O Sol em meio à tempestade escrita por nsbenzo


Capítulo 66
Capítulo 65


Notas iniciais do capítulo

Ta grande... Muito até kk
Mas espero que gostem...
Boa leitura ♥



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— Gale... A gente pode trocar de lugar? – Madge choramingou, apertando a minha mão.

— Eu gostaria que sim – respondi, suavemente, acariciando sua bochecha. – Mas como não podemos, você terá que ser forte, meu amor – dei um pequeno sorriso. – Consegue levantar? – perguntei, percebendo que o enfermeiro que nos acompanhou, estava pronto para ajudá-la.

Mad assentiu devagar, e eu mesmo a segurei, sentindo suas mãos pequenas agarrarem meus ombros, enquanto ela se colocava de pé.

As contrações estavam fortes, apesar de ainda serem pausadas, e a barriga enorme de Madge, atrapalhou bastante na nossa locomoção até o hospital. Sinceramente, faltou bem pouco para que eu entrasse em pânico. Se eu não havia o feito, era simplesmente por ela, que apesar de deixar claro o quanto estava complicado, sorria vez ou outra pra mim, mesmo que fosse um sorriso fraco.

Com toda a calma que eu conseguia ter naquele momento, eu a guiei até o banheiro do quarto, e a deixei com a enfermeira, que havia chegado há pouco, para ajudá-la a se trocar.

Me mantive parado ao lado da porta, ansioso, até que Madge saiu com aquela roupa de hospital no corpo, e com um sorrisinho nos lábios.

— Estou linda, não? – perguntou, segurando em meu braço, enquanto eu a guiava até a cama.

— Perfeita, como sempre – concordei, e ela riu baixo.

Dificultosamente, eu consegui coloca-la deitada, com todo o cuidado possível, cobrindo apenas suas pernas, no final, com os lençóis que haviam disponibilizado para ela.

— A doutora já está a caminho – a enfermeira avisou, antes de se retirar com o outro enfermeiro, que saiu empurrando a cadeira de rodas onde Madge havia sido carregada até ali.

— Eu não vou quebrar, Gale – Mad disse, e eu franzi o cenho. – Agradeço por ser tão cuidadoso, mas não há nada fora do comum acontecendo – ela voltou a dar um pequeno sorriso, tentando me confortar.

— É ruim te ver com dor – lamentei, tentando justificar meu cuidado excessivo.

— Isso aqui é só o começo – Madge me lembrou, e eu fiz uma careta. – Quando as dores piorarem, talvez eu comece a xingar você – ela sorriu, e eu balancei a cabeça.

— Até que está demorando – comentei, empurrando uma mecha de seus cabelos pra trás da orelha.

Madge voltou a sorrir, mas não disse nada. Apenas fechou os olhos, parecendo satisfeita com o leve acariciar dos meus dedos na lateral de sua cabeça.

— Boa noite – a voz da doutora nos tirou da pequena bolha que havíamos criado, obrigando-me a olhar em direção a entrada do quarto.

A mulher de branco, com um sorriso educado, e com um prancheta na mão, se aproximou da cama.

— Vamos ver como estão as coisas? – ela perguntou.

— Sim – Madge respondeu, e alcançou a minha mão, que estava repousada ao seu lado sobre o colchão. – Se importa de sair, amor? – perguntou, quando eu a olhei. – Ela vai ver a dilatação, e coisas do gênero. Não acho que vai ser confortável pra você.

— Mas... Eu pretendo assistir o parto... – falei, confuso.

— Na hora do parto, você estará distraído, enquanto eu te aperto – ela deu um sorrisinho.

Cocei a nuca, mas por fim, assenti com a cabeça.

— Tudo bem – respondi, abaixando para beijar sua testa. – Vou aproveitar pra buscar um café.

Madge afirmou silenciosamente, e eu não demorei muito para sair do quarto, fechando a porta atrás de mim.

Quando já estava longe o suficiente, indo em direção a lanchonete do hospital, algo estralou em minha mente, me fazendo parar de andar no mesmo instante.

Há meses eu sentia um incomodo enorme, e vinha piorando, conforme os dias passavam, e Matthew não nascia.

Assim que a bolsa de Madge estourou, eu não tive muito tempo de voltar a pensar naquela situação, mas ali, naquele momento, caminhando sozinho, com meus próprios pensamentos, a consciência pesou, obrigando-me a alcançar o celular no bolso da calça.

— Espero não estar fazendo merda – murmurei pra mim mesmo, começando a procurar o número que eu havia “roubado”, da agenda de Madge.

Com o celular na orelha, encostei na parede mais próxima, torcendo para que, se eu estivesse fazendo a coisa errada, que a chamada caísse na caixa postal, e então, eu desligaria.

Porém, não foi preciso mais do que dois toques, para que uma voz feminina falasse do outro lado:

Alô?

Senti o sangue fugir do meu rosto, e a coragem de falar, havia ido embora.

Alô? — a mulher deu uma pausa. – Se isso for um trote, eu tenho o seu número aqui!

Pigarreei baixo, engoli em seco, e acabei deixando a minha voz sair:

— Desculpe... Boa noite. Aqui é o Gale – pigarreei novamente, e cocei a nuca. – Gale Hawthorne – completei, nervoso. – Gostaria de falar com a Ellen ou com o David.

Aqui é a Ellen — a mulher confirmou minhas suspeitas. – Seu nome não me é estranho, rapaz — disse ela, educadamente.

Respirei fundo, apertando o celular contra a orelha.

— Nós... Hum... Nós nos conhecemos bem pouco... Eu... Eu sou o... – “uma notícia por vez, Gale”, pensei –, o namorado da Madge, senhora Undersee. Podemos conversar?

 

~||~

 

— Ei, Gale – a voz de Katniss me fez virar rapidamente, quase derramando meu café.

A conversa com Ellen havia sido curta. Na verdade, ela me ouviu o tempo todo, e quando me calei, ela disse que precisava conversar com David sobre o assunto, e que me ligaria de volta.

Eu não tinha certeza do que exatamente eles conversariam entre si, e nem porque ela disse que retornaria a minha ligação, mas com certeza, eu estava bem mais nervoso do que antes.

— Vai com calma – ela sorriu levemente, enquanto se aproximava. – Como estão as coisas?

Olhei atrás dela, enxergando Peeta, que vinha com passos lentos pelo corredor. Suas mãos estavam enfiadas nos bolsos do moletom preto. O capuz cobria apenas metade de sua cabeça, deixando a parte da frente de seus cabelos, que pareciam um grande ninho de ratos, à mostra. Seus olhos estavam pequenos e cansados, e não encaravam nenhum lugar especifico. Seu semblante era sério, e sua postura era dura, impedindo que qualquer outro membro que não fosse suas pernas, se movessem muito, enquanto caminhava.

Franzi o cenho para Katniss, que negou com a cabeça discretamente, como se me pedisse para não fazer perguntas. Em seu olhar, algo me dizia que alguma coisa estava errada, e apenas por isso, decidi atender seu pedido silencioso.

— Madge está com a doutora há algum tempo. Acho que ela está fazendo exames de praxe, e dando algumas instruções – decidi responder sua pergunta. – Madge pediu para que eu saísse. Acho que ela tem medo que eu desmaie, enquanto a médica vê a dilatação – fiz uma careta, assoprando meu café.

Katniss deu um sorrisinho, e assentiu.

— Seria a sua cara, se desmaiasse – ela provocou, roubando o copo descartável das minhas mãos.

— Vocês botam tanta fé em mim... – falei com ironia, pouco me importando com a folga de Katniss.

Ela se aproximou um pouco mais, até estar bem ao meu lado, e escorou na parede, repetindo o meu ato de assoprar o café.

Movi a cabeça devagar, e com os olhos, busquei por Peeta, o encontrando parado no meio do corredor, fitando Katniss, que parecia distraída com seus próprios pensamentos.

— Você tá bem, Mellark? – perguntei, não conseguindo conter a curiosidade.

Ouvi um suspiro quase inaudível de Katniss, mas não a olhei, afinal de contas, eu estava respeitando seu pedido. Eu só havia questionado o óbvio, já que Peeta parecia estar mal pra caralho.

Ele piscou algumas vezes, antes de focar os olhos em mim.

— Estou sim, Hawthorne – ele esboçou um sorriso, tirando o capuz da cabeça. – Só um pouco cansado – ele se moveu devagar, até estar do outro lado do corredor, ficando de frente pra Katniss.

De cenho franzido, olhei para a baixinha ao meu lado, que encarava o copo descartável, parecendo em dúvida se devia ou não tomar. Logo algo se iluminou em seu rosto, como se tivesse tido uma ideia brilhante, e com um sorrisinho, ela ergueu a cabeça, para olhar Peeta.

— Talvez um café te ajude – Katniss sugeriu, e ele, que encarava os próprios pés, a olhou, parecendo não ter o que dizer. – Você adora café – ela alegou, dando de ombros. Katniss andou alguns passos, cortando a distância entre eles. – Sem contar que Gale já pagou por ele mesmo.

— Sim – concordei, cruzando os braços. – Devo ressaltar que é considerado roubo, perante a lei.

Peeta tentou sorrir, mas algo pareceu trava-lo, então ele desistiu, voltando a ficar sério. Sua mão alcançou o copo descartável das mãos de Katniss, e algo estranho aconteceu.

Quando seus dedos se encostaram, Peeta congelou no lugar, parecendo surpreso com o toque. Já Katniss, não arredou o pé, e continuou com os dedos encostados nos dele. Ambos trocaram olhares intensos – como se aquele simples ato, fosse algo grandioso demais –, antes que Peeta finalmente reagisse, e pegasse o copo cuidadosamente, para logo afastar a mão da de Katniss.

Ela continuou a fita-lo, e como Peeta havia desistido do contato visual, para encarar o copo descartável, Katniss acabou se afastando dele, para voltar a ficar ao meu lado.

Peeta bebeu um gole considerável de café, não parecendo se importar com a temperatura, antes de olhar em minha direção.

— Valeu pelo café, Hawthorne – ele ergueu o copo, e acenou com a cabeça, desencostando da parede. – Eu vou... Dar uma volta – avisou.

— Você... Vai demorar? – Catnip perguntou, quando ele já estava pronto para se afastar.

Peeta apenas negou com a cabeça, e simplesmente saiu de perto de nós.

Enquanto ele andava, Katniss virou a cabeça, parecendo acompanha-lo com os olhos, e mesmo quando Peeta sumiu de vista, em uma das esquinas dos corredores do hospital, ela manteve a cabeça na mesma direção, como se ela ainda pudesse vê-lo.

— Vocês brigaram – afirmei, e ela não me olhou para responder.

— Prefiro não falar sobre isso – disse Katniss, movendo a cabeça devagar, para olhar pra frente.

— Qual é, Catnip? Apenas me diga o que está acontecendo – pedi.

Ela suspirou, e encostou a parte de trás da cabeça contra a parede.

— Eu pisei na bola com ele, Gale – respondeu, olhando pra mim. – Tenho sido uma péssima namorada.

— Bom... Peeta também já pisou na bola com você – a lembrei, fazendo Katniss rolar os olhos.

— Então, segundo a sua lógica, eu devo esperar um rompimento até o fim da noite? – perguntou, com sarcasmo. – Porque foi o que eu fiz, quando ele pisou na bola comigo – apontou, virando o rosto pra frente. Abri a boca para retrucar, mas ela foi mais rápida: – Você sabe mesmo animar alguém. Sério – Katniss fechou os olhos, e cruzou os braços.

— Peeta não terminaria com você assim – consegui me manifestar, mas ela não se moveu. – Ele te ama, Katniss – falei com convicção.

Ela respirou fundo, e abriu os olhos devagar.

— Quer me contar melhor? – questionei, e Katniss me olhou.

— Você não deveria estar com Madge? – rebateu, elevando uma sobrancelha.

Movi a cabeça para olhar em direção a porta fechada do quarto, onde Mad ainda estava trancada com a doutora.

— Enquanto a médica estiver lá dentro, aparentemente, eu devo ficar aqui fora – comentei, olhando novamente para Katniss. – E... Eu meio que estou esperando uma ligação, então...

Katniss franziu o cenho.

— Ligação? De quem? – questionou, curiosa.

— Não importa – respondi, tentando não soar ansioso. – Vamos lá. Me fale sobre a merda que você fez.

Ela rolou os olhos, e balançou a cabeça, suspirando em seguida, enquanto recostava melhor seu corpo contra a parede.

— Posso resumir, dizendo que tenho sido super desatenciosa, e mal tenho mantido uma conversa com alguém... – ela deu uma pausa. – Pra falar a verdade, acho que essa conversa com você, está sendo a mais longa da semana, e tenho certeza de que é por eu ter desligado o meu celular, enquanto vinha pra cá – disse Katniss, olhando pra parede a nossa frente. – É que eu tenho usado bastante o celular para manter contato com pessoas que... Poderiam me ajudar com o divórcio do Peeta – explicou, em voz baixa. – E antes que você pergunte quais são meus planos, já digo que não vou te contar – ela virou o rosto para me fitar. – O caso é que eu não tenho sido a melhor namorada do mundo, e eu nem tinha me dado conta disso, até Peeta estourar hoje mais cedo.

— Como assim “estourar”? – perguntei.

Katniss mordeu o lábio inferior, e desviou o olhar.

— Eu me atrasei mais de duas horas, para o jantar romântico que ele havia planejado – soltou, corando. – E esse foi o limite de Peeta, depois de aguentar meus atrasos constantes, minha falta de atenção, e meu celular irritante, por mais de uma semana.

— Eu não sabia que ele tinha um limite, tratando-se de você – comentei, e ela deu um sorriso fraco.

— Todo mundo tem – sua voz saiu baixa. – Mas confesso que fui pega de surpresa – Katniss apertou os braços cruzados. – O pior de tudo é que... Hoje eu não estava trabalhando em meus planos para ajudá-lo com Johanna.

— Então... Por que se atrasou? – questionei, franzindo a testa.

Seu rosto ficou mais vermelho, e quando ela voltou a olhar pra mim, notei seus olhos brilharem intensamente, como se lágrimas fossem cair a qualquer momento.

Katniss acabou sorrindo, depois de parecer engolir o choro. Com uma respiração profunda, ela negou com a cabeça devagar.

— O que importa é que eu não estava fazendo o que ele acredita que eu estava fazendo – Katniss murmurou, descruzando os braços.

— Bom. Tudo bem... – fiquei em silêncio por alguns segundos. – Mas se você contar ao Peeta, o que estava fazendo hoje, não ajudaria? – perguntei.

— Não sei – ela respondeu, mordendo o lábio inferior, hesitante. – Mas mesmo que ajude... – Katniss desviou o olhar. – Eu não pretendo tentar usar o acontecido de hoje, como um pretexto para consertar o acumulo de aborrecimento que eu causei. Quando nos acertarmos, talvez eu explique – Katniss moveu os ombros levemente.

— E como pretende consertar isso? – indaguei, movendo a cabeça ao ouvir uma das portas sendo abertas.

A doutora saiu do quarto, e olhou em minha direção.

— Madge está te chamando – informou, com um pequeno sorriso.

Agradeci silenciosamente com um movimento de cabeça. A mulher fechou a porta, e começou a se afastar, enquanto eu desencostava da parede.

— Vamos lá, Catnip – chamei.

— Tem certeza de que eu posso entrar? – perguntou, com o semblante duvidoso.

— Conseguimos um quarto particular – expliquei.

Ela assentiu devagar, e se pôs ao meu lado, caminhando comigo.

— E então? O que pretende? – insisti.

— Não faço a menor ideia – Katniss soltou, com um riso sem vontade. – Vou tentar ser uma namorada melhor, e deixar um pouco de lado meus planos sobre Johanna.

— Acho uma boa ideia – concordei, abrindo a porta.

Madge estava deitada da mesma maneira que eu havia a deixado, porém estava mais vermelha e mais suada. Seus olhos encaravam justamente o local onde eu e Katniss entramos, e um sorrisinho apareceu em seus lábios.

— Você veio... – disse olhando Catnip, que se aproximou com mais pressa da cama.

— Como não viria? Meu afilhado vai nascer – Katniss sorriu, parecendo realmente feliz. – O que a doutora disse? – ela perguntou, acariciando levemente o braço de Madge, enquanto eu parava do outro lado da cama.

— Que estou com quatro centímetros de dilatação, e que o Matthew é tão preguiçoso que eu posso ficar horas aqui, esperando ele sair – disse com desânimo, olhando em minha direção. – O pior é que ele nem nasceu, e já sei a quem puxou.

— Eu não sou preguiçoso – reclamei, fazendo Katniss rir.

— É sim. E não discorde de quem está em trabalho de parto – Madge fez uma careta de dor no final da frase, e não demorei nada para me aproximar mais, alcançando sua mão.

Ela apertou meus dedos, com força, e a única coisa que pude fazer, foi tirar os fios de cabelo, que caíram em seu rosto, conforme ela se moveu na cama.

— Ver alguém tendo contrações, não é nada animador pra outra mulher – Katniss murmurou, assim que Madge pareceu relaxar, encostando nos travesseiros, que estavam dispostos atrás dela.

Madge deu um sorriso fraco.

— Desculpe, mas acredite... Não é pra parecer animador – Mad respondeu, respirando fundo. Seus olhos estudaram Katniss por alguns segundos. – Cadê o Peeta? – questionou, franzindo as sobrancelhas, que estavam carregadas de gotículas de suor.

Katniss suspirou.

— Você não vai querer ouvir meu drama mexicano – ela soltou em voz baixa.

— Ah, quero. Com certeza – Madge falou, ainda apertando meus dedos.

Catnip me olhou, e logo captei sua mensagem. Ela queria ficar sozinha com a minha noiva.

— Enquanto vocês conversam, eu vou procurar o Peeta, pode ser? – questionei, olhando de Katniss para Madge.

— Procura-lo? – Mad perguntou, confusa.

— Katniss vai te explicar, amor – respondi, sentindo seu aperto afrouxar. – Eu volto logo, prometo – curvei-me, beijando seus cabelos.

— Me traz água gelada, por favor – ela pediu, e eu concordei com a cabeça, dando uma olhada rápida pra Katniss, antes de virar para me afastar.

Assim que saí do quarto, tirei o celular do bolso, procurando por alguma mensagem ou chamada perdida, e a única coisa que encontrei, foi uma nova notificação da minha conversa com Annie, que começara um pouco antes de eu sair de casa com Madge:

 

Meu filho vai nascer!!!

[09:22 PM]

 

Não acredito! Finalmente vc vai se tornar uma pessoa decente

Bom... Assim esperamos!

[09:35 PM]

Qnd Finnick chegar do restaurante, iremos para o hospital

[09:36 PM]

E estou feliz por vc e Madge :)

[09:36 PM]

 

Qnt amor! Acho q a maternidade tá te transformando, Annabelle

Ainda há esperanças para a humanidade :)

[10:03 PM] 

Mas obrigado

Ficaremos felizes em ter vcs aqui

 [10:03 PM]

 

Imbecil, como sempre...

Nos vemos logo

[10:20 PM]

 

Nos vemos logo

[10:21 PM]

 

Escondi o aparelho no bolso da calça, depois de responder, e saí em busca de Peeta.

Demorei alguns minutos para finalmente encontra-lo do lado de fora, sentado em uma mureta baixa que cercava alguns arbustos da entrada do hospital.

Ele ainda segurava o copo descartável, mas parecia vazio, de onde eu estava. Peeta tinha os olhos voltados pra rua, parecendo distraído com o movimento dos carros, porém, quando me aproximei, ele disse, sem ao menos olhar para o lado:

— Katniss te contou? – ele perguntou, em tom sério.

— É. Contou – respondi, sentando ao lado dele.

— Claro que sim – Peeta soltou um riso sem vontade. – Veio aqui pra tentar defende-la?

Olhei em direção a rua.

— Não. Ela fez merda mesmo – concordei. – E não pretendo me envolver na briga de vocês. Aprendi com a última vez.

Ele respirou fundo.

— Valeu.

Ficamos em silêncio por alguns segundos, até que decidi perguntar:

— Mas você acha que dá pra vocês se acertarem? – virei a cabeça para olha-lo.

Peeta me olhou no mesmo instante.

— Eu a amo, e acho que não é novidade pra ninguém. Mas estou realmente com raiva – ele voltou a olhar para os carros em movimento.

— Isso me surpreendeu... – comentei, chamando a atenção dele novamente. – Você, com raiva dela – expliquei.

Peeta balançou a cabeça devagar.

— Não é raiva da Katniss. É da situação. Johanna atrapalhando nosso namoro, mesmo sem agir diretamente... Isso, com certeza, me deixou louco – ele suspirou, e olhou a rua novamente. – Com Katniss, é só... Aborrecimento. Apesar de tudo, sei que não foi por maldade – Peeta cruzou os braços, amassando o copo descartável. – E, afinal de contas, todo casal briga. Se ela estiver disposta a mudar essa situação, não vou ser o cabeça dura, que dificulta tudo. Eu não poderia correr o risco de perde-la.

— Acha que vai demorar pra isso passar? – indaguei.

Ele pareceu pensar em minha pergunta, e notei uma ponta de sorriso em seu rosto.

— Não. É só eu dar uma brecha, que aquele sorriso, e aqueles olhos, vão me tirar toda a razão – ele soltou um riso curto. –Você a conhece. Deve saber que é impossível ficar chateado por muito tempo com ela.

— Bom. Talvez eu consiga mais do que você, já que você é o idiota apaixonado – provoquei, e Peeta sorriu, balançando a cabeça. – Mas você tem razão. Catnip tem um dom natural pra fazermos nos arrepender de ficarmos bravos com ela.

— Exatamente. E ela nem se esforça pra isso – Peeta passou a mão direita pelos cabelos, parecendo desconcertado. – Eu só acho que não estou pronto para dar essa brecha ainda. Preciso... Deixar passar a decepção de ter planejado tão bem a nossa noite, e ter ficado esperando sozinho, por tanto tempo. Aquilo foi de matar.

— Eu entendo sua situação. Também ficaria puto se fosse comigo – comentei, e ele assentiu devagar.

Meu celular fez barulho no bolso, e não demorei nada para pega-lo.

— Qual é? Sou o único ser humano educado que não usa o celular no meio de uma conversa? – Peeta resmungou, enquanto eu desbloqueava o aparelho.

— Não costumo fazer isso, mas... – deixei a frase no ar, para abrir a mensagem.

 

“Obrigada por ligar.

Eu e meu marido estamos surpresos com a notícia. Principalmente com o fato dela ter demorado nove meses para chegar aos nossos ouvidos.

Mas conversamos, e apesar de acharmos um erro, decidimos ir até vocês.

Então, nos passe o endereço do hospital, pois nos veremos em breve, Gale.”

 

— Que cara é essa? – Peeta perguntou, chamando a minha atenção.

— Fodeu – soltei, sentindo o coração acelerado.

— O que aconteceu, Hawthorne? – ele perguntou, levantando.

Respirei fundo, e me coloquei de pé.

— Eu contei aos pais de Madge sobre o bebê – respondi. – Tipo, há alguns minutos.

Peeta arqueou as sobrancelhas.

— Eles não sabiam? – neguei com a cabeça em resposta. – E você contou justamente agora, que o Matthew está pra nascer? – afirmei silenciosamente. – Madge sabe disso?

— É exatamente ai, onde está a merda – soltei, nervoso. – Eu ia contar a ela, mas depois do parto. Só que não tem depois, cara. Os Undersee estão vindo pra cá – disse, sentindo que naquele momento, eu realmente entraria em pânico. – Puta merda, Peeta. Não era para eles virem!

— E você esperava o quê? É o neto deles – ele disse o óbvio.

— Eles não são a família mais unida. Na verdade, estão longe disso – cocei a cabeça, com força. – Madge vai me odiar.

— O que você pretendia, contando a eles? – Peeta perguntou.

— Era mais pra tirar o peso da consciência. Não fazia ideia de que eles decidiriam vir pra cá – apertei o celular.

Ele me analisou, parecendo conter uma cara de deboche.

— Vamos arranjar alguma coisa pra você se acalmar, Hawthorne – Peeta deu dois tapinhas em meu braço. – Talvez algum remédio tarja preta, ai você dorme até eles irem embora. Problema resolvido.

— Vai se ferrar – resmunguei, jogando o celular no bolso.

Peeta me analisou, franzindo a testa, suspirou, e segurou meu ombro, lançando-me um olhar carregado de seriedade.

— A merda já tá feita, cara. Agora, você precisa ir até a Madge, e contar a ela que os pais não tão amáveis dela, estão vindo para o nascimento do Matthew – disse ele, me soltando em seguida.

Elevei uma sobrancelha.

— Você é pior do que eu, no quesito “ajudar as pessoas” – apontei, dando-lhe as costas, para caminhar em direção ao hospital.

— Não estou no meu melhor dia! – Peeta se defendeu.

Parei de andar, ao perceber que ele não me seguia. Virei para encara-lo, encontrando-o parado no mesmo lugar.

— Você não vem?

— Não – Peeta respondeu simplesmente.

— Acho que Madge quer te ver – tentei argumentar, e ele sorriu sem vontade.

— Eu... – ele passou a mão pelos cabelos. – Acho que preciso de mais um tempo sozinho – respondeu, voltando a cruzar os braços, e virando em direção a rua. – Entrarei logo.

— Você quem sabe, cara – falei.

— Boa sorte com Mad – Peeta disse, sem olhar pra mim.

— Acho que vou precisar – murmurei, voltando a andar em direção a entrada.

Durante o percurso até o quarto, tentei formular a notícia da melhor maneira possível em minha cabeça, mas no fim, tudo parecia uma grande merda.

Madge me mataria. Isso era certeza.

Com um copo de água gelada na mão esquerda, usei a mão direita para abaixar a maçaneta da porta, porém, ao ouvir um pedaço da frase de Katniss, acabei enrolando para abri-la:

— ... Quando Peeta disse aquilo, foi como se... Como se todos os meu medos fossem reais – ela murmurou. – Eu precisei me controlar, pra não desabar na frente dele.

— E qual o problema de desabar, Katniss? – Madge perguntou, preocupada. – Você não é de ferro.

— Ele também não, e mesmo assim, sempre agiu como se fosse, só pra tentar me proteger – ela argumentou. – Peeta tem o direito de explodir, sem que eu tente amenizar as coisas. Só assim pra ele desabafar, e dizer o que o incomoda.

As duas se calaram por alguns segundos.

— E quando contará a ele? – Madge quebrou o silêncio.

— Assim que nos acertarmos. Não quero força-lo a me desculpar – ela respondeu.

Empurrei a porta devagar, e logo o olhar das duas estava sobre mim.

— Desculpa a demora – disse, ao me aproximar da cama de Mad. – E desculpa por ter ouvido uma parte da conversa.

Katniss estreitou os olhos, enquanto Madge alcançava o copo das minhas mãos.

— O que ouviu exatamente? – ela perguntou.

— Nada demais – disse sinceramente.

Catnip me analisou devagar, antes de olhar em direção a porta, que eu havia fechado.

— O Peeta...? – questionou, voltando a olhar pra mim.

— Ele disse que quer ficar um pouco sozinho – expliquei, antes que ela terminasse a frase.

Katniss assentiu uma vez, e desviou o olhar, parecendo começar a se distrair com seus próprios pensamentos.

Ficamos em silêncio, enquanto Madge bebia sua água aos poucos. Meus olhos estavam atentos em minha noiva, e minha cabeça latejava levemente, conforme o tempo passava, e eu tentava chegar a uma forma de lhe dar a notícia sobre seus pais, sem parecer tão ruim.

Porém, mesmo com a mente carregada, consegui captar algo estranho em Katniss, e foi o que me obrigou a desviar o olhar de Mad, para olha-la.

Catnip estava com a pele arrepiada, e seu rosto estava ligeiramente pálido. Seus olhos pareciam umedecidos, mas ela não chorava. Eu poderia dizer que sua atenção estava em Madge, mas algo em seu olhar dizia que seus pensamentos estavam longe.

— Você quer que eu pegue a minha jaqueta no carro, Katniss? – perguntei, notando que ela ainda parecia arrepiada.

Ela piscou uma, duas vezes, antes de erguer a cabeça para me olhar.

— Eu... Eu não estou com frio – Katniss deu um sorriso fraco. – Só... Não me sinto muito bem – ela colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— Posso fazer algo por você? – questionei, preocupado.

— Pode – ela umedeceu os lábios. – Pare de se preocupar comigo – seu olhar foi pra Madge. – Digo o mesmo pra você – ela deu um sorrisinho. – Matthew vai nascer. Ele quem deve ser o foco de vocês. Não eu.

— Mas...

— Eu vou ficar bem, Gale – disse com um tom firme, me interrompendo. – Prometo.

Assenti silenciosamente, e decidi não falar mais nada.

Voltei a dar atenção para Madge, porém não durou nada, já que poucos segundos depois, passos chamaram a minha atenção.

E quando olhei para o lado, para a minha surpresa, era Peeta quem se aproximava.

Em algum momento, ele havia entrado no quarto, e algo em seu olhar deixava claro que ele tinha ouvido nossa conversa, e que parecia desconcertado ao ver Katniss tão frágil.

Madge também notou a presença dele, e acabou me olhando rapidamente, antes de voltar a olhar para Katniss, que parecia ter seus pensamentos em outro lugar novamente.

Quando ele parou ao lado dela, Peeta desceu o zíper do moletom, e com movimentos silenciosos, ele o tirou, colocando-o sobre os ombros de Katniss.

Ela deu um pulinho, assustada com o ato, e olhou para o lado, dando de cara com o Mellark.

Eles não disseram nada, mas se olharam por alguns segundos, completamente imóveis, como se conversassem apenas pelo olhar.

Peeta quem acabou se movendo, para se aproximar mais dela, e em um ato cauteloso, ele beijou a testa de Katniss demoradamente, ajeitando, em seguida, o moletom em seus ombros para que não caísse.

Seus olhos a estudaram, depois que ele afastou levemente o rosto do dela, como se tentasse entender cada linha da expressão confusa de Katniss, porém, ele não voltou a toca-la.

Apenas a olhou nos olhos mais uma vez, antes de dar um pequeno passo para o lado, afastando-se.

— E então? O Matthew sai ou não sai? – Peeta perguntou, quebrando o silêncio.

Madge sorriu levemente.

— Fica ai, a pergunta de um milhão de dólares – ela respondeu.

— Estou ansioso pra conhece-lo. Tá na hora já – Peeta disse, dando um sorriso.

— Fale isso pra ele, cara – decidi comentar.

O Mellark riu, e balançou a cabeça.

— Eu até tentei negociar com Matthew – disse Katniss, passando os braços pelas mangas do moletom de Peeta. – Mas tá difícil...

— Ele é teimoso – Madge emendou na fala de Catnip, agarrando a minha mão.

Outra contração. Porém não consegui prestar atenção em Madge, dessa vez.

Meus olhos foram parar em Peeta, pois eu sentia que ele me encarava.

Já falou com ela? — questionou, mexendo apenas a boca.

Neguei com a cabeça.

Então fale logo, antes que eles cheguem — aconselhou, pausadamente, sem soltar um pio.

Katniss prestava atenção na cena, de cenho franzido, mas não se manifestou. Apenas me encarou, como se esperasse respostas. Desviei o olhar do dela, balançando a cabeça discretamente.

Quando Madge relaxou novamente, respirei fundo, mas não a deixei se soltar de mim.

Peeta tinha razão. Eu precisava conversar com ela, e seria agora.

— Amor – falei, apreensivo, enquanto ela se ajeitava cautelosamente, em seus travesseiros. Seus olhos cansados, me olharam. – Sei que não é o melhor momento, mas precisamos conversar.

— Nós esperamos lá fora – Peeta se manifestou em seguida, lançando um olhar pra Katniss, que não questionou, mesmo com a testa franzida, e o seguiu.

— Conversar sobre o que, Gale? – perguntou baixo, quando a porta se fechou.

Cocei a nuca, pensando que ao menos, Peeta e Katniss sobreviveriam a essa briga que rolava entre eles. Já eu... Talvez morresse nas mãos de uma mulher em trabalho de parto.

— Bom... – comecei, mas parei logo depois, hesitante.

— Desembucha – disse Mad, impaciente.

Ela estava com mais dor, com certeza, e eu estava fodido.

— Euligueiparaosseuspaiseelesestãovindopracá – soltei tudo em um só fôlego, fazendo Madge franzir o cenho.

— Fala direito, criatura.

Passei o polegar nas costas da mão de Mad, soltando um suspiro pesado, e desviei o olhar para nossas mãos, antes de falar a frase, devagar:

— Eu... Liguei para os seus pais, e eles estão vindo pra cá.


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Notas finais do capítulo

Beijos ♥