O Sol em meio à tempestade escrita por nsbenzo


Capítulo 38
Capítulo 37


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura *-*



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Meus olhos se abriram devagar, tentando se acostumar com a pouca claridade em meu quarto, enquanto eu sentia minha cabeça subir e descer pela respiração de Peeta que dormia ao meu lado. Como de costume, meu ouvido estava sobre seu peito, quase sobre seu coração, ouvindo o ritmo tranquilo e ritmado do mesmo.

Acabei abrindo um pequeno sorriso, e suspirei, me aconchegando melhor contra seu corpo. Era a primeira vez que dormíamos em minha cama, o que me fez notar como era desconfortável dormirmos apertados em meu sofá. Peeta nunca havia sugerido meu quarto, por alguns motivos que eu tinha em mente, porém na noite passada, eu mesma insisti, alegando começar a me incomodar com o frio da sala de estar, o que não era mentira, já que o inverno em Detroit era terrível.

— Você está pegando o costume feio de acordar e não me chamar. – a voz rouca de Peeta me fez erguer a cabeça e encostar o queixo em seu peito, dando um sorriso pra ele quando notei seu sorriso torto. – Bom dia, pequena. – ele beijou minha testa.

— Bom dia, grandão. – retruquei o apelido, sentindo seu corpo tremer com sua risada silenciosa. – Precisamos mesmo ir trabalhar? – resmunguei, voltando a colocar meu ouvido em seu peito. – Está tão aconchegante aqui. – sorri ao sentir seu braço me apertar.

— Precisamos. – Peeta respondeu. – Nosso recesso de inverno começará em alguns dias. Então poderemos ter duas semanas de descanso. – sua mão passou a acariciar a lateral do meu corpo. – Talvez possamos planejar alguma coisa nesse tempo.

— Tipo o quê? – perguntei curiosa, erguendo a cabeça para olha-lo.

— Podemos esquiar. – sugeriu, me fazendo rir. – Que foi? É legal.

— Eu vou me quebrar toda, então não, obrigada. Eu passo. – sentei na cama, empurrando o cobertor para longe. – Falando em planejar alguma coisa... Acabo de me lembrar que certo alguém me deve um encontro. – levantei, e virei para olha-lo. – Avise a esse alguém que talvez ele perca a namorada por não leva-la para jantar. – ergui uma sobrancelha.

Peeta levantou, com um sorriso torto nos lábios e caminhou até mim.

— Sempre soube que você queria ter um encontro comigo. – provocou, segurando minha cintura com as duas mãos. – Nós teremos um, pequena. E será perfeito. Vamos deixar para depois do Natal, tudo bem? Assim terei tempo de planejar tudo da maneira que você merece.

Senti minhas bochechas esquentarem.

— Era brincadeira. – escondi o rosto com as mangas cumpridas da blusa que eu havia roubado de Peeta há alguns dias.

Ouvi sua risada, e senti suas mãos me soltarem.

— Eu sei. – respondeu.

Deixei meus braços caírem ao lado do corpo, e antes que Peeta se afastasse, eu o segurei pela barra de sua camisa. Ele permitiu que eu o puxasse, até estar virado pra mim. Dei um passo em sua direção, ficando mais próxima dele.

— Bom dia. – repeti a frase, dessa vez em um sussurro, ficando na ponta dos pés, e selei nossos lábios.

— Bom dia. – Peeta riu baixo, passando seu nariz levemente no meu. – Vou fazer o café da manhã.

— Fico feliz por não precisar me preocupar com atrasos, tendo você aqui. – brinquei, quando ele me deu as costas.

Peeta virou para me olhar, e desceu seus olhos descaradamente por meu corpo, antes de voltar a caminhar para longe de mim.

— Fico feliz ao te ver de short curto no frio com a pele arrepiada. É simplesmente maravilhoso. – ele rebateu, saindo do quarto.

— Para com isso! – retruquei em voz alta, envergonhada, ouvindo-o rir alto do lado de fora.

 

~||~

 

— Como começaremos o recesso em alguns dias, aproveitarei para passar um pequeno trabalho sobre Componentes do Realismo. – comecei a falar, tendo a atenção imediata da turma do segundo ano. – Na página cento e três da apostila temos algumas referências sobre o assunto, mas por favor, não me venham com esse resumo na minha mesa. – peguei um giz branco na gaveta, e dei as costas para eles, começando a escrever no quadro. – Quero o trabalho com essa estrutura. – falei, enquanto escrevia as informações. – E devo lembrar que também não quero um trabalho copiado da internet. – avisei, virando-me para eles. – Vocês tanto mexeram comigo, por minha idade, mas esqueceram de pensar que a minha geração é muito próxima a de vocês, então eu sei usar um computador muito bem. O que me dará a vantagem de saber quem copiou da internet, e quem pesquisou e fez o seu próprio trabalho. – abri um pequeno sorriso, observando-os anotarem nos cadernos.

O sinal bateu, e rapidamente comecei a juntar minhas coisas.

— Vocês tem até dia vinte e um para me entregarem. – avisei. – Isso dá a vocês dois dias e meio. – falei, já andando até a porta.

Eu tinha ideia de que eu estava pegando pesado com a turma do segundo ano, mas de qualquer maneira, eu não sentia que devia recuar. Desde meu problema com Marvel a semanas atrás, as coisas começaram a se colocar no lugar, e finalmente eu conseguia construir um certo respeito vindo da parte deles.

Peeta ainda me ajudava com certas coisas, mas a maior parte das minhas ações começavam a vir de mim mesma. Minha coragem começava a tomar conta das minhas atitudes, e até então, eu não me arrependia de nada.

Meus passos eram rápidos por entre os alunos. Era hora do almoço, e eu sabia que Peeta estaria me esperando na sala dos professores para irmos comer. Apesar de passarmos tanto tempo juntos, era inevitável não sentir falta dele.

Abri a porta devagar, já com os olhos em movimento, buscando por Peeta, mas o que encontrei não me agradou nem um pouco.

— Esquiar parece legal. – Cashmere disse a ele, dando um sorriso. – Podia me dizer quando você vai. Nos encontraríamos lá.

Meu coração se contraiu, mas permaneci imóvel, observando a cena.

Peeta estava de costas para mim, porém eu conseguia ver bem Cashmere, que parecia perto demais.

— Atrapalho? – questionei, apertando os dois livros que eu carregava, contra meu peito.

Peeta virou rapidamente em minha direção, com um sorriso largo, que logo se desmanchou, parecendo perceber que eu não estava nada feliz.

— Nunca. – ele respondeu. – Cashmere perguntou se eu faria alguma coisa no recesso de fim de ano. Contei sobre a ideia de esquiar. – Peeta ficou de lado para enxerga-la também. – Estou tentando convencer a Katniss a ir comigo. – explicou para a mulher, que me olhava com certa atenção.

— Se ela não quiser ir, já sabe quem convidar. – Cashmere piscou pra ele.

— Sobre isso mesmo que eu queria falar com você, Peeta. Eu aceito ir com você. – falei, fazendo-o me olhar com o cenho franzido em confusão. – Quem sabe você não possa ir nas férias de verão? – me direcionei a Cashmere, com um pequeno sorriso nos lábios.

— No verão não dá pra esquiar. – ela ergueu uma sobrancelha.

— Ah. É verdade. – bati a mão direita levemente contra minha testa. – Que cabeça a minha. – balancei a cabeça devagar em negativa.

Passei pelos dois, para alcançar meu armário, e logo eu já havia me livrado dos meus pertences, permanecendo apenas com minha bolsa no ombro. Virei para ver Peeta, que já havia se afastado de Cashmere.

— Vamos almoçar? – perguntei a ele, que afirmou silenciosamente com a cabeça.

— Está me convidando também, Katniss? – Cashmere perguntou, fazendo-me olha-la.

— Hoje não. – sorri simpaticamente pra ela. – Amanhã Peeta tem um compromisso durante o almoço. Você pode se juntar a mim, se quiser. – a cumprimentei devagar com a cabeça, antes de caminhar em direção a saída da sala dos professores.

O caminho até o refeitório foi silencioso, e eu sabia que o que me impedia de falar era o quanto eu estava irritada.

Eu havia sido completamente dissimulada e até mesmo sarcástica com Cashmere, e eu tinha ideia do porque o sorriso de Peeta havia se desmanchado tão rápido ao me ver. Tinha quase certeza que eu estava com o famoso bico de irritação nos lábios, até decidir sorrir falsamente para a professora de Álgebra.

Depois de pegar minha bandeja, caminhei para a mesa que costumávamos sentar, e coloquei-me em meu banco. Diferente das outras vezes, Peeta sentou ao meu lado.

— Eu não sabia que você conseguia ser tão sarcástica. – disse em tom baixo. – Por que ficou irritada?

Não o olhei. Apenas puxei minha bandeja para perto, e alcancei os talheres descartáveis, pronta para começar a comer.

— Katniss. – Peeta chamou. Ouvi um suspiro pesado vindo de sua parte quando não o respondi, e me mantive atenta ao meu almoço. – Isso é ciúmes?

— Deveria ser? – eu finalmente o olhei. – Tenho motivos para ficar com ciúmes?

— Claro que não. – ele respondeu prontamente.

— Então não é ciúmes. – voltei a olhar para frente, levando um pouco de comida até minha boca.

— É o que então? – questionou.

— Coma, antes que esfrie. Você odeia comida gelada. – foi o que respondi.

— Não achei que soubesse tanto sobre mim. – Peeta pareceu sorrir enquanto falava, o que me obrigou a olha-lo novamente.

E ele realmente sorria. Um sorriso brilhante, sincero, que simplesmente me desarmou, fazendo-me até mesmo corar.

— Eu sei mais do que parece. – murmurei, desviando o olhar para meu prato.

— Vai me dizer porque está irritada? – insistiu.

— Não quero conversar sobre isso agora, Peeta. – respondi.

— Tudo bem. – ele disse em tom de derrota.

Ficamos em silêncio, enquanto comíamos.

— Vamos mesmo esquiar? – Peeta voltou a falar apenas depois que eu repousei meus talheres dentro do prato vazio, e segurei meu copo de suco com as duas mãos, levando o canudo até minha boca.

Virei a cabeça para olha-lo, depois de colocar o copo novamente sobre a mesa.

— Não sei. Talvez a Cashmere seja melhor do que eu nisso. – respondi.

— Céus. – ele jogou a cabeça pra trás, parecendo com vontade de rir, mas ele não o fez. – Isso realmente é ciúmes. – Peeta voltou a me olhar. – Não precisa disso, pequena. Eu não consigo ser mal educado, e tenho quase certeza de que Cashmere não faz por maldade. Ela só não tem ideia de que estamos juntos. – ele sussurrou a última frase.

Desviei os olhos pra frente.

— Você disse que na festa de Halloween, ela conseguiu perceber que você estava a fim de mim. – comentei.

— Isso não significa que você tenha me dado bola. – Peeta respondeu, me fazendo voltar a encara-lo. – Não há nada que diga que somos realmente um casal, Katniss. Eu continuo agindo como sempre agi com você. Não dá para adivinharem.

Ele não estava errado. Nada podia afirmar que éramos um casal, afinal de contas, nós vivíamos juntos, desde que cheguei ao colégio. Aos olhos das pessoas de fora, nada havia mudado, já que passamos um bom tempo negando que éramos um casal.

Eu estava passando por essa situação incomoda, e a culpa era minha, por simplesmente decidir esconder nosso relacionamento.

Peeta suspirou, chamando minha atenção para ele.

— Eu preciso ir. – falou já se colocando em pé.

— Ir pra onde? – questionei, unindo minhas sobrancelhas.

— Resolver algumas coisas com o Snow. – Peeta disse vagamente. – Hoje vou te levar embora, mas não vou poder ficar direto. Tenho que ir em casa.

Continuei com os olhos atentos nele, tentando ler sua expressão.

— Você vai... – hesitei. – Você... Você vai dormir por lá? – gaguejei, piscando devagar.

Seus olhos passearam lentamente por meu rosto, antes de Peeta se curvar em minha direção.

— O que te faz pensar que eu te deixaria dormir sozinha? – questionou quase em um sussurro, olhando em meus olhos.

— Muitas coisas me fazem pensar que você teria motivos pra isso. – respondi.

Ele balançou a cabeça devagar, e abriu um sorriso torto.

— Nada poderia me tirar de você. – continuou a falar no mesmo tom. – Nada, Katniss. – Peeta se aproximou um pouco mais, e beijou minha testa demoradamente. – Até depois. – falou ao se afastar.

— Até. – murmurei, vendo-o dar as costas e caminhar para longe de mim.

 

~||~

 

— E você está com medo de chateá-lo? – Madge perguntou.

— Acho que eu já o chateei. – respondi, soltando um suspiro. – Eu fiquei com ciúmes, e claro que tem cabimento, porque ele não precisava ficar tão perto dela. Mas ai eu me lembro que ele é um amor de pessoa com qualquer um, e eu esqueço parte da irritação que foi vê-lo falando com a Cashmere.

Minha amiga me analisou cuidadosamente.

— Você sabe que ele tem razão quando diz que não tem como ninguém adivinhar, certo? – decidiu falar, enquanto se servia com um pouco de suco de laranja. – Talvez seja a hora de você sair desse casulo de privacidade que você tanta presa. Eu tenho certeza que Peeta estava sendo sincero quando disse que nada o tiraria de você, mas você não pode viver com essa insegurança. Você já se sente assim naturalmente. Você precisa de certezas, e não de dúvidas. – ela argumentou, alcançando duas fatias de pão de forma. – Você sabe que o tem. Acho que os outros precisam saber o mesmo. Assim você se sentirá melhor.

— Como eu poderia me sentir melhor, expondo minha vida assim? – questionei, segurando minha caneca de café com as duas mãos.

— Você vai descobrir quando puder desfilar com aquele homem que é o seu namorado, de mãos dadas por ai. – Madge sorriu quando franzi o cenho. – Desculpa, mas vamos combinar né? – ela riu, enquanto eu negava levemente com a cabeça, com um sorriso quase tímido. – O caso é que quando vocês dois saírem por ai como um casal feliz, a tendência é mudar a visão das pessoas ao redor. E mudará a sua também. Com certeza você sairá por ai com um sorriso idiota no rosto, e com a famosa expressão de “ele é meu, vadias”.

— Eu não faria isso. – comentei vagamente, tentando imaginar a cena. – Tudo bem. Acho que eu faria.

Mad riu baixo.

— Mas eu... Vai ser tão ruim ter a atenção de todos no começo. Eu não estou pronta pra isso. – balancei a cabeça. – Peeta quer que passemos o Natal com a família dele novamente. Se formos como um casal agora... Eu... Eu acho que vou pirar, Mad.

— Ele disse que você conquistou rapidinho os Mellark. – ela mordeu o sanduiche que havia acabado de montar. – Deixa de bobeira. – falou de boca cheia.

— Eu não sei. – coloquei a caneca sobre a mesa.

— Pense que será apenas no começo toda essa atenção. As pessoas não vão se surpreender tanto assim. – Madge alcançou seu copo e bebeu um pouco de suco. – Vocês são Peeta e Katniss. Todo mundo já tinha notado que nasceram pra ficar juntos. O que vai surpreender, será o fato de finalmente vocês terem acordado pra vida.

— Madge. – resmunguei envergonhada.

— O quê? Vocês deviam ter notado no primeiro “oi”. Por favor. – ela repousou o copo e o sanduiche sobre a mesa, debruçando levemente em minha direção em seguida. – No segundo dia, que foi quando ele te mostrou a escola, você já estava apaixonada. Lembra da Annabelle te enchendo a paciência? E o Peeta também estava, jogando indiretas pra você.

— Eu não te contei sobre as indiretas. – franzi o cenho.

— Ele contou. – Madge sorriu. – O caso é que você precisa deixar de ser boba. – ela voltou a pegar seu sanduíche. – Você tem duas escolhas. Você pode escolher aguentar esse ciúmes ao ter que ver o Peeta falando com outras mulheres no colégio, sendo que todas pensam que ele ainda está solteiro, ou você pode escolher caminhar de mãos dadas com o seu namorado, deixando claro que ele não está mais na pista. – Mad mordeu o sanduiche. – No seu caso, eu escolheria a segunda opção. – disse de boca cheia novamente.

Suspirei.

— Eu vou pensar sobre isso, tudo bem? – falei, e a vi abrir a boca, parecendo pronta para retrucar. – Eu vou pensar, Madge. – a cortei. – Tem coisas que ainda não consegui mudar.

— Peeta não te forçou até agora, e não serei eu quem vai fazer isso. – ela sorriu brevemente. – Mas eu acho que você não vai aguentar muito essa história de ciúmes. – Madge voltou a dar atenção para o sanduiche.

— Eu tenho certeza de que não vou. – confessei. – E quando eu chegar no meu limite... Bom... – dei uma pausa, franzindo o cenho. – Eu nem sei qual é o meu limite.

— O que você seria capaz de fazer por ciúmes, Katniss? – Madge perguntou curiosa.

— Não faço ideia. Eu nunca cheguei nesse ponto. – uni levemente as sobrancelhas. – Sinceramente eu tenho medo de descobrir.

— Por quê? – indagou.

— Porque assim como não mudei em algumas coisas, mudei muito em outras. Não quero fazer um barraco por causa disso. – ri silenciosamente.

Mad gargalhou.

— Toda mulher merece fazer um barraco, pelo menos uma vez na vida. – ela piscou pra mim. – Vamos ver se você chegará nesse ponto.

— Espero mesmo que não.


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Notas finais do capítulo

Beijos ♥



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