A noite anterior foi marcada por inúmeras tragédias na cidade do Corsário, um armazém explodiu vitimando duas gangues de criminosos, seis foram espancados em um beco e o foragido Santana foi morto a sangue frio. E tudo está ligado a um misterioso assassino. Agora um novo jogador entrou no tabuleiro: A Caveira Que Ri.

Casa de Santana, meia hora depois do ataque do Vigilante

Os homens jaziam todos mortos, um último implorava:

— Por favor senhor, não faça isso, eu sei que falhei, mas... — O tiro veio antes do termino da frase.

— Porque acabou com os rapazes, chefe?

— Porque eles sabem demais e foram incapazes de proteger meu irmão, daquele vigilante... Quem é aquele desgraçado?

— Não sabemos senhor, existem especulações, mas...

— Trate de descobrir! — gritou o intangível em fúria e amargura — Aquele desgraçado tirou meu irmão de mim, e vou fazê-lo pagar.

— Chefe a câmera está funcionando. — disse um dos seus homens, Paulo teve um breve sorriso no rosto.

— Passe para o delegado, diga a ele que quero todos buscando por esse assassino...

2:31 - Casa de Elisa

— Elisa, leve Vanessa para seu quarto. — disse Marcos, enquanto se sentava no Sofá e tentava processar tudo, a reportagem anterior e agora a recente filmagem do vigilante assassinando Santana. Após ter deixado Vanessa na cama, Elisa foi ver Marcos, que ainda estava sentado no sofá, testemunhando tudo:

— Oficialmente, estamos considerando que o novo vigilante, foi responsável não apenas pela explosão, mas pelo espancamento anteontem e nessa mesma noite contra três traficantes, além de ter promovido a chacina contra Santana e eliminado todos aqueles que estavam com ele. — disse o Delegado — Se tiver visto esse homem, notifique a polícia.

Notando sua presença ali, ele indagou preocupado:

— Como está Vanessa?

— Está bem, disse a ela que era um filme de terror. — Em seguida perguntou:

— Você não está pensando em ir atrás dele? — indagou ela, já conhecendo a resposta.

— É exatamente isso que vou fazer. — respondeu Marcos, se levantando do sofá. — Eu comecei algo, e isso o atraiu, de certo modo a culpa é minha.

— Você já fez o melhor por essa cidade, salvou vidas e prendeu criminosos, eu tenho orgulho de você e sua filha também, não precisa fazer isso.

— Nossa filha — Fez uma pausa. Olhou para a barriga de Elisa. — Nossos filhos precisam de um lugar seguro em que possa crescer e vou fazer a minha parte para que isso aconteça. Não se preocupe, não vou ficar muito tempo fora, só vou fazer uma batida hoje.

Elisa abraçou Marcos pedindo:

— Se cuide.

— Não tenho nenhuma pretensão de voltar em um caixão — brincou ele, beijando-a na testa.

Marcos vestiu seu traje, entrou em seu carro e começou a sua batida passando por diversos pontos da cidade, silenciosa, mais do que o comum, apesar disso havia alguns elementos nas ruas, mas não estavam fazendo o habitual, só observavam.

O que Marcos não desconfiava, era que alguns desses elementos trabalhavam para o Intangível, O novo chefão do crime em ascensão, mas melhor ainda um assassino aprimorado, com a habilidade de ficar intangível, talvez ele fosse pior que o assassino misterioso.

Acontece que o Intangível nutria um grande ódio pelo Temerário, pois foi ele  quem fez um experimento centopeia em seu irmão mais velho Santana, além de ser responsável por sua prisão, e consideravelmente prejudicial aos negócios. E nesta noite estava a caça do Temerário, posicionando seus homens em pontos estratégicos da cidade, não para matá-lo ou emboscá-lo, mas para rastreá-lo.

Marcos fez sua batida, normalmente, desceu a porrada em alguns criminosos, procurou informações a respeito do Vigilante, mas perto das três da manhã, a Caveira decidiu descansar e se dirigiu a sua casa.

— Acho que é ele — disse um dos observadores.

— Não temos certeza. — retrucou o outro.

— Se estivermos errados não haverá problemas, mas imagine se estivermos certos? Intangível certamente nos recompensaria com uma fortuna.

— Tudo bem. — concordou o outro — Alfa11 – Acredito que temos o alvo, é um Opala preto, sem janelas, está indo pelo Sul, perto do mercado São Luís.

Poucos minutos depois, veio um motoqueiro, trajando roupas de couro, ele passou perto do carro de Marcos e rapidamente, plantou um rastreador e  continuou seu caminho. Marcos estava cansado e frustrado, logo não prestou atenção no motoqueiro, só queria abraçar sua esposa e beijar a testa de sua filha. Além de checar informações adicionais.

Funerária São Jorge, 4:16

Paulo estava sentado ao lado do corpo do seu irmão Santana, estava sozinho, afinal não possuíam parentes, Santana cuidou dele desde pequeno, o defendeu e possibilitou que ele fosse apresentado aos grandes e ter a chance de ser um assassino profissional, se juntando a uma organização, mas Paulo nunca teve a chance de retribuir e agora jamais teria, tudo graças ao Temerário e ao Soldado Fantasma.

— Prometo a você irmão, vou acabar com esses desgraçados que te arruinaram, depois que tiver destruindo tudo o que amam, vou torturá-los e deixá-los morrerem aos poucos, assim como fizeram com você. — alisou as mechas negras do irmão, segurando o choro.

Nisso um dos comparsas do Intangível se aproximou dizendo:

— Chefe, temos a localização da Caveira.

Intangível se levantou e exibiu um largo sorriso:

— Tem sua identidade?

— Não ainda senhor. — disse o mensageiro. — Os homens estão na área fazendo o reconhecimento, não temos muitas informações.

— Escute Diogo, mantenha isso com o mínimo de homens informados sobre isso, aquele infeliz é meu e somente meu, seria muito ruim se alguém, o tirasse de mim, então, depois de o identificarem, traga os que sabem a mim, vou recompensá-los e os despachar para longe.

— Sim senhor.

12:23

— Temos sua identidade senhor, seu nome é Marcos, ele era um lutador famoso.

— Tem família?

— Sim, sua esposa se chama Elisa e sua filha Vanessa, ele tem uma academia, onde ensina alguns jovens.

— Perfeito, infiltre um dos nossos lá, quero mais informações, mas não lhe dê os detalhes, só quero que ele se passe por um novo aluno. Tem alguma informação a respeito do assassino?

— Não senhor, ele é um fantasma, alguns homens acreditam que até saiu da cidade.

— Maldito, ele não vai me escapar...

— Diogo, ocorreu-me uma ideia...

— Espalhe nas ruas que haverá um grande evento criminoso na fábrica abandonada perto do rio, diga que os grandes se reuniram lá para discutir sobre nossos vigilantes, conhecendo nosso assassino, ele virá.

— Tudo bem senhor. — Quando o mensageiro ia saindo intangível, disse:

— E não se esqueça de chamar aqueles que sabem da localização, tenho que recompensá-los.

16:08

Enquanto isso um rapaz cansado voltava do trabalho, seu nome verdadeiro, ele resolvera descartar, para não expor sua família, mas graças a sua mudança fisiológica, se tornou quase irreconhecível. Em compensação tudo o que ele sonhou como uma vida pacata, ao lado de quem amava e admirava.

Isso lhe foi tirado, junto com a fé e o orgulho em si mesmo. Agora estava sozinho, apenas com um objetivo que certamente o levaria mais cedo ou mais tarde para o túmulo.

Mas se ele perdeu tudo o que possuía ganhou outras coisas, como força, velocidade e reflexos aprimorados, sua resistência a doenças e a toxinas também aumentara. Entretanto, não ficava bêbado e tinha que se alimentar mais já que seu metabolismo para se sustentar queimava mais rápido. Contudo não era apenas isso, Ele era formado em quase todo o tipo de combate, armado, desarmado e podia abrir brechas no espaço, por onde poderia assassinar ou escapar.

Em sua nova vida ele se chama James, como não possui histórico algum, jamais conseguiu um emprego satisfatório desde seu retorno, tendo que se contentar com pequenos bicos e vivendo uma vida miserável, até o dia que viu uma garotinha morrer. Ele decidiu que não importava como, mas faria sua parte, retomando sua sombria e antiga alcunha de Soldado Fantasma.

Ao voltar para casa ele ligou a Tv e enquanto tomava seu café, uma entrevista passava:

— Como se sente sabendo que o vigilante matou seu marido, senhorita Ana?

A mulher morena por sua vez tinha a voz falha:

— Flavio, cometeu muitos erros, mas ele não merecia isso, nenhum daqueles homens merecia isso... Eu só tenho uma pergunta para você assassino.

— Está feliz com isso? — disse ela entre lágrimas. — Valeu a pena? Quantas crianças você deixou órfãs ontem? Você pensou nelas?

James abaixou o rosto, ele não fez isso, mas podia ter feito, bastou muito pouco para chegar a isso, foi ao banheiro e colocou molhou o rosto, em seguida viu um espectro do passado, mergulhado em uma aura perversa:

— Você é uma vergonha para tudo o que já representou.

— Eu sei. — falou James caindo de joelhos e colocando as mãos sob a cabeça enquanto tentava organizar os pensamentos e memórias confusas de uma outra vida. — Eu só queria consertar as coisas... queria... entender.

Ao mesmo tempo 16:28, Marcos’s Fight Academy

Marcos acabara de ver a entrevista e sentia um ódio ardente do assassino. Era verdade, quantas vidas foram destruídas? Quantas crianças foram atingidas por aquele homem? Ele devia pagar... Ia pagar!

— Meu nome é Thomas, senhor. — disse um jovem se apresentando — Quero ser seu aprendiz. – isso até uma rasteira caindo no tatame.

— Tira os sapatos dos teus pés, o lugar onde pisas é sagrado. — disse Marcos, fazendo Thomas olhar desconfiado. — Sim, precisava disso tudo. Agora vá e faça sua inscrição como qualquer outro, estrela. — Marcos, foi orientar outro aluno, Thomas por sua vez ligou o celular e efetuou a ligação:

— Estou dentro. O cara é completamente louco.

— Quando ele fechar a academia, quero que arrombe a casa dele e veja o que há lá.

— Sim, senhor. — disse o rapaz.

Neste dia, no entanto Marcos fechou a academia mais cedo, e foi para a casa, já que não conseguira informações sobre o vigilante, analisaria a fita e descobriria os segredos que seu adversário escondia. Dando ao seu aluno, a possibilidade de arrombar sua casa e descobrir seus segredos.

— Ao que parece o senhor Marcos possui um arsenal completo aqui. – disse o Infiltrado — E há outras roupas de Caveira aqui. — disse o rapaz, enquanto analisava o guarda roupa.

— Perfeito. Não toque em nada. — respondeu Paulo — Agora saia daí e venha receber sua recompensa. — Ao redor de Paulo, jaziam os corpos de todos os que sabiam a identidade do Temerário.

6:19

Bom esse cara é sem dúvida nenhuma, rápido e brutal. Pensou Marcos, enquanto via a fita que a polícia divulgara — E seu poder é bem assustador, será que é um corrompido? Vítima de experiências? Como alguém como ele nunca foi flagrado antes? O que te leva a fazer isso? Não, tenho que me concentrar... Ele poderia me fatiar ao meio. Foi uma grande ideia do Matheus, usar o gás sonífero, pode não o deixar adormecido, mas vai deixá-lo mais lerdo... A roupa pelo visto é indestrutível já que mesmo a munição perfurante não fez estrago algum, mas analisando quadro-a-quadro e com imagem ampliada, o metal parece maleável. Ele vai sentir os golpes.

Esse poder... ele poderia, assim que me visse, enfiar uma faca na minha garganta. Mas se ele pode se teletransportar por que caralhos usou uma porta para entrar? Espere, em momento nenhum ele usou seu poder atrás de si? Talvez só possa fazer isso para lugares onde vê. Bem, se eu deixar a fumaça do gás do sono mais densa, isso diminuiria sua visibilidade para quase zero... A força sem dúvida é maior, mesmo com os efeitos do sonífero, acho que fortificar o meu traje para o dobro de aramida foi uma boa ideia...

Depois de refletir um pouco, ele foi até Elisa e disse:

— Sei como pará-lo.

— E se isso não for o bastante? — indagou Elisa — Eu vi a gravação, você não tem como lutar contra aquele monstro, ele vai estraçalhá-lo.

— Olá?! Cadê aquele “vai Marcão”? Um pouco de torcida ajuda. 

Elisa era inconsolável:

— Os nossos juramentos de casamento não valem mais.

— Eu sei, estamos separados judicialmente. — disse de cabeça baixa.

— Talvez você tenha conseguido nos papéis, mas de verdade nem a morte tem forças pra separar a gente. — falou Marcos, levantando a cabeça de Elisa e beijando-a. — Querida, sei o que estou fazendo. É arriscado, mas se eu deixar, quantos mais pagaram o preço? Quantas crianças ficaram sem pai e quantos inocentes poderão pagar o preço? Sabe que não posso deixar isso acontecer.

Os dois se abraçaram e se beijaram intensamente, em seguida, Marcos foi até o quarto da filha:

— Papai vai ter que sair, cuide da mamãe por mim. — disse Marcos brincalhão.

— Pode deixar papai. — disse ela, ele se agachou e ambos se abraçaram ternamente, em seguida Marcos, saiu da casa, pegou seu carro e foi em direção a sua outra casa. Enquanto do lado oposto da rua, um homem saia do carro e se dirigia a casa de Marcos. Ele atravessou a porta da frente, Elisa estava lavando a louça quando ele apareceu, ela gritou.

— Q-quem é-é -você?

— Não te importa.

— S-sai daqui ou c-chamarei a polícia. — avisou ela.

— Não se quiser que sua filha viva. — disse o Intangível sorrindo perversamente — Vocês virão comigo de boa vontade, ou arrancarei a espinha de ambas. Como vai ser?

Ela assentiu tristemente, enquanto ele avançava em sua direção.