Já fazia quase duas semanas que Katniss e Annie não se falavam nem por mensagens, e isso havia sido uma escolha da minha namorada, que tinha bloqueado a irmã em todas as redes sociais, e continuava refugiada em minha casa, que ainda era um ótimo esconderijo.

Desde que ela e a irmã brigaram, Katniss passou a focar em outras coisas. Ela acompanhava todos os treinos de basquete, trabalhava com planejamentos de aulas, mesmo que não fosse necessário, havia arranjado novos livros para colocar sua leitura em dia, e algumas vezes, eu a via concentrada em seu notebook, que raramente era usado até então.

Katniss sempre procurava um lugar confortável para sentar, e começava a digitar sem parar, até que, em algum momento, eu tirava seu foco, o que ela nunca reclamava.

Assim que meu aniversário começou a se aproximar, ela deixou algumas dessas coisas de lado, e passou a focar em minha festa, que seria feita no sábado mais próximo do dia sete de março. Katniss passou a sair depois da aula, e voltava quase a noite, sempre com um sorriso, que mesmo parecendo sincero, eu reconhecia como um esforço para me mostrar que estava tudo bem.

Contudo, de madrugada, era como se todo esse esforço simplesmente sumisse. Como se o cansaço a alcançasse, e Katniss não conseguisse mais fingir. Ela continuava com dificuldade para dormir – algo que começou desde que Manoela havia aparecido –, e apesar de eu sempre dormir rapidamente, acordava no meio da noite, sentindo falta de seu corpo ao meu lado.

Normalmente, eu a encontrava sentada na poltrona que ficava ao lado da janela do quarto. Katniss sempre estava abraçando suas pernas, com seu queixo repousado sobre um de seus joelhos – coisa que ela fazia apenas quando estava triste –, enquanto seus olhos ficavam atentos na rua vazia.

Sempre que eu acordava e a via naquele estado, eu levantava, e me exprimia ao lado dela, até que Katniss não aguentasse mais aquele aperto e acabava se levantando para sentar em meu colo. Ela simplesmente se encolhia contra meu corpo, e escondia seu rosto em meu pescoço. Não havia conversa, não havia beijos. Era apenas eu, em uma tentativa de juntar novamente os pedaços de seu frágil coração. E era assim que ela acabava realmente dormindo um pouco.

Eu ainda não fazia ideia do verdadeiro motivo da briga entre ela e Annie, e mesmo que eu sentisse uma grande necessidade de saber o que exatamente havia machucado tanto minha pequena, eu também sabia que ela não estava pronta para falar, por isso, eu não havia insistido em saber. Eu apenas tentava deixa-la a vontade, para que ela soubesse que quando estivesse pronta para falarmos sobre o assunto, eu seria o melhor ouvinte do mundo.

Sábado chegou rapidamente, e Katniss caminhava pela sala desde que tomamos café da manhã, mandando mensagens em seu celular, parecendo concentrada demais, até que eu decidi finalmente me manifestar.

— Qual é a graça de comemorar um aniversário, depois dos vinte e cinco anos? – murmurei, enquanto Katniss se movia por minha sala.

Ela parou o que estava fazendo, e virou o rosto para me encarar no sofá.

— A graça é que eu estou planejando sua festa. E não é apenas a primeira vez que eu farei isso por você, mas por qualquer um. – minha pequena estreitou os olhos. – Não é o suficiente?

Acabei rindo baixo, e balancei a cabeça em afirmação.

— Tudo bem. – disse vencido. – É que não quero comemorar meus vinte e nove anos, Katniss. Estou ficando velho. – joguei a cabeça pra trás, deixando-a repousar no encosto do sofá.

— Você não tem nada de velho. – Katniss rebateu, fazendo-me olha-la. Ela havia franzido o cenho, e começou a se aproximar, colocando o celular sobre a mesa de centro. – E você me disse uma vez que se parecer velho, te deixava sexy, então ai sim você estava se saindo bem. – ela me lembrou, sentando-se de lado em minhas pernas.

— Então eu pareço velho? – questionei, abraçando-a pela cintura.

— Você parece sexy. – rebateu, corando, e dando um risinho. – Para de bobeira. – ela aproximou seu rosto do meu, beijando meus lábios rapidamente. – Eu prometo que vai ser legal. Sua irmã está me ajudando.

— Minha irmã? – indaguei unindo as sobrancelhas. – Então essa festa vai sair caro, Katniss. Eu te disse que não quero que você gaste dinheiro com isso.

— Não estou bancando tudo sozinha. – ela se moveu, fazendo-me solta-la, e logo se colocou de pé. – Seus pais e Delly quiseram ajudar. – explicou, alcançando seu celular novamente. – Apenas aceite nosso presente, e não fique resmungando. Ai sim você está parecendo um velho. – Katniss voltou a digitar no celular.

— Você era mais legal quando não me retrucava desse jeito. – provoquei.

— Você era mais legal com vinte e oito anos. – rebateu. Katniss tinha um sorriso divertido nos lábios quando voltou a me olhar. – Não reclame, querido. É a convivência com você.

— Sempre minha culpa. – levantei, aproximando-me dela, que havia voltado sua atenção para o celular. – Me dá isso aqui. – tomei o aparelho de suas mãos, e o joguei sobre o sofá.

— Peeta! – Katniss exclamou, fazendo menção de ir pega-lo, porém eu a barrei com o braço. – Eu preciso terminar de resolver.

Ela forçou seu corpo pra frente, mas eu não cedi. Apenas a puxei de uma vez, fazendo-a trombar contra meu corpo.

— Bom dia. – falei, segurando sua cintura com as duas mãos.

Katniss mordeu o canto esquerdo de seu lábio inferior, enquanto seus olhos passeavam rapidamente por cada canto do meu rosto.

— Eu já te dei bom dia. – ela disse baixo.

— Eu não me importo. – rebati, e sem esperar qualquer outra reação de sua parte, eu colei meus lábios contra os dela, já pedindo passagem com a língua.

Katniss simplesmente desistiu de sair do meu aperto, e me abraçou pelo pescoço, entregando-se ao beijo, e colando mais seu corpo contra o meu.

Ela só se afastou de mim, pouco tempo depois, quando seu celular começou a fazer barulho sobre o sofá.

— Eu odeio meu aniversário. – resmunguei, jogando-me sentado no mesmo lugar que eu estava antes.

— Eu odiava o meu. – respondeu vagamente, já com o aparelho na mão. – Prometo que vai valer a pena, Peeta.

Parei para analisa-la, dando atenção para a pequena ruga de concentração em sua testa ao digitar no celular. Katniss mal piscava, e mordia vez o outra o lábio inferior, me fazendo perceber, pela primeira vez, que ela não fazia isso só quando falava comigo. Era realmente uma mania, que eu achava a coisa mais linda do mundo.

Acabei dando um sorriso bobo.

— Eu sei que sim. – decidi responder, levantando-me, e recebendo seu olhar curioso. – Você vai me dar o melhor aniversário de todos. – me aproximei, e beijei o alto de sua cabeça.

Ao afastar meu rosto do dela, pude vê-la corada, o que me causou um riso baixo.

— O quê? – Katniss perguntou.

— Nada, pequena. É só que... – dei uma pausa, mexendo em seus cabelos, apenas para empurrar uma mecha deles para trás de sua orelha. – Eu te amo. – falei baixo, deixando meus olhos irem dos olhos dela, para seus lábios cheios e rosados. – E você é a mulher mais linda que eu já conheci em toda minha vida. – completei, voltando a olhar em seus olhos.

Suas bochechas coraram um pouco mais, mas ela acabou sorrindo.

— Pra que me deixar sem graça? – questionou.

— Não era minha intenção. – respondi sinceramente, sorrindo pra ela. – Mas te ver ruborizada só me faz te achar mais linda ainda.

— Peeta! – Katniss exclamou para me repreender.

Soltei uma risada baixa, enquanto alcançava minha carteira e as chaves do carro que estavam sobre a mesa de centro.

— Onde vai? – indagou.

— Comprar nosso almoço, e deixar você resolver isso em paz. – respondi, olhando pra ela. – Assim não preciso ficar me controlando para não te beijar.

— Acho uma boa. Assim não preciso parar de te beijar pra responder sua irmã. – Katniss disse com ar divertido. – Só não demora. Você sabe que odeio ficar sozinha. – ela disse a última frase em tom baixo.

— Eu sei, baby. Você nem vai notar que eu saí. – falei, enquanto caminhava até a porta.

— Vou sim. – Katniss retrucou.

— Vamos fingir que não. – respondi.

— Vou tentar.

Dei um sorrisinho, mesmo sabendo que ela não veria, e saí de casa.

~||~

— Nossa! Que gato. – a voz feminina tirou minha atenção do lugar que havíamos acabado de entrar, para olhar ao redor.

Delly estava com um sorriso largo no rosto, e não esperou nada para se jogar contra mim em um abraço apertado. Soltei a mão de Katniss, para retribuir o cumprimento.

— Parabéns de novo, Peeta. – minha irmã disse em seguida, soltando-me logo.

— Obrigado de novo, Dell. – voltei a olhar ao redor. – Onde estamos? Por que isso parece uma balada? – questionei, olhando de volta pra ela.

— Porque é. – Delly respondeu dando de ombros levemente. – Seja bem-vindo ao meu novo estabelecimento. – ela sorriu novamente.

— Você está inaugurando seu novo bar com minha festa de aniversário? – indaguei, franzindo o cenho.

— Exatamente. – Delly olhou para os lados. – E convenhamos que já não é mais um bar. – ela riu, olhando para Katniss. – Ela me ajudou na decoração durante a semana. – minha irmã sorriu para minha namorada.

— Então você quem andou roubando minha namorada? – questionei, fazendo as duas rirem.

Meus olhos caíram sobre Katniss, que tinha se livrado de seu sobretudo, e finalmente consegui dar atenção para a forma que ela estava arrumada.

Katniss havia saído depois do almoço, e só voltou pra casa quando eu já estava pronto para sair, por isso, só naquele momento, eu estava tendo a oportunidade de vê-la de verdade. Suas roupas eram novas, seus cabelos haviam ganhado uma cor mais clara e mais um corte durante a tarde, sendo um pouco mais curto do que Madge tinha escolhido a meses atrás, e em sua orelha esquerda havia um brinco longo, com o formato parecido com uma folha, que eu nunca havia visto.

Ela estava simplesmente deslumbrante. Mais ainda com o sorriso tímido em seus lábios volumosos, que estavam pintados com um batom bem leve, que pra mim era rosa claro.

— Não sabia que tinha bom gosto para decoração de balada. – comentei, fazendo seu sorriso aumentar.

— Nem eu. Descobri agora. – Katniss riu silenciosamente.

— Parabéns! – Madge surgiu a nossa frente, com Gale logo atrás.

Recebi seu abraço de bom grado.

— Obrigado. – respondi. – Parece que sua barriga vai explodir a qualquer momento. – falei depois de solta-la.

— Eu sei. Eu sinto como se realmente eu fosse explodir. Matthew não está facilitando. – ela resmungou, referindo-se ao bebê pelo nome que ela mesmo havia escolhido, enquanto eu recebia o abraço de Gale. – Você está linda, Kat. – Madge disse ao olha-la.

— Obrigada. – minha pequena sorriu pra ela. – Você também está, Mad. Então não dê corda para o Peeta sobre sua barriga.

Balancei a cabeça em negativa, rindo silenciosamente.

— É o que eu digo pra ela. Ela está linda assim. – Gale se manifestou.

Senti a mão de Katniss alcançar a minha assim que voltei a parar ao seu lado. Quando nossos dedos se entrelaçaram, ela apertou minha mão com tanta força, que eu franzi o cenho, e virei o rosto para olha-la.

Seus olhos estavam parados em algo além de Gale, Madge e Delly, por isso tentei localizar por entre os convidados que já haviam chegado, o que tanto havia deixado Katniss agitada.

Annabelle e Finnick caminhavam em nossa direção, e quanto mais se aproximavam, mais eu podia sentir a tensão que emanava do corpo da minha namorada.

— Parabéns, Peeta. – Annabelle foi a primeira a se manifestar, quando pararam ao lado de Madge.

— Obrigado, Annie. – sorri brevemente.

Finnick parecia tenso também, mas se aproximou para me dar um abraço, por isso soltei da mão de Katniss para retribuir.

— Parabéns, cara. – ele disse baixo, parecendo sem graça.

— Valeu. – respondi, dando dois tapas em suas costas antes de nos soltarmos do abraço. – Obrigado por virem. – me dirigi aos dois.

— Já estava com saudades de todos juntos. – Gale emendou na minha frase, parecendo não saber de nada o que acontecia.

Diferente de Madge, que tinha um olhar preocupado, que ia de Annabelle para Katniss algumas vezes.

— Andei ocupada. – Katniss respondeu, dando um sorrisinho nervoso. – Mas também senti a falta de vocês.

— Que lindinhos. – Delly disse parecendo não notar o clima tenso, tanto quanto Gale. Todos acabamos olhando pra ela. – Que foi? – questionou unindo levemente suas sobrancelhas, mas não esperou por resposta, voltando a falar em seguida. – Os outros convidados estão chegando. Vou mandar o DJ colocar música. O bar está liberado, menos para as grávidas. Temos comida no canto direito. A mesa de presentes está ali. – ela apontou para o canto direito, quase na entrada, onde tinha uma grande mesa já com alguns presentes. – E é só. Qualquer dúvida me procurem ou procurem a Katniss. – Delly nos deu as costas, e se afastou apressada, indo em direção aos garçons.

— Por que deveríamos procurar você? – Annie perguntou com certa curiosidade para a irmã, que já havia alcançado minha mão novamente.

Minha pequena a analisou, parecendo em dúvida se devia responder ou não. Apertei seus dedos levemente, tentando incentiva-la.

— Porque eu ajudei a arrumar. – Katniss finalmente respondeu, mas sem muita vontade, e virou a cabeça para me olhar. – Pronto para aproveitar a melhor festa da sua vida? – ela sorriu convencida pra mim.

— Cada dia que passa você se parece mais com o Peeta. – Madge comentou, fazendo nós dois rirmos.

— Ela me culpa por isso. – falei, ainda com os olhos em Katniss. – Mas estou pronto sim.

— Ótimo. – ela virou para olhar os outros. – Fiquem a vontade. Vou mostrar o resto do lugar para ele.

Katniss não esperou por resposta. Apenas saiu me puxando pela mão, já começando a falar sobre a decoração.

~||~

— Cadê a Katniss? – Finnick perguntou ao se aproximar de mim.

— Também estou querendo saber. – respondi, desistindo de olhar ao redor. – Acho que ela foi ajudar a Delly com alguma coisa. Não consegui ouvir direito.

Ele me analisou antes de me dar as costas, e alcançar duas garrafas de cerveja na bandeja de um dos garçons que transitavam. Finnick me estendeu uma das garrafas, enquanto já bebia o líquido da outra.

— Algo de errado com a festa? – perguntou, depois que peguei a garrafa de sua mão.

— Não. Achei legal. – respondi. – Só não esperava que ela fosse sumir tanto durante a noite. – emendei, bebendo um grande gole da cerveja gelada em seguida.

— Ela nunca foi de fazer festas. Chega a ser interessante saber que minha cunhada ajudou a elaborar tudo isso só pra você. – Finn disse olhando ao redor, e logo voltou seus olhos pra mim. – Não acha?

— Claro. – dei um sorriso de lado. – Katniss tem sido perfeita. Não posso nem pensar em reclamar. – voltei a beber minha cerveja, e fiquei em silêncio por alguns segundos, observando a movimentação dos convidados. – É que essa festa tem mais a cara da Delly, do que a dela. – decidi voltar a falar. – Katniss não combina com esse lugar. – ri silenciosamente, e balancei levemente a cabeça. – Mas ela não precisa saber disso. Estou feliz de qualquer forma. – voltei a olha-lo. – Como você disse, é interessante saber que ela fez isso tudo por mim.

— Esse é o ponto. – Finnick sorriu.

Ele ficou em silêncio por alguns segundos, tornando-se sério novamente, antes de finalmente voltar a falar.

— Ela se empenhou com isso, por causa da Annie, não foi? – perguntou.

Assenti com a cabeça, enquanto bebia um pouco da minha cerveja.

— Tenho certeza que sim. – respondi, abaixando a garrafa.

Finnick suspirou, dando mais um gole em sua cerveja em seguida.

— Eu disse para Annabelle que não era boa ideia virmos, mas você sabe como ela é. Delly ainda insistiu em confirmar nossa presença... – ele balançou a cabeça devagar. – O pior é que nem sei o que realmente aconteceu. Pela primeira vez, Annie decidiu não falar demais. – Finnick riu sem vontade.

— Parece que estamos igualmente sem informações. – falei, encarando minha garrafa.

— Pelo jeito sim. – ele disse, me fazendo olha-lo.

Finnick olhava ao redor, parecendo procurar alguma coisa.

— De qualquer forma, aproveite a festa. – ele voltou a me olhar. – Vou voltar para minha esposa. Se eu encontrar com a Katniss, digo que você está procurando por ela.

— Obrigado. – bebi um pouco da minha cerveja, enquanto Finn se afastava, misturando-se com as outras pessoas.

Eu estava parado quase na entrada, apenas observando tudo o que acontecia, e isso já fazia um bom tempo, por isso não pretendia me misturar. Não até encontrar Katniss novamente, naquela aglomeração de gente que eu mal sabia quem era.

— Achei que o aniversariante deveria participar da festa. – um sussurro desconhecido em meu ouvido, me obrigou a dar um passo pra frente, e virar meu corpo, em busca da dona da voz.

Cashmere sorriu quando recebeu meu olhar sobre ela, e me abraçou sem hesitar.

Retribui o abraço, sem graça com a situação, imaginando porque Katniss a convidaria, e como ela ficaria irritada ao ver essa cena.

Logo a soltei, afastando-me.

— Por que você parece surpreso com a minha presença? – questionou, ainda com um sorriso.

— Não sei bem... – franzi o cenho.

Cashmere riu e roubou a garrafa de cerveja da minha mão.

— Acho que é porque sua namorada não me convidou, certo? Tudo bem. Não estou chateada. – falou, bebendo o que sobrava em minha garrafa.

Arqueei as sobrancelhas, sem saber o que realmente dizer.

— Vamos procurar alguma bebida de verdade. – Cashmere disse, já procurando algo com os olhos. – Achei um garçom. Vem. – chamou, segurando a manga da minha jaqueta, e começou a me puxar por entre as pessoas.

— Eu acho que não é uma boa ideia. – falei em voz alta, ao notar que a música estava bem mais ensurdecedora do que na entrada.

— É só uma bebida. Katniss não vai se importar. – respondeu quase gritando.

— Acho que vai sim. – me desvencilhei dela, e parei de andar.

Cashmere virou para me olhar.

— Você nunca me deu bola. Não vai ser agora que isso vai mudar, Peeta. Katniss devia saber disso. – ela disse, alcançando um dos garçons. Cashmere depositou a garrafa vazia na bandeja, e pegou duas doses do que parecia vodca. – Feliz aniversário. – falou, estendendo uma bebida pra mim.

Respirei fundo, e encolhi os ombros, aceitando o pequeno copo de dose.

— Obrigado. – agradeci, virando o líquido de uma vez.

— Que surpresa agradável, Cashmere.

A música havia silenciado, talvez para começar outra, por isso ouvi claramente a voz suave de Katniss, o que me fez engasgar com o restante da bebida em minha boca, causando-me uma crise de tosse, e lágrimas em meus olhos, pelo ardume do álcool.

— Você está bem, querido? – perguntou, dando alguns tapinhas em minhas costas.

Pigarreei, antes de virar o rosto em direção a minha namorada. Ela parecia preocupada, com as sobrancelhas ligeiramente unidas.

— Sim. Claro. – respondi, voltando a tentar limpar a garganta.

Katniss apenas abriu um pequeno sorriso, e afastou sua mão de mim, direcionando seu olhar para Cashmere, que estava calada a minha frente.

— Você foi convidada? – minha pequena questionou em tom confuso.

— Não. – Cashmere respondeu. – Você deve ter esquecido. – ela sorriu pra Katniss.

— Talvez. Minha cabeça anda uma loucura. – minha namorada sorriu docemente em retorno. – Mas já que está aqui, fique à vontade. Preciso falar com o aniversariante. – senti a mão de Katniss alcançar a minha, e logo nossos dedos estavam entrelaçados. Sua outra mão pegou o copo de doses vazio de mim, e estendeu para Cashmere. – Aproveite o open bar. – ela piscou pra mulher, que mantinha um sorriso que não parecia muito sincero.

— Aproveitarei. – Cashmere respondeu, depois de pegar o copo da mão de Katniss.

Não tive tempo de me manifestar. Logo eu estava sendo puxado por entre os convidados, esbarrando em alguns deles.

— Por que você sempre fica com cara de culpado, quando está falando com ela?

A pergunta veio assim que Katniss nos trancou em um dos depósitos.

Pude ouvi-la se mover, enquanto me questionava. O cômodo clareou, quando alcancei o interruptor, me dando a visão do bico irritado da minha namorada, que havia cruzado seus braços, e parado a minha frente.

— Porque você não gosta dela, e eu não sei ser mal educado a ponto de fugir. – respondi com sinceridade. – Mas eu disse que você não ia gostar de vê-la aqui.

— Não gostar, não passa nem perto do que a presença da Cashmere significa pra mim nesse momento. – Katniss retrucou. – Beber com ela? Sério?

— Ela insistiu. E, afinal de contas, foi apenas uma dose. – estendi meus braços, e segurei sua cintura, trazendo seu corpo de encontro ao meu rapidamente. Seus braços permaneceram cruzados entre nós dois, mas não foi o suficiente para evitar que eu a abraçasse. – Não precisa ter ciúmes. Eu sou completamente seu. – a última frase saiu quase em um sussurro, enquanto minha testa encostava contra a dela, e meus olhos fixavam-se em minha pequena tempestade particular. – E você é completamente minha. – dei um sorriso torto.

Um resquício de sorriso apareceu em seus lábios volumosos, mas ela fez questão de fecha-lo em seguida.

— Não conte com isso. – Katniss respondeu, ainda com os braços cruzados.

— Essa doeu. – dramatizei, afastando meu corpo do dela.

Quando fiz menção de solta-la do abraço, seus braços descruzaram agilmente, e suas mãos alcançaram minha nuca, puxando-me para perto.

— Você não pode me soltar assim. – reclamou, voltando a encostar nossas testas. – Desculpa, mas a presença daquela... – Katniss suspirou, e fechou os olhos. – Você não faz ideia de como isso realmente me incomoda. – confessou, erguendo as pálpebras. – Chega a doer, quando a vejo perto de você.

— Da próxima vez que ela se aproximar, começarei a gritar seu nome. – disse em tom sério, mas Katniss rolou os olhos. – Não estou brincando. Não quero que nada machuque você, meu amor. Sinto muito por isso. – murmurei.

Katniss mordeu o lábio inferior, e analisou meu rosto, antes de colar nossos lábios em um ato quase desesperado. Não parei pra pensar em nada. Apenas correspondi da melhor maneira possível, apertando-a contra meu corpo.

— Meu batom tá borrado? – perguntou assim que se afastou de mim, algum tempo depois.

— Com certeza. – ri baixo, e ergui o braço para tentar limpar os borrões ao redor de seus lábios com as pontas dos dedos. – Até imagino como eu devo estar lindo com a boca toda cor de rosa. – dei um sorriso torto.

Katniss sorriu, e passou a me limpar também.

— O que está achando da festa? – perguntou assim que saímos do depósito, virando o rosto para me olhar.

— Ficará melhor se você não desgrudar de mim. – respondi, abraçando-a de lado.

Senti seu braço passar atrás das minhas costas, e sua mão se apoiou em minha cintura, enquanto o meu braço estava repousado sobre seus ombros.

— Não vou. – ela disse, enquanto eu curvava em sua direção, para beijar sua testa. – Não com a Cashmere por ai. – Katniss comentou em um murmúrio, olhando as pessoas a nossa frente.

Eu apenas ri baixo, e a apertei contra a lateral do meu corpo.

— Então aproveite essa oportunidade para me mostrar qual é a graça de comemorar meus vinte e nove anos. – a desafiei.

Ela ergueu os olhos em minha direção, com um sorriso travesso nos lábios.

— É pra já, senhor Mellark.