O Sol em meio à tempestade escrita por nsbenzo


Capítulo 63
Capítulo 62


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥



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— Eram os últimos segundos do jogo. Peeta tinha acabado de roubar a bola do time adversário, e não tinha mais ninguém por perto. O placar estava com a diferença de dois pontos. Eu estava tão nervoso, que não tinha mais unhas para roer – confessou Thomas, me fazendo dar um pequeno sorriso. – Então, Peeta olhou ao redor mais uma vez, enquanto quicava a bola no chão, mantendo os outros jogadores longe, usando o próprio corpo. Foram os segundos mais longos da minha vida, e pareceu ir mais devagar, quando Peeta ergueu a cabeça, e encarou a cesta, que estava, praticamente, do outro lado da quadra. Ele girou, e saiu do meio dos jogadores com tanta facilidade, que foi inacreditável. No segundo seguinte, ele lançou a bola, que foi direto pra cesta. A bola bateu no aro, e caiu pra dentro. Uma cesta de três pontos, Katniss! – disse Thomas, com animação, e os olhos brilhando, dando um tapinha em meu braço. – Peeta ganhou o campeonato escolar, em sua primeira temporada com o time do colégio, com uma cesta de três pontos, do outro lado da quadra!

— Ele quase enfartou – informou Abby, chamando a minha atenção pra ela.

Soltei uma risadinha.

— Ele está quase enfartando agora – comentei, e meu sogro riu.

— Mas foi um belo jogo. Peeta foi extraordinário – disse ele, dando um sorriso orgulhoso.

— Realmente foi – concordou Abby. O forno elétrico fez “plim”, anunciando que havia desligado. – Agora – ela saiu da cadeira onde estava – chega de conversa. Preciso de ajuda para arrumar a mesa de jantar – disse ela, cutucando as costas de Thomas. – Levanta, homem – ordenou.

— Estou levantando, mulher – ele se colocou de pé, deixando de lado sua garrafa de cerveja vazia. – Mas antes, me dê um beijinho – pediu, se aproximando da esposa.

— Não, senhor. Depois que você terminar o que eu pedi, podemos conversar – disse Abby.

Thomas resmungou algo, enquanto caminhava até o armário de louças.

Sorri, observando a cena.

— Ei, Katniss. Não me deixe na mão – reclamou Thomas. – Pode tratar de me ajudar. E chame os outros. Eles só sabem falar e falar. Trabalhar que é bom, nada.

Ri baixo, e levantei da minha cadeira, para pegar de sua mão, uma travessa de salada.

— Pode deixar, que os farei vir aqui – afirmei, já caminhando em direção a saída.

A conversa na sala de estar, fluía bem, mas eu ainda não ouvia a voz de Peeta, que não tinha aparecido, desde que subiu com o sobrinho.

A explicação a Pietro, estava demorando mais do que eu imaginava que poderia.

Entrei na sala de jantar, e coloquei a vasilha sobre a mesa. Depois, com passos silenciosos, caminhei até a sala de estar, e parei embaixo do arco de entrada.

— Eu vim anunciar que, quem não ajudar a arrumar a mesa, ficará sem comer – dito isso, dei as costas aos outros, que tinham ficado em silêncio, para me ouvir.

Eu estou grande demais pra andar! — exclamou Madge, me fazendo rir, já na cozinha.

Logo a movimentação começou pela casa, enquanto nós carregávamos travessas, panelas, pratos, talheres, e outros itens que faziam parte da arrumação da mesa de jantar.

Eu acabava de repousar a quarta travessa sobre a superfície de madeira, coberta por uma toalha de renda branca, quando mãos se apossaram da minha cintura, e me puxaram com vontade pra trás, fazendo minhas costas se chocarem contra um tronco forte, e que eu conhecia muito bem.

Mordi o lábio inferior, sentindo o coração, loucamente, acelerado. A minha vontade era de ralhar com ele, por me agarrar daquela maneira, bem na frente dos outros, mas o choque de nossos corpos tinha me deixado muda, e assim continuei. Em silêncio, e com o ar escapando pela boca entre aberta, deixei Peeta me virar, para ficar de frente pra ele.

— Demorei? – perguntou, quando nossos olhares se encontraram.

Peeta tinha um sorriso torto no rosto, mas algo estava diferente em seus olhos.

Pareciam mais brilhantes do que o normal.

— Uma vida toda – murmurei, esquecendo-me que eu estava envergonhada, e, levemente, irritada, pela proximidade repentina, e sem privacidade.

Seu sorriso aumentou, e seus braços envolveram minha cintura, colando nossos corpos.

— Precisamos ajudar a terminar de arrumar a mesa – falei baixo.

Ele assentiu, ainda sorrindo, mas não me soltou. Peeta abaixou a cabeça, e sem dizer nada, seus lábios cobriram os meus.

Algo estava diferente, e não eram apenas seus olhos. Seu toque em meu corpo também estava diferente, como se nunca tivesse me tocado antes. Era estranho, mas, por algum motivo, eu achava bom. Por isso, sem pensar em mais nada, acabei correspondendo seu beijo, que estava carregado de carinho, e algo que parecia ansiedade.

— Parem com isso – reclamou Gale, fazendo Peeta sorrir contra a minha boca.

Ele mordeu meu lábio inferior, antes de afastar o rosto do meu.

— O que está acontecendo? – perguntei, confusa, quando Peeta me soltou do abraço.

— Tive uma boa conversa com Pietro – respondeu, sorrindo, deixando-me mais confusa ainda.

— Não me diga que pediu conselhos a um garoto de seis anos – falei, incrédula, e ele riu.

— Não, pequena. Eu só...

— Vamos – Delly o interrompeu. – Façam alguma coisa – pediu, fazendo com que nós a olhássemos. – Estou com fome. Ajeitem os pratos nos lugares – ordenou, ao colocar a pilha sobre a mesa, e saiu, nos deixando pra trás.

— Conversamos depois – disse Peeta, e eu o olhei.

— Odeio essa frase. Me deixa nervosa – resmunguei, torcendo o nariz, e ele voltou a sorrir.

— Vamos arrumar isso logo – falou, antes de beijar minha testa, e se afastar.

Sem ter como retrucar, e sentindo o coração ansioso e preocupado, eu o segui.

 

~||~

 

— Achei que hoje conheceria algum familiar seu – comentei, enquanto guardava um prato, que eu havia acabado de secar.

— Minha mãe comemorou com meus tios, no sábado, e fez esse jantar pra gente, alegando que queria todos nós juntos, incluindo Delly e Finnick, que têm folga só na segunda-feira – explicou Peeta.

— Entendi – respondi, dando uma pequena pausa, antes de voltar a falar: – Você acha que sua mãe marcaria esse jantar, mesmo que nós não estivéssemos juntos? – questionei, parando para observar a concentração do meu namorado, ao lavar uma panela.

Ele sorriu, e, automaticamente, eu sorri com ele.

— Sim. E ainda me empurraria pra cima de você, se você aparecesse – disse Peeta, divertido.

— Seria constrangedor... Com certeza, eu daria uma desculpa pra não vir – respondi, torcendo o nariz.

— Eu sei – falou, enquanto enxaguava alguns utensílios, que ele já havia ensaboado. – Mas ela insistiria mesmo assim.

— E eu ficaria encabulada, por negar várias vezes, e acabaria aparecendo – respondi, e Peeta riu.

— Eu não largaria do seu pé, e nos beijaríamos até o fim da noite – declarou.

— O que te faz pensar que eu te beijaria assim? – perguntei, voltando a minha tarefa de secar a louça.

— Por que não beijaria? Você sentia a minha falta, Katniss – disse, convencido, o que me fez rolar os olhos, mas rir, em concordância.

Voltamos a nos concentrar em nossas tarefas por um tempo, até que Pietro gritou, provavelmente da sala:

Mãe! O tio Gale tá roubando no jogo!

Mordi o lábio inferior, ao lembrar sobre a frase “conversamos depois”, de Peeta.

Nós ainda não tínhamos tido tempo para falarmos sobre o que havia acontecido, para deixa-lo tão diferente, depois de descer com o sobrinho. Talvez essa fosse uma boa oportunidade.

— O que você conversou com Pietro? – perguntei, guardando um prato no armário de louças.

Ele acabou rindo, antes de responder:

— Olha. Eu tentei explicar de várias formas sobre a história do bebê, mas a que pareceu dar mais certo, foi quando eu falei que uma mulher e um homem, quando se amam, eles juntam suas sementinhas, e fazem um bebê, que cresce na barriga da mulher, até ele ficar forte o suficiente pra sair, e começar a aprender as coisas – disse Peeta, e eu soltei uma risada quase sem som.

— Inteligente – mordi o lábio inferior novamente. – Mas foi uma conversa longa. O que mais vocês falaram? – insisti.

— Ele quis saber se eu te amava – respondeu. – Eu disse que te amava muito, e que você também me amava. Então, ele quis saber quando juntaríamos nossas sementinhas.

Meu rosto esquentou, e eu parei o movimento de guardar outro prato, no meio do caminho.

— E o que você disse a ele? – perguntei, de costas para Peeta.

— Que antes de juntarem as sementinhas, o homem e a mulher conversam sobre o assunto, e que nós não tínhamos falado sobre isso ainda – respondeu, simplesmente.

Pisquei algumas vezes, antes de, lentamente, voltar a me mover, enfiando o prato dentro do armário.

— Me surpreendi quando ele disse ter entendido – Peeta deu uma pausa. – Ou talvez ele não tenha entendido nada, mas disse que sim, porque queria que eu calasse a boca – ele fez piada, soltando uma risada.

Dei um sorriso nervoso.

Minha cabeça ainda estava estacionada em sua frase anterior.

— E o que, exatamente, te deixou tão radiante? – questionei, com hesitação.

— Pietro queria saber o que ele seria do nosso filho, caso nós... “Juntássemos nossas sementinhas” – com certeza, ele sorria ao dizer aquilo. – Quando eu disse que seriam primos, ele pirou. Começou a falar que ensinaria muitas coisas, e que iria brincar com o bebê. Eu perguntei se ele faria tudo isso, mesmo se fosse uma garota. Ele ficou pensativo, mas acabou dizendo que sim – Peeta riu. – Ouvi-lo tão animado, planejando brincadeiras, acabou me animando também. Por isso, demorei tanto pra descer.

Eu estava completamente parada, ainda de costas para Peeta, encarando o armário de louças. Meu coração batia rápido, e minhas mãos adquiriram um leve tremor.

Pra não dizer que nunca havia pensado no assunto, quando estava sem Peeta, minha cabeça me traiu várias vezes, me fazendo imaginar como seria se tudo tivesse dado certo pra nós dois. Agora, que eu o tinha de volta em minha vida, pensar que, o que eu imaginei, poderia se concretizar, me deixava nervosa.

— O assunto te assusta? – questionou Peeta, chamando a minha atenção.

Mordi o lábio inferior, sentindo as bochechas ainda coradas.

— Um pouco – respondi, virando para voltar a lhe dar atenção.

Ele me fitava, mas era difícil decifrar sua feição.

— Você não quer filhos? – perguntou.

— Eu não disse isso – retruquei. – Eu só não sei se... Se eu seria uma boa mãe.

Ele sorriu.

— Tenho certeza de que seria – disse ele, se aproximando. Seus olhos estudaram meu rosto, e eu sabia que, naquele momento, ele havia notado a minha hesitação. – Mas eu não te pediria pra fazer nada que você não quisesse – esclareceu, tocando a minha bochecha com a ponta dos dedos, que estavam molhadas, porém, eu não me importava. – Estarei feliz ao seu lado, de qualquer maneira.

Com os olhos passeando lentamente por seu rosto, que não parecia nem um pouco abalado com a minha dúvida, senti o medo dar lugar a curiosidade.

— Me conta? – pedi.

Peeta arqueou as sobrancelhas.

— O que, pequena? – perguntou, confuso, abaixando a mão, até tê-la ao lado do corpo.

— Sobre como você imagina... Nosso futuro – falei devagar, encostando na pia.

Ele sorriu brevemente, e encostou ao meu lado.

— Bom... Pra começar, nós nos casaríamos – declarou, olhando pra mim.

Um sorriso começou a aparecer em meus lábios.

— Como sabe que eu aceitaria me casar com você? – retruquei, jogando o pano de prato sobre o ombro.

— Qualquer pessoa aceitaria casar comigo. Até o Gale – disse convencido, e eu soltei um riso curto e sem som, rolando os olhos.

— Deixa ele saber disso – cruzei os braços, e Peeta sorriu. – O que mais?

— Acho que poderíamos tentar dois filhos... Quem sabe um casal – falou, pensativo. – E teríamos dois cachorros. Um labrador, que se chamaria Thor, só pra ser bem clichê – ele riu com seu comentário, e eu dei um pequeno sorriso. Peeta voltou a me olhar com mais atenção –, e o outro, seria de raça pequena, da sua escolha, que chamaríamos de Bailey.

Automaticamente, meus olhos se encheram de lágrimas, e eu mordi o lábio inferior.

— Não quer que chame Bailey? – perguntou, preocupado.

— Quero – sorri, um pouco mais abertamente. – Só não esperava que você se lembrasse disso – expliquei.

— Eu lembro de tudo o que você me conta, pequena – afirmou, dando um sorriso torto. – Quer saber o resto? – questionou, e eu assenti levemente, passando a ponta dos dedos sobre os olhos. – Se você não se importasse, nós ficaríamos com a minha casa mesmo. Claro que iriamos mudar a decoração, a seu gosto – garantiu –, mas também compraríamos uma casa no Canadá, pra ver os alces com frequência – mordi o lábio inferior, enquanto sentia o coração acelerar. – Quando ficássemos bem velhos, nós nos mudaríamos pra lá – soltou, sorrindo. – Ficaríamos nos esquentando em frente a lareira, e, provavelmente, você ainda tentaria sentar em meu colo, na nossa poltrona velha, mas eu já não teria tanta força nas pernas pra te fazer dormir, por isso, acabaríamos indo pra cama, rapidinho – ele riu, e eu balancei a cabeça, sorrindo. – O resto, a gente deixaria para o destino – Peeta deu levemente de ombros. – Mas, são só pensamentos bobos, Katniss. Nosso futuro tem que ser planejado por nós dois, e não apenas por m...

— Eu quero – falei, interrompendo sua fala.

— O quê? – perguntou, de cenho franzido.

— Eu quero tudo isso – afirmei.

Seus olhos voltaram a estudar, minha expressão.

— Até a parte dos filhos? – questionou, duvidoso.

— Sim. Quero cada detalhe – falei baixo, corando.

Peeta continuou a me estudar, talvez buscando por alguma hesitação em meu rosto. Quando ele não encontrou nada que não o agradasse, ele sorriu abertamente. Sua mão segurou a minha, e, com facilidade, ele me puxou, até estar frente a frente com ele.

Eu estaria mentindo se dissesse que minha decisão de querer tudo aquilo, estava relacionada apenas ao fato de que Peeta me convencera, só por me contar seus planos com tantos detalhes.

Grande parte da minha decisão, tinha mais a ver com o fato de que o sorriso dele, ao me dizer tudo o que vinha planejando para nós dois, havia me pegado de jeito.

A verdade é que, se Peeta queria tudo aquilo, eu poderia me adaptar. Por ele, eu poderia aceitar qualquer coisa, sem nenhum sacrifício. Porque, assim como ele tinha uma necessidade de fazer de tudo para me ver feliz, eu começava a perceber que, aquela necessidade, também crescia em mim.

— Certeza? – perguntou, e eu assenti, dando um meio sorriso. – Ótimo. Nós podemos só mudar a ordem dos acontecimentos?

— Não me diga que quer começar pelos filhos... – soltei baixinho, mais pra mim do que pra ele, de bochechas quentes, e de coração acelerado.

Eu ter concordado com a ideia, não queria dizer que eu estava preparada para colocá-la em prática tão cedo.

Ele riu, e negou com a cabeça.

— Na verdade, pensei em começar pelos cachorros – Peeta sorriu. – O que acha?

Respirei devagar, sentindo-me aliviada.

— Apoio a ideia – concordei.

— Certo. Será a Bailey ou o Thor, primeiro? – perguntou, afagando o lado direito da minha cintura.

— Pode ser a Bailey? – questionei de volta.

— Claro – ele afirmou, sorrindo pra mim. – Mas... – Peeta ergueu a mão, e empurrou minha franja para trás da orelha –... Enquanto não escolhemos um cachorro, tem certeza de que não quer começar pelos filhos? – Peeta provocou, e eu estreitei os olhos.

— Cala a boca – resmunguei, constrangida, fazendo-o rir.

— Eu calo... Se você me der um beijo – disse, dando um sorriso esperto.

De repente, a imagem de Thomas e Abby me veio à cabeça, e, sem nem perceber, eu estava sorrindo.

Os pais de Peeta eram um perfeito exemplo de casal. Estavam juntos há anos, e mesmo assim, pareciam um casal de jovens, apaixonados. Eles se davam mais do que bem, tinham uma cumplicidade invejável, e o companheirismo era evidente, ao vê-los juntos.

Se eu e Peeta, fossemos metade do que os dois eram, eu sabia que seriamos plenamente felizes. E algo na forma que Peeta me pediu um beijo, me fez ter a certeza de que, de certa forma, estávamos indo pelo caminho certo.

— No que está pensando? – perguntou Peeta, me trazendo de volta a realidade.

— Que eu te darei quantos beijos você quiser – respondi, sorrindo.

Ele riu baixo, e sem dizer mais nada, uniu nossos lábios, enquanto me abraçava pela cintura.

Não tenho ideia de quanto tempo ficamos aos beijos, na cozinha da casa dos pais dele – fato que eu não me importava, naquele momento –, mas eu me separei de Peeta, assim que o pano de prato escorregou do meu ombro, e caiu no chão.

— Precisamos terminar de arrumar a cozinha – lembrei, soltando-me de seu abraço, para abaixar, e alcançar o pano, próximo aos meus pés.

— Estraga prazeres – Peeta reclamou.

Ri baixo, mas não respondi.

Terminamos nossas tarefas em poucos minutos, e, apesar do silêncio de ambas as partes, durante todo o processo, eu sentia a leveza do clima entre nós dois, o que me fazia sorrir sozinha, feito uma idiota.

— Vamos pra sala? – perguntou, tomando o pano de prato das minhas mãos, para secar as dele.

— Será que tem bolo ainda? – questionei, estendendo a mão para alcançar a de Peeta.

— Se o Gale e o Finnick não comeram tudo... – ele deixou a frase no ar, entrelaçando nossos dedos.

Soltei um risinho, imaginando que ele poderia estar certo, e o segui para fora. Assim que saímos da cozinha, o silêncio pesado da casa, nos atingiu em cheio, e em sincronia, paramos de andar, para nos encarar.

Ficamos alguns segundos daquele jeito, até que meus ouvidos captaram vozes na rua.

Eu devia ter acabado com você há anos! — era Delly quem gritava.

Peeta arregalou os olhos, e quando fez menção de andar até a porta, a mesma foi escancarada.

Se você se acha capaz, aproveite essa chance — outra mulher respondeu, mas não gritava como Delly.

Gale estava assustado quando nos encarou, o que me deixou mais tensa.

— Cara... A coisa tá feia lá fora – ele soltou, olhando para Peeta, que pareceu entender antes de mim, do que se tratava.

Sua mão soltou a minha, e ele saiu como um raio, quase atropelando Gale no caminho.

— O que está acontecendo? – perguntei.

Meu melhor amigo me olhou atentamente, antes de responder:

— A tal de Johanna está aqui – respondeu, e em seu tom de voz, eu senti um “sinto muito por isso”.

Pisquei algumas vezes, sentindo como se meu cérebro fosse pifar a qualquer momento.

Johanna Mason estava na casa dos pais de Peeta, e pelo jeito, estava fazendo um barraco, na frente de todo mundo. Definitivamente, isso não chegava nem perto do que eu havia planejado para o fim de uma noite tão boa, como aquela.

— Acho melhor você não ir até lá, Katniss – sugeriu Gale, quando passei por ele, tão depressa quanto Peeta havia passado, segundos atrás.

Eu o ignorei, e continuei a caminhar pra fora.

Parei no degrau da varanda, para analisar a situação, sentindo que meu melhor amigo havia parado atrás de mim.

Madge, Abby e Thomas falavam com Pietro, talvez tentando leva-lo pra dentro. Finnick segurava a mão de Annie com firmeza, parecendo tentar mantê-la no lugar. Mais longe de todos eles, estava Johanna, de costas pra entrada da casa, parecendo falar com Peeta, que tinha um braço na frente de Delly, para, talvez, evitar, que ela agredisse Johanna.

Respirei fundo, e com passos decididos, terminei de descer os degraus, para caminhar até os três.

Ainda longe deles, pude ouvir a voz grave de Peeta:

— Apenas responda como me encontrou aqui – disse Peeta, entre dentes.

— Da mesma forma que encontrei seu novo endereço – Johanna respondeu, com desdém.

— E decidiu, depois de mais de três semanas, aparecer, justamente na casa dos meus pais? – perguntou, ficando vermelho.

— Sorte a sua que não veio mais ninguém para essa reunião. O intuito era fazer essa cena toda, na frente de mais gente – ela deu uma pausa. – Deveria ter deixado pra fazer isso no colégio, amanhã. Dessa forma você levaria mais a sério quando eu digo que não vou te deixar em paz, enquanto não resolvermos essa merda de divórcio.

— Se quer resolver, basta assinar os papeis – eu quem respondi, ao parar do lado direito de Peeta.

O corpo dele ficou mais tenso, e, apesar de sentir que ele me olhava, não deixei de encarar Johanna, que havia voltado sua atenção para mim.

Ela sorriu, com um ar de superioridade, e me analisou, da cabeça aos pés.

— Sabe que eu realmente não me lembrava de você? Mas vendo Annie ali, cheguei à conclusão de que você deve ser a irmã sonsa dela. Katniss não, é? – perguntou, ainda sorrindo, e eu, ignorando seu comentário venenoso, assenti com a cabeça.

— Você não po...

— Nós precisamos conversar, Johanna – soltei, interrompendo Peeta.

Ela riu.

— Conversar? O que eu teria pra conversar com você? Não sei se consigo me comunicar com adolescentes – provocou.

Senti Peeta se mover, e do mesmo jeito que ele estava mantendo Delly longe de Johanna, eu fiz com ele, estendendo o braço em frente ao seu corpo, fazendo-o parar.

— Eu também não sei falar a língua de megeras, mas prometo que vou me esforçar – retruquei, sentindo o coração acelerar com a minha ousadia. – E então? Podemos conversar, ou, por algum motivo, você se sente ameaçada com a minha presença?

Johanna riu, fazendo pouco caso.

— Por mim, tudo bem – ela deu de ombros, e encarou Peeta. – Mas nós conversaremos a sós – Johanna sorriu.

— Ela não vai falar a sós com você – retrucou ele, com raiva.

— Vou sim – declarei, finalmente virando para encarar o rosto perplexo de Peeta. – Nos dê alguns minutos – pedi.

— Eu não aconselharia isso – Delly se meteu.

— Não ajam como se eu fosse matá-la – Johanna falou, com deboche, me fazendo olha-la. – Será uma conversa de mulher pra... Garota – ela sorriu. – E foi ela quem pediu. Só estou sendo gentil, em aceitar.

Evitei rolar os olhos.

— Teremos privacidade no canto mais isolado do jardim. Já estou indo pra lá – falei com uma firmeza, que nem eu sabia que tinha.

Johanna me mediu novamente, e fez o mesmo com Peeta, antes de voltar a sorrir, e começar a se afastar.

— Isso é loucura. O que vocês teriam pra conversar? – perguntou Peeta, irritado, enquanto eu me colocava na frente dele. – Não tem porque você se meter com ela, Katniss! – exclamou, passando a mão pelos cabelos, e agarrando os fios entre os dedos.

Delly pareceu compreender que deveria nos deixar a sós, por isso, rapidamente, ela saiu de trás de Peeta, e passou por mim.

— Você faria o mesmo por mim, certo? – perguntei, segundos depois, mas ele não respondeu.

Peeta continuou a me encarar, com uma enorme ruga de preocupação na testa.

— Leve os outros pra dentro, querido – decidi falar, abrindo um sorriso, para tentar tranquiliza-lo. – Prometo que não demoro.

— Katniss... – ele soltou meu nome, em tom de súplica

— Você confia em mim? – perguntei, e Peeta assentiu silenciosamente. – Então acredite quando eu digo que sei o que estou fazendo – fiquei na ponta dos pés, para selar nossos lábios.

Pisquei levemente pra ele, com o olho direito, sorri novamente, e me virei, começando a caminhar em direção a Johanna.

Na verdade, eu não tinha ideia do que estava fazendo. Meu coração batia forte o bastante, para fazer pressão em minha cabeça, e meu estômago parecia dar cambalhotas, como se fosse expulsar todo o jantar, a qualquer momento.

Eu não estava acostumada com confrontos, mas disso, todo mundo que me conhecia bem, já sabia. Porém, mesmo sentindo que eu poderia desmaiar, enquanto falava com Johanna, havia uma coisa que me impelia a continuar a andar com passos decididos, até o canto mais afastado do jardim dos Mellarks.

Eu realmente faria qualquer coisa por Peeta. Isso incluía uma conversa desagradável, com uma pessoa mais desagradável ainda.

Se Johanna queria negociar, não seria com Peeta. Seria comigo, e eu estava disposta a colaborar. Mais por ele, do que por mim, eu gostaria de colocar um ponto final nessa história.


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Notas finais do capítulo