Eyes On Fire escrita por Brê Milk


Capítulo 7
Chapter 6: O esquecimento


Notas iniciais do capítulo

I'm sorry you saw me breaking
But stay with me don't stray
God, I wish you would hold me closely
Don't think I don't feel the same

- Fragile (Gnash feat. Wrenn)



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Brooke Evern

 

O piso era frio em contato com sua pele. Suas pernas estavam encolhidas contra o peito, o rosto escondido entre elas, a respiração falhando. O sentimento de culpa estava lá, presente como as garras de um monstro repuxando suas entranhas, deixando seu corpo oco. A tampa do vaso estava levantada, e ela ainda podia ouvir o som da água pingando na descarga. Fizera de novo. Voltara a fazer. Fora fraca. Tudo estava voltando.
 As lembranças vinham e iam como flashes de tortura: a comida, os remédios, o vômito, o sangue, os dedos na garganta, os hospitais...  Ela não queria lembrar. Lembrar doía, e ela não gostava da dor. Mas sabia que tinha quebrado a promessa, quebrado a única coisa que ainda a mantinha forte, destruirá o último fragmento de esperança para si mesma. Afinal, ela fizera de novo. Comera tudo que vira pela frente quando acordou, não resistiu a tentação, e depois correu para o banheiro para enfiar os dedos na garganta e colocar para fora o máximo que conseguiu.

Brooke fungou, levantando o rosto ensopado pelas lágrimas grossas e olhou para o teto abobado do banheiro. Era frio ali, se lembrava de achar aquele o cômodo mais frio quando chegou na casa. Não mudara de opinião. Se sentia mal da mesma forma que se sentia quando fazia aquilo, e ainda que fizesse um bom tempo que não tivesse aquele sentimento, o pesar a atingiu. Sabia o que iria fazer quando ele se tornasse insuportável: pegaria a lâmina de um barbeador que a mãe guardava na caixinha de higiene e ficaria de frente para a pia, então hesitaria. Seus olhos a trairiam e iriam se erguer para o espelho oval pendurado na parede, e ela veria o reflexo de sua pior parte, a fraca. Então o pesar esmagaria seu coração, se tornando insuportável, e ela faria o que sua mente ordenava, puxaria a manga da blusa até os cotovelos e levaria a lâmina novinha até a altura do pulso, onde perfuraria a pele pálida superficialmente, e permaneceria com os olhos fixos no local, observando o sangue fluir com intensidade enquanto sentia a dor de dentro se extrair para fora. O sangue escorreria pelo braço até começar a pingar no mármore da pia, o que seria um sinal para ela partir para o outro membro superior. Depois ela estancaria o sangue debaixo da água e voltaria a abaixar as mangas, guardando a lâmina depois de limpa - lá e secaria o rosto manchado pelas lágrimas, arrumando o cabelo embaraçado e sairia do banheiro como se nada tivesse acontecido. Então toparia com Marcy, sua mãe, e a ajudaria nas tarefas do dia, dispensando o café da manhã com uma mentira de ter comido mais cedo - o que não seria uma mentira totalmente.

E como se fosse um script já bem decorado de uma peça de teatro, Brooke fez exatamente aquelas coisas. Em ordem. Passo a passo. Ela era a protagonista, a personagem principal de sua própria desgraça. Procurou não soluçar muito alto, e quando tudo acabou, ela abriu a porta do banheiro se sentindo a pior das pessoas. Retornou ao quarto, apanhou suas sapatilhas e as calçou mecanicamente, descendo para a sala em seguida.
O único barulho que quebrava o total silêncio da casa era o de chaves tintilando vindo da porta da frente. Ela desceu o último degrau da escada e seu pé atingiu o chão encerado, ao mesmo tempo que o rosto de Marcy entrou em seu campo de visão, a fazendo parar com a sensação de estar com o estômago despencando.

 

 

 

— Bom dia, filha. Trouxe café da manhã! - Disse Marcy, os braços ocupados com duas sacolas de fast food enquanto sorria para ela.

 

 

Brooke sentiu os olhos queimarem, e sua mão apertou o corrimão da escada em desespero para aplacar a culpa esmagadora que comprimiu seu peito. O sorriso fraco de sua mãe a fez querer se bater por ter sido tão fraca, e a hipótese de ser descoberta, a consumia por inteiro em angústia. Não queria que ela soubesse. Não queria voltar a desaponta - lá. Não queria vê - lá no estado demente de antes. Não deixaria isso acontecer.

 

 

— Querida, aconteceu alguma coisa? Estou a achando pálida demais.

 

 

A pergunta ecoando pelos quatro cantos da sala a fez sair da torrente de pensamentos que a afligiam, e ela piscou os olhos rapidamente. Marcy a encarava desconfiada. Brooke aguardou o medo da descoberta se dissipar.

 

 

— Está tudo bem - abanou a cabeça ligeiramente, forçando o sorriso falso para o rosto, fazendo sua perfeita atuação.

 

 

— Ótimo - sua mãe disse depois de analisar seu rosto. Seus olhos viajaram para as sacolas. - Agora venha, preciso lhe fazer um convite.

 

 

E sem dar tempo para a filha responder, Marcy já ia girando nos tornozelos e se encaminhando para a cozinha, os tamancos produzindo ruídos. Brooke soltou a respiração que segurava, e franziu o cenho quando a palavra convite se destacou na frase de sua mãe, em sua mente. Antes que pudesse se questionar, ouviu seu nome ser chamado na cozinha, e se apressou a ir para lá antes que Marcy voltasse para busca - lá e a fizesse se sentir mais culpada. Brooke largou o corrimão que apertava com força, e puxando todo o ar que conseguiu, seguiu para o cômodo á direita da sala. O coração ribombando.
Colocou a cabeça para dentro da cozinha, se sentindo uma garotinha estúpida, e encontrou a mãe remexendo nas sacolas de fast food em cima do balcão. Brooke pensou em voltar para trás, mas já era tarde:

 

 

— Venha querida. Sente - se que esses hambúrgueres e essas saladas grelhadas não vão se comer sozinhos!

 

 

Sem outra saída, Brooke tratou de colocar o resto do corpo para dentro do cômodo e foi até a mesa, sentando na cadeira mais próxima e procurando um jeito de dizer a mãe que não queria comer, um jeito que não fosse atrair sua desconfiança como costumava acontecer. Ela viu Marcy jogando algumas embalagens na lixeira para depois se aproximar com dois pratos nas mãos, um com uma porção de salada boa aos olhos alheios, e outro com dois hambúrgueres enormes. Sua mãe gingou pela cozinha e parou na cadeira á frente, onde se sentou.

 

 

— Foi muito difícil encontrar comida já pronta por aqui. Sabia que eles só possuem um fast food? E olha que é quase saindo da cidade ... Um absurdo desses... - Marcy se queixava enquanto colocava o que intitulava ser um café da manhã saudável em seu próprio prato.

 

 

Brooke ficou ali em silêncio, parada enquanto sua progenitora continuava suas indignações com Forks. Ela não teve coragem de levantar os olhos e encarar os de Marcy. E como resultado, suas tortas e quebradas unhas desprovidas de qualquer esmalte se tornaram o centro de sua atenção, o que pensou ser um bom jeito de dispensar a comida enquanto as cutucava com o dedão.

 

Ela ouviu os talheres baterem e o bufo de irritação ecoar.

 

— Está me ouvindo, filha?

 

Ela não estava.

 

— Estou sim, mãe. Continue.

 

— Não, já disse tudo o que tinha para dizer. - Brooke não olhou para se certificar, mas podia imaginar sua mãe mastigando com uma careta no rosto. Outro bater de talher. - Você não vai comer?

 

 

E lá estava a pergunta inevitável. Brooke sentiu a intensidade do olhar em si antes de dar uma olhada de relance e ver a expressão desconfiada e assustada de Marcy, o que a fez sentir novamente o impacto da culpa espremendo seu coração e estômago, ambos comprimidos. Ela pensou em balançar a cabeça e continuar concentrada nas unhas, ou levantar e sair correndo para seu quarto - o que parecia ser a melhor saída -, mas sabia que se fizesse qualquer uma das duas opções, só estaria confirmando a pergunta muda pairando no ar que de uma hora para a outra, havia se tornando tenso e receoso.

 

Bem feito, quem mandou ser fraca e se entregar a própria desgraça?

Sua consciência também não a ajudava muito.

Ela engoliu em seco discretamente e se forçou a olhar para a mãe, evitando o olhar.

 

 

— Preparei umas panquecas antes de você chegar. Estou sem fome, mas obrigada, mãe - e finalizou com um encolher de ombros beirando ao pesar, desviando os olhos cinco segundos depois para a toalha estampada da mesa.

 

— Tudo bem - foi tudo que escutou Marcy dizer, o tom normal. Aparentemente ela acreditara.

 

 

Brooke não soube se deveria ficar feliz por não ter levantado mais perguntas e a descoberta da volta de sua doença; ou triste por mentir na cara de pau para sua mãe e ela continuar não percebendo o caos instalado na vida da filha dela.
Então, só engoliu o nó na garganta, e deixou o silêncio continuar. Encostou a cabeça nas mãos apoiadas na quina da mesa e passeou com os olhos pela cozinha cheia de eletrodomésticos e utensílios de cozinha. Sabia que Marcy terminava a refeição. O silêncio se arrastou por mais alguns minutos, até que algo apareceu na mente da morena.

 

 

— Qual era o convite que a senhora queria me fazer? - Perguntou de supetão quando se lembrou, a cabeça se levantando para a mulher a frente que limpava a boca em um guardanapo.

 

Afinal, sua mãe terminara de comer.

 

— Ah, é. Eu quase me esqueci - Marcy sacudiu a cabeça loira e soltou o guardanapo, se virando para ela com um sorriso mínimo nos lábios.

 

Brooke aguardou.,

 

— Então?

 

— Quero que você venha comigo visitar a loja de decoração. Quero que conheça onde eu trabalho, já que você não se deu ao trabalho em todas essas semanas - a lançou um olhar severo. - E acima de tudo, quero que me ajude porque hoje os fabricantes mandarão os novos estoques dos artesanatos e eu não vou dar conta sozinha - suas sobrancelhas claras se ergueram frente ao silêncio da filha. - Vamos lá, Brooke. É sábado! E eu não vou te deixar largada sem fazer nada em um sábado, e aliás, sou sua mãe ... Então isso é uma ordem, mocinha.

 

 

A garota não teve como não sorrir, ainda que minimamente. Balançou a cabeça e bateu os cílios preguiçosamente, imaginando abandonar o conforto de sua cama e passar o dia todo fora. Desempacotando caixas com penas e conchas do mar.

 

 

— Ok. Eu vou ir ajuda - lá - respondeu derrotada pela vitória iminente de sua mãe.

 

— Ótimo, filha. Comece a se arrumar, então.

 

 

Marcy piscou, começando a recolher os pratos da mesa, um ar estranhamente alegre demais que não combinava com sua personalidade nos últimos meses. Brooke não contestou, só se levantou, mas antes de deixar a mesa, notou o brilho nos olhos de sua mãe. Ela só não soube dizer qual era o significado dele.

 

 

...

 

Até aquele momento onde o fim da tarde se aproximava e os ventos se intensificavam do lado de fora, o dia fora o mais cansativo que Brooke se lembrava de ter. Sua coluna reclamava por todas as vezes que se abaixara para pegar caixas e se levantara com elas; o corte mínimo em seu dedo do meio a lembrava que papéis podiam ser perigosos; e sua barriga roncava alto de fome - e ela não mexeria um dedo para solucionar isso. Ao seu redor, bolinhas de isopor e plásticos bolhas se espalhavam pelo chão, vindos das caixas que desempacotara. Ela estourava as bolhas do plástico com avidez, enquanto descansava as costas na prateleira de bonequinhos de palitos de picolé. Suas pernas estavam cruzadas uma por cima da outra, e seus dentes mordiscavam a parte de dentro da bochecha distraidamente, os dedos percorrendo e esmagando as últimas bolhas do último plástico que sobrara. E por fim, já tinha estourado todas.

Brooke ficou a contemplar a bagunça que fizera, e suspirou pesadamente quando percebeu que teria que arrumar aquilo. Resmungando consigo mesma, se levantou a muito custo e foi em busca de uma vassoura na área reservada para higiene que sua mãe separara na loja, atrás dos porta - trecos de joaninhas. Brooke desviou das cortinas de bolinhas coloridas de teto e seguiu caminho atrás das joaninhas. A loja de Marcy não era muito grande, mas suficientemente espaçosa para abranger todas as peças de decoração e esquisitices que faziam parte da personalidade meio dissimulada e hippie dela. As paredes eram em tons de laranja e vermelho chamativo, o chão era coberto por um carpete salmão que se estendia por toda a loja, pregadas no teto haviam várias estrelas desenhadas por um grafiteiro, e quando se olhava para cima, a sensação era de se estar encarando o céu noturno coberto pelos pequenos corpos celestes. Também haviam as prateleiras organizadas por numerologia de preços, e ela não podia esquecer de citar os produtos vendidos. Conchas marítimas com frases de biscoitinhos da sorte escritas, gargantilhas com jujubas falsas como pingente, painéis com bétulas pregadas como estampas, caixinhas de música com adesivos de animais, estátuas de toda forma e tipo ... Uma verdadeira bizarrice para Brooke, mas uma verdadeira arte para Marcy Evern.

Ela não sabia quando aquele lado de sua mãe havia voltado, pois ele desaparecera a muito quando Penny se foi. Porém lá estava ele, abastecendo as prateleiras e dando trabalho para ela e sua mãe. Mas não importava, pois pela primeira vez em muito tempo, Brooke tinha a mãe que já tivera um dia de volta. Marcy estava voltando a ser o que era, e isso já era uma razão para se comemorar.
Seus olhos passaram pela prateleira 4 e ela viu as anteninhas antes de enxergar os porta - trecos totalmente. 
Brooke freou o passo e se esgueirou para a passagem atrás da prateleira, puxando uma vassoura de lá. Voltou segundos depois para o local da bagunça e começou a varrer para a lata de lixo mais próxima.

Varreu por cerca de dez minutos, e quando acabou, seus olhos se detiveram na frente da loja, além do vidro da vitrine decorada com pisca piscas e guirlandas. A neve caía do céu com mais intensidade do que de manhã, e os pequenos flocos brancos pousavam com delicadeza nas calçadas, onde se acumulavam virando uma fina camada que cobria a rua. O Natal estava próximo. Brooke sabia disso: a neve, as pessoas decorando suas casas e as promoções de TV da época não a enganavam. E ela tinha a incômoda sensação que estava se esquecendo de algo que vinha com a data... só não sabia o que era...


  Sua linha de pensamento foi interrompida pela repentina aparição do par de olhos azuis grudados do lado de fora da vitrine, tão arregalados quanto os seus que ficaram horrorizados ao reconhecer o dono deles. A neve cobrindo seu capuz a impossibilitava de ver os cabelos loiros, mas a costumeira expressão cômica estava ali presente, atrás do vidro, e Brooke achou que ele esperava que ela abrisse a porta da loja, pois ele começou a fazer sinais estranhos no vidro.

Despertando do susto, Brooke largou a vassoura e correu até a porta trancada, onde rodou a chave na fechadura e a abriu, possibilitando e esperando Gaz entrar. Ele veio tropeçando meio travado, e quando passou para o lado de dentro, uma rajada de vento frio o acompanhou, fazendo Brooke fechar a porta em seguida. Ela espiou pelo ombro os fundos da loja, onde sabia que sua mãe estava organizando a caixa registradora, e voltou a se virar para frente, estreitando os olhos para o garoto tremendo. A situação de Gaz era simplesmente hilariante. Seu bufante casaco de zíper estava coberto de flocos de neve, assim como sua cabeça (ele se precipitou a espanar neve para o chão que ela varrera minutos antes), seus olhos estavam marejados, seu queixo batia e a ponta de seu nariz estando vermelha daquele jeito a fazia querer rir, enquanto ele tremia.

 

 

— O que diabos você está fazendo, Gaz? - Exclamou a pergunta assim que ele a encarou sem graça.

 

 

— Visitando você, ora! - Respondeu com entusiasmo. - Você falou tanto sobre... atchin!... Desculpe, acho que fiquei gripa... atchin!... Choveu antes de começar a nevar, sabe... atchin!... Só um momento, por favor....

 

Ela balançou a cabeça.

 

— Espere - disse Brooke antes de tirar o pesado casaco que vestia, e logo em seguida o jogou sobre os ombros de Gaz, que aceitou de bom grado enquanto tirava o próprio, encharcado. - Venha.

 

 

Ela os conduziu até onde outrora estivera, indicando o chão com um aceno de cabeça. Gaz e Brooke se ajoelharam, se espremendo logo depois um ao lado do outro, apoiando as costas contra a prateleira de bonequinhos de picolé. Ela conseguia sentir o ombro dele tocando o seu, e percebeu que ele a encarava fixamente.

 

 

— É o único lugar que tem para sentar - Brooke se desculpou, esfregando uma mão na outra.

 

— Sem problema, Broo. Aqui dentro está ótimo, e bem quente também - Gaz levantou as sobrancelhas e ela teve a sensação de ter corado.

 

— Deve ser o aquecedor...

 

 

O loiro ao seu lado soltou uma estrondosa e contagiante gargalhada, que a fez rir também.

 

— Oh, deus. Eu só estou brincando Evern, não se preocupe - ele abriu um sorriso malicioso. - Mas se você quiser o que eu estou pensando...

 

— Sai fora! - Exclamou levantando o cotovelo e atingindo a barriga de Gaz.

 

 

O garoto urrou em resposta, massageando o local atingindo, a fazendo rir mais um pouco. Seus olhos se encontraram, e Brooke percebeu que ele sorria, assim como percebeu o tempo em que não ria daquele jeito. E isso a fez cessar a gargalhada, os colocando em um silêncio onde tudo que ouviam era os ruídos vindos do fundo da loja, onde Marcy arrumava as coisas. A morena se cansou daquilo.

 

— E então?

 

— E então o que?

 

— O que veio fazer aqui?

 

— Você já me perguntou isso. E eu já te respondi isso.

 

— Gaz!

 

— Está bom, está bom - o loiro rolou os olhos, e encolheu as pernas até o peito, olhando para ela que esperava uma resposta ao seu lado. - Fiquei curioso em conhecer a loja da sua mãe.

 

— E? - Brooke esperou por mais. Sabia que tinha mais. Gaz era um péssimo mentiroso.

 

— E também estava entediado.

 

— Só isso?

 

 

Ele a encarou aborrecido, e ela soube no mesmo instante que não. Por fim, os olhos azuis se abaixaram e toda a massa e estrutura corporal que Gaz Jullions tinha, irradiou tristeza.

 

 

— As coisas em casa não estavam boas. Você sabe... Briga de casal. Meu pai e minha mãe estão passando por uma crise no casamento, e eu resolvi não me meter ... Mas os gritos, os insultos... Eu só precisava sair de lá e ir a algum lugar... Então me lembrei...

 

— Pode vir sempre que quiser - Brooke se viu murmurando. A onda de solidariedade e afeto que tinha por Gaz, invadindo seu coração. Ela sorriu. - E esse casaco ficou uma gracinha em você.

 

 

Ela viu o garoto suspirar, talvez aliviado pela mudança de assunto. Seus lábios ainda continuam o sorriso, e ela aproveitou para apertar o ombro de Gaz, que agradeceu silenciosamente com um estonteante sorriso de dentes perfeitamente brancos, o típico sorriso dele.

 

 

— Oh, é. Estou pensando em pegar ele para mim e desfilar por aí com ele ... Quem sabe eu me torne uma angel da Victoria's Secret?

 

 

Brooke levou as mãos ao rosto, a cabeça balançando freneticamente enquanto o amigo passava as mangas do casaco em volta do pescoço, fingindo ser um cachecol, e pendurava os lábios em um bico fofo que a fez rir até a barriga doer.

 

 

— Por deus, Gaz! Nunca mais faça isso....

 

A voz dela foi abafada por passos pesados se aproximando, e logo a sombra da mulher se projetou na frente dos dois.

 

— O que e-está acontecendo... aqui? - A voz de Marcy soou entrecortada.

 

Brooke virou a cabeça para Gaz, o sorriso divertido no rosto enquanto o olhar do garoto estava fixado na sua mãe, a expressão embaraçada.

 

— Esta é minha mãe, Gaz. E esse é Gaz Jullions, mãe. Ele estuda comi...

 

 

Mas ela não conseguiu terminar a frase. Seus olhos se levantaram para o rosto de Marcy, e Brooke viu os olhos claros inchados, as grossas lágrimas caindo como cascatas e os braços de sua mãe abraçando a si mesma. Ela não entendeu.

 

 

— Mãe, o que aconteceu? Por que está chorando? Mãe?

 

Mas Marcy não respondeu. Aflita, Brooke olhou para Gaz, que estava tão confuso quanto ela mesma, e ele apenas balançou a cabeça. Brooke tentou pensar em algo que pudesse ter acontecido para deixar sua mãe naquele estado, e antes de concluir uma reposta, começou a se levantar.

 

— Mãe, o que...

 

— Você esqueceu - foi a única coisa que Marcy disse, em tom acusador, antes de a encarar decepcionada e ao mesmo tempo ressentida. Então virou as costas, soluçando alto e saindo porta a fora da loja naquele estado destruído.

 

 

Brooke ficou encarando a porta escancarada por mais alguns minutos, estática. Tentou buscar algum sentido na acusação da mãe, tentou lembrar de algo. E depois de revirar o cérebro, encontrou algo que a fez tremer dos pés à cabeça. Não podia ser aquilo....

 

 

— Que dia é hoje, Gaz? - Sua voz soou estranha em seus ouvidos. Oca, trêmula.

 

 

Seu coração bateu mais rápido, e ela torceu para que estivesse errada. Para que Marcy estivesse errada. Para que não fosse o que pensava ser.

 

 

— Dezoito. Dezoito de dezembro - O garoto respondeu, e ao ouvir aquilo, seu coração se despedaçou ainda mais.

 

 

Brooke sentiu a cabeça girar, e logo os joelhos lhe falharam. Seu corpo voltou para o chão, desmoronando em pesar, e só não bateu com a cabeça no chão porque Gaz a segurou em tempo. Logo, as lágrimas inundaram seus olhos, escorrendo por seu rosto fino enquanto ela se debatia presa nos braços do loiro, as imagens do trauma vindo em sua mente. O carro em movimento. A pista na penumbra. Os faróis do outro claro. Os gritos. O impacto. Então tudo se misturou em um redemoinho de imagens disformes, as luzes invadindo seus olhos, os ruídos metálicos e os berros histéricos machucando seus ouvidos. Brooke começou a agonizar, esquecendo completamente que estava na loja da mãe em Forks, acreditando ter voltado mais uma vez para o cenário do acidente em Denver.

Penny ... Ela esquecera o aniversário de morte de três meses da irmã... Aquilo explicava o motivo de sua mãe ter passado toda a tarde falando e agindo mecanicamente... Ela era uma má pessoa... Ela esquecera...

 

 

— Brooke, para! Para! PARA! - Ouvia Gaz gritando e a segurando mais forte, mas ela não conseguia parar. Seus pés chutavam o ar em desespero, como se estivesse tentando derrubar a porta do carona como fizera naquele dia; suas mãos tampavam os ouvidos sem razão aparente; e seu oxigênio parecia fugir, e no lugar de ar, ela sentia o cheiro do fogo entrando em suas narinas, a sufocando.

A dor a fazia não parar.

 

 

— Ela morreu ... Ela morreu... ELA MORREU! - Gritou descontrolada, começando a socar o peito do loiro, que a encarava assustado e preocupado.

 

 

Sabia que o ataque de pânico a estava consumindo. Sabia, porque já estivera naquela situação antes, uma semana depois do acidente. E na semana seguinte, e na seguinte, até que os ataques pararam de acontecer. Até agora.

 

 

— Quem morreu?

 

 

Ela não teve mais forças para continuar se debatendo. O fôlego se esgotara. Parou de se mexer, o corpo largado no chão, o cabelo grudado no rosto por conta das lágrimas. Brooke abriu os olhos, enxergando o borrão que o rosto de Gaz era naquele momento. Ele passou a mão pelo cabelo dela, a acalmando. Brooke apertou os olhos, deixando escorrer mais lágrimas salgadas. Quando encontrou a voz, não quis dizer aquilo em voz alta, mas sabia que precisava:

 

 

— Penny... Penny está morta ... Minha irmã... Minha irmã, Gaz... Ela se foi. Ela se foi ... Eu esqueci...

 

 

E sem ter mais forças para continuar falando, ela sucumbiu ao choro novamente, deixando altos soluços escaparem. Não voltou a ver o rosto de Gaz depois da revelação que lhe fez, mas sentiu quando ele a puxou para seu colo, a alinhando ali. Brooke se acomodou, e fechou os olhos com força, sentindo as mãos de Gaz deslizarem por seus cabelos, sussurrando palavras de alento.

Ela tinha consciência que devia explicações ao amigo, assim como devia palavras de consolo e desculpas a mãe; mas naquele momento, Brooke só queria chorar até cair no sono e fugir para o mundo dos sonhos, onde tudo era mais tranquilo. Entretanto, sua respiração acelerada não se acalmou, e ela pensou que se levantasse o rosto naquele instante e fitasse o teto estrelado da loja, veria Penny ali entre elas. Não ousou fazer aquilo. Apenas deixou ser segurada por Gaz, o deixou cuidar de si como se ela fosse uma criança.

 Aquele seria seu inferno para sempre: o pesar e a dor. Que a dilaceravam por dentro. Pois aquele era o efeito colateral do esquecimento: a dor da recordação quando lembrada. Esquecer os problemas, as catástrofes, ou até mesmo alguma tarefa, as vezes não era a melhor solução. Pois o esquecimento não é eterno, e quando chega a hora de lembrar, algumas feridas podem voltar a abrir e a doer. Com mais intensidade do que nunca.

E por aqueles motivos, Brooke soube. Era a pior irmã que um dia pisara na terra. E teve nojo de si mesma.

 

 

 

                        ***

 

 

Foi só na última semana de aula antes das férias de natal, que Brooke se sentiu mais calma. Ainda estava péssima por ter esquecido os três meses de morte de Penny, mas naquela altura, conseguia lidar com o fato. Não foi fácil, certamente que não. Só parara de chorar nos braços de Gaz duas horas depois, e quando olhou nos olhos do amigo, se sentiu desabando de novo, porém aguentou firme e resolveu contar sobre sua antiga vida para o garoto. Ele ouviu a história surpreso, e depois que escutou tudo, a única coisa que fez foi abraçar Brooke e informar que seria seu ombro para chorar. Ela gostou daquilo e se sentiu grata por não ter que responder perguntas que não foram feitas. Entretanto, a coisa com sua mãe fora completamente diferente. Marcy só chegou de madrugada, o fedor do álcool sendo camuflado pelo do vômito que deixou na entrada de casa, e quando Brooke apareceu preocupada, Marcy começou a gritar descontrolada com a filha. A garota não se importou com aquilo, costumava acontecer nos primeiros meses, ficar bêbada era a saída de escape da dor de sua mãe. Então tudo bem. Brooke apenas ajudou Marcy a subir para o quarto, ignorando as ofensas e acusações, os tapas desferidos no ar e os empurrões; e tratou de dar um banho nela, a colocando na cama depois de um sacrifício. Então sua mãe dormiu e ela pode voltar para o quarto (depois de limpar o vômito da entrada e tomar o próprio banho), onde se arrastou até a cama e chorou em silêncio, triste por tudo estar voltando quando na verdade era para estarem recomeçando.

Seu coração parecia tão pesado, e sua mente tão cansada do estado entorpecido que costumava estar, que Brooke não se importou quando levantou da cama mais uma vez naquela noite e foi até o armário do banheiro, de onde tirou um vidro branco de calmantes que o psicólogo receitara após o trauma. Ela costumava tomar um a cada dia, para mante - lá sã e tranquila, mas deixara de tomar quando os efeitos colaterais começaram a aparecer: sonolência profunda e irritabilidade constante. Mas ela não se importava, não naquele momento, e por isso, engoliu duas pílulas de uma vez, tendo certeza que logo surtiriam efeito e ela apagaria por muito tempo. Depois disso, voltou para o quarto sentindo o chão frio arrepiar a espinha, e se acomodou novamente na cama, onde adormeceu rápida e profundamente do jeito que esperava.

Brooke suspirou profundamente com as lembranças do fim de semana, e recolheu os livros de uma vez de dentro do armário, o fechando em seguida. Tirou o pé do caminho para uma garota não pisar ou tropeçar, e se adiantou a sair do corredor apinhado de alunos agitados. O intervalo tinha acabado a poucos segundos atrás, e ela estava tentando chegar na próxima aula inteira, visto como as pessoas ao seu redor pareciam tão agitadas e fora do ar, por alguma razão. Ela dobrou a esquerda no corredor, ansiosa para ver Gaz, que até aquele momento, não estivera em nenhuma de suas aulas.

 

 

— Parada aí, Evern!

 

 

E falando no diabo... A morena freou o passo, virou para trás segurando os livros contra o peito, e observou o loiro correr em sua direção, a mochila de quadrinhos sacudindo atrás de si. Ele parou ao seu lado, ofegante, sorrindo divertido como sempre. O garoto parecia um modelo adolescente de comercial: O rostinho perfeito de bebê, o cabelo loiro jogado de lado na testa, os olhos expressivos azuis e a combinação de jeans folgados e camisas apertadas que revelavam seus músculos, ainda que não fossem muitos. 
Gaz olhou para Brooke, e ela sentiu os dedos coçarem para abraça - ló afetuosamente, mas resistiu. O quão estranho aquela cena no corredor seria?

 

 

— Oi, Gaz - cumprimentou assim que percebeu que permanecera em silêncio.

 

— Como você está? - Ele foi direto ao ponto, arqueando uma sobrancelha e puxou a alça da mochila sem razão aparente.

 

 

Brooke sabia que Gaz estava se referindo ao surto que ela teve na loja, e o que aconteceu depois disso, e ela se sentiu grata por ele estar perguntando. Ainda que muito embaraçado.

 

 

— Bem. Bem melhor - respondeu, limpando a garganta. O sinal tocou novamente, os deixando surdos e fazendo o fluxo de pessoas naquele corredor aumentar. - É melhor a gente ir! - Gritou por cima do barulho estridente. - Álgebra avançada II?

 

— Sim!

 

— Vamos.

 

 

Os dois partiram em direção ao fim do corredor, apressados para não serem esmagados por toda aquela gente, e alcançaram a saída do prédio 3, rumando para o prédio 4 ao lado. Nevava fracamente, e os terrenos da escola estavam soterrados por finas camadas de neve, que fazia os pés dos estudantes afundarem quando pisavam. Brooke apertou contra si os livros, sentindo as mãos esfriarem pela ausência das luvas que esquecera em casa; ao seu lado, Gaz tentava engolir os pequenos flocos brancos que caiam do céu. Infelizmente, tudo que ele conseguiu foi ter os olhos acertados por alguns deles, que se dissolveram dentro da íris azulada e o fizeram lacrimejar.

 

— O que seria do natal sem um pouco da velha neve, não é mesmo? - Comentou humorístico. Os dedos esfregando os olhos.

 

 

Brooke riu brevemente do amigo. Eles alcançaram a entrada abarrotada do prédio 4, e se espremeram entre as pessoas para entrar. Algumas os olharam, outros nem perceberam que eles passaram por ali, significando que a curiosidade pela novata havia chegado ao fim. O que de longe, agradava Brooke. 
Eles seguiram caminho para a sala. A curiosidade aflorou na morena:

 

 

— Por que você acha que as pessoas estão tão distraídas hoje, Gaz? - Ela tentou soar casual, mas a pergunta saiu com mais interesse do que realmente tinha. Por alguma razão.

 

— Você não sabe? Não leu nem ouviu o noticiário dessa manhã?

 

— Não - Balançou a cabeça. - Me conte.

 

 

Brooke viu o momento em que os cantos dos lábios de Gaz se tornaram uma linha fina, e ao virar à direita, onde a sala entrou no campo de visão dos dois, ela teve um pressentimento ruim. Por fim, as palavras escaparam da boca dele:

 

— Anne Aldetre foi encontrada morta a uns trezentos metros da escola. A garganta estava cortada e o corpo seco, o sangue drenado. Anne era do segundo ano, e depois que anunciaram a morte dela nos jornais hoje de manhã... - Gaz engoliu em seco, balançando a cabeça. - As pessoas piraram ... Quer dizer... Meio macabro isso, não? E ainda morrer desse jeito...

 

 

O arrepio subiu pela espinha de Brooke, que apertou os livros ainda mais contra si. Nem percebeu que haviam parado de andar, e quando se deu conta que o loiro a encarava a espera de uma opinião, piscou os olhos.

 

 

— É... Sim - balançou a cabeça. - Sinto muito.

 

E ela realmente sentia. Imaginava o que aconteceu com Anne, e qual o motivo de sua morte. Sangue drenado ... Parecia ser a única coisa que ela fora capaz de ouvir, e dentro de si, alguma coisa se remexeu irrequieta. 

 

 

— É, eu também - observou Gaz encolher os ombros. - Só acho que devemos começar a ter cuidado. Muitas mortes vem acontecendo, e agora mais essa próxima a escola... Cuidado nunca é demais.

 

Brooke não o contrariou. Gaz estava certo, ainda que não parecesse levar suas próprias palavras a sério. Ele dirigiu um sorriso torto a ela, e a puxou em direção à porta da sala, onde entraram. Gaz pendurou o casaco em um dos cabides atrás da porta, e Brooke preferiu permanecer com o dela. Quando se virou, deu de cara com uma dúzia de alunos já na sala; entre eles viu Renesmee Cullen, que empalideceu um pouco ao cruzar o olhar com o seu. A ruiva a esquadrinhou da cabeça aos pés, e quando Brooke franziu o cenho intrigada com aquela atitude, Renesmee abaixou os olhos para o caderno aberto em cima da carteira. 

 Estranho. Ela meneou a cabeça, e preferiu ignorar a reação da garota, visto a quantidade de pensamentos, dúvidas e preocupações que já lhe ocupavam a mente. Optou por seguir Gaz até as carteiras ao fundo da sala, e mal se sentaram lado a lado, e o professor Woock já ia adentrando a sala, acompanhando por mais alguns alunos atrasados.

 

 

— Bom dia alunos! - Sua saudação ecoou pela sala sendo abafada pelos ruídos das cadeiras arrastando pelo chão, enquanto ele parava em frente a sala.

 

— Bom dia, professor!

 

 

Brooke começou a retirar o material da mochila, começando a se perder nos pensamentos.

 

 

— Bem, como todos aqui sabem, essa é a última aula que temos antes do recesso - Gritos e palmas de alegria foram ouvidos. - Eu sei pessoal, eu sei. Menos por favor aí atrás... Jullions, eu estou de olho em você - Brooke balançou a cabeça e deu um leve cutucão na barriga do loiro ao seu lado, o fazendo parar de bater o caderno na mesa. – Continuando ... por isso, e para facilitar a vida de vocês já que sei que não vão usar esse tempo livres para revisarem as matérias... preparei uma atividade valendo nota bimestral para ser entregue na segunda aula depois do recesso...

 

 

 Mas não continuou a ouvir o que o professor dizia a respeito do trabalho. Sua mente retrocedeu para um momento antes, ainda quando estava no corredor com gaz, e nas palavras que ele lhe disse...   Anne Aldetre foi encontrada morta a uns trezentos metros da escola... A garganta estava cortada e o corpo seco, o sangue drenado...   As pessoas piraram... quer dizer... Meio macabro isso, não? E ainda morrer desse jeito... lamentável... 

 Sim, era de se lamentar. Mas também era estranho, não? O mesmo caminho de morte que tantas outras vítimas trilharam como Anne? Da mesma forma? Do mesmo jeito? Na mesma cidade? Brooke se fez as perguntas, tentou lembrar das manchetes e noticiários da TV. Tentou resgatar qualquer fragmento de resposta que pudesse a ajudar a pensar sobre aquilo, que pudesse a fazer resolver o quebra-cabeça, pois foi ali na sala de aula, naquele momento, que ela se deu conta de que tudo batia. Que tudo se encaixava, e que todas as coisas estranhas só poderiam levar a um mistério que tentava a ser resolvido. Ela pensou... E quando percebeu aquilo, afundou os dentes no lábio inferior, achando que estava louca.

Mais louca do que nunca! Aonde é que achava que ia pensando, supondo tudo aquilo? Não existia nenhum quebra-cabeça; nem peças que batiam; nem mistério tentador algum. Apenas um psicopata á solto, como a polícia já havia decretado.

 Brooke anuiu em concordância consigo mesma. Ela e seus delírios... Delírios esses que estavam fazendo o professor a encarar  torto, parecendo aguardar alguma coisa que ela não sabia. Piscou, voltou a realidade, e todos ao seu redor estavam em silencio absoluto. O sangue lhe subiu a face.

 

 

— O que? - Seu fiapinho de voz provocou risadas no resto da sala, o que a fez se encolher no lugar.

 

O olhar do professor Woock se estreitou.

 

— Ele te fez uma pergunta! - Gaz sussurrou ao seu lado, pisando em seu pé quando ela não reagiu.

 

— Ahh! - Brooke murmurou de olhos arregalados. Teve a impressão que o homem intitulado professor de ''Álgebra avançada II'' ainda esperava sua resposta. Ela olhou para Gaz, perdida. - Sim... por mim tudo bem, professor. Sem problema.

 

— Ótimo! - A palavra saiu com tanta força da boca do professor enquanto ele endireitava o corpo que Brooke imaginou se ele não estava prestes a expulsa - lá. - Então já está avisada que você e a senhorita Cullen ficarão com os Produtos Tensoriais... Certo, David e George agora...

 

 

 Ela deixou a boca se abrir e ficar suspensa no ar. Como era? Senhorita Cullen... Renesmee Cullen?  Brooke sentiu a mescla de decepção e pânico se expandirem em seu rosto. Virou a cabeça bruscamente para a frente da sala, onde encontrou os olhos claros da ruiva já a encarando. Renesmee acenou com a cabeça, e Brooke afundou a dela nos braços deitados na mesa.

 

 

— Sorte sua ter ficado com Renesmee nesse trabalho. Ela é inteligente - A voz de Gaz zuniu em seu ouvido direito, e ela levantou a cabeça alguns centímetros para olha - ló.

 

— Ela me acha estranha - apontou. - Toda a família dela, aliás.

 

 

Brooke se lembrou imediatamente das encaradas feias e ameaçadoras que o rapaz parecido com Renesmee a lançava. Achava que ele se chamava Edward. 

 

— E daí? O importante é que se você colar nela, vai conseguir uma ótima nota -O loiro desdenhou e ela levantou novamente a cabeça.

 

— Eu posso fazer o trabalho sozinha.

 

— Mas são produtos tensoriais!

 

— Eu posso fazer sozinha! - Insistiu, irritada.  - É fácil.

 

O rosto dele se contorceu em uma careta.

 

— Agora sei porque eles te acham estranha... - assobiou a fazendo revirar os olhos antes de voltar a afundar o rosto nos braços novamente. 

 

 

 

 

 O sinal tocando anunciava o começo das férias de recesso, entre o natal e o ano novo. E com ele, o estado de ponta cabeça que a escola estava. Mal a professora de Ciências terminara de falar, e os alunos já corriam porta a fora. Brooke foi uma das poucas a esperar a confusão dos corredores se acalmar, acompanhada por Gaz. Ele a contava sobre uma festa que iria acontecer no feriado, na casa de um amigo:

 

 

— ... Parece que vai ser uma doidera. Aquele tipo de festa onde tudo pode acontecer, sabe? Bebida, cigarro, Dj,..  Essas coisas entre outras... - os olhos dele se detiveram na expressão paciente dela. - Ah, mas é melhor eu parar de falar, né... eu te convidaria, sim, eu convidaria com muito prazer... mas acho que você não tem muito... nada a ver com essas coisas, Brooke.

 

 Ela abriu um sorriso de escárnio perante a afirmação do garoto. E pensou que talvez ele não soubesse que as aparências enganavam. E como enganavam...

 

— Tudo bem, Gaz. Pretendo passar com minha mãe vendo os programas de TV - disse simplesmente. 

 

— Se você diz - Ele assentiu, e ela balançou a cabeça de forma divertida. - Vamos?

 

 

 Brooke concordou. Os dois saíram da sala juntos, encontrando os corredores quase vazios, e seguiram conversando até o lado de fora do prédio. O pátio estava vazio, e há uns metros a frente, Brooke conseguia ver a aglomeração de pessoas no estacionamento, onde a maioria dos alunos ia aos fins das aulas. Aquele não era seu caso, pois preferia evitar aquele lugar. 

 Ela se despediu de Gaz momentos depois, ganhando um abraço e um ''feliz natal'', ao qual devolveu com muito carinho. Quando se separaram, e Brooke garantiu a Gaz que ficaria bem, o observou partir em direção ao dito estacionamento, onde ele deixava a moto usada do pai. Esperou até vê - ló dar a partida, então se preparou para seguir seu próprio caminho, quando a família surgiu em seu campo de visão. Belos, graciosos e incomuns. Iam caminhando com aquela elegância natural até as respectivas vagas onde os caros carros ficavam estacionados, e por um momento, seu olhar cruzou com o dela. Parecia indecisa sobre alguma coisa, e ao mesmo tempo disposta a lhe falar algo... talvez sobre o trabalho? De certeza. Mas Brooke não queria falar nada com ela, não naquele momento.

 Por isso, ordenou a si mesma que virasse as costas. E ia obedecer, ia até vislumbrar algo pendurado no pescoço da Cullen, pendendo daquele jeito familiar. 

 

O colar que perdi na clareira.

 

 Brooke estreitou os olhos para ver melhor, e percebeu que estava certa. A familiar pedra verde pendia do pescoço de Renesmee, que a encarava fixamente. Ela levou a mão até a clavícula exposta pelo corte do casaco, e sentiu o mesmo arrepio que vinha sentindo, subir pela espinha. A neve começou a cair. Os olhos de Renesmee se desgrudaram dos seus lentamente, e ela entrou no carro, o colar balançando.

 A respiração de Brooke ficou presa na garganta, e ela permaneceu no lugar, os flocos de neve tocando seu rosto. Todas as perguntas apagadas de sua mente, prevalecendo apenas uma:

 

 Como e por que seu colar estava com Renesmee Cullen?

 

 


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Notas finais do capítulo

Olá! Como estão?
Chegando aqui com o PRIMEIRO capítulo de 2017! Yay! Capítulo esse que deveria ter saído mais cedo, mas como tirei esse primeiro mes para descansar e resolver alguns problemas pessoais, só deu para postar agora, amores.
Emfim. Vamos aos avisos e afins que sempre faço nessa notinha final *O*

Primeiramente: Sim, a garota no gif é a Brooke que imagino (o nome da atriz é Alice Englert, para quem quiser saber).

Segundamente: A partir de hoje - e desde do capítulo passado - cada capítulo contará com um trecho de música que se encaixe nos acontecimentos. A de hoje foi uma bem tristezinha mesmo *_*

E terceiramente: Nada mais a declarar. Apenas, que é agora que a história começa de verdade! Preparem os corações, pois vai começar a chuva de navalha heheheh!

Só isso, amores. Se voce está gostando da fanfiction, marque em seus acompanhamentos, favorite e deixe seu comentário para eu saber e ser mais incentivada!
Um bom final de semana para todos, e até o próximo....

BEIJOS! ♥



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