O Sol em meio à tempestade escrita por nsbenzo


Capítulo 55
Capítulo 54


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura



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— Então preciso vir aqui para te ver?

Ergui a cabeça devagar, e olhei em direção a porta.

Gale estava parado na entrada da sala de aula com as mãos escondidas nos bolsos de sua jaqueta, e com uma feição séria em seu rosto, o que me fez soltar a caneta vermelha sobre o teste que eu corrigia.

Continuei em silêncio, encarando meu melhor amigo, que parecia irritado.

Desde a louca decisão de falar com Peeta pelo celular, algo em mim havia mudado, mas não era nada bom. Eu me sentia mais confusa, em relação aos meus sentimentos, à medida que os dias iam passando, e a única coisa que ocupava minha mente, era imaginar – por conta do que Delly havia dito – o quão Peeta também estava mal.

Já fazia uma semana que ele realmente havia me deixado em paz, e pareceu mudar até o trajeto que ele costumava fazer pelo colégio, pois, estranhamente, eu não o via mais em lugar nenhum. Entretanto, mesmo com tudo fora de lugar, meu instinto protetor falava mais alto, por isso, eu precisei escolher entre estar com Gale, e correr o risco de entregar a situação a ele, ou evita-lo, e proteger Peeta, de seja lá o que Gale faria se soubesse toda a verdade.

Mas manter Gale longe de mim não tão difícil.

A última vez que tínhamos passado um tempinho juntos, foi a cinco dias atrás, quando Madge me obrigou a ir ao médico por ter piorado da gripe, que segundo ela, não deveria ser tão intensa por tanto tempo. Gale acabou me carregando pra fora do apartamento, e cuidou de mim naquele sábado junto de Madge, depois de voltarmos do hospital. No Domingo, eu me sentia ligeiramente melhor, por culpa de alguns remédios que o médico havia receitado, e voltei a evita-lo. Ele insistiu em me ver até terça-feira, depois disso, Gale simplesmente parou de perguntar sobre mim pra Madge.

— Preciso marcar horário? – questionou com uma ponta de sarcasmo.

— Claro que não – soltei em voz baixa.

Com dificuldade, me coloquei em pé, apoiando as mãos sobre minha mesa, e arrastei a cadeira pra trás, com minhas próprias pernas.

Contudo, os remédios não fizeram tanto efeito como deveriam. Na verdade, na quarta-feira, eu me sentia bem pior, e fui decaindo, até parecer chegar ao limite dos sintomas ruins, onde eu mal conseguia me levantar da cama.

Fui aconselhada por Mad e Annabelle, a voltar ao médico e pedir uma pequena licença até me sentir melhor, mas se eu não tivesse meu trabalho para me distrair, eu não sabia exatamente onde eu iria parar. Por isso, teimosamente, eu ainda dava minhas aulas, e por algum motivo, todas as turmas colaboravam comigo.

Caminhei em direção a Gale, e não precisei fazer menção de abraça-lo. Quando fiquei bem perto dele, ele tirou as mãos dos bolsos, e me envolveu com seus braços, apertando-me entre eles, enquanto eu já o abraçava de volta.

— Senti sua falta – murmurei contra sua camisa.

— Isso, com certeza, é uma mentira – disse ele, e não parecia estar brincando. – Você, literalmente, está me trancando pra fora do seu apartamento sem nenhuma explicação – Gale reclamou, mas me apertou mais entre seus braços. – O que está acontecendo com você? – indagou, afastando-se levemente para me olhar.

Respirei fundo, e precisei desviar os olhos do olhar meticuloso do meu melhor amigo. Mantive-me calada, mas não permiti que o abraço fosse quebrado, por isso, eu acabei me agarrando na parte de trás da jaqueta de Gale.

— Você está escondendo coisas de mim – disse ele, com convicção. – O que exatamente aconteceu entre você e o Peeta para você terminar com ele?

Meu coração acelerou, e minha cabeça começou a pesar.

— Eu... Ele... Nós... Nós tínhamos muitas diferenças – respondi gaguejando, o que fez Gale afrouxar mais o abraço. – E... Eu... Você sabe... – continuei a gaguejar nervosamente. – Você... O que você está fazendo aqui mesmo? Não acabou seu horário de almoço?

Meu melhor amigo me soltou de vez, e se afastou, obrigando-me a soltar sua jaqueta. De repente, minhas pernas pareciam gelatinas, e tornou-se mais difícil me manter em pé por contra própria.

— Ele magoou você, Katniss? – perguntou com a voz séria, voltando a esconder as mãos nos bolsos de sua jaqueta.

— Não. Claro que não. Eu estou bem – disse rapidamente, caminhando devagar, até poder escorar na parede mais próxima.

— Por que você está tentando protege-lo? – questionou ainda sério.

— Eu não...

— Você está – Gale me interrompeu, e respirou fundo em seguida. – Eu cheguei aqui no colégio há mais de vinte minutos. Esbarrei com Peeta no estacionamento – meu estômago embrulhou, mas me mantive calada para ouvi-lo. – Ele estava chegando. Disse que no caminho pra casa, ele lembrou que tinha treino hoje, para revisarem as jogadas do jogo de amanhã – Gale falava calmamente. – Peeta falou que andava meio desligado desde o término de vocês, e então eu decidi perguntar o que exatamente tinha acontecido, alegando que você não tinha me dado detalhes. Peeta me olhou com uma cara de quem sabia o que viria quando ele abrisse a boca, mas mesmo assim me contou sobre a tal Johanna.

— Você...?

— Sim – ele me interrompeu novamente. – Eu bati nele – Gale tirou as mãos dos bolsos, e mostrou os nós dos dedos, que estavam machucados.

Eu estava completamente paralisada, sentindo meus olhos encherem de lágrimas.

— Onde ele está? – sussurrei.

— Eu fingi não saber de nada, pra ver se você continuaria a mentir pra mim – Gale continuou, parecendo não ter ouvido minha pergunta. – Eu avisei a ele que se te magoasse, teria problemas comigo.

— Onde ele está? – falei mais alto e com certa frieza, desencostando da parede.

Gale franziu a testa, e voltou a esconder as mãos nos bolsos.

— Acho que ia até a enfermaria – respondeu, dando levemente de ombros. – Ele nem quis se defender, Katniss. Peeta sabia que estava apanhando por merecer.

Meu coração bombeava o sangue por minhas veias com uma rapidez que eu não sentia há vários dias. Foi como se todo o mal estar tivesse ido embora, dando lugar a outra coisa, que me fez ficar agitada.

— Você vai ser pai, Gale! – exclamei. – Você vai se casar. Você não é mais um adolescente pra querer resolver tudo na pancada – falei em tom acusatório, voltando até minha mesa com uma velocidade que eu não sabia que minhas podiam ter. – E eu não sou mais aquela garotinha indefesa, que meu pai pedia pra você bater nos garotos por mim. Eu cresci. Sei resolver meus problemas – disse rispidamente, jogando minhas coisas dentro da bolsa. – Não precisava bater nele. Se fosse pra bater no Peeta, eu mesma teria feito isso. Ao menos ele permitiria que eu fizesse – soltei com sarcasmo. – E se você acha que me sinto agradecida por ter batido nele, quero que saiba que no momento eu me sinto com mais raiva de você do que dele – declarei, passando por meu melhor amigo.

— Você vai atrás dele? – Gale perguntou incrédulo.

Não o respondi, ajeitando a bolsa no ombro, enquanto caminhava a passos firmes em direção a enfermaria.

— Katniss! – ele chamou.

— Vai embora, Gale – respondi em voz alta, apertando os passos.

Ao chegar na enfermaria, não hesitei em abrir a porta, mas permaneci do lado de fora, buscando Peeta com os olhos.

— O que faz aqui? – Peeta perguntou, assim que nossos olhares se cruzaram pelo reflexo do espelho.

Uma súbita vontade de chorar e de abraça-lo com força se manifestou em meu peito, mas eu me mantive firme, parada na entrada.

— Katniss – ele chamou, virando para ficar de frente pra mim. – Você está bem?

Aparentemente ele estava sozinho, e tentava dar um jeito em seus machucados, que até onde eu conseguia ver, eram eles:

— um hematoma arroxeando ao redor de seu olho direito;

— acima de sua sobrancelha esquerda, tinha um corte feio, que sangrava um pouco, talvez por ele já ter tentado limpar;

— sua narina esquerda estava suja de sangue;

— seu lábio inferior estava inchado, com um corte sobre ele; 

— e o lado esquerdo de seu maxilar, que apesar de estar coberto com uma barba grossa e mal aparada, dava pra enxergar a ponta de um hematoma roxo, que ia em direção a sua bochecha.

— Eu não acredito que você o deixou fazer isso, Peeta – soltei a frase de repente, entrando na enfermaria. – Qual é o problema de vocês? – resmunguei, fechando a porta, e joguei minha bolsa sobre a cadeira mais próxima. – Senta ali – apontei a pequena maca, e lhe dei as costas, começando a mexer no armário com medicamentos e curativos.

— Você não precisa fazer isso – disse ele, receoso.

— Cala a boca e senta logo – respondi grosseiramente, pegando um pedaço de gaze e água oxigenada, para limpar seus cortes.

Quando voltei a olha-lo, Peeta já estava sentado na maca. Seus pés balançavam pra frente e pra trás, como eu costumava fazer, o que me fez reprimir um sorriso, enquanto me aproximava dele.

— Você sabia que ele faria isso caso soubesse a verdade – acusei, molhando a gaze. – Por que permitiu que Gale te machucasse assim? – questionei, passando o tecido fino sobre o machucado mais feio, que era sobre sua sobrancelha esquerda.

Peeta fez uma pequena careta, mas não reclamou.

— Eu mereci – murmurou ele, segundos depois. – E talvez eu não esteja em meu juízo perfeito – Peeta deu um pequeno sorriso. – Sei lá, Katniss – suspirou com pesar. – Está tudo bagunçado na minha cabeça. Não consigo ser coerente em nada do que eu faço.

Engoli com dificuldade a vontade de chorar, e permaneci em silêncio. Eu podia notar seus olhos me estudando, enquanto eu me ocupava em limpar seus ferimentos cuidadosamente.

Apesar do odor forte da água oxigenada, o cheiro de sua colônia amadeirada era a que entrava em minhas narinas, causando um pequeno reboliço com meus sentimentos.

Talvez tenha sido um erro vir atrás dele.

— Como está indo com o time? – decidi perguntar para quebrar o silêncio quase constrangedor.

— O time é bom, mas... – Peeta negou levemente com a cabeça. – Eu tenho certeza de que vou estragar tudo amanhã – ele voltou seu rosto pra baixo, impedindo-me de continuar com meu momento enfermeira.

— Ei! – chamei, jogando a gaze no lixo ao lado da maca, e coloquei o vidro de água oxigenada sobre a maca. – Olha pra mim – pedi, segurando sua cabeça pelas laterais.

Peeta elevou o rosto, e me olhou nos olhos.

— Você é ótimo no que faz. Você só precisa se concentrar – sorri pra ele. – Eu ainda acredito em sua capacidade, e ainda acho que você vai arrasar amanhã.

Ele continuou a me olhar, completamente em silêncio, mas com um indicio de sorriso em seus lábios finos. Eu o soltei, sentindo minhas bochechas quentes por tê-lo tocado daquela forma, e precisei lhe dar as costas, para cortar o contato visual. Aproveitei-me disso, para andar até o armário, guardar a água oxigenada, e pegar um curativo para sua sobrancelha.

— Você vem amanhã? – Peeta perguntou.

Meu coração acelerou, e eu mordi o lábio inferior, antes de voltar até ele.

— Não está nos meus planos – disse sinceramente, rasgando a embalagem do curativo.

— E se, hipoteticamente, eu pedisse pra você vir? – indagou, com os olhos agitados me analisando.

— Hipoteticamente? – perguntei, me aproximando mais para colar a fita sobre o machucado.

— Hipoteticamente – Peeta respondeu.

— Talvez eu inventasse uma desculpa, do tipo: “Não posso vir. Tenho um compromisso amanhã” – respondi apertando o curativo cuidadosamente com as pontas dos dedos para fixa-lo melhor.

Desviei o olhar do que eu estava fazendo, para fitar os olhos azuis de Peeta – que ainda me analisavam –, ao notar seu silêncio para a minha resposta. Foi só então que eu notei o quão perto estávamos. Se eu quisesse beija-lo, só era necessário que eu me curvasse um pouco mais. Pensar nisso, foi o que me fez ruborizar, e logo meu coração já tinha voltado a acelerar.

Peeta alcançou minha mão direita, que já estava ao lado do meu corpo, e a puxou devagar, até estar em frente à sua boca. Cuidadoso e carinhosamente, ele beijou as pontas dos meus dedos, fazendo minha respiração se alterar levemente ao sentir seus lábios quentes e inchados, contra minha pele.

— Você fará alguma coisa amanhã? – perguntou, abaixando minha mão, mas ele não a soltou. – Por volta das cinco da tarde – prosseguiu, brincando com meus dedos, e olhando em meus olhos. – Eu sei que prometi que te deixaria em paz, e a semana toda, eu lutei comigo mesmo, pra conseguir atender esse pedido tão difícil – Peeta deu um sorriso torto, obrigando-me a encarar seus lábios. – Mas... Você mesma veio até aqui, então...

— Eu não sei, Peeta – soltei duvidosa, erguendo os olhos para olhar os dele.

— Você tem algum compromisso amanhã? – insistiu, entrelaçando seus dedos nos meus.

Apenas neguei com a cabeça, sem me mover nem mais um centímetro.

— Então ao menos venha assistir ao jogo – pediu. – Tê-la na arquibancada, talvez me ajude de alguma forma – ele apertou minha mão. – Não que eu mereça sua ajuda, mas...

— Tudo bem – disse repentinamente, fazendo ele paralisar. – Se... Isso te ajudará na estreia... Eu... Eu venho assistir – gaguejei timidamente. – Mas... Isso não muda nada.

— Ou, simplesmente, muda tudo – Peeta retrucou, dando um pequeno sorriso.

— Peeta... – sussurrei. – Não complica as coisas. Eu virei só pra te apoiar. Nada mais do que isso – me desvencilhei de seus dedos.

— Eu não estou pedindo nada além disso, Katniss – ele respondeu rapidamente, e me impediu de abaixar a mão, prendendo-a novamente com a dele. – Estou ciente do estrago que eu fiz, mas... Eu cheguei ao ponto de que só de tê-la no mesmo lugar que eu, já me deixa feliz – seus olhos passaram a sinceridade de suas palavras, enquanto fitavam os meus. – E... Apesar de você ainda estar magoada comigo, eu começo a achar que minha mãe estava certa – Peeta deu um sorriso torto. – Pode ser coisas que meu coração inventou, por eu me sentir tão sozinho estando sem você, mas... Se eu não me agarrar a essa pequena esperança, não sei o que será de mim – ele voltou a erguer a minha mão, e beijou o dorso carinhosamente, demorando com seus lábios em minha pele. – Posso contar com sua presença amanhã? – perguntou, soltando minha mão, mas me prendendo com seu olhar pidão.

Eu o estudei devagar, sentindo meu coração batendo forte contra meu peito.

Mordi o lábio inferior, e notei os olhos de Peeta acompanharem meu ato, o que me fez, com certeza, corar.

— Sim. Eu estarei aqui – respondi, dando dois passos pra trás. – Bom. Não aqui na enfermaria. Na quadra – sorri sem graça, mas Peeta sorriu abertamente pra mim, como se o corte em seu lábio não fosse nada. – Gale bateu em mais algum lugar? – perguntei, mudando de assunto.

— Acertou minhas costelas, mas acho que não foi nada grave – respondeu, erguendo a camisa. – Deve ficar só alguns hematomas. – Peeta passou os dedos sobre as costelas, onde estava avermelhado.

Desviei o olhar da cena, sentindo-me irritantemente envergonhada.

— Por isso foi idiotice, permitir que isso acontecesse. Deveria ter escondido dele, assim como eu fiz – falei com irritação, cruzando os braços. – Pancadas na cabeça podem causar consequências graves, e você deveria saber disso.

— Por que você escondeu do Gale? – Peeta perguntou, me alarmando. – Sobre os motivos do nosso término.

Ele já havia abaixado a camisa, e me olhava curioso. Eu conseguia ler facilmente seus olhos, e pra mim, estava claro que Peeta já sabia minha resposta.

— Porque... – hesitei por alguns segundos, e suspirei, antes de voltar a falar: – Porque eu não queria que isso acontecesse. – apontei seu rosto com um aceno de cabeça. – Quando nos falamos na sexta-feira passada, deixei claro que me preocupo com você – disse com sinceridade. – Eu tenho consciência de que, apesar do que houve entre nós, você é uma ótima pessoa. Por isso eu estou aqui agora – descruzei os braços devagar. – Nós terminamos, porque eu estava magoada. Não porque eu deixei de... Gostar de você – falei, envergonhada. – Mas isso não vem ao caso agora. Eu preciso ir – lhe dei as costas, andando rapidamente até minha bolsa. – Não faça nada imprudente – pedi em tom de advertência. – E não esqueça de usar gelo.

— Pode deixar. – ele pareceu sorrir, enquanto falava.

Decidida a não dizer mais nada, eu segurei a maçaneta. Quando já estava pronta pra abrir a porta, ouvi quando Peeta desceu da maca, batendo em algo, que fez um barulho metálico.

Virei rapidamente, apenas para garantir que ele estava bem, mas Peeta não pareceu se importar com o fato de ter derrubado a escada de dois degraus que ficara o tempo todo ao lado de seus pés. Ele vinha em minha direção, com passos firmes, e sorriu quando notou que eu não sairia da enfermaria.

Peeta se colocou à minha frente, e sem raciocinar muito bem, eu me movi pra trás, batendo as costas contra a porta.

— Não precisa fugir de mim – murmurou, dando outro passo em minha direção.

Seus olhos estavam brilhando quando pararam nos meus. Um sorriso torto apareceu em seus lábios finos, enquanto sua respiração quente e controlada atingia carinhosamente o meu rosto.

— O que... O que você...? – comecei a gaguejar, fazendo o sorriso de Peeta alargar levemente.

Eu mal conseguia me mexer, por isso minha fala morreu rapidamente. Mandar o ar para os pulmões tinha se tornado uma tarefa quase impossível, considerando a dificuldade que eu tinha pra respirar, assim que meu corpo ficou ciente do toque suave de sua mão. A palma quente e macia, tinha ido parar na pele sensível da lateral do meu pescoço, porém seus dedos se esticaram, e alcançaram facilmente embaixo dos meus cabelos, fazendo pressão em minha nuca, deixando minhas pernas levemente trêmulas.

Peeta aproximou seu rosto um pouco mais, e mesmo sem seus lábios tocarem os meus, era como se a eletricidade entre nós dois fosse tão forte, que eu sentia sua boca pressionando a minha de forma esmagadora.

— Eu só quero dizer uma coisa – Peeta disse baixo.

Entre abri os lábios levemente, sentindo o pouco do oxigênio que eu havia conseguido armazenar nos últimos segundos, escapar por entre eles, quando os dedos de Peeta se enfiaram levemente entre meus cabelos, embrenhando-se nos fios.

— Precisa ser tão perto? – murmurei, constrangida.

— Precisa – murmurou com a voz rouca e com uma ponta de diversão.

Meu cérebro enviava ordens ao meu corpo, mandando que eu o empurrasse para longe de mim, e saísse logo daquela maldita enfermaria, contudo, com meu coração acelerado no peito, as pernas sem forças, e uma torrente de lembranças das vezes que Peeta havia me tocado com tanto carinho, mas também com tanta firmeza, apenas me deixava mais entregue. Não tinha como raciocinar com coerência naquele momento. Ele me deixava completamente anestesiada. Tão anestesiada, que me mantive calada para sua resposta.

O sorriso torto de Peeta voltou a aparecer, depois de seus olhos azuis, brilhantes e escuros estudarem minha face por um tempo – segundos, minutos, horas... Eu não saberia dizer –, e por fim, seus lábios roçaram nos meus, apenas por culpa do movimento que Peeta fez com a cabeça, para desviar a atenção da minha boca, e aproximar seus lábios da minha orelha.

— Eu só queria dizer obrigado.

Peeta disse em voz baixa em meu ouvido. Meu corpo se arrepiou em reação, e talvez eu tenha perdido os sentidos por alguns segundos.

— Pelo quê? – perguntei quase sem som.

Peeta voltou a me olhar nos olhos, ainda sorrindo.

— Por se preocupar comigo.

— Eu... Você também... Você também se preocupa comigo... – gaguejei, quando seus lábios voltaram a se aproximar dos meus.

— Isso é verdade – pelo seu tom de voz, ele estava sorrindo, mas eu não conseguia ver por estarmos tão perto. – Mas mesmo assim... Obrigado – Peeta falou baixo a última palavra, e um beijo casto foi dado no canto direito da minha boca.

Antes mesmo que eu pudesse reagir, ou dizer qualquer coisa, seus dedos desceram quase em câmera lenta por minha nuca, e no segundo seguinte, Peeta já havia me soltado, dando um passo largo pra trás.

Tentando ignorar meu constrangimento, eu me virei desajeitadamente, lhe dando as costas, para alcançar a maçaneta.

— Você vem mesmo amanhã, Katniss? – ele questionou, parecendo ansioso.

— Sim – murmurei, sem encara-lo.

— Promete?

Suspirei, apertando a maçaneta.

— Sim, Peeta. Eu prometo.

— Então nos vemos amanhã – sua voz saiu animada.

Eu apenas afirmei com a cabeça de maneira nervosa, e quase me joguei pra fora da enfermaria assim que abri a porta.

O que havia acontecido com todos os sintomas da gripe? Eu não sabia dizer, afinal de contas, minhas pernas tinham uma firmeza sem igual, e me guiavam rapidamente para longe da enfermaria. Para longe de Peeta.

Me permiti respirar com mais calma, quando já estava em outro corredor da escola.

Meu coração ainda estava loucamente acelerado, minhas mãos estavam trêmulas, todo o meu corpo formigava, como se eu tivesse levado um choque de alta voltagem, e eu mordiscava o lábio inferior vez ou outra, sentindo meu estômago se agitar com ansiedade.

Fechei brevemente os olhos, e sacudi a cabeça.

Eu sabia o que tudo aquilo significava, e eu me sentia desconcertada por ter chegado até aquela conclusão. Eu sentia a falta dele, muito mais do que me sentia magoada, e tinha algo dentro de mim que dizia que seria impossível reverter aquele sentimento.


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Notas finais do capítulo

Beijos ♥