Eyes On Fire escrita por Brê Milk


Capítulo 24
Chapter 21: Night Club S.D.S.


Notas iniciais do capítulo

Who's in your shadows?
Who's ready to play?
Are we the hunters?
Or are we the prey?
There's no surrender
And there's no escape
Are we the hunters?

— Ruelle (Game of survival)



AVISO: CENAS COM INSINUAÇÕES DE SEXO E VIOLÊNCIA!



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— Se elas demorarem mais um minuto, iremos sem elas.

 

Alec bufou, andando de um lado para o outro na varanda parcialmente iluminada da mansão. Estava prestes a abrir um buraco no chão, estava quase certo disso, enquanto esperava que a irmã e a Evern resolvessem aparecer. Quanto tempo levava para vestir uma roupa e fazer uma maquiagem? Por que as mulheres sempre se atrasam, não importa o quão importante a ocasião seja? Os séculos passavam, as eras mudavam, o mundo se transformava, e ainda assim ele nunca iria entender o sexo feminino. Fosse vampiras, humanas ou o que fosse.
 Quando contou seu plano para aquela noite, não achou realmente que Brooke fosse querer participar — queria somente que ela se sentisse parte daquilo para assim parar de se meter em problemas e recuar quando fosse necessário —, não depois de contar o papel que ela iria desempenhar. No entanto, para provar que ele estava errado, a maldita garota aceitara a oferta e naquele momento deveria estar com Jane, as duas se preparando para serem as distrações da noite.
E aquilo com certeza era, de fato, preocupante. Mais preocupante até do que os riscos da missão.

 

 

— Se não quiser abrir um buraco até o núcleo da Terra, é melhor parar de ficar zanzando de um lado para o outro, Alecsandro — A voz de Felix, que estava encostado no parapeito da varanda, o tirou dos devaneios, o fazendo olha-lo irritado. — Só um conselho.

 

— Pois pode guarda-lo para si, Felix — replicou Alec, mal-humorado. — Não preciso deles nesse momento, o que preciso é...

 

O ranger da porta da frente soou atrás de si.

 

— O que você precisa acabou de chegar — murmurou Felix, um ínfimo sorriso aprovador se esticando nos lábios ao fitar algo além do vampiro louro-acastanhado.

 

 

Alec nem precisou se virar para saber de quem o amigo estava falando. O cheiro característico de lavanda e amêndoas e o cheiro agridoce de sangue, o acertou em cheio. Prendendo a respiração deliberadamente — não que tenha adiantado muita coisa —, ele se virou lentamente, dando de cara com as duas silhuetas femininas que esperava ver há duas horas.
 Seus olhos, enegrecidos pela escuridão da noite e pela pouca iluminação da varanda, se focaram primeiro em Jane. A vampira estava diferente, como em todas as raras ocasiões como aquelas: os lábios vermelhos, os olhos delineados, as bochechas coradas de maquiagem. Tinha soltado os longos cabelos loiros, se livrado do manto Volturi e o trocado por o que ele achava ser uma saia curta de pregas preta com uma mini blusa de renda preta com decote que deixava visível até o umbigo — ou o que fosse aquela peça minúscula — e botas de salto até os joelhos. O fato ali era que Alec, como todo bom irmão, torceu o nariz para o figurino e produção da irmã gêmea. Mas não falou nada, nunca adiantava. E precisavam de Jane, o que implicava aquelas roupas.
 Sendo assim, ele desviou os olhos da irmã e os fixou na segunda silhueta parada em sua frente. Seus olhos percorreram o corpo da Evern de cima a baixo, mas para o seu desapontamento — que ele não entendia — e alívio — o que ele também não entendia — tudo o que encontrou foi um grosso tecido negro de um sobretudo a cobrindo por inteiro, deixando à mostra apenas os saltos altos.
 Alec arqueou as sobrancelhas, passando a encarar seu rosto, que ele notou ganhar uma leve coloração vermelha, que combinou perfeitamente com os lábios pequenos pintados da mesma cor, só que em um tom muito mais forte, quase como sangue, comprimidos em uma pálida linha fina.
 Algo dentro de si se contraiu, e ele pestanejou, analisando outros detalhes nela, como os olhos castanhos destacados pelo lápis preto e o cabelo castanho escuro, preso no alto da cabeça em um coque com pequenas presilhas de pérolas que deixava a mostra o rosto da morena completamente. Alec vislumbrou uma pequena cicatriz na bochecha direita, mas não a deixava menos.... bonita.
Bonita.
 O pensamento o pegou desprevenido, o assustando. Ora, o que estava acontecendo com ele? O que eram todas aquelas reações e pensamentos descabidos? Deveria estar ansioso com a missão. De fato, era aquilo.
Embora nunca tivesse ficado ansioso com missão nenhuma.

 

 

— Estão atrasadas! — exclamou ele, zangado, levando os olhos para longe. Se com as garotas ou consigo mesmo, isso Alec não pôde detectar.

 

Jane chacoalhou os ombros.

 

— A culpa não é minha se estamos levando um peso morto com problemas de inibição conosco — escarneceu, revirando os olhos cobertos por lentes azuis celestes.

 

— O peso morto está bem aqui ao seu lado! — retorquiu a Evern, empinando o nariz e agarrando o laço do sobretudo com força. — E eu não teria problemas com a minha inibição se você tivesse me dado algo para vestir de verdade. Algo com tecido o suficiente para me fazer saber que estou vestida realmente.

 

 

Mesmo não querendo, a atenção de Alec viajou de volta para a morena, especificamente na parte do tecido e da falta dele, como deu para entender.
Diabos! Havia algo de muito errado com ele aquela noite.

 

 

— Você ainda pode desistir — Se ouviu dizendo, os dentes trincados.

 

 

Ele queria que ela desistisse. Queria desesperadamente. Caso contrário, quando estivesse na hora dela fazer o que deveria fazer...

 

 

— Mas não vou — respondeu Brooke, o lançando um olhar duro. — Você não disse que estávamos atrasados?

 

— Ainda estamos — rosnando baixinho, ele deu um passo para o lado, dando passagem. Seus olhos se estreitaram quando voltaram para a Evern. — Primeiro as damas.

 

 

Uma mulher convencional teria agradecido e caminhado pelo caminho que lhe era mostrado, não importava a época em que estavam. Porém, como Brooke não era uma mulher, tão pouco um ser humano convencional, bufou alto e revirou os olhos, pisando duro ao passar por si e descer os degraus e varanda, indo em direção ao carro estacionado no gramado.
O Volturi apertou a mandíbula.

 

 

— Ela é imune ao seu charme, irmãozinho — cantarolou Jane, dando dois tapinhas em seu ombro e seguindo atrás da Evern.

 

 

Foi a vez de Alec bufar. Ao se virar, percebeu que Felix o fitava, de uma maneira estranha que ele não entendeu. Estava prestes a perguntar se havia algo errado quando sentiu o vibrar do celular no bolso da calça.
Suspirando impaciente, ele puxou o aparelho e leu o nome que brilhava na tela. Então atendeu:

 

 

— O que foi, híbrida? Não está se divertindo com os cães ou não está conseguindo colocar as coleiras?

 

 

Do outro lado da linha, o vampiro ouviu rosnados e grunhidos.
Renesmee, que fora proibida pelos pais de participar da missão (embora quisesse) e acolhida pelos lobos em La Push enquanto os Cullens estivessem fora durante aquela noite, estava o ligando há algum tempo. Não que tivesse atendido nenhuma das vinte e sete ligações. A vigésima oitava fora a gota d'água, e por fim Alec estava a atendendo.
Maldita hora que havia salvo o número dela em seus contatos.

 

 

— Você não precisa ser grosso — resmungou a ruiva. — Estou te ligando há muito tempo e você não atende nenhuma das minhas ligações! Achei que estava me ignorando de propósito!

 

— Eu estava.

 

— Mas atendeu! É isso que importa — O tom de voz dela adquiriu uma leve irritação. — Já fazem três horas que saí de casa e três horas que não recebo nenhuma informação — Então mudou para um tom calmo, baixo, fraco. — Estou preocupada, Alec. Não só com a minha família, não só com a minha amiga, mas com vocês também. Sei que você e seu clã não gostam da minha família, incluindo eu, mas não posso me impedir de sentir-me preocupada em relação à vocês também. Nesse momento estou sob a proteção dos lobos, e por mais que eu goste deles, estou aborrecida. Pareço uma criança que precisa de babá, mas juro que não sou uma. Me sinto inútil e impotente aqui, enquanto vocês estão partindo em missão. Então, a única coisa que posso fazer é me preocupar e ficar a par das notícias, mas nem isso está funcionado! E a culpa é sua por não atender as minhas chamadas!

 

 

O Volturi ficou em silêncio, aguardando a híbrida despejar tudo o que queria, todas as reclamações e desabafos. Em um dia normal ele teria desligado a ligação na primeira palavra ouvida. Contudo, como aquele não era um dia normal, ele escutou tudo atenta e pacientemente. E conseguiu sentir a revolta da ruiva pela chamada, assim como conseguiu compreende-la.
 E estranhamente, Alec não se importou com isso. De todos os desagradáveis dos Cullen, Renesmee era a que ele menos detestava. Não gostava de sua curiosidade, nem de sua presença de espírito gentil e calorosa, mas aquilo já era um começo. Mesmo que ela o importunasse às vezes — com aquelas ligações — e ele fechasse a cara para ela, a garota sempre estava disposta a ouvir, embora ele não fosse louco de perder seu tempo em um diálogo ou monólogo com a ruiva.
E mesmo com todos aqueles fatos, ela ainda era a que ele menos detestava.

 

 

— Sua família saiu na frente para se prepararem em suas posições — disse Alec, quando o silêncio entre as duas linhas se alongou. Pigarreando, continuou: — Você não deveria ficar preocupada, híbrida. Essa não é a primeira vez que vamos em uma missão, onde está sua fé nos Volturi?

 

Um suspiro aliviado soou seguido de uma risada.

 

— Você está certo. Eu é que estou sendo boba, só estou com medo de ficar órfã a essa altura do campeonato.

 

— Deveria confiar mais na capacidade da sua família. Eles não são tão ruins assim.

 

— Isso é um elogio, Alec Volturi?

 

— Não, é um fato — ele revirou os olhos, desejando que ela pudesse ver a ação. — Mas não se engane, os Volturi são mil vezes melhor.

 

— Foi o que eu pensei — ele a ouviu bufar. — Ainda assim, obrigada por atender e me dar notícias. E boa sorte, espero que encontrem o que procuram.

 

— Eu também. Agora tenho que i...

 

— Espere...! — gritou Renesmee, fazendo ele afastar o celular do ouvido. — ... Preciso pedir algo.

 

Alec grunhiu.

 

— O quê?

 

— Quero pedir que cuide de Brooke, a proteja. Sei que ela parece durona... ela é durona, mas não tem a mínima chance contra vampiros. Está me entendendo?

 

— Às vezes, híbrida — disse o vampiro, rangendo os dentes. —, acho que você me confunde com os protagonistas dos romances que está acostumada a ler.

 

A resposta veio na mesma hora.

 

— Nem de longe, sir Alec — zombou Renesmee, e sem o dar tempo de rebater, completou: — Agora vá realizar sua missão. E aja de acordo como se espera os protagonistas de meus livros. E lembre o que falei sobre Brooke! Tchau!

 

 

E encerrou a chamada. Na cara dele.
O semblante de Alec se tornou sombrio enquanto encarava o aparelho em sua mão, as últimas palavras da híbrida repercutindo em sua mente. Ora essa! Com quem ela achava que estava falando? O que a fazia pensar que ele cuidaria e protegeria sua amiga? Não era de sua natureza proteger ninguém, muito menos a Evern, que gostava de se meter em problemas.
 A Evern. A ligação de Renesmee o havia feito esquecer brevemente sua perturbação de antes com relação aos pensamentos pecaminosos e nada certos sobre ela e seus trajes. Agora que se lembrara, eles voltaram.
Diabos!
Esfregando a mão no rosto e guardando o celular no bolso, Alec se virou. E encontrou com o mesmo olhar de Felix.

 

 

— O que você está olhando? — Inquiriu, irritado.

 

— Nada — respondeu, dando de ombros enquanto se desencostava da mureta. — Apenas tenho a sensação que essa noite promete alguma coisa.

 

 

Alec queria discordar, porém ficou calado, pois sentia a mesma coisa desde cedo. O que ele não sabia, no entanto, era o tipo de promessa que a noite havia feito.
Especialmente para ele.

 

 

***

 

 

O grosso tecido do sobretudo estava sendo massacrado entre seus dedos já fazia algum tempo.
 O vento noturno e violento em nada tinha a ver com Brooke estar abraçando a si mesma, no intuito de parar com os tremores que percorriam seu corpo. Ela não percebia, mas estava mordendo o lábio inferior desde que estacionaram o Jaguar na esquina e chegaram no beco escuro e estreito, onde estavam naquele momento. Tão pouco estava ouvindo o que os vampiros diziam sobre o plano.
O plano.
 Ela fazia parte dele. Uma grande parte. Uma bem vergonhosa e escandalosa. As roupas que usava por baixo do sobretudo — ou a falta delas — também faziam parte do plano. Quando retornaram à mansão Cullen, horas antes, e Alec contara seu plano para todos, e decidiram a posição de cada um na missão, ela concordara com a sua. Relutante e com um engasgamento com o impacto da notícia, mas aceitara.
Só que agora que estava prestes a assumir sua posição e fazer o que tinha que fazer... Brooke queria correr para as montanhas! Ou o mais longe possível daquele beco que levava até a fachada da boate, e posteriormente até o interior dela.
No entanto, não poderia desistir naquela altura do campeonato. Porque além de ter a cabeça arrancada pelos Volturi, quebraria sua palavra, e assim...

Um peteleco na testa que mais pareceu uma marreta, a tirou dos devaneios, a fazendo perder o equilíbrio e cambalear em cima dos saltos altos de quinze centímetros. Ela bateu com as costas na parede do beco atrás de si e felizmente, não caiu. Mas gemeu pelas costelas atingidas pelos tijolos.

 

 

— Agora preste atenção. Da próxima vez, vou faze- lá sair voando — A voz irritadiça de Jane alcançou seus ouvidos, a fazendo estreitar os olhos.

 

 

Brooke bufou, recuperando o equilíbrio e se afastando da parede. A mão começou a massagear a testa.

 

 

— Eu estava prestando atenção! — Se defendeu, mesmo que fosse mentira, olhando para a loira que até duas horas atrás, estava sendo (espantosamente) amigável com ela quando estavam se arrumando. Agora, tinha voltado a ser a velha Jane. Não podia ganhar um peteleco e deixar por assim mesmo. — Você poderia tentar ser um pouco menos violenta, o que acha?

 

Jane mostrou as presas, acentuando sua imagem "selvagem" e "sexy" com a roupa que vestia.

 

— Acho que mal demos início a missão e você já está arruinando tudo!

 

A boca de Brooke se abriu, ofendida.

 

— Ora essa! Pois você pode pegar sua opinião e enfiar....

 

— Garotas, já chega! — A voz de trovão de Alec as interrompeu, fazendo as duas o olharem caladas. — Ou param agora com essa discussão ridícula, ou as duas serão proibidas de participar da missão! Mas creio que já estamos muito perto para um inconveniente desse acontecer.

 

 

Jane encarou o irmão como se não acreditasse no que tinha ouvido, mas quando percebeu que ele não estava brincando, rosnou e lentamente, anuiu, se afastando, os lábios se transformando em um bico grande, porém, extremamente bonito nela.
Brooke preferiu não fazer um também, não tinha a boca, muito menos o rosto tão bonitos quanto os da vampira. Ao invés disso, preferiu cruzar os braços e revirar os olhos, os fixando no vampiro louro-acastanhado.
 Alec já a encarava, no entanto. De uma forma que ela não soube interpretar, mas que a desconcertou e a fez apertar os braços cruzados ainda mais. Felizmente, ele desviou o olhar assim que os olhos se cruzaram, e pigarreou.

 

 

— Como eu ia dizendo, antes de ser interrompido pela falta de atenção de alguns — ele olhou de soslaio para a morena, a fazendo corar. — Daremos início a missão. O plano já foi explicado, as posições já foram ocupadas. Agora é com vocês — ele também olhou para Jane, a voz grave, séria. Os músculos do rosto tensos. Parecia ter entrado no modo general, como Brooke o imaginava quando pensava em Alec Volturi. — Sabem o que devem fazer?

 

— Oh, me faça o favor. É claro que eu sei! Com quem acha que está falando? — respondeu Jane, batendo o pé.

 

 

Os olhos de Alec se desviaram para Brooke, que não tinha certeza se sabia, mas ainda assim assentiu com a cabeça, confiante. Embora quisesse vomitar nos próprios pés pela tensão e pressão que estava sentindo, é claro.

 

 

— Excelente — ele arqueou a sobrancelha, desconfiado, mas afastou o olhar em seguida. — Felix virá comigo, iremos na frente. Os Cullen já estão posicionados lá dentro e na outra rua. E não se esqueçam: vocês são as distrações para que possamos realizar a missão, por isso, não falhem.

 

— Não se preocupe, irmãozinho — Jane riu brevemente. — A humana estúpida e eu seremos ótimos bibelôs.

 

 

Brooke abriu a boca para retrucar que não a chamasse de humana estúpida, mas foi cortada pela voz do Volturi:

 

 

— Disso eu duvido muito — disse Alec, a nota de sarcasmo bem evidente na voz. E isso, contribuído aos seus olhos que na escuridão noturna estavam negros, que se focaram na morena, a fez perceber que o comentário era dirigido a ela. Que ele estava zombando dela. Que não acredita que ela fosse capaz de fazer o que iria fazer. — Mas tenho fé em você, irmã.

 

 

Jane riu novamente, dessa vez alegremente, como uma criança quando ganha seu doce preferido.
 Brooke não teve a mesma reação. Ela só conseguiu ficar encarando o vampiro, o sorriso de canto que ele tinha no rosto estupidamente e inumanamente bonito, paralisada. Enraivecida, era a palavra.
Não tinha aceitado vestir as roupas que usava por baixo do sobretudo, aceitado entrar em uma boate noturna de vampiros e servir de distração com seu corpo para duvidarem de sua capacidade. Para ele duvidar de sua capacidade.
De repente, tudo se tornou um borrão vermelho e longínquo, a raiva crescendo gradativamente no peito de Brooke enquanto assistia Alec dizer alguma coisa que ela não se importou em entender, e virar as costas com Felix, que a olhou por cima do ombro e murmurou alguma coisa que pareceu como:

 

 

— Tente não se machucar ou morrer. Na próxima aula teremos trabalho valendo ponto.

 

 

Ela tentaria. Mas no momento, estava mais focada em tentar, não, mostrar para Alec que ela tinha capacidade para ser um ótimo bibelô. Ou melhor, que ela tinha capacidade para fazer muitas coisas.
E foi assim que Brooke perdeu o medo por aquela noite. Decidiu se dedicar ao máximo a tarefa que lhe deram. Daquele modo, ela respirou fundo e se virou para Jane, que observava o irmão e o amigo desaparecerem pela saída contrária do beco.

 

 

— Vamos? — perguntou, ajeitando o laço do sobretudo.

 

A vampira girou a cabeça para olha-la. Um olhar avaliador e crítico.

 

— Você não parece apavorada.

 

Brooke esticou os lábios.

 

— É porque não estou.

 

— Talvez você não seja tão estúpida assim, afinal — murmurou Jane, franzindo cenho. Então ergueu o queixo e abriu um sorriso cheio de dentes, os olhos cintilando em excitação: — Prepare-se para arrasar.

 

 

Brooke se preparou.
Logo, ela estava seguindo Jane pelo outro lado do beco escuro, seu salto batendo contra o chão esburacado de concreto. Ela buscou manter o equilíbrio, e logo viu a luz no fim do beco. Quando chegou ao outro lado, a fachada do clube as recebeu: as grandes e brilhantes letras em néon verde, junto com uma fila extensa de homens que falavam alto e uma montanha de músculos em forma de ser humano parado na entrada do clube, fiscalizando a entrada e saída. O cara deveria ter uns dois metros de altura, vestia terno escuro e a luz do letreiro acima dele refletia em sua careca brilhante. A expressão intimidadora parecia ter sido imortalizada em seu rosto anguloso e feio enquanto as dirigia um olhar mau.
Brooke encarou Jane, mas a vampira já estava tomando controle da situação.

 

 

— Somos as garotas substitutas para o show de hoje — disse Jane, simplesmente.

 

 

O segurança — ou o que quer que aquela montanha de músculos em forma de homem fosse — as observou por um longo minuto em silêncio, os olhos percorrendo pelo corpo da Volturi e logo depois pelo coberto de Brooke, que tentou não se encolher ou desviar o olhar.

 

 

— A entrada de vocês é por ali — Informou o segurança, apontando para uma porta ao lado da que ele guardava.

 

— Obrigada — murmurou Jane, suavemente, dando uma piscadinha.

 

 


A morena viu quando o segurança exibiu um sorriso encantado e malicioso, o que a fez erguer as sobrancelhas. Também ouviu os assobios e as sacanagens proferidas pelos homens na fila do outro lado da calçada, mas apenas preferiu ignora-los com uma careta de nojo no rosto e seguir Jane, que parecia nem se importar.

 

 

— Os homens são os piores monstros que você vai encontrar nesse mundo, é o que eu sempre digo — Foi a única coisa que ela disse, como se soubesse o que Brooke estava pensando.

 

— Hum, concordo — Brooke assentiu. Logo, as duas pararam diante da porta lateral indicada pelo segurança. A curiosidade aflorou, e ela se viu perguntando: — Então, somos realmente substitutas?

 

 

A Volturi parou com a mão na maçaneta e virou a cabeça para olhar para a morena.

 

 

— Somos. Nós tivemos que dar um jeito nas outras duas que estavam escaladas para o show de hoje, se não, não estaríamos aqui, tendo essa conversa.

 

— Ah.

 

 

Jane estreitou os olhos e sacudiu a cabeça. Seu semblante ficou grave, sério.

 

 

— Eu não tenho porquê estar fazendo isso, mas aqui vai algumas instruções para você seguir: iremos entrar em um covil de vampiros, só que com música e dançarinas, por isso, nada de perguntas e nada de dar na cara quem você é ou o que veio fazer. Não fale com ninguém, apenas faça o que eu fizer e aja como eu agir. Entendeu? — Brooke balançou a cabeça que sim. — Ótimo. Se arruinar a missão, ninguém vai me impedir de arrancar a sua cabeça. Fique avisada.

 

— Ok, sua ameaça foi recebida com sucesso. Agora abra a porta, Jane, e pare de me encher — Pediu Brooke, os olhos e o estômago revirando.

 

 

Com um rosnado, a vampira girou a maçaneta e empurrou a porta, a abrindo e entrando sem cerimônias. A Evern a seguiu, mergulhando em um mundo totalmente diferente do que existia do outro lado da porta que fechou atrás de si.
 A entrada ao qual passaram dava acesso direto a coxia atrás do palco, escondida por enormes cortinas de veludo vermelhas, com pouca iluminação e sem decoração, apenas o piso de madeira e um estreito corredor que Deus sabia para onde levaria. Brooke conseguia ouvir a música típica de lugares como aqueles vindo de trás das cortinas, onde o clube se concentrava.
 OK, você está aqui agora. Não dá para fugir, ela se encorajou, ouvindo a respiração acelerar.
Vai dar tudo certo. Vai dar tudo certo. Vai dar tudo certo...

A música parou, e um burburinho de vozes masculinas ecoou pelo lugar.

 

 

— Essa é a nossa deixa — Jane a cutucou, fazendo Brooke olha-la e engolir em seco. A vampira abriu um ínfimo sorriso que pareceu ser... reconfortante? — Não se preocupe, Evern. Ninguém vai reparar em você, eu estarei lá.

 

 

Brooke quis retrucar algo grosseiro, mas ficou calada porque sabia que era verdade. Ninguém prestaria atenção em si com a beleza perfeita da vampira ofuscando tudo e todos.
Ou pelo menos ela torcia para que assim fosse.
Portanto, ela tratou de se acalmar. Respirou fundo e assentiu para Jane, que rolou os olhos e afastou a cortina, desaparecendo por ela em seguida. Os gritos empolgados e contentes chegaram até Brooke, a fazendo engolir em seco.

 

 

— Aqui vou eu — Brooke sussurrou para si mesma, as mãos fechadas em punhos cerrados. E antes que perdesse a coragem, afastou a cortina vermelha e adentrou o palco.

 

 

Ela foi recebida por gritos e por uma forte luz vermelha direcionada diretamente para o palco. Depois que seus olhos se acostumaram com a luminosidade, ela os correu rapidamente pelo lugar: o clube era espaçoso, um salão circular com mesas, cadeiras e sofás espalhados, quase todos ocupados por homens de todas as idades bebendo, jogando cartas, rindo e conversando ou somente olhando para ela e para Jane a espera do início do show. Haviam mulheres e garotas, algumas aparentavam ter sua idade — e outras, com certeza mais novas — desfilando entre eles, ou dançando nos outros palcos menores distribuídos pelo clube, com roupas como as que Brooke usava por baixo do sobretudo ou com a ausência delas.
As luzes de led vermelhas e azuis contrastavam com tudo na boate, fazendo com que tudo e todos ficassem daquelas cores. Também havia um bar no canto do salão, um barman sem camisa atrás do balcão.
 Brooke percebeu que o Night Club S.D.S. era exatamente o que ela esperava e o que os Cullen e Volturi suspeitavam: um prostíbulo que vampiros e humanos frequentavam.
No entanto, Carlisle alertara que o lugar poderia ser algo mais do que as aparências mostravam, e aquele era o motivo da Evern estar em cima daquele palco prestes a fazer um strip tease.

O plano estava sendo colocado em prática.

Uma música lenta e sensual começou a tocar. Jane se posicionou em frente a um dos pole dance que estavam no palco e deu início a sua apresentação. A vampira mexeu os quadris, passando uma das pernas pela barra de ferro e os homens lá embaixo foram à loucura.
Brooke ficou parada. Sabia que tinha que se livrar do sobretudo e se juntar a Volturi, mas não conseguiu se mexer. Ao invés disso, seus olhos se desviaram para a multidão de caras com altos níveis de testosterona que assistiam hipnotizados a dança de Jane e procurou por entre os rostos, os que conhecia. Não demorou muito e encontrou Jasper e Edward sentados na mesa mais distante do palco, os olhos baixos analisando a movimentação do clube. Também encontrou com Demetri, do outro lado, conversando com uma das dançarinas em um dos sofás, bebendo e rindo. E por último, seus olhos se fixaram em Felix e Alec, sentados nas mesas redondas do meio, olhando para o palco e para ela.
Mesmo na distância que estavam, Brooke viu Alec inclinar a cabeça para o lado, os braços cruzados em cima do peito, os lábios curvados em um meio sorriso duvidoso. Aquilo foi suficiente para fazer a morena perder o bom senso e querer apagar o sorrisinho dos lábios do vampiro.

 

 

— Ei, você aí, gracinha! — ela ouviu o grito por cima da música. Ao virar a cabeça, se deparou com um cara ruivo na primeira fileira das mesas, com olhos vermelhos, olhando em sua direção. Vampiro. — Não acha que está vestida demais? Nos mostre o que tem!

 

 

Brooke abriu um sorriso, embora quisesse vomitar enojada em cima do ruivo. Ela lançou um último olhar para Alec, um desafiador, e virou de costas, levando as mãos até o laço do sobretudo.
 Eu não acredito que estou fazendo isso!, ela pensou antes de desfazer o nó da peça de roupa e lentamente, deixa-la cair aos seus pés, revelando a pequena camisola branca diáfana de renda que vestia, junto com as meias 7/8 de seda e as ligas em suas coxas.
Houveram gritos e assobios.
Brooke tomou aquilo como um bom sinal, o que a deixou um pouco mais confiante, e a fez seguir em frente com o show.
 Ela levou a mão à cabeça, e o mais vagarosamente que pôde, puxou os grampos e as presilhas de pérolas do cabelo, o deixando cair como uma cascata de grandes cachos escuros em suas costas. Se possível, a gritaria aumentou, sendo seguida de palmas.
Respirando fundo, a morena se virou, sem ter coragem de olhar para Jane ao seu lado, e se deparou com uma plateia totalmente concentrada nela.

Seu rosto esquentou, mas inesperadamente, ela gostou daquilo. Da sensação de ser olhada com admiração, de ser o centro da atenção do sexo oposto, de receber palmas — ainda que não fosse certo. Nunca recebera aquele tipo de olhar. O jeito que seus ex-namorados
a olhavam nem se comparavam com aquilo e ela nunca fora de usar roupas como a que estava usando naquele momento.
Mas agora ali estava ela: em cima do palco de um clube noturno de strip tease. Sendo olhada com admiração, empolgação, desejo por inúmeros caras.

Ah, ela realmente estava gostando daquele plano.

E talvez tenha sido isso que a fez abrir um sorriso que ela julgou ser sedutor e chutar o sobretudo para longe, caminhar até o outro pole dance no outro extremo do palco e parar diante dele, fechando a mão em torno da barra de ferro. Brooke nunca tinha dançando em um pole dance, mas já assistira filmes que exibiam alguns e suas coreografias, então experimentou girar delicadamente em torno dele.
Pareceu funcionar, julgando pelos assobios e berros dos homens.
 Foi a partir daí que ela se entregou a missão, literalmente. Perdendo todas as inibições, jogando fora os últimos anos e meses que andara na linha e trazendo de volta seu outro lado, a outra Brooke Evern, aquela que gostava de caos e loucuras. A morena fechou os olhos e entrou no ritmo lento da música, enroscando uma perna na barra de ferro e mexendo os quadris junto com a batida da música que ecoava em seus ouvidos e em sua cabeça, varrendo quaisquer pensamentos reprovadores sobre seu comportamento.

 

 

Na plateia de homens hipnotizados pela apresentação, Alec estava de olhos arregalados. De boca aberta. De queixo caído. E se pudesse, de pulsação acelerada. Ele só não acreditava no que estava vendo. Aquela em cima do palco era mesmo a Evern que ele conhecia? Sua cantante? Porque definitivamente, não parecia ser ela.
 A garota em cima do palco era sexy, confiante em cada movimento sensual que realizava e quente. Quente como o inferno! A minúscula camisola transparente que vestia não deixava nada para a imaginação, cada curva de seu corpo e cada centímetro de sua pele expostos, como um convite que não se pode e nem se deve recusar.
Estava explicado a insistência com o sobretudo.
 Alec continuou observando, estarrecido, Brooke dançando. O momento em que ela virou na direção da plateia e rebolou até o chão, se apoiando no pole dance, o tecido da camisola levantando, a cabeça pendendo para trás, os olhos fechados, a boca entre aberta, as luzes azuis e vermelhas contratando em sua pele branca.

O Volturi engasgou, sentindo aquela parte específica de seu corpo acordar. Ele rangeu os dentes. Não acreditava que estava excitado pela Evern. Diabos!
E o pior de tudo: não era só ele. Uma olhada rápida ao redor e ele percebeu que seu estado refletia em tantos outros homens que assistiam ao show. Vampiros e humanos. Principalmente um vampiro ruivo, que ele não sabia dizer se era como ele ou um dos recém-criados, porque o desgraçado estava virado para a frente, quatro fileiras de mesas os separando, todo assobios e palmas.
Alec grunhiu, descruzando os braços sob o peito e os mantendo abaixados no colo, as mãos fechadas em punhos cerrados. De repente, queria socar qualquer um que tivesse os olhos postos naquele palco — uma reação que ele julgou ser invocada pelo instinto protetor fraternal pelo fato de Jane também estar dançando seminua. Mesmo sabendo que a verdade era outra.
Felix o cutucou com o cotovelo.

 

 

— O quê? — perguntou Alec, irritado, perturbado e, acima de tudo, sôfrego pelas pontadas de dor em sua virilha, sem desgrudar os olhos da vista que tinha.

 

— A Brooke está indo bem — disse Felix, baixo demais para que apenas o outro Volturi escutasse, que diferente de todos os homens naquele clube, não tinha um olhar de segundas intenções ou um tom malicioso. Apenas parecia estar apontando um fato.

 

Alec meio que grunhiu, meio que bufou.

 

— Eu diria que ela está indo mais do que bem.

 

— Sim. E isso é bom. Mas você parece pensar o contrário, amigo — E então o tom dele ficou divertido. — Por que será?

 

— Cale-se, Felix.

 

 

Felix riu, mas Alec o ignorou, se concentrando totalmente na coreografia de Brooke, que estava o enlouquecendo da maneira mais perversa que poderia existir.
Ele observou enquanto ela descia até o chão e subia vagarosamente, as mãos percorrendo todo o trajeto de suas curvas, de suas coxas, do máximo de pele exposta possível. Isso o fez oscilar. E quando ela abriu os olhos, e os olhares dos dois se cruzaram, ele viu a provocação e a vitória neles, coisa que o teria o levado ao limite da fúria se ele já não estivesse.

 

 

Brooke sorriu, realizando o último passo de sua coreografia recentemente inventada. A música chegou ao fim e o clube explodiu em uma salva de palmas fervorosa, junto com assobios e gritos indecentes. Ela ficou parada e respirou fundo, sem acreditar que havia conseguido.
A luz do holofote direcionado ao palco se apagou, mas as de led espalhadas pelo lugar a fizeram continuar enxergando. Ela virou a cabeça para o lado, olhando para Jane, que tinha um falso sorriso no rosto. A Volturi assentiu quase imperceptivelmente, dando o sinal que a morena precisava.
Sua parte no plano estava cumprida.
 Finalmente acabou, foi o pensamento que ocorreu à Brooke enquanto ela imitava Jane em uma reverência idiota. Entretanto, percebeu que estava errada quando estava prestes a sair do palco e seus olhos vagaram uma última vez pelo clube e se detiveram na figura do vampiro ruivo de antes, que agora estava próximo ao bar, falando algo para um homem — ela não sabia se era humano ou vampiro — de quase dois metros de altura, vestido de terno e gravata, com uma fisionomia assustadora e que parecia ser o gerente do lugar ou algo assim. Brooke observou atentamente quando o vampiro ruivo apontou para o palco, para ela e abrir um sorriso após receber um aceno de cabeça positivo do cara de terno, se afastando do bar e caminhando entre a multidão de homens, na direção do palco.

Ela entrou em pânico enquanto o via se aproximar. Lançou um olhar para Jane, mas a vampira já não estava ao seu lado, e sim seguindo um homem careca para qualquer outro canto. Então voltou a virar a cabeça, observando o ruivo se aproximando como um predador, os dentes afiados expostos em um sorriso malicioso, os olhos vermelhos percorrendo seu corpo, a provocando calafrios e ânsia de vômito.
Brooke sentiu vontade de chorar de desespero. Não era para aquilo estar acontecendo. Não devia ter dançado daquele jeito e atraído a atenção do vampiro ruivo. Não devia nem ter aceitado o convite para aquela missão, primeiramente. Agora ela só queria correr para bem longe, mas sabia que se fizesse o que desejava arruinaria a missão, e poria em risco os Cullen e Volruri que estavam ali.
 Por aqueles motivos ela permaneceu no palco, tremendo dos pés à cabeça enquanto o via se aproximar mais e mais. Brooke esperou, e quando o vampiro ultrapassou as primeiras mesas, uma sombra o deteve, e o rosto de Alec surgiu no campo de visão dela, a fazendo suspirar de alívio, automaticamente.
 Alec a encarou, sério, e estendeu uma das mãos para ela, que a aceitou sem hesitar. Se fosse pesar as opções e escolher entre o Volturi que odiava ou o vampiro desconhecido com sorriso tarado, ela escolheria mil vezes o Volturi. Assim, Brooke deixou que Alec a conduzisse pelos degraus laterais do palco, descendo para o chão, a puxando para o seu lado.
 A morena se sobressaltou ao sentir a mão grande de Alec tocar o fundo de suas costas, e ergueu os olhos para encara-lo, mas ele não retribuiu o gesto, por isso ela não disse nada e apenas deixou a mão dele lá, sentindo a frieza da pele ultrapassando o fino tecido da camisola.
 Alec se moveu, a obrigando a imita-lo, mas o movimento acabou revelando o rosto irritado do vampiro ruivo por trás do Volturi.

 

 

— Com licença, mas acho que está com algo que não é seu, camarada — rosnou o ruivo, apontando para Brooke, que se encolheu.

 

Alec o dedicou seu habitual olhar inexpressivo.

 

— Desculpe-me, mas não vejo nenhum objeto aqui para ser tratado como algo ou que seja seu, camarada — respondeu, calmamente.

 

Os olhos vermelhos do vampiro faiscaram enquanto se estreitavam.

 

— Eu a escolhi!

 

— Bem, eu também a escolhi, mas não acho que essa seja a questão. — Alec finalmente a encarou, abrindo um mínimo sorriso que pareceu extremamente sexy sob as luzes azuis e vermelhas do clube. — Deixemos ela escolher com quem quer sair daqui. E então, querida, quem vai ser?

 

 

Brooke quase engasgou com a risada que lhe subiu pela garganta ao ouvir a palavra "querida" sair dos lábios de Alec Volturi direcionada à ela. Mas se recompôs e alternou o olhar entre ele e o vampiro ruivo impaciente e irritado. Ela comprimiu os lábios, não acreditando na situação, e voltou a realidade quando sentiu a mão em suas costas fazendo pressão, um lembrete que devia uma resposta.

 

 

— Ahh... eu... eu vou ficar com você — ela respondeu, tentando parecer tão natural quanto deveria parecer. O ruivo bufou, e Brooke lembrou que deveria agir como uma garota... que fazia aquele tipo de coisa. Então, completou: — Mas quem sabe da próxima?!

 

E piscou um olho. Ela realmente piscou um olho, gesto que achou que deveria ser sedutor. Bem, não tão sedutor quando ela o fazia, mas tentar não custava nada.

 

 

— Está certo! — rosnou o vampiro ruivo, apertando a mandíbula. Os olhos se focaram em Alec. — Mas eu já paguei por ela, e eles não fazem reembolso!

 

 

Oh, vá para o inferno!, Brooke pensou, com vontade de gritar as palavras na cara daquele babaca.
 Como se soubesse que ela o faria, o Volturi pressionou novamente a mão contra as costas dela, a fazendo olha-lo e vê-lo revirando os olhos para o ruivo, antes de enfiar a mão no bolso da calça e puxar de lá um montante de dinheiro com notas de cinquenta e cem e jogar para o vampiro.

 

 

— Aí está o seu reembolso — disse Alec, a voz baixa e grave soando em uma ameaça. — Agora suma de nossas vistas e vá escolher outra pessoa, alguém que você possa tratar como um objeto sem valor, porque esta garota não está disponível.

 

 

Com um olhar fuzilante, o vampiro ruiva faz exatamente aquilo.
 Os olhos de Brooke se fixam em Alec, a boca ligeiramente aberta, as sobrancelhas franzidas. Ela não sabia se ficava surpresa pelo que o Volturi acabara de dizer sobre ela ou se ficava furiosa, por ele ter acabado de pagar por ela, como se ela fosse uma... uma das mulheres daquele lugar.
Ela ainda estava se decidindo quando os olhos de Alec se fixaram nos seus e ele a ofereceu um arquear de sobrancelhas ao ver a expressão em seu rosto.

 

 

— Vamos — disse ele, indicando o caminho a frente.

 

 

Brooke quis perguntar para onde iriam, mas a oferta de sair daquele lugar caótico, onde a lançavam olhares que a deixavam enojada, era boa demais para recusar, por isso o seguiu.
 Alec a guiou pela passagem entre o palco e as mesas, e eles foram na mesma direção por onde a morena entrou, só que no outro extremo do clube. Ela pensou que eles iriam para a coxia ao ver as mesmas cortinas de veludo, mas percebeu estar enganada ao passarem por elas e dar de cara com um estreito corredor com luzes — que surpresa! — vermelhas de led, que piscavam sem parar, como em um filme de suspense e terror, com uma bifurcação no final.
 Quando começaram a avançar pelo corredor, e os ruídos de seus saltos batendo contra o assoalho eram tudo que ouvia junto com a música sendo deixada para trás, Brooke virou a cabeça para encarar Alec ao seu lado, surpresa por perceber que ele ainda mantinha a mão no fundo de suas costas.

 

 

— O que nós...

 

— Agora, não — Alec a cortou, sem tirar os olhos do caminho.

 

 

A morena o olhou feio, e se preparou para replicar, mas se deteve quando eles viraram à esquerda na bifurcação e deram de cara com um homem careca, com estatura mediana, mas com muitos músculos em compensação, vestindo terno e com o rosto deformado como os dos recém-criados que Brooke já teve contato, os olhos vermelhos-sangue reluzindo como dois rubis naquele corredor sem iluminação apropriada.
Ela se lembrou do vampiro que assassinara Amália, e ódio profundo a percorreu.
A Evern olhou para o vampiro com o estômago revirando, os punhos cerrados.

 

 

— Um quarto, por favor — disse Alec, calma e naturalmente.

 

 

Brooke teria escutado o que ele disse se não estivesse tão concentrada em desviar os olhos do vampiro com rosto deformado que a encarava fixamente e intensamente. Ela acabou devolvendo o olhar, que se arrastou por longos segundos até que o vampiro desviou os olhos e entregou uma chave com o número 39 para Alec.
 Brooke pestanejou, sentindo um estranho peso na nuca, se espalhando por sua cabeça enquanto o vampiro dava um passo para o lado e o Volturi a empurrava gentilmente pelo caminho em frente. A morena moveu os pés, indo pelo caminho indicado, e quando passou pelo vampiro, a sensação em sua cabeça aumentou. Ela apertou os olhos e seguiu adiante, entrando em um novo corredor, Alec em seus calcanhares, deixando o vampiro de rosto deformado para trás.

O novo corredor era menos iluminado, com uma única lâmpada no teto, irradiando iluminação o suficiente para as inúmeras portas nas paredes serem notadas. Haviam números em cada uma delas; a primeira era o número 30.

 

 

— Para onde estamos indo? — perguntou Brooke, lançando um olhar para Alec, que voltou a arquear as sobrancelhas. Ela não entendeu, mas conforme iam avançando pelo corredor e passando pelas portas, os gemidos e gritos que ouviu, a fizeram entender. — Oh! — Foi tudo que conseguiu exprimir, o rosto corando enquanto virava a cabeça para frente e fugia do olhar divertido do Volturi.

 

 

— Oh!, é uma ótima resposta para a sua pergunta, Evern — disse Alec, e inesperadamente soltou uma risada humorada enquanto caminhavam pelo corredor.

 

 

Mesmo com o rosto queimando de constrangimento, Brooke lançou um olhar para ele, um olhar que ela esperou que demonstrasse toda a sua imensa irritação:

 

 

— Ora, do que você está rindo? — grunhiu. — E, o mais importante, o que pensa que está fazendo me trazendo até aqui? Se pensa que eu vou fazer alguma coisa, você está muito enganado!

 

 

Os cantos da boca de Alec subiram, e por mais que ele tentasse , não conseguiu disfarçar a diversão em seu rosto.

 

 

— E quem disse que estou pensando alguma coisa, Evern? — retrucou ele. — Você não é tudo isso, e ainda que fosse, eu só estou tentando ajuda-la. Porque, deixe-me informa-la, seria aquele ruivo desgraçado a estar com você aqui agora, se não fosse por minha intromissão. — Os olhos dele se estreitaram. — Mas talvez você pense nisso da próxima vez que se exibir dançando daquele jeito.

 

 

Os olhos de Brooke quase saltaram para fora. Ela soltou uma risada sarcástica, passando pela porta número 35.

 

 

— Primeiro, eu danço do jeito que eu quiser. E segundo, você deveria ter pensado nisso antes de duvidar de mim — replicou ela, o fazendo bufar. — Além do mais, eu teria ficado bem sem sua intromissão. Eu sei me cuidar, e você sabe disso, então por que diabos você se meteu? Por que não deixou que eu fosse com o ruivo já que essa é minha parte na missão e você ainda não cumpriu a sua? — A resposta não veio. — Vamos, me responda, eu quero saber! Me diga o por que, Alec, apenas me diga, se não eu nunca o deixarei em paz!

 

— Porque eu não poderia deixar você lá com ele, porque não poderia ficar sentado naquela mesa esperando algo suspeito acontecer enquanto você estivesse em um desses quartos com aquele cara, que faria coisas que não consigo nem pensar sem querer arrancar a cabeça dele, com você. Porque vê-la nessa roupa deixa qualquer homem louco, principalmente eu. Se queria tanto uma reposta, agora você tem várias! — Explodiu Alec, a olhando com um misto de raiva e hesitação, a mandíbula apertada. Então ele parou de andar, a fazendo parar também, e se virou para a penúltima porta do corredor com o número 39 pintado. — Inferno! Apenas esqueça o que eu disse.

 

 

Brooke ficou paralisada. Atônita. Sua pulsação acelerou, assim como seu coração, que errou as batidas.
As palavras dele repercutiram em seus ouvidos, como um eco, e ela mal percebeu quando o Volturi girou a chave na porta e entrou como um furacão no quarto, a deixando plantada no corredor.
 Ela tentou se convencer de que ele não quis dizer aquelas coisas, que ele estava brincando com ela, porque era a única explicação plausível. Porque Alec não se importava com ela. Porque ele a odiava. Porque tinha que ser aquilo.
 Mas Brooke não acreditou em nada daquilo, para ela soavam como desculpas. E ela estava cheia de desculpas, já tinha dezessete anos lotados delas.
E talvez tenha sido isso — o fato de querer uma explicação, a busca por uma justificativa sensata, e não outra coisa além disso — que a fez pestanejar e ir atrás do Volturi, o que significou entrar no quarto 39 e fechar a porta atrás de si.
 A única luz no quarto vinha de um abajur em cima de uma mesinha ao lado de uma cama enorme, por isso Brooke teve que apertar os olhos, procurando o Volturi pelo cômodo.
 O encontrou de frente para a cama, de costas para ela, a silhueta dele formando sombras na parede ao lado por conta da pouca iluminação. Ela prendeu o lábio inferior entre os dentes, de repente sentindo-se nervosa ao encarar os ombros largos de Alec. Mal se deu conta que estava abrindo a boca, as palavras lhe saltando, sem a dar tempo de segura-las:

 

 

— O que você quis dizer quando diss...

 

 

Brooke foi interrompida por Alec, que girou abruptamente e chegou até ela em dois passos, invadindo seu espaço pessoal, ficando a um nariz de distância, a fazendo perder a voz e embaralhando seus sentidos com os olhos carmesins a fitando fixa e intensamente.
 A morena arregalou os olhos quando ele passou um braço em volta de sua cintura e a puxou contra ele, a fazendo ir de encontro ao peito sólido, a desorientando com a ação e com o cheiro que invadiu suas narinas. Alec tinha cheiro de menta, perfume caro e algo mais que ela não soube identificar, mas que tinha certeza que era característico dele. E ela quase fechou os olhos para apreciar o odor.
No entanto, os deixou aberto para arregala-los mais quando o Volturi se inclinou para frente e levou os lábios até seu ouvido, os raspando na pele sensível de sua orelha quando falou:

 

 

— Estamos sendo monitorados — disse ele, mas a proximidades dos dois era tão grande que Brooke não conseguiu compreender. — Nos fundos do cômodo, no lado esquerdo, na parede. Atrás do abajur. Em cima da porta. Há câmeras — explicou Alec. A morena virou a cabeça para olhar. — Não olhe!

 

 

Brooke recuou com o olhar, voltando a encarar o nada em frente. Conseguia sentir o hálito frio de Alec tocando sua orelha, as mãos gélidas dele presas ao seu redor, o peitoral duro pressionando seus seios cobertos pela camisola, seu próprio coração acelerando o ritmo das batidas, suas pernas começando a ficarem bambas, seu corpo inteiro ficando quente.

 

 

— Sabiam que estaríamos aqui esta noite — Continuou Alec, ignorante as reações da morena, que agradeceu por isso. Ele falou algo em italiano, algo que soou como um palavrão ou maldição.

 

— E o-oque faremos agora? — gaguejou Brooke, a voz não passando de um fiapo trêmulo.

 

 

O Volturi ficou em silêncio, imóvel. Parecia estar pensando. Ela também não se mexeu, o que levou os dois a permanecerem naquela mesma posição.
Brooke tinha certeza que Alec podia ouvir seu coração acelerado e sentir a temperatura dela aumentando, mas tentou ignorar isso. E assim, esperou que ele tomasse uma decisão. Por fim, quando isso pareceu acontecer, ele virou a cabeça, abandonando seu ouvido. Se afastou o suficiente para olhar para ela, um olhar carregado de seriedade, as pupilas se dilatando, as orbes ficando negras. Brooke o encarou nervosa, contemplando os traços do rosto do Volturi, o achando a criatura mais bonita que um dia pusera os olhos, repentinamente desejando erguer a mão e contornar cada traço. Mas antes de fazer isso, a voz dele ecoou, grave e baixa, quase torturada.

 

 

— Fazemos as atuações das nossas vidas — respondeu Alec, descendo os olhos para a boca de Brooke. — Não crie expectativas.

 

 

Ela quis perguntar o que aquilo queria dizer, mas foi impossibilitada por ele, que sem aviso prévio, abaixou a cabeça o suficiente e capturou seus lábios em um beijo inesperado.
 Surpreendida, Brooke abriu a boca, mas isso só o deu passagem para entrelaçar a língua com a sua, o que a deixou chocada.
Estava beijando Alec Volturi. Ou melhor, Alec Volturi estava a beijando.
 Aquilo não era certo, ela sabia. Deveria empurra-lo, estapear seu peito, gritar com ele. Ela tentou fazer tudo aquilo — como tentou! — mas no momento em que Alec moveu a boca macia contra a dela, e Brooke sentiu seu gosto de hortelã, ela perdeu todas as resistências. Ela perdeu a luta, uma luta que nem começara a lutar porque sabia o que queria.
Ela queria Alec. Queria beija-lo ali, naquele momento em que tinham a oportunidade, em que tinham uma desculpa para fazer aquilo. Ela queria agarra-lo porque sentia atração pelo Volturi, sempre tivera, e finalmente estava admitindo para si mesma. Era errado, era contraditório, ia contra tudo o que sentia e acreditava, mas eles estavam ali, naquele quarto de um clube noturno, tendo uma noite difícil, ambos com as guardas abaixadas, e amanhã ou depois, ela culparia as câmeras espalhadas no quarto, o plano, a missão.
Ela arrumaria desculpas depois. No momento, tudo que queria, tudo que seu corpo implorava, era retribuir o beijo do Volturi.
E assim ela o fez.
 Brooke fechou os olhos, se livrando da consciência que a repreendia e retribuiu Alec, movendo a boca com a mesma intensidade que ele movia a dele, enquanto ele levava a mão até sua nuca, a segurando ao aprofundar o beijo.

Não foi um beijo gentil. Foi agressivo e devastador, que a fez ficar sem ar cedo demais. Ela ofegou, e ficou agradecida quando o Volturi afastou a boca da sua e a direcionou até o seu pescoço, começando a explorar a região com maestria.
 Brooke deixou escapar um suspiro enquanto recuperava o fôlego e movida pelo fogo que percorria cada pedaço de seu corpo, levantou as pernas, as envolvendo em volta do quadril de Alec, que aproveitou para segura-la pelas coxas firmes, o que a fez rodear as mãos em seu pescoço e fez a camisola diáfana subir e os dentes dele baterem.
Ele a empurrou em direção à parede do quarto, e ainda a segurando daquele jeito, se dedicou completamente a distribuir beijos pelo pescoço esguio, descendo para a clavícula exposta, deixando a pele branca avermelhada, o cheiro de lavanda, amêndoas e sangue doce o provocando.

Ela reagiu como ele esperava, afundando as mãos em seus cabelos.
Alec a puxou para mais perto, porque queria senti-la. Queria beijar todas as partes da Evern, percorrer com sua boca o caminho de sua pele, sentir o toque quente que ela irradiava, faze-la perder o controle. Ele já tinha perdido.
 Deveria ter perdido o juízo, era a única explicação que tinha para estar se envolvendo daquela maneira com aquela garota. Porque ele, Alec Volturi, não se envolvia com humanos além do necessário para uma missão. Porque Alec tinha repulsa pela raça humana. Porque ele odiava Brooke Evern. Porque queria mata-la sempre que a via, desejando poder cravar os dentes em seu pescoço e sugar até a última gota de sangue que cantava para ele.
Mas ali estava a oportunidade, e ao invés de aproveita-la do modo certo, estava aproveitando do modo errado. Ao invés de morde-la, estava beijando-a. E estava tudo bem para ele, porque de repente, queria provar a Evern de todas as maneiras possíveis. E sentir o sabor de sua pele era um delas. De qualquer maneira, estava ignorando sua consciência que o advertia que estava agindo errado; aquilo que estavam fazendo parecia mais do que certo. Ele tão pouco procurou explicações — se assegurou desde o momento em que decidira beijar Brooke que a atração que sentia por ela, a vontade de toma-la nos braços e o latejar insuportável em sua virilha se devia ao fato dela ser sua La Tua Cantante. Era o sangue dela o deixando louco ao ponto de cometer uma loucura como aquela.

Embora seu interior dissesse que estava errado.

 

 

— O que... Estamos fazendo? — perguntou Brooke, a voz falha entre um suspiro e outro.

 

 

Alec descolou os lábios da pele dela, erguendo os olhos, e a encontrou com a cabeça jogada para trás contra a parede, os lábios entreabertos, o batom borrado. Brooke estava ofegante, o peito subindo e descendo, e quando suas íris cruzaram com as do vampiro, ele viu a intensidade do desejo dela, refletindo nas dele.

 

 

— Eu não sei — respondeu ele, rouco, sincero. Ela acabou rindo brevemente, o que fez surgir um ínfimo sorriso nos lábios dele, que deu um tempo para a morena recuperar o oxigênio. Mas sem querer parar de tocar a pele macia, o Volturi soltou uma mão das coxas dela e percorreu com o indicador o contorno da clavícula, descendo para o topo dos seios, a fazendo se arquear, o que fez uma alça da camisola deslizar pelo ombro, o deixando nu. Um rosnado baixinho deixou Alec, percorrendo o cômodo inteiro. — Mas sei que essa camisola é indiscutivelmente demoníaca.

 

 

Brooke deixou escapar mais uma risada, afastando a cabeça da parede para olha-lo direito. E o que ela viu no rosto do vampiro louro-acastanhado a aqueceu por dentro, mais do que já estava aquecida, acendendo uma fogueira em seu interior.
Havia uma ferocidade no semblante dele, uma fúria, uma fagulha de calor que a deixou hipnotizada, que a fez se sentir mais desejada do que quando estava dançando em cima do palco outrora com os homens do clube a observando. O olhar de Alec era mais intenso, devastador, quase fatal. O olhar dele tinha um efeito nela que ela não sabia explicar, mas que apreciava muito. E o toque... ele sabia como toca-la. Onde colocar as mãos. Como arrancar os seus suspiros.
 Ninguém nunca conseguira aquela reação de Brooke antes. Já estivera com seu ex-namorado antes, é claro, mas Luke nunca a fizera sentir do jeito que Alec estava fazendo, e ela se pegou pensando se aquela era uma das consequências de estar se envolvendo com um vampiro.

Bem, não importava. Era ótimo, de qualquer forma.

Alec notou o quão pensativa ela estava, e sem pensar, levou a boca para perto da dela, mas Brooke desviou, o deixando confuso. Ele estava prestes a larga-la e se afastar indignado quando a observou espalmar as mãos em seu peitoral e empurra-lo para trás, na direção da cama. O Volturi ficou surpreso, mas deixou que ela continuasse o empurrando até lá, a segurando firmemente pelas coxas, sentindo a textura delas sem o tecido da camisola para atrapalhar.
 Por fim ele sentiu o colchão atrás de si, e Brooke o empurrou, o fazendo sentar na ponta para logo depois subir em seu colo, as pernas o cercando em cada lado.
Alec levantou uma única sobrancelha, olhando para ela. O quarto era escuro, mas com sua visão periférica, conseguiu visualizar cada detalhe do rosto pequeno e redondo dela, descendo para o tronco e o resto do corpo, inclusive o fino corte em seu pescoço, resultado de mais cedo, quando a Evern fora muito corajosa e ele não fizera nada para ajuda-la.
Maldição! Toda vez que pensava nisso, se sentia um canalha horrível, por mais que na quisesse nem precisasse de sentir assim.

 

 

— Achei que você não fosse fazer nada. Você mesma disse mais cedo, se não estou enganado — murmurou ele, tentando se distrair dos pensamentos, exibindo um sorriso torto.

 

Ele viu a morena rolar os olhos, gesto já esperado.

 

— Eu não ia... — Se defendeu Brooke. Então se mexeu em cima dele, o pegando desprevenido. E se inclinou para frente, para mais perto. — ... E você disse que eu não era tudo isso, se não estou enganada também.

 

 

Alec grunhiu, enfiando uma mão entre os caracóis que eram os cabelos dela. A outra, ele levou até a cicatriz no pescoço esguio.
Seu corpo latejava, o volume em sua calça, evidente.

 

 

— Você não deveria brincar com fogo, Evern — Avisou ele, raspando as pontas dos dedos na cicatriz enquanto virava a cabeça, levando a boca até o ouvido dela: — Pode acabar se queimando.

 

— Não tenho medo do fogo, nem de um incêndio — respondeu Brooke, se arrepiando com o hálito dele em sua pele. — Você tem, Volturi?

 

 

A resposta de Alec foi capturar o lóbulo da orelha dela entre os dentes, beijando a parte sensível em seguida.
Brooke sugou o ar com força, fechando os olhos, o segurando pelos ombros, adorando o que ele estava fazendo.

 

 

— Alec... — Ela gemeu quando as mãos de Alec começaram a percorrer seu corpo. Um som indistinto que a deixou mortificada e a fez ter certeza do sorriso que o vampiro abriu contra sua pele arrepiada.

 

 

Não houve tempo para se envergonhar, o barulho da porta sendo aberta em um rompante, a fez abrir os olhos e saltar para longe do colo de Alec, quando a consciência da posição que estavam a acertou, resultando em uma queda no chão duro e frio por conta dos saltos. Um grunhido a escapou ao mesmo tempo que levantava a cabeça e graças distinguia a silhueta feminina na porta, as mãos girando no ar freneticamente.

 

 

— Desculpe atrapalhar o momento íntimo dos dois, mas o banquete começou lá fora — A inconfundível voz zangada de Jane soou pelo quarto, junto com um grunhido. — Temos que sair daqui. Agora.

 

 

E sem dizer mais nada, virou as costas, desaparecendo do batente mal iluminado da porta.
 Brooke piscou os olhos, se sentindo envergonhada e confusa. O que estava acontecendo? Porque, com certeza, tinha alguma coisa acontecendo lá fora. Alguma coisa muito ruim, certamente.
A morena piscou mais uma vez, percebendo que ainda estava no chão, e tentou se levantar, mas as porcarias dos saltos que usava a impediram. Quando ia fazer mais uma tentativa, a mão de Alec apareceu em sua frente. Ela a aceitou prontamente, o rosto corando com a lembrança dos últimos minutos, e ele a puxou para cima, esperou que recuperasse o equilíbrio e então a soltou, se afastando.
Brooke virou o rosto para o outro lado, agradecendo a escuridão do quarto. Internamente, se espancou. Sua consciência a enviou centenas de repressões assim que o calor do momento passou, Alec tirou as mãos de seu corpo e ela se deu conta do que estavam fazendo. Agora, só queria cavar um buraco no chão e enfiar a cabeça, o mais fundo que conseguisse.

 

 

— Você vem ou vai ficar parada aí? — A voz profundamente grave e com uma pontada de impaciência de Alec penetrou em seus ouvidos, a tirando dos devaneios fora de hora.

 

 

Brooke cruzou o olhar com ele, percebendo que o Volturi já estava recomposto, com a postura alinhada, assim como as roupas, o rosto sério. Nem parecia que há dez minutos atrás estava se atracando com ela.
 Ele tinha voltado a ser como antes, evidentemente. E enquanto o vampiro desviava o olhar, a evitando grosseiramente, Brooke soube que nada havia mudado. Tudo que acontecera entre os dois naquele quarto não significava nada, e uma parte sua se sentiu aliviada por não terem seguido em frente com os beijos e toques quentes, a outra, se sentiu estranhamente magoada e humilhada.
 Ela piscou, abanando a cabeça. E tratou de se recompor, subindo a alça da camisola e a ajeitando no ombro. Então respirou fundo, erguendo a cabeça.

 

 

— E as câmeras? — perguntou, engolindo a vontade de xingar o vampiro.

 

Alec não a encarou.

 

— Não são mais importantes — respondeu ele, mais impaciente, a fazendo emitir um murmúrio de concordância. — Algo mais ou podemos ir?

 

— Só preciso fazer uma coisa — retorquiu Brooke, e conseguiu que Alec a encarasse. Ela girou em cima dos saltos e olhou na direção da câmera instalada no canto do quarto na parede, abrindo um sorriso largo. E então levantou o dedo do meio, mostrando a expressão mais furiosa que tinha. Não sabia se culpava as câmeras ou ela mesma por ter se deixado seduzir pelo Volturi e depois ter sido tratada da forma rude como estava sendo tratada no momento. Fosse o que fosse, fazer o gesto obsceno para quem quer que estivesse observando os dois naquele quarto, aliviava um pouco da sua irritação. — Agora podemos ir — disse após girar novamente, e começou a caminhar em direção à porta, o rosto indiferente ao passar por Alec.

 

— Inacreditável... — suspirou o Volturi, a seguindo.

 

 

Os dois passaram pela porta um de cada vez, e quando chegaram no corredor escuro, Alec tomou a dianteira, os passos rápidos, mas na velocidade de um humano.
Brooke estava tentando acompanha-lo, mas os saltos a impediam, batendo contra o piso do chão e evidenciando a distância que começava a surgir entre os dois.
Como se não bastasse a reação alarmante do Volturi e as palavras de Jane, enquanto avançava por aquele corredor cheio de portas, gritos agonizantes e desesperados ecoaram, vindos de trás das portas, fazendo arrepios percorrem a espinha da morena.

 

— O que está acontecendo? — questionou Brooke, em um sussurro amedrontado conforme seus olhos iam vagando pelas portas e os gritos iam se tornando mais altos.

 

— Já é meia-noite, o que significa que o banquete deste lugar está sendo servido — respondeu Alec, sem se virar para encara-la ou parar de caminhar rapidamente. Ele não esperou que ela perguntasse, ele completou: — E por banquete, eu quero dizer os homens que vieram a esse lugar, as dançarinas e a qualquer pessoa que tenha sangue correndo pelas veias. Nenhum humano sai daqui com vida, Evern, por isso se eu fosse você, estaria com um pouco de pressa.

 

 

Brooke se desiquilibrou em cima dos saltos e se sentiu empalidecer com as palavras do Volturi, pois não estava preparada para elas. Sabia que a missão consistia em se infiltrar em um lugar cheio de vampiros, só não sabia que acontecia uma "boca livre" às doze badaladas do relógio. Era como o conto clássico da Cinderela: ali estava ela, fugindo à meia noite da festa. Só que na história original, Cinderela não corria para salvar sua vida de vampiros, nem vestia uma camisola transparente, o que só poderia significar que: Ou Brooke não havia nascido para ser princesa, ou que sua vida estava mais para trevas do que conto de fadas.
As duas opções pareciam corretas, no entanto.

 

 

— Ande mais rápido! — ralhou Alec ao se virar para trás e se deparar com a distância entre os dois. Ele parou de andar e permaneceu no lugar.

 

Brooke o fuzilou com os olhos, se desfazendo do pensamento da Cinderela.

 

— Não posso andar mais rápido com essas coisas! — guinchou ela, apontando para os saltos.

 

Nem parecia que haviam dado uns amassos há poucos minutos atrás. 

 

 

— Então tire-os, Evern. E jogue-os fora. Maldição!

 

 

A morena revirou os olhos e se agachou, trabalhando rapidamente nas correias do sapato, desafivelou as fivelas e se livrou dos saltos, os segurando nas mãos. Quando voltou a se levantar, encontrou com o olhar de Alec fixo sobre ela, a fazendo se retesar.

 

 

— Pronto — falou, chutando o ar com um pé. — Agora posso até correr sem temer cair de cara no chão. — Ela esperou que o Volturi retrucasse algo grosseiro, mas tudo que ele fez foi andar até ela, a expressão dura, e envolver a mão na sua que não segurava os sapatos, começando a puxa-la em frente. — O que está fazendo?

 

 

— Salvando sua vida — rosnou Alec. — Agora, corra!

 

 

Brooke se resignou a obedece-lo, e assim, os dois começaram a correr pelo longo corredor, de mãos dadas, de volta para o salão principal do clube. Ela não questionou por que ele estava correndo em velocidade humana com ela, tão pouco perguntou o motivo das mãos deles estarem unidas. Apenas correu.
 O chão abaixo de seus pés descalços era frio e parecia tremer a cada grito ecoado de dentro das paredes, e a morena rejeitou o medo que a fazia querer se encolher, porque a verdadeira missão começava agora, que consistia, basicamente, em sair dali vivos. O plano poderia ter falhado, eles, não. Não podiam falhar, não quando estavam tão perto do sucesso.
O coração de Brooke estava prestes a sair do peito quando chegaram no final do corredor e entraram no que tinha as luzes piscantes. Uma poça de sangue preto e viscoso, se espalhava pelo chão, e o vampiro de rosto deformado que dera as chaves do quarto para Alec, não estava à vista.
Jane deve ter cuidado dele, pensou Brooke, satisfeita enquanto fitava o sangue, lembrando-se de Amália.

 

 

— Você está com um sorriso sinistro no rosto — murmurou Alec, atraindo sua atenção. Ele tinha a testa franzida, apesar de continuar correndo. — Não quero saber o motivo.

 

— Não, você não quer. — Concordou Brooke.

 

 

O Volturi abanou a cabeça e eles alcançaram a bifurcação, entrando no último corredor de luzes vermelhas. O som de gritos, vidro sendo estilhaçado e pancadaria irrompeu pelo ambiente, e segundos depois, os dois estavam de volta ao clube, o centro do caos e da gritaria.
 Brooke prendeu a respiração, os olhos se arregalando a medida que percorriam o lugar. Estava diante de uma carnificina: corpos se locomovendo como flashes, outros, sendo jogados pelo ar como petecas. Ela achou Felix na multidão, dando conta de dois vampiros na entrada, mas não havia sinal dos outros. Sangue espirrava de todos cantos, os inúmeros vampiros atacando as dançarinas nos palcos, os homens mundanos que tentavam correr, quebrando seus ossos e os arremessando longe. O bar estava destruído, milhares de pedaços de vidro sob o balcão, o barman sem camisa com os dentes enterrados no pescoço de um cara com paletó.
As mesas foram arremessadas, reviradas, quebradas. Algumas tinham até corpos imóveis.
Brooke apertou a mão de Alec, sentindo que a qualquer momento poderia ser a próxima em cima de uma mesa. Eram mais de cinquenta vampiros que ainda nem tinham começado com o massacre, e os humanos presentes já estavam quase todos mortos.
Para sua surpresa, Alec devolveu o aperto.

 

 

— Está vendo a passagem por onde você veio? — Ouviu ele sussurrar próximo ao seu ouvido, se deslocando e ficando à sua frente. Ela assentiu. — Ótimo. Você vai ter que contornar o palco atrás de nós e subir, passando pelas cortinas. O segurança não vai estar lá fora, por isso, assim que eu mandar, corra e não olhe para trás.

 

— Mas e você? — perguntou Brooke, antes que se desse conta de suas palavras.

 

Alec a olhou, arqueando a sobrancelha em seguida.

 

— Está preocupada comigo, Evern?

 

— Eu... Bem, não sou uma pessoa que deixa as outras para tra... CUIDADO! — Se interrompeu ao ver a sombra de um vampiro saltando na direção de Alec.

 

 

O Volturi foi rápido. Assim que a ouviu, uma sombra surgiu em seu rosto, e ele girou habilmente.
Brooke observou ele estender o braço e pegar o vampiro pelo pescoço, o segurando no ar por meros segundos antes de arrancar sua cabeça com a outra mão. Sangue espiralou no ar, respingando no tecido branco da camisola.
A cabeça do vampiro atingiu o chão em um baque surdo, porém o corpo continuou a se mexer; os braços tentando alcançar o pescoço de Alec, as pernas chutando o ar freneticamente. Era como se fosse um boneco sem cabeça com vida, um monstro. Para dar fim ao horror, o Volturi o lançou para o outro extremo do clube. Infelizmente, isso atraiu a atenção de outros vampiros, que giraram as cabeças com as presas expostas na direção deles, começando a se aproximar.

Alec soltou um palavrão.
 Ele se virou brevemente para encarar Brooke, alguns fios de cabelo louro-acastanhado se agitando, os olhos carmesins possuídos de uma autoridade e intensidade arrepiantes.

 

 

— Vá. Agora! — Ordenou ele, dando um aceno firme de cabeça e voltou a se virar novamente, liberando sua névoa contra a meia dúzia de vampiros inimigos que o atacou.

 

 

Brooke pestanejou, sentindo o coração quase lhe saltando pela garganta. Queria ficar, mas acabou por acatar a ordem de Alec, e quando percebeu já estava correndo em toda velocidade para os degraus na lateral do palco, os saltos balançando nas mãos.
 Bela covarde você é, se acusou mentalmente com um gosto ruim na boca. Ela nunca fora garota de fugir de uma boa briga: na escola, na rua, no tempo que passou com Luke e a gangue. Brooke nunca deixou de lutar pelas coisas que acreditava serem certas e pelas quais via vitória. Mas aquele era o problema; ninguém garantia uma. Porque não existia uma, não naquela noite. E no que ela poderia ajudar? Seus tapas e socos, rasteiras e golpes não eram páreos nem para o vampiro mais fraco daquele lugar, considerando que existisse algum vampiro que não fosse forte.
 Mas, ah droga, não conseguiria sair daquele clube sabendo que deixaria Edward, Jasper, Felix, Demetri, Alec e até Jane para trás. Não conseguiria ficar em paz com isso, porque assim como eles, ela sabia do risco que corria quando aceitou ir naquela missão. Poderia ser a mais fraca, mas não de espírito ou caráter.
 E, ah droga novamente, ela não seria a primeira a abandonar o navio com seus companheiros dentro.
 Foi por isso que Brooke parou com o pé no primeiro degrau da escadinha para o palco. Girou o pescoço para trás e olhou sob o ombro para onde tinha deixado Alec, o vendo tentando lutar com um recém-criado ao mesmo tempo que mantinha a névoa na meia dúzia de vampiros no chão.
Ela se virou.

 

 

— Dane-se! — disse para ninguém em especial. Então seus olhos repararam nas pontas afiadas dos sapatos altos, e Brooke teve uma ideia antes de respirar fundo e refazer os passos até o Volturi, correndo a toda velocidade. E gritou: — EI, VOCÊ, SEU MONSTRO FEIOSO! EU VOU ACABAR COM VOCÊ, SEU FILHO DA MÃE! OLHE PARA MIM!

 

 

O recém-criado que tentava arrancar a cabeça de Alec parou o que estava fazendo e olhou para ela, que parou de correr quando julgou estar próxima o suficiente e sem perder tempo, se inclinou, atirando um dos saltos na direção do vampiro, que de tão confuso, não agiu rápido o bastante.
 A ponta do salto o atingiu diretamente no olho direito, se cravando tão fundo em seu globo ocular que o sapato ficou pendendo de seu rosto. O recém-criado berrou, soltando Alec, que aproveitou para dá-lo uma rasteira e domina-lo com a névoa paralisante também.
O Volturi a olhou por cima do ombro, um tanto surpreendido e maravilhado.

 

 

— Belo arremesso — Elogiou Alec.

 

Brooke abriu um meio sorriso.

 

— Achei que não gostasse dos meus saltos. Você disse para tira-los e joga-los fora.

 

— Isso foi antes deles acertarem o cara que queria arrancar a minha cabeça. E mudei de ideia, fique com eles. — Ele encolheu os ombros. Então o aborrecimento cruzou seu rosto. — Eu não mandei você sair daqui?

 

Foi a vez dela de encolher os ombros.

 

— Mandou. Mas eu nunca fui de obedecer ordens — Ela olhou para além dos ombros dele. — Vamos deixar a conversa para depois. Atrás de você.

 

 

Alec praguejou em italiano antes de voltar a virar a cabeça e paralisar um vampiro com boa aparência, o que levou Brooke a acreditar que não era um recém-criado da nova espécie. E isso a confundiu.
A maioria dos vampiros daquele clube era recém-criados, ela percebeu enquanto vasculhava o salão de corpos empilhados, onde os rostos deformados a rodeavam. Não tinha percebido quando chegara, mas agora estava vendo. E se perguntou o motivo dos vampiros normais, como os Volturi, estarem atacando ela e os outros. Porque era óbvio que eles não estavam apenas se alimentando do banquete de humanos atraídos aquela noite; também estavam lutando uns contra os outros, como se qualquer um ali fosse uma ameaça. Como se estivessem procurando por inimigos.
 Somos nós. Nós somos o inimigo, o pensamento atingiu Brooke como o sangue viscoso que manchava sua camisola.
As palavras de Alec invadiram sua mente: Sabiam que estaríamos aqui esta noite. Eles sabiam. Era uma armadilha, uma que caíram sem perceber.

 

 

— Se abaixe, Brooke! — A voz de Edward gritando em algum lugar alcançou seus ouvidos, e ela saiu da linha de pensamentos, bem a tempo de compreender o que o Cullen disse e ver uma cadeira voando em sua direção.

 

Brooke se abaixou, desviando por pouco. Ouviu a cadeira atingir o palco e se espatifar em vários pedaços.
 Ela ergueu os olhos para a multidão de vampiros e encontrou com os de Edward, parado há alguns metros no que outrora fora um sofá, a olhando alerta. Seu rosto provavelmente deveria estar pálido, demonstrando o susto, mas ainda assim que conseguiu formar um mínimo sorriso agradecido para Edward, que assentiu com a cabeça antes de se atracar com um vampiro de barba que avançava contra ele.
 A morena suspirou, e depois de ter certeza de que não haviam outras cadeiras sendo arremessadas por ali, se firmou sob os joelhos e começou a levantar, tomando consciência que precisava sair do caminho para não ser atingida pelos fragmentos da batalha ou ser morta. Ela estremeceu com o pensamento, e após ficar em pé, começou a se distanciar da passagem entre o palco e o que restava das mesas, indo para o meio do caos.
  Era uma péssima ideia, sabia disso, mas não existia lugar seguro ou fora de alcance naquele salão. Existia apenas corpos imóveis pelo chão e corpos velozes em movimento. E o derramamento de sangue, é claro. Além do mais, não havia decidido ficar para esperar pela morte iminente enquanto ficava escondida embaixo de uma mesa. — o que não podia negar que foi algo que passou por sua cabeça — Havia decidido ficar para ajudar os seus, considerando-os assim agora. E ela iria. Brooke não sabia como, mas algo dentro dela lhe dizia que podia ajudar naquela luta. Algo dentro dela pulsava, querendo ser liberto. Se era por conta da adrenalina correndo em sua veias ou não, isso ela não sabia.


 Seu caminho foi bloqueado por uma sombra, que a fez parar de andar. Ao levantar a cabeça, encontrou com o ruivo de antes, que agora tinha o sorriso malicioso duas vezes maior nos lábios sujos de sangue, que escorria por seu queixo quadrado e pingava em suas roupas manchadas pelo líquido escarlate.
Brooke engoliu em seco, recuando alguns passos para trás.

 

 

— Aí está você, boneca — Cantarolou o vampiro ruivo, se aproximando a cada passo recuado dela. Os olhos vermelhos brilharam perigosamente. — Vou me divertir um pouquinho com você agora.

 

 

Brooke girou nos calcanhares e se preparou para correr, mas antes que conseguisse, sentiu um puxão em seu braço que quase o arrancou do lugar, e em seguida foi empurrada com força sobrenatural para o lado.
 Ela voou alguns metros e caiu em cima de uma mesa redonda, a quebrando em pedaços. O salto em sua mão caiu longe. O gemido que saiu de seus lábios foi extremamente doloroso, combinando com a dor que explodiu em sua cabeça contra os destroços da mesa no chão e com a que sentiu em suas costelas.
 Ela abriu os olhos, vendo tudo rodar, mas o rosto sorridente do vampiro ruivo entrou em foco alguns segundos depois, inclinado sobre si, parecendo estar se divertindo como se estivesse em um parque de diversões.
A raiva que Brooke sentiu conseguiu se sobrepor a dor. Ela queria arrancar aquele sorriso doente da cara do ruivo, queria empurra-lo de cima dela, arrancar a cabeça de cenoura apodrecida. Ela queria mata-lo, ou que alguém o matasse, mas sabia que Alec, Edward, Jasper, Felix e Demetri estavam muito ocupados lutando por suas vidas.
Por isso ela não gritou. Porque assim como eles, ela tinha que lutar pela dela. E assim, permaneceu parada, o cérebro trabalhando em uma maneira de lutar contra o ruivo, as engrenagens rodando. Sabia que para matar um vampiro da espécie dos Cullen e dos Volturi era preciso arrancar cabeça e atear fogo no corpo, mas não sabia e nem tinha como arrancar a cabeça de um. Mas aquele ruivo... ela o olhou detalhadamente enquanto ele murmurava coisas nojentas sobre ela, se aproximando mais... ele não era como os Cullen ou os Volturi. Ele tinha as bochechas coradas, vasos sanguíneos nos braços e uma veia pulsante no pescoço, o que indicava que havia um coração batendo dentro de seu peito. E não tinha a marca no braço, as siglas que Alec mencionara uma vez.
Assim como Gaz.
 A descoberta a fez arregalar os olhos, o que o fez gargalhar enquanto deslizava os dedos no lado direito de seu rosto. Brooke se encolheu com o toque e suas mãos acabaram tocando um pedaço de madeira dos destroços da mesa. Uma ideia a ocorreu.
 Toda máquina é movida por um motor, que quando para de funcionar, acaba parando a máquina também.
Os humanos não eram diferentes: também tinham seus motores.
Os corações.
E todo coração que é atingido, não importa de qual espécie seja, para de funcionar.

 

 

— Deve estar muito arrependida por não ter me escolhido — disse o vampiro, soltando uma risada maquiavélica.

 

 

Brooke fechou a mão em volta do pedaço de madeira, o segurando tão firme que os nós de seus dedos doeram.

 

 

— Na verdade, não. Nem um pouco arrependida — cuspiu, abrindo um sorriso cínico.

 

 

Como resposta, o ruivo rosnou e empurrou a cabeça dela contra os destroços da mesa, fazendo o mundo girar.
Brooke berrou, sentindo a cabeça explodir em dor.

 

 

— Você é valente demais para o seu próprio bem, garotinha — ronronou o vampiro ao pé do seu ouvido. — Mas não me importo. Isso faz com que eu me sinta bem enquanto observo o seu sofrimento e cravo minhas presas nesse seu pescoço lindo.

 

 

Aquele era o momento.
Brooke ainda estava se recuperando do golpe na cabeça quando viu o ruivo expondo as presas e se inclinando em direção à sua jugular. Ela não pensou, apenas agiu por instinto e deixou que a raiva e o ódio em seu interior se libertassem para caírem sobre o ruivo.
 Com uma agilidade que não sabia possuir, Brooke tirou o pedaço de madeira debaixo de si e o cravou diretamente no peito esquerdo do vampiro, o empurrando até atingir o coração pulsante lá dentro.
Sangue preto escorreu pela camisa já manchada, correndo pelas mãos dela, as sujando.

 

 

— Como você se sente agora? — questionou Brooke, satisfeita em ver a surpresa e o desespero do vampiro ruivo.

 

 

Ele rosnou para ela, que empurrou mais fundo a madeira, o fazendo gritar. Logo depois, a Evern a puxou, fazendo jatos de sangue escuro e viscoso voarem em todas as direções, respingando em seu rosto. Ela não se importou. Estava mais concentrada na sensação revigorante em seu interior enquanto observava os últimos segundos do vampiro antes dele engasgar e se desfazer em cinzas, que se amontoaram no chão aos seus pés.
Brooke sorriu, algo que nunca pensou ser capaz de fazer após matar uma pessoa.  Mas ele não era uma pessoa, ela garantiu aquilo para si mesma enquanto fitava o sangue escorrendo pela madeira em suas mãos.
Ele era um monstro. Ele tentou te matar. Você só o matou primeiro.
Ela balançou a cabeça, espantando o pensamento, ao se lembrar que uma luta ainda acontecia, e que precisava sair dali com os outros o mais rápido possível.

Brooke olhou ao redor, procurando os rostos familiares.

 

 

— Acertem os corações!

 

 

***

 

 

 

A rua atrás do clube estava deserta, a não ser pelo pequeno grupo posicionado atrás dos carros, esperando pelo sinal para entrarem em ação.
Num silêncio tenso, Bella, Carlisle, Emmet, Rosalie e Gaz esperavam pela ligação dos Volturi.

 

 

— Está demorando muito. Já passa da meia-noite! — disse Bella, andando de um lado para o outro na calçada, as mãos na cabeça.

 

— Eles não devem ter conseguido se infiltrar no escritório ainda, Bella. Tenha calma. — Carlisle a reconfortou. — Se ainda não deram o sinal, é porque está tudo sob controle.

 

 

Gaz não acreditava nele.

Estavam ali há uma hora e nada havia acontecido. Com sua experiência em filmes e HQ'S de ação e ficção, algo sempre acontecia entre os momentos de iniciação e espera da missão. Algo emocionante.
Ele estava profundamente decepcionado. Quer dizer, estava agradecido e muito empolgado por fazer parte da missão (depois de implorar muitas vezes), mas esperava mais dos vampiros, francamente!
Onde estava a comunicação por códigos e sinais de fumaça? Ao invés disso, tinham ligações pelos smartphones.
A operação era muito moderna para o que ele havia imaginado em seus sonhos.
Gaz suspirou, coçando o queixo. Estava entretido vigiando a rua deserta sentado no meio-fio da calçada quando algo o acertou dentro da cabeça. Uma voz.

Como Gaz.

A voz era de Brooke, ecoando em sua mente, o tom desesperado e amedrontado. Era ela, com certeza.
 Os olhos dele se arregalaram. Não sabia como aquilo era possível, como a voz dela foi parar em sua cabeça, mas teve certeza que aquilo era um chamado. Era o sinal de fumaça que esperavam. O que significava que Brooke estava em perigo, que precisam de reforços.
O Julions mal percebeu quando se levantou em um pulo. Quando se deu conta, já estava contornando o carro.

 

 

— Onde pensa que está indo? Volte aqui! — Ouviu a voz irritada de Rosalie, o que o fez parar e se virar.

 


— Eles precisam da gente. Agora — respondeu, firme como nunca antes foi. — Estou indo, e se não quiserem se arrepender depois, me acompanhem.

 

 

Sem nenhuma palavra a mais, Gaz se virou novamente e correu para o clube, ainda ouvindo a voz de sua melhor amiga dentro de sua cabeça.
As coisas tinham acabado de ficar interessantes.

 

 

***

 

 

Assim que sentiu o puxão no braço, Brooke se virou, pronta para enfiar a madeira que tinha nas mãos no peito da criatura.
Ela se deteve ao reconhecer o rosto de Jane.

 

 

— Jane! Eu quase enfiei isso em você!
— resmungou, apontando para a arma em suas mãos. — Onde você estava?

 

A Volturi lançou uma careta de indiferença para o pedaço de madeira.

 

— Terminando a missão — respondeu a vampira. Seus olhos vaguearam por toda a extensão do clube, a fazendo grunhir. — Estamos perdendo feio. E você ainda está viva. Isso é sangue seco no seu rosto? Parece que você matou alguém. Bom trabalho.

 

— Obrigada? — Brooke revirou os olhos. — E sim, estamos perdendo feio. Então que tal você se juntar a luta?

 

Jane a olhou friamente.

 

— Eu não luto.

 

— Como assim, não luta?

 

— Simplesmente não lutando. Essa parte sempre ficou para Alec — A loira encolheu os ombros.

 

Brooke a olhou indignada.

 

— E eu achando que poderíamos ter uma chance ago...

 

 

Um rosnado atrás dela a interrompeu. Ela girou, empunhando a madeira, mas não precisou usa-la, pois um dos vampiros normais se contorcia no chão.
Brooke olhou para Jane, que mantinha o olhar fixo no vampiro, antes dela caminhar até ele, se inclinar e arrancar a cabeça dos ombros sem hesitação.
Após se endireitar, a Volturi a encarou, erguendo uma sobrancelha perfeita.

 

 

— O quê? Eu disse que não lutava, não que não feria. Agora precisamos sair daqui.

 

— Eu sei. Mas são muitos — disse Brooke. E então, como para comprovar suas palavras, vários rosnados e presas se viraram para elas, avançando velozmente. Ela engoliu em seco. — E aí vêm eles.

 

 

Jane falou algo em italiano, provavelmente um palavrão, antes de se agachar em posição de ataque.

 

 

— Você cuida da esquerda e eu da direita — Ordenou ela.

 

— Achei que não lutasse — comentou Brooke, apertando o pedaço de madeira que resolveu pensar como se fosse uma estaca.

 

— Cale a boca e se concentre em ficar viva, estúpida!

 

 

As duas trocaram um olhar fulminante antes de se aproximarem e virarem de costas, cada uma em seu lado. Esperaram pelo ataque.
 Brooke não sabia como ainda estava viva desde que pisara naquele maldito clube, mas se sobrevivera até aquele instante, então poderia sobreviver um pouco mais.
Ela balançou a estaca, suspendendo a respiração, ouvindo Jane grunhir e rosnar às suas costas, e esperou que as criaturas de rostos deformados se aproximassem o suficiente.
 Uma mão se esticou em sua direção, mas nunca chegou a alcança-la. Antes disso acontecer, Brooke assistiu, incrédula, a dúzia de recém-criados paralisarem, como se tivessem sido congelados no lugar, no tempo.
 Ela correu os olhos pelos vampiros imóveis, encontrando Gaz atrás deles, as mãos esticadas para frente, as palmas abertas, um fio de luz prateado saindo delas. O choque por saber que foi ele quem fez aquela coisa inacreditável, a pegou desprevenida.
Atrás dela, Jane ofegou.

 

 

— Alguém aqui chamou reforços? — perguntou Gaz, o tom divertido ao abaixar as mãos e ver o olhar que a morena o lançava, apontando para os Cullen recém chegados, que já ajudavam na batalha.

 

 

Por um momento, os lábios de Brooke se esticaram em um sorriso ao ver o melhor amigo, e ela abriu a boca para responde-lo, mas antes que pronunciasse alguma palavra, aconteceu.
 A dor lancinante dentro de sua cabeça estourou, junto com dezenas de vozes que ecoaram, gritantes, se embaralhando, dizendo a mesma coisa.
 Venha conosco, nossa senhora. Venha conosco e ocupe o seu lugar.
 Elas se tornaram mais altas e insuportáveis, fazendo Brooke cambalear para o lado e se curvar para frente, derrubando o pedaço de madeira e segurando a cabeça entre as mãos. Ela gritou, a visão se tornando embaçada enquanto procurava freneticamente os donos das vozes, porém tudo que encontrou foi os rostos deformados de todos os vampiros daquele clube, a encarando de volta, se aproximando dela lentamente, erguendo as mãos com garras... E então tudo rodou, estremeceu e não havia mais nada. Apenas um borrão preto mudando de forma ao seu redor.

Brooke foi engolfada para outro lugar.
Era escuro e abafado, com tochas iluminando centenas de pessoas de costas para ela, concentradas em algo mais na frente, em cima de uma espécie de púlpito, onde um trono estava posicionado, um homem sentado nele. Ela não conseguiu ver seu rosto por causa das cabeças tampando sua visão, mas pôde vislumbrar o casaco de pele volumoso se arrastando pelo chão. Ao lado do trono, outros dois homens estavam imóveis como estátuas, os rostos virados, os cabelos loiro e negro se destacando abaixo do fogo das tochas. Estavam virados para o trono, os perfis de ambos retorcidos em expressões sombrias, assustadoras. Brooke tentou guardar seus traços, com a sensação de que precisaria se lembrar deles futuramente.
Ela cerrou os olhos e resolveu se aproximar do aglomerado de pessoas, dando um passo em frente. O chão tremeu, a fazendo recuar, e algo tocou seus lábios, algo com gosto de... terra.
 Ergueu a cabeça e acabou encontrando o que deveria ser o teto daquele lugar, por onde punhados de terra caiam.
A testa de Brooke se vincou, e ela fechou os olhos com força. Quando os abriu novamente, se deparou com túneis por todos os lados, o silêncio sendo cortado pelo som de sua respiração se alterando conforme mais terra ia caindo ao seu redor, começando a se acumular no chão desnivelado rapidamente. A morena girou a cabeça, de repente sufocada, e caiu de joelhos levando a mão até a garganta, não conseguindo respirar.
Rosnados animalescos soaram. Com algum esforço, ela ergueu os olhos e as centenas de pessoas haviam voltado para a cena, porém, não eram pessoas. As íris vermelhas e os rostos deformados mostravam que eram vampiros.
E falavam com ela.
 Você está no lugar ao qual pertence, nossa senhora. Você o encontrou.
 Brooke rolou, caindo com as costas pressionadas contra o chão, a dor dentro de sua cabeça retornou, com mais intensidade. Arfando, ela sentiu quando mãos a alcançaram...

 

 

— Brooke! Brooke! Você está bem? Está me escutando? Brooke! — Aquela voz não vinha de dentro de sua cabeça. Ela a reconhecia.

 

 

Brooke abriu os olhos, as luzes azuis e vermelhas do clube os golpeando, mas ela permaneceu com eles aberto.
Tinha voltado a realidade e não estava morrendo asfixiada pela terra dos túneis. A dor de cabeça ainda era insuportável, mas estava viva.
Viva.
A palavra a fez lembrar aonde estava, e o que estava acontecendo. O clube. Alec. Meia-noite. Vampiros. Luta.
Ela ofegou e cerrou as pálpebras, trincando os dentes quando levantou o tronco e fez esforço para se levantar. Dois pares de mãos frias a ajudaram; um par gentilmente, o outro nem tanto.
Brooke encontrou com o rosto preocupado de Gaz em seu lado direito.

 

 

— Você está bem, Broo? — perguntou ele, a voz carregada de muitas emoções, passando um braço por sua cintura, a ajudando a se equilibrar.

 

— Temos que sair daqui — sussurrou ela, a voz esganiçada.

 

O som da pancadaria a alcançou.

 

— É o que estamos tentando fazer — A voz irônica de Jane soou em seu lado esquerdo, embora houvesse uma ponta de aflição. — Mas você não está cooperando! — grunhiu.

 

— O quê? — Brooke mal conseguia prestar atenção no que eles estavam falando, as pontadas dentro de sua cabeça a perfurando como agulhas.

 

— Ah, não. — Ao seu lado, Gaz enrijeceu. — Seu nariz, Broo. Está sangrando.

 

 

A mão dela tocou o nariz, sentindo o líquido nas pontas dos dedos. Brooke arregalou os olhos, e o que esperava acontecer, aconteceu.
O olfato apurado dos vampiros captou o cheiro do sangue, e com isso, se voltaram todos para ela, as presas expostas, rosnando como verdadeiros animais.
Venha conosco nossa senhora. Venha conosco e ocupe o seu lugar.

 

 

— Estamos ferrados — murmurou Gaz. — Deveríamos correr?

 

Venha conosco, nossa senhora.

 

— Não tem para onde correr, estúpido
— retorquiu Jane.

 

E ocupe o seu lugar.

 

— Podemos tentar.

 

 

Brooke não prestou atenção na discussão entre o Julions e a Volturi, por isso não entendeu quando os dois começaram a puxa-la em outra direção.
 Ela resistiu. Não podiam fugir. Não havia escapatória. Sua cabeça não parava de dar sinais de que a qualquer momento iria explodir. Não conseguia pensar direito. Não conseguia ignorar os rosnados que ficavam cada vez mais alto. Não conseguia parar de pensar em todos os acontecimentos daquela noite. Não queria morrer ali.

Nossa senhora.

Venha conosco.

Venha

Ocupe o seu lugar.

Nossa senhora...

 

 

— Parem — disse Brooke, para Gaz e Jane. Mas eles pareceram não escutar suas palavras, pois continuaram a puxando enquanto ela resistia. — Parem — repetiu. Eles não pararam. Venha conosco. Nossa senhora. Ocupe o seu lugar. O gosto metálico do sangue tocou sua boca. Nossa senhora. Nossa senhora. Nossa senhora. — EU DISSE PARA PARAREM!

 

 

E então, os dois pararam de tentar move-la. No entanto, não foram só eles.
Brooke ouviu perfeitamente quando o som dos golpes da luta cessaram, assim como os rosnados. E tudo ficou silencioso.

 

 

 

Alec estava ocupado paralisando a maior quantidade de vampiros possíveis enquanto Demetri atingia os corações de alguns, que se desfaziam em cinzas, e arrancando as cabeças de outros, quando sentiu o cheiro do sangue da Evern e ouviu o seu grito.

 

 

— EU DISSE PARA PARAREM!

 

E realmente, foi o que aconteceu.

Alec observou o recém-criado que corria em sua direção, paralisar, rosnando baixinho. O Volturi franziu o cenho e olhou em volta, encontrando todos os outros recém-criados imóveis, sem moverem um músculo, espalhados pelo salão do clube como estátuas de pedras. Todos olhando para apenas uma direção. Ele a seguiu e encontrou a figura de Brooke, curvada para frente sobre os joelhos, a cabeça levantada com os olhos cerrados e o nariz sangrando em um fluxo violento, escorrendo pelos lábios e queixos, pingando no chão.
Os olhos do Volturi se arregalaram quando ele chegou a uma conclusão.

 

 

— O que... — Ouviu Demetri murmurar, perdido.

 

Alec balançou a cabeça.

 

— É a Evern — disse. — Eles estão a obedecendo.

 

— Por quê?

 

Alec não sabia, por isso apenas balançou a cabeça e se concentrou na figura da morena, que oscilava sob as pernas, precisando da ajuda de Jane e do Julions para não cair.
Ele grunhiu e se voltou para os recém-criados vivos que sobraram caídos no chão, e hesitante, recolheu a névoa sobre eles. Quando nenhum se mexeu, Alec virou as costas e correu até Brooke, prendendo a respiração superficial e apertando a mandíbula.

 

 

— Como você fez isso? — A abordou diretamente, parando em sua frente, ignorando Gaz e a irmã.

 

Ela virou o rosto para olha-lo.

 

— Eu não sei — respondeu Brooke, a voz arrastada e cansada. As pálpebras quase se fechando. — Mas não vai durar... muito. — Inesperadamente, ela esticou as mãos e o segurou pelos ombros, ignorando os protestos dos outros dois. Se inclinou para perto de Alec e puxou o ar: — Temos que sair daqui, Alec.

 

O Volturi a afastou gentilmente, sabendo da sabedoria nas palavras dela.

 

— Nós vamos sair — Assegurou. — E vai ser agora. — Ele se virou, vasculhando o salão em busca dos rostos conhecidos. — Bater em retira...

 

Brooke passou por ele, cambaleando alguns metros.

 

— Cullen e Volturi, para trás de mim! — gritou ela, estendendo os braços acima da cabeça e os balançando freneticamente.

 

Alec correu até ela, a segurando pelo braço e a virando para ele.

 

 

— O que está fazendo? E dizendo? Eu dou as ordens aqui!

 

— Sou eu a quem eles estão obedecendo — retrucou a garota, apontando para os vampiros imóveis espalhados pelo lugar. Ela tinha os dentes trincados, como se falar fosse uma tarefa difícil. E visto a aparência dela no momento, deveria ser. — Não sei se existe algum tipo de... regra para tal coisa, mas acha mesmo que no momento em que todos nós corrermos em direção as portas, essas criaturas não vão ignorar seja lá o que tiver as impedindo de nos atacar? — Respirou fundo. — Não estou me sentindo bem, Volturi. Por isso deixe de ser um imbecil e me deixe nos tirar daqui sãos e salvos. Sei que posso fazer isso, eu sei.

 

 

Alec a encarou com o semblante irritado, mas Brooke o sustentou com o decidido dela, parecendo que a qualquer momento poderia tombar no chão ou partir para cima dele se não a deixasse fazer o que queria.
 E francamente, ele tinha que admitir que a garota tinha razão até um certo ponto, mesmo que não quisesse.
Por isso, ele aceitou no fim, assentindo resignado com a cabeça.

 

 

— Tente não desmaiar até passarmos pelas portas — Comandou ele, virando-se em seguida para os Cullen e para os outros Volturi, que aguardavam atentamente, em posições de ataque. — Fiquem atrás da Evern. Vamos sair daqui — gritou.

 

 

O que aconteceu a seguir foi a parte final da missão: A retirada.
Os dois clãs se locomoveram pelo salão, chegando até eles e se colocando atrás de Brooke, se encolhendo e fazendo caretas.
Alec e e ela se entreolharam.

 

 

— Para trás de mim, Alec — murmurou a Evern.

 

 

O Volturi rolou os olhos. Resignado, a lançou um último olhar de advertência antes de se encaixar entre os outros, provocando resmungos.

 

 

— Ok. Vamos — sussurrou Brooke, dando um passo vacilante em frente.

 

Os Cullen e Volturi a seguiram.

 

— Cara, isso é bizarro — comentou Emmet, sendo censurado por todos. — Certo, não é hora para comentários. Já entendi.

 

 

Assim, eles prosseguiram em direção das portas da entrada, a passos cautelosos e sem movimentos bruscos.
Os recém-criados espalhados pelo salão não se moveram, continuaram parados nos lugares, rosnando baixinho, os olhos acompanhando os movimentos dos dois clãs, porém não fizeram nada para impedi-los.

Andando de costas, Brooke mordia o lábio, se obrigando a permanecer de pé enquanto as vozes dentro de sua cabeça continuavam a atormentando, a dor se fazendo sentir.
Não sabia porque os recém-criados a obedeceram, mas estava mais preocupada em alcançar a saída do que encontrar uma resposta.
E alcançou.
Rosalie abriu a porta e logo em seguida todos estavam correndo para fora. Gaz as fechou no instante em que puxou Brooke pela cintura, a dando um último vislumbre dos rostos desfigurados dos vampiros dentro do clube.
 A madrugada sombria caia do lado de fora, o céu limpo de estrelas. O barulho estrondoso de carro fazendo uma curva foi seguido por pneus derrapando. E lá estava dois carros estacionados na fachada do Clube S.D.S., tendo como condutores Alice e Esme. Não demorou para os Cullen e Volturi se dividirem e entrarem nos carros.
 Brooke sentia-se tão esgotada, tão no limite, que se permitiu cair nos braços de Gaz e deixar que ele a pegasse no colo e a colocasse dentro do carro que Alice dirigia, fechando as pálpebras pesadas. Não prestou muita atenção nos acontecimentos que se seguiram, apenas sentiu a pequena movimentação preencher o automóvel e então ele começou a se locomover, cantando pneu pela estrada deserta.
 Ela deitou a cabeça no ombro de Gaz, que sabia que estava ao seu lado, e apreciou o silêncio aliviado, do tipo que ocorre após você escapar por pouco da morte, sentindo a cabeça parar de doer aos poucos. E não ouvia mais as vozes, o que ela agradeceu profundamente.

 


— Broo? — Ouviu a voz de Gaz em seu ouvido, sussurrando. Ela murmurou que estava escutando. — Seu nariz ainda está sangrando.

 


Brooke abriu as pálpebras, levantou a cabeça do ombro do amigo e levou a mão até o nariz, olhando em seguida para as pontas dos dedos sujas de sangue.
Ela arregalou os olhos, franzindo o cenho em seguida.

 


— E-eu não... sei porquê — murmurou, tentando conter o sangramento com a mão.

 


Um lenço foi jogado em sua direção. Ela o pegou com a mão disponível e pressionou contra o nariz, o segurando lá.
Seus olhos correram para o banco em frente, o do carona, e ela encontrou o rosto sério de Alec a fitando de uma maneira estranha. E foi no conforto do carro, sem toda a adrenalina e golpes de luta, que as memórias do momento que compartilharam no quarto do clube a assaltaram, a fazendo ruborizar. Brooke queria ter dito alguma coisa sobre o assunto, ou ficar envergonhada o suficiente para desviar o olhar e fingir que nada aconteceu, mas não. E no lugar de realizar alguma das alternativas, a lembrança da visão preencheu sua mente, e ela acabou dizendo:

 


— Tenho... algo para contar — A voz dela saiu arrastada e fraca como das outras vezes que tentou falar.

 

Os cantos dos olhos de Alec se apertaram.

 

— Você não está em condições para falar, Evern. Poderá contar o que tiver para contar, depois. Agora fique quieta e não pare de pressionar o lenço contra o nariz.

 


— Mas...

 

— O Volturi está certo, Broo — Gaz a cortou, parecendo incomodado. — Você não está bem. — Ele passou o braço por cima dos ombros dela e a puxou para junto dele, em um gesto brusco. — Mas vai ficar. Vou cuidar de você.

 

 


A morena não notou a troca de olhares faiscante entre o melhor amigo e Alec.

 

 

— E então — perguntou Alice, quebrando o silêncio tenso que se formou no interior do carro. Ela dirigia rápido, os olhos desviados da estrada para olhar para trás. Brooke estremeceu com as memórias do acidente no passado. — Encontraram alguma coisa?

 


Houve um estalar de língua.

 

— Eu iria falar sobre isso agora mesmo — A voz de Jane soou, chamando a atenção da Evern que não sabia que ela estava no veículo. Sentada ao lado de Gaz, nos bancos de trás, lá estava a loira, mexendo no celular, deslizando o dedo pela tela freneticamente, a procura de algo.

 


— Você encontrou? — Alec olhou para a irmã por cima do ombro, ficando sério.

 

— Eu não brinco em serviço — Jane encolheu os ombros e então bateu na tela do celular. — Aqui será — Ela virou o aparelho para ele poder olhar. — Estava escrito na parede do escritório. Não tinha ninguém lá, mas o lugar estava completamente revirado. Alguém sabia que estaríamos lá e escreveu antes de fugir.

 

 

Brooke observou os vincos aparecem na testa do Volturi louro-acastanhado enquanto ele fitava a tela acessa do celular.

 


— Lee sate dinov — pronunciou Alec. — O que diabos isso significa?

 

— Bem, eu também não sei — grunhiu Jane, abaixando o aparelho.

 

Os dois irmãos se entreolharam por um instante. Um olhar significativo.

 


— Então foi uma missão inútil? — questionou Gaz, recebendo um rosnado de Jane ao seu lado. — É, foi sim.

 

Brooke ofegou.

 

— É um anagrama — disse ela, piscando rapidamente. Todas as cabeças dentro do carro se viraram em sua direção. — É um jogo de palavras. Minha irmã e eu costumávamos jogar. A frase está desorganizada.

 


— Então você sabe o que está escrito? — perguntou-lhe Alec. A Evern assentiu. — Jane, mostre a foto para ela.

 

 

A Volturi o obedeceu e a entregou o celular, que o segurou firmemente. Ela encarou a tela e analisou a foto tirada de uma parede branca com letras grandes pintadas a sangue.
Lee sate dinov.

 

 


— Ele está vindo — O sussurro saiu dos lábios de Brooke quase inaudível.

 


— Quem está vindo? — Inquiriu Alec.

 

 


Alice fez uma curva.
O carro balançou, chacoalhando os corpos deles.
 O coração de Brooke disparou. As palavras que não sabia de onde vinham, surgiram na ponta de sua língua, seus olhos ficaram vidrados e opacos, do jeito que ficaram no penhasco com Leah, quando dissera que ele estava lá. Na época, não fazia a mínima ideia quem era ele, mas agora, ela sabia.

 


— O Senhor das sombras.

 


Assim como aconteceu no penhasco, a Evern gritou. E em seguida, perdeu os sentidos, desfalecendo nos braços de Gaz. Assustando a todos no carro. Agora tinham um nome. Um nome para culpar. Um nome para caçar.
  O que nenhum deles sabia, no entanto, era o homem oculto pelas sombras os vigiando ao longe na estrada, observando o carro se afastar com um sorriso satisfeito no rosto.

 

 


— As coisas estão indo como o esperado. Mas talvez seja a hora de revelar minha ilustre presença — falou o homem.

 

 

Ele ajeitou o chapéu na cabeça e virou as costas, começando a caminhar na direção contrária da estrada, assobiando uma música antiga qualquer.

 

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Olá, amores!!! Como vocês estão?
Primeiro capítulo do ano! Então, antes de tudo, FELIZ 2018! Que esse ano traga tudo de bom para todos nós: energias positivas, um amor, amizades, dinheiro, livros novos, e quem sabe, atualizações de Eyes On Fire mais frequentes. Hehe.
Enfim.
Eu deveria ter postado antes, mas as festas de fim e início de ano, e as férias que já estão acabando (#tristeza), acabaram impossibilitando isso. E o capítulo, que eu tenho que mencionar, tem mais de dezesseis mil palavras! É muita coisa pra ler e ainda mais para escrever. Não sei se já mencionei, mas eu escrevo pelo celular, o que é extremamente horrível. Imagina escrever um capítulo grande assim? Estou esgotada até o último fio de cabelo da cabeça.
Também sei que muitos não gostam de capítulos longos, mas sinto muito. Essas dezesseis mil palavras são necessárias para a historia e achei que dividir o capítulo em duas partes não seria uma boa ideia, já que por ser um capítulo tão "movimentado", dividir em duas partes só deixaria vocês ansiosos.
Então ele está aí.

Agora... O que falar do primeiro beijo de Alec e Brooke? Eu tive que pensar muito para decidir a situação apropriada que ele iria acontecer. Tive mil e uma ideias, mas apenas o "calor do momento" no clube, me foi a melhor situação, considerando a personalidade de ambos e percebendo que o único jeito disso acontecer, seria "obrigando" eles a isso. Caso contrário, nada de beijo, nem de saliência... Saliência essa que eu quase morri de vergonha para escrever! Nunca tinha escrito nada parecido, por isso perdoem se a descrição da cena ficou estranha. Eu realmente me esforcei *-*

Tem tanto a ser revelado ainda nessa fanfiction!

Não sei quando sai a próxima atualização, mas farei o possível para não demorar tanto. Espero que tenham gostado do capítulo e aguardo pela reação de vocês nos comentários.

É isso.

Até o próximo capítulo...
Bjs! ♡





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