O Sol em meio à tempestade escrita por nsbenzo


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Oioi gente
Boa leitura



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Dar aula era um sonho que eu tinha desde menina, e apesar do problema financeiro que tínhamos há anos, foi algo que minha família sempre me apoiou para concretiza-lo. Porém eu estava amedrontada demais para comemorar essa conquista.

Mais ainda pelo fato de estar falando há mais de meia hora sobre literatura e sua origem, e a classe toda parecer não estar no mesmo lugar que eu. Eu realmente não sabia como lidar com meus alunos, e eles não pareciam querer aprender a lidar comigo.

Suspirei ao ouvir o sinal avisando o término da aula, agradecendo mentalmente por poder sair daquela sala.

Eu não tinha certeza se era para minha sorte ou azar, mas eu só daria a primeira aula da segunda feira, o que me permitiria ir para casa mais cedo. Sorte por não ter que enfrentar outra turma no meu primeiro dia. Azar pelo fato de receber meu salário conforme a quantidade de aulas que eu daria.

Respirei fundo ao sentar no banco do motorista, jogando minhas coisas no banco de trás.

Eu me sentia péssima.

Agarrei no volante com força, encostando a testa sobre o mesmo com os olhos fechados.

Com certeza meu pai gostaria de ter detalhes sobre o meu dia, e eu não tinha certeza se gostaria de dizer a ele que cheguei a beirar o fracasso.

Duas batidas no vidro me fizeram erguer a cabeça e olhar para o lado, dando de cara com Cato, que sorria abertamente pra mim.

Franzi as sobrancelhas estranhando sua simpatia, mas decidi falar com ele.

Abri a janela com dificuldade, usando a manivela que vivia emperrada por culpa da velhice do carro.

— Já tá indo embora? – perguntou curvando-se ligeiramente em minha direção.

— Sim. Só tenho uma aula hoje. – respondi apreensiva.

— É uma pena, senhorita Everdeen. Eu queria te mostrar a escola. – Cato sorrio novamente, fazendo-me retribuir o sorriso.

— Quem sabe amanhã.

— Claro. Por que não? – ele manteve o sorriso em seus lábios. – Foi mal pelo pessoal hoje. Eu gostei da sua aula.

— Obrigada. – meu corpo pareceu relaxar instantaneamente ao ouvi-lo dizer aquilo. – Estava indo embora achando que fui horrível.

— É que você é muito delicada. As pessoas não acreditam que você possa ser uma professora má como tentou mostrar quando chegou. – comentou, e eu juro que senti minhas bochechas esquentarem. – Mas isso não te faz ser uma professora ruim. Com o tempo eles te respeitam.

Sorri pra ele, e olhei pra frente.

— Achei que você seria um dos que me traria problemas, apenas por me olhar daquele jeito quando te fiz ler o quadro. – disse sinceramente, ouvindo-o rir.

Voltei a olha-lo, notando que Cato havia se afastado do carro.

— Às vezes eu dou. – ele sorrio. – Mas não acho que você precise de mais um aluno para dar problemas, senhorita Everdeen.

— Realmente não preciso. – soltei um riso baixo. – Eu preciso ir, Cato. E acho que você deveria estar em outra aula agora. – falei colocando a chave no contato.

— Quem se importa com a outra aula? – pude vê-lo dar de ombros. – Tenha um bom dia.

Neguei com a cabeça, dando um pequeno sorriso.

— Você também. – dei a partida. – E vá assistir aula.

— A senhora quem manda. – Cato bateu continência pra mim, e ergueu a sobrancelha esquerda, dando um sorrisinho.

~||~

— Cheguei. – avisei fechando a porta com o calcanhar, fazendo-a bater, enquanto eu tentava equilibrar meus livros e a bolsa em meus braços. – Papai? – chamei.

Nosso pequeno apartamento estava silencioso, o que me causou um certo desespero.

Joguei tudo sobre o sofá, quase correndo em direção ao seu quarto, mas fui impedida de prosseguir ao esbarrar com força em alguém.

— Ai. – resmunguei apoiando a mão na parede do corredor para não cair.

— Calma, Catnip. – a voz de Gale me fez olhar pra cima.

Ele estava com as mãos estendidas pra frente como se estivesse pronto para me segurar se necessário fosse.

— O que faz aqui, Gale? – questionei me recompondo.

— Sua irmã me pediu pra dar uma olhada no tio Jared.

— Meu pai está bem? – tentei passar por ele, mas Gale me segurou pelos ombros.

Franzi as sobrancelhas encarando-o.

— Ele está dormindo, Catnip. – Gale suspirou, virou-me e começou a me guiar em direção a cozinha, empurrando-me pelos ombros. – Seu pai almoçou e tomou os remédios. Você sabe que ele sente sono depois de comer.

— Sim. Eu sei. – murmurei, encostando minha barriga contra o pequeno balcão da cozinha. – Mas ele está bem? – insisti na pergunta.

— Eu não mentiria pra você, Catnip. – Gale indicou a cadeira com a mão para que eu sentasse.

Fiz o que ele havia pedido, enquanto o mesmo abria a minha geladeira.

Gale era meu amigo de infância.

Desde que Annie casou, ele quem tem me ajudado a cuidar de meu pai sempre que possível. Seu trabalho em uma empresa de desenvolvimento de softwares consumia muito do seu tempo, por isso era raro vê-lo a luz do dia.

— Como foi seu primeiro dia? – perguntou tirando o papel filme de um prato que eu mesma havia preparado pela manhã antes de sair para trabalhar. – Era como você esperava? – Gale colocou o prato no micro-ondas e apertou alguns botões, ligando-o.

Suspirei derrotada.

— Foi vergonhoso. – passei a mão esquerda por meus cabelos, agarrando os fios com meus dedos. – Eu não devia dar ouvidos a Annie. – reclamei abaixando a mão e virando o rosto para olha-lo. – Segundo minhas “pesquisas” ... – fiz aspas com os dedos. – Apenas um aluno gostou da aula.

Gale riu virando para pegar algo mais na geladeira.

— Não acredito em suas pesquisas. – retrucou, dispondo uma jarra com suco, um copo e talheres sobre a mesa. – Quando estudávamos, eu me fingia de burro, só pra ouvir você explicando. – confessou, o que me fez corar.

— Você é ridículo. – resmunguei, levantando-me para lavar as mãos. – Eu devia ter desconfiado da sua burrice extrema para estudar, e de sua esperteza para tentar me beijar. – provoquei secando as mãos no pano pendurado na parede, tirando o prato do micro-ondas em seguida.

Gale riu novamente, enquanto eu me sentava para começar a comer.

— Quem não queria beijar você no ensino médio, Catnip? – indagou sentando-se a minha frente. – Você era o pacote perfeito. – ele sorrio deixando-me sem graça. – Cabelos loiros, olhos cinzentos, sorriso perfeito, riso delicado, bochechas coradas quando fica envergonhada, e uma simpatia sem igual, com todo mundo. Não importava se a pessoa era nerd ou popular, você tratava todo mundo com um lindo sorriso e boa educação.

— Você está exagerando. – falei bebendo um pouco do suco que ele mesmo havia servido enquanto falava. – Eu não era assim.

— Realmente não era. Você ainda é. – Gale riu. – Por isso acho impossível não terem gostado de você.

— Um dia eu te ligo durante a aula, e você tira suas próprias conclusões, assim como fiz com Annie. – respondi de boca cheia.

Ele negou com a cabeça dando um sorriso.

— Seu pai estava ansioso pra saber como você se saiu. – comentou. Abri um pequeno sorriso. – Então deixa que eu conto, assim não vai parecer tão terrível. – zombou.

— Claro, porque você só sabe falar o quão maravilhosa eu sou. – retruquei com sarcasmo, soltando um riso, que ele acompanhou de bom grado.

— Claro que é. Olha essa blusa de coruja. Não tem como não gostar de uma criança meiga como você. – provocou.

Semicerrei os olhos em sua direção.

— Deixe minha blusa em paz, Hawthorne. – ameacei, o que causou outra risada em Gale. Neguei com a cabeça devagar. – Já almoçou? – perguntei.

— Sim. Eu passei na...

— Oi, amores. – olhei em direção a porta do apartamento que havia sido aberta.

Madge carregava um lindo sorriso nos lábios, vindo em direção a cozinha.

— ... Mad. – Gale terminou a frase dando um sorriso e levantou-se para abraçar a namorada.

— Sim. Sou eu. Quem mais poderia ser? – ela questionou abraçando-o de volta, me fazendo rir.

Madge Undersee havia se mudado há quase três anos para o meu prédio, foi quando Gale a conheceu, e parou de tentar me beijar, por ter se apaixonando à primeira vista por minha vizinha.

Ela cursava medicina na Universidade de Wayne State e trabalhava meio período para se sustentar, por isso eu também achava estranho encontra-la a luz do dia.

— O que há com vocês dois? – perguntei repousando os talheres no prato vazio. – Não deviam estar trabalhando? – franzi o cenho, levando a louça suja até a pia.

— Eu estou em horário de almoço. – Gale se defendeu erguendo as mãos em rendição.

— E eu estou de folga. – Madge respondeu, beijando o peito de Gale e desenlaçando os braços de sua cintura. – Vim ver como está a mais nova professora.

Fiquei de costas para os dois, e respirei devagar, começando a lavar o que estava dentro da pia.

— Faça seu trabalho, Gale. – pedi, ouvindo-o rir.

— Ela foi maravilhosa, amor. Você sabe que a Katniss é a simpatia em pessoa. Todos amaram a aula. – falou teatralmente.

Madge riu parando ao meu lado.

— Ele está mentindo? – perguntou.

— É claro que sim, Mad. – murmurei enxaguando a louça que eu já havia ensaboado. – Diga a verdade agora. – pedi a ele.

— Ela disse que foi horrível e que apenas um aluno gostou. – disse com desdém. – É drama dela. – acusou.

Rolei os olhos secando as mãos.

— Não me encha a paciência, Hawthorne. – disse irritada.

— Ah, Kat. Desculpa, mas eu não acredito que você tenha sido tão ruim. – Madge falou se afastando.

Virei em direção a ela, estreitando os olhos, e fitando-a em seguida.

Mad guardava o suco, enquanto eu ainda a encarava.

— Vocês são chatos. Por isso se amam. – resolvi dizer indo até a sala.

Ouvi os risos baixos dos dois, mas decidi ignora-los.

— A coisa mais estranha do mundo é ver você irritada. – Madge comentou em voz alta.

Me joguei no espaço vazio do sofá, parando os olhos em minhas coisas que ainda estavam espalhadas no mesmo lugar.

— É estranho me sentir assim. – respondi respirando fundo. – Eles acharam que eu era uma das alunas. – falei por fim, ouvindo os dois rirem. – Parem com isso. – resmunguei. – Eu só tenho estatura de uma aluna.

— E cara também. – Gale disse vindo até a sala. Abri a boca para responde-lo, mas ele foi mais rápido. – Isso é um elogio, Catnip. – ele sentou na poltrona do meu pai.

— Já pensou em mudar o visual? – Madge sentou no braço da poltrona, e Gale passou o braço por trás dela. – Tipo cortar o cabelo, mudar as roupas.

— Já, e não quero. – falei mal humorada. – Eu tenho vinte e dois anos e vou continuar a aparentar isso até quando eu conseguir.

Madge sorrio pra mim.

— Tudo bem. Não está mais aqui quem falou.

Suspirei recostando-me no sofá.

— Desculpa. – murmurei. – Eu só preciso me adaptar.

— Você consegue, Catnip. Nós acreditamos em você. – Gale afirmou.

Eu os olhei e acabei sorrindo.

Madge mexia distraidamente nos cabelos castanhos de Gale com um sorriso bobo nos lábios.

— Quanto amor. – provoquei, fazendo-a me olhar.

— Não faz ideia do quanto.

— Posso imaginar. – eles sorriram um para o outro, deixando-me com uma pontinha de inveja.


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Notas finais do capítulo

Beijos ♥



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