Eyes On Fire escrita por Brê Milk


Capítulo 27
Chapter 24: A Fênix


Notas iniciais do capítulo

"Helplessly prayin the light isn't fading
Hiding the shock and the chill in my bones
They took you away on a table
I pace back and forth as you lay still
They pull you in to feel your heartbeat
Can you hear me screaming please don’t leave me?"

- Chord Overstreet (Hold On)



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Alec Volturi

 

Passou apressado pelas portas duplas do hospital, sendo seguido por Jane e Demetri. Os olhos encobertos por lentes azuis vasculharam o saguão da recepção até localizarem Felix e os Cullen, todos em pé no meio do corredor.
Alec caminhou até eles, desviando de algumas pessoas no caminho.

 

— Onde ela está? — perguntou, diretamente para Felix.

 

— Na sala de emergências. Carlisle está lá — respondeu o amigo, sério.

 

Alec assentiu. Não precisava fazer mais perguntas, fora informado da situação.
 Ele estava analisado estratégias e verificando pistas no apartamento quando recebeu a ligação de Felix dizendo que a Evern havia tido uma parada cardíaca. Então abandonara tudo e partira depressa para o hospital, com a irmã e Demetri, que assim que souberam, o acompanharam.
Agora Alec estava ali, parado no corredor do hospital, e ainda assim não conseguia acreditar. Não conseguia acreditar que a Evern tivera uma parada cardíaca, que isso acontecera com ela. Porque ele estava tão acostumado a vê-la sendo forte, que talvez esquecera que coisas como aquela poderiam acontecer com alguém como ela. Com um humano.
 O Volturi espantou os pensamentos quando o som de um choro alcançou seus ouvidos. Ele se virou na direção do som e encontrou com a híbrida, nos braços de Bella, se debulhando em lágrimas.
Alec levou o olhar para longe, e acabou encontrando com os olhos do Julions o fuzilando, usando um boné e óculos escuros, entre os outros.

 

— O que você está fazendo aqui? — Inquiriu, quase em um rosnado.

 

— Eu quem deveria fazer essa pergunta — Rebateu Gaz, cerrando os punhos. A voz esganiçada dele e a respiração suspensa dizia a Alec que o recém-criado estava tentando se controlar no ambiente repleto de humanos. — Você é a última pessoa que deveria estar aqui.

 

Os olhos de Alec chisparam.

 

— Não é você quem decidi isso.


Gaz rosnou baixinho, avançando na direção do Volturi. Jasper e Emmet o seguraram antes que ele o alcançasse, o imobilizando.

 

— Isso aqui é um hospital, não um ringue de luta! — Ralhou Esme, elevando o tom de voz. Muitas cabeças viraram na direção deles. — Brooke está lá dentro, lutando pela vida, e brigar não vai ajuda-la. — Ela olhou para os dois vampiros. — Se acalmem ou então eu mesma irei coloca-los para fora, e acreditem, eu o farei se for necessário! Ficou claro?

 

A matriarca dos Cullen suspirou, esfregando as mãos no rosto.
Alec e Gaz se entreolharam e assentiram. Jasper e Emmet soltaram Gaz, que virou as costas e voltou onde estava.
Então o silêncio recaiu entre eles. Olhares nervosos, suspiros, solas de sapatos batendo contra o chão... Todos estavam no limite.
 Alec ficou parado, um pouco afastado do grupo. Seus braços estavam cruzados em cima do peito e ele tentava arduamente manter a expressão neutra, como sempre. Mas estava sendo difícil realizar tal tarefa quando algo dentro dele estava se corroendo, se tornando contrações em seu estômago e um aperto no peito, o que ele sabia que era impossível, mas ainda assim conseguia sentir. Conseguia sentir cada célula do seu corpo se consumindo em algo que ele percebeu ser preocupação. Preocupação com a Evern.

 


— Ela é durona. Não desistiria sem lutar — A voz de Jane soou próxima ao seu ouvido.

 

Alec a olhou, piscando rapidamente. Não notara ela se aproximar.

 

— Sim, ela é. — Concordou. — Por que está me dizendo isso?

 

— Porque conheço o irmão que tenho. E sei quando ele está preocupado — A Volturi sussurrou a última parte, fazendo uma careta em seguida.

 

Alec ficou calado. Sabia que se mentisse, Jane saberia. Ela sempre sabia. E não adiantava mentir, todos estavam.
Assim, ele apenas acenou com a cabeça, fazendo a irmã sorrir minimamente e apertar seu ombro antes de se afastar.
 Três minutos depois, Carlisle surgiu pelo corredor da ala esquerda, com uma expressão terrivelmente melancólica.

 

— Brooke está bem? — perguntou Gaz, antes mesmo de Carlisle parar diante deles.

 

O doutor ficou em silêncio. Todos aguardaram a resposta, que não veio.

 

— V-vovô? — Renesmee gaguejou, se soltando da mãe.

 

Carlisle abaixou a cabeça.

 

— Ela tinha anorexia. Estava num estágio avançado da doença, o coração não aguentou... Eu sinto muito, Brooke faleceu.

 

As reações foram diversas.
Renesmee emitiu um grito, caindo de joelhos no chão, sendo amparada por Isabella e por Edward, este que levou as mãos à cabeça. Alice abraçou Jasper. Emmet abraçou Rosalie. Esme escondeu o rosto nas mãos. Felix deixou sua bolsa cair. Jane arregalou os olhos e Demetri segurou sua mão. Alec ficou imóvel, olhando para Carlisle pensando ter ouvido errado.
Mas não, não tinha. Percebeu isso quando o punho de Gaz o acertou bem na cara, por ele estar distraído.

 

— A CULPA É SUA, SEU DESGRAÇADO! — O Julions urrou, agarrando o pescoço do Volturi e o apertando com a força de um recém-criado. Por trás dos óculos escuros, os olhos vermelhos estavam em chamas, cheios de fúria, cheios de dor. — VOCÊ Matou ela! Todos vocês mataram ela! — ele olhou para os outros, ainda apertando o pescoço de Alec, que não reagiu. — Brooke já tinha uma vida difícil antes de vocês prenderem ela naquela mansão e a envolverem na porcaria do mundo de vocês! Ela estava tão sozinha lá antes de eu chegar, que até depois, ela continuou guardando tudo para ela! Mas nenhum de vocês percebeu, não é mesmo? Ninguém, porque estavam ocupados demais olhando para os próprios problemas para perceberem que ela estava se matando com as próprias mãos... ninguém percebeu... inclusive eu... e agora ela se foi... Brooke está morta...

 

Devagar e tremendo, Gaz largou o pescoço do vampiro louro-acastanhado, se afastando dois passos antes de desmoronar e cair no chão, abraçando os joelhos e começando a soluçar.
 Alec permaneceu imóvel. Tinha consciência dos olhares sobre si, tanto dos outros vampiros, quanto das pessoas humanas ao redor. Mas não conseguia parar de encarar Carlisle, ainda esperando que ele dissesse que não era verdade. Porque não podia ser. A Evern não podia estar morta. Porque Aro não a queria morta. Porque ela era uma chave essencial da missão. Porque ela não podia morrer. Porque precisavam dela. Todos eles precisavam dela.
A mente de Alec rompeu em flashbacks com momentos que teve com Brooke. Desde do instante em que se conheceram no depósito do zelador na escola, até a última vez que se viram, quando ela pediu que Alec descobrisse o motivo pelo qual a odiava.
Ele finalmente descobrira. Parecia que somente naquele momento a venda havia caído de seus olhos, o deixando enxergar a dimensão de seus reais sentimentos.
Alec não a odiava, no final. Ele a admirava como nunca fizera com ninguém. Brooke Evern era corajosa, bondosa, inteligente e bonita, tudo que o atraia. E ele tinha tanto medo dessa combinação em uma única pessoa, que a afastara de todas as maneiras que conseguira achar, temendo que abaixasse sua guarda e a deixasse entrar.
Agora ela estava morta, em cima de alguma maca.
 Morta. O âmago da palavra o acertou com o total peso da realidade caindo sobre si, e Alec experimentou da sensação que havia sentido apenas uma vez em toda a sua longa existência: A dor da perda, que lembrava-se de sentir em seus últimos minutos como humano enquanto assistia o povo de seu vilarejo matar sua mãe diante de seus olhos. A sensação de deixar algo escapar entre os seus dedos... Ele tinha feito aquilo com Brooke Evern, a deixara ir. A perdera, mesmo nunca tendo a tido.
O Julions em prantos estava certo, era sua culpa. Alec percebera todos os sinais sobre a doença dela. A magreza excessiva, a rejeição dos alimentos, a baixa temperatura corporal, as vertigens. Tudo. E deixara para lá, porque não queria saber dos problemas dela, porque isso significaria se envolver ainda mais com ela, o que o levaria a saber os seus motivos, e então iria querer ajuda-la. Iria querer salva-la. E Alec não podia fazer isso, porque assim como decretara na última noite em que esteve com a Evern e ela estava bêbada, uma pessoa sem salvação não podia ajudar uma que podia ser salva.
Brooke podia, Alec não; e a consequência dele acreditar naquela crença era a morte de sua cantante. E agora estava arrependido, como nunca estivera em quase mil anos.

Seus pensamentos se tornaram uma bagunça, o rosto da Evern girando dentro de sua mente.

"Você é... Alec Volturi?"

A voz de Brooke ecoou dentro da cabeça de Alec, que resgatou as memórias daquele dia. O dia em que ficaram cara a cara e ele a interrogou pela primeira vez.
Em seguida, outras memórias o acertaram.

"Algo como sobre ter sede pelo meu sangue e não poder controlar isso?"

"Quero que me treine, Alec Volturi. Quero que me ensine a lutar."

"Achei que não gostasse dos meus saltos. Você disse para tira-los e joga- los fora."

"Não tenho medo do fogo, nem de um incêndio. Você tem, Volturi?"

"Todos desistem de mim."

Alec fechou as mãos em punhos, os cerrando. Não podia ser o fim. Não podia deixa-la ir daquele jeito. Não tinha acabado ainda para a ela. Todos poderiam ter desistido dela, mas ele não.

Não iria desistir de Brooke Evern.

 


— Você enlouqueceu — A voz de Edward quebrou o silêncio quando Alec deu um passo adiante, na direção do corredor que levava à sala de emergência. O Cullen o encarou, ainda agachado ao lado da filha e esposa, com um olhar triste. — Ela morreu, não há nada mais a ser feito.

 

O Volturi o ignorou e o deu as costas, dando mais um passo em frente. Então Carlisle bloqueou o caminho:

 

— Você não pode ir até lá, Alec. Devem estar a preparando para o IML.

 

— Ela não irá a lugar nenhum — respondeu Alec, o encarando sombriamente. — Saia do meu caminho, Carlisle. Agora.

 

— Não posso, sinto muito.

 

— Eu vou pedir mais uma vez, e se não sair do meu caminho, matarei todos neste hospital até que não sobre ninguém.

 

O patriarca dos Cullen o encarou pacientemente.

 

— Sabemos que você não pode fazer isso. Aro o puniria por desrespeitar as leis.

 

— Sabemos que eu não me importo e que eu farei se for o necessário — Rosnou Alec.

 

— Por favor, Alec. Não torne as coisas mais difíceis do que já são — Implorou Carlisle, o segurando pelo braço. — Brooke está morta, não há nada a ser feito.

 

— Há uma chance. Ela é a descendente.

 

Carlisle ficou em silêncio, o encarando hesitante.

 

— Não temos certeza — falou por fim, mas havia dúvida na voz.

 

— Eu tenho — Rebateu Alec, a voz firme e alta. — Agora, mova-se ou seja o culpado de dezenas de mortes. A escolha é sua.


 Com um suspiro longo e pesado, Carlisle o largou e deu um passo para o lado, deixando o caminho livre.
Alec não perdeu tempo e saiu correndo em velocidade humana, sem se importar com os olhares dos seus e das outras pessoas. Ele adentrou o corredor que levava até a sala de emergência do hospital, ouvindo Carlisle atrás de si, guiado pelo cheiro familiar que sabia ser dela. Poucos segundos depois estava passando pela porta da sala de emergência, a escancarando sem cerimônias.
A primeira coisa que ele viu foi o rosto assustado da enfermeira de idade desligando o monitor cardíaco, que emitia um apito agudo. A segunda, foi o corpo da Evern deitado em cima de uma maca, imóvel, sem vida.
Alec não reprimiu o grunhido.

 

— Não desligue esse monitor! — Ordenou ele, apontando ameaçadoramente para a enfermeira, que se afastou do aparelho e arregalou os olhos.

 

— O s-senhor não pode ficar aqui — gaguejou a mulher, tremendo dos pés a cabeça sob o olhar assassino do vampiro.

 

O Volturi abriu a boca, porém voltou a fechar quando a mão de Carlisle apertou seu ombro.

 

— Está tudo bem, Margareth. Ele está comigo — disse Carlisle.

 

— Mas doutor Cullen, isso é c-contra as regras do hospital... — respondeu Margareth, se encolhendo quando ouviu o rosnado baixo de Alec.

 

Carlisle aumentou a pressão em seu ombro e se manteve firme:

 

— Estou ciente disso. E como diretor deste hospital, estou dizendo que ele está comigo e vai ficar. Agora saia por favor, Margareth. Eu me responsabilizo daqui em diante e assumo as consequências. Saia.

 

A enfermeira não insistiu. Assentiu com a cabeça e praticamente saiu correndo, deixando os dois vampiros sozinhos na sala.
Carlisle se virou para Alec, parecendo cansado de repente.

 

— E agora? O que pretende fazer já que chegou até aqui?

 

— Trazer a Evern de volta — respondeu o Volturi, decidido.

 

Carlisle balançou negativamente a cabeça, como se acabasse de ouvir uma loucura.

 

— Olhe para ela, Alec. Ouça o som do monitor cardíaco... está ouvindo esse apito? Ele indica a falta de batimentos. O coração dela parou de bater. Eu já decretei o óbito — O Doutor Cullen suspirou, parecendo estar no limite. — Ela se foi, e você precisa deixa-la ir.

 

Foi a vez de Alec balançar negativamente a cabeça.

 

— Você pode ter desistido dela assim como todos os outros, Carlisle. Mas eu não vou. A Evern é especial, e eu sei que o cérebro de uma pessoa pode continuar funcionando até três minutos após a morte.

 

— Mas o coração não — Carlisle discordou.

 

— Isso é o que iremos ver.

 

Com o rosto irredutível, Alec virou as costas e caminhou até a maca onde o corpo de Brooke jazia.
Ele se aproximou e parou ao lado, encarando a garota sem vida que costumava confronta-lo sempre que o via. O rosto dela estava branco, os olhos fechados e os lábios selados, mas havia algo de sereno na expressão. Como se seus últimos instantes não tivessem sido passados em dor e agonia. Aquilo aliviou o aperto em seu peito, mas não o suficiente para faze-lo desistir do que estava prestes a fazer.
Sem mais delongas, Alec fitou o desfibrilador que a enfermeira havia deixado na mesa abaixo do monitor cardíaco e o pegou, virando-se para Carlisle em seguida:

 

— Carregue na frequência máxima — Comandou. Sem esperar resposta, voltou a virar e se preparou para desfibrilar o coração de Brooke, novamente.

 

Carlisle fez como pedido, embora estivesse sem esperanças. Ligou o desfibrilador e carregou na frequência máxima.
O Volturi respirou fundo, embora não precisasse. E então colocou as pás do aparelho contra o peito de Brooke, dando o primeiro choque.
O corpo dela arqueou-se e voltou a cair contra a maca, porém o apito do monitor cardíaco continuou se repetindo, a linha reta sem fim.

 

— Vamos lá, Evern. Volte — sussurrou Alec, focado no que estava fazendo. — Recarregue.

 

Carlisle carregou mais uma vez. Mais um choque e nada mudou.

 

— De novo.

 

Nada.

 

De novo — Trincando os dentes, o Volturi a deu mais um choque. O corpo de Brooke subiu e desceu, inerte. — Vamos lá. Eu sei que você consegue, eu sei que você pode fazer isso. De novo.

 

O torturante ruído da máquina parecia nunca mais ter fim.

 

— Volte, Evern — Alec desfibrilou mais uma vez. Dois minutos e meio já haviam se passado. — Isto é uma ordem. Volte.

 

— Alec, já chega... — Pediu Carlisle, tocando seu braço.

 

O Volturi o empurrou para trás com o cotovelo. E continuou tentando.

 

— Vamos lá — Rosnou, apertando o desfibrilador com mais força. — Vamos lá. Vamos lá. VAMOS LÁ, EVERN!

 

O som de bips inundou a sala de emergência.
 Os dois vampiros olharam paralisados para o monitor, observando a linha reta se tornar desnivelada, com elevações a cada bip. A cada batimento cardíaco recuperado.

 

— Ela ressuscitou — Carlisle arregalou os olhos e olhou incrédulo para Alec. — Você conseguiu.

 

Um suspiro aliviado escapou dos lábios do Volturi antes dele largar o desfibrilador e levar as mãos até a cabeça. Se concentrou no som do único coração daquela sala voltando a bater e então olhou para a dona dele na maca, ainda inconsciente. Porém viva.
Alec nem notou o ínfimo sorriso feliz que apareceu em seus lábios, apenas se aproximou da maca e observou o rosto sereno de Brooke, a observando voltar a respirar fracamente.
A sensação de perda foi se esvaindo dentro de si, dando lugar ao alívio profundo da permanência de algo significativo, e embora ele não entendesse o que aquilo significava, não se preocupou em descobrir. Por hora, bastava saber que a Evern estava bem.

 

— Eu disse, — Alec girou a cabeça, lançando um olhar orgulhoso para Carlisle, que continuava paralisado. — Ela é especial.

 

O patriarca dos Cullen meneou a cabeça, assentindo.

 

— Sim, mas... é impossível. Ela estava morta e ressuscitou. Um humano normal não seria capaz disso... a menos que... — Os olhos de Carlisle aumentaram de tamanho. — ... Ela realmente é a Descendente.

 

— Bingo — retrucou Alec, sem conseguir deixar o sarcasmo de lado. Então ficou sério, se dando conta da gravidade da descoberta. — Temos mais um problema. E dessa vez, um dos grandes.

 

 

Ele tinha certeza. Um problema com nome e endereço. E que ressurgira das cinzas, como uma fênix.

 

 

 

 

Brooke evern

 

 

O mundo parecia diferente. As coisas ao redor. As cores. Os sons. Os gestos das pessoas. Todos os pequenos detalhes. As coisas pareciam... intensas demais.
Dizem por aí que as pessoas que vão para a cadeia, mudam. Se tornam outras. Mas a verdade é que morrer e ressuscitar faz a verdadeira mudança em alguém, pelo menos nos que tiveram a sorte de acontecer isso com eles.
Brooke Evern sabia bem.
 Depois de ser levada para a UTI e acordar uma semana depois, ela foi transferida para um quarto separado, em observação. A primeira coisa que fez ao acordar e encontrar Carlisle ao seu lado, explicando o que havia acontecido, foi chorar. Chorar de alívio por saber que não havia sido seu fim. E quando o doutor Cullen afagou seus cabelos, Brooke percebeu que esteve errado durante todo aquele tempo sobre a vida.
E quando recebeu alta, ela só teve mais certeza ainda.

 

— Oi — disse Gaz, baixinho, assim que passou pela porta, tirando os óculos escuros e caminhou desajeitadamente até a poltrona ao lado da cama, se sentando em seguida, sério demais. — Vim ajudar te levar de volta para casa. Como você está?

 

Ele levantou a mão e a pousou em cima da mão de Brooke descansada ao lado do corpo, a apertado suavemente.

 

— Melhor impossível — respondeu ela, baixinho também, abrindo um pequeno sorriso cínico, movendo os olhos para a agulha do soro em seu braço. — Odeio agulhas.

 

— Estou surpreso que você não tenha a arrancado fora — Gaz também levantou as sobrancelhas, tentando conter o meio sorriso em seus lábios, estragando a expressão séria, mas era tarde demais. Lá estava o sorriso.

 

— E quem disse que eu não arranquei? Duas vezes. Eu ia arrancar a terceira, mas Carlisle ameaçou colocar alguém para me vigiar e incluir um grupo de apoio para quando eu sair daqui, então concordei em ser boazinha e com a droga da agulha.

 

Gaz riu, balançando a cabeça como se dissesse que a garota não tinha jeito.

 

— Como está o pessoal? — Brooke perguntou depois de um tempo, quando as risadas pararam. Ela estava curiosa, pois não tivera nenhuma visita durante todo aquele tempo desde que acordara. Gaz era a primeira, e tudo parecia muito estranho.

 

— Estão ansiosos com a sua volta. A mansão estava agitada quando eu sai, e se eu fosse você, não me surpreenderia se encontrasse uma festa de boas vindas quando voltar — Gaz deu uma piscadela. Quando percebeu a testa franzida da amiga, tratou de completar: — Estou falando sério. Quando descobriram o que aconteceu com você, os Cullen ficaram desolados. Todos eles. E, acredite se quiser, os Volturi também, embora não tenham demonstrado.

 

— Os Cullen eu até posso acreditar, agora os Volturi? — A Evern semicerrou os olhos, o olhando com puro ceticismo. — Como você sabe, se eles não demonstraram?

 

Gaz encolheu os ombros.

 

— Sou um bom observador? — Ele arriscou. Ela negou com a cabeça. — Qual é. Ponha fé em mim. Você esperava que eles dessem pulos de alegria com o que aconteceu?

 

— Na verdade, sim. Eu apostava que sim.

 

Gaz gargalhou.
Aos poucos a gargalhada foi cessando e quando chegou ao fim, os dois ficaram se encarando fixamente.
Brooke viu o momento em que os olhos do amigo adquiram um brilho cintilante e quando ele virou o rosto, olhando para as mãos entrelaçadas.

 

— Você morreu, Broo. Decretaram seu óbito e eu pensei que tinha a perdido para sempre — sussurrou o vampiro, a voz carregada de emoção, trêmula.

 

A morena acariciou a mão dele.

 

— Eu estou bem, Gaz.

 

— Foi isso que você disse todas as outras vezes e olhe só onde você está agora — retrucou o Julions, erguendo o rosto e a encarando magoado. — Você tem ideia do quanto eu sofri quando Carlisle deu a notícia? Eu fiquei sem chão. Sem rumo. Porque eu não podia acreditar que a minha amiga tinha ido. Não podia aceitar essa realidade, porque ela é inconcebível para mim.

 

— Desculpa — falou Brooke, sentindo os olhos se encherem de lágrimas ao encarar o amigo. O riso de outrora esquecido. — Eu sinto muito. Eu não queria fazer isso com você. Eu não queria que nada disso tivesse acontecido, mas aconteceu e eu... eu não sei como ainda estou aqui. Eu morri, Gaz. Senti a vida se esvair de mim. A escuridão me engolir. E não sei como, mas... Eu estou viva.

 

— Carlisle não te contou?

— O quê?

— Você realmente morreu, Broo. Mas foi ressuscitada. Alec a trouxe de volta. Todos nós pensamos que não havia mais nada a ser feito, mas ele não desistiu de você e não parou de tentar te ressuscitar até você voltar — Explicou Gaz. — Mesmo eu não gostando do cara, tenho que reconhecer o que ele fez. Alec salvou você.

 

Brooke entreabriu os lábios, mas nada saiu deles. Ela ficou encarando o amigo, com algo que ia além da palavra surpreendida.
Seu coração afundou e submergiu dentro do peito, começando a bater descompassado. O monitor ao lado que registrava seus batimentos, apitou, fazendo o sangue se concentrar em suas bochechas que ficaram como tomates.

 

— Bom, eu devo agradece-lo então — Brooke pigarreou. O vampiro assentiu meio resignado, o que a fez sorrir e mover a outra mão e bagunçar o cabelo loiro dele. — E não se preocupe, Julions. Eu estou aqui e pretendo ficar. Agora, que tal chamar o doutor Carlisle para ele oficializar a minha alta e metermos o pé daqui? Estou me segurando para não arrancar essa agulha e furar o traseiro da maldita enfermeira que a colocou aqui.

 

Gaz gargalhou tão alto que conseguiu até abafar o apito do monitor cardíaco.

 

 

O lance da festa era sério.
Assim que Brooke passou pela porta da mansão, acompanhada de Carlisle e Gaz, ela foi recebida no hall de entrada com gritos e aplausos, uma faixa escrito "Seja bem vinda de volta", e os vampiros que conhecia espalhados com grandes sorrisos nos rostos.
Ela tentou fingir surpresa, mas era difícil fingir quando Gaz estava cutucando suas costelas, em um lembrete sutil. Brooke acabou por apenas soltar um "Oh" teatral e abrir um sorrisinho. O resto ficou por conta dos vampiros.

 

— Brooke! — O grito soou sendo acompanhado por uma cabeleira de cachos vermelhos da garota que se jogou contra a Evern, a sufocando em um abraço apertado que quase derrubou as duas.

— Vá com calma, Renesmee. Brooke ainda está fraca — Censurou Carlisle, segurando as duas meninas antes que elas caíssem.

A híbrida se afastou.

— Desculpe, vovô — disse. E então olhou diretamente para Brooke, os olhos se enchendo de lágrimas automaticamente. — Desculpe. Eu sinto muito, por tudo. Fui uma idiota e agi muito mal com você.

 

A morena gesticulou para que Gaz a soltasse. Depois, deu um passo vacilante em frente e olhou no fundo dos olhos da ruiva, sentindo os próprios olhos marearem.

 

— Não precisa sentir. Nós duas erramos e está tudo bem. E por quê? Porque você é minha amiga, Nessie, e isso significa muito para mim — respondeu Brooke. Renesmee deixou uma lágrima rolar e a morena abriu os braços. — Venha cá, ruiva. Parece clichê, mas a vida é realmente muito curta para guardar rancor.

 

A híbrida riu em meio as lágrimas e a abraçou, dessa vez delicadamente.

 

— Sua amizade também significa muito para mim.

— Eu sei — A Evern sorriu, sentindo pela primeira vez desde que acordara que tudo estava voltando ao normal. Ao normal de seus padrões, pelo menos. — Nunca mais deixaremos um garoto ficar entre nós.

— Nunca mais.

 

Uma salva de palmas soou e as duas garotas gargalharam enquanto se afastavam.
Ao se virar, Brooke se deparou com o restante dos vampiros a observando, incluindo os Volturi, que ali estavam. Exceto um.

 

— Oi, pessoal — falou ela, aumentando o sorriso. — É bom ver vocês.

 

O que se seguiu adiante foi uma fila de abraços por parte dos Cullen, com a exceção de Edward, que ficou parado perto do aparador do hall de entrada, com as mãos nos bolsos, o que não passou despercebido para Brooke.
Os Volturi apenas acenaram com as cabeças para ela, o que ao seu ver, foi um grande avanço em seus relacionamentos.

 

— É bom ter você de volta, querida — disse Esme em sua vez, com um sorriso doce no rosto. — Sei que essa recepção não é o suficiente para compensar nossa falta de atenção e descaso com você, mas iremos fazer o nosso melhor daqui para frente.

 

— Ela ia até fazer um bolo, mas desistiu quando lembrou que você não come — murmurou Emmet, recebendo um tapa na cabeça dado por Rosalie. — Ai! É a verdade! Não deveria ser agredido por fala-la!

 

Rosalie rolou os olhos, balançando a cabeça.

 

— Está tudo bem — Brooke riu. — Eu gostaria de falar sobre isso, então... se vocês pudessem ir para a sala...

 

— Seu pedido é uma ordem! — Exclamou Alice, enlaçando o braço de Jasper e saltitando levemente com um enorme sorriso nos lábios. — Para a sala, senhoras e senhores!

 

Os vampiros começaram a se deslocar do hall, indo em direção ao cômodo ao lado. Brooke capturou de relance a figura de Jane tomando a direção contrária, olhando para a tela do celular parecendo frustrada, e seus sentidos afloraram.

 

— Você não vem, Broo? — perguntou Gaz, atraindo sua atenção.

 

— Depois. Pode ir na frente, eu preciso... — A Evern fez um aceno com a cabeça indicando a Volturi desaparecendo pela porta da frente.

 

Gaz entendeu o recado.

 

— Grite se precisar — Ele plantou um beijo na testa da morena antes de virar as costas e acompanhar Renesmee para fora.

 

Brooke não perdeu tempo e foi atrás da Volturi. Ela abriu a porta e encontrou a vampira na varanda, fitando o celular que tocava sem parar.

 

— Parabéns, você sobreviveu — falou Jane, erguendo o rosto angelical com uma expressão irônica.

— Vaso ruim não quebra, é o que dizem — replicou Brooke, se aproximando calmamente. — É o seu irmão? — Apontou para o celular tocando.

A loira bufou.

— Ele exige por notícias a cada quinze minutos.

— E por que ele não veio? — Assim que viu as sobrancelhas levantadas da vampira, a Evern entendeu. — Ah. Ele está me evitando. — E aí rolou os olhos. — Ele é um idiota.

— Ele salvou a sua vida — Lembrou Jane, semicerrando os olhos.

— Então ele não é um idiota completo. Só meio idiota — Sentenciou Brooke. — Não vai atender?

Jane encolheu os ombros.

— Não é como se ele realmente estivesse ligando para falar comigo. Sabemos que não — A Volturi a lançou um olhar sugestivo antes de caminhar até ela e a estender o celular. — Se resolvam logo e parem desse drama todo, eu não aguento mais!

 

Brooke sufocou uma risada nervosa, descendo o olhar para o aparelho em suas mãos enquanto Jane desaparecia dentro da mansão.
Na tela do celular, o nome "Irmão", brilhava incessantemente. Respirado fundo e se encostando na mureta da varanda, a Evern atendeu a ligação, levando o aparelho ao ouvido.

 

— Qual a parte do me dê notícias a cada quinze minutos você não entendeu, Jannet? — A voz familiar de Alec soou assim que atendeu, mais brava do que o comum.

— Você acreditaria se eu dissesse que ela foi ao banheiro? — perguntou Brooke, sorrindo sem perceber antes mesmo de ganhar uma resposta. — Oi, Volturi.

 

A linha ficou muda por alguns segundos.
 A brisa do lado de fora da mansão acertou a morena, levantando seus cabelos e beijando seu rosto, a fazendo fechar os olhos preguiçosamente para aproveitar a sensação gostosa daquele momento.

 

— Evern — Pronunciou Alec, como resposta, alguns instantes depois. A braveza havia desaparecido de seu tom, que se tornara grave e baixo. Contido era a palavra. — Como você está?

— Viva.

 

Brooke abriu um sorriso zombeteiro, que se o Volturi do outro lado da linha pudesse ver, reviraria os olhos como sempre fazia.

 

— Isso é bom. Continue assim.

 

Ela abriu os olhos somente para revira-los, invertendo os papéis.

 

— Tarefa difícil, mas eu vou tentar — retrucou. Para sua surpresa, Alec riu brevemente, fazendo sua pulsação acelerar. Então os dois ficaram em silêncio durante um tempo, que a garota passou fitando as árvores ao longe na floresta, pensando naquele intervalo da ligação, que tinha chegado perto da possibilidade de não estar ali agora para observar aquelas árvores. Esbarrado na possibilidade, na verdade. E sua garganta se transformou em um bolo difícil de engolir. Brooke expirou: — O-Onde você está, Alec?

— Ocupado.

— Ao ponto de não poder estar aqui depois de tudo?

— Talvez.

— Precisamos conversar — sussurrou Brooke, se sentindo cansada de repente.

— Eu sei — Ele confessou. — Você não imagina o quanto eu tenho para te dizer, Evern.

— Idem. Mas há umas coisas que preciso dizer agora para todos, e você também precisa ouvir, Volturi — Suspirando, a morena se afastou da mureta. — Fique na linha e ouça com atenção.

 

Brooke se virou e começou a caminhar de volta para dentro da casa, se armando de coragem para o que iria fazer. Não podia procrastinar aquilo por mais nenhum minuto.
Assim, ela fez o caminho para dentro da mansão, segurando o celular próximo ao ouvido, mesmo a linha estando muda, devido a espera de Alec.
A morena passou pelo hall e adentrou a sala de estar, onde todos os vampiros a aguardavam, sentados espremidos nos sofás e poltronas. Ela caminhou diretamente até Jane e sob os olhares de todos, a entregou o celular, pedindo:

 

— Ele está na linha. Não desligue, por favor.

 

A Volturi assentiu, pegando o celular e o segurou no alto, para que Alec ouvisse o que seria dito.
Brooke então respirou fundo e se posicionou no meio da sala, onde seria a atenção de todos, embora suas pernas começassem a tremer pelo esforço de ser manter em pé. Ela ignorou isso e colocou as mãos dentro do moletom enorme que usava.

 

— Como eu disse, eu preciso falar com vocês. Não só sobre o que aconteceu, mas... Bem, a minha história. Nos dias em que fiquei me recuperando no hospital, decidi que eu deveria ser sincera com vocês, e isso inclui contar quem eu sou de verdade — disse Brooke, tentando soar calma e clara. Quando viu os vampiros assentirem, ela prosseguiu: — Acho que já ficou claro mas, eu tenho anorexia. E bulimia. Só que não para aí... Minha história começa com a morte do meu pai. Ele era um soldado do exército e morreu durante uma missão. Eu tinha seis anos e o amava, era muito próxima dele, mas de alguma maneira eu o esqueci ao longo do tempo, não me lembro como ele era nem a pessoa que era, eu apenas esqueci. Então eu fui crescendo, vivendo com minha mãe e minha irmãzinha mais nova, Penny, e era uma vida boa. Ao menos foi, até meu aniversário de doze anos quando cheguei na pré-adolescência e comecei a enxergar algumas coisas sobre o mundo. Minha mãe se afogou em dívidas e começou a trabalhar cada vez mais, o que consequentemente a deixou distante. Ela apenas ficava aos domingos em casa, e no resto da semana Penny e eu ficávamos com a nossa vizinha, mas como a mulher já era uma senhora de idade, na verdade era eu quem cuidava de nós duas. Eu era muito responsável para minha idade, sinceramente, e preferia ficar com minha irmã ao invés de brincar com as outras garotas ou sair para alguma festinha de aniversário, e estava tudo bem para mim. No entanto... algo mudou. Eu não sei o que ou porquê, mas de uma hora para a outra eu comecei a me sentir solitária e triste, ansiosa, esperando por algo que eu não sabia. Então comecei a ouvir vozes em minha cabeça, ver sombras se movendo, o que me levava a ter pequenos surtos de pânico e de repente nada mais estava bem. Eu não estava. Tentei esconder isso da minha mãe, mas é claro que ela notou, e aí me levou a um psicólogo, que me diagnosticou com transtorno de ansiedade. Eu só tinha doze anos. Como resultado, minha mãe desistiu das horas extras e passou a ficar de olho em mim, e mesmo eu gostando de passar mais tempo com ela, eu comecei a me sentir sufocada. Mas não falei isso pra ela, porque não queria machuca-la sendo egoísta com a forma como me sentia. Então deixei as coisas acontecerem. Ficamos por um bom tempo apertadas financeiramente, e eu sabia que meus remédios eram caros, e todas as noites que via minha mãe sentada na mesa da cozinha fazendo contas, muitas das vezes chorando, eu me sentia horrível, porque uma parte do nosso problema era minha culpa... Sempre foi. — Brooke fungou, não conseguindo mais conter as lágrimas e as deixando rolar pelas bochechas. Todos estavam a vendo chorar, mas ela não se importava no momento. Remexer naquelas memórias, cutucar as feridas, doía. Doía muito. — Passamos por aquela fase. Aos treze anos, eu piorei. Me tornei silenciosa, fechada, estranha para as pessoas na escola. Me afastei de tudo e todos porque comecei a achar que eu não era boa o bastante para eles, e aos poucos, nem para eu mesma. Comecei a me odiar e ainda odeio. Meu rosto, meu corpo... tudo sobre mim. Eu não conseguia me suportar, tinha medo das pessoas não suportarem também e por isso tentei melhorar. Foi aí que parei de comer, porque a internet e as capas de revistas me mostravam garotas perfeitas e eu queria ser perfeita também. E assim eu me tornei anoréxica, evoluindo depois para bulímica quando descobri que pulando os horários das refeições eu tinha mais tempo para fazer o que gostava, como por exemplo ler ou estudar. Foi então o que eu fiz, e isso me mudou completamente. Os ataques de pânico diminuíram com os remédios, mesmo eu odiando toma-los. Aos quatorze anos, garanti a minha mãe que eu estava bem, porque fazia tempo que não entrava em crise e ela não sabia sobre os problemas alimentícios que eu tinha. Ela não percebeu quando comecei a perder peso e usar roupas duas vezes maiores do que o meu tamanho ou dar as minhas refeições para o cachorro da vizinha. Ela não percebeu e por isso arranjou outro emprego, voltando para a rotina longe de casa e das filhas. Eu nunca a culpei pelo que aconteceu, porque eu sabia e sei até hoje que minha mãe estava apenas tentando nos manter vivas, mas também nunca deixei de me sentir colocada em segundo plano - Deu de ombros, passando as mãos pelo rosto para secar as lágrimas. O silêncio mortal dos vampiros demonstrava que eles ainda estavam prestando atenção e ouviam atentamente cada palavra. Brooke respirou fundo duas vezes para continuar, sentindo-se mal mas ao mesmo tempo querendo colocar tudo que viveu para fora. - A única pessoa com quem eu mantive contato afetivo naquela fase foi com Penny, porque eu sabia que tinha que me manter forte por ela, porque ela estava contando comigo. Contudo... eu também estraguei isso. Estraguei quando conheci Luke, meu primeiro namorado. Eu era uma garota de quinze anos problemática, e ele um cara de dezoito, líder de uma gangue. Nos conhecemos durante uma ida minha ao psicólogo, mas eu mudei o caminho e acabei me perdendo em um bairro perigoso. Luke me salvou de um assaltante e me acompanhou até em casa, puxando conversa, falando de assuntos que me agradavam, o que eu pensei ser impossível àquela altura. Aos poucos ele foi ganhando minha confiança, virando meu amigo e quando percebi, eu estava apaixonada por ele. Apaixonada ao ponto de mudar minha conduta e mergulhar no mundo dele. Assim, eu me tornei parte da gangue de bêbados, drogados, vândalos e até traficantes. Luke me apresentou a uma realidade onde os problemas não existiam; apenas as festas onde ou você acabava chapado demais para se importar, ou você simplesmente acabava chapado demais para se importar. Era uma maneira tão simples, tão fácil fugir de quem eu era, da pessoa que eu estava me tornando. Eu estava tão perdida para pensar com clareza no que estava fazendo... Então eu fiz isso. Me envolvi com drogas e festejei todos os dias com meus novos amigos e com meu namorado que sempre estava lá para mim. Eu não tinha mais casa; deixei um bilhete para minha mãe me despedindo e me mudei para o apartamento de Luke. Ele era bom para mim. Era mais do que um namorado, era um amigo. E era apenas assim comigo; com os outros ele era violento e eu era tão ingênua que não percebi o relacionamento abusivo que eu tinha. Abandonei a escola por um tempo e vivi meus dias regados a festas, drogas e bebidas. Abusei tanto daquele modo de vida que chegou um ponto que eu não me reconhecia mais, o que me levou a uma imensa solidão e tristeza. Então comecei a ouvir as vozes novamente; a ver as sombras, a ter alucinações. Luke me levou ao mesmo psicólogo que eu frequentava e fui diagnosticada com depressão psicótica, o que me deixou devastada. Luke prometeu ficar ao meu lado, mas... não foi bem assim. Ele me deixou sozinha no apartamento durante todas as noites e eu enlouqueci. Tentei suicídio três vezes, mas em nenhuma delas consegui ir até o final. - A risada fria de Brooke soou errada para a situação conforme se propagava pelos cômodos da mansão em um eco sem resposta. - Na verdade, consegui chegar perto do sucesso pouco antes de fazer dezesseis anos. Essa não foi a primeira parada cardíaca que eu tive, se querem saber. A primeira aconteceu nessa época, pelo mesmo motivo: a anorexia. Meu coração parou de bater por doze segundos, mas os médicos conseguiram me trazer de volta das garras da morte. Quando acordei no hospital, minha mãe estava ao meu lado aos prantos, para minha surpresa. Ela olhou para mim e eu vi o quão aliviada ela estava e o quão decepcionada também. Depois disso não lembro de muita coisa, é como se uma nuvem negra tivesse pairado em cima dessas memórias. Somente sei que Luke nunca apareceu para ver como eu estava nos dias em que fiquei no hospital; ao invés disso ele mandou o desprezível do Noah para me avisar que eu não podia mais ser parte da gangue e que ele não me queria mais em seu apartamento. Não tive a chance de ficar arrasada porque as coisas ainda estavam confusas e minha mãe me deu a notícia de que tinha decidido me internar em uma clínica de reabilitação para pessoas com os mesmos problemas que os meus. É para seu bem, disse. Mas eu sabia que Marcy Evern estava mentindo. Ela apenas não conseguia lidar com a filha mais velha problemática e tinha a filha mais nova para cuidar. Eu aceitei aquilo. Eu aceitei ser internada na clínica de reabilitação, que eu descobri mais tarde se tratar do verdadeiro inferno. Aquele lugar não era o que minha mãe pensava ser. Era um mausoléu com pessoas insanas como pacientes e pessoas cruéis como médicos. Fui trancafiada em um quarto e medicada todos os dias. Com o passar do tempo fiquei entorpecida em cima de uma cama enquanto me davam injeções e remédios para me manter assim. Me forçavam a comer e me castigavam com surras se não o fizesse. Quando minha mãe aparecia nos dias de visita a realidade era outra. Não tentei dizer o contrário ou pedir ajuda. Ao longo do tempo aprendi a guardar tudo para mim e ser uma boa menina. Eu ouvia os gritos dos outros internos, a dor deles, e não podia fazer nada. Via as sombras se mexendo pelo quarto, mas as deixava ficar para serem minha companhia. Era um pesadelo. Eu queria gritar, mas não podia! Eu queria fugir, mas não podia! Eu estava sozinha naquele inferno! - A voz dela se elevou, se transformando em um grito doloroso, agoniado, que se perdeu no eco da casa. Brooke abraçou a si mesma, sentindo as lágrimas quentes escorrendo por seu rosto completamente molhado. Ela balançou sob as pernas, mas se manteve em pé, decidida a prosseguir: - Fiquei lá por três meses e quando sai tive que fingir uma alegria que não tinha, embora eu estivesse muito feliz por sair daquele inferno. Eu estava feliz, o problema é que o lugar havia sugado todas as minhas energias para demonstrar qualquer sentimento que não fosse a seriedade. Eles me ensinaram isso. E mais uma vez, ninguém percebeu. Nem minha mãe, nem Penny, ou qualquer outra pessoa. Eu disse a mim mesma que estava tudo bem, que a fase ruim tinha passado e que seguiria em frente com a minha família, que elas me perdoaram. Era o que todas nós queríamos. Porém, no dia em que saí da clínica de reabilitação, o acidente que matou minha irmã aconteceu. Estávamos em uma estrada perto das colinas de Denver, prestes a atravessar a ponte para a nossa casa, quando aconteceu. Lembro que minha mãe ria de algo, e Penny queria ir ao banheiro só para fugir das cócegas que eu a fazia, quando por uma fração de segundos vi minha mãe desviando os olhos da estrada para nos olhar. Acho que nunca vou saber se ela perdeu o controle da direção e por isso batemos no carro que vinha na contramão ou se foi o carro que nos atingiu primeiro. Tudo o que sei e que me recordo, é do sorriso de felicidade dela se transformar em um grito apavorado quando o outro motorista que estava bêbado acertou diretamente o lado em que Penny estava. Minha irmã morreu na hora, minha mãe desmaiou e eu fiquei presa no cinto de segurança. O carro começou a pegar fogo e não consegui me soltar e em seguida apaguei. Quando acordei, eu estava viva e minha mãe também e os bombeiros disseram que me encontraram do lado de fora do carro, longe do fogo. Não faço a mínima ideia de como saí de lá, apenas sei que sobrevivi e ganhei uma cicatriz - Vagarosamente, a Evern afastou o cabelo para o lado e mostrou a bochecha esquerda, onde a pequena cicatriz se destacava na pele pálida. - Eu a escondo porque ela me faz lembrar do acidente, e consequentemente da morte de Penny. Minha mãe costuma dizer que é um lembrete de que sou uma sobrevivente. Que ironia, não? – Fungou, suspirando em seguida. - O resto da história vocês já sabem. Nos mudamos para Forks e aqui estou. É isso. Essa é quem eu fui e quem eu sou, embora eu tente mudar todos os dias. Melhorar. Eu estou tentando. Ainda me sinto triste todos os dias e as vezes escuto as vozes e vejo as sombras. E sei que vocês não tem nada a ver com a minha vida e com o meu passado, mas eu me senti na obrigação de conta-lo à vocês porque... Eu não consigo mais fazer isso sozinha. Eu acabei de voltar à vida após ser declarada como morta e não sei o que fazer. Eu estou sozinha e com medo. E pela primeira vez na minha vida estou admitindo... Eu preciso de ajuda.

 

Brooke escondeu o rosto atrás das mãos, irrompendo em uma crise de choro e sentiu as pernas cederem, desabando sem forças contra o chão, imaginando o que os Cullen e Volturi deveriam estar pensando dela.
 Agora que finalmente tinha compartilhado sua história, sentia que um grande peso havia sido tirado de cima de seus ombros e do seu coração, ao mesmo tempo que começava a sentir-se envergonhada por tudo que havia falado. E se eles não se importassem? E se rissem dela?
Brooke não estava preparada para nada daquilo assim como não estava preparada para a queda nos próximos segundos, no entanto, os dois eram inevitáveis.
Porém nenhum deles aconteceu.
Mãos firmes a seguraram antes dela atingir o chão e a ergueram para cima, a apoiando para que ficasse de pé. A Evern abaixou as mãos do rosto e olhou com os olhos embaçados pelas lágrimas para Edward, que estava parado em sua frente, a segurando com um sorriso gentil e olhos dourados que refletiam compreensão e arrependimento.
Brooke só teve tempo de franzir a testa antes dele abrir a boca e dizer:

 

— Você não está sozinha - E então ele a abraçou sem jeito, a surpreendendo. - Nós iremos cuidar de você e sinto muito por tudo que lhe falei. Estava enganado ao seu respeito, Brooke. Você é a melhor pessoa que minha filha poderia se espelhar, porque você é mais forte e corajosa do que qualquer um nesta sala.

 

A morena não sabia se os outros pensavam o mesmo, mas naquele momento isso não importou. Ela ouviu as palavras de Edward e as aceitou, o abraçando de volta. Porque ele estava sendo solidário. Porque a vida era muito curta para guardar rancor. Porque precisava se segurar em algo para não cair. Porque depois de tudo, a menina que ali chorava no ombro do vampiro pelos seus traumas do passado, queria mais do que qualquer outra coisa acreditar que existia um mundo onde as coisas poderiam dar certo para ela e a felicidade lhe ser permitida.
E Brooke Evern queria que aquele mundo fosse ali, naquela realidade em que vivia. Em Forks. Com os vampiros que conhecia. Com a segunda chance que recebera e faria de tudo para fazer valer a pena.

 

 

***

 

A postura casual de Felix Volturi encostado em um carro branco que Brooke nunca havia visto antes enquanto ela caminhava pelo jardim da mansão e o observava parado a encarando, a dizia que mais um comportamento estranho vindo dos vampiros que conhecia estava prestes a acontecer. A última semana fora regada deles; depois de sua morte-não-morte eles vinham agindo com extrema gentileza e cuidado para com ela. Incluindo os Volturi, com a exceção de Alec que não dera as caras, que eram o que mais a assustavam.
A Evern mudou o rumo de sua caminhada e foi até Felix, parando em sua frente.

 

— Esperando por alguém?

 

 

— Sim. E ela acabou de chegar - respondeu o Volturi, abrindo a porta do carro em seguida e a segurando para ela. - Vamos dar um passeio.

 

Brooke semicerrou os olhos, o fitando com puro ceticismo.

 

— Você não deveria estar dando aula? - Ela cruzou os braços. - E por que quer me levar para passear?

 

— Eu disse que estava doente e pedi um atestado a Carlisle - Felix deu de ombros, ainda segurando a porta do veículo, tão natural que parecia que ele fazia aquele tipo de coisa todos os dias. Falsificar atestados. - E não se preocupe, eu não irei ataca-la no caminho ou nada do tipo. Seu tipo de sangue não é o meu preferido - Ele arqueou as sobrancelhas.

 

A morena bufou.

 

— Então você quer que eu aceite ir com você para um lugar que eu não sei e fazer o que menos ainda?

 

— Sim.

 

— Eu pareço doida para você?

 

— Não julgo as pessoas por suas escolhas - retrucou Felix, a olhando impaciente. - Apenas saiba que iremos fazer três coisas importantes para você. E você irá se arrepender se não escolher vim comigo, Evern.

 

Brooke ponderou.
Sair com Felix, mesmo não sabendo para onde e descobrir que três coisas são essas que ele estava falando, ou recusar e ficar na mansão, cujo ela não saia há uma semana e era monitorada?
A decisão era óbvia.

 

— Eu escolho as músicas no rádio - disse a morena, fitando seriamente o vampiro. - Espero que goste de pop.

 

— Eu odeio pop— Grunhiu Felix enquanto ela passava por ele e entrava no carro.

 

— Você aprende a gostar.

 

O Volturi suspirou e a Evern sorriu amarelo.

 

Meia hora depois, estavam sentados em bancos acolchoados, de frente um para o outro com uma mesa redonda de bolinhas vermelhas entre eles, ao lado da enorme janela do estabelecimento em Port Angeles que era o primeiro ponto de parada daquele passeio inesperado.

 

 

— Uma doceria? - perguntou Brooke, arqueando as sobrancelhas e tentando não soar nervosa ou irritada. - Sério, Felix?

 

O Volturi cruzou as mãos em cima da mesa, a encarando inocente.

 

— Sim. A que vende o melhor bolo de chocolate da cidade - respondeu ele, repuxando os cantos dos lábios para cima em um breve e pequeno sorriso ao ver os olhos da garota aumentarem de tamanho.

 

— Como você sabia que é o meu favorito?

 

— É da maioria dos humanos. Chocolate é muito popular entre sua raça - Felix encolheu os ombros. - Não precisa se preocupar quanto a isso. Carlisle permitiu nossa vinda até aqui e liberou o bolo em seu cardápio.

 

Brooke assentiu, quase suspirando de alívio por ouvir aquilo.
 Depois dos outros descobrirem sobre a sua anorexia, Carlisle havia entrado em contato com uma nutricionista que agora acompanhava a saúde da Evern e montava cardápios nutritivos para a sua recuperação e tratamento para que os poucos as refeições deixassem de ser uma inimiga.
Era difícil voltar a comer depois de tanto tempo se recusando, mas a garota estava tentando, porque era dessa forma ou de outras duas: ter uma sonda dentro de si a forçando a comer ou ir para um centro de reabilitação. A primeira opção era de longe a melhor. Por isso estava realmente tentando.
A morena engoliu em seco, afastando tais pensamentos. Mal percebeu quando uma garçonete veio anotar os pedidos e ficou paquerando Felix; apenas notou os dois pratos com duas fatias generosas de bolo de chocolate com granulado, quando o vampiro pigarreou alto.

 

— Hum?

 

— Sirva-se - disse Felix, puxando um dos pratos para si. Ele olhou para a fatia de bolo como se ela fosse um pedaço de carne apodrecida, torcendo o nariz, gesto que maculou a expressão neutra em seu rosto de pedra. - Parece... delicioso.

 

Brooke precisou comprimir os lábios para não rir ou se engasgar com o que estava vendo e ouvindo.

 

— Pensei que vampiros não comessem - murmurou, falhando na tentativa de segurar a risada. Quando o vampiro a mirou por trás dos óculos escuros, ela parou de rir, sentindo as bochechas esquentarem pela indelicadeza. - Hum... desculpa aí.

 

— Nós não comemos - resmungou Felix em resposta, dobrando o guardanapo muito elegantemente, lançando os olhos muito brevemente para o lado de fora da janela, cerrando os olhos como se visse algo que o aborrecia. Então depois voltou a olha-la normalmente. - Mas hoje estou abrindo uma exceção. Agora, deguste o seu pedaço que eu degustarei o meu, antes que eu entre no modo professor e comece a falar sobre a sua situação acadêmica desastrosa.


Brooke aquiesceu, embora não tenha se movido.

Degustar não era bem a palavra que o Volturi gostaria de ter dito, isso estava nítido pela forma como ele olhava para o bolo. Ainda assim, ela não teve tempo de se pronunciar, porque logo em seguida o vampiro estava levando uma garfada do bolo de chocolate à boca, fazendo a dela se escancarar.
A cena estava cômica. Felix tinha a mandíbula apertada enquanto mastigava lentamente a sobremesa, olhando fixamente para a morena, com uma expressão assustadora de quem estava sendo condenado à forca. A Evern queria ter um celular para registrar o momento, mas se contentou em guarda-lo na memória e se esforçou para não rir, afinal, Felix Volturi estava fazendo aquilo por ela e não havia como negar.
 Nenhum vampiro prova comida humana sem ser por um prol maior ou em sã consciência. O Volturi estava lúcido e seu prol era fazê-la provar do delicioso e melhor bolo da cidade, obviamente. E aquilo aqueceu o coração da garota de uma maneira que fez seus olhos lacrimejarem.
Felix era um vampiro da realeza que se alimentava de sangue humano e fazia coisas cruéis, como bem sabia. E era verdade. Mas já fazia um tempo que Brooke percebera que havia algo mais nele: outro lado. Outro lado de quem ele era, um lado que era menos propenso a maldades e mais tolerante com o mundo, inclusive com os humanos, com ela. Esse outro lado gostava de ensinar literatura para adolescentes rebeldes do ensino médio e de discutir sobre grandes escritores, revelando uma ou outra coisa sobre Shakespeare que não são citadas em biografias ou livros. Esse outro lado a fazia querer confiar nele, a ser amiga dele. E era esse lado que estava diante dela agora; comendo bolo junto com ela. E assim como Felix, a garota sabia que os outros três Volturi que conhecia também tinham outros lados que estavam escondidos debaixo da superfície, prontos para serem descobertos e trazidos para fora. E ela poderia ajuda-los com aquilo...

 

— Bom, acho que um pedaço não vai fazer mal - comentou Brooke, sorrindo agradecida para o vampiro em sua frente.

 

Felix assentiu, mastigando ainda mais devagar.

A Evern abaixou os olhos para o prato diante de si e respirou fundo antes de pegar o garfo e a faca e cortar um pedaço muito pequeno do bolo, o levando à boca, hesitante.
Assim que a textura cremosa do bolo de chocolate envolveu sua língua, a morena fechou os olhos sentindo-se no paraíso. Tinha esquecido do gosto meio doce, meio amargo da sobremesa que tanto gostava. Estava com saudades e não sabia, e achava que podia começar a chorar de felicidade a qualquer instante.
O chocolate realmente fazia coisas com a raça humana.

 

— Isso tá mufo bom— falou Brooke,  de boca cheia, abrindo os olhos e levantando o polegar, fazendo um joinha para Felix.

 

Ele assentiu, mesmo parecendo discordar. Ficou a observando devorar a fatia de bolo em poucos minutos, ignorando a falta de etiqueta de Brooke quando ela deixou os talheres de lado e começou a comer com a mão; sentia-se satisfeito por cumprir seu objetivo ao leva-la à doceria.

 

— Pode comer o meu - Ofereceu Felix, empurrando seu prato com o bolo parcialmente intocado para ela, que aceitou acanhada. Ele estava grato, na verdade. Queria colocar pra fora a porção que comera o mais rápido possível e substituir por sangue O+. - Posso pedir mais um pedaço, se quiser.

 

Brooke levantou a cabeça e o encarou, engolindo rapidamente:

 

— Não precisa. É o suficiente.

 

Então voltou a comer.
O Volturi reprimiu uma risada e esperou que a garota terminasse de se empanturrar com o bolo. Não demorou muito e quando ela empurrou o prato com migalhas para longe e afundou no banco, com a boca suja de calda de chocolate - que ele pensou em avisar, mas tinha assuntos mais urgentes para tratar -, ele se pronunciou:

— Agora que já realizamos uma das três coisas, pronta para realizar a segunda?

 

— Sim...? - Brooke o olhou incerta, erguendo as sobrancelhas.

 

Felix procurou algo no bolso do terno que usava e instantes depois retirou algo retangular e prateado, a estendendo em seguida, olhando mais uma vez para o lado de fora, antes de se voltar para ela.

 

— Para você, Evern.

 

— Um celular? - Os olhos dela se arregalaram enquanto fitava o aparelho nas mãos do vampiro. - Por que você está me dando um celular?

 

— Porque pelo que eu me lembre, nós confiscamos o seu. E jogamos fora - retorquiu Felix, ignorando o olhar indignado da morena. - Recebi ordens de te dar isso, e se eu fosse você, aceitaria. É de última geração e acabou de chegar na loja, se quer saber. Os humanos parecem se importar com esse detalhe, então creio que seja algo bom.

 

E põe bom nisso, Brooke pensou, pegando o celular e o olhando detalhadamente. Tinha um designer bonito e realmente parecia ter acabado de sair da loja. Porém ela não conseguiu deixar de lado a desconfiança em cima do presente, e mesmo tendo inúmeras perguntas, conseguiu apenas se focar na mais inútil.

 

— Então é essa a segunda coisa que viemos fazer? Você me dar o celular? - Indagou. - Não me entenda mal, eu adorei. Mas poderíamos ter feito isso na mansão, Felix.

 

— A paciência é uma virtude, Evern. Que obviamente você não tem - O Volturi suspirou. - Mas não, não é só isso. O celular contém um novo chip, com um novo número para você, e de hoje em diante o número da sua mãe estará desbloqueado para vocês poderem se falar. Essa é a segunda coisa pela qual trouxe você aqui. Para falar com sua mãe.

 

O coração de Brooke pareceu inflar ao mesmo tempo em que seus olhos se esbugalhavam e piscavam, duas vezes.

 

— V-vou poder falar com a minha m-mãe? - Indagou, em um sussurro emocionado.

 

— Soube que te deviam essa ligação - Felix a olhou gentilmente, suavizando a típica expressão indiferente Volturiana. - Mas tente não falar mais do que o necessário. Sua mãe não pode desconfiar de nada e nem descobrir sobre nós, caso contrário, você sabe o que acontecerá.

 

A morena assentiu rapidamente. Não era louca de dar bandeira sobre o mundo sobrenatural, muito menos para Marcy.
Ela fitou o celular em suas mãos, desbloqueado a tela e indo diretamente até a aba dos contatos. Ao todo, catorze números já estavam salvos; tanto dos Cullen, quanto dos Volturi. Entre eles, o de sua mãe.
Brooke tinha memorizado aquele número. Marcy Evern não era do tipo de pessoa que trocava de celular ou de chip com frequência, o que era uma vantagem para alguém ruim de memória como Brooke. E ali estava ela: com o número e com o meio de fazer a ligação em mãos. Com a oportunidade que tanto esperara para falar com sua progenitora depois de tanto tempo. E queria tanto fazer isso. Queria ligar para a mãe e esperar até que ela atendesse no terceiro toque - sempre atendia no terceiro toque - e perguntar se Marcy estava bem. Queria ouvir sua resposta e sua voz serena que a acalmava em tempos de crises de ansiedade. Queria lhe contar tudo o que estava acontecendo, das pessoas com quem convivia e no que estava metida e desabafar os sentimentos caóticos dentro de si, para depois receber os conselhos infalíveis que sabia que receberia. Apenas queria diminuir um pouco a saudade esmagadora que sentia, mesmo que fosse através de uma simples ligação. Queria desesperadamente isso.
Contudo, ao continuar fitando o nome da mãe no ecrã do celular, Brooke se deu conta de algo que a estiveram tentando mostrar todas as outras vezes que a negaram a chance daquele telefonema.
Ela queria falar com Marcy, mas não podia.
Não podia porque se conhecia o suficiente para saber que não suportaria mentir para mãe; talvez até um ponto, mas não durante toda a chamada sem que sua voz a entregasse de que havia algo errado e logo a verdade viesse a tona em um impulso. E acima de tudo, não podia colocar a pessoa que mais amava, em risco.

 

— Quer privacidade para falar? - A voz de Felix alcançou seus ouvidos, a fazendo sair do mundo de devaneios melancólicos que entrara.

 

— Não, fique onde está - respondeu Brooke, engolindo a vontade de chorar e olhando rapidamente para o vampiro antes de desviar os olhos que se tornaram umidos. Era impressão sua ou se tornara mais propensa as lágrimas depois que voltara do mundo dos mortos? - Eu não vou fazer a ligação. Não posso.

 

A Evern não olhou para Felix para ver sua reação, mas sabia que ele estava assentindo, por que não existia nada mais que ele pudesse fazer. Ele não fazia o tipo de vampiro intrometido em assuntos que não o diziam respeito, e certamente muito menos o tipo encorajador. Ele era reservado e condescendente, pelo menos na maioria das vezes, quando não precisava ser o predador violento que seu outro lado vampírico exigia ser.
 Daquele modo, o silêncio recaiu entre eles, que permaneceram sentados onde estavam evitando contato visual. De repente o clima tinha se tornado triste, quase lamentável. As poucas pessoas dentro da doceria conversavam em suas mesas, outras riam e se calavam, mas nada passava disso.

Brooke suspirou pesadamente, escorregando a nova aquisição tecnológica para dentro do bolso da calça. E começou a brincar com o guardanapo sob a mesa, se perguntando se não iriam embora agora que havia conseguido estragar o passeio agradável que estavam tendo com suas escolhas.
 Felix, por outro lado, parecia inquieto pela primeira vez em muitos anos. Não. Mais do que isso. Parecia... frustrado com alguma coisa que o fazia intercalar olhares entre a Evern momentaneamente cabisbaixa e algo do lado de fora da doceria, o levando a ter o cenho franzido e os lábios comprimidos em uma linha reta. Ele entendia o que havia acabado de acontecer ali. E respeitava a decisão da garota em não aceitar o que estava sendo lhe oferecido (pelo menos uma parte), por incrível que parecesse. No entanto, aquilo não diminuía sua certeza de que realizar a segunda tarefa do dia que o incumbiram, estivesse prestes a comprometer o resto, o que o causaria uma dor de cabeça futuramente com o tanto que iria ouvir. E bem, não seria ele a estragar a coisa toda.

 

— Escuta... - disse Felix, se aprumando no banco e limpando a garganta para soar o mais claro possível. Assim que conseguiu a atenção de Brooke, o Volturi cruzou as mãos em cima da mesa redonda e inclinou o corpo um pouco para frente, como se fosse confidenciar um segredo agora. - Você não deveria saber, mas não vejo razões fortes o suficiente para mantê-la longe da verdade. O dia de hoje, este passeio para qual eu a trouxe... nada disso foi eu, Evern. As três coisas. Não foi minha ideia traze-la aqui em Port Angeles para comer seu bolo preferido ou te presentear com o celular e a oportunidade para falar com a sua mãe. Eu só estou cumprindo ordens.

 

— De quem foi, então? - Questionou Brooke, unindo as sobrancelhas e deixando por um momento o ar tristonho. Não parecia irritada ou brava com o vampiro pela verdade que estava ouvindo, somente curiosa.

 

Felix soltou algo como um meio suspiro antes de virar o corpo no banco e levantar o dedo em riste, apontando para algo além do vidro da janela.

 

— Ele está ali.

 

A morena olhou na direção apontada e teve que estreitar os olhos para enxergar a silhueta parada no lado de fora da doceria, sozinho na calçada após o semáforo de carros. Levou alguns instantes para ela reconhecer o familiar rosto pálido que a encarava de volta, e levou mais alguns instantes para que ele percebesse isso e se movesse, virando as costas.

 


— Alec? - Arquejou Brooke, surpresa.

 

— Creio que vocês tenham assuntos para discutir - falou Felix, embora não tenha recebido atenção. - Certo. Vou pagar a conta... e se eu fosse você, iria atrás dele antes que o perca totalmente de vista, Evern.

 

Brooke apenas balançou a cabeça, não sabendo se concordava ou negava. Apenas sabia que Alec tinha planejado tudo sobre aquele dia. E estava ali. Depois de tudo. Ele estava ali.... E estava indo embora, como sempre fazia quando as coisas se tornavam intensas entre os dois.
 Ela aguardou até que a silhueta dele desaparecesse do campo de visão limitado da janela da doceria para poder agir. Felix estava certo; tinham muito o que conversar. E precisava vê-lo, precisava agradece-lo por ter salvo sua vida e depois... Não sabia o que aconteceria depois. Apenas tinha que fazer isso. Seu coração gritava para fazer, assim como sua mente e alma.
 Então Brooke fez. Ela levantou-se em um salto e se afastou da mesa redonda, correndo para fora da doceria o mais rápido que suas pernas permitiam, recebendo olhares tortos das outras pessoas, mas não se detendo por isso.

 

— Se ela tivesse essa determinação nos estudos... - murmurou Felix, no caixa, observando a morena passando pela porta como se fosse apagar um incêndio.

 

Brooke sentiu o ar frio da manhã golpeando seu rosto assim que chegou ao lado de fora, virando a cabeça em todas as direções à procura de Alec. O encontrou caminhando apressadamente entre as outras pessoas que surgiam pelas ruas, quase virando a esquina mais próxima, o que fez a morena aumentar o ritmo da corrida.
Ela alcançou o fim da calçada e o começo do semáforo, com os pulmões ardendo, as pernas tremendo, e por isso teve que parar, se curvando para a frente e apoiando as mãos nos joelhos em busca de ar e firmeza para não cair. Se Carlisle a visse naquele momento, a daria um belo sermão sobre correr ser uma péssima ideia para alguém com o estado de saúde dela.
Ainda assim, Brooke não queria parar de correr. Queria atravessar a pista repleta de carros em alta velocidade e alcançar o Volturi que se distanciava cada vez mais. Porém, não conseguiria. Não do jeito que estava. E por isso, ela resolveu tentar outra coisa:

 

— ALEC! - gritou Brooke, o mais alto que pôde entre a barulheira dos roncos dos motores dos carros.

 

Antes que fechasse a boca, a morena observou a silhueta do vampiro estancar no lugar e, um segundo depois, se virar, a procurando com os olhos e a encontrando no caminho. Os olhos dele se arregalaram antes de se estreitarem, e por fim, depois do que pareceu uma eternidade, Alec refez o caminho, se detendo na calçada no outro lado.


— O que pensa que está fazendo, Evern? - gritou ele, colocando as mãos em volta da boca para poder ser ouvido entre todo o barulho dos carros.

 

— Tentando ir até Maomé... porque se ele não vem até a montanha, a montanha vai até ele, você sabe - gritou Brooke de volta, se erguendo e abrindo um sorrio tímido, que foi substituído por uma careta quando a morena sentiu as pernas bambearem e pequenos pontos pretos pontilharem sua visão. Realmente não deveria ter corrido : - Mas eu acho que vai ter que ser do outro jeito, porque a montanha está um pouco...

 

Calou-se assim que os joelhos cederam, tendo uma última visão do rosto do Volturi se transformando em um borrão quando ele se movimentou.
 Brooke tombou para a frente, prestes a ultrapassar a calçada e a faixa de pedestres, imaginando quanto tempo tinha antes de um carro acerta-la quando caísse na pista. Porém, não foi acertada por um carro. Algo sólido se chocou contra si e a envolveu, a empurrando de volta para a calçada e a segurando.
 O cheiro de menta e roupa nova invadiu as narinas de Brooke enquanto ela se recuperava da vertigem, a fazendo não precisar abrir os olhos para saber de quem se tratava. Mas quando abriu, teve certeza. Lá estava ele. Alec, de frente para ela, que não sabia se o semáforo havia fechado ou se ele havia corrido em velocidade vampírica e se alguém tinha visto, a fitando com lentes azuis, de uma maneira tão profunda que pareceu que ele estava enxergando através dela, como se pudesse alcançar algo que ia além de sua alma. Ela sabia a cor real daqueles olhos; o carmesim vívido que eram e a maneira intensa que costumavam a olhar. E que olhavam agora, na curta distância em que se encontravam.
 Estavam tão perto que a garota conseguia sentir o nariz do vampiro tocar o seu, levando seu coração bater no ritmo descompassado em que estava batendo e que em nada tinha relação com a corrida de outrora. Brooke sabia que Alec podia ouvir, mas não se importou. Estava concentrada demais nos olhos dele — e, como percebeu depois, nas mãos ao seu redor, a mantendo de pé. Aquela era uma das poucas vezes em que estiveram tão perto, calados e sem brigarem.
 Os olhos dela se encheram de lágrimas de repente quando percebeu que aquele também era o primeiro encontro dos dois depois de sua morte-não-morte. Estavam ali. Os dois. Por causa dele. E ela sentia que o devia mais do que parecia.
Por isso, Brooke esqueceu da maneira indiferente que costumavam agir um com o outro e num ato impulsivo, lançou os braços ao redor da cintura de Alec, o abraçando, e enterrou o rosto no peito dele, a frieza da pele escondida embaixo das camadas de roupa que ele vestia.

 

— Obrigada — sussurrou a Evern, com a voz embargada.

 

Em um primeiro momento, o Volturi ficou imóvel, surpreendido pela ação. Mas, após isso, ele sentiu o calor do abraço. Sentiu o perfume da garota com o rosto escondido em seu peito o acertar em cheio. Sentiu a emoção na voz dela e o significado dela. E por último, sentiu a necessidade de abraçá-la de volta, de experimentar mais um vez da sensação de te-la em seus braços, tão perto.
Então, foi isso que fez. Alec escorregou as mãos até envolver a Evern em um abraço desajeitado com apenas uma mão, enquanto levantou a outra e acariciou os cabelos dela quando ouviu um soluço abafado. E assim, do lado de fora da doceria, tendo como cenário uma rua com o semáforo aberto em Port Angeles, os dois ficaram como estavam, dentro da bolha que criaram sem intenção.

 

— Não deveria me agradecer. Estou prestes a lhe repreender — Avisou Alec, para em seguida emendar: — Você não deveria correr por aí. Saiu da UTI recentemente, por caso está pensando em fazer uma visita?

 

— Estou bem onde estou agora — respondeu Brooke, levantando o rosto do peito dele e o encarando com as bochechas molhadas. — E eu não estaria correndo se você não estivesse fugindo de mim — Semicerrou os olhos.

 

O Volturi sorriu. Não conseguiu não sorrir.

 

— Eu não estava fugindo.

— Não?

— Não.

— Então estava me evitando — retrucou Brooke. Quando o viu abrir a boca para replicar, foi mais rápida: — E nem pense em negar. Porque planejar um passeio e mandar alguém me acompanhar enquanto você se esconde e nos segue como uma sombra, com certeza significa que está me evitando, Volturi. E eu quero saber o motivo. Por quê? Porque têm me evitado esse tempo? Por que, depois do que aconteceu... depois de ter salvado a minha vida... Por que diabos está fugindo de mim?

 

Alec ficou em silêncio, apenas a encarando até os vincos em sua testa aparecerem.

 

— Felix não deveria ter contado...

— Felix não tem nada a ver com isso. Pare de mudar de assunto e responda a minha pergunta. Por quê?

 

Uma buzina soou.
Brooke permaneceu o encarando como se estivesse o confrontando, apesar do rastro de lágrimas em seu rosto. Ela observou a forma como Alec travou a mandíbula e apertou o braço ao seu redor, mas não se intimidou ou desistiu de uma resposta. Ao contrário.

 

— Eu insist...

— Porque quando eu vi você em cima daquela maca de hospital, morta, depois de quase um milênio eu voltei a se sentir algo que pensei que nunca mais sentiria — disse Alec, a interrompendo abruptamente. Ele soou hesitante e nervoso e pousou a mão no lado direito do rosto de Brooke, deliberadamente, a obrigando a olha-lo nos olhos. — Eu senti medo. Medo de perder algo que não era meu... você. E isso me assustou porque nunca ninguém havia conseguido me fazer sentir isso antes  de você, Evern. Por isso me afastei depois de me certificar de que você ficaria bem, por isso a evitei. Porque o que quer que seja que você despertou em mim naquele dia, ainda está aqui, e ter consciência disso me assusta. Então se quer uma resposta ou uma desculpa, aqui está. E espero que a aceite, porque é a mais pura verdade. Fiquei com medo de perder você, Brooke Evern.

 

Brooke arfou, mas o som foi abafado pelo som das batidas do seu coração que virou algo mais parecido com um tambor. As palavras do vampiro em sua frente ecoaram dentro de sua cabeça e mexeram com ela. Ele mexia com ela. E com seu coração.
E ter consciência disso também a deixou com medo, porque não sabia o que tudo aquilo significava ou para onde os levaria se aceitasse. Porém, não a impediu de gostar do que ouviu.

 

— Você não vai conseguir se livrar de mim tão fácil assim, Alec Volturi — falou Brooke, depois de um tempo o encarando em silêncio, abrindo um sorriso em seguida. E foi só.

 

O vampiro revirou os olhos, mas também abriu um sorriso. E balançou a cabeça, como se afastasse algum pensamento, a soltando em seguida.
Brooke experimentou dar um passo para trás, sentindo as pernas mais firmes — embora não totalmente — e o encarou, sentindo o rosto esquentar.
Os dois ficaram em silêncio, sem saber o que fazerem durante alguns minutos.

 

— Então... Acho que falta uma tarefa — murmurou Brooke, empurrando as mãos para dentro dos bolsos do casaco, mudando o peso de uma perna para a outra.

 

— O quê? — Alec arqueou as sobrancelhas.

 

— Felix disse que iríamos fazer três coisas hoje, e já fizemos duas. Falta uma — Explicou ela, timidamente. — Então, como foi você quem planejou tudo, eu... hum... pensei que podíamos terminar... Mas se você não quiser eu vou entender completamente...

— Tudo bem, vamos lá. Meu carro está na esquina.

A Evern piscou.

— Tipo, agora? — O Volturi assentiu. — Mas e o Felix?

— Acho que ele vai ficar bem.

 

Os dois olharam para a doceria e viram Felix os observando pela janela, acenando com a mão como se estivesse os dispensando.

 

— É, ele vai sim — Brooke concordou. Se virou e voltou a olhar para Alec. — Até agora eu comi o meu bolo favorito e ganhei um celular de última geração. Espero que essa última coisa que vamos fazer envolva o banco mais próximo e muitos números acompanhados de muitos zeros na minha conta. Por favor, diga que é isso.

 

— Infelizmente, não. Mas podemos deixar para a próxima vez — respondeu o Volturi, a lançando um olhar divertido.

— Vai ter uma próxima vez?

— Vai se você se manter viva até lá.

— Acho que posso me acostumar com a vida de milionária.

 

Alec tentou disfarçar o riso, mas já era tarde demais. Brooke percebeu e também começou a rir. Logo, os dois trocaram um olhar e tentaram gravar aquele momento em suas memórias antes de caminharem juntos até a esquina.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

OLÁÁÁ!! Como vocês estão?
Eu sumi depois de ter jogado um bomba em vocês com o último capítulo, eu sei! Mas não foi minha intenção, juro! A culpa foi da bendita minha internet que entrou em manutenção durante esse um mês e das provas que cá estou eu fazendo (e me dando mal). Mas durante esse tempo eu estive escrevendo o capítulo 24 e aqui está ele: lindo e com mais de doze mil palavras.
Queria poder falar muita coisa hoje, mas não vai dar porque já tenho que estudar para mais provas e fazer mil e usar trabalhos. O tempo tá curto e preciso me virar em trinta, por isso apenas vou pontuar as coisas mais importantes.

Muito obrigada pelos comentários do capítulo passado, amores. Teve gente que nunca tinha aparecido e eu fiquei super feliz!
Eu amei escrever o capítulo de hoje e ainda estou SURTANDO COM A REVIRAVOLTA!!! Palmas para a minha imaginação que resolveu dar as caras hahahaha.
Para quem queria saber sobre o passado da Brooke, foi revelador. Sei que ela sofreu muito, mas tudo tem um propósito e essa é a história dela. Mas isso não quer dizer que ela é uma personagem que sofre pra aprender a ser forte; não. Ela é uma personagem construída através de fragmentos do ficcional e da realidade, por isso quando ela narra sobre os distúrbios dela, sobre o pai dela, sobre a clínica de reabilitação... isso tem uma aproximação com a realidade significativa. Claro que sobre a clínica nem tanto, porque mais para frente vamos descobrir o motivo das injeções que ela recebia... ENFIM.

Não há previsão para as próximas postagens, porque eu não sei quando terei tempo para escrever e tenho que me dedicar por completo, porque acreditem em mim, a fanfiction vai entrar em um campo de guerra agora!

É isso. Espero que tenham gostado do capítulo e que comentem para eu saber.
Até o próximo capítulo...
Bjs! ♥