O Sol em meio à tempestade escrita por nsbenzo


Capítulo 44
Capítulo 43


Notas iniciais do capítulo

Voltei antes do previsto, então aproveitem kk
Boa leitura :*



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— Manoela? – foi o que consegui dizer, segundos depois de Annabelle.

Os olhos cinzentos, tão parecidos com os meus, me alcançaram. Um sorriso, que se assemelhava com culpa, surgiu em seus lábios.

O oxigênio parecia denso demais para entrar em meus pulmões, por isso eu fazia certo esforço para respirar.

— Katniss. – ela murmurou, apertando as alças de sua bolsa, que estava sendo segurada pelas duas mãos, em frente ao seu corpo. – Você está muito parecida comigo quando era jovem. – seu sorriso se alargou.

Eu a analisei por mais algum tempo, completamente em silêncio.

A mulher que eu costumava chamar de mãe quando pequena, estava parada ali, com roupas elegantes e um penteado impecável, a centímetros de mim, estudando-me parecendo maravilhada com o que via. Porém, ao invés de me sentir feliz com sua presença, as únicas coisas que passavam por minha cabeça eram no quanto eu havia sofrido com sua partida, em como ela havia nos deixado sem uma boa explicação, na forma que ela havia nos ignorado por tanto tempo, e como aquele sorriso culpado me parecia falso.

Um aperto foi dado em minha mão, trazendo-me de volta a realidade. Peeta tentava me acalmar, talvez por já notar meu verdadeiro estado de espírito.

— O que significa isso, Annabelle? – perguntei quase em um sussurro, olhando em direção a minha irmã.

Nenhum músculo meu havia reagido. Todo o meu corpo estava completamente paralisado, a não ser por meus olhos agitados, que buscavam uma boa explicação vinda de Annabelle. Porém seus olhos verdes deixavam claro que ela estava feliz demais com a presença de Manoela para me dar detalhes claros do que realmente estava acontecendo ali.

— Foi o que eu te expliquei. – ela murmurou vagamente, colocando-se de pé, e virou-se para olhar Manoela. – Achei que a senhora não viria.

— Já fugi demais de vocês. – a mulher respondeu, e a puxou para um abraço apertado. – Senti tanto a sua falta, Annie.

Eu acompanhei o movimento das duas, até vê-las abraçadas. Depois disso, voltei a olhar para frente, encarando fixamente o lugar onde Annabelle estava sentada momentos atrás.

Engoli com dificuldade a saliva, sentindo o choro entalado em minha garganta.

— Sinto muito pelo Jared. – pude ouvi-la falar baixo para minha irmã.

Abaixei a cabeça, sentindo meu coração batendo com força contra meu peito.

— Você está tremendo, pequena. – Peeta sussurrou em meu ouvido.

Ergui o rosto, e virei a cabeça para olha-lo.

— Eu... Eu quero... Eu quero ir embora daqui. – sussurrei de volta. – Por favor. Me leva embora, Peeta. – supliquei, tentando evitar que as lágrimas caíssem.

— Katniss. – a voz da mulher voltou a se direcionar a mim. – Posso abraçar você? – perguntou.

Um aperto tomou conta do meu peito, e eu fechei os olhos com a mesma força que eu segurava a mão de Peeta, prendendo a respiração.

— Katniss... – Manoela chamou.

— Por que você está aqui? – perguntei entre dentes de repente. – Por que agora? Por que decidiu deixar que Annie te encontrasse? – minhas pálpebras se ergueram, e eu acabei me colocando de pé, soltando a mão de Peeta. Virei-me para encarar Manoela, que parecia surpresa com minha reação, sem me importar com os olhares em nossa direção. – Foi por que meu pai morreu? O que a morte dele realmente significa pra você? – questionei com a voz levemente alterada, deixando meus olhos varrerem sua face. Ela não respondeu, mantendo apenas seus olhos em movimento, parecendo tentar me analisar melhor. – E não. Você não pode me abraçar. – decidi responder sua pergunta, fechando as mãos ao lado do corpo, tentando controlar as lágrimas que voltaram a se formar com mais densidade em meus olhos. – Eu nem conheço você, Manoela. – soltei um riso curto e sem humor, meneando a cabeça. – Eu não acredito que isso está acontecendo. – murmurei, sentindo como se meu corpo estivesse anestesiado. – Isso é um milhão de vezes pior do que um encontro duplo.

— Eu vou te levar pra casa, pequena. – a voz baixa de Peeta, veio acompanhada com seu toque em minha cintura.

— Você não pode leva-la. Nós três precisamos conversar. – Annie se manifestou, olhando meu namorado que estava parado atrás de mim.

O aperto em minha cintura se intensificou, e antes que eu pudesse responder minha irmã, Peeta voltou a falar, dessa vez mais alto do que falava comigo:

— Você acabou de sujar nosso primeiro dia dos namorados juntos, com essa merda toda. – sua voz transmitia o nervosismo que suas mãos demonstravam em seu toque. – Você quer um reencontro com a mãe de vocês? Ótimo. Acho legal. Se divirta, mas deixe a Katniss fora disso.

— Deixa-la fora disso? – Annabelle questionou franzindo o cenho.

— Exatamente. Você nem se quer perguntou se Katniss queria participar dessa palhaçada. – Peeta disse mais baixo, porém era nítido que ele tentava conter sua raiva. – Então, sim, eu vou leva-la embora daqui agora mesmo.

Manoela o observava de maneira curiosa.

— Acho que essa é uma decisão dela, não sua. – Manoela se dirigiu a ele.

— Peeta sabe sobre minhas decisões. – decidi me manifestar antes que Peeta se exaltasse de verdade, recebendo o olhar de Manoela sobre mim. – Mesmo que eu já tenha dito a ele que queria ir embora, eu tenho certeza de que não precisaria uma palavra se quer, para Peeta saber melhor do que ninguém aqui, como eu estou me sentindo agora. – virei o rosto para encarar minha irmã. – Ele sabe como você realmente acabou de ferrar com a minha noite.

— Achei que você quisesse revê-la. – Annie disse, parecendo ofendida.

— Pra quê? – indaguei nervosa. – Ela nos abandonou, sem nem dizer porque ou pra onde iria. Ela nos evitou durante todos esses anos, e misteriosamente decide permitir que você a encontre, pouco tempo depois do papai... – parei de falar, fechando os olhos, sentindo que eu não aguentaria mais segurar o choro. – Céus. Por que eu ainda estou aqui? – ergui as pálpebras, e olhei em direção a mesa, apenas para localizar minha bolsa de mão. – Vamos, Peeta. – falei, ao virar de frente pra ele.

Seus olhos pareciam faiscar, enquanto ele olhava por sobre meu ombro.

— Vamos. – sua voz soou firme, ainda sem olhar em minha direção. – Gostaria de acrescentar em meu discurso, que no momento, eu entendo sobre a história de não gostar da sogra.

Apesar de sentir uma pequena vontade de rir do comentário, eu estava devastada demais para isso. Eu apenas me deixei ser guiada por Peeta, depois que o mesmo entregou algum dinheiro para Finnick, que não parecia nada feliz com a situação, e que insistira em pagar o jantar. Porém, Peeta estava tão nervoso, que mal o ouviu, deixando o dinheiro sobre a mesa, e lhe deu as costas, indo em busca de nossos casacos, me arrastando pela mão.

 

~||~

 

— Eu não consigo entender. – Peeta disse.

Eu estava completamente calada desde que saímos do restaurante, apenas me concentrando em não chorar.

Meus olhos acompanhavam os movimentos de Peeta, desde que ele começou a andar de um lado para o outro em sua sala.

Movi meu corpo, até estar com as costas apoiadas na maciez do encosto do sofá, e agarrei uma almofada, colocando-a sobre meu colo. Suspirei, ao vê-lo embrenhar seus dedos nos cabelos do alto de sua cabeça.

— Chega, Peeta. – decidi me manifestar, o que o fez parar no mesmo instante para me olhar. – Você vai acabar enlouquecendo.

Ele abaixou a mão, e virou, ficando de frente pra mim.

— Como você não está enlouquecendo? – perguntou.

— Eu estou. – confessei. – Mas te ver com tanta raiva me preocupa.

Peeta respirou fundo, e andou até onde eu estava.

— Desculpa. – ele murmurou, agachando a minha frente. – É que... Isso é loucura demais. – suas mãos se apoiaram em meus joelhos. – E eu ainda estou furioso por terem deixado você naquele estado. – ele fechou os olhos, apertando-os com força. – Eu precisei me conter para não gritar com as duas. – Peeta abaixou a cabeça.

Mordi o canto esquerdo do meu lábio inferior, e me livrei da almofada. Curvei-me em direção a ele, e estendi o braço direito, até que minha mão tivesse alcançado o alto de sua cabeça. Comecei um carinho lento em seus fios de cabelo.

— Eu estou chateada, confusa, triste e com uma imensa vontade de chorar. – minhas palavras fizeram com que ele erguesse a cabeça, e me fitasse com seus olhos azuis, que ainda pareciam faiscar. – Acho que só não estou com raiva, porque você a tomou toda para si. – dei um meio sorriso, deslizando a mão pela lateral de sua cabeça, até tê-la espalmada em sua bochecha. Peeta esboçou um sorriso. – Obrigada por me proteger dessa maneira. – passei meu polegar embaixo de seu olho carinhosamente.

— Eu não te protegi de nada, Katniss. – ele murmurou, levantando-se apenas para sentar ao meu lado. – Eu pirei de raiva. Nem deixei você fazer isso. – Peeta deu um meio sorriso torto, suspirando em seguida. – Desculpa por me meter daquele jeito.

Encostei a cabeça em seu ombro, e segurei sua mão, entrelaçando nossos dedos.

— Não precisa se desculpar. – falei baixo. – Está tudo bem. – menti.

Eu não estava nada bem. Internamente, era como se uma bomba tivesse explodido, deixando tudo em ruínas. Cada parte do meu corpo doía intensamente, como se eu tivesse levado uma surra.

Minha mente havia entrado em um campo de batalha, entre me render ao choro e aos sentimentos intensos e doloridos que me consumiam aos poucos desde que saímos do restaurante, ou tentar focar o resto da noite em outra coisa, para evitar que Peeta continuasse com tanto ódio naqueles olhos que eu tanto amava.

— Eu sei que não está. – ele murmurou, apertando minha mão.

Pelo seu tom de voz, acabei decidindo o que fazer.

Com certeza, Peeta era minha prioridade.

— Quero deitar. – falei, apenas para ignorar sua última frase. Coloquei-me de pé, soltando-me de seu toque. – Deita. Quero deitar com você. – pedi, o observando.

Peeta me analisou, mas não demorou a se colocar deitado no sofá. Logo eu estava aconchegada ao seu lado, com a cabeça repousada em seu ombro, sentindo o conforto de seu braço, apertando-me contra a lateral de seu corpo.

— Não sei o que fazer para te ajudar, pequena. – ele murmurou um tempo depois, enquanto acariciava minhas costas.

— Você não precisa fazer nada. – respondi.

— Claro que preciso. – Peeta insistiu. – Quero te ver bem.

Tentei pensar em algo para distraí-lo, até que algo me veio nos pensamentos, causando um pequeno sorriso em mim.

— Você lembra da tempestade de hoje mais cedo? – perguntei. – Com o sol no meio das nuvens.

— Lembro sim. O que tem? – questionou.

Mordi o canto da boca, antes de voltar a falar, sabendo que aquela distração, no fundo, era a primeira vez que eu deixaria claro o quanto Peeta era essencial em minha vida.

— Você é o meu sol. – falei baixo, erguendo a cabeça para olha-lo.

Ele sorriu, parando sua mão na base da minha coluna.

— Como assim? – questionou curioso.

— Essa bagunça em minha vida não é de agora. Tudo sempre esteve ao ponto de me enlouquecer. Às vezes com meus trabalhos escolares que não davam certo em noventa por cento das vezes, ou com meus empregos de meio período, que sempre tinham um chefe para me explorar, ou com a doença do meu pai, que tirava meu sono na maioria das noites. – comecei a explicar. – Parece que tudo começou a dar errado, a partir do momento que Manoela foi embora. Era como se todos os meus dias não passassem de cinza, e mais cinza, mesmo tendo meu pai comigo na maior parte do tempo. – suspirei devagar. – Agora eu estava pensando e acabei chegando a essa analogia. Minha vida sempre foi como uma tempestade, porém agora eu tenho você, que é como o sol que se esforça para aparecer no meio do céu cinzento, para dar esperança de que em algum momento aquelas nuvens pesadas irão se dissipar. – meu rosto estava fervendo de vergonha, porém decidi finalizar. – Por isso não preciso que você faça coisa alguma. Sua presença, já é o suficiente para que todos os sentimentos ruins simplesmente desapareçam. Que eu tenha mais cor no meu céu nublado.

Peeta parecia surpreso com minha explicação, e acabou sorrindo quando parei de falar.

— Às vezes, quando olho em seus olhos, costumo pensar que eles quem são minha tempestade particular. – ele começou a falar, voltando a acariciar minhas costas. – Mas não da maneira que você enxerga uma tempestade. É simplesmente por eu amar como seus olhos são cinzas, e amar dias nublados para me enrolar no cobertor e dormir. – Peeta riu baixo, o que me fez rir com ele. – Mas se é assim que você me vê, é assim que continuarei tentando ser. – ele repousou seus lábios contra minha testa. – Seu sol particular. – sussurrou, afastando o rosto para me olhar. – E ainda tem a mordomia de se manter aquecida ao meu lado. – ele piscou pra mim, dando um sorriso torto.

Dei um meio sorriso, deixando meus olhos estudarem sua face lentamente.

— Você não cansa? – perguntei.

— Do quê? – Peeta questionou de volta.

— De cuidar de mim. – respondi, deslizando a mão devagar, até parar em sua cintura.

Ele voltou a sorrir, e negou devagar com a cabeça.

— Eu jamais me cansaria disso. – Peeta beijou meus lábios rapidamente, e afastou seu rosto em seguida para voltar a me olhar. – Quer ir para o quarto? – perguntou, tocando minha bochecha com a ponta dos dedos. – Talvez tentar dormir te ajude de alguma forma.

— Não quero sair daqui. – falei, aconchegando-me melhor contra seu corpo. – Eu... Só quero esquecer tudo. – fechei os olhos. Pude ouvi-lo suspirar, por isso decidi completar minha frase. – Quero focar meus pensamentos apenas em você. – soltei timidamente.

Senti seu braço me apertar, e não demorou nada para que eu sentisse o beijo singelo de Peeta contra meus cabelos.

— Tudo bem, meu amor. Como você quiser. – sua outra mão tocou minha cintura. – Eu só quero que você fique bem.

— Eu vou ficar, Peeta. – murmurei. – E você será culpado por isso. – eu disse, dando um pequeno sorriso.

— Essa culpa eu quero pra mim. – ele pareceu divertido ao falar, fazendo meu sorriso aumentar.

E então eu apenas me ajeitei melhor ao seu lado, decidida a não falar mais.

Algo ali, naquele momento, sentindo o corpo de Peeta tão perto do meu, ouvindo sua voz, sentindo seu perfume, fazia com que meu coração se sentisse em paz. Era como se todo meu corpo estivesse anestesiado, fazendo sumir até mesmo o choro que parecia estar entalado em minha garganta desde que viemos embora.

Por isso, essa noite, eu tentaria deixar de lado esse grande problema que Annabelle havia trazido de volta para Detroit, e realmente deixaria meus pensamentos descansarem em “meu sol em meio à tempestade”.


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Notas finais do capítulo

Beijos ♥