O Sol em meio à tempestade escrita por nsbenzo


Capítulo 53
Capítulo 52


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura *-*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/709821/chapter/53

A semana de folga passou rapidamente, e logo já era sexta. Os sintomas da gripe iam e vinham a todo momento. Ao mesmo tempo que eu me sentia bem, eu me sentia péssima. Era difícil explicar. O remédio que eu vinha tomando não parecia ter efeito nenhum sobre o meu corpo, a não ser o fato de me trazer sonolência.

Annie e Madge haviam grudado em mim no tempo livre que elas tinham, e se esforçavam para tentar me colocar pra cima, mesmo sem saber como eu realmente me sentia. Mas eu tentava parecer bem. Tentava fazer piadas. Tentava me inteirar do assunto que elas iniciavam entre si, quando eu parecia distraída demais. Tentava parecer uma pessoa normal.

Eu passei a evitar Gale, chegando até a impedi-lo de entrar em meu apartamento. Ele estava chateado, segundo Madge, e não conseguia entender porque eu passei a não quere-lo por perto. Mas eu sentia que se ele me questionasse mais uma vez o que tinha acontecido de verdade, eu não suportaria e contaria tudo a ele, e em minha cabeça, isso não era nada bom.

Naquela noite de sexta-feira, decidi tentar cozinhar para mim, Madge e Annie, mesmo que meu corpo estivesse protestando desde que me levantei do sofá, e mesmo que as duas tenham tentado me fazer voltar a repousar.

Eu precisava encontrar coisas para me distrair, e se cozinhar, me faria parar de pensar no que não devia, eu firmaria minhas pernas como pudesse na frente daquele fogão, e faria um jantar decente.

Enquanto mexia o molho que eu fazia, decidi prestar atenção na conversa de Annie e Madge, que falavam sobre o que elas mais falavam sempre que estavam juntas: Gravidez.

— Como foi descobrir que estava grávida, Annie? – me meti na conversa, abaixando o fogo, e colocando a colher dentro de um prato vazio.

— Como assim? – minha irmã perguntou.

Me virei para as duas, que estavam sentadas ao redor da pequena mesa redonda da cozinha, e agora me olhavam.

— Madge enlouqueceu quando descobriu. – comentei, dando início a uma pequena explicação para minha pergunta, enquanto apoiava meu quadril contra a pia, para manter a firmeza em minhas pernas. – Claro que a situação era diferente. Você e Finnick já estavam casados há um tempo, e planejavam... Mas quero saber como se sentiu quando descobriu que realmente estava grávida.

Por algum motivo, eu não entrava na conversa quando se tratava da gravidez das duas. Raramente perguntava sobre os bebês ou coisas do gênero, e até então, eu não tinha notado isso. Mas, aparentemente, Madge e Annabelle haviam notado, pois ambas sustentavam olhares surpresos em minha direção.

— Bom... Eu... Nem sei explicar. – Annie começou a falar, depois de se recuperar da surpresa. – Acho que posso dizer que pra quem não planejava ter um filho tão cedo, eu quase enlouqueci de felicidade ao saber que tínhamos conseguido tão fácil. Nunca tinha me sentido tão feliz. Qualquer plano que eu tenha pensado em colocar em prática não era nada perto da felicidade em saber que tinha uma parte minha e de Finnick crescendo dentro de mim. – notei seus olhos umedecerem com lágrimas, enquanto ela sorria. – É a coisa mais linda do mundo, sabe? E então você faz seu primeiro ultrassom, e ouve aquele coraçãozinho tão minúsculo batendo, completamente diferente do ritmo do seu. É simplesmente...

— Mágico. – Madge completou com um sorriso, apoiando a mão em sua barriga.

Sorri levemente, e olhei em direção a panela com molho. Estiquei o braço, e apaguei o fogo.

— Falta quanto tempo pra eles nascerem? – questionei, desencostando da pia, para alcançar o escorredor com macarrão dentro dela, e o levei até a panela.

— Matthew está pra nascer no meio do mês de Maio. – Madge foi a primeira a responder, enquanto eu despejava o macarrão.

— Falta muito pra Clara nascer ainda. – Annie disse, e eu arqueei as sobrancelhas. – Completei quatorze semanas, semana passada.

— Como você já sabe o sexo? – perguntei, colocando o escorredor de volta na pia, e me virei para olhar minha irmã.

— Um exame de sangue muito caro por sinal, mas que Finnick quis pagar, porque estava enlouquecendo. – ela respondeu com um sorriso. – Com oito semanas já dá pra saber. Com onze semanas fiz o primeiro ultrassom. – Annie continuou a falar. – Foi quando tudo pareceu mais real.

Abri outro pequeno sorriso, e voltei até a panela com macarrão, começando a mistura-lo no molho com a colher.

— Mas por que tantas perguntas sobre o assunto? – Madge questionou.

— Ai, meu Deus! Não me diga que você... – Annie parou de falar.

— Eu o quê? – indaguei, ainda atenta ao que fazia.

— Você está grávida? – minha irmã sussurrou a pergunta.

Acabei engasgando com o fio de macarrão que eu tinha enfiado na boca para experimentar, e precisei me afastar do fogão, para tossir.

Meu rosto estava pegando fogo, não só pela pergunta, mas pela pequena falta de ar que a tosse havia me causado.

— Que tipo de pergunta é essa? – ralhei com Annie roucamente, alcançando um copo de vidro que secava, e o enchi com água direto da torneira, para despejar o líquido lentamente em minha garganta.

— Você já não é mais virgem, certo? – minha irmã perguntou.

Ruborizei um pouco mais, enquanto colocava o copo vazio sobre a pia.

— Chega de perguntas, Annie. – Madge a alertou, no momento em que me virei para as duas.

Annabelle me analisou, e deu um sorriso culpado.

— Desculpa. – ela disse sem graça.

Assenti silenciosamente, sentindo minha cabeça começar a me trair. Fiquei em silêncio, olhando para Annie e Mad, sem realmente olha-las. Meus pensamentos estavam em outro lugar. Em outra pessoa. De repente o ar pareceu denso, e meu coração se contraiu no peito. As lágrimas subiram até meus olhos, e caíram rapidamente, escorrendo por minhas bochechas.

Céus. Como eu sentia a falta dele.

— Eu nunca tinha pensado nessas coisas. – comecei a falar. – Uma vez ele me disse que se casaria comigo. – esbocei um sorriso, não me sentindo à vontade para mencionar seu nome. – Mas eu nunca parei pra pensar em nós dois, nos tornando uma família, com filhos e coisas desse tipo. Ele me fazia pensar só no momento presente, e a única coisa que me importava, era que ele estivesse comigo. Então, poderia vir o que viesse, eu aceitaria de bom grado. Me adaptaria a qualquer coisa, porque eu o teria ao meu lado, me ensinando a viver de verdade. Por algum motivo eu decidi dar atenção para o assunto gravidez, e eu tenho quase certeza que é culpa da minha cabeça, por me pregar peças, me fazendo só agora imaginar como seria se no futuro estivéssemos juntos. – passei as mãos por meu rosto. – Eu não o tenho mais, e eu sinto tanto a falta dele, que parece que tem um buraco no lugar do meu coração. É como se eu estivesse oca... Como se a pessoa que vocês estão ouvindo falar agora, fosse só uma casca. Eu me sinto vazia sem ele.

Ao terminar de falar tudo o que meu cérebro achou importante soltar para minha irmã e minha amiga, eu finalmente me calei. Fechei meus olhos com força, e voltei a encostar na pia. O sorriso torto, os olhos azuis, os cabelos bem arrumados, ou fora do lugar depois que ele corria as mãos pelos fios nervosamente. Tudo dançava embaixo das minhas pálpebras, aumentando a dor sufocante em meu peito. Definitivamente eu não sabia ser forte. Não quando se tratava dele.

— Eu não faço ideia do que ele fez. – parecendo ter notado o fato de eu não utilizar o nome dele, Annie se manifestou um tempo depois, e eu abri os olhos, para observa-la, enquanto falava. – Mas você precisa colocar na balança, Niss. Dói mais a decepção que ele te causou, ou a falta que ele faz?

Me mantive em silêncio, sem saber como responder aquela pergunta. Nem eu mesma sabia o que mais me machucava naquele momento. Talvez eu não conseguisse distinguir uma ferida da outra, e sofria tanto, pela junção das duas.

Não precisei tentar achar o que dizer. Alguém deu duas batidas na porta do apartamento, o que me fez respirar fundo.

— Se for o Gale, você já sabe. – avisei minha irmã que se colocou de pé para atender.

— Gale vai te odiar quando descobrir que você está escondendo tantas lágrimas dele. – Madge sussurrou.

— Eu não estou me importando com isso agora. – sussurrei de volta, voltando para minha tarefa de misturar o macarrão.

Atrapalho? — uma voz feminina perguntou quando Annie abriu a porta.

— Depende. Veio aqui pra falar pelo seu irmão? – minha irmã questionou de volta, e então eu soube quem era.

Juro que não. — Delly respondeu. – Posso entrar?

Olhei pra trás, vendo que Annabelle me olhava como se pedisse permissão.

— Entre, Delly. – convidei, voltando a dar atenção para o fogão, religando o fogo.

Ouvi os passos, e depois minha irmã fechando a porta.

— Como vocês estão? – Delly perguntou.

— Eu estou bem. – Madge respondeu com simpatia. – E você?

— Estou bem, apesar de cansada. – Delly disse. – Estou pensando em tirar férias.

— Acho que seria bom pra você e para o Pietro. – Madge comentou.

— Também acho que sim. Quem sabe no verão? Falta pouco. – Delly falou com certa animação, e então senti que ela havia se aproximado. – E você, Katniss? – ela perguntou, parando ao meu lado. – Como está?

— Estou ótima. – menti, mexendo o macarrão. – Me readaptando ao meu apartamento. Pensando em mudar algumas coisas de lugar. Cozinhando em uma noite de sexta-feira para duas grávidas. – dei levemente de ombros.

Ouvi Delly rir baixinho.

— Melhorou da gripe? – ela perguntou. – Meu irmão disse que você não o respondeu hoje. – Delly disse mais baixo.

Mordi o lábio inferior.

Eu realmente não havia o respondido, mas foi pelo simples fato de estar cansada de mentir, dizendo que estava bem, mas também não querer dizer que estava mal.

— Você não parece bem como vem dizendo pra ele. – Delly comentou.

— Se eu dissesse que estava mal, ele estaria aqui, e não você. – respondi sem muita emoção. – Como conseguiu fugir de uma noite tão agitada no restaurante e na balada? – mudei de assunto, apagando o fogo.

— Estava indo para o restaurante, quando decidi passar por aqui. Não consegui falar com você pelo celular.

— Ele está perdido em algum canto do apartamento. – respondi, abrindo uma das portas do armário. – Aceita macarrão com salsicha?

— Pelo cheiro, não poderei recusar. – Delly disse, e eu acabei pegando quatro pratos.

Depois que todas nos servimos, nos sentamos a mesa silenciosamente.

O clima estava tenso, e não era exatamente pela presença de Delly. Eu gostava dela, e no tempo que passamos juntas, eu poderia dizer que chegamos a iniciar uma amizade. Meu receio, era que ela citasse o que eu não gostaria de ouvir naquele momento.

— Eu preciso perguntar uma coisa. – acabei falando, enquanto brincava com minha comida, que tinha mais da metade da pequena quantidade que eu havia me servido.

Todas ergueram o olhar em minha direção, mas Delly quem assentiu com a cabeça, permitindo que eu falasse ao perceber que meus olhos foram parar nela.

— Você está aqui por você mesma ou por ele? – questionei.

Delly soltou o garfo, e limpou a boca com o guardanapo.

— Se fosse só pelo meu irmão, eu estaria aqui desde sábado. – ela respondeu, fazendo meu coração reagir. – Peeta anda agitado desde que começou o recesso de primavera de vocês. Ele sempre pede para que eu venha até aqui saber sobre você, pois não confia nas respostas que você dá por mensagem. – Delly pegou seu copo com água e bebeu um gole. – Ele nem sabe que eu estou aqui agora.

— Mas quando souber, dirá o que pra ele? – perguntei.

— Que você faz um ótimo macarrão. – Delly disse com um sorriso. – Eu não sei. – ela mexeu em um fio de macarrão com o garfo. – Na verdade, eu preferia que ele não soubesse que estive aqui. Peeta vai me encher de perguntas sobre você, e é capaz que ele enlouqueça um pouco mais.

Meu peito se apertou, e eu soltei o garfo dentro do prato.

— Um pouco mais? – perguntei em um sussurro.

— Ele só... – Delly hesitou, parecendo na dúvida sobre o que deveria dizer. – Só não está bem. – concluiu vagamente.

Assenti silenciosamente, e encarei a mesa.

O silêncio voltou a se tornar palpável na cozinha, até que o celular de alguém começou a tocar.

Delly quem alcançou o aparelho no bolso de sua jaqueta de couro, e franziu a testa ao olhar o visor.

— Oi, Peeta. – ela disse ao atender, e se calou, parecendo ouvir o que ele dizia do outro lado. – Se acalma. – pediu, colocando-se de pé. – Onde você está?

Meu coração acelerou tanto, que eu senti todo o sangue fugir do meu rosto.

— Eles não vão matar você. – Delly disse carinhosamente, enquanto eu apertava minhas mãos fechadas por puro nervosismo. – Respira fundo, e enrole pra chegar. Vou direto pra lá. – ela desligou a chamada, e guardou o aparelho. – Preciso ir. Meu irmão está com alguns problemas.

— Eu acompanho você. – falei rapidamente, e levantei, sentindo minhas pernas fraquejarem levemente.

Apoiei na mesa com as duas mãos, e ignorei o olhar preocupado das outras duas, que haviam notado minha fraqueza, e com certeza, o fato de eu não ter comido praticamente nada.

Andei na frente de Delly, ouvindo ela se despedir de Madge e Annie.

Ao abrir a porta, ela passou por mim.

— O que aconteceu? – perguntei com a preocupação aparente em minha voz, fazendo-a se virar para me olhar.

Delly suspirou.

— Ele estava saindo pra jantar com nossos pais no meu restaurante. – ela respondeu. – Peeta pretende contar o motivo de vocês terem terminado, mas acredita que nossos pais o matarão, não só por ter perdido você, já que os dois te amam, mas também por descobrirem que ele ainda está casado com aquela cobra.

Franzi a testa, claramente confusa.

— Seus pais não sabem? – perguntei incrédula.

— Só eu sabia. Ele não queria decepciona-los. – Delly explicou. – Pode parecer que ele tenha escondido para benefício próprio, mas meu irmão é bom demais para pensar em si mesmo. Ele sabia que nossa mãe enlouqueceria se soubesse o que aquela vadia causou ao ir embora. Ele se machucou durante esses anos por não contar a verdade, e ao ver sua reação para os fatos, ele tem medo de que nossos pais não o olhem mais da mesma maneira. Assim como você...

— Mas a situação é diferente, Delly. – argumentei.

— Não pra ele. – ela me deu as costas. – Preciso correr, antes que ele se enforque com as próprias palavras.

— Você... Poderia me ligar? – perguntei hesitante, andando devagar atrás de Delly que já se afastava. Ela parou e virou todo o corpo pra me olhar novamente, obrigando-me a parar também. – Depois que ele contar para os seus pais... Para me dizer se ele está bem.

Delly me estudou com a testa franzida, mas logo relaxou a sua expressão, e deixou o canto de sua boca se erguer em um meio sorriso.

— Acho que você precisará perguntar a ele. – ela voltou a me dar as costas.

— Você disse que prefere que ele não saiba de sua visita. Como eu perguntaria sobre esse assunto, sem você ter me contado? – questionei, enquanto Delly apertava o botão do elevador.

— Se você decidir saber sobre o bem estar do meu irmão, não vou me importar se ele souber sobre minha visita. – ela retrucou sem me olhar.

— Isso parece uma armadilha. – resmunguei.

Pude ouvir sua risada.

— Depende do ponto de vista. – Delly respondeu, entrando no elevador.

— Mas eu... Eu... – gaguejei –, nem sei o que dizer a ele. Delly. – resmunguei novamente.

Seu sorriso se alargou, quando as portas do elevador já fechavam.

— Se realmente quiser saber sobre Peeta, você encontrará as palavras certas. – Delly disse com um ar de sabedoria, e sumiu atrás das portas de aço.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Beijos ♥