O Sol em meio à tempestade escrita por nsbenzo


Capítulo 37
Capítulo 36


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas voltei.
O capítulo ta meio longo, porém achei merecido, então, boa leitura.



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— Por que decidiu vir embora tão cedo? – Gale perguntou ao entramos em meu apartamento.

O caminho da casa dos Hawthorne até o meu prédio, havia sido completamente silencioso.

Eu havia perdido completamente a vontade de falar, desde que uma das tias de Gale nos perguntou sobre casamento, e o mesmo desconversou de imediato. Em minha cabeça, tudo estava completamente virado no avesso. Ter meu namorado, fugindo do assunto “casamento” na cara dura, apenas acarretava mais incertezas em meus pensamentos confusos, que me levavam desde a uma possível rejeição quando Gale soubesse sobre minha gravidez, até um casamento por obrigação.

— Estou cansada. – respondi, jogando minha bolsa sobre o sofá.

— Minha mãe queria que ficássemos. Fazia tempo que não íamos lá. – comentou, caminhando em direção a cozinha.

— Eu já disse que estou cansada. – repeti ainda com a voz calma, retirando o sobretudo que aquecia meu corpo, e o despejei sobre a bolsa. – O que mais você queria que eu fizesse na casa dos seus pais? Queria que eu ficasse mais tempo ouvindo sua prima se gabar sobre o noivado perfeito? Ou que eu ficasse ouvindo sua tia dizer que um Hawthorne ama mulheres que sabem cozinhar, e que eu devia aprender? – Gale ergueu a cabeça, que estava praticamente enfiada em minha geladeira, para me olhar. – Ela nem sabe se eu sei cozinhar ou não. E afinal de contas, eu quem fiz a batata doce caramelizada. – disse, desabotoando minha blusa de botões. – Ou estava tão ruim assim?

— Eu não disse que estava. E nem ela. Eu acho. – Gale fechou a porta da geladeira, depois de finalmente alcançar a garrafa de água. – Eu só comentei o que minha mãe disse. Não precisa ficar nervosa, Mad.

Fechei os olhos, desistindo de abrir minha blusa, e suspirei.

— O que está acontecendo? Você anda estranha. – sua voz me fez perceber o quão perto ele já estava.

Ergui as pálpebras, enxergando Gale a minha frente.

— Estranha? – questionei, franzindo o cenho. – O que você quer dizer com isso?

— Que você está agindo de maneira estranha. – tentou se explicar. – Eu cheguei a pensar que fosse por culpa do estresse da faculdade, mas algo vem me dizendo que não tem muito a ver. – Gale continuou a falar. – Então pensei que fosse coisa da minha cabeça, e desisti de perguntar. Mas pela primeira vez, em mais de dois anos, você parece estar beirando a uma grande briga comigo. – seus olhos confusos, passavam por meu rosto. – Vai me dizer o que está acontecendo?

— Não está acontecendo nada. – respondi prontamente, juntando meu sobretudo e minha bolsa. – Já te disse que estou cansada. – dei a volta no sofá para não precisar passar por Gale. – Preciso dormir.

— Está me mandando embora? – ele perguntou.

Parei no meio do corredor, e respirei fundo, soltando todo o ar lentamente pelo nariz.

— Sim. Acho que é melhor para nós dois. – respondi. – Preciso de um tempo pra pensar em algumas coisas.

— Você tá terminando comigo? – voltou a questionar, e dessa vez sua voz havia se elevado, carregada de incredulidade.

Virei-me para olha-lo, podendo ver que Gale estava parado no mesmo lugar, com a face levemente retorcida em uma careta de raiva.

— Não, Gale. Só preciso ficar sozinha. – falei, mas ele não pareceu relaxar. – Nós conversaremos depois, tudo bem?

— Mas eu não consigo entender... Eu... – Gale continuou a me analisar com as sobrancelhas unidas, até que ele as arqueou, como se compreendesse algo. – Foi pelo papo de casamento?

Senti toda a tranquilidade que eu lutava para manter, simplesmente evaporar em questão de segundos.

— Apenas vá embora, Gale. – soltei a frase quase entre dentes. – Não me faça gritar com você.

Engoli com dificuldade o nó que havia se formado em minha garganta, ao ver seus olhos brilharem com lágrimas. Gale não disse mais nada. Apenas me olhou por mais um momento, antes de me dar as costas, e sair do apartamento apressadamente.

Eu mal senti as lágrimas se formarem em meus olhos, e elas já estavam caindo com fluidez por minhas bochechas. Fui em direção ao meu quarto, e joguei meu sobretudo e bolsa sobre a cama. Voltei a desabotoar minha blusa, e logo eu estava apenas de lingerie. Meus olhos chorosos alcançaram meu reflexo no espelho, e sem que eu percebesse, minhas mãos estavam sobre minha barriga, que ainda não aparecia tanto, mas que já atrapalhava minhas calças jeans de se fecharem.

Fechei os olhos com força, deixando minha mão direita sobre meu abdômen, enquanto eu subia a mão esquerda e agarrava meus fios de cabelo com os dedos, puxando-os levemente. Meu coração pesava no peito, impulsionando-me a derramar mais lágrimas pelos cantos dos olhos.

Katniss havia tentado me fazer enxergar que nem tudo estava perdido, mas quanto mais eu pensava, mais eu via que minha vida estava desmoronando, e eu não conseguia nem ao menos ter coragem de pedir ajuda ao homem que eu amava, por simplesmente me sentir amedrontada com sua reação.

Gale estava iniciando sua carreira na empresa de criação de softwares. Um filho, geraria despesas. Eu não tinha um emprego de verdade, e passaria a depender completamente de Gale em certo ponto, já que eu não podia contar com meus pais pra nada.

Eu estava completamente perdida, e não fazia ideia de como me encontrar.

Um forte enjoo, se alastrou subitamente por meu estomago, e precisei correr em direção ao banheiro.

Foi o tempo de me abaixar em direção ao vaso sanitário, para todo o jantar de Ação de Graças sair, dando-me mais enjoo, e um certo tremor pelo corpo.

Fazia pelo menos duas semanas que meu estomago vivia nesse contrito de não deixar nada parar nele em certo momento do dia, e eu já havia notado que meu corpo rejeitava muito mais algum alimento quando eu ficava nervosa, o que de certa forma, me deixava assustada.

Minha pele se arrepiou mais quando sentei-me no piso frio do banheiro, e as lágrimas voltaram aos meus olhos, caindo no segundo seguinte.

Um barulho na porta do apartamento, me deixou alarmada, mas minhas pernas estavam tremulas, a ponto de eu ter certeza de que elas não suportariam meu peso caso eu me colocasse de pé.

— Madge? – a voz de Katniss me fez olhar para o corredor, e logo ela apareceu em frente aos meus olhos. – O que aconteceu? – questionou, já entrando no banheiro, me fazendo notar a preocupação não só em sua voz, mas também em sua feição.

Não consegui responder. Eu ainda estava enjoada, e Katniss pareceu notar isso, pois deu descarga, e logo me ajudou a ficar de pé. Suas mãos estavam frias em minha pele exposta, mas não recusei sua ajuda.

— Você ia tomar banho, certo? – indagou, e eu apenas afirmei com a cabeça. – Consegue fazer isso? – voltei a afirmar. – Então tome seu banho. Estarei esperando lá fora, e então conversamos.

— Ok. – foi o que consegui dizer, assim que ela me soltou.

Katniss me estudou por alguns segundos, antes de se virar para sair do banheiro, fechando a porta atrás de si.

 

~||~

 

— Se sente melhor? – Katniss perguntou, me analisando.

Eu havia tomado meu banho, e estava aquecida com uma blusa de Gale e uma calça velha de moletom minha. Katniss acabou fazendo um chá, enquanto eu não voltava, e me esperou como prometeu.

— Eu não sei. – falei sinceramente, encarando o líquido em minha caneca. – Como soube que deveria vir aqui? – perguntei, erguendo os olhos na direção dela.

— Eu estava chegando com Peeta, quando Gale saiu daqui. Ele me pediu para ver se você estava bem. Disse que estava indo embora, mas não explicou nada. – Katniss cruzou os braços. – O que houve entre vocês?

Suspirei, bebendo um pouco do chá, que parecia acalmar meu estomago.

— Acho que... Eu meio que pedi um tempo para o Gale. – respondi.

— Como assim? – ela perguntou, parecendo confusa.

— Tipo... Quase terminei com ele. – expliquei, voltando a encarar minha caneca.

— Por quê? – sua voz ainda era neutra, o que não me surpreendia, já que Katniss dificilmente se alterava.

— Eu estava nervosa. – confessei. – Gale acabou fugindo do assunto, quando questionaram sobre casamento na casa dos pais dele. – dei um sorriso fraco, olhando em direção a Katniss. – Desde que conversamos no domingo, eu venho pensando sobre contar a ele. Mas depois de hoje, eu não sei.

— Como não sabe, Mad? Ele é o pai. Precisa saber. – ela sentou ao meu lado.

— Gale não parece planejar um casamento comigo. – apertei a caneca entre meus dedos. – Não quero que nosso bebê o obrigue a fazer isso.

Katniss não respondeu.

— Aquele dia em que eu, ele e Peeta fomos ao mercado, Peeta disse que ocuparia cada minuto do dia dele, pra te fazer sorrir, e que não queria nada em troca. – comecei a contar, o que a fez dar um sorriso tímido. – E vendo a forma que ele falava, eu tinha certeza de que ele te amava. – respirei fundo. – Logo depois, Gale disse que nunca tinha visto nada daquele jeito. Que nós nos amávamos, e que ele faria qualquer coisa por mim, mas que a forma que Peeta falava era estranho, mas bonito. – voltei a olhar minha caneca. – Não estou comparando os dois, mas eu não tenho mais essa certeza quando Gale diz que me ama. – senti as lágrimas voltarem a se formar em meus olhos, e meu nariz arder intensamente, anunciando o choro que estava pronto para se iniciar. – Eu já tive, mas agora... Tudo parece diferente e fora de lugar. Talvez seja a ausência dele, por culpa do trabalho, ou os hormônios da gravidez. É só que... – as lágrimas escorreram, e voltaram a molhar minhas bochechas. – Eu não me sinto mais segura em relação a nós dois. Menos ainda depois da cena na casa dos pais dele.

— Acho que é coisa da sua cabeça, Mad. – Katniss decidiu falar. – Você está se sentindo assim, pela gravidez inesperada, o que soma com o descontrole hormonal. – ela apoiou a mão em meu ombro. – Nós vamos ao médico na segunda, e você se sentirá mais tranquila. – Katniss deu um pequeno sorriso. – E não tome nenhuma decisão de cabeça quente. Não acho que o Gale tenha deixado de te amar, Madge. Vocês precisam conversar. Sobre vocês, e sobre o bebê. – abri a boca para retrucar, mas Katniss foi mais rápida. – Ele vai precisar saber, e tem que ser logo. Pense nisso. – sugeriu.

Afirmei com a cabeça silenciosamente.

— O enjoo passou? – questionou.

— Sim. – suspirei, e bebi um pouco do chá. – Você pode ir. Eu vou pra cama.

— Tudo bem. – Katniss sorrio brevemente. – Se precisar, você pode me chamar a qualquer hora. – ela levantou.

— Ok. Obrigada, Kat. – dei um pequeno sorriso.

 

~||~

 

— Você tem certeza disso? – Katniss perguntou em tom baixo.

Meus olhos pairavam em Gale, que não havia feito menção alguma de falar comigo desde que chegou, e batia um papo até que caloroso com Finnick, Annie e Peeta. Fazia quatro dias que não nos víamos, e nem ao menos nos falávamos. Obviamente eu sabia que a culpada disso, era eu. Eu havia mandado ele embora, sem uma explicação plausível, e prometi que conversaríamos, coisa que eu não fiz questão de insistir nos dias que se passaram.

Era segunda à noite. Todos estávamos reunidos mais uma vez no apartamento de Katniss, e dessa vez era por pedido meu. A visita ao médico, de algumas horas atrás tinha mudado muitas coisas em minha cabeça, pelo menos em relação a gravidez.

— Sim. Tenho. – respondi sem olha-la.

— Você sabe que fazer dessa forma pode piorar tudo, não sabe? – voltou a questionar.

Virei a cabeça em sua direção, e pude perceber a preocupação estampada em seu rosto. Deixei um pequeno sorriso surgir.

— Obrigada pela preocupação, Kat, mas eu quero fazer desse jeito. Depois eu resolvo os efeitos colaterais. – respondi.

— Do que vocês tanto falam? – Annabelle perguntou, nos chamando a atenção. Ela havia se aproximado de nós duas, que estávamos sentadas nos banquinhos ao redor do balcão de mármore. – Por que eu sinto que estou sendo excluída? – ela cruzou os braços.

— Porque meio que você está. – respondi de imediato, fazendo-a abrir a boca, parecendo pronta para reclamar. – Mas isso acabará agora. – a cortei, antes que ela falasse, soltando um suspiro. – Meninos. – chamei, e logo os três olhavam em nossa direção. – Eu preciso contar uma coisa.

— Pode falar. – Finnick que se manifestou cheio de curiosidade.

— Bom... – desci do banco, e abaixei os olhos, encarando meus próprios pés, soltando um longo suspiro antes de voltar a falar. – Há algumas horas eu estava em um consultório médico. – ergui a cabeça para voltar a encara-los, notando o olhar preocupado de Gale sobre mim. Pigarreei, olhando para Annabelle, tentando desviar meus pensamentos do quão louca eu estava sendo por decidir falar sobre o assunto sem falar com Gale primeiro. – Fiz alguns exames, e... – suspirei, fechando os olhos. – Eu estou grávida de quatorze semanas.

O silêncio tornou-se palpável nos segundos que se seguiram. Eu me mantive imóvel, com os olhos fechados, tentando me concentrar apenas em minha respiração, que estava quase se descontrolando.

— Parabéns! – ouvi a voz aguda de Annie, e logo fui abraçada. Abri os olhos, dando de cara com minha amiga, que parecia emocionada, o que me levou a dar um sorriso, e a retribuir o abraço. – Ai que lindo, Madge.

— Agora eu vejo que é. – falei baixo. – Obrigada, Ann.

— Mais um membro para o nosso grupo. – Finnick disse, e eu o olhei, notando seu sorriso. – Fará companhia ao futuro Odair.

— Ou futura. – Annie me soltou. Eu a olhei confusa. – Não estou grávida... – explicou. – Ainda. – Annabelle sorrio. – Mas decidi contar ao Finn minhas intenções.

— Que ótimo, Annie. – disse dando um sorriso sincero. – Fico feliz por vocês.

— E nós por você. – ela respondeu.

— Mad. – Katniss sussurrou, e eu virei o rosto em sua direção.

Seus olhos se movimentaram, fazendo-me seguir a direção que eles apontavam com os meus. Gale estava em pé, completamente imóvel, me encarando. Peeta tentava falar com ele, mas não havia nenhuma reação.

— Ele não sabia? – Annie questionou baixo.

Eu a olhei, e neguei com a cabeça.

— Você é maluca. – sussurrou. – Não é assim que se dá a notícia para o pai da criança. – Annabelle virou a cabeça para olha-lo, e logo voltou a me encarar. – Acho que ele está em estado de choque.

— Eu também fiquei quando descobri. – retruquei.

— Não deixa de ser loucura. – Annie me repreendeu, e eu acabei rolando os olhos da mesma maneira que ela e Katniss costumavam fazer.

— Agora já foi, Ann. – murmurei.

— Precisamos conversar, Madge. – a voz grave de Gale, fez meu estomago se contorcer.

Movi a cabeça, dando de cara com ele, que estava sério, parado quase ao meu lado.

Afirmei silenciosamente, e passei por Annie, indo em direção a saída do apartamento. Eu não o ouvia, mas sabia que Gale me seguiria, por isso caminhei até o meu próprio apartamento, e parei de andar apenas quando cheguei ao meio da minha sala. Ele entrou, e fechou a porta atrás de si, antes de me encarar.

— Você descobriu isso hoje? – questionou.

— Não. – disse com firmeza. – Descobri na noite em que Annie e Finnick brigaram por causa do acampamento.

Ele pareceu pensar, pois sua feição havia mudado.

— Isso já faz três semanas. – Gale falou em tom acusatório, deixando-me irritada. – Por que escondeu isso de mim?

— Porque eu me apavorei. – respondi sem paciência. – Porque nunca tocamos nesse assunto, em três anos de namoro. Nunca ao menos comentamos sobre casamento, Gale. E depois da Ação de Graças, notei que você nem ao menos parece pensar nisso. – soltei um risinho curto e sem humor. – As coisas mudaram entre a gente nos últimos meses. Só não sei porque, e nem a partir de que momento, mas mudaram. – passei as mãos em meu rosto, tentando me acalmar. – Eu sei as responsabilidades que um filho pode trazer, e até vê-lo naquele ultrassom, eu sentia que não estava nem um pouco pronta para tê-las. Mas ai eu ouvi seu coraçãozinho batendo, e apesar de ainda me sentir despreparada, eu decidi que vou dar tudo de mim por essa criança, você estando comigo ou não.

Sua feição endureceu, seus olhos estavam semicerrados, e seus lábios em linha reta.

— O que quer dizer com isso, Madge? – perguntou em voz baixa, como se tentasse se controlar.

— Que não quero que você faça nada por obrigação. – respondi. – Não quero que tenha responsabilidades, só porque você é o pai. Eu jamais me humilharia a ponto de pedir isso a você.

Gale passou a estudar meu rosto, completamente calado, e eu decidi parar de falar, ao sentir minha cabeça dolorida e notar que o jantar não tinha caído muito bem. Cruzei os braços, tentando disfarçar o incomodo em meu estomago, e mantive-me impassível, mesmo sentindo o choro preso em minha garganta ao vê-lo me dar as costas, e começar a caminhar em direção a porta.

— Se você vai embora, ao menos tenha a decência de avisar, pra eu não ficar esperando que você volte. – falei com a voz embargada, e uma ponta de irritação, soltando os braços ao lado do corpo.

Gale parou, segurando a maçaneta. Meu nariz ardia intensamente, e eu lutava contra as lágrimas que haviam se formado em meus olhos. Ele encostou a testa contra a porta, mas permaneceu calado.

— Anda, Gale! – exclamei, sentindo as primeiras lágrimas escorrerem.

Ele soltou a maçaneta, e socou a madeira em seguida. Meu coração acelerou pelo susto, e instintivamente, coloquei a mão sobre minha barriga. Continuei no mesmo lugar, tentando calar meu choro, que começava a me causar alguns soluços, enquanto as pontas dos meus dedos afagavam próximo ao meu umbigo.

Gale se virou devagar, e me fitou. Seus olhos desceram até onde minha mão estava, fazendo-me interromper a tentativa de acalmar a mim mesma, e ao bebê, que eu sabia que não estaria nada bem com essa situação. A feição de Gale começou a suavizar aos poucos, até ele soltar um longo suspiro, e decidir caminhar até onde eu estava. Ele parou antes de ficarmos perto demais, e encarou minha mão novamente, o que me fez abaixa-la.

— Eu estou muito irritado por você ter escondido algo assim. – sua voz saiu mais calma quando ele voltou a falar. – E mais ainda por achar que eu veria nosso bebê como uma simples obrigação. – Gale suspirou. – Eu sei que as coisas mudaram, e sei que tem a ver com meu trabalho, que me consome na maior parte do tempo, mas eu não te amo menos do que eu te amava a meses atrás. – ele deu um passo em minha direção, e eu não me movi. Apenas continuei a encara-lo, ainda com as lágrimas caindo descontroladamente dos meus olhos. – Na verdade, apesar de toda a falta de tempo, eu te amo mais do que eu amava antes.

— Você não precisa...

— Me deixe terminar. – ele pediu, interrompendo-me, e dando mais um passo em minha direção. – Eu desconversei sobre o assunto casamento, porque... – Gale respirou devagar. – Porque eu estava planejando fazer o pedido no ano novo. – confessou, me fazendo franzir o cenho. – Porém, depois da Ação de Graças, eu venho andado com isso, esperando você me chamar para ter a conversa que havia prometido. – sua mão alcançou o bolso de sua jaqueta, e devagar, ele puxou uma caixinha vermelha aveludada. – Você nem ao menos me deixou fazer a surpresa. – Gale sorrio brevemente, encarando a caixinha. – Eu faria o pedido à meia noite, quando os fogos começassem a estourar. – ele a abriu, revelando um anel dourado com uma pequena pedra. Meus olhos estavam cheios de lágrimas, e eu mal conseguia respirar. – Seria realmente uma surpresa, já que nunca havíamos falado sobre isso. – vi seu corpo balançar com um riso silencioso. Em seguida, ele ergueu os olhos para me olhar. – Mas agora não sei se devo fazê-lo. – subitamente sua feição se entristeceu, enquanto ele fechava a caixinha. – Você não parece nem um pouco segura sobre meus sentimentos por você, e eu não quero levar um “não”. Seria constrangedor.

Eu estava completamente atônita. Meu coração estava acelerado novamente, parecendo bater em meus ouvidos. Meus olhos estavam agitados, e eu não conseguia formular nenhuma frase coerente em minha cabeça.

Ele me pediria em casamento, antes mesmo de fazer ideia sobre a gravidez, e eu estava estragando tudo.

Um soluço escapou da minha boca, obrigando-me a tampa-la com a mão esquerda.

— Madge. – Gale chamou, parecendo preocupado. Permiti que meus olhos parassem em seu rosto, enquanto meu braço caía ao lado do corpo. – Você está se sentindo bem? – questionou.

— Eu quero casar com você. – falei de supetão, fazendo-o arquear as sobrancelhas. – É tudo o que eu mais quero, Gale. – as lágrimas voltaram a rolar por minhas bochechas com mais intensidade. – Então... Se sua vontade de casar comigo, for maior que sua irritação por minhas atitudes... Acho que você devia fazer o pedido, e me dar logo esse anel.

Gale acabou rindo, parecendo desacreditado, enquanto seus olhos brilhavam com lágrimas.

— Mas a gente estava brigando agora pouco. – comentou duvidoso.

— E daí? Podemos cancelar a briga. – retruquei, ouvindo-o rir, enquanto eu passava as mãos em meu rosto, para tentar seca-lo. – Ou você... Não quer mais? – indaguei, voltando a encara-lo.

Ele suspirou, e abriu um pequeno sorriso, antes de dar um passo pra trás, e se abaixar, apoiando o joelho direito no chão.

— A briga está cancelada? – questionei.

— O que você acha? – Gale retrucou, alargando seu sorriso. – Madge Undersee. – segurou minha mão esquerda, permitindo que algumas lágrimas escapassem de seus olhos. – Está tudo bagunçado. – ele riu, e eu acabei rindo baixo. – Mas a gente pode arrumar, se estivermos juntos. – afirmou. – Então... Mesmo sem fogos de artificio, ou coisas do gênero, e sendo um pedido completamente improvisado... – Gale soltou minha mão para voltar a abrir a caixinha vermelha. – Você ace...?

— Sim. – falei, cortando-o.

— Me deixe terminar. – reclamou. – Você ace...?

— Sim. – voltei a corta-lo, abrindo um sorriso.

— Madge. – resmungou, parecendo segurar a vontade de sorrir. – Você aceita casar comigo? – soltou com pressa.

— Sim! – exclamei, respondendo ao mesmo tempo em que ele terminava a frase.

Ele riu e negou com a cabeça. Gale retirou o anel da caixinha, para colocá-lo em meu anelar esquerdo. Assim que ele terminou de colocá-lo, eu o puxei pela lapela de sua jaqueta, fazendo-o levantar. Em seguida, choquei meus lábios contra os dele, já sentindo seus braços fortes me rodearem pela cintura.

— Que beijo mais salgado, Mad. – Gale brincou depois de interromper o beijo.

— Não reclame. – pressionei meus lábios novamente contra os dele e me afastei para olha-lo. – Desculpa por tudo isso. – minha voz saiu um pouco mais baixa.

— Tudo bem. – sua mão alcançou minha bochecha direita. – Vamos ter um bebê... Vamos nos casar... Não precisa se desculpar. – senti seu polegar passar carinhosamente abaixo do meu olho.

— Preciso, quando eu fui uma idiota por brigar com você, depois de te esconder a gravidez.

Gale sorrio.

— Você pode qualquer coisa. – ele disse baixo. – Você está grávida.

Sorri de volta, e balancei a cabeça.

— Não me faça acostumar com isso.

— Não vou conseguir me controlar. – Gale me apertou em seus braços. – Vamos contar para os outros?

— Amanhã. – subi a mão até alcançar a lateral de seu pescoço. – Hoje eu só quero ficar com você.


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Notas finais do capítulo

Beijos ♥



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