Eyes On Fire escrita por Brê Milk


Capítulo 3
Chapter 2 : O Primeiro Dia


Notas iniciais do capítulo

Hello, amores! Olha eu aqui de novo depois de atrasar o capítulo e.e
Então, espero que perdoem o meu atraso, mas é porque a fanfic ainda está sendo escrita e como é final de ano, a vida está uma loucura. Enfim... LEIAM AS NOTAS INICIAIS E FINAIS, POR FAVOR!

Antes de começar com o capítulo, eu queria pedir com todo carinho que aqueles que estão lendo, marquem a fanfic nos seus acompanhamentos e comentem, comentem, comentem! É importante para eu saber o que estão achando e se devo modificar algo, beleza? Sei que é chato ficar pedindo isso, mas estamos no começo da fic que já tem cinco acompanhamentos e no capítulo passado somente 1 pessoa deixou seu comentário me fazendo pular de alegria. Então vamos fazer um trato? Comentem!

A segunda coisa que tenho para dizer é... A FIC AGORA TEM UM TRAILER! É, depois de muito me matar para conseguir fazer algo, cheguei a um resultado satisfatório no final. Por isso, vou deixar o link aqui para vocês verem o vídeo :)


https://youtu.be/Q2cB0IVDZek



♧ Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/709638/chapter/3

      

     Brooke Evern

 

Houve uma época em que Brooke Evern adoraria ter saltado do carro e corrido animada para apreciar o destino final de sua viagem. Entretanto, hoje em dia, ela não se sentia mais assim. Quando o carro estacionou em frente à residência, tudo que ela conseguiu sentir foi uma onda de pânico perpassar seu corpo e tremores a invadirem. Conseguia visualizar claramente o dia ocorrido do acidente, lembrava - se que estava no mesmo banco traseiro como estava agora e o rosto de sua irmã Penny não lhe saia da cabeça. Não podia esquecer dos detalhes daquele fatídico dia porque eles visitavam suas noites em seus pesadelos, e para seu tormento maior, conseguia ver em sua mente o cenário da tragédia. Recordava - se como ontem do som das risadas que enchiam o veículo naquela tarde, da voz delicada de Penny pedindo para ir ao banheiro e de sua mãe virando o rosto para trás justamente no momento em que o outro carro descontrolado as atingiu. Lembrava - se de ouvir seu próprio grito e em seguida de sentir o impacto da batida fatal que nunca chegou... O cheiro de fumaça ainda estava impregnado em sua mente, e quando acordou minutos depois, se deparou com a imagem que nunca lhe abandonaria: O corpo sem vida e deformado de sua irmã mais nova pendendo ao seu lado.

Os acontecimentos que decorreram depois disso não eram tão nítidos na memória de Brooke, mas saber que o carro que causara tudo aquilo atingira diretamente o lado em que sua irmã estava, era o bastante para a fazer cair em um choro compulsivo que muitas vezes tentou esconder de sua mãe, a única sobrevivente do acidente além dela mesma. Já fazia dois meses desde que tudo aconteceu, e para Brooke, ainda doía. Doía saber que nada mas seria como antes - ela já não era a mesma de dois meses atrás -, que nunca mais se irritaria com as perguntas e o jeito autoritário que Penny falava com ela. Sabia que tudo seria diferente, e tinha plena certeza disso. No lugar onde havia alegria e esperança dentro de si, fora substituído pela dor da perda e a tristeza do luto. E tinha a saudade, aquela quem Brooke não conseguia superar. Ela nunca iria, na verdade. Estava de luto, e queria acreditar nas palavras mentirosas dos amigos que diziam que tudo ficaria bem e que um dia ela iria superar a morte da irmã, mas ela não ia. Sabia disso. A pequena cicatriz do lado direito de seu rosto seria um lembrete toda vez que acordasse todos os dias, era só mais uma marca, como todas as outras que carregava consigo internamente e externamente.

— Broo, você tem que sair do carro para poder conhecer a sua nova casa - ouvir a voz baixa e fungada de sua mãe era a única coisa que a tirava daquele mundo de melancolia e devaneios torturantes quando mergulhava nele.

E com um piscar de olhos, Brooke olhou para a porta aberta do carro e viu, em pé do lado de fora e com a mão estendida para ela, sua mãe que também já não era mais a mesma. Ela sabia que maior que sua dor, era a da mãe, Marcy Evern. Tinha em mente que tinha perdido uma irmã, já Marcy, uma filha, e se colocasse na balança quem mais lamentava e sofria, sabia que sua mãe ganharia. Entretanto, enquanto estava parada encarando a mãe com o corpo rígido no banco, pôde notar que visualmente, ela parecia melhor do que si própria. Ainda que Marcy tivesse tentado esconder as olheiras com maquiagem e tivesse feito um coque nos cabelos loiros - sujos, Brooke conseguia captar o luto nos olhos verdes esmeraldas de sua mãe.

Ela também não tinha superado, ao contrário do que dizia e fazia, já que estarem paradas de frente aquela casa com o porta - malas cheio de bagagem era a razão principal do que sua mãe intitulava "Uma maneira de superar a morte de sua irmã". Para Brooke, o que elas estavam fazendo não era uma maneira de superação, e sim de fuga considerando o fato das duas terem se mudado de Denver logo após um breve surto de Marcy quando o velório de Penny chegou ao fim. Brooke não contestou, não fez objeções e nem se importou em saber o destino para onde iria, não conseguiu fazer nenhuma dessas coisas sem considerar que era a única forma de sua mãe não parar para pensar e absorver toda a dor da perda, não conseguiu fazer isso com ela. E embora não gostasse de jogar tudo no fundo de uma mala e deixar tudo para trás em sua cidade para viver em uma nova, não reclamou. Talvez sua mãe estivesse realmente certa e fosse daquilo que as duas precisavam agora. Um recomeço. Uma vida nova. E isso tudo, teria que procurar em Forks, uma pacata e nublada cidade do Condado de Clallam, no estado de Washington que nunca ouvira falar e onde seria seu mais novo lar. Quando sua mãe escolheu o lugar e lhe contou, Brooke não disse, mas achou uma péssima escolha visto o ar deprimente que a cidade possuía: chuvosa, úmida, pequena e entediante. Não tinha certeza se isso contribuiria para como seu estado de espírito se encontrava, como se tivesse morrido naquele acidente junto com Penny.

Entrementes, quando aceitou a mão estirada de Marcy e se ergueu vacilante do carro com as mãos ainda tremendo por conta do trauma que agora nunca a abandonava, pôde concluir que tinha razão: Forks era tudo que imaginava. O céu carregado de nuvens cinzas e o ar frio e úmido demonstrava isso. Todavia, precisava de um recomeço... Um recomeço. Necessitava se agarrar a isso ou senão não aguentaria...

— Obrigada - disse em um sussurro rouco para a figura da mãe quando ficou ao seu lado e as duas se viraram para encarar a casa.

— Vem, vamos entrar - Brooke se deixou ser puxada por Marcy que lhe enviou um sorriso fraco antes de seguir apressada até o gramado da residência.

A vizinhança parecia ser tranquila, a maioria das casas ali eram feitas de tijolinhos com cercas protegendo seus gramados, e a um olhar, nenhuma parecia habitável naquele horário. Calmo demais.
Havia um pequeno jardim de rosas vermelhas defronte a porta pintada de verde na fachada da casa cor de areia, e nas laterais, um extenso corredor que levava aos fundos do quintal. Uma única janela retangular ladeada por pequenas pedrinhas decorativas se encontrava fechada ao lado da porta e deixando - se ser guiada pela mãe, Brooke entrou dentro da casa, que a partir daquele momento, seria sua. Não se impressionou com o que encontrou do lado de dentro: uma ampla sala com paredes em um tom verde musgo vazia, sem sinal de móveis ou artefato que indicasse a presença de morador algum.

— Os móveis estão vindo no caminhão, não se preocupe - ouviu a voz tintilada de sua mãe se sobressair em um eco pelo vazio da sala, e tudo que fez foi balançar a cabeça para aquilo.

As duas caminharam juntas pelo extenso caminho livre da sala, cada passo se transformando em eco, e cruzando um corredor á frente, chegaram ao que deveria ser a cozinha. Livre da mobília e eletrodomésticos também, mas com uma bancada de madeira estrategicamente construída no meio do cômodo, e com uma pia de mármore negro ao fundo. O piso acinzentado e arranhoso lembrava a Brooke o céu no lado de fora, e surgindo como um estalo do nada, o cansaço daquela viagem, daquele dia e principalmente dos últimos meses recaíram sobre a garota postada ali.

— Como você pode ver, esta é a cozinha. Os antigos moradores não a utilizavam muito, por isso nunca a decoraram. Mas eu estava pensando em algo escuro, branco não porque suja muito, fumaça, gordura... E precisamos ver os outros cômodos, filha, há no máximo...

— Eu estou muito cansada, mãe. Acho que vou procurar algum quarto e dormir um pouco. Podemos conversar amanhã sobre a decoração, tudo bem? - Brooke interrompeu o monólogo da mãe sentindo a cabeça pesar com tanta informação que não a interessava.

Por um momento, Marcy pareceu atordoada, porém logo entendeu o estado da filha quando viu o cansaço estalado ali naquele rostinho jovial.

— Claro que sim, filha. Deveria ter falado antes! Tudo bem... Os quartos ficam no segundo andar á esquerda, escolha um para você - sorriu carinhosamente.

Brooke forçou um sorriso que saiu torto.

— Okay.

Virou as costas e fitou a abertura na parede por onde deveria sair, porém antes que a ultrapassasse, ouviu a voz de Marcy atrás de si a chamando.

— Brooke - ela voltou a se virar a encarando. Marcy encarou de volta - Eu amo você.

Foi como se uma mão invisível tivesse atravessado o peito de Brooke e apertado seu coração até danificar. Levou um segundo até que pudesse se acostumar com a visão dos olhos embaçados e tristes de sua mãe pela primeira vez desde aquela viagem sem sentido. Ela sabia o aquele olhar queria dizer, transmitia a mesma mensagem que seu cérebro e coração produziam todas as manhãs, tardes e noites: "sinto falta dela".
Foi preciso muito esforço para não deixar as lágrimas romperem e seus pés a levarem até sua mãe e atirar - se em seus braços.

— Eu também te amo, mãe- foi tudo que Brooke preferiu dizer.

Não podia remexer naquele assunto doloroso, não agora que sua mãe estava ali diante dela e sua cabeça parecia prestes a estourar.
Marcy sorriu carinhosa e acenou com a cabeça para a filha que acenou de volta. Então Brooke virou novamente as costas, tendo o vislumbre de sua mãe enxugando os olhos nas costas da mão, e verdadeiramente dessa vez, deixou a cozinha vazia com a impressão de ter ouvido um soluço abafado. Caminhou apressadamente pelo mesmo caminho que fizera outrora e pegou o corredor da direita no hall de entrada, onde deu de cara com uma escada de poucos degraus que a levou para o segundo andar que se dividia em dois lados. Optou pelo esquerdo após se lembrar do que Marcy havia dito, e enquanto caminhava pelo corredor acarpetado e com paredes brancas, observou o número de portas só daquele lado do andar. Eram três ao todo, e quando enfim percorreu todo o perímetro do corredor, preferiu entrar na última porta, onde encontrou um quarto de tamanho médio. Brooke ficou com a mão na maçaneta segurando a porta de madeira, e analisou o cômodo neutro que não dava sinais de ter possuído um particular dono anteriormente. Não havia mobília nenhuma no quarto exceto uma única cama de casal, as paredes brancas eram revestidas por pesadas cortinas negras acetinadas e o carpete cinza - perolado no chão estava encardido com manchas escuras e poeira. Também tinha uma portinha ao fundo na lateral, o que Brooke deduziu se tratar de um banheiro.

Pensou por alguns segundos se queria mesmo aquele quarto tão mal - tratado, porém a imagem daquela grande cama a esperando varreu qualquer dúvida ou pergunta de sua mente por hora, e sem fazer mais cerimônias, Brooke largou a maçaneta fechando a porta atrás de si e se jogou no colchão, que descobriu ser macio. No momento em que seu corpo tocou o estofado da cama, sentiu um grande alívio percorrer por seus músculos, e seus olhos foram se fechando com a sensação. Se sentia tão cansada... Sua cabeça pesava tanto que começara a doer, e sua mente não a dava sossego nem por um nano segundo. Na verdade, nunca houve um momento em que dera. Porém, enquanto sentia todos os músculos relaxarem, sua mente voou em direção ao assunto que sempre ia: Sua irmã Penny. Não havia um segundo que não pensasse nela, um momento. Brooke sempre achou que as lembranças eram um efeito colateral da perda, porque eram elas que nos faziam sofrer, e ela continuava pensando isso. Não sabia como seria dali para frente, não sabia o que aconteceria se tentasse viver uma vida onde Penny não existisse, não sabia se conseguiria fazer isso. Como seria viver só com a mãe que passava atualmente pela fase de negação, ou o que esperar daquela cidade e de seu futuro... Ela simplesmente não sabia.
Se encolheu no colchão, a cabeça encostada no ombro e os joelhos no peito. Sua mente começava a se embaralhar e a inconsciência chegar aos poucos, mas antes que caísse em sono profundo, Brooke teve a primeira certeza desde que sua vida mudara completamente.

Ela estava perdida, sem saber o que fazer ou para onde ir.

 

 

            (...)

 

 

 

Não foi uma boa noite para Brooke. Assim como das últimas duas vezes, não conseguiu dormir com o som da chuva pesada batendo na janela do quarto e no teto, assim como os pesadelos costumeiros que faziam suas madrugadas turbulentas. Porém, o motivo de sua insônia noite passada não fora a chuva incessante ou os pesadelos, foi a ideia de começar as aulas naquela manhã. Sabia que depois de três dias vivendo naquela cidade e morando naquela casa, em algum momento deveria ir para a nova escola, só não a agradava saber que seria mais cedo do que esperava. Não tinha ânimo o suficiente para ir para uma escola cujo o número total do corpo estudantil era menor do que a metade da antiga escola em Denver, ainda mais quando isso implicava no fato de saber que todos se conheciam. Todos. Sendo assim, ela seria a aluna nova, a garota estranha e invasora na comunidade estudantil, ou então, no máximo, o mais novo assunto pelos corredores. Já até podia imaginar os olhares curiosos em sua direção, as especulações sobre si e as tentativas de aproximação dos novos colegas (Não que ela tivesse certeza dessa última parte). Brooke apenas não queria interagir com ninguém daquela cidade a não ser a própria mãe, e ir para um lugar com mais de trezentos adolescentes com os hormônios á flor a pele, não ajudava muito.

Foi choramingando que levantou após ver o criado mudo na cabeceira marcar as seis em ponto, e sentindo os músculos doloridos e as articulações rígidas pela mal noite de sono, se levantou indo em direção ao banheiro, deixando o quarto agora mobiliado. Assim que entrou no cômodo anexado ao outro, sentiu os pelos dos braços enriçarem. Aquela era a parte mais fria da casa, o banheiro. Não sabia se era por causa dos azulejos azuis marinhos que eram frios quando se encostava, ou por causa do piso derrapante que mais parecia gelo, muito menos se a redonda pia de mármore tinha alguma relação com o frio que sentia. Apenas que tudo ali era tão gélido que noite passada, quando Brooke ligou o chuveiro e se encolheu no chão tomada por uma onda de lágrimas incessantes, sentiu como se estivesse afundando chão a dentro em uma nevasca, mesmo que a água que escorresse por seus braços e corpo, fosse da mais quente que já sentira.
Exatamente por não querer ser pega de salto pelo sentimento oco e pelas lágrimas outras vez, foi que se apressou a fazer a higiene matinal de todas as manhãs e tomar um rápido banho quando passou pelas portas do boxe. Não demorou nem dez minutos e, saindo já devidamente vestida com uma simples blusa de mangas compridas verde - musgo e o jeans mais novo que tinha, Brooke retornou ao quarto com o estômago começando a apertar. Caminhou ligeiramente se desviando de pufes e estantes, e parou de frente ao espelho dourado que a refletia claramente: o rosto encovado emoldurado por fios castanhos de seu cabelo liso e comprido, as olheiras arroxeadas e bem visíveis abaixo de seus olhos castanhos escuros, suas maçãs pálidas e os lábios ressecados sem nenhum vestígio de maquiagem com a mínima cicatriz visível. Estava no pior estado de sua aparência que já se encontrara, sabia disso, entretanto não se sentia feia ao extremo, porém não se sentia bonita também. Era só ela mesma ali naquele reflexo de espelho, ela e seu desgaste físico dos últimos sessenta dias, um desgaste que não era pior do que o emocional e nem do psicológico, tinha a certeza.

Um ruído descontente saiu dos lábios de Brooke e ela perdeu a paciência com a própria aparência, decidindo por fim, prender o cabelo em um rabo - de - cavalo qualquer deixando a longa franja cobrir sua cicatriz. Quando resolveu sair de frente ao espelho, buscou pelo agasalho e pelas luvas que Marcy tanto insistira que ela usasse, e agarrando a mochila por último, girou nos calcanhares e caminhou para fora do quarto em passos hesitantes.
Os corredores da casa eram desertos e silenciosos, ela já tinha se acostumado com isso, e foi cortando o silêncio com o som de seus sapatos, que desceu a curta escada ligando os dois andares, que adentrou a cozinha onde encontrou sua mãe sentada a mesa, com o café da manhã já servido e intacto como se estivesse esperando por sua presença.
E realmente Marcy estava. Logo quando viu a filha, iniciou um discurso de que estava muito feliz com ela por estar se dando a chance de se adaptar a nova vida e que elas precisavam comemorar aquilo com um caprichado café da manhã. Brooke achou aquilo desnecessário, e tentou dizer isso a mãe, contudo, Marcy Evern não era uma mulher que recebia uma resposta negativa de bom grado, e por isso no minuto seguinte, já estava empurrando torradas e iogurtes para a filha. Foi só depois de vinte minutos que Brooke conseguiu ser liberada, onde teve que garantir que ficaria bem e recusar a proposta de ser levada por Marcy até a escola. Ela gostava da mãe que tinha, se sentia bem em sua companhia, mas tinha a sensação incômoda de falar sempre a coisa errada depois da perda da irmã. Então, foi ouvindo os desejos de boa sorte da mãe que saiu de casa batendo a porta atrás de si, às sete e meia da manhã.

O frio rigoroso e o vento furioso a receberam de imediato, e Brooke se enrijeceu embaixo das roupas e das luvas. Olhou em volta, e o que encontrou foi o mesmo cenário de todos os dias: portas e janelas fechadas. Até aquele momento não conhecera e nem vira nenhum dos vizinhos, percebeu que eles nunca saiam de suas casas. Era esquisito para ela, estava acostumada com a agitação de Denver, mas talvez fosse só o costume daquela pacata cidade onde fora parar. Não saberia dizer, por isso encolheu os ombros e deixou o assunto para lá. Eram sete e meia, portanto tinha meia hora de caminhada pela frente, tempo suficiente para chegar a Forks High School, a única escola daquele lugar.
Brooke sabia que caminhar por meia hora todos os dias na ida e na volta seria cansativo, mas não se importava quando a ideia de ter que entrar em um carro ou ônibus todos os dias inevitavelmente, a atingia. Já fizera um grande esforço quando aceitou entrar novamente em um carro com sua mãe depois que desembarcaram no aeroporto, não pretendia fazer de novo.
Tomou ar para seus pulmões e encorajou a si mesma sobre aquele dia não transcorrer tão mal antes de dar o primeiro passo na direção onde sabia que a escola ficava.

Começara a garoar no meio do caminho, e até chegar a propriedade da escola, tudo que Brooke conseguiu ver pelo caminho foi mata. Verde aqui e acolá. Estava com o casaco um pouco úmido pelos respingos da garoa e seu estômago não sossegou nem por um momento até parar de frente a vários prédios conjuntos que não se pareciam em nada com uma escola, a não ser pela grande placa na entrada que anunciava: Forks High School. Não tinha certeza para onde ir dali, não queria ficar na chuva feito uma idiota, mas também não queria seguir adiante com aquilo. E acabou decidindo a contragosto, ir até o primeiro prédio onde havia uma placa escrita "secretaria". Brooke não tinha certeza se era para lá que deveria ir, porque a ausência de pessoas e de carros indicava isso, mas resolveu arriscar e seguiu por uma calçada ladeada por pedras até a porta do prédio, onde bateu e em seguida entrou após ouvir uma voz feminina a mandando entrar.

— O que deseja, querida? - uma senhora por volta dos cinquenta anos a mirou por trás da mesa sob os óculos redondos curiosamente.

— Sou Brooke Evern. Fui transferida - disse envergonhada para a mulher que teve o rosto iluminado por reconhecimento.

Claro, todos ali já tinham conhecimento sobre ela e a esperavam. Isso incomodava Brooke, mas do que qualquer coisa. Tentou ignorar os olhares indagadores da mulher da secretaria até o momento em que saiu de lá, minutos depois, com a mochila pendendo em um ombro, as pernas rígidas e as mãos ocupadas pelos horários das aulas e um mapa da escola. Marcado primeiro no papel, sua primeira aula seria de álgebra II avançada, e seria no prédio 4. A pergunta que ocorreu a Brooke foi saber onde seria o prédio 4. Ela soltou um grande suspiro diante daquilo, e ficou por um tempo parada no lugar, contemplando as outras construções que faziam parte da escola. A garoa começou a molhar o mapa e os horários, e aborrecida com isso, Brooke exasperou - se olhando para a esquerda e observou os grupos de alunos chegando pelo estacionamento a direita, rumando até os prédios germinados. Silenciosa e ainda aborrecida com a chuva fraquinha, ela decidiu seguir os estudantes para dentro das construções, escolhendo a quarta, onde imaginou ser o prédio certo.

Terrível era a palavra que definia a situação. Assim que conseguiu adentrar o prédio depois de todas as pessoas entrarem aos empurrões, Brooke sentiu na pele o que era ser o centro das atenções. Foi enquanto caminhava vacilante e com a comida que sua mãe a forçara engolir no café da manhã querendo voltar, que sentiu o impacto dos seus receios e temores se realizarem: todos prestaram atenção nela. Cada murmúrio, cochicho ou olhar, se dirigia diretamente á ela, que sentiu uma vermelhidão intensa se espalhar pelo rosto antes pálido.
Não parou ou procurou falar com ninguém, ainda que algumas pessoas tivessem feito menção de querer começar um diálogo com ela, apenas virou as costas para os olhares inquisidores e se apressou a encontrar a sala de álgebra avançada II. Quando felizmente a encontrou, entrou se deparando com uma sala praticamente vazia a não ser por uma garota baixinha de cabelos crespos e dois garotos magricelas conversando. Ela não pendurou seu casaco úmido nos cabides como os outros presentes fizeram, reparou, foi diretamente falar com o professor para que assinasse seu papel, que a lançou um olhar duvidoso após ler seu nome, o que a fez abaixar a cabeça. Brooke percebeu que no peito do professor, tinha um crachá com seu nome... Professor Turner Woock.
Ele a devolveu a folha e apontou para uma mesa ao fundo da sala, Brooke agradeceu mentalmente por isso. Seria mais difícil as pessoas a lançarem olhares furtivos sem ter que virar as cabeças para trás e serem repreendidas pelo professor.

Ela se apressou a passar para as carteiras finais e, ao sentar, viu um dos meninos magricelas cutucar o outro e apontar para ela, o que fez a menina baixinha soltar um risinho anasalado. Brooke não gostou nada disso e, decidida a ignorar tudo e todos, enfiou a cara na mochila começando a pegar seu material.

Se pensou que sua teoria de minimizar os olhares sentada no lugar onde estava daria certo, descobriu que estava totalmente errada. Quando mais pessoas foram entrando, e a sala se encheu, nada mudou. Continuava sentindo os olhares em si ainda que estivesse de cabeça baixa, ouvia seu nome sendo murmurando e podia sentir a curiosidade das pessoas naquela sala se infiltrando por seus poros. Foi só quando o professor Turner decidiu por um fim nos murmúrios, que Brooke conseguiu respirar normalmente, pelo nariz, e não pela boca. Tirou de seu estojo uma caneta, e abriu o caderno para começar a copiar os cálculos que Turner começara a passar no quadro. À sua volta, parecia que era a única que fizera tal coisa, e se sentiu estupidamente apreensiva por não estar agindo que nem as outras pessoas. Parou um momento de escrever e ouviu a porta da sala de aula ranger, chamando a atenção de todos. Em seguida, alguns suspiros foram ouvidos. Curiosa, Brooke levantou a cabeça no momento em que uma cabeleira ruiva puxada para o cobre surgiu adentrando a porta, que logo se tornou a silhueta de uma garota com sua mesma idade com um vestido rodado e que fez algo dentro de si se remexer em desconforto. A garota dos cabelos peculiares, parecia angelical enquanto se desculpava com o professor, e seus traços eram tão belos e perfeitos que parecia quase inumanamente impossível alguém ser assim. Mas, Brooke viu o rubor nas bochechas da garota, e seu passo elegante contornando a sala ao mesmo tempo que seus longos cabelos balançavam no ritmo. Por um momento, pareceu ser um péssimo dia para ter escolhido aquela velha blusa verde - musgo horrenda e não ter dado um jeito nas olheiras profundas, e Brooke se esqueceu que o novo centro das atenções fora daquela sala era ela, o que achou uma barbaridade comparada a outra garota deslumbrante que entrara em cena.

Balançou a cabeça tentando se livrar de tais pensamentos, não deveria estar se comparando a ninguém. Era auto - depreciativo, grosseiro com si mesma e uma perca de tempo. Portanto, tirou o assunto da cabeça e olhou por cima dos cílios para a garota ruiva, a vendo se sentar duas carteiras á sua direita, voltando logo a prestar atenção no que o professor escrevia. Voltou a copiar, agora tendo a certeza que a maioria fazia isso também, e não tinha passado nem cinco minutos quando ouviu seu nome ser chamado sem ser em voz baixa, dessa vez:

— Então você é a garota nova? Brouke Evern? - quem fez a pergunta foi um rapaz loiro com o cabelo cobrindo metade da testa sentado uma cadeira antes da garota angelical. Ele tinha os olhos tão interessados na figura de Brooke, que ela cogitou a ideia de não responde- lo e continuar suas anotações, mas preferiu ser educada ao invés de seguir com seu plano de não interagir.

Talvez fosse pelo rostinho fofo que o rapaz tinha, ou pela educação que sua mãe a ensinara durante os anos. Ela realmente não sabia.

— Brooke - corrigiu o olhando de lado. - E sou eu sim.

O garoto corou fortemente, desviando os olhos para o longe aparentemente sem graça. Ele não voltou a perguntar mais nada durante toda aula, e ela deu - se por satisfeita, ainda que toda a atenção que tentara dissipar, tivesse voltado quando se pronunciou. As pessoas estavam todas ali, aguardando que ela falasse mais sobre si mesma, ou algo ofensivo contra o rapaz fofo, mas Brooke apenas suspirou frustrada audivelmente e abaixou a cabeça para os cálculos em seu caderno, mas não sem antes ver o genuíno sorriso gentil que a garota bela e perfeita das duas cadeiras á direita, a lançou. Brooke ficou confusa.

 

 

                 (...)

 

 

 

Era quase hora do almoço quando a sineta tocou anunciando o fim das aulas naquele primeiro dia. Brooke não se lembrava de ter falado mais com ninguém, e de ninguém ter falado com ela. Pelo resto da manhã, se limitou a dialogar o necessário com os professores sempre que preciso e agradeceu não ter tido a necessidade de se apresentar em nenhuma aula. Quando deixou os portões da escola, ela fervia de adolescentes barulhentos e uma balbúrdia se formava no estacionamento, lugar onde Brooke evitou pisar. Conhecera o básico da escola, como conseguir chegar as aulas sozinha sem se perder - a mulher da secretaria a ajudara nisso -, onde o banheiro feminino ficava, os horários que o ginásio era utilizado e onde o refeitório ficava, embora não tenha ido ver esse último por motivos de ter tido a sensação de que se colocasse algo na boca, voltaria. Por fim, não perambulou muito pelas limitações do terreno escolar, preferiu se recolher em um banco afastado debaixo das copas de um carvalho, e não ficou mais se perturbando por sua aparência. Tão pouco voltara a ver a peculiar garota ruiva da aula de Álgebra avançada II.

O celular vibrou dentro do bolso e Brooke o pegou, visualizando a nova mensagem que recebeu.

MÃE: AONDE VOCÊ ESTÁ?

Balançou a cabeça por um instante. Sempre ansiosa.

BROOKE: INDO PARA CASA.

Não demorou muito e o celular voltou a vibrar.

MÃE: OKAY. ESTOU TE ESPERANDO.

Brooke terminou de ler e bloqueou a tela do celular, o voltando a guardar. Era verdade, estava no caminho de volta para casa e já estava caminhando a um bom tempo, certamente não faltava muito. Não chovia, o que era muito bom para sua imunidade a fortes resfriados, e ela não esquecia dos olhares especulativos que recebeu quando saiu da escola a pé, bem diferente da maioria das pessoas ali que possuíam carros, motos, bicicleta ou qualquer transporte movido á pneus. Talvez pensassem que ela não podia comprar um carro pela condição financeira que tinha, mas não era isso. Brooke e a mãe tinham uma classe econômica média, ainda que muitas dívidas, entretanto, não era a falta de dinheiro que implicava por ela ter que andar a pé quando os outros adolescentes em sua idade já possuíam carros maneiros, era o trauma do acidente.

E novamente Penny rondava seus pensamentos.

Brooke fechou os olhos por um segundo e expulsou de sua mente a imagem de sua irmã morta ao seu lado, e se concentrou na vida normal que tinha que ter. Respirou fundo e reabriu os olhos, reconhecendo os já familiares arbustos de seu bairro. Ela virou a esquina e caminhou pela rua deserta até pisar no gramado de sua casa. Passou pelo jardim de rosas e chegou a soleira da porta trancada, onde, olhando para o chão, em cima do tapete de saudações que sua mãe havia comprado, jazia um jornal dobrado. Brooke franziu a testa para aquilo, pensando consigo mesma que entregar jornais na porta de casa já estava fora de época. Entretanto, movida pelo hábito de apanhar as coisas que encontrava jogadas no chão em sua casa, se abaixou e pegou o jornal em mãos, dando uma rápida olhada que prendeu sua atenção.

Na manchete da primeira página do jornal, encontrava - se as seguintes palavra:

"Mais uma morte acontece nesta madrugada do dia vinte e três de novembro, aumentando o número de assassinatos em Forks e apavorando a população com o número de vítimas e os casos parecidos..."

Logo abaixo da manchete quando terminou de ler toda, uma foto tirada do corpo completamente seco e deformado com marcas de mordidas fez os olhos de Brooke se arregalarem. O jornal caiu de sua mão e sentiu um arrepio percorrer sua espinha quando a brisa gelada tocou seu rosto. Encontrava - se em uma cidade que sofria uma recente e misteriosa onda de assassinatos que ninguém podia explicar.

Desde do primeiro momento, Brooke sabia que havia algo de errado com aquela cidade, e estava certa: Pessoas vinham morrendo ali. Ela só não sabia que a verdade ia muito além disso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então gente, creio que vocês já conseguiram absorver um pouquinho da personalidade da nossa protagonista, não? Espero que me respondam nos comentários (me deixem feliz!)
Hoje não vai ter considerações finais porque estou morta de cansaço, mas espero que tenham gostado *-*

Até o próximo capítulo, amores ♡


TRAILER DA FANFIC: https://youtu.be/Q2cB0IVDZek


BJS!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Eyes On Fire" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.