei, colocando a mão no local atingido, para esfregar. – Por que fez isso?

Ela estreitou os olhos, e acertou outro tapa, dessa vez no outro braço.

— Ai, Mad – reclamei, dando um passo pra longe da cama.

— Doeu, é? – perguntou, com sarcasmo. – Tenha contrações, pra descobrir o que é dor de verdade, seu babaca. Pior ainda. Tenha contrações, e no intervalo entre elas, ouça seu noivo dizendo que ligou para seus pais relapsos, e que eles estão vindo para o parto. Isso sim é uma puta de uma dor.

— Desculpa? – disse, duvidoso.

— Espera o bebê nascer, pra você ver se eu não vou te acertar de verdade – soltou entre dentes, ignorando minha fala, enquanto fazia uma careta de dor.

Suas mãos agarraram o lençol, e ela fechou os olhos. Me aproximei, apreensivo, e estendi a mão pra Madge, mas, ao invés de segura-la, em meio a contração, Mad acertou um tapa bem dado nela, mesmo de olhos fechados, o que me fez abaixa-la, frustrado.

— Você só pode estar de brincadeira comigo – rosnou, com o maxilar travado.

Eu estava completamente paralisado, assistindo a cena, sem saber o que realmente devia fazer.

Por conta própria, Madge foi se acalmando, restando apenas sua respiração ofegante.

— Não acha que... Eles merecem a chance de conhecer o Matthew? – perguntei, inquieto, fazendo com que ela abrisse os olhos e me encarasse. – Talvez tentarem ser pra ele, o que não foram pra você, ou...

— Eles odeiam você – Mad me interrompeu, enquanto abria as mãos, e soltava o lençol devagar.

— Como assim? – questionei, franzindo a testa.

— Meus pais te odeiam, Gale – falou, depois de dar um longo suspiro. – Os dois odeiam sua profissão, suas roupas, seu corte de cabelo, sua barba por fazer, e até o seu nome. Por isso te levei apenas uma vez até a casa deles – explicou.

— Então... Esse é o motivo de você preferir esconder a gravidez e o noivado? – perguntei.

— Sim – respondeu, fazendo uma nova careta. – Droga, Matthew. É só sair... – resmungou, e dessa vez, ela aceitou a minha mão para apertar.

Meus sogros me odiavam? Gratuito assim?

— Respira, Madge – aconselhei, sentindo-me levemente atordoado.

— Meu Deus – ela estava mais ofegante, quando pareceu relaxar. – Espero que esse seja o sinal de que ele está pra nascer – resmungou, recostando-se nos travesseiros. – E não se sinta mal por eles odiarem você – disse, como se tentasse me confortar. – A verdade é que eles mal gostam de mim – Madge deu um sorriso fraco.

— Vocês não se dão bem mesmo, né? – perguntei, ainda com a mão na dela.

— Não... Desde pequena, eu me rebelei contra a vontade dos dois, simplesmente pelo fato de perceber que não importava se eu fazia o que eles queriam, eu nunca chegaria a perfeição que ambos esperavam de mim – ela voltou a apertar a minha mão, e fez outra careta. – E olha que eu não tinha um irmão ou uma irmã, para que eles pudessem comparar – Mad esboçou um sorriso, enquanto falava com esforço.

— Por acaso eu não sou o cara que a garota escolhe só pra provocar os pais, sou? – questionei, e ela acabou dando um riso curto, esmagando meus dedos.

Com a respiração ofegante, Madge respondeu:

— Você é formado, trabalha, é de boa família, é educado, responsável, e cuida de mim de um jeito, que ninguém seria capaz de fazer. Só os dois para odiarem alguém como você, Gale... – seus olhos focaram em mim. – A opinião dos meus pais é completamente distorcida. Na verdade, eu deixei de me importar, sabe? Eu só não contei aos dois, porque... Preferi tentar evitar o constrangimento que será tê-los ridicularizando cada detalhe da nossa vida – ela respirou fundo, fechando os olhos.

Esfreguei a nuca.

— Eu... Eu posso impedir que eles venham – comentei, e Mad abriu os olhos devagar, para me olhar. – Sua mãe disse que esperaria o endereço completo, pra vir até aqui.

Ela soltou um riso curto e sem muita vontade.

— Meu pai reviraria Detroit atrás de nós, e o trabalho para nos encontrar, apenas pioraria a situação – explicou, fechando os olhos bem apertados. – Mande nossa localização a eles. Ao menos você saberá o motivo dos dois te olharem torto, quando chegarem.

A porta do quarto se abriu, e eu olhei rapidamente em direção a ela, dando de cara com a doutora, que, dessa vez, parecia séria.

— As contrações estão mais fortes e menos espaçadas? – perguntou, caminhando até a cama, enquanto Madge esmagava meus dedos novamente.

— Sim – a voz de Mad saiu forçada.

— Então vou verificar mais uma vez a dilatação, mas acredito que já esteja na hora – a doutora informou, e meu coração acelerou.

— Você pode ficar comigo? – Madge perguntou, baixinho.

Seu rosto estava vermelho, e mais suado, mas seus olhos estavam bem abertos, e atentos em mim.

— Eu jamais te deixaria, amor – respondi no mesmo tom, já sabendo que a doutora a examinava.

Madge sorriu levemente.

— Está brava comigo? – questionei, secando seu rosto com meus próprios dedos.

Ela negou devagar, fechando os olhos novamente.

— Sei que fez com a melhor intenção – disse, travando o maxilar. – Mas você terá que aguenta-los comigo. Cada minuto... Mesmo que eles odeiem sua, tão amada, barba.

Soltei um riso curto, e balancei a cabeça.

— Posso aguentar isso – concordei, e ela abriu os olhos, sorrindo fracamente.

— Estamos prontos, papais? – a doutora perguntou, chamando a minha atenção.

— Ele vai nascer? – perguntei, ansioso, sentindo o coração voltar a bater mais rápido.

Ela sorriu.

— Sim. Está na hora – afirmou.

Olhei para Madge, que já me olhava com atenção.

— Eu te amo – ela soltou devagar, voltando a apertar meus dedos com força.

— Eu também te amo – sorri, enquanto ela fazia uma nova careta de dor.

Mad esboçou um sorriso, e olhou para a doutora.

— Estamos prontos...

 

Katniss

Eu e Peeta demoramos mais do que o recomendado, para duas pessoas que estavam fazendo coisas indevidas em um local público, mas, sinceramente, nem vimos o tempo passar.

Só fomos realmente perceber que tínhamos ficado tempo demais naquele quarto, quando meu estômago roncou, anunciando que estava de bem comigo, a ponto de sentir fome.

Peeta me obrigou a ir até a lanchonete do hospital, e lá, comprei um sanduiche de pasta de amendoim, pelo simples fato de sentir vontade de comê-lo.

Quando Peeta questionou meu pedido diferente, talvez estranhando o raro momento em que eu rejeitava meu sanduiche preferido de atum, apenas aleguei que precisava comer algo doce, e ele, que estava todo calado desde que saímos do quarto, só concordou com a cabeça, antes de voltar a comer seu pão esquisito com carne, que não parecia nada agradável aos olhos, e que precisei evitar olhar, enquanto comia o meu.

Assim que voltamos para a entrada do hospital, já com a ideia de irmos novamente até o quarto de Madge, encontramos Annie e Finnick, sentados na área de espera.

Primeiro minha irmã questionou sobre nosso sumiço, alegando que estavam ali há um bom tempo. Depois que informei que estávamos apenas comendo alguma coisa, ela pareceu se contentar com a resposta, apesar de parecer desconfiada. Então, ela nos contou que quando chegaram, a recepção havia informado que Madge estava em trabalho de parto, e que Gale estava com ela.

Desde aquela notícia, não consegui aquietar.

Peeta acabou sentando ao lado de Finnick, parecendo cansado. Já eu, estava uma pilha, andando de um lado para o outro, feito uma barata tonta, enquanto mordia a unha do polegar, vez ou outra.

— Niss... Podemos conversar? – Annie chamou a minha atenção, obrigando-me a erguer a cabeça para procura-la.

Ela havia se levantado em algum momento, e estava um pouco distante de nós. Em seu olhar, pude notar a preocupação estampada, por isso, não hesitei em ir até ela.

— Qual é o problema? – perguntei.

— Eu quem devia perguntar isso – falou baixo. – O que aconteceu nesse jantar?

Dei um sorriso sem vontade, e cruzei os braços.

— Não houve jantar – soltei, e ela franziu o cenho. – O meu atraso foi grande demais, Peeta ficou irritado, e brigou comigo – expliquei, e minha irmã elevou uma sobrancelha.

— Só pelo atraso? – questionou.

Suspirei.

— Pelo acumulo de falta de atenção da minha parte – expliquei. – Mas prefiro não entrar em detalhes...

Annie assentiu levemente, e olhou por sobre meu ombro, antes de voltar a olhar pra mim, e soltar a pergunta:

— Então... Ele ainda não sabe? – sussurrou.

Engoli em seco, e neguei levemente com a cabeça.

Eu quis muito contar a Peeta, principalmente logo depois que nos amamos com tanta paixão naquela cama de hospital, mas eu estava completamente travada. Na verdade, cheguei até a abrir a boca, para tentar contar a ele, mas foi exatamente naquele momento, que meu estomago roncou tão alto, que fez Peeta rir, e me soltar do abraço que ele me mantinha já há alguns minutos, enquanto minha cabeça descansava em seu peito.

— Eu... Até tive a oportunidade, mas... Acho que não era o momento certo – respondi, em voz baixa. – Apesar dele parecer bem menos irritado do que estava na casa dele, nós não conversamos sobre nossa briga. Depois que conversarmos, penso em como contar a ele...

Minha irmã pareceu morder a bochecha internamente.

— Mas... Vocês estão bem? – questionou.

 – Aparentemente, sim – respondi.

Apesar de seu silêncio, Peeta sempre acabava sorrindo pra mim em algum momento, ou fazia questão de tocar a minha mão, sobre a mesa da lanchonete. Então, se não estávamos bem, ao menos parecia que estávamos a ponto de ficar, e isso era o que me deixava, de certa forma, mais tranquila.

Annie sorriu brevemente.

— Tudo bem... – ela olhou algo atrás de mim. – Vamos pra lá – disse, já passando ao meu lado.

Eu a segui, mas quando fiz menção de passar por Peeta, sua mão me deteve, segurando-me pelo pulso. Meus olhos foram parar em seu rosto, porém, não tive tempo de questionar, pois, agilmente, ele me puxou, fazendo-me cair sentada em suas pernas.

Encarei seus olhos, enquanto me ajeitava levemente em suas pernas.

— Ei... – Peeta disse, me abraçando pela cintura.

— Oi... – respondi, sentindo minhas bochechas corarem.

Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha, antes de descansar as mãos sobre minhas pernas, e passar a encara-las, como se fossem a coisa mais interessante do mundo.

— Você está bem? – perguntou, me fazendo morder o lábio inferior.

— Nervosa.

— Por Gale e Madge? – questionou.

Elevei o olhar, encontrando seus olhos azuis, atentos em meu rosto.

— Sim... – respondi. – Sinto como se fosse comigo.

Ele sorriu, e beijou a lateral do meu ombro, mesmo que seu moletom em meu corpo, o impedisse de tocar minha pele com os lábios.

— Na verdade... Eu também estou um pouco ansioso – confessou, mantendo apenas seu braço, que passava por minhas costas, e permitia que sua mão segurasse minha cintura, para que seu outro braço, se movesse lentamente, até que sua mão estivesse sobre as minhas. – O último bebê que segurei, foi o Pietro.

Franzi o cenho, e desviei o olhar para nossas mãos.

— Eu nunca segurei um... – confessei, e aquela verdade, fez meu estômago revirar.

— Não é difícil – disse suavemente, chamando a minha atenção. – Eu ainda lembro como faz. Lembro até de como fazer mamadeira, ou preparar um banho – Peeta sorriu. – Posso tentar te ensinar, se quiser. Prometo que você será a melhor madrinha do mundo.

Voltei a morder o lábio inferior, ao sentir meus olhos se encherem com lágrimas.

— Eu preciso te contar uma coisa – soltei a frase, receosa.

Peeta apertou levemente minha cintura, e, ao invés de manter minhas duas mãos cobertas pela dele, Peeta a moveu, até que seus dedos estivessem envolvidos e presos pelos dedos da minha mão direita.

— Pode falar – disse, olhando em meus olhos.

Meu coração estava acelerado, parecendo bater contra meus ouvidos. Respirei fundo, e quando abri a boca, ouvi Annie dizer:

— Finalmente.

Desviei o olhar do de Peeta, procurando ao redor, e logo encontrei meu melhor amigo. Ele estava parado na entrada que dava para os corredores internos do hospital. Gale parecia todo bagunçado, mas tinha um sorriso enorme no rosto.

Não precisei pedir para que Peeta me soltasse. Na verdade, ele até me incentivou:

— Vai lá, pequena – falou baixo, apertando carinhosamente minha mão, antes de me soltar completamente.

E eu fui.

Quase corri em direção a Gale, e me joguei contra ele rapidamente, sendo amparada por seus braços, que me acolheram em um abraço apertado.

— Isso é saudade? – debochou, beijando meus cabelos.

— Eu estava nervosa – murmurei, afastando o rosto para olha-lo. – Como foi? Como Madge está? Como ele é? – disparei as perguntas.

Gale soltou um riso curto, e balançou a cabeça.

— Madge está bem, e Matthew é o bebê mais lindo que eu já vi – respondeu, parecendo emocionado, enquanto me soltava do abraço.

Sorri, passando a ponta dos dedos por meus olhos.

— Quando posso vê-lo? – questionei, agitada.

Senti braços passarem por minha cintura, e um peito que eu conhecia bem, acabou virando apoio para minhas costas, quando fui puxada levemente pra trás.

— Logo – respondeu, olhando alguém atrás de mim. – Fico feliz que tenham vindo.

— Eu disse que viríamos – Annie respondeu, enquanto Peeta beijava o alto da minha cabeça.

— E como você está se sentindo? – Finn perguntou.

— Um pouco em choque ainda – disse, esfregando a nuca. – Vou te falar, cara. Não é fácil. Achei que ia desmaiar...

— Valeu por me apavorar – ele reclamou, e eu dei um riso curto.

— Vocês são muito mole – Peeta retrucou, e suas mãos espalmaram em minha barriga, fazendo meu coração dar um salto no peito, e meu sorriso se fechar, de puro nervosismo. – Prometo que serei bem menos bundão do que esses dois – ele sussurrou em meu ouvido, me fazendo prender a respiração, e meu rosto esquentar.

— Espera chegar à sua vez, Mellark. Ai a gente conversa – Gale rebateu, e Peeta riu.

— Tudo bem... Quando chegar a minha vez, nós falaremos sobre o assunto – respondeu.

Respirei fundo, abaixei o olhar, e umedeci os lábios.

— Vocês não estão ajudando – murmurei, mais pra mim, do que pra eles.

— Ajudando em quê? – Peeta questionou.

— Gale – uma voz feminina chamou, e eu ergui a cabeça. – Madge está pronta pra receber vocês – a doutora que eu tinha visto sair do quarto de Mad mais cedo, tinha um sorriso simpático no rosto. – Mas não poderão demorar muito. Ela está cansada.

— E o Matthew? – ele perguntou, ansioso.

O sorriso da mulher aumentou levemente.

— Logo a enfermeira irá leva-lo até o quarto, e seus amigos poderão conhece-lo.

Gale assentiu várias vezes, com um sorriso grande nos lábios.

— Obrigado, doutora – ele agradeceu, antes de virar para nos olhar. – Venham.

Nós começamos a segui-lo, mas Peeta, que não tinha me soltado do abraço por trás que ele dava, me fez diminuir a velocidade dos passos, nos deixando pra trás.

— Que foi? – perguntei, curiosa, enquanto ele nos fazia parar de vez, e me obrigava a virar, ficando de frente pra ele.

— Eu preciso te pedir desculpas – Peeta soltou, me fazendo franzir o cenho.

— Me pedir desculpas por quê? – questionei, confusa.

Ele passou a mão direita pelos cabelos, e suspirou.

— Por ter sido um babaca com você – murmurou, deixando seus olhos pararem nos meus, enquanto escondia as mãos nos bolsos da calça.

— Peeta... Você não tem que pedir desculpa por nada – afirmei, mas ele balançou a cabeça com pressa.

— Seu atraso, ou o fato de eu ter ficado chateado, não justifica minha gritaria. Mesmo sabendo que você não é uma garotinha frágil, você é a minha garota— sua fala, acabou causando um pequeno sorriso em meus lábios. – Você é a mulher que eu amo, e que eu prometi cuidar, e me sinto horrível por ter te tratado daquele jeito – disse, ainda em tom baixo. – Então... Eu quero saber se... Você pode me desculpar.

Mordi o lábio inferior com força, sentindo os olhos umedecerem.

— Isso tá errado, Peeta – disse, negando com a cabeça. – Eu quem devo te pedir desculpas por tudo isso. A culpa é minha, não sua.

— Eu falei sério quando disse que não queria te ouvir pedindo desculpas – ele soltou, em tom grave, tirando as mãos dos bolsos, para segurar meu rosto entre a quentura delas. – Eu quero uma explicação sim, mas não um pedido de desculpas. Eu nem estou mais irritado – Peeta deu um sorriso torto, e voltou a olhar fixamente em meus olhos. – E então? Podemos ficar bem? – questionou, escorregando as mãos lentamente por meus braços, até tê-las segurando a minha cintura.

Sorri timidamente.

— Achei que... Nós já estivéssemos bem, depois de... Você sabe – deixei no ar, e soltei um riso curto, quando Peeta riu, com certeza por culpa do meu constrangimento.

— Só quero ter certeza, pequena – ele me puxou mais pra perto, me fazendo apoiar as mãos em seus ombros.

— Claro que estamos bem. Eu não tenho motivo algum pra dizer o contrário – respondi, e ele sorriu mais abertamente. – Você virou completamente a situação, né? – soltei, quando ele fez menção de se aproximar mais, e Peeta franziu o cenho, parecendo confuso. – Nem pra me deixar consertar as coisas... – reclamei, e ele relaxou, soltando uma risada.

— E como você faria pra consertar as coisas, baixinha? – perguntou, divertido.

Semicerrei os olhos, e acertei um tapinha em seu ombro.

— Não me chame assim – o repreendi, e ele riu de novo. – E eu não sei. Mas eu ia, tá? – retruquei.

— Se quiser, podemos brigar de novo... – sugeriu, com um sorriso debochado.

— Não, senhor – subi a mão até sua nuca, para enfiar meus dedos em seus cabelos. – Agora já era. Você fez por mim.

Ele elevou uma sobrancelha, e afastou um pouco seu rosto do meu.

— Não. Agora eu quero que você faça – Peeta me soltou, afastando-se mais. – Pense em algo, e tente consertar – ele sorriu torto, cruzando os braços.

— Ai, que ridículo você – reclamei, mordendo o lábio inferior. Fiquei alguns segundos em silêncio, apenas fitando o olhar desafiador de Peeta, até que algo acendeu em minha cabeça. – Amanhã. Esteja em meu apartamento, as sete da noite. Você tem o direito de se atrasar, se quiser – dei um sorrisinho, quando ele voltou a elevar uma sobrancelha.

— E o que faremos lá? – perguntou, com uma ponta de malícia em sua voz.

— Bom... – minhas bochechas coraram. – Eu vou fazer um jantar romântico pra você – mordi o lábio inferior de novo, assim que as sobrancelhas de Peeta arquearam. – E lá, nós poderemos conversar sobre o motivo de eu ter te deixado plantado no restaurante – soltei a última frase, em voz baixa, sentindo o coração acelerar só com o pensamento.

— A parte da conversa, não podemos adiantar pra agora? – questionou, parecendo ansioso.

— Não. Já tentei começar essa conversa com você, duas vezes, mas fui interrompida... E se eu for interrompida pela terceira vez, eu vou ter um ataque, então, é melhor que façamos isso a sós, e com calma – pontuei.

— Tudo bem... – ele concordou. – Então... Você vai cozinhar pra mim? – perguntou, sorrindo.

— Sim... – respondi, timidamente.

— Certo... Só me diga uma coisa... – movi a cabeça, em afirmação, para que ele prosseguisse. – O que você queria me contar antes, tem a ver com o motivo do seu atraso? – perguntou, e eu assenti várias vezes, de maneira lenta, nervosa. – Tudo bem... Estarei em seu apartamento, às sete— ele deu ênfase na última frase, me fazendo corar.

— Achei vocês – a voz de Gale chamou nossa atenção. – E então? Se acertaram? – perguntou, curioso, ao se aproximar.

— Bom... Katniss precisará se esforçar um pouco – Peeta provocou, e eu rolei os olhos. Ele sorriu. – Nós estamos bem sim – afirmou, me fazendo sorrir com ele.

— Ótimo... Porque Madge quer falar com vocês dois.

Peeta e eu trocamos olhares confusos, pelo tom repentinamente sério de Gale, mas decidimos não questionar, seguindo meu melhor amigo.

A mão de Peeta alcançou a minha, quando começamos a andar, e seus dedos se entrelaçaram nos meus, dando-me certo conforto.

Ao entrarmos no quarto, logo enxergamos Madge, que tinha uma expressão cansada, e os olhos parecendo pesados, mas não deixava de sorrir para Annie, que falava com ela.

— Pronto, amor – Gale avisou, chamando a atenção para nós.

O olhar da minha amiga parou em mim, depois em Peeta, e por último, em nossas mãos entrelaçadas. Senti o ar de questionamento em seus olhos, e eu apenas neguei levemente com a cabeça, torcendo para que fosse uma resposta boa o suficiente para que ela compreendesse que Peeta ainda não sabia de nada.

— Como você está? – Peeta quem perguntou, puxando-me pra mais perto da cama de Madge.

— Cansada, em níveis exagerados – respondeu. – Mas estou feliz.

— E como foi segura-lo pela primeira vez? – perguntei.

Madge sorriu.

— Foi simplesmente mágico. Você segura aquele ser tão pequeno nos braços, e a única coisa que você consegue pensar, é como você pode amar tanto alguém, que acabou de conhecer – seus olhos estavam carregados com lágrimas, fazendo acontecer o mesmo com os meus.

— Deve ser lindo, Mad – disse Peeta, e eu sabia que ele estava sorrindo.

— É sim – ela concordou, ainda sorrindo, enquanto secava seus olhos com as pontas dos dedos.

— Olha quem veio ver vocês.

Todos olhamos em direção a porta, e por ela havia passado uma enfermeira, que carregava um pacotinho azul nos braços. A moça se aproximou mais, e estendeu o bebê para Madge, que o segurou com cuidado, mas, aparentemente, sem medo.

— Logo eu venho busca-lo. A mamãe precisa descansar – avisou a enfermeira, e Mad apenas assentiu.

A mulher saiu do quarto, deixando a porta aberta.

— Ele é lindo – comentei, dando um sorriso.

Madge ergueu o olhar pra mim.

— Quer segurar seu afilhado? – ofereceu, e meu coração aumentou as batidas.

— Eu não sei segurar um bebê – disse baixo, constrangida.

— Eu te ajudo – disse Peeta, soltando a minha mão. – Posso, Mad? – pediu, se aproximando um pouco mais.

Ela sorriu pra ele, e devagar, estendeu Matthew para Peeta, que o segurou com facilidade. Ele deu alguns passos pra trás, até estar ao meu lado.

— Ei, garoto. Quer conhecer sua madrinha? – perguntou para o bebê, que tinha seus olhos extremamente azuis, semiabertos, e pareciam olhar diretamente para Peeta. – Você tá me vendo? – questionou, com um sorriso, e Matthew piscou preguiçosamente. – Deve estar... – Peeta ainda sorria, quando ergueu os olhos pra mim, e me pegou sorrindo feito uma idiota. – Sabia que um bebê te emocionaria – brincou, me fazendo morder o lábio inferior. – Tá vendo como eu o seguro? – perguntou, e eu assenti, passando a manga do moletom de Peeta sobre os olhos. – É só fazer o mesmo, pequena – disse, enquanto nós dois ficávamos de frente um para o outro. – Pegue ele. Eu estarei aqui.

Cuidadosamente, aceitei Matthew em meus braços, sentindo meu estômago se revirar, dessa vez de ansiedade. Com o coração palpitando, acolhi o pequeno bebê, que tinha a boca levemente aberta.

— Oi, Matt – falei baixinho, sentindo-me nervosa. – Eu sou a madrinha que o tio Peeta falou – comentei. – Prometo que tentarei ser a melhor madrinha do mundo – sussurrei, e naquele instante, eu senti que Matthew olhava diretamente pra mim. – O tio Peeta disse que vai me ajudar – segredei. – Vamos torcer pra que eu realmente seja uma boa aluna.

Ergui o olhar, quando percebi que todos estavam completamente calados, e logo me dei conta de que a atenção deles, estava toda sobre mim e o bebê.

Constrangida, olhei para Peeta, que parecia perdido em pensamentos, mas que acabou sorrindo pra mim, antes de virar o rosto para Madge.

— Então... Gale disse que você queria falar com a gente – ele comentou, me fazendo também olhar para minha amiga.

— Bom. Sim... – ela olhou para mim, e depois para Peeta novamente. – Faz algumas semanas que decidimos pedir à Katniss para ser a madrinha de Matthew. Era óbvio que Gale a escolheria, e era mais óbvio ainda, que eu jamais pediria pra ser outra pessoa – Madge olhou para Annie. – Desculpa, amiga.

Annabelle deu de ombros.

— Vocês terão mais filhos. No mínimo mais uns três, então poderemos revezar – disse com um sorriso, e Gale tossiu, como se tivesse engasgado, fazendo-me sorrir.

Mad riu baixo, e balançou a cabeça, antes de voltar a me olhar.

— Enfim. Nós nem chegamos a falar sobre isso, mas ambos sabíamos que seria você, Kat – meus olhos se encheram com lágrimas, enquanto eu voltava a sorrir. Madge olhou para Peeta. – Gale e eu não comentamos sobre um padrinho, porém, faz alguns dias que tenho pensado sobre o assunto, e hoje – ela deu uma pequena pausa, lançando-me um olhar significativo, que eu captei no mesmo instante –, eu soube que era a decisão certa. Então... Eu e Gale concordamos que, se você aceitar, queremos que você seja o padrinho de Matthew, Peeta.

Arqueei as sobrancelhas, e virei a cabeça para fitar meu namorado. Ele estava surpreso, encarando Madge.

— O que... Exatamente significa esse pedido? – Peeta questionou.

— Que você, com certeza, será um ótimo padrinho, e que você e Katniss darão uma ótima dupla – Mad respondeu, abrindo um pequeno sorriso, inocente, mas eu havia notado a ponta sugestiva em sua frase, por isso, meu rosto todo esquentou.

Ele soltou um riso curto, e olhou pra mim.

— O que acha? – perguntou, e pude notar a emoção em seu tom de voz.

Mordi o lábio inferior.

— Acho maravilhoso, Peeta – disse, sorrindo pra ele, que havia se aproximado um pouco mais de mim e Matthew. – Ele vai adorar ter você como padrinho – soltei em voz baixa, enquanto Peeta passava levemente a ponta do indicador na bochecha do bebê.

Ele sorria, quando olhou para Madge e depois procurou Gale com os olhos.

— Eu aceito, com certeza – disse, animado.

Soltei um riso curto, sentindo algumas lágrimas escaparem. Desviei o olhar para o lado, assim que Peeta voltou a olhar em minha direção.

— Você está bem? – perguntou ele, em voz baixa, e eu assenti, antes de me mover, para me aproximar de Annie.

— Pegue ele, Ann – ofereci, e ela sorriu, acolhendo Matthew em seus braços.

Passei as mãos pelo rosto, mas as abaixei logo, ao ouvir alguém entrar no quarto.

— Madge? – uma voz feminina disse, enquanto meus olhos alcançavam a porta.

Um casal, muito bem arrumado, com roupas caras, e um olhar duro, mas estranhamente familiar, havia entrado, e parado a poucos passos longe da entrada. Olhei em direção a Madge, e pude notar a palidez tomar conta do seu rosto, apesar de seu olhar dizer que não estava tão espantada, quanto parecia.

A mulher passou os olhos por cada um de nós, até parar em Annie, que segurava o bebê.

— Oi – Mad soltou, sem muita vontade, recebendo a atenção do casal diretamente pra ela.

— Não vai nos apresentar? – a mulher deu um sorriso, que não parecia muito convincente.

Madge suspirou.

— Pessoal. Eles são Ellen e David Undersee... Meus pais.      


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Notas finais do capítulo

Eu estou postando uma fanfic, que é nova aqui, mas já foi postada em outro site, há alguns anos.
O nome é Caminhos Cruzados, e é Peetniss.
Quem quiser dar uma olhadinha, agradeço kkk
Beijos ♥