O Sol em meio à tempestade escrita por nsbenzo


Capítulo 23
Capítulo 22


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥



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— Quando Manoela foi embora, desestruturou a todos, de várias formas. Alguns anos depois meu pai ficou doente. Eu tinha dezessete anos. Eu e Annie já revezávamos horários para trabalhar e cuidar dele, enquanto espremíamos nosso tempo para encaixar os estudos na nossa vida corrida, que parecia apenas piorar. – Katniss falou depois de concluir sua história em detalhes. Seu rosto estava molhado por culpa das lágrimas, mas sua voz estava limpa, como se ela não notasse que chorava. – Quando Annabelle casou, restou apenas nós dois. Foi quando nos aproximamos mais ainda, e eu comecei a enlouquecer com os cuidados que eu precisava ter com ele. Meu pai tinha hipertensão, e seu coração já havia nos dado alguns sustos. Eu sempre culpei minha mãe, pois eu sabia que no fundo, ele ainda a amava, e sofria com o que ela havia causado. – Katniss pigarreou. – Ele cuidou de nós duas durante todos esses anos, mas com a nossa diferença de idade, eu precisei muito mais do meu pai, do que Annie precisou. Ela teve Manoela por perto em parte de sua adolescência, e por mais estranho que seja, Annie disse que recebeu bons conselhos na época. Apesar de amar meu pai e confiar nele mais do que em qualquer outra pessoa, foi difícil pra mim no começo, precisar compartilhar coisas de garota com ele, mas era necessário, considerando que Annabelle nunca respeitava minha privacidade. – ela suspirou. – Assim que percebi que apenas meu pai poderia me ajudar de verdade, a fase da adolescência, juventude, de descobertas, de acontecimentos e mudanças em minha vida e em mim mesma, passou a ser acompanhada por ele de perto, quando comecei a lhe contar tudo. Meu pai percebeu logo que eu precisava dele, por isso estava sempre pronto para me aconselhar, ao invés de agir apenas como um pai normal. Como foi no caso do Michael, que ele não me proibiu de namora-lo, mas quando eu me magoei, meu pai estava lá para me confortar e até pronto para mandar o Gale bater nele, coisa que não aconteceu. – Katniss esboçou um sorriso. – Ou quando meu cachorro morreu. Eu tinha dezesseis anos. Bailey nasceu com um problema, e mesmo assim eu a quis. Meu pai sabia que ela não duraria muito, porém nunca me contrariou. Por meses, ele me ajudou a cuidar dela. Quando Bailey se foi, ele não disse a famosa frase “eu avisei”. Meu pai apenas estava ali, pronto para me confortar, para me dizer que tudo ficaria bem, e que Bailey estava melhor daquele jeito. – um pequeno sorriso surgiu em seus lábios, porém Katniss se calou.

Eu não sabia se a sua fragilidade que estava fazendo com que ela me contasse tudo, ou se realmente começava a confiar em mim como uma pessoa que estaria presente sempre que ela precisasse, por isso, eu estava sentado na mesma posição, prestando atenção em cada palavra que saia de sua linda boca, tentando memorizar cada informação que Katniss me dava, como se minha vida dependesse daquilo.

Continuei a observa-la, notando seu olhar perdido em direção a parede que ficava atrás da televisão.        

— Pequena? – chamei, ao notar que ela não conseguia mais falar.

Seus olhos me encararam, e então eu notei que o choro que eu havia visto antes, era mais intenso do que eu pensava. Mesmo com a posição ruim em que estávamos, eu a puxei para perto, fazendo com que o coque frouxo em seus cabelos se desmanchasse, deixando sua cascata loira cair sobre suas costas. Eu a abracei com força, e Katniss logo se encolheu ao meu lado, aconchegando-se contra meu corpo.

— Eu sinto tanto a falta dele. – balbuciou com a voz falha.

Suspirei, me ajeitando no sofá, puxando-a comigo, até quase faze-la deitar em meu tronco. Seu ouvido havia parado sobre meu coração e eu podia sentir seus dedos finos apertando minha camisa. Meu braço estava ao redor de seus ombros, e minha mão acariciava delicadamente o braço dela. Seus joelhos encostavam na lateral da minha coxa, já que ela havia praticamente sentado sobre suas próprias pernas. Eu conseguia sentir seu corpo tremendo por culpa do choro, que também fazia escapar alguns soluços de sua boca.

Com minha mão livre, encontrei as mãos de Katniss. Segurei uma delas, e devagar entrelacei nossos dedos, sentindo de imediato seus dedos se fecharem contra o dorso da minha mão, apertando levemente.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, enquanto eu ainda acariciava seu braço, tentando acalma-la.

— Eu não tinha ideia sobre nada disso. – decidi falar quando seu corpo parou de tremer, e os soluços cessaram. – Mas compreendo cada lágrima que você está derramando, ou que derramou. Imagino como está doendo. – murmurei. – O Jared era demais. Em pouco tempo ele conseguiu ser um bom amigo pra mim. Conversamos mais do que você sabe. – confessei.

Ela se mexeu, erguendo a cabeça para me olhar, fazendo-me mover a minha também, para enxergar seu rosto. Seu ouvido agora havia encostado em meu ombro, e seus olhos, apesar de vermelhos, com a parte cinza parecendo um dia chuvoso, sorriram pra mim, assim como seus lábios, que deixaram o canto se erguer em um sorriso de lado.

— Além de falar com minha irmã pelas minhas costas, também falava com meu pai? – perguntou baixinho, usando a mão livre para secar seu rosto.

Acabei rindo com sua pergunta, e balancei a cabeça em negativa.

— Eu não falo com Annie. Mas confesso que falei algumas vezes com Jared, em sua ausência. – respondi, parando a caricia em seu braço.

— Vai me contar o que conversavam? – Katniss se ajeitou melhor no sofá, mas não saiu da posição em que estávamos.

— Prometo que no momento certo. – falei baixo, beijando sua testa.

Ela fechou os olhos, e abaixou a cabeça novamente.

— Eu confio em você. – respondeu, apertando minha mão.

Abri um sorriso bobo.

— Então você nunca conheceu um alce? – perguntei apreensivo.

Depois de mais de uma semana, pude ouvir sua risada sincera, e senti seu corpo tremer enquanto ela a soltava.

— Eu peguei raiva de alces. – Katniss voltou a erguer a cabeça para me olhar. – Exatamente por não conseguir conhece-los. Foi frustrante. – ela abaixou os olhos em direção a nossas mãos, e passou a usar o polegar para brincar com o meu. – Na verdade, desde que minha mãe foi embora, nós não tivemos a oportunidade de ir para o Canadá. – respondeu. – Como eu disse, nossa vida ficou corrida. Meu pai parou de trabalhar quando ficou doente. Tudo foi apenas acumulando.

— Então você não quer mais conhecer um alce? – insisti.

— Por quê? – perguntou parando de mexer com meu dedo para me olhar de novo.

— Porque se você disser que quer, eu vou te levar até um. – falei baixo, analisando seu rosto, esperando sua reação.

Katniss voltou a fechar os olhos, e deu um pequeno sorriso, soltando um longo suspiro.

— Acho que eu não mereço você em minha vida. – murmurou, abaixando a cabeça e voltou a encostar seu ouvido em meu peito.

— Eu não sou nem metade do que você merece, Katniss. – respondi, apertando-a levemente contra meu tronco. – Você merece tudo que traga brilho aos seus olhos cinzentos e encantadores, tudo que traga sorriso aos seus lindos lábios, tudo que agite o coração enorme que você tem, em euforia, tudo que te faça sentir viva, tudo que te faça bem.

Sua mão apertou a minha, antes que ela voltasse a me olhar. Seus olhos passearam por meu rosto lentamente, como se tentasse ler minha feição, e seu pescoço esticou devagar, até ficar há poucos centímetros de mim. Senti sua respiração quente em meu rosto, o que fez meu coração acelerar. Engoli em seco, sem pensar em me mexer. Katniss se moveu, deixando seu nariz quase tocar no meu.

— Katniss. – minha voz saiu quase em um sussurro. – Eu prometi que não te beijaria, mas você não está ajudando.

Ela não respondeu. Apenas permaneceu da mesma forma, me encarando. Sua respiração havia acelerado. Fechei os olhos, tentando focar em alguma coisa, mas eu sentia o cheiro de menta, que com certeza vinha da pasta de dente que ela havia usado, deixando-me mais nervoso.

— Desculpa. – murmurou, suspirando.

Abri os olhos quando senti que Katniss havia se afastado, soltando minha mão.

Em outras circunstâncias, eu deixaria que ela continuasse a se aproximar. Na realidade, eu até cortaria a distância pela metade, e a beijaria, sem me importar com o que eu havia prometido. Eu não costumava quebrar promessas, mas ter a mulher que eu amava, em meus braços, tão perto, com certeza me faria quebrar essa. Porém Katniss estava frágil, tanto mentalmente quanto fisicamente. Eu me sentiria mal se me aproveitasse desse momento.

— Não precisa se afastar tanto. – comentei, apertando-a contra meu tronco.

Ela soltou um risinho curto, voltando a encostar o ouvido sobre o meu peito.

— Quando vamos conhecer os alces? – perguntei.

Katniss hesitou por alguns segundos, antes de responder.

— Não sei. Quando? – ela ergueu os olhos.

— Quando você quiser, pequena. – dei um sorriso torto. – O que acha de convidar sua irmã e os outros? – perguntei.

Seus olhos passearam por meu rosto devagar, e em seguida ela afirmou com a cabeça.

— Acho que eles merecem né? – Katniss falou baixo, passando o indicador sobre meu peito, fazendo desenhos imaginários. – Eu devo ter deixado vocês todos malucos.

— Com certeza deixou. Hoje eu derrubaria sua porta, se você não abrisse. – confessei, fazendo-a sorrir.

— Exagerado. – murmurou.

— Claro que não. Eu não tinha ideia do que encontraria aqui. – falei baixo, sentindo meu corpo ficar tenso com o pensamento.

Como reflexo, apertei Katniss contra mim, e beijei seus cabelos.

— Nunca mais faça isso comigo. – pedi. – Eu preciso saber se você está bem, se possível a cada minuto.

Ela continuou a me encarar, e dessa vez não hesitou quando tocou os meus lábios com os dela. Quando pensei em dizer alguma coisa, pude vê-la fechar os olhos. Senti a ponta da sua língua passar timidamente entre meus lábios, fazendo-me estremecer.

Que se dane a razão.

Fechei os olhos, e deixei minha mão, que estava em seu braço, subir, se escondendo embaixo de seus cabelos e alcançando sua nuca, quando ela mesma aprofundou o beijo assim que cedi espaço. Sua mão saiu do meu peito, para alcançar a lateral do meu pescoço. Seu polegar se esticou, repousando em minha bochecha. Pude sentir quando seu corpo se moveu ao meu lado, tentando se aproximar um pouco mais.

Sua língua era delicada nos movimentos, assim como Katniss sempre era em tudo o que fazia. Delicada e doce. Deslizei a mão por suas costas devagar, deixando-a fazer o que quisesse. Eu não tinha problemas em não estar no controle. Não quando sentia que seus lábios pareciam terem sido feitos para se encaixar com os meus, tirando-me o foco de qualquer outra coisa, que não fosse sentir seu beijo quente. Minha mão parou na base da sua coluna, e eu me endireitei no sofá, sentindo meu coração bater desgovernado quando notei que Katniss havia ficado de joelhos ao meu lado.

Suas mãos seguraram meu rosto, enquanto ela ficava mais alta do que eu. Meu braço passou ao redor de sua cintura, e minha outra mão subia e descia devagar pela lateral de seu corpo.

Katniss interrompeu o beijo, não antes de morder levemente meu lábio inferior. Abri os olhos para enxerga-la, deixando minha mão cair sobre meu colo, mas mantive meu braço ao redor de sua cintura. Ela ainda estava de olhos fechados, e com as mãos em meu rosto, quando afastou o rosto do meu.

— Desculpa. Eu... Eu... – Katniss gaguejou, e então notei como suas bochechas estavam coradas. – Eu não deveria... – ela abaixou as mãos.

— Claro que deveria. – a interrompi, vendo seus olhos se abrirem. – Pode me beijar quantas vezes você quiser.

Katniss abriu um sorriso tímido e negou com a cabeça, voltando a sentar sobre suas pernas.

— É que você age tão preocupado comigo, eu não consegui... – ela se calou por alguns segundos. – Desculpa.

Eu não poderia me aproveitar de sua fragilidade, mas eu tinha certeza de que fora sua fragilidade a causadora do beijo que ela havia me dado.

— Para de se desculpar. – repeti sua frase de semanas atrás. – Eu não me importo. Pode me beijar de novo. Agora mesmo. – falei sincero, mas abri um sorriso torto.

Katniss corou um pouco mais, mas não respondeu.

— E se eu ajo com preocupação, é porque eu realmente me preocupo. – estendi a mão para tocar sua bochecha.

Ela sorrio, voltando a encostar a cabeça em meu ombro, sem olhar pra mim.

— Você vai embora? – perguntou minutos depois de silêncio. – Não quero ficar sozinha. – Katniss me olhou com certo desespero em seus olhos cinzentos.

Suspirei, apertando-a em meu braço.

— Você quer que eu fique? – questionei.

Seus olhos passearam por meu rosto, enquanto suas bochechas coravam.

— Quero. – sussurrou. – Na verdade, não quero que vá embora hoje. – falou deixando a timidez transparecer em sua voz, e desviou o olhar pra baixo.

Acabei sorrindo com seu constrangimento.

— Eu não iria. – confessei.

Katniss ergueu os olhos para mim.

— Vou em casa tomar um banho e eu já volto. – avisei, e a soltei devagar.

Ela se ajeitou no sofá, para que eu pudesse levantar, mas não deixou de me olhar, enquanto eu me colocava de pé.

— Você vai ficar amanhã também? – perguntou.

Sorri pra ela, antes de me curvar em sua direção.

— Se você quiser... – falei, beijando sua testa.

Katniss afirmou levemente com a cabeça, quando me afastei, deixando o canto direito de sua boca se erguer em um mínimo sorriso.

— Então eu fico. – dei um sorriso torto. – Aproveite para ligar para Annie e Gale. Eles estavam preocupados com você.

— Tudo bem. – murmurou. – Não demora. – ela falou quando alcancei a porta.

— Não me tranque pra fora. – rebati, virando a cabeça para olha-la.

Seu sorriso apareceu, um pouco mais aberto dessa vez.

Katniss realmente precisava de alguém para cuidar dela. Precisava de uma pessoa para trazer seu sorriso de volta. Precisava se sentir segura. Precisava de alguém para confiar. E algo me dizia que, talvez, eu fosse a pessoa certa pra isso.

Eu a amava. Amava como nunca pensei ser possível amar alguém. Amava a ponto de esquecer-me de tudo sobre mim ou sobre meu passado. Amava a ponto de ser capaz de largar qualquer coisa para estar ao lado de Katniss.

Com esse pensamento, eu fui para minha casa o mais rápido possível. Não queria passar muito tempo longe dela. Não queria e não conseguiria. Assim como seus olhos deixaram claro que ela precisava de mim, meu coração batia forte, dizendo-me que, apesar de toda a situação, eu também precisava dela.


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Notas finais do capítulo

Beijos ♥



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