O Sol em meio à tempestade escrita por nsbenzo


Capítulo 65
Capítulo 64


Notas iniciais do capítulo

Sim. Eu voltei.
Vocês não foram abandonados.
Todos que leem as minhas notas sabem que eu ando com várias dificuldades para postar, mas juro que estou me esforçando!
Esse capítulo está bem longo, para tentar compensar a demora.
Espero que me perdoem.
Boa leitura ♥



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— Ei, pequena. Onde você se meteu? – perguntei, assim que Katniss passou pela porta da sala dos professores.

Ela virou em minha direção, parecendo surpresa com a minha presença, porém não demorou a sorrir, ao me enxergar levantando do pequeno sofá.

— Fui resolver algumas coisas – disse, andando até mim.

— Que tipo de coisas? – elevei uma sobrancelha.

— Do tipo que eu não vou compartilhar com você – respondeu, olhando para os lados, parecendo procurar algo. – Estamos sozinhos? – indagou, voltando a me olhar, antes que eu pudesse comentar sobre sua resposta.

— Sim. Todos foram comer, enquanto eu te esperava para almoçar – falei, franzindo a testa. – Isso já faz cinquenta minutos ou mais. Podia ao menos ter me ligado. Te esperaria comendo – soltei, levemente mal humorado.

Katniss mordeu o lábio inferior, enquanto suas bochechas coravam.

— Desculpa, querido – ela segurou meu rosto entre suas mãos, que estavam geladas. – Sei que fica irritado, quando está com fome... Mas eu juro que foi por uma boa causa.

— Que seria...? – insisti.

— Não vou contar – disse, simplesmente.

Franzi o cenho, e comecei a analisar seu rosto, que ainda estava corado, deixando meus olhos passearem por cada linha de sua expressão. Enquanto eu fazia isso, pude perceber que, lentamente, um sorriso começava a brotar em seus lábios carnudos e rosados, até que suas covinhas apareceram embaixo de seu lábio inferior.

— Por que está sorrindo? – perguntei, curioso.

— Porque você parece concentrado demais, enquanto busca por alguma resposta em minha feição – disse ela, dizendo exatamente o que eu tentava fazer. – Lembra que eu te pedi para confiar em mim? – questionou.

Suspirei, e assenti silenciosamente.

— Então comece a se esforçar mais, e não pergunte – Katniss desceu a mão esquerda, até tê-la em meu ombro. – Você pode me desculpar pelo atraso? – perguntou, passando o polegar da mão direita, em minha bochecha.

— Não – respondi, imediatamente.

— Nem se eu disser que eu te amo? – questionou, com um olhar pidão.

Neguei com a cabeça.

— Nem se eu disser que você é tudo pra mim? – insistiu, fazendo um biquinho.

Voltei a negar.

— Nem mesmo que eu diga que você é o homem mais lindo que eu já conheci?

Entortei a cabeça levemente para a diagonal, e ela sorriu.

— Hum... E se eu disser que “você não é de se jogar fora”, e que “acho que podíamos dar alguns beijos”? – Katniss segurou o riso, e eu fiz o mesmo, ao me lembrar do dia em que eu mesmo havia usado aquelas frases com ela.

Sem dizer nada, eu a abracei pela cintura, colando seu corpo contra o meu, e curvei a cabeça, ficando com o rosto a centímetros do dela. Katniss voltou a sorrir, escorregando a mão direita, até alcançar meu bíceps, onde ela apertou carinhosamente. Logo, ela estava com os lábios colados nos meus, iniciando um beijo sedento, que me fez até mesmo esquecer da fome que eu estava sentindo.

— Estou desculpada? – perguntou, quando se afastou, com os lábios levemente inchados, e avermelhados.

— Está, pequena – respondi, empurrando sua franja para trás da orelha.

Ela abriu um sorriso largo, e com os olhos brilhando, e olhando nos meus, ela sugeriu:

— Podemos ir comer agora, se quiser.

— Acho uma boa ideia... Meu estômago está quase chegando ao ponto de buraco negro. Em pouco tempo, ele começara a engolir os outros órgãos – dramatizei, e ela riu.

— Então vamos, meu bem – Katniss selou nossos lábios, antes que eu a soltasse.

De mãos dadas, e com passos apressados, pelos corredores já vazios, nos encaminhamos para a lanchonete do colégio, onde, com certeza, estaria lotada.

— Teremos que almoçar com os alunos – comentei.

— Por mim, tudo bem – Katniss respondeu, apertando meus dedos entre os dela. – Com tanto que consigamos acabar com sua fome monstruosa...

Acabei sorrindo brevemente, porém não disse mais nada.

Quando já estávamos almoçando, bem naquela mesa onde costumávamos nos esconder algumas vezes, Katniss decidiu entrar em um assunto, que, de certa forma, me surpreendeu.

Não pelo fato dela pensar naquilo, já que fazia poucos dias que tínhamos comentado sobre, mas sim por Katniss deixar de lado as conversas superficiais que andávamos tendo desde a conversa dela com Johanna, para chegar em um ponto, que para mim, era agradável.

Estávamos sentados lado a lado, para não termos dificuldade em nos ouvirmos, devido a balburdia dos alunos pelo local. Eu ainda comia, completamente em silêncio, mas já havia notado os olhos cinzentos observando cada movimento meu, há alguns minutos.

— Não vai mais comer? – perguntei, espetando um pedaço de cenoura com meu garfo, antes de virar a cabeça para fita-la.

Minha pequena sorriu. Um sorriso genuíno, com olhos brilhando, e tudo mais. Um sorriso que me fez desistir de levar o garfo até a boca, para sorrir com ela.

— Comi o suficiente – Katniss deu levemente de ombros.

— Então... Pode me dizer no que tanto pensa? – questionei. – Ou... Eu não posso saber?

Ela sorriu novamente, e moveu seu corpo, até estar na diagonal, para me olhar melhor.

— Isso você pode – disse Katniss, me fazendo repousar o talher dentro do prato, para lhe dar mais atenção. – Eu... Só não esqueci que temos que encontrar um cachorro – respondeu.

Ri baixo, e balancei a cabeça em afirmação.

— Sim. Precisamos encontrar a Bailey – concordei, alcançando sua mão. – O que acha de procura-la quando estivermos indo embora?

— Eu...

Sua fala foi interrompida pelo apito de seu celular, que, por algum motivo, a deixou agitada. Sua mão se soltou da minha rapidamente, e logo Katniss puxava o aparelho pra fora da bolsa, que estava sobre a mesa do refeitório.

De cenho franzido, porém, em um silêncio total, eu a assisti digitar com agilidade em seu celular, parecendo concentrada demais no que escrevia.

Não sei quanto tempo eu a observei, mas desisti de fazê-lo, quando me cansei, e acabei decidindo voltar ao meu prato de comida, antes que o sinal do fim do almoço tocasse.

— Buenos días – a voz animada e feminina chamou a minha atenção, assim que percebi que o som vinha de alguém parado a minha frente.

Cressida, sem nenhuma cerimônia, ocupou o banco do outro lado da mesa, com um sorriso largo no rosto.

— Aprendendo espanhol? – perguntei, antes de colocar a última garfada na boca.

— Não. Fingindo que sei alguma coisa – respondeu, bem humorada. – Como está o casal mais legal desse colégio?

— Bem – disse, alcançando meu copo de refrigerante.

Os olhos de Cressida saíram de mim, e foram parar em Katniss, que ainda não havia se manifestado com sua presença. Eu acabei voltando a olhar minha namorada, deparando-me com a mesma cena de antes: ela com o celular na mão, de cenho franzido, e dedos ágeis, batendo contra a tela.

— A professora Everdeen não parece tão bem agora – Cressida comentou, enrolando seus cabelos várias vezes, para coloca-los sobre o ombro direito. – Ela está resolvendo alguma coisa? – questionou, voltando a me olhar.

— Sim – respondi, mesmo sem ter muita certeza do que Katniss fazia, naquele momento.

Cressida elevou a sobrancelha, depois franziu as duas, talvez curiosa com a completa desatenção de Katniss.

— Ei. Professora Everdeen – ela decidiu chamar. – Alô? – Cressida esticou o braço para estralar os dedos em frente ao rosto de Katniss.

Minha pequena deu um pulinho assustado, antes de virar a cabeça erguida, para me encarar.

— Cressida está falando com você – apontei a nossa aluna com um movimento de cabeça.

Katniss virou em direção a Cressida, corando ao olhar para o sorriso debochado da garota.

— Desculpa, eu só estava...

— Resolvendo alguma coisa – Cressida completou. – O professor Mellark disse – explicou, apoiando os braços sobre a mesa. – Sem problemas. Eu quem estou aqui de intrometida – ela pareceu sem graça, quando uniu suas mãos, e passou a brincar com seus dedos. – Eu só vim aqui para saber se... Você teria um tempinho depois da aula, para me dar um conselho rápido, sobre um assunto...

Katniss mordeu o lábio inferior, constrangida.

— Tem certeza? – perguntou, insegura. – A orientadora não seria mais útil?

Cressida abriu um pequeno sorriso, e negou com a cabeça.

— Não confio na orientadora, e... Acho que você me entenderia melhor – a garota desuniu as mãos, para abaixar os braços. – Você pode? Se não for te atrapalhar, é claro.

Katniss olhou pra mim, e eu acabei sorrindo, em uma tentativa de encoraja-la. Ela respirou fundo, antes de voltar a olhar para a nossa aluna.

— Vou avisando que posso ser uma péssima conselheira – disse, colocando, timidamente, a franja atrás da orelha. – Mas podemos nos encontrar na sua sala, depois da última aula.

A garota sorriu, animada, antes de se colocar de pé.

— Ótimo. Obrigada. Até mais, professora Everdeen – Cressida moveu a cabeça, jogando os cabelos pra trás. – Tchau, professor Mellark.

— Hasta luego, chica – respondi.

Ela deu de ombros.

— Vou fingir que entendi – disse, nos dando as costas, para logo começar a se afastar de nós dois.

— Quanto tempo ela ficou tentando falar comigo? – Katniss perguntou em voz baixa, fazendo-me olha-la.

— Não muito. Mas ficou nítido que você nem percebeu a presença dela – apontei, bebendo um grande gole do meu refrigerante. – Não é a primeira vez que você se perde, enquanto mexe nesse celular – comentei, colocando o copo sobre a mesa.

Ao voltar a olha-la, notei o quão corada Katniss estava.

— Desculpa? – soltou baixinho.

— Tudo bem – foi a minha resposta.

O sinal tocou, fazendo alguns alunos começarem a levantar de seus bancos.

— Do que estávamos falando antes mesmo? – ela perguntou.

— Sobre irmos escolher um cachorro – falei, antes de virar o resto do refrigerante de uma só vez. – Mas depois falamos melhor sobre isso. Preciso dar aula – levantei, passando a perna esquerda sobre o banco, para pula-lo.

— Ei. Você tá chateado? – questionou Katniss, enquanto eu já caminhava com nossas bandejas até o balcão. – Peeta – ela insistiu, quando não a respondi, alcançando meu braço.

Virei em sua direção, soltando um suspiro.

— Não estou chateado. Eu só...

Fui interrompido pelo celular de Katniss, que apitou novamente, dessa vez em sua mão.

Ela encarou o aparelho, e depois voltou a me olhar, parecendo apreensiva.

— Peeta. Eu só quero que entenda que...

O celular apitou de novo, dessa vez, a interrompendo.

Katniss resmungou algo que eu não consegui entender, porém, como eu estava decidido a não levar aquela conversa adiante, escolhi não perguntar.

— Eu vou indo – falei, me aproximando, antes que ela dissesse alguma coisa, e beijei sua testa. – Nos vemos mais tarde.

— Peeta...

— Está tudo bem – garanti. – Eu te amo.

Minha pequena mordeu o lábio inferior.

— Eu também te amo – soltou, com os olhos brilhando.

Acabei deixando um pequeno sorriso aparecer, mas eu não disse mais nada. Apenas me virei, pronto para encontrar com a minha turma no campo de futebol americano.

 

~||~

 

Uma semana e meia havia se passado, e depois que o celular de Katniss começou a interromper constantemente, qualquer tipo de interação dela com outra pessoa, estava praticamente impossível manter uma conversa com ela.

Normalmente Katniss se desligava de qualquer coisa ao redor, para se concentrar em seja lá o que precisava fazer naquele bendito celular, e, sinceramente, eu não gostava daquilo.

Era como se eu estivesse quase o tempo todo sozinho, mesmo tendo sua presença física em grande parte do meu dia. Eu conseguia sentir saudades de Katniss, mesmo podendo olha-la ou toca-la, e essa sensação era terrível.

Mas eu era paciente. Sempre fui, na verdade. Principalmente com minha pequena. Então, eu insistia até cansar, sendo num diálogo, ou em um beijo mais prolongado. Ou quem sabe em uns minutos a mais, deitados no isolamento do meu quarto. Contudo, logo Katniss voltava a se trancar em sua própria cabeça, planejando, confabulando, e o pior de tudo... Em um completo mistério, que estava acabando comigo.

Porém, apesar disso tudo, eu sabia que, de qualquer forma, Katniss me amava, e sua distância e distração, estavam relacionadas com seu empenho em colocar um fim em meus problemas. Isso era o que me fazia sentir agradecido, e deixar de lado, na maioria das vezes, sua falta de atenção, mesmo que no fundo, eu quisesse por um ponto final, naquele planejamento completamente secreto dela.

E, sem contar que eu não era o tipo de pessoa, que deixava as coisas desmoronarem facilmente. Se eu andava sentindo tanto a falta de Katniss, eu estava disposto a expor essa situação, e, quem sabe, consertar esse detalhe, que deixava um grande espaço vago entre nós dois.

Por isso, naquela quinta-feira, a convidei para jantar usando todo o meu “charme”, chegando até a lhe entregar uma rosa vermelha, que a fez sorrir, e dizer um “sim”, carregado de timidez. Depois, consegui a mesa perfeita, do nosso restaurante preferido, onde havia o som suave da música ao vivo, de fundo. Pedi o vinho que eu e ela compartilhamos várias vezes durante o jantar, e que eu sabia que ela gostava. Eu também havia comprado um buquê de flores coloridas, com cores que eram as preferidas de Katniss. E, por fim, tinha eu mesmo, vestido em meu traje formal, talvez para realmente fazer, o que Delly dizia que eu fazia: tentar impressionar.

Estava tudo perfeito.

Só faltava o mais importante...

Katniss.

 

Dez minutos de atraso:

— O senhor deseja fazer o pedido? – o primeiro garçom veio, dizendo em tom cortês.

— Não. Eu estou esperando alguém. Obrigado – respondi no mesmo tom, sorrindo educadamente para ele.

O homem sorriu de volta, e acenou com a cabeça, antes de se afastar.

 

Quarenta minutos de atraso:

Oi. Aqui é a Katniss. No momento eu não posso atender, mas deixe seu recado, que eu te ligarei mais tarde.

O “bip” da caixa postal veio em seguida.

— Katniss. Está tudo bem? Estou começando a ficar preocupado. Me ligue, por favor.

 

Uma hora e trinta minutos de atraso:

— O senhor não quer mesmo fazer o pedido? – o terceiro garçom perguntou, ao se aproximar da mesa.

Olhei a minha segunda garrafa de vinho, completamente vazia sobre a mesa, e suspirei.

— Apenas me traga mais vinho – pedi, esvaziando a minha taça, em uma só golada.

— Sim, senhor.

 

Duas horas de atraso:

O nó da minha gravata já estava desfeito, e meu corpo estava encostado de maneira desleixada na cadeira. Meus olhos estavam levemente pesados pela quantidade de vinho que eu havia tomado, mas eu não me sentia bêbado.

— Com licença – o quarto garçom se aproximou. – O senhor...

— Me traga a conta, por favor – pedi, interrompendo-o.

O homem me analisou discretamente, e assentiu, dando-me as costas.

Algo me dizia que se tivesse acontecido alguma coisa com Katniss, eu já estaria sabendo, por isso, era difícil explicar como eu estava me sentindo, ao ser abandonado sem nenhum aviso.

Logo depois de pagar a conta, me coloquei de pé, alcançando meu paletó que estava jogado sobre a mesa, do lado oposto ao buquê, que parecia tão murcho naquele momento.

Decidi pegar as flores, assim que vesti o paletó, e quando eu estava pronto para caminhar pelo restaurante, ela apareceu na entrada.

Katniss usava um vestido preto, simples, mas que a deixava mais linda do que o habitual. Seus cabelos estavam um pouco fora de lugar, mas ela parecia ter tentado arruma-los. Seu rosto estava corado naturalmente, já que parecia não haver presença alguma de maquiagem em sua pele, a não ser um batom rosa claro em seus lábios entre abertos.

Seu olhar parou em mim, e ela sorriu, mas seu sorriso não durou por muito tempo.

Já com um ar apreensivo, e com passos rápidos, Katniss se pôs a caminhar, aproximando-se de mim rapidamente.

— Você está bem? – perguntei com um tom grave, sentindo algo esquisito se agitar em meu peito.

— Sim, eu só...

— Você está com seu celular? – a cortei, fazendo outra pergunta.

Suas bochechas coraram um pouco mais, e ela pareceu sem graça.

— Sim.

— Por que não me avisou que se atrasaria? – questionei.

— Eu estava fazendo algumas coisas, e nem vi o tempo passar. Quando fui perceber, eu já estava atrasada mais de uma hora... – ela tentou explicar, em tom baixo. – Eu realmente sinto muito, Peeta.

— Não quero te ouvir dizer que “sente muito”, pela milésima vez – falei no mesmo tom que ela. – Sei que você vai dizer que está tentando resolver os meus problemas, mas se é pra continuarmos desse jeito, não vale a pena – suspirei pesadamente. – Talvez você não tenha percebido, mas eu sinto sua falta.

Os olhos cinzentos de Katniss brilhavam pra mim, mas ela não fez menção de dizer nada.

Balancei a cabeça, sentindo o peito dolorido.

— Isso é pra você – estendi o buquê em sua direção.

Katniss encarou as flores, e, com cautela, ela alcançou o papel que as embrulhava, com as duas mãos.

— Obrigada – murmurou, aproximando o buquê do nariz.

Assenti em silêncio, puxando a gravata para longe do colarinho.

— Eu estava indo embora – anunciei, enrolando o tecido, para esconde-lo no bolso da calça.

Ela ergueu os olhos tristonhos pra mim.

— Achei que... Podíamos conversar... Ou tentar jantar, pelo menos – Katniss olhou para o lado, para observar a mesa onde eu estava. – Vi que reservou nossa mesa – uma ponta de sorriso surgiu no canto de seus lábios, quando ela voltou a me olhar.

— Já paguei a conta – expliquei, arrumando a lapela do paletó.

No fundo, eu queria explodir com Katniss, e gritar o quanto eu estava chateado com o fato dela parecer quase indiferente ao nosso relacionamento, mas a sensatez não me permitia.

Talvez Katniss realmente não tenha percebido o que estava acontecendo entre nós dois, devido a sua distração constante, por isso, eu preferia evitar brigar com ela. Contudo, era praticamente impossível, esconder o meu aborrecimento.

Se ela ao menos tivesse tido a consideração de ter avisado...

— Então... Podemos ir em outro lugar... Se quiser – Katniss sugeriu, assim que saímos do restaurante.

— Só quero ir pra casa – murmurei, caminhando em direção ao meu carro.

Ouvi seu suspiro baixo, mas não tive vontade de dizer nada.

— Veio como? – perguntei, ao parar ao lado da porta do motorista.

— De táxi – respondeu Katniss, parecendo estar logo atrás de mim.

— Então pegue – virei em sua direção, e estendi as chaves do carro. – Bebi uma boa quantidade de vinho. Acho melhor não dirigir.

Katniss estava abraçada ao buquê de flores, e algo em sua postura, a deixava frágil aos meus olhos, o que fazia com que eu me sentisse um grande idiota, por querer brigar com ela.

Seu olhar passeou devagar por meu rosto, antes que ela alcançasse a minha mão, para aceitar as chaves.

O caminho foi silencioso, e eu preferia assim. Minha cabeça estava pesada e dolorida, como se eu já estivesse de ressaca, por isso, eu a encostei no vidro da janela fechada, e fechei os olhos, ficando assim durante todo o percurso.

Assim que entramos em minha casa, a primeira coisa que fiz foi tirar o paletó, para joga-lo de qualquer maneira, no encosto da poltrona. Katniss ainda estava calada, mas eu sentia que seu olhar estava sobre mim, enquanto eu me movia pelos cômodos.

Foi apenas quando sentei na beirada da cama, que ela decidiu se manifestar:

— Preciso conversar com você – disse Katniss, com cautela.

Ergui a cabeça, que até então estava abaixada, fitando meus sapatos bem engraxados, e a encarei.

— Sobre o que exatamente, você quer conversar? – minha voz saiu rouca, e com uma ponta de sarcasmo. – Sobre sua falta de consideração, ao me deixar esperando feito um idiota naquele restaurante?

— Eu estava... Resolvendo algo importante, Peeta – ela murmurou, colocando as flores sobre sua escrivaninha.

— Algo importante? – me coloquei de pé, sentindo a cabeça latejar. – Como eu poderia adivinhar que você estava resolvendo “algo importante”? – questionei, fazendo aspas com os dedos. – Eu não sei mais merda nenhuma do que você faz, ou deixa de fazer! – exclamei, fechando as mãos ao lado do corpo. – Eu me sinto completamente de fora da sua vida, Katniss, e não apenas por seus segredos. Você anda tão distante, que nem a conversa sobre encontrarmos um cachorro, nós conseguimos terminar – dei uma pequena pausa. – Na verdade, foi bom não termos conseguido termina-la. Ou então, se comprássemos esse bendito cachorro, talvez ele morresse, se fosse depender da sua atenção.

Meu coração batia forte no peito, e meus olhos ardiam, talvez por minha agitação. Eu estava realmente puto da vida, e sentia que seria capaz de soltar mais um monte de merda, se eu não tivesse travado levemente, ao ver o olhar perdido de Katniss sobre mim.

— Você bebeu, Peeta – disse ela, suavemente, com os olhos cinzentos, brilhando. – Só por isso não vou levar em consideração, o que está dizendo...

— Quer saber? Bebi sim! – exclamei, jogando as mãos para o alto – Mas só desse jeito para dizer, o que eu estava segurando há dias, apenas pra evitar que você se magoasse – soltei um riso sarcástico. – Só que foi ai onde eu errei. Segurei tudo isso, e agora, o magoado da história, sou eu – dei alguns passos em sua direção. – Porque, ficar duas horas naquela porra de restaurante, tendo que dizer a cada garçom, que eu estava esperando alguém, que eu nem sabia se apareceria, foi o meu limite, Katniss. E você sabe que meu limite é bem extenso – passei as duas mãos nos cabelos. – Estou cansado de ter que mendigar sua atenção – balancei a cabeça. – Se eu soubesse que te deixar a frente dessa merda toda, fosse nos levar a esse ponto, eu jamais teria concordado.

— O seu problema é apenas por não saber o que eu faço? – perguntou, com o mesmo tom de antes.

— “Apenas”? – perguntei, descrente. – Uma semana e meia, e é como se eu nem tivesse namorada. Não sei nem o que é ter uma refeição de verdade com você. Agora – ergui as mãos, em sinal de rendição –, me desculpe se pareço “sensível” demais – abaixei as mãos, deixando-as ao lado do corpo –, mas fico realmente aborrecido quando alguém que eu amo, se distancia da maneira que você está fazendo.

— Eu... Me desculpe, Peeta. Eu... Eu não percebi que...

— Eu sei que não – a interrompi, começando a desabotoar a minha camisa social. – E esse é mais um dos sinais de que você não repara em mais nada do que acontece a sua volta – apontei, dando atenção aos botões, que pareciam mais difíceis de abrir do que eu me lembrava.

— Peeta – Katniss murmurou, e eu senti que ela se aproximava, por isso ergui a cabeça para encara-la. – Se eu te cont...

— Não – soltei, firme, a cortando, enquanto dava alguns passos pra trás. – Eu quero ficar bravo com você no momento, então não tente falar comigo agora, obrigado. – virei, para andar até o guarda-roupa. – Vou dormir na sala – avisei.

Katniss não disse mais nada, por isso, foi fácil sair do quarto com algumas peças de roupas nas mãos.

Meu banho foi demorado, apesar de ter sido no chuveiro ruim, do banheiro social. As roupas que eu havia usado para sair, ficaram penduradas atrás da porta, e eu não faria questão de leva-las ao quarto, sabendo que Katniss estaria lá.

Porém, no momento em que eu estava quase saindo do corredor, indo em direção a sala, lembrei que não havia pegado nem mesmo meus travesseiros.

Bom. Eu não me importaria de dormir com algumas almofadas.

Eu estava sentado há pouco tempo no sofá, com os cotovelos apoiados nos joelhos, e o rosto enterrado nas palmas das mãos, quando ouvi um leve pigarrear, que chamou a minha atenção.

O rosto de Katniss estava vermelho quando eu a olhei, e ela estava a uma boa distância de mim, ficando perto da porta de saída.

— Eu só queria dizer que você tem razão – disse ela, colocando, delicadamente, sua franja atrás da orelha. – Agora que você disse tudo isso, que eu fui perceber que mal temos nos falado... – Katniss mordeu o lábio inferior. – E eu realmente sinto muito por estar sendo essa pessoa horrível com você – abri a boca para retrucar, mas ela balançou a cabeça. – Você tem o direito de estar bravo – ela umedeceu os lábios com a ponta da língua. – E eu não quero que durma no sofá, só porque está irritado comigo. Então... Eu vou pra casa, e... A gente conversa quando você se sentir menos aborrecido – concluiu, e só então percebi que ela estava abraçada ao buquê que eu havia dado a ela.

— Você não preci...

Fui interrompido por um toque de celular, que eu tinha certeza de que não era o meu.

Katniss ficou super vermelha, mas não fez menção de pegar o aparelho, que, provavelmente, estava na bolsa, presa em seu ombro.

— Atenda – foi a única coisa que eu disse, antes de levantar, e caminhar em direção a cozinha.

O toque persistiu por alguns segundos, até que Katniss disse baixo:

— Pode falar, Gale.

Ela ficou em silêncio, talvez ouvindo o Hawthorne, enquanto eu abria os armários, indo em busca de algo pra comer, já que eu não havia ingerido nada além de vinho, naquela noite.

— Tudo bem. Eu estou indo. Até já – disse Katniss.

Eu não me virei para tentar saber do que se tratava. Apenas comecei a mandar pra dentro um saco de amendoins que ela mesma havia comprado há algum tempo.

— Não vai querer saber o que Gale queria? – perguntou.

— Isso sim é novidade. Ficarei sabendo alguma coisa, vindo de você – cutuquei, virando-me para encara-la.

Katniss pareceu se conter, e eu não fiz menção alguma de mudar a minha frase. Só continuei a comer os amendoins.

— Madge está no hospital. A bolsa dela estourou – informou.

Arqueei as sobrancelhas, parando de mastigar no mesmo instante.

— Eu estou indo pra lá – completou Katniss, enquanto guardava o celular na bolsa. – Gale espera que você vá.

— Por quê? – perguntei, franzindo o cenho.

— É meio óbvio, Peeta – ela voltou a me olhar. – Nem ele, nem Madge sabem do que está acontecendo entre nós dois – seus olhos me analisaram devagar. – Na verdade... Nem eu tenho certeza do que está acontecendo – Katniss murmurou, franzindo levemente a testa. – De qualquer forma, não teria porque pensarem que eu iria sozinha até o hospital.

Assenti em silêncio, virando-me para guardar o pacote de amendoim, na geladeira.

— Você vai? – ela perguntou.

— Vou me trocar – respondi, sem emoção alguma, enquanto caminhava em direção ao meu quarto.

— Obrigada... – disse Katniss, quando eu já estava no corredor.

Não fiz questão de responder.

Eu ainda estava irritado pra cacete, e acreditava que assim ficaria, por algum tempo.

— Você me ouviu? – Katniss perguntou, chamando a minha atenção, antes que eu entrasse em meu quarto.

Parei de andar, já de frente para a porta aberta do cômodo.

— Não tem porque agradecer – falei baixo, virando a cabeça para enxerga-la quase no meio da sala. – Afinal de contas, eu jamais te deixaria na mão, certo? – soltei em tom acusatório, o que fez Katniss piscar várias vezes.

— Eu sei... Por isso estou agradecendo – disse, timidamente, apertando o buquê contra o corpo.

— Bom... Não vou dizer: “disponha” – olhei pra frente. – Infelizmente, isso é algo que você decide se deve fazer ou não.

Dito isso, me coloquei pra dentro do quarto, batendo a porta, sem esperar por sua resposta.


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Notas finais do capítulo

Não odeiem o Peeta, ou pensem que ele tá louco kkk ele está meio alterado pela bebida, mas tem razão em estar puto u.u até a Katniss concordou com isso.

E muito obrigada por não terem desistido de mim.
Tentarei voltar logo.
Acho que minha criatividade anda melhor kkk
Mil beijos pra vocês ♥