Eyes On Fire escrita por Brê Milk


Capítulo 30
Chapter 27: Demônio disfarçado


Notas iniciais do capítulo

"Cause baby, now we've got bad blood
You know it used to be mad love
So take a look what you've done
Cause baby, now we've got bad blood, hey"

— Taylor Swift (Bad Blood)



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A silhueta de Alice apareceu na entrada do quarto, encostada na porta. Ela esquadrinhou o antigo quarto de Edward, até parar com os olhos no chão, onde, aos pés da cama, jogada no tapete felpudo, com o peito para cima segurando um livro acima da cabeça, encontrou quem procurava.
 E franziu o cenho.

 

— Brooke, o que está fazendo?

 

A Evern abaixou o livro e ergueu os olhos para a vampira, a enxergando de cabeça para baixo por conta da posição.

 

— Lendo o livro que peguei emprestado de Bella — respondeu Brooke, simplesmente. — Quero saber até onde a obsessão de Heathcliff por Catherine irá leva-lo.

 

— Até o fim da vida dele. Oh, desculpe pelo spoiler — Alice sorriu inocente e divertidamente, e apontou: — Mas acho que será difícil você chegar nessa parte. Está lendo o livro de cabeça para baixo.

 

Foi só aí que Brooke percebeu que sim, definitivamente ela estava. Ela corou e ajeitou o livro da maneira certa antes de murmurar sem graça:

 

— Ah, é mesmo...

 

Alice riu, mas não dela, e sim da situação.
 Então se calou e observou, com os olhos dourados cheios de hiperatividade, a garota fechar o livro e se levantar do chão, parecendo tão distraída quanto todos os outros dias. Decidiu não comentar nada.
Brooke colocou o livro de Bella sob a cabeceira da cama e se virou para a vampira.

 

— Precisa de alguma coisa, Alice?

 

— Sim. Preciso que desça, porque Edward está prestes a arrancar a cabeça de Jacob na sala de Esme. Parece que alguém ligou para ele — disse a Cullen, a olhando sorridente.

 

— Culpada — murmurou Brooke, encolhendo os ombros.

 

— E de parabéns, também. Já estava na hora daquele lobo dar as caras e se acertar com a minha sobrinha. Os dois se amam e complicam tudo!

 

— A complicação deve ser a beleza do amor — A Evern concordou. — Vamos antes que Edward realmente arranque a cabeça de Jacob.

 

As duas caminharam apressadamente para fora do quarto.
 Enquanto vencia o corredor do andar de cima, os pés traçando o caminho mais rápido do que podiam, Brooke tentou pensar sobre o telefonema à Jacob que fizera mais cedo, exigindo que ele aparecesse na mansão o mais rápido possível.

Era uma parte do seu plano que fora muito bem executada. A segunda, no entanto, talvez não tivesse a mesma sorte, porque não envolvia o quileute perdendo a cabeça. E ela até tentou ponderar o assunto, encontrar um novo plano para resolver as coisas.

Porém, a sua mente vinha andando muito caótica nos últimos dias para ela conseguir focar somente naquele problema. Ela não conseguia focar em nada, na verdade. Nem na trágica história de Heathcliff nem na redação que deveria entregar à Felix e que se propusera a fazer — mesmo faltando as aulas — e muito menos em seu plano que se resumia em fazer Renesmee e Jacob se acertarem de uma vez.

Sua mente estava à léguas de distância desses pensamentos. Ao invés disso, outros quatro temas os substituíam em uma ordem ferrenha: Luke, a conversa de Joey, o sonho sobre Renesmee e a profecia da descendente. Todos os quatro eram pensamentos que estavam a fazendo perder o sono e a distraindo de suas tarefas ao longo dos dias.


 Tipo ler um livro de cabeça para baixo.

Brooke balançou a cabeça. Tinha problemas maiores e de mais urgência. Assim, ao lado de Alice, chegou no topo das escadas e instantaneamente seus ouvidos foram golpeados pelos gritos da discussão que estava sendo travada na sala de estar da mansão.

Todos os vampiros da casa estavam presentes, exceto Carlise e Renesmee — essa última que parecia ser a causa da confusão —, amontoados em um mesmo ponto da sala, alternado olhares entre um ponto e outro no meio do cômodo, que a morena percebeu serem Edward e Jacob, enforcando um ao outro. Também havia sangue escorrendo da testa do Black.

Seth e Leah Clearwater também estavam presentes; um pouco afastados dos Cullen, mas estavam lá: Seth com os olhos brilhando de excitação pelo que viria a acontecer, e Leah com a mesma expressão dura e mal-humorada que Brooke se lembrava.

Ela e Alice se entreolharam e praticamente desceram a escada correndo, se juntando ao grupo no exato momento que os gritos de Edward voltavam a ecoar:

 

— Você tem muita ousadia por voltar a pôr os pés aqui, Black! Está implorando pela morte!

 

— Não. Estou implorando a chance de ser escutado! — replicou Jacob, grunhindo com o esforço de falar por conta da mão fechada em sua garganta. — E não adianta me expulsar aos pontapés novamente, Edward. Voltarei quantas vezes necessário, mesmo que você quebre todos os ossos do meu corpo ou me mate, eu voltarei para falar com Renesmee!

 

Edward rosnou, os olhos dourados se estreitando em fúria.

 

— Você a magoou, seu desgraçado!

 

Brooke estava esperando que alguém se interpusesse entre os dois, mas ninguém ali fez nada. E, foi com horror e de olhos arregalados, que ela ouviu um estalo que provavelmente deve ter sido do pescoço do lobo.

 

— Solte-o, Edward! Você irá mata-lo se apertar mais um pouco — Implorou Bella, aflita.

 

— Essa é a intenção, meu amor.

 

Jacob gemeu dolorosamente.

 

— Tente não decapitar a cabeça totalmente, irmão. Pretendo empalar o cachorro e deixar como estátua no quintal.— Rosalie riu.

 

Leah e Seth grunhiram.

 

— JÁ CHEGA!

 

Todos na sala olharam para a ruiva no topo das escadas, com a expressão séria e imponente. Renesmee desceu os degraus sob os olhares de todos e, quando se aproximou o suficiente, Brooke notou os olhos inchados e vermelhos, mas também notou o brilho decidido neles.

E sorriu, mesmo não sabendo o desfecho daquela confusão. Sorriu, porque enquanto observava a amiga se voltar para Edward e Jacob, ainda tentando se matarem, percebeu que a híbrida estava assumindo as rédeas da própria vida pela primeira vez.

 

— O que pensam que estão fazendo? — perguntou Renesmee, nem um pouco delicada.

 

— Estou tentando me desculpar com você — disse Jacob.

 

— Estou tentando poupa-la desse desgraçado — disse Edward.

 

A ruiva cruzou os braços.

 

— E pretendem fazer isso se matando?

 

Os dois se entreolharam.

 

— Nessie, eu só quero falar com você — Suplicou o Black.

 

— Minha filha não tem nada para falar com você, seu cachorro pulguento! — Berrou Edward, antes que Renesmee abrisse a boca. — Você a magoou.

 

Brooke queria estar com o livro do Morro dos Ventos uivantes naquele momento para atirar na cabeça do leitor de mentes. Ao seu lado, Esme alternava olhares preocupados e pesarosos entre a briga e o carpete manchado de sangue.

 

 

— Sim, eu magoei a sua filha. E sim, eu sou um idiota por isso, eu assumo — Rugiu Jacob. Não era para Edward que ele olhava enquanto falava, e sim para a ruiva parada ao lado, atenta as suas próximas palavras. — Mas eu a amo. Amo sua filha, Renesmee Carlie Cullen, como nunca amei ninguém e nunca vou amar. Amo tudo sobre ela, porque ela é a pessoa mais extraordinária, gentil e linda do mundo... — Ele fez uma pausa, arquejando provavelmente pelo aperto do vampiro em sua garganta, mas nunca desviou os olhos da garota que amava, e havia tanto calor, tanta paixão e carinho naquele único olhar, que pessoa alguma poderia desmentir suas palavras. E com esforço, Jacob continuou: — E me mata saber que eu a magoei de algum jeito. Por isso estou aqui, para me desculpar com você, Nessie. E se a única forma de você me escutar for essa, com seu pai a um passo de arrancar a minha cabeça, então que assim seja. Você vale a pena qualquer parte do corpo perdida.

 

O silêncio foi absoluto. Ninguém disse nada ou se moveu, nem mesmo Edward, que tinha uma expressão de genuína fúria e ultraje estampadas no rosto. Contudo, todos olharam para a híbrida, a espera de uma reação.  Ela estava imóvel, de olhos arregalados e boquiaberta. Os olhos claros cintilavam de estarrecimento. Ao perceber que a amiga deveria estar em choque, Brooke caminhou até ela e a cutucou.

 

— Ei, se você for dizer alguma coisa, o momento é esse.

 

— Hã? — Emitiu Renesmee, saindo do estado de choque. — Ah, sim. Eu tenho... algo a falar.

 

A Evern sorriu encorajadora e empurrou delicadamente a ruiva para a frente.

 

— Papai, solte o Jacob — Pediu Renesmee, tocando o ombro de Edward.

 

— Ele te magoou, filha!

 

— Sim. E muito. Mas Brooke também, e eu a perdoei porque ela é a minha amiga — retrucou a híbrida, abrindo um pequeno sorriso para o pai. — E Jacob é... O cara que eu gosto. Que eu amo.

 

Edward olhou para a filha como se ela fosse louca.

 

— Renesmee!

 

— Papai!

 

— Você não sabe do que está falando! Você não... é muito nova... Não pode...

 

— Sim, pai. Eu posso — retrucou Renesmee, olhando de cabeça erguida para Edward, a voz calma e decidida, embora seu rosto tivesse adquirido a mesma cor que seu cabelo: — Não sou mais criança, posso fazer minhas próprias escolhas e sei o que é melhor para mim. E nesse momento? Meu coração diz que é Jacob, o homem que o senhor está enforcando nesse exato momento. Escute, eu sempre serei sua garotinha, mas tem que me deixar viver a vida. Tem que parar de me poupar e deixar que eu faça o meu caminho, mesmo quebrando a cara. Então, por favor, solte o Jacob. Tenho muitas coisas para falar com ele.

 

O rosto de Edward de contorceu em uma sucessão de expressões: incredulidade, raiva, tristeza e então, derrota. O vampiro desviou os olhos dourados esbugalhados da filha e fitou Jacob, assumindo um semblante aterrorizantemente sério.
Todos na sala permaneceram em silêncio mortal durante longos minutos.

 

— Não gosto de você, mas o conheço todos esses anos, Jacob. E por todos os outros motivos que sabemos que existem — Edward estreitou os olhos —, suponho que esteja dizendo a verdade sobre seus sentimentos em relação a minha filha.

 

O leitor de mentes soltou um rosnado antes de soltar o pescoço do lobo, mas não se afastou antes de ameaçar:

 

— Se voltar a magoar ela, arrancarei muito mais do que a cabeça que pensa em seu corpo.

 

Brooke teve a impressão deque ele não estava brincando, e Jacob deve ter pensado o mesmo, porque engoliu em seco e assentiu fervorosamente com a cabeça.
Edward então o deu as costas e caminhou até o sofá, onde sentou-se e esfregou a testa, mirando o carpete do chão sem piscar.
As gargalhadas explodiram um segundo depois.

 

— Venha Jacob, vou lhe dar uma chance e ouvir tudo o que você tem para me dizer — disse Renesmee, em meio aos risos. Ela foi até o quileute imóvel em estado catatônico no centro da sala e o pegou pela mão. Depois se virou para a família de pé os observando. — Estamos nos jardins do fundo.

 

A ruiva saiu puxando Jacob, arrancando mais risos de todos presentes, desaparecendo instantes depois ao passar pelo arco da entrada da cozinha, indo resolver as pendências de seu coração jovem.

Brooke pôde sentir o sorriso vindo fácil em seus lábios enquanto permanecia encarando a direção por onde os dois amigos haviam seguido, torcendo internamente para qualquer que fosse o tipo de relacionamento entre os dois que sairia daquilo, que desse certo.
Ambos mereciam amar a pessoa que gostavam e serem correspondidos.

Gaz parou ao seu lado, cruzando os braços em cima do peito, escondendo metade do rosto do Batman estampado em sua camiseta. Ele a olhou e deu um meio sorriso.

 

— Tudo acaba bem quando termina bem, hein?

 

— Acho que sim. Mas me diga, quantas frases de efeito você ainda tem? — Brooke rolou os olhos.

 

— Muitas. Um repertório cheio delas — Gaz encolheu os ombros. — Talvez Edward queira ouvi-las.

 

Os dois olharam na direção do sofá, onde Edward continuava fitando o carpete, mas agora com Bella o dando leves tapinhas no ombro e o abraçando, bagunçando um pouco o topete dele. Ao redor do estofado, os outros Cullen pronunciavam palavras reconfortantes, embora segurassem o riso com dificuldade.

 

— As crianças crescem tão rápido... — Ele murmurava entre um suspiro e outro.

 

Brooke voltou a olhar para o Julions, torcendo os lábios para evitar a risada.

 

— Talvez sim. Mas deixe para fazer isso depois. Do jeito que ele está, é capaz de arrancar a sua cabeça — ela o olhou maliciosamente. — E não me refiro a de cima.

 

Gaz arregalou os olhos com a possibilidade, engasgando com a saliva. A Evern soltou uma risadinha e o deu um soco afetuoso no braço.
Então alguém a cutucou.

 

— E aí, Garota dos vampiros? — Cumprimentou Seth Clearwater, com um sorriso brincalhão de sempre, a dando um breve abraço de urso.

 

Atrás dele, a irmã, Leah, encarava tudo ao redor com desprezo.

 

— Eu ainda continuo não sendo a garota de ninguém, Seth — disse Brooke, o abraçando de volta. Quando se afastaram, ela olhou por cima do ombro do quileute, usando um tom amigável: — Olá, Leah. Bom revê-la.

 

Leah a encarou e desfez momentaneamente a expressão desprezível, balançando a cabeça levemente em um cumprimento.
Ela usava uma simples regata verde e um short jeans com chinelos, mesmo com a temperatura fria do dia. Sendo a única loba na matilha, não parecia se importar com a aparência, e Brooke a deu razão, pois se estivesse no lugar de Leah, também não se importaria.

A Evern a dedicou um sorriso que foi retribuído com uma careta.

 

— Soube do que aconteceu com você — Pronunciou Seth, chamando a atenção das duas garotas. Ele coçou a nuca e parecia constrangido de repente. — Todos nós da reserva queríamos vir te visitar e desejar melhoras, mas, bem... Você sabe. O lance do Jacob e da ruiva e a fúria do vampiro pai — ele sussurrou a última parte, lançando um olhar de esguelha na direção do sofá.

 

Brooke abriu um sorriso.

 

— Tudo bem. Mas eu gostaria de ver os outros meninos. Mande-os me visitar qualquer dia, agora que as coisas parecem ter se resolvido.

 

— Ou você poderia ir até a reserva e tomar um banho no mar — Sugeriu Seth, inocentemente.

 

A morena piscou, marota. Os dois riram.

 

— Emily mandou melhoras para você, Garota dos vampiros — Anunciou Leah, a voz brusca.

 

— Mande um beijo para ela e diga que estou bem. E por favor, não me chame assim, Leah. Se não, serei obrigada a te chamar de "Rainha dos lobos — Brooke ergueu as sobrancelhas para ela.

 

Leah torceu o rosto em uma careta.

 

— Rainha dos lobos?

 

— Sim. Você é a única loba que conheço e, como todo mundo sabe, o sexo feminino domina. Aqueles marmanjos da matilha precisam ser dominados.

 

Surpreendentemente, um pequeno sorriso surgiu nos lábios da Clearwater, que fez até mesmo Seth arregalar os olhos espantado.

Após isso, Brooke apresentou Gaz. Leah se limitou a rosnar e se afastar, enquanto Seth ficou no mesmo lugar. De início, o lobo e o vampiro se encararam com estranhas caretas, mas, após Seth notar a camiseta do Batman que Gaz vestia, os dois engataram em uma conversa animada sobre Gotham City, HQ'S e crossovers.

Brooke decidiu não fazer parte do assunto e antes que pudesse rumar de volta para o quarto e retornar à história de Heathcliff, a campainha tocou. Esme foi atender a porta e cinco segundos depois voltou acompanhada por Felix, Jane e Alec.

Brooke ordenou que suas pernas se movessem, mas elas não obedeceram; a fizeram ficar no mesmo lugar. Sem outra saída, ela levantou os olhos e observou os três Volturi avançando elegantemente pra dentro da sala com as costumeiras expressões inexpressivas e ar superior.

Antes que pudesse se deter, seus olhos já estavam se fixando em um rosto em particular entre os três; então lá estava ele. Alec estava o mesmo de sempre: sobretudo preto, sapatos polidos e o cabelo louro-acastanhado lhe caindo pela testa. Estupidamente lindo como sempre. Mas não foi isso que a chamou atenção, e sim o fato de que ele já estava a fitando.

Foi com surpresa que Brooke aceitou isso. Porque, depois de ter quase implorado para que ele mantivesse distância, tinha assumido que ele não a destinaria mais nem um olhar. No entanto, havia se enganado, porque ali estava Alec, a encarando como se ela fosse a única coisa naquela sala de estar.

E isso a deixou agitada, com o coração vergonhosamente acelerado sem motivo aparente, assim como a repentina vontade de falar com ele surgiu, mesmo ainda estando irritada e ressentida com ele. Falar qualquer coisa, mas Brooke sabia bem demais que as conversa entre os dois acabavam em discussões, na maioria.

Porém, foi rápido. Alec desviou os olhos para longe assim que percebeu que seu olhar estava sendo correspondido, quebrando o contato visual de maneira brusca. Aquilo despertou Brooke para a realidade e a fez ficar tensa e atenta para o motivo da visita.

 

— É uma hora ruim? — perguntou Felix, erguendo uma sobrancelha ao olhar a cena no sofá. Especificamente, a figura melancólica de Edward.

 

— Não, não, não. Está tudo certo — respondeu Esme, sorrindo calmamente e lançando um olhar na direção do filho adotivo. — Ed... nós só estamos aprendendo a lidar com as mudanças. Então, a que devemos a visita de vocês?

 

O olhar de Alec recaiu novamente na direção onde Brooke estava, mas não era ela quem ele encarou dessa vez. Era os irmãos Clearwater.

 

— Precisamos tratar sobre assuntos importantes. Mas não na frente da escória — disse o Volturi, a voz naturalmente arrogante.

 

Leah e Seth rosnaram.

 

— Esse maldito... — Leah deu um passo à frente.

 

— Ignore-o, irmãzinha — Seth a segurou pelo braço. Então olhou para o Volturi e pareceu enojado: — Não somos nós quem suga o sangue de pessoas inocentes. Sem ofensas aos Cullen.

 

Os vampiros de olhos dourados balançaram a cabeça.

 

— Melhor tirar vidas inocentes do que ser um saco de pulgas — rebateu Jane, os olhos encobertos por lentes brilhando de ódio. Todos eles usavam lentes, na verdade. Talvez porque tivessem sido avisados do risco que corriam com as visitas de Joey.

 

Leah grunhiu, encolerizada.
Brooke estava prestes a intervir quando Seth bufou.

 

— Troque o disco, sanguessuga — falou, demonstrando um cinismo impressionante. Com um pequeno sorriso insolente, ele virou-se para a Evern, sem soltar Leah. — Estamos indo. Não queremos nos intrometer em assuntos que não são da nossa conta ou ouvir desaforos. Avise ao Jake que o estamos esperando na floresta, se ele der as caras. Foi bom rever você, Garota dos vampiros.

 

— Seth, vocês não precisam... — Brooke se interrompeu assim que percebeu que a decisão não era dela. Suspirando, abriu um sorriso para o lobo. — Até mais. E eu não sou a garota de ninguém!

 

O Quileute piscou, maroto. Com aquele último gesto, arrastou Leah para fora da casa, cantarolando algo sobre "um sanguessuga incomoda muita gente..." ao passar pelos três Volturi.
Assim que o barulho da porta da entrada se fechando ecoou, Jane disparou:

 

— Precisamos falar com o esquisito ali.

 

Ela apontou para Gaz, e todas as cabeças se viraram para ele, que franziu o cenho.

 

— Eu?

 

— Há outro esquisito nessa sala, por acaso? — replicou Jane. Os dois travaram um olhar áspero.

 

— O que minha irmã está querendo dizer, é que o assunto diz respeito ao Julions — Alec se pronunciou antes que a discussão retomasse. Ele transmitia serenidade. — Portanto, queira nos acompanhar, Julions.

 

Brooke não gostou nada daquilo. Um sentimento ruim a percorreu e ela pôs a mão no braço de Gaz, o apertando em seguida. Ele desviou os olhos confusos do Volturi e virou o rosto para encara-la.
A morena achou que sua expressão deve ter indicado sua desconfiança, pois o amigo moveu a cabeça em um aceno quase imperceptível, antes de declarar:

 

— Seja o que forem dizer sobre mim, podem dizer aqui. Não tenho nada a esconder de ninguém, de qualquer forma.

 

Como se para enfatizar, Gaz ergueu a mão e a pôs em cima da de Brooke, agarrada ao seu braço.

 

— Aí está um bom e fiel hóspede — murmurou Rosalie, levantando o polegar em aprovação.

 

Mas ninguém prestou atenção nela. Todos estavam com a atenção focada em Gaz e Alec, que se encaravam sem piscar, em um embate.

 

— Se é assim que você prefere... — sibilou Alec, sem mover um músculo do rosto. — Estamos aqui porque queremos que você mate alguém.

 

Ele foi tão direto que demorou alguns segundos para os Cullen, Gaz e Brooke entenderem suas palavras. E quando isso aconteceu, veio o ultraje.

 

— Vocês querem o quê? — gritou Gaz, de olhos arregalados.

 

— Que. Você. Mate. Alguém — explicou Felix, pausadamente como fazia em suas aulas quando algum aluno não entendia.

 

O Julions explodiu em gargalhadas, para a surpresa generalizada.

 

— Desculpe, mas é que.... eu matar uma pessoa? Chega a ser... hilário! — comentou ele entre os risos. Mas à maneira que sua gargalhada ecoava pela quietude da sala e os rostos dos três Volturi permaneciam petrificados em expressões sérias, a gargalhada morreu em um ruído incrédulo. — Vocês estão brincando, certo?

 

— Não — respondeu Alec. — Precisamos que você mate alguém. É isto.

 

Brooke sentiu Gaz começar a tremer.

 

— P-por quê?

 

Jane rolou os olhos.

 

— Porque você é a droga do elo com os recém-criados monstruosos e no momento, a nossa única pista direta até eles?

 

— Não e-estou entendendo.

 

— Você é um deles. Deveria agir como tal — elucidou Alec, assim que percebeu a impaciência da irmã gêmea. — mas não age. Por quê?

 

Gaz ficou em silêncio. Dava para ver em seu rosto como estava confuso e temeroso, mas ainda assim buscava uma resposta racional. Todos na sala procuravam.

 

— Porque não está se comportando como tal — contestou o vampiro louro-acastanhado, assim que nenhuma resposta foi obtida. Ele pressionou mais: — Você somente foi transformado, Julions. Não vive e nem frequenta os mesmos lugares que os outros recém-criados. Não possui os hábitos e nem faz o que eles fazem. É apenas uma teoria minha, mas se estiver certa, é por isso que você não tem a marca da sigla do Senhor das sombras em seu braço. Você não faz parte de seus servos e a marca funciona como ligação entre vocês e ele. Agora, o que os recém-criados dessa nova espécie têm em comum, e você não?

 

Novamente, Gaz buscou respostas, assim como os outros. Porém, dessa vez, a conclusão veio rápida.

 

— Todos eles matam — disse Brooke, baixinho, hesitante. — São assassinos, Gaz nunca matou ninguém.

 

Ela fitou Alec com esperanças de que ele a dissesse que estava errada.

 

— Exato. — O Volturi assentiu. — O Julions pode até beber sangue humano, mas não é diretamente da veia. Creio que se ele matar alguém, seja de qualquer modo, a conexão com os outros de sua espécie apareça. Talvez seja nossa melhor chance de resolver tudo isso.

 

Ninguém ousou se pronunciar. O silêncio mortal dominou o cômodo enquanto os Cullen no sofá se entreolhavam nervosos. Até mesmo Edward parecia ter abandonado seu estado melancólico. Jane, Alec e Felix continuaram parados em seus lugares, como estátuas.

Gaz ficou transtornado. As mãos dele começaram a tremer e ele deu um passo para trás, como se o peso das palavras que havia acabado de ouvir fosse demais. Ao virar o rosto para olha-lo, Brooke deparou com alguém perdido e aterrorizado, como se a ideia de tirar uma vida fosse o maior medo dele. E talvez fosse.

Ela sentiu-se mal pelo amigo. E por isso quebrou o silêncio instalado:

 

— Vocês não podem fazer isso com ele. Você não pode! — bradou Brooke, soltando-se de Gaz e dando um passo em frente. Ela levantou o queixo e encarou Alec de cima, esquecendo-se de seus tormentos sobre ele nos últimos dias, extremamente irritada. — Não pode obriga-lo a matar alguém com base em uma teoria que você inventou, Volturi.

 

— Que provavelmente está certa — retrucou Alec, se desfazendo da expressão pétrea por um momento e assumindo outra: uma irritação parecida com a dela. — Então pare de se intrometer em assuntos que não são sobre você, Evern. Porque eventualmente, querendo ou não, o Julions se transformará em um assassino. É da natureza dele, assim como é da minha!

 

— Sem chance! É do meu amigo que estamos falando, vou me intrometer quantas vezes quiser se for preciso. Por isso, se eu fosse você, pararia de tentar faze-lo se tornar algo que ele definitivamente não é, e me concentraria em tentar fazer o meu própria trabalho ao invés de manipular outras pessoas a fazê-lo.

 

Mesmo com lentes, os olhos de Alec soltaram faíscas. Ele estava prestes a responder, e Brooke prestes a rebater o que viesse, quando a campainha ecoou, pela segunda vez no dia.

 

— Ah, quem poderia ser uma hora dessas? — rumorejou Esme, abrindo um sorriso tenso pelo clima instalado.

 

Quase dando um suspiro de alívio, ela escapuliu da sala e foi atender a porta.
Brooke ainda fitava Alec, sustentado seu olhar irritado que, particularmente, ela achou que não fosse somente pela discussão que estavam travando. Então se pegou pensando se, assim como ela, ele esteve ruminando a última conversa entre eles tirando a que tiveram nos últimos segundos.

Ela se perguntou se ele repassava as próprias palavras que disse e que ouviu. Se sentia-se magoado sempre que pensava nas circunstâncias daquele conversa e o resultado dela. Se isso o perturbava com a frequência que perturbava ela, ou se ao menos o incomodava de alguma forma.

Mas, antes que se questionasse um pouco mais ou cometesse um deslize e deixasse alguma daquelas perguntas lhe escapar, o som de sapatos contra o piso, invadiu seus ouvidos. Pelo arco da entrada da sala de estar da mansão, Esme retornou, e ao seu lado, um rapaz alto a acompanhava, destoando de tudo e todos à sua volta.

Vestia jeans rasgados nos joelhos, uma enorme jaqueta camuflada com vários colares de contas no pescoço e botas de combate. Debaixo das luzes da sala, os olhos que constantemente viviam vermelhos pelo fato de estar sempre chapado, pareciam ser avelã, mas eram do tom mais escuro de verde.

O nariz aquilino, a boca curvada em um sorriso atrevido, como se tivesse consciência das coisas ruins que fazia e ainda assim soubesse que existiam pessoas que não ligavam para isso, que continuariam a adora-lo e a barba por fazer, que o fazia parecer o canalha sedutor que ele realmente era.

Os dreads no cabelo escuro eram uma novidade, mas Brooke o reconheceu no momento em que pousou os olhos naquele rapaz. Seria impossível não reconhece-lo, mesmo após dois anos.
A memória dele ainda era vivida em sua mente, mesmo que ela não quisesse.

 

— Você tem visita, Brooke. O... — A voz de Esme pareceu estar a vários quilômetros de distância dali, mas ela conseguiu ouvi-la, assim como tinha consciência dos olhos do rapaz fixados em si desde o momento que a matriarca dos Cullen disse seu nome. — Desculpe, mas eu não sei o seu nome. Você disse que era um amigo dela de Denver?

 

Não, por favor, era tudo que ela pensava enquanto observava paralisada o rapaz abrir a boca.

 

— Sim — disse ele, sorrindo amável. — Sou Luke Hayes. E na verdade, sou ex-namorado de Brooke.

 

E então, em um instante, o mundo pareceu ser puxado debaixo dos pés dela. E Luke passou de uma memória infeliz num canto escuro de sua mente à realidade batendo em sua porta no momento. Ali estava ele, na casa que havia sido acolhida e que passara a ser seu lar; entre seus amigos e até aliados duvidosos.

Seu ex-namorado havia tido a ousadia de procura-la depois de dois anos, no final das contas.

Brooke o observou se aproximar lentamente em sua direção; sem cumprimentar ou dar explicações para ninguém. Ele fazia esse tipo de cara. E enquanto Luke diminuía a distância entre os dois, ela sentiu-se perder toda a cor do rosto, assim como sentiu seu sistema nervoso entrar em pane, a fazendo tremer tanto quanto Gaz alguns minutos atrás.

Ela quis fugir antes que ele a alcançasse, mas continuou congelada no lugar, revivendo as lembranças e sentimentos do passado dos dois no curto espaço de tempo que levou para ele alcança-la.

Pavor. Raiva. Choque. Receio. Sentimentos que despertaram e começaram uma disputa, se juntando a espiral de memórias em sua mente. E conforme todas aquelas coisas iam se afunilando no interior de Brooke, Luke parou em sua frente, tão perto que se avançasse um passo, ambos se chocariam.

 

— Olá, amor — disse Luke, a dando um sorrisinho capaz de derreter qualquer garota. — Podemos conversar?

 

A voz mansa e grave era a mesma de dois anos atrás. Ele era o mesmo de dois anos atrás, porque ele real. Luke Hayes estava ali: diante de si, querendo conversar, dois anos atrasado. E aquilo a deixou furiosa, porque havia esperado por aquele momento por um longo tempo e agora que não o queria mais, estava acontecendo.

Na batalha dos sentimentos, definitivamente a raiva venceu. Brooke não queria fazer uma cena, mas não se importou nenhum pouco com o fato dos Cullen e Volturi estarem assistindo, quando levantou a mão direita e desferiu um tapa no rosto do seu ex-namorado.

O impacto foi tanto que a Evern sentiu a palma arder e a face de Luke virou para o lado. Um coro surpreso de Uh!, ecoou entre os vampiros presentes. Ela ficou muito satisfeita quando viu o Hayes massagear a bochecha vermelha e a lançar um olhar estupefato.

 

— Agora podemos — falou Brooke, empinando o queixo, soando fria.

 

Apesar de tudo, Luke voltou a sorrir.

 

— Acho que mereci o tapa como cumprimento.

 

— Você merecia muito mais do que um tapa — retorquiu ela, cerrando os olhos. — Mas, se você quiser que eu o ouça, é melhor se calar e me seguir. Esme, vou usar o escritório de Carlisle.

 

Esme assentiu com a cabeça, com uma expressão culpada.

 

— Antes de me fechar em uma sala com você, quero a arma em sua cintura — Brooke voltou a falar, lançando um olhar de desafio para o ex-namorado enquanto estendia a mão.

 

Luke mudou para um sorriso de escárnio, mas puxou a pistola do cós da calça, a entregando. Assim que pôs as mãos na arma, a Evern retirou o pente com a munição com uma habilidade de quem já tinha feito aquilo antes.
Se os vampiros estavam surpresos, nenhum deles demonstrou.

 

— E a faca na sua meia — Brooke apontou, inflexível.

 

— Sério? — Luke ergueu as sobrancelhas, aborrecido por alguns segundos. Quando percebeu que a morena não cederia, bufou: — Esqueci o quão bem você me conhece, amor.

 

— Infelizmente, eu conheço. Felizmente, deixei de ser o seu amor há muito tempo. Agora, a faca.

 

Soltando uma risada sem humor, Luke Hayes se curvou sob os joelhos e levantou a barra da calça jeans, de onde puxou uma faca de serra de dentro da meia, entregando para a morena.
Brooke virou-se para trás e deu alguns passos até onde Gaz continuava atônito.

 

— Segure para mim, por favor — Pediu, empurrando a pistola e a munição e a faca para o Julions, que segurou tudo, tentando não derrubar nada. Então, muito desanimada e rígida, ela virou-se e olhou para os Cullen e Volturi. — Gritarei se for preciso. Com licença.

 

As paredes da mansão eram à prova de som, mas Luke não precisava saber disso. Assim, Brooke respirou fundo e antes de se virar, olhou para todos os rostos dos vampiros uma última vez. Seus olhos se detiveram nos de Alec, que tinha um semblante sombrio. E quando os olhar dos dois se cruzaram, uma centelha de exasperação cruzou seu rosto; mas desapareceu tão rápido quanto surgiu.

Preferindo não se atormentar por aquilo, a Evern virou as costas e encarou seu ex-namorado brevemente antes de começar a caminhar para fora da sala de estar. Ouviu o som das botas dele a seguindo apressadamente e pôde sentir o peso dos olhares em suas costas enquanto cruzava o arco da porta que separava o cômodo anterior do corredor.

Foi nesse exato momento que avistou Renesmee e Jacob. Os dois estavam de mãos dadas e pareciam exultantes; vinham se aproximando, na direção da sala. Quando a ruiva a avistou, abriu a boca, mas aí percebeu Luke em seu encalço e encrespou a testa.

"Luke", Brooke moveu os lábios sem produzir som algum. Renesmee arregalou os olhos e tropeçou nos próprios pés, sendo segurada por Jacob. Brooke abriu um sorriso que dizia "não se preocupe", mas não pareceu funcionar, já que a híbrida não desfez a expressão preocupada quando a morena continuou a andar e passou por ela.

Luke murmurou uma saudação simpática até demais e prosseguiu a seguindo. Quando ambos dobraram mais um corredor, ele começou a assobiar uma melodia, fazendo comentários irônicos sobre o tamanho da mansão, que não tiveram respostas.

Brooke abriu a porta do escritório e entrou. Aguardou Luke fazer o mesmo e em seguida fechou a porta, porém, não a trancou. Ainda de costas para ele, respirou fundo, vestindo a armadura que tecera desde que sua vida se tornara uma sucessão de confrontos que no final a despedaçavam, e no segundo que teve certeza que estava pronta para lidar com a situação, se virou.

O par de olhos verdes já a fitava; o dono dele já estava muito bem acomodado em uma das cadeiras ao redor da mesa de Carlisle. Ela se aproximou devagar, transmitindo toda a confiança que não tinha, e se imobilizou em frente à cadeira dele, claramente dispensando os outros assentos.

 

— Não vamos estender muito essa conversa — Garantiu Brooke, mas até ela mesma sentiu a dúvida em sua voz.

 

— Eu discordo — Luke balançou a cabeça, fazendo os dreads compridos se agitarem. — Temos muita coisa para falar. Eu tenho, e sei que você também tem, meu amor.

 

A Evern revirou os olhos, sem se deixar afetar.

 

— Joey me contou que você estava na cidade. Por que está aqui, Luke?

 

O moreno esticou as pernas e se recostou no estofado de couro da cadeira. Sua expressão era uma mescla de divertimento e incógnita.

 

— O coroa apareceu em Denver alguns dias atrás procurando por você e por sua mãe. Quando não as encontrou, adivinhe só quem ele foi procurar? Isso mesmo, a minha pessoa — ele deu uma risada, como se a história toda fosse cômica. — Como você sabe, lindinha, o coroa e eu não nos damos bem. Mas, percebi que poderíamos nos ajudar mutuamente, já que ambos estávamos atrás da mesma coisa: você. E já que eu sabia do seu paradeiro, resolvi vir junto.

 

Brooke franziu as sobrancelhas.

 

— Noah me contou sobre Seattle. Aliás, seja lá o que você fez com ele, deixou um estrago bem grande. Ele agora é uma pilha de nervos que murmura sobre aberrações da natureza, sempre citando você.

 

— Ah.

 

Foi estranho ouvir aquilo e se sentir mal por Noah, mesmo ele sendo a pessoa podre que era. No fim, a garota não queria infringir nenhum dano à ele, mas parecia que era tarde demais para consertar o estrago.

 

— O.k. Mas isso não responde a minha pergunta — Brooke piscou, cruzando os braços. — O que você realmente está fazendo aqui?

 

— Eu já respondi. Estou aqui por você, amor. Recebi sua mensagem sobre essa ser agora a sua cidade, e vim me certificar. E também vim te encontrar porque percebi que eu deveria ter feito isso há muito tempo.

 

Luke se moveu rápido demais; em meros segundos ele já estava de pé, posicionado em frente a ela, perigosamente perto. Brooke assustou-se, ao passo que seu coração acelerou e um pico de adrenalina despertou dentro de si, a fazendo recuar alguns passos.

Admitia: tinha medo dele. Sabia o tipo de pessoa que seu ex-namorado era e ao mesmo tempo não sabia, o que a assustava mais do que vampiros do mal a perseguindo. E estava pronta para correr para a porta quando ele esticou os braços e a segurou pelos ombros. O toque a fez se retesar, mas ela não fugiu dele.

 

— Vim até essa cidade chuvosa e deprimente por sua causa, Brooke. Porque mesmo depois de dois anos, você não sai da minha cabeça — disse Luke, sério como nunca havia sido antes. Os olhos verdes pareciam determinados a algo, as palavras o vinham difíceis e ele dava a impressão de alguém exausto; como sempre ficava ao final de uma festa e a ressaca chegava. Muito diferente do Luke Hayes de dezoito anos e mais ainda do que tinha chegado à mansão Cullen. Era o Luke Hayes de vinte anos, que ainda era ele, mas talvez, e somente talvez, assim como ela, havia passado por algumas coisas e prendido com elas desde a última vez que se viram. — Eu ainda gosto de você e sei que estou em seu coração, mesmo que seja em um lugar ínfimo. Eu sei, porque somos bons juntos, amor, e você sabe disso. Sinto sua falta, dos nossos dias de glória, e sei que você também sente. Você acredita em mim, certo?

 

Ele pôs pressão nas mãos nos ombros dela ao término das palavras, parecendo um pouco desesperado para ouvir um sim. Luke queria um sim. Porque ele estava seguro que tinha razão sobre tudo o que falava; ele sempre tinha. E era ele ali: tinha o mesmo cheiro de cigarro e de bebida misturado com canela. O cheiro que Brooke costumava se inebriar todas as noites.

Era ele. O sorriso fácil, as palavras certas, o modo frenético como as coisas aconteciam em sua presença. E sim, ela percebeu enquanto encarava a íris esverdeada: ele ainda estava em seu coração. Dois anos antes, ocupara todo o espaço nele, mas agora apenas um ínfima parte o pertencia.

Não porque o amasse, mas sim porque Luke havia feito parte de sua vida. Não existia mais nada de amoroso quando pensava nele ou o encarava — como fazia agora —, apenas uma figura que tivera um grande papel na peça de teatro que sua vida era. Luke fora um dos protagonistas do drama, assim como ela, por um período de tempo, mas agora não mais.

Agora, tudo que conseguia sentir quando pensava sobre ele ou o encarava, eram as memórias do tempo que passaram juntos e recordar do quanto ele a magoara. Foi só naquele momento que Brooke se deu conta que Luke Hayes havia se tornado uma lembrança dividida de seu passado: metade boa, metade ruim.

E isso não a incomodava mais como antes, e por isso não precisava jogar aquela lembrança para o canto mais escuro de sua mente, como fazia. Agora estava claro.

 

— Você ainda está no meu coração, sim, Luke. Mas isso não quer dizer que eu continue o amando — Declarou Brooke, sentindo a verdade transbordar de seus lábios a cada palavra enquanto o olhava dentro dos olhos. — Você me machucou como ninguém havia feito. Você me fez te amar, me fez acreditar que era meu protetor e porto seguro e então me descartou como se eu fosse um brinquedo que se quebrou depois de tanto uso. E sim, eu estava quebrada naquela época, e ainda estou, porque esta é quem eu sou. Mas estou tentando me consertar dia pós dia desde então. Não vou ser injusta ou ingrata e dizer que te odeio, porque eu realmente não odeio. Passei alguns dos meus melhores momentos com você, mesmo não estando completamente sóbria. Você me conheceu e segurou o meu mundo quando ele estava em crise. Você me aceitou naquela época, mesmo quando eu não me aceitava. Você me entendeu e me ajudou, do seu jeito deturpado, mas ajudou. Você foi o meu primeiro namorado e sou grata à você, mas é apenas isso. Por isso, não. Não acredito em você quando diz que ainda gosta de mim. Acredite, como você mesmo disse, eu o conheço bem, e é exatamente por isso que sei que o que você sente é apenas obsessão.

 

— Eu sei a diferença entre amor e obsessão, Brooke. E gostaria que você não duvidasse que estou aqui pela primeira opção — suspirou Luke, sacudindo a cabeça. Ele fechou as pálpebras com força, perdendo a pose de rebelde e assumindo uma expressão perturbada. — Olhe, sei que fui um filho da puta com você. Sei que a deixei sozinha quando você mais precisou. Sei que não mereço seu perdão. Sim, eu sei. Mas por favor, acredite em mim. Quando soube que você quase morreu naquela noite, percebi que não podia mantê-la ao meu lado, porque eu não estava ao seu quando você mais precisou. Que eu não era o melhor para você naquele momento, que se continuasse sendo egoísta por gostar de você, isso custaria muito mais do que a sua vida: sua felicidade. Então tomei uma decisão e escolhi deixar você ir.

 

— Aí nunca apareceu para me dizer isso. Preferiu mandar o recado por Noah e me expulsar do seu apartamento — Atirou Brooke, mas não havia raiva em sua voz. Ela somente estava constatando um fato.

 

Luke abriu as pálpebras e baixou os olhos.

 

— Eu errei. Mas tentei voltar atrás e falar com você, só que já era tarde demais. Você tinha sumido e sua mãe não quis me contar para ondo você tinha ido. Seis meses depois veio a notícia do acidente de carro que sua família se envolveu. Eu nunca consegui te dizer o quanto sinto muito pela perda da Penny.

 

— Eu também sinto, mas esse não é um assunto que eu goste de falar — A Evern o cortou. — E quer saber? Você não precisa dizer mais nada, porque eu não consigo enxergar outro jeito dessa conversa acabar senão com nós dois mais machucados do que já estamos. Após dois anos me atormentando por sua lembrança, sinto nesse momento que posso ficar descansada, porque finalmente estamos jogando limpo e pondo um fim nesse relacionamento tóxico que tivemos.

 

— Você não está me ouvindo! — exclamou Luke, apertando a mandíbula.

 

Ela não se deixou intimidar.

 

— Ao contrário; estou atentamente lhe ouvindo. E espero que esteja fazendo o mesmo, pois estou me esforçando para não guardar rancor de você. Então você pode retribuir indo embora de Forks, porque não temos mais nada para conversar. Tudo que tínhamos, acaba aqui. Espero que siga em frente e tenha uma boa vida com alguém que realmente o ame e seja menos problemática do que eu fui, Luke Hayes. Boa sorte com a gangue e seus negócios. Adeus.

 

Brooke retirou as mãos dele de seus ombros e o deu as costas. Estava prestes a dar o primeiro passo para longe quando sentiu seu pulso ser agarrado e foi puxada bruscamente para trás, colidindo contra o peito firme de Luke. Ele a olhou por uma fração de segundos antes de atacar sua boca.

A Evern ficou estática, surpresa. O sentiu deslizar os braços em volta de sua cintura e aperta-la contra ele enquanto forçava passagem com a língua, que ela não concedeu. Luke insistiu, ousando descer as mãos um pouco mais para baixo e apertar seu traseiro, o que a deixou furiosa.

Então Brooke fez a coisa que achou certa: mordeu o lábio inferior dele com tanta força que sentiu o gosto metálico do sangue em sua própria boca.

Luke gritou e afastou-se.

 

— Você me mordeu! — Berrou ele, horrorizado ao tocar com os dedos o lábio e vê-los tingidos de vermelho.

 

— Sim! E se voltar a encostar em mim sem o meu consentimento, eu farei mais do que isso — ela o fuzilou. — Entenda que você nunca mais me terá, Luke.

 

Um brilho perigoso faiscou nos olhos do Hayes, mas foi breve. Ele não se preocupou em limpar o lábio ensanguentado; ao invés disso, abriu um sorriso tão largo que o fez parecer macabro.

 

— Veremos. Você é minha, amor.

 

— Vá embora — Brooke apontou para a porta do escritório, com o estômago dando um nó. Ela se obrigou a manter a máscara de indiferença: — e nunca mais volte.

 

— Estou indo, mas permanecerei na cidade por mais algum tempo. Por isso não se preocupe, não sou de desistir fácil. Até mais.

 

Luke piscou e enfiou as mãos nos bolsos da jaqueta, caminhou até a porta e assobiou uma música antes de sair.
Quando se viu sozinha, Brooke respirou aliviada. Ela apoiou as mãos na mesa e se curvou para frente, tentando ordenar os pensamentos que pipocavam em sua mente. O que tinha sido aquilo? O que Luke tinha em mente com aquele encontro? O que ele pretendia fazer?

Ela não sabia. Somente tinha certeza que não acreditava em nenhuma palavra que ele dissera, e que aquilo era algum de seus joguinhos mentais doentes. Mas qual? E por que ele tinha que te-la beijado? Ela estava furiosa por isso, pois não queria mais que ele a tivesse de nenhuma forma.

E gostaria de ter extinguido aquela fúria após se acalmar, mas então se lembrou que ainda estava no escritório, e Luke já tinha saído. O que os vampiros na sala pensariam ao ver seu ex-namorado indo embora com o lábio sangrando, sem nenhum sinal?

 

— Que eles não o ataquem — Rezou Brooke, se apressando para fora do escritório.

 

Ela correu pelos corredores e só parou ao se aproximar da sala de estar, onde passou a caminhar normalmente, apenas um pouco mais rápido do que o normal. O som de suas pantufas contra o piso quebrou o silêncio mórbido do cômodo assim que o adentrou, e todas as cabeças se viraram em sua direção.

Brooke procurou por vestígios de sangue ou pedaços de Luke, mas não encontrou nada. Nem as armas deles estavam mais a vista, ainda que Gaz continuasse com os braços entrelaçados como se segurasse o vazio. Ele ainda estava catatônico.

Ao levantar os olhos e olhar para cada vampiro que a fitava de volta, ela pôde sentir a curiosidade opressora deles.

 

— Seu ex-namorado acabou de ir embora, estúpida — Informou Jane, achando graça da situação. Ela era a única.

 

— Ele estava com o lábio sangrando — Comentou Renesmee, hesitante. — Hã... Aconteceu alguma coisa, Broo?

 

Brooke sentiu o rosto ficar vermelho, mas se obrigou a não ficar embaraçada diante de todos os vampiros. Ao contrário: ela revirou os olhos e bufou.

 

— Eu o mordi quando ele me beijou sem o meu consentimento.

 

 

O riso foi coletivo, exceto por Alec, que permaneceu inexpressivo. A Evern poderia estar enganada, mas pensou tê-lo visto assentir quase imperceptivelmente com a cabeça, como se estivesse satisfeito com o que ela fizera com Luke. E isso a fez sorrir brevemente.

 

— Você está bem? — perguntou Bella.

 

— Sim — Brooke encolheu os ombros. — Agora que ele foi embora, eu estou.

 

Era verdade. Porém, ela não tinha certeza que Luke não voltaria mais. E isso a atormentou pelo resto do dia e por um pouco mais

 

 

***

 

"Joey está aqui."

A mensagem era curta e direta. E foi a primeira que Brooke enviou para a mãe depois de meses sem vê-la e após ter ganhado o celular de volta. Soava insensível, mas não queria arriscar e atrapalhar a paz de Marcy enquanto ela estivesse segura no cruzeiro no Havaí. Mas também não podia não informa-la sobre o fato de Joey está de volta.

Além do mais, o cruzeiro estava chegando ao fim. O mês de junho já batia a porta, e logo os três meses longe acabariam e Marcy retornaria à Forks. Era melhor que voltasse já preparada.

Brooke bloqueou a tela do celular e se encolheu mais no sofá em que estava deitada, puxando o cobertor um pouco mais para cima. Era uma noite fria; mais do que o costume. O céu do lado de fora desabava em uma tempestade torrencial e os trovões iluminavam a noite.

 


— Xeque-mate, pai! — O grito triunfante de Renesmee interrompeu seus pensamentos.

 

Brooke girou a cabeça e olhou para a frente, onde na mesa de centro, Edward e Renesmee jogavam xadrez e disputavam há algumas horas. Os dois pareciam felizes e tão concentrados no tabuleiro e em suas peças que pareciam não se importar por estarem sentados no chão frio ou nas conversas paralelas que os outros moradores da mansão tinham.

Vez ou outra eles próprios faziam comentários sobre os variados tipos de assuntos, mesmo nunca tirando os olhos do tabuleiro de xadrez. Expressavam caretas ou resmungavam quando perdiam. E no final sorriam carinhosamente um para o outro.

Conforme os observava, Brooke percebeu que aquele era um daquelas momentos entre pai e filha que ela nunca teria. Assim como nunca teria alguém para ameaçar seus possíveis namorados quando os apresentasse ou ser duro com ela quando fizesse besteiras; porque ela não tinha alguém como Edward em sua vida, ela não tinha um pai.

Tinha Joey, mas não era a mesma coisa. O amava como se ele fosse seu pai, mas ele não era. E mesmo que tentasse tapar o buraco dessa falta em sua vida, não conseguiria. E pensar sobre aquilo a entristeceu, a fazendo se encolher ainda mais no espaçoso sofá.

 

— Já é a terceira vez que você ganha, mocinha — Edward reclamou, o tom falso de irritação surgindo assim que viu seu rei sendo derrubado. — Você só pode estar roubando!

 

— Não estou roubando, apenas sou boa demais nesse jogo — Rebateu Renesmee, rindo do pai. — Aliás, foi o senhor quem me ensinou a jogar. E é como dizem por aí, certo? Os alunos superam os mestres.

 

Emmett, sentado no outro sofá assistindo o canal dos desenhos, gargalhou alto. Edward revirou os olhos.

 

— Eu amo você, querida. Mas se vamos continuar nossa relação de pai e filha, você tem que parar de derrubar o meu rei.

 

— Edward! — Censurou Bella, dando um leve cutucão com o pé nas costas do marido. Ela estava sentada na poltrona atrás dele. — Pare de ameaçar a nossa filha por uma vitória besta de um jogo de xadrez.

 

O leitor de mentes resmungou alguma coisa enquanto assentia com a cabeça. Brooke riu da cena, e nesse exato momento Alice, sentada no colo de Jasper, desgrudou os olhos do tablet que tinha nas mãos.

 

— Eu estou quase surtando! — Anunciou, frustrada. — O baile da escola está quase chegando e ainda não ajustei os detalhes finais.

 

O suspiro foi coletivo.

 

— O que falta ainda ser feito? — perguntou Rosalie, a única interessada no assunto.

 

Era disso que Alice precisava para se empolgar.

 

— Não muita coisa. Apenas o cardápio do bufê e a seleção de músicas. O que está me estressando é o fato de ainda não ter tido tempo para escolher as nossas roupas... Como organizadora do baile, o tempo parece estar contra mim, o que realmente é muito irônico já que sou imortal... Pelo menos o tema já foi escolhido para esse ano. Preciso pensar nas roupas com cuidado para esse tipo de tema...

 

Ninguém ousou interromper o raciocínio de Alice Cullen. Felizmente, ela logo voltou a atenção para o tablet e houve uma troca de olhares sincronizados entre os vampiros na sala, como se já estivessem acostumados com aquilo. Brooke não estava, por isso precisou segurar a risada.  E quando viu Renesmee chegar até o rei de Edward e derruba- lo novamente, se empenhou ainda mais.

 

— Sinta-se orgulhoso da sua filha e não seja competitivo, Edward — murmurou Bella, dando-o tapinhas nas costas quando ele bufou e cruzou os braços como uma criança birrenta.

 

Radiante, Renesmee virou-se para a Evern.

 

— Você já decidiu se vai ao baile?

 

Brooke fez uma careta ao ouvir a pergunta. O baile de primavera da Forks High School aconteceria dali a uma semana, e não tinha se decidido ainda se iria ou ficaria na mansão.

 

Havia uma parte sua que sim, queria ir ao baile da escola, mas havia outra que não, não queria ir ao baile da escola. Ela tinha tantos motivos para as duas opções que se os colocasse na balança, não sabia para qual lado mais pesaria.
A morena balançou a cabeça; nem negando nem afirmando.

 

— Eu acho que...

 

Sua voz foi abafada pelo estrondo e pelo tremor que ecoou de algum lugar próximo à mansão. As luzes da sala se apagaram e tudo mergulhou na escuridão, exceto pelos relâmpagos do lado de fora que refletiam nas janelas da casa.

Brooke rapidamente jogou o cobertor para longe e colocou-se de pé, seus instintos se agitando. Não conseguia ver muito bem, mas identificou a silhueta dos outros fazendo o mesmo e um segundo depois todos os Cullen estavam andando pela casa, tensos e atentos a algo que ela não conseguia ver, farejar ou ouvir.
Renesmee se aproximou e a abraçou, perturbadoramente assustada.

 

— O que está acontecendo? — Questionou, sentindo o medo do desconhecido a invadindo.

 

— Eles estão na floresta. Eles estão vindo — sussurrou a híbrida, a apertando com força.

 

— Eles quem?

 

— Os recém-criados do Senhor das Sombras.

 

Brooke arregalou os olhos, sentindo o coração acelerar e o terror a preencher. Estava prestes a perguntar o que fariam quando mais um estrondo soou, dessa vez mais próximo, e Emmett correu porta a fora. Os outros Cullen foram com ele, exceto Bella e Edward.

 

— Vocês duas precisam ir lá para cima — Ordenou o leitor de mentes.

 

— P-pai... — Renesmee tremeu.

 

— Obedeça-me, filha — Ele a cortou e plantou um beijo rápido na testa da ruiva. — Vão para o quarto e se tranquem lá. Assim que for seguro, eu aviso. Eu amo você, querida.

 

— Eu amo você, papai.

 

Brooke assistiu, em silêncio e imóvel, Bella beijar a filha e em seguida os três terem um breve momento de despedida antes de Bella e Edward entrelaçarem as mãos e correm juntos até a saída, deixando as duas garotas sozinhas na casa sem luz.
Outro estrondo ecoou, dessa vez mais perto, acompanhado por rosnados idênticos aos de animais ferozes.

 

— Nós deveríamos subir — sussurrou Brooke, estática de terror.

 

Renesmee a apertou ainda mais.

 

— S-sim. Vamos subir e nos trancar no meu quarto.

 

No entanto, nenhuma das duas se moveu. Elas permaneceram imóveis, contemplando a escuridão da sala, fitando ansiosamente o hall e a porta de entrada como se a qualquer momento alguém fosse arromba-la e entrar para ataca-las. Se concentraram tanto naquela paranoia, que quando os passos apressados descendo a escada ecoaram, as duas gritaram e se viraram.

 

— Calma! Fiquem calmas! Sou eu! SOU EU, GAZ! Não me batam! — O grito como resposta as silenciou.

 


Segundos depois, uma silhueta se aproximou. Um relâmpago cruzou o céu lá fora e emitiu claridade suficiente para iluminar o interior da mansão e revelar o rosto aterrado de Gaz, que tinha as mãos levantadas acima da cabeça.

 

— Gaz! — Censurou Brooke, a voz falha. — Você quer nos matar de medo?

 

— Sou eu quem pergunto isso à vocês — retrucou ele, exasperado. — Quase voltei correndo quando ouvi os gritos escandalosos de deram. Eu já estava assustado quando a luz acabou e ouvi estrondos estranhos, e aí venho ver o que aconteceu e sou recebido desse jeito.

 

Renesmee choramingou baixinho.

 

— Desculpe. Nós também estamos bastante assustadas.

 

— Tudo bem. O que está acontecendo? Onde estão os outros?

 

— Há recém-criados na floresta. Eles estão se aproximando e os Cullen foram cuidar disso. Edward mandou nos trancarmos no quarto até tudo ficar seguro — respondeu Brooke, sem esconder a preocupação na voz.

 

O silêncio se instalou por alguns minutos enquanto eles permaneciam no escuro.

 

— Então é melhor vocês fazerem isso — disse Gaz, de repente. — Vou ficar com vocês. Não sei lutar, muito menos tenho controle sobre os meus poderes. Corro o risco de apenas atrapalhar a luta deles se for até lá para ajudar.

 

Ele parecia bastante infeliz agora.

 

— Adoraríamos ter a sua companhia — falou Renesmee, a voz mais alta do que anteriormente.

 

Brooke concordou, sabendo que o amigo podia ver aquele gesto.

 

— Vamos logo. Ficar no escuro me deixa inquieta e com uma sensação nada boa.

 

Gaz e Renesmee concordaram. Então os três viraram as costas e começaram a caminhar na direção da escada principal.
A Evern se deixou ser guiada pelos amigos, pois não tinha uma visão periférica sobrenatural.

Os três contornaram os sofás e já estavam alcançando o primeiro degrau da escadaria quando mais um relâmpago explodiu no céu, dessa vez sendo acompanhado pelos vidros da janela e das paredes da mansão. Os três gritaram, se abaixando para se protegerem dos estilhaços.

Ruídos abafados soaram e um rosnado animalesco ecoou. Brooke estava agachada no chão próxima à escada, com as mãos na cabeça, mas conseguiu ver pelo canto do olho a silhueta corpulenta e masculina do que teve certeza se tratar de um vampiro de pé na entrada do hall, iluminado pelos trovões do lado de fora.

Ela girou a cabeça e estreitou os olhos, tentando enxergar seus amigos. Quando não conseguiu, esticou os braços e encontrou com Renesmee ao seu lado, encolhida. Gaz deveria estar próximo também.
Então o vampiro os viu.

 

— Corram! — Gritou, já se pondo de pé.

 

Ela sabia que não era uma ideia engenhosa, mas não tinha outra saída. Apenas levantou e correu para o outro extremo da sala, na direção da cozinha, onde sabia que tinha a porta de saída dos fundos. Esperou que a híbrida fizesse o mesmo, assim como Gaz. Porém, quando olhou para trás sob o ombro, o que viu a fez desacelerar o passo.

Renesmee ainda estava no mesmo lugar, encolhida. E Gaz, que havia hesitado em ir ajudar os Cullen por temer atrapalhar tudo, tinha corrido até o recém-criado e lutava contra ele, tentando derruba-lo ou atrasa-lo o máximo que pudesse.

 

— Gaz, não! — Brooke berrou, o vendo ser lançado contra a estante.

 

Pedaços do móvel voaram para todos os lados. O Julions se levantou rapidamente, mas o recém-criado atacou novamente.

Brooke deu meia volta e hesitou, indecisa para quem correr: Renesmee ou Gaz? Ela queria ajudar os dois. Queria poder tirar a ruiva da sala e leva-la para um lugar seguro, assim como queria ser páreo para um vampiro e arrebentar a cara feia do recém-criado que socava seu amigo.

Mas ela era apenas uma, e acima de tudo, uma humana. A escolha pareceu óbvia; e por isso a Evern se esgueirou até a escada, tentando não atrair a atenção do recém-criado. Estreitou os olhos e se forçou a reconhecer a figura encolhida da híbrida no chão, desnorteada com os sons da luta e dos relâmpagos.

 

— Levante-se, Nessie. Temos que sair daqui — Cochichou Brooke, agarrando o braço da ruiva sem perder tempo.

 

— Estou com medo — Choramingou Renesmee.

 

— Eu também. Mas Gaz não vai entreter o cara malvado ali para sempre, então, levante agora e corra se quiser continuar viva. Vamos dar o fora.

 

 

A híbrida continuou choramingando, mas conseguiu se pôr de pé com a ajuda da morena. As duas saíram tropeçando na pressa de deixar a casa, nem correndo nem andando no breu da sala de estar.

Brooke sentia o pico de adrenalina correndo em suas veias, assim como sentia seu coração cheio de pesar e recriminação a cada passo que dava na direção da saída do cômodo. Como podia estar abandonando seu melhor amigo? Ainda mais quando ele tratava uma luta com o inimigo?

Ela se sentiu a pior das pessoas enquanto seus olhos estreitos se enchiam de lágrimas. Não é hora de chorar, repetiu para si mesma ao passo que cruzava a sala arrastando Renesmee, desviando o máximo que podia dos destroços da mobília que eram arremessados no ar pela luta dos dois vampiros.

As duas alcançaram a saída e adentraram a cozinha. Estava escuro, mas não tanto quanto na sala, ou ao menos, não o suficiente para que elas não enxergassem a porta dos fundos. Ou o contorno da pessoa parada nela, as esperando pacientemente de braços cruzados.

Renesmee e Brooke pararam abruptamente, atrás da bancada de mármore, assustadas. Um trovão ecoou e a claridade do raio lançou um pouco de luz dentro da cozinha, expondo o rosto da pessoa.

A Evern arfou.

 

— Luke?

 

 

Na soleira da porta, ele acenou com a cabeça, abrindo um sorriso medonho, que não parecia nada com os que ele sempre dava.

 


— Não exatamente — respondeu Luke, com uma voz que também não era sua.

 

 

Ele inclinou a cabeça para frente, onde a fraca claridade do céu do lado de fora refletia na janela do cômodo e emanava uma luz bruxuleante. Foi aí que Brooke notou os olhos amarelos incandescentes e percebeu que aquele não era Luke Hayes, seu ex-namorado.

 


— Mas posso apresentar-me futuramente, minha senhora — disse ele, puxando algo da cintura.

 

Foi tão rápido que Brooke somente conseguiu arregalar os olhos e sentir o estômago revirar ao escutar o vocativo “minha senhora”. Renesmee tencionou os músculos ao seu redor e a próxima coisa que as duras viram, foi um flash contornando a bancada e passando por elas junto com uma brisa fria soprada em suas nucas.

O ruído da arma sendo destravada ricocheteou em seus ouvidos e em seguida a Evern ouviu o som da coronhada na cabeça de Renesmee, que tombou para frente e caiu no chão em um baque surdo. Brooke gritou e logo sentiu o cano da arma sendo pressionado contra sua cabeça.

 

— Q-quem é você? — perguntou ela, resistindo a vontade de correr para longe ou a vontade de socar a cara de Luke, que não era Luke.

 

A risada fria tocou a pele de sua orelha.

 

— Um demônio, minha senhora. Um dos piores. Mas deixemos as apresentações para depois, pois agora temos um lugar para ir — Sibilou o demônio. — E não aceito não como resposta, nem mesmo de milady. Meu amigo está cuidando do seu, por isso não há para onde correr ou para quem gritar. Venha comigo ou então a aberração híbrida da natureza irá sofrer as consequências.

 

 

 

Brooke baixou os olhos para Renesmee inconsciente no chão. A lembrança do dia da morte de Amália a veio à mente, e ela apertou a mandíbula. Se recusasse, tinha certeza que a ruiva teria o mesmo destino do que a Young. Não podia deixar aquilo acontecer novamente.
Ela balançou a cabeça levemente, aceitando.

 


— Ótima escolha, minha senhora — disse o demônio, abaixando a arma. — Mas antes de irmos, é melhor pegar um casaco. A noite está fria e não posso deixá-la ficar doente. Vá pelo canto da sala e não tente nenhum truque se não quiser a cabeça decepada da híbrida. Eu saberei se tentar. Você tem cinco minutos. 

 

Ainda em silêncio, Brooke assentiu. Lançou um último olhar para a ruiva no chão, o peito se apertando em angústia e medo, mas obrigou-se a ficar calma e virou as costas, passando pelo demônio que fez uma reverência. E então ela saiu da cozinha, partindo em direção ao segundo andar da mansão, pensando em um plano de escapatória e sobrevivência.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Olá, amores! Como vocês estão?
Ressuscitei das cinzas, eu sei. É isso o que acontece quando as férias de julho acabam e você volta a rotina e é massacrado pela escola e vida social. Me desculpem pelo atraso do capítulo, por favor.
Mas, durante esse tempo eu andei pensando sobre muitas coisas e buscando inspiração. O resultado disso é este capítulo e o final dele! Hahaha!
Para quem estava curioso sobre o ex-namorado da Brooke, aí está Luke, que na verdade não é Luke, mas isso é história para o próximo capítulo. O que vocês acham que vai acontecer?
Foi muito desafiador pensar e escrever esse capítulo, porque uma boa parte do passado de Brooke esteve presente, e quando digo isso, me refiro ao Luke. Tive que usar toda a imaginação para criar o diálogo entre eles e passar ou ao menos tentar, demonstrar a relação que os dois tinham no passado e o que sobrou dela, com eles cara-a-cara.
Particularmente, acho que atingi o que eu queria. E a música da Taylor Swift ajudou bastante. (Risos)

Antes de terminar a nota, quero muito agradecer a maravilhosa da Michelle Cristina dos Santos pela LINDA RECOMENDAÇÃO QUE FEZ PARA EYES ON FIRE E POR TODOS OS COMENTÁRIOS INCENTIVADORES! Esse capítulo é especialmente dedicado à você, amore. Muito obrigada ♡

É isso.

Até o próximo capítulo...
Bjs!



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