Eyes On Fire escrita por Brê Milk


Capítulo 23
Chapter 20: Querer é poder — Part II


Notas iniciais do capítulo

"You're the man but I got the, I got the,
I got the power
You make rain, but I make it,
I make it, I make it shower
You should know
I'm the one who's in control
I'll let you come take the wheel
long as you don't forget"

— Little Mix (Power)



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O sinal para o intervalo tocou. Elas esperaram todos os alunos saírem da sala para se aproximarem da mesa do professor, cujo o vampiro se apossara.

 

 

— Que diabos você está fazendo aqui? — perguntou Brooke, indo direto ao ponto, frustrada.

 

— Brooke! — Renesmee censurou a abordagem da morena. Então olhou serenamente para o Volturi. — Pode nos contar a razão de você está aqui, Felix?

 

 

Ele as olhou pacientemente, ajeitando os óculos de grau no rosto pálido.

 

 

— A turma de vocês precisava de um professor de literatura — Felix respondeu, encolhendo os ombros largos. — Como sabem, o antigo professor de vocês teve um acidente de escada...

 

— Que eu tenho a certeza que você ou seus amiguinhos provocaram! — Brooke o interrompeu, batendo as mãos na superfície da mesa.

 

— Brooke!

 

— Está fazendo uma acusação muito séria, senhorita Evern — O Volturi balançou a cabeça. — Dada as circunstâncias de minha natureza, você deveria me agradecer por eu ter, muito gentil e caridosamente, me voluntariado a substituir o sr. Helmsh, para que você e sua turma não ficassem sem aula. Além do mais, olhe as alterações que tive que fazer em minha vida para estar aqui — ele apontou para si mesmo. — Esta roupa pinica, estes tênis são desconfortáveis, embora eu tenha gostado muito dos óculos...

 

Mas você não usa e não precisa de óculos!

 

— Detalhes irrelevantes — Felix a ignorou. — O que importa realmente é que sou o novo professor de vocês, por isso aceitem isso.

 

 

A morena e a ruiva trocaram um olhar significativo. A boca de Brooke estava prestes a se abrir quando Renesmee se adiantou e abriu a dela:

 

 

— Iremos aceitar, assim que você nos contar o real motivo de isso estar acontecendo — e o olhou o mais firme que conseguia.

 

 

O vampiro ficou em silêncio por alguns segundos, intercalando olhares entre as duas garotas. Então, tirou os óculos do rosto e o pousou na mesa, despindo a máscara de professor simpático e inocente e voltando a ser o inexpressivo e intimidador Felix Volturi.

 

 

— Vamos dizer que estou aqui para evitar problemas — Seus olhos se concentraram em Brooke, que entendeu no mesmo minuto.

 

— Eu não preciso de babá!

 

— Não serei sua babá, serei seu professor — Estreitando os olhos, ele voltou a colocar os óculos no rosto e abriu um sorriso ácido. — Agora, se eu fosse vocês, iria aproveitar o restante do recreio. Até a próxima aula.

 

 

Brooke e Renesmee passaram pela porta com as piores caras do mundo.

 

 

— Como se já não bastasse uma família inteira controlando cada passo que eu dou... — Suspirou a híbrida, enquanto entravam no corredor dos armários.

 

— Você não precisa se preocupar. Sou eu a quem ele estará vigiando — A morena bufou. — Preciso fazer alguma coisa. Não vou suportar aprender sobre Byron com um Volturi, é capaz que eu me mate antes.

 

 

Renesmee riu enquanto desviava de um estudante carregando muitos livros.
Brooke balançou a cabeça e olhou para o lado, observando a sequência de armários azuis presos a parede. Seu olhar se cravou em um especial, com flores e cartões recém pendurados na porta do armário.

Ela parou de andar, sentindo a umidade atacar seus olhos enquanto lia as palavras escritas em um dos cartões brancos: "Em homenagem a Amália Young". Brooke lutou contra o nó na garganta.
Alguém esbarrou em seu ombro. Ela levantou os olhos e mirou Courtney Jones a encarando sarcasticamente.

 

 

— Me desculpe. Prestando homenagem a falecida? — A loira fez beicinho, os lábios rosados se esticando, mas depois abriu um sorriso maldoso, virando as costas, começando a se afastar.

 

 

Antes que percebesse o que estava fazendo, Brooke a puxou pelo braço violentamente, a fazendo se virar.
Courtney a encarou surpresa, mas logo se recompôs e a fuzilou com o olhar.

 

 

— Qual é o seu problema? — perguntou Brooke, a voz mais alta do que deveria, a raiva que sentia presente.

 

Já estava de saco cheio da Jones.

 

 

— No momento, é você — berrou Courtney, puxando o braço magricela que a Evern apertava em um aperto de ferro. Aquela altura, muitas cabeças já estavam viradas na direção das duas, observando o espetáculo da briga que protagonizavam.— Me larga!

 

— Broo, solte-a. Você vai se meter em problemas — alertou Renesmee, aflita, ao seu lado.

 

— Está ouvindo a Cullen esquisitona? É melhor me largar, sua porca anoréxica!

 

 

A outra mão de Brooke se ergueu no ar, mirando o rosto cheio de maquiagem de Courtney, mas antes que ela pudesse atingir seu alvo, um pequeno borrão se aproximando capturou a atenção da morena, a fazendo desviar os olhos e segui-lo.
 O borrão, que ela percebeu se tratar de uma criança, passou correndo por si, e ela vislumbrou o familiar rosto de Lucy Young antes que a menina passasse reto e continuasse pelo corredor.

Brooke piscou, o que Lucy fazia ali?
Sem pensar, ela soltou Courtney, que cambaleou até recuperar o equilíbrio e a olhou odiosamente. Mas Brooke se esqueceu dela, e se ocupou em ir atrás da irmã de Amália.

 

 

 

— Lucy! — gritou, começando a correr na direção em que a menina fora, abrindo caminho por entre as pessoas que se agruparam para ver seu confronto com a Jones.

 

 

Ainda ouviu as ofensas da dita cuja, os suspiros decepcionados das pessoas e os gritos de Renesmee perguntando o que estava acontecendo. Mas Brooke não parou por nenhuma dessas coisas. Continuou correndo atrás de Lucy, que naquele instante dobrava o corredor e se aproximava da saída do prédio 3, correndo tão rápido quanto qualquer criança cheia de energia em sua idade.

 

 

— Lucy, espere! — O pedido da morena não foi realizado.

 

 

Foi difícil manter o ritmo; Brooke admitia. Mas assim que atravessou a porta de saída em sua perseguição, exigiu mais de suas pernas e quando o pequeno borrão com cachos esvoaçantes e uma mochila roxa nas costas que Lucy era, saiu dos terrenos da escola, indo em direção à rua principal do bairro por onde carros e ônibus passavam, a Evern bradou uma porção de palavrões, sentindo o ar se extinguindo de seus pulmões.
 Ela desviou de uma lixeira e de uma idosa na calçada, a mochila quase voando de seus ombros, e enfim diminuiu a distância entre as duas, quando a menina parou ao lado de uma placa na calçada que dizia ser um ponto de ônibus, onde um coletivo estava estacionado, porém, vazio.
Quando a alcançou, Brooke parou tropeçando nos próprios pés, se curvando para frente e descansando as mãos nos joelhos. Era difícil respirar com os pulmões ardendo e as pernas protestando. Ela ergueu a cabeça, ofegante, e encontrou com os olhos de Lucy a olhando fixamente.

 

 

— Você... está bem? — perguntou, os olhos passeando por todas as partes da menina, a analisando.

 

 

Brooke suspirou aliviada quando percebeu que não tinha nada de errado com Lucy, pelo menos fisicamente. Suas sobrancelhas se franziram e a morena se agachou na calçada, de frente para a pequena Young, mas a uma distância significativa para não assusta-la ou toca-la.
Brooke hesitou enquanto encarava os olhos de ônix, que a encaravam de volta, atentamente.

 

 

— Hum, oi. Acho que você lembra de mim, Lucy. Sou a Brooke, a que esteve em sua casa semana passada, a amiga da sua irmã, aquela que ela costumava falar muito... — Mordeu o lábio, pestanejando. Nunca tinha interagindo com uma pessoa autista antes, por isso não sabia como entender a quietude da menina e sua postura inalcançável. Porém, tentaria. — Então... O que você estava fazendo na escola? Se perdeu dos seus pais? Ou veio sozinha? — Aguardou a resposta, mas a menina nem abriu a boca, apenas continuou a encarando. Brooke olhou ao redor, mas a rua estava vazia exceto por elas. Guardando o suspiro para si, ela abriu um sorriso amigável. — Tá legal. Tudo bem se não quiser falar. Mas você não pode sair correndo por aí do jeito que saiu, Lucy. É perigoso. Então vamos fazer o seguinte: eu vou te acompanhar de volta para casa, seus pais devem estar preocupados. Ok?

 

Lucy piscou, uma vez, e Brooke assumiu aquilo como um sim.

 


— Vamos — Sorrindo, ela se levantou da calçada e virou as costas, rejeitando o impulso de pegar na mão da menina, como fazia com Penny quando saiam para algum lugar, e começou a caminhar.

 

 

Brooke deu apenas três passos antes de notar a ausência do som dos passos de Lucy e perceber que a menina não a seguia. Ela girou nos calcanhares, virando-se novamente, e a encontrou parada no mesmo lugar com os olhos fixos em si.
Soltando o suspiro pesado dessa vez, a Evern recuou os três passos e parou em frente da Young, colocando as mãos nos quadris.

 

 

— O que foi? Há algo errado?

 

A resposta de Lucy foi um estreitar de olhos.

 

— Lucy... eu não a entendo, sinto muito — Brooke deixou os ombros caírem, se sentindo frustrada. Tentou ao menos soar gentil quando voltou a falar: — Mas venha comigo. Não posso deixa-la aqui sozinha, nem sei o que você veio fazer aqui. E volto a repetir que seus pais devem est...

 

 

A morena se interrompeu ao ser surpreendida pela menina, que virou abruptamente para o lado e ergueu a pequena mão, o indicador apontando para o ônibus parado ao lado da calçada.
Brooke fechou a boca, observando o veículo. Ele estava ali já há algumas semanas, parecia que tinha quebrado e sido abandonado. Era um dos ônibus das linhas rodoviárias. Ela tinha perdido as contas de quantas vezes passara por ele e de todas as vezes, jurava que o ônibus estava quebrado. Sendo assim, o que Lucy apontava naquele momento deveria ser impossível, porque de todas as vezes que Brooke passou por aquele coletivo, nenhuma delas ele estava com o letreiro acesso, ligado.

Só que agora, ele estava. E bem ligado.

Os dizeres "Birosburn, Seattle — 199", passavam na tela do letreiro, fazendo a testa de Brooke se enrugar. Ela estava se questionando o que aquilo queria dizer, quando sentiu um puxão suave na manga de seu casaco, o que a fez desviar os olhos do ônibus e se surpreender ao encontrar Lucy abaixando uma mão e estendendo a outra, um papel dobrado nesta.

 

 

— O que é? — perguntou, curiosa, enquanto a menina lhe dava o papel, tomando cuidado para não lhe tocar. Ciente que não receberia resposta, tratou de desdobrar a folha e espiar o conteúdo.

 

 

O que encontrou quase a fez deixar cair o papel. Escritas com uma letra redonda e infantil, com canetinha vermelha, as três siglas que atormentavam os sonhos de Brooke estavam ali, estampadas no papel.
 As siglas S.D.S.
 Brooke piscou várias vezes, a boca aberta, tentando processar aquilo. E então, quando as engrenagens de seu cérebro começaram a trabalhar, ela foi encaixando as peças e no fim se deu conta do que Lucy Young, a menina autista de sete anos, estava tentando lhe dizer. Seu olhar trilhou um caminho até o letreiro do ônibus e depois voltou para o papel em suas mãos.

Birosburn, Seattle — 199.
                     S.D.S.

Aquilo parecia um endereço. Mas do quê? Uma voz ecoou em sua mente, serpenteando entre os pensamentos e as mil e uma teorias que se formavam, lhe dizendo o que ela já sabia.
 Se aquilo fosse um endereço, se realmente fosse, só poderia a levar para um lugar: Para os vampiros recém criados. Os que mataram Amália. Os que transformaram Gaz.  E Brooke acreditou nisso.
Não sabia como Lucy estava envolvida na situação; era apenas uma criança humana de sete anos, como ela sabia sobre aquele endereço era um mistério. Mas não iria perder tempo tentando descobrir.
Brooke nunca foi supersticiosa; não acreditara em destino ou nas forças do universo, como muitos acreditavam. Sempre fora muito cética sobre tudo. Mas ali, diante daquilo, de todos aqueles fatores — O letreiro do ônibus que voltara a funcionar como num passe de mágica, o papel com as siglas em suas mãos, a garotinha em sua frente que pela primeira vez a encarava como se realmente a visse —, foi difícil não acreditar. Aquilo só poderia ser o destino e se não fosse, então alguém realmente queria que ela encontrasse as pistas.
 Fosse o que fosse, a Evern estava convencida. E sabia qual o próximo passo a dar.

 

 

— Muito bem — murmurou, voltando a dobrar o papel e o empurrando para o bolso de trás de sua calça jeans. Ela olhou sorridente para a menina que já a olhava esperando alguma coisa. —, parece que alguém cumpriu sua missão — Brooke deu uma piscadela cúmplice. — Agora, vamos lá, Lucy. Temos algumas pesquisas para fazer.

 

Dessa vez, a menina saiu do lugar, a seguindo para longe dali.

 

 

 


— Espera, deixe-me ver se entendi direito — disse Renesmee, enrugando a testa, enquanto se esgueiravam pelos corredores vazios com cautela. — Você descobriu uma pista que pode nos levar diretamente aos vampiros que minha família e os Volturi estão procurando... com a ajuda dela — Os olhos iguais os de Bella se fixaram na garotinha que as seguia calada, visivelmente desinteressada. — Tem certeza que enquanto corria atrás de Lucy, não caiu e bateu a cabeça, Broo?

 

 

Brooke fez uma careta, virando a cabeça quando chegaram a uma bifurcação no corredor e espiando se não vinha ninguém. A barra estava limpa.
 Ela não culpava Renesmee por desconfiar de suas palavras após conta-las quando se encontraram na entrada da escola, onde a híbrida estava prestes a sair à sua procura; até ela mesma achava uma loucura uma criança autista de sete anos ter respostas que mais de uma dúzia de adultos, entre eles vampiros, lobos e humanos, não tiveram. Mas era a pura verdade, então ela tinha que acreditar. Ponto.

 

 

— Sei que parece loucura, mas é verdade — Brooke optou pelo lado direito da bifurcação, onde sabia que dava para a sala de informática. Ela girou a cabeça, olhando de esguelha para a ruiva. — Se não fosse, não estaríamos bancando as panteras cor de rosa, acredite.

 

 

A Cullen estreitou os olhos, disfarçando a risadinha.

 

 

— Tudo bem. Eu já estou nessa, de qualquer forma — falou. — Aquela é a sala de informática.

 

 

Renesmee apontou para uma porta há cinco metros de distância. Brooke assentiu e gesticulou com as mãos para que a seguissem e foi na frente.
 A sala da coordenação ficava no final do corredor, e as duas deveriam estar naquele momento dentro da sala de aula, o que queria dizer que muito provavelmente poderiam ser pegas se não fossem cuidadosas. Ou se fossem, até.
Com isso em mente, as duas se apressaram — e apressaram Lucy — silenciosamente até pararem de frente à porta da sala de informática. Brooke levou a mão até a maçaneta, a rodando suavemente.

 

 

— Está trancada! — ela sussurrou, grunhindo em seguida.

 

A híbrida a cutucou no ombro.

 

— Deixe-me tentar — pediu. Brooke se afastou, embora não achasse que havia muito o que fazer. Então observou, com o queixo caindo, Nessie envolver a maçaneta com a mão pálida e gira-la para a direita com mais força do que aparentou. Um cleck soou, e em seguida a porta se abriu. — Oh, aí está.

 

 

A ruiva puxou a mão, e a maçaneta prateada reluziu embaixo das lâmpadas no corredor.

 

 

— Você arrancou a maçaneta da porta — engasgou-se Brooke, olhando assombrada para a mão da amiga. Aquilo não era muito discreto para a ocasião. Renesmee sorriu envergonhada. — Vamos tentar ser rápidas.

 

 

E assim, as três entraram na sala, encostando a porta — sem maçaneta agora — ao passarem.
O motivo daquela sala ficar trancada ficou óbvio: haviam computadores arrumados em fileiras, em cima de mesinhas. Cadeiras giratórias e impressoras. As únicas pessoas que iam ali era os alunos matriculados nas atividades extracurriculares, como a informática, e o pessoal da limpeza.
E naquele exato momento, elas.

 


— Vou ficar vigiando. Vá ver o que encontra — disse Renesmee, entreabrindo a porta e espiando para o lado de fora.

 

Brooke assentiu.

 

— Vamos, Lucy. Cuidado para não tocar em nada.

 

 

A menina piscou os cílios, seguindo a Evern até um dos computadores.
 Brooke ignorou a cadeira giratória e apertou o botão em cima do gabinete, ligando o computador. Enquanto a tela do monitor se acendia, ela mordiscou os lábios, lançando um breve olhar para Renesmee, que espiava o lado de fora com um olho aberto e outro fechado. Lucy se mantinha quieta, olhando para suas sapatilhas roxas.
 Com as mãos molhadas de suor, Brooke viu a iniciação do computador chegar ao fim e café apressou a abrir a barra de pesquisas no google.

 

 

— Vai mais rápido com isso! A coordenadora está vindo! — Ouviu a voz da ruiva dizer, aflita.

 

— Tô tentando! — Brooke assoprou uma mecha de cabelo que caiu em seu rosto.

 

 

Com o nervosismo começando a revirar seu estômago e o medo de serem pegas a fazendo gelar, ela estreitou os olhos em pequenas fendas e tocou o teclado, os dedos provocando ruídos ao baterem freneticamente contra as teclas.
Digitou as palavras que havia descoberto e decorado, seguidas das siglas infernais. E então movimentou o mouse até a lupa no canto inferior do monitor, buscando.

 


— Brooke... — O tom de Renesmee era urgente.

 

Passos ecoaram pelo corredor, fora daquela sala.

A morena prendeu a respiração, apertando o mouse enquanto observava o círculo da conexão da internet girar mais lento do que deveria.
Maldito wi-fi de escola!
A tela do computador ficou branca. Um segundo depois, as informações surgiram. Os olhos ávidos de Brooke percorreram todo o monitor, lendo tudo o que via, até encontrar o que procurava.
Segundo o google, Birosburn, Seattle — 199, era um endereço. As suspeitas da morena estavam corretas. No entanto, era um endereço que correspondia a um clube noturno com o nome S.D.S.
 Um clube noturno! Isso explicava a falta de roupas em seu sonho, embora não explicasse quando iria acontecer aquilo — assumindo se realmente iria acontecer.
Ela balançou a cabeça quando os passos ficaram mais audíveis.

 

 

— Apague as luzes — sussurrou Brooke, levantando o polegar para a híbrida e desligando rapidamente o computador que demorou menos do que o esperado a se apagar. — Por favor, não tenho medo, Lucy. É rapidinho.

 

 

Novamente, Lucy bateu os cílios como se entendesse e concordasse.
Renesmee obedeceu, se afastou da porta e procurou o interruptor da sala, desligando as luzes e fazendo todas mergulharam em escuridão.
 As três se mantiveram em silêncio enquanto o som dos saltos da coordenadora batendo contra o piso, ecoava do lado de fora. Quando chegou perto da sala de informática, ela parou, mas logo em seguida os saltos voltaram a ecoar até que o barulho se afastou.

 

 

— Ela já foi — suspirou Renesmee aliviada, voltando a acender as luzes. — Essa foi por pouco.

 

 

Brooke a encarou, notando a palidez gritante tomando conta do rosto da ruiva. Quase não conseguiu controlar a gargalhada.

 

— Humhum — murmurou, se afastando da fileira de computadores. Lucy ainda olhava atentamente para suas sapatilhas. — Vamos logo dar o fora daqui antes que a coordenadora volte.

 

 


As três saíram para o corredor silenciosamente, encostando a porta sem maçaneta o mais normalmente possível. Alguém com certeza perceberia o estrago, e então a confusão estaria feita. Mas até lá, tinham algum tempo para escaparem ou procurarem uma solução.

 

 

— Você conseguiu? — perguntou Renesmee, após respirarem aliviadas.

 

— Aham. — Brooke olhou para os dois lados do corredor. — Acha que ela vai voltar?

 

— Sim. Daqui há dez minutos, pelo que escutei.

 

 

A morena assentiu, começando a caminhar a passos ligeiros na direção por onde vieram. Não demorou muito para escutar os da Cullen e os de Lucy também.

 

 

— Então o que faremos agora?

 

Brooke girou a cabeça para olha-la.

 

— Não sei você, mas eu irei atrás dessa pista, Nessie. É longe, talvez arriscado, talvez perigoso, mas eu vou — ela parou de caminhar. — Não vou pedir que venha comigo, mas vai ter que manter segredo até eu conseguir chegar em Seattle.

 

 

A ruiva também parou de caminhar, encarando a outra seriamente. Inclinado a cabeça para o lado, estreitou os olhos para logo depois abrir um largo sorriso travesso e determinado, que fez Brooke balançar a cabeça:

 

 

— Quando partimos?

 

 

***

 

 

Birosburn era um pequeno bairro de Seattle, muito fedorento e muito perigoso.
As duas garotas descobriram isso assim que saíram do taxi e olharam ao redor. As ruas eram cobertas por bolsas espalhadas de lixo aqui e ali, haviam muitos becos, pedaços de tábuas e madeiras de outro tipo ladeavam as calçadas, os muros da casas pichados com citações indecifráveis lembravam muito os códigos de gangues, o fedor do entulho de lixo e de esgoto que escorria livre pela pista, ardia nas narinas de qualquer um.
Renesmee choramingou.

 

 


— Onde a gente foi se meter, Broo? — questionou, tapando o nariz com uma mão enquanto abraçava o tronco com a outra.

 

 

Brooke a lançou um olhar compreensivo. Entendia que aquela não era uma realidade ao qual a híbrida estava acostumada — claramente que não —, mas ela sim estava. As pichações nos muros, os becos, entre as outras coisas. No passado estivera em lugares parecidos como aqueles, mas era uma época que preferia esquecer e aquele momento não era oportuno para lembranças desagradáveis.

 

 

— É um pouco tarde pra dá para trás. Mas se você quiser, pode me esperar aqui — ela abriu um pequeno sorriso reconfortante para a amiga. — É a sua última chance, querida.

 

Renesmee negou.

 

— Não. Está... está tudo bem.

 

 

Brooke riu, enlaçando o braço da ruiva com o seu. Assim, as duas começaram a caminhar em frente, buscando pela residência com o número 199.
 Se dissesse que não estava nervosa e tão hesitante quanto a híbrida, estaria mentindo. Porque estava, muito.
 Após decidirem ir à Seattle ainda naquele dia, foram até a secretaria e deixaram Lucy aos cuidados da secretária de idade, que por mais desconfiada que tivesse ficado, não fez nenhuma pergunta e prometera ligar para o sr. e sra. Young. Depois de se certificar que a menina ficaria bem, Renesmee e Brooke tomaram cuidado ao sair da escola, evitando as salas do terceiro ano, onde Edward e seu dom da leitura de mente estava e Alice e suas visões também estava. Então elas agiram rápido e cautelosamente, antes que fossem pegas por algum funcionário da escola e fugiram pelo lado de trás do prédio, onde tiveram que escalar o muro. A partir daí, a fuga se tornou mais fácil e tudo que tiveram que fazer foi correr até o quarteirão seguinte e esperar o táxi que inteligentemente, Renesmee havia chamado.

E agora ali estavam elas: em um bairro desconhecido, procurando um local desconhecido, provavelmente com pessoas desconhecidas.
 Talvez devêssemos ter pensado no plano com mais calma, pensou Brooke, enquanto viravam a esquina e desviava da carcaça do que provavelmente foi um rato no chão. Ela logo balançou a cabeça, rebatendo o pensamento. Não havia tempo para arrependimentos. Estavam ali agora, e como dissera, era tarde demais pra dá para trás.

 

 

— Da próxima vez — Ouviu a voz de Renesmee ao seu lado. — A gente pensa com mais calma.

 

— Não vai ter próxima vez — retrucou Brooke. Pelo menos ela esperava que não. — E pare de ler meus pensamentos! Você parece seu pai.

 

— Oh, desculpa. Mas eu meio que n... Ali está! Olhe! — A ruiva se interrompeu, arregalando os olhos ao apontar para algo além da morena.

 

 

Virando-se para olhar na direção em que Renesmee apontava, Brooke encontrou uma construção verde musgo a alguns metros em frente, que àquela distância, lhe parecia familiar. Estreitando os olhos pela claridade do dia, ela virou a cabeça enquanto ia em direção à construção, e seus olhos relancearam uma placa enferrujada em um poste, com o nome do bairro e os números 199 rabiscados.
Um arrepio percorreu por sua coluna.
Quando percebeu, estava diante da construção, a analisando. Parecia um armazém, como achara que fosse em seu sonho. Mas agora olhando bem, o letreiro com grandes letras néon que formavam as siglas S.D.S., realmente parecia com o que clubes noturnos costumavam usar. E tirando isso, nada mais evidenciava o que aquele lugar era.
 A testa de Brooke se encrespou, grandes vincos aparecendo. Aquele era e não era o seu sonho acontecendo. Estava no lugar certo, de frente para a construção fechada, mas as coisas não estavam acontecendo cono deveriam acontecer. Suas pernas não estavam pregadas no chão, a impossibilitado de mover, não havia aquela voz que a dera calafrios em seu sono sussurrando os números em seus ouvidos, e — graças a deus — ela não estava só com a roupa de baixo naquela calçada.
Seus sonhos nunca se realizavam com a mesma reprodução exata, isso era certo. Mas então, por que ela achava que algo estava errado ali? Como se... como se não fosse o momento certo?
A morena tinha aquela sensação.

 


— O que foi? Você parece confusa — O rosto preocupado de Renesmee entrou em seu campo de visão.

 

 

Brooke abriu a boca para responder, mas antes que pudesse fazer isso, um barulho a chamou atenção. Um barulho de passos pesados. Trocando um olhar alerta com a híbrida, ela se virou e observou as figuras de três homens saírem de um dos becos pela esquerda.

Usavam calças rasgadas, brincos nas orelhas, tatuagens nos braços, muitas delas. Mas uma em especial, que a morena viu enquanto se aproximava lentamente, a chamou atenção. E a paralisou.

 

 

— B-brooke? Esses caras... eles estão vindo em nossa direção! — O tom de voz baixo e amedrontado da ruiva chegou aos seus ouvidos, mas ela não conseguiu elaborar uma resposta. Muito menos olha-la ou se mover.

 

 

Brooke estava ocupada observando aqueles três homens se aproximarem como fantasmas. Fantasmas do passado que voltavam para assombra-la.
 Ela acompanhou petrificada, quando os três pararam há uma distância de cinco metros, as encarando dos pés as cabeças. Isso a deu tempo para analisa-los. O da direita era baixo, com uma barriga proeminente, embora não aparentasse mais do que vinte anos. O da esquerda era o oposto, apenas com problemas capilares e algumas cicatrizes no rosto. Mas foi o terceiro que ela dedicou mais tempo em sua análise, pois foi ele quem ela reconheceu de imediato. Mesmo com os anos passados, ele ainda era o mesmo: alto, mas magricela com alguns músculos nos braços. O cabelo louro longo demais, a sobrancelha raspada, o piercing no canto da boca, o nariz torto, os asquerosos olhos azuis maliciosos e, infelizmente, a mesma personalidade desagradável.
 Brooke deve ter expressado todo seu descontentamento em revê-lo, pois viu quando os lábios dele se esticaram em um sorriso cínico.

 

 

— Ora, ora, ora... Olhe só quem resolveu aparecer! Brooke Evern.

 

— Noah Collins — Saudou Brooke, sem emoção. — O que está fazendo aqui?

 

 

O sorriso de Noah se ampliou e ele colocou as mãos dentro da jaqueta jeans que vestia. Seus olhos cintilavam em divertimento e algo mais que Brooke não conseguiu identificar.

 

 

— Acho que deveria ser eu a fazer essa pergunta, amor — ele piscou um olho. — Mas, em nome dos velhos tempos, vou responder sua pergunta. Estou explorando a área, você sabe, Luke gosta de expandir os negócios. Aqui é um bom lugar. — Os olhos azuis desbotados se estreitaram. — Mas e você, o que está fazendo aqui? Não me diga que reside, pois seria uma tremenda coincidência.

 

 

O corpo de Brooke se retesou. Ela queria puxar Renesmee pelo braço e sair correndo dali, fugir de Noah antes que a conversa tomasse uma direção cujo ela sabia que tomaria.
Foi por isso que ergueu o queixo, trincando o maxilar e olhando o mais calma possível para Noah.

 

 

— Não, eu não moro aqui. Vim apenas visitar uma amiga, mas ela não está em casa — respondeu firmemente. — Agora, se me der licença, acho melhor ir embora...

 

— Opa, calminha aí, amor! — Noah entrou em sua frente, barrando seu caminho. — Faz muito tempo que não nos vemos, por que não conversamos um pouquinho mais, hum? — Então seus olhos se moveram até Renesmee, encolhida atrás de si. — E você pode me apresentar a gracinha da sua amiga — acrescentou, mordendo o lábio.

 

Brooke revirou os olhos.

 

— Vocês... se conhecem? — perguntou Renesmee, buscando a mão da morena e a apertando. Usando seu dom, completou: — Não gosto dele.

 

 

Você não é a única, pensou Brooke, amarga.

 

 

— Nós somos amigos, gracinha. Velhos amigos — disse o louro, antes que a garota pudesse responder. A verdade.— Lembro-me de termos compartilhado momentos muitos felizes e satisfatórios no passado. Conheci Brooke quando ela gostava de colorir os cabelos e causar destruição a tud...

 

— Como vai o seu nariz, Noah? — Brooke o interrompeu abruptamente, o olhando mortalmente.

 

 

Uma faísca brilhou nos olhos azuis, mas ele abriu um sorriso cheio de dentes pontiagudos.

 

 

— Ah, ele vai bem. Depois da cirurgia, eu quase me esqueci da imagem do seu punho indo contra ele — respondeu, desfazendo o sorriso.

 

O que surgiu no rosto da morena, no entanto, foi difícil apagar.

 

— Ótimo, fico muito feliz por você. Mas tenho um compromisso agora, então se puder sair do caminho junto com seus amigos, eu o agradeceria — disse Brooke, erguendo a sobrancelha.

 

 

Porém, a risada zombeteira e ácida que escutou, a fez perceber que aquilo não iria acontecer.

 

 

— É uma pena, mas acho que isso não vai ser possível, amor — O tom baixo de Noah, somado a expressão sombria que apareceu em eu rosto, fez o alerta de perigo dentro da Evern disparar. — Ainda temos assuntos a tratar.

 

 

Brooke respirou fundo. Ela olhou para os dois homens ladeando o louro e viu que eles observavam a cena atentamente, retorcendo os dedos enormes. Engolindo em seco, ela apertou os lábios até eles formarem uma fina linha branca.
 Conseguia sentir o perigo em que estavam, a gravidade da situação e agora percebia o quanto fora imprudente ao ir até ali sem pensar e arrastar Renesmee junto. Esperava encontrar os vampiros de espécie diferente, mas ao invés disso, dera de cara com seu passado, ou pelo menos uma parte dele. A parte mais asquerosa. Agora tinha que arrumar um solução e tirar as duas daquela situação antes que a personalidade psicopata de seu velho amigo desse as caras.

Assim que eu der o sinal, corra!, Brooke repetiu o pensamento duas vezes e rezou para que a híbrida entendesse a mensagem e não fizesse perguntas.
Colocando fé naquilo, ela se concentrou em Noah e tentou parecer tranquila quando replicou:

 

 

— Eu resolvi meus assuntos com Luke, dois anos atrás quando deixei vocês.

 

— Eu sei disso. Mas, como você mesma disse, com Luke. Eu não sou o Luke, e tá na hora de você perceber isso — trovejou ele, tirando as mãos dos bolsos da jaqueta e se inclinando para frente.

 

Brooke deu um passo para trás.

 

— O Luke não vai gostar disso.

 

— Ah, eu sei que não. Mas o que o Luke não ver, o Luke não sabe — escarneceu Noah, virando a cabeça para trás. — Não é mesmo, rapa...

 

— Corre! — gritou Brooke.

 

 

Ela puxou uma lufada de ar generosa antes de puxar Renesmee pela mão e começar a correr em disparada pela direita, indo em direção a única saída de escapatória: um dos becos do bairro, que ela torcia para não ser sem saída.

 

 

— Inferno! Peguem elas! — Ouviu Noah berrar quando já estavam longe o bastante, mas não o suficiente.

 

 

Elas aumentaram a velocidade, os tênis derrapando no asfalto molhado de esgoto.
Brooke ainda derrubou umas quatro latas de lixo cheias que encontrou no caminho, para atrasar seus perseguidores.

 

 

— Por que a gente está fugindo? Por que o seu amigo está nos perseguindo? Por que ele parece estar com raiva de você? — Renesmee desatou a fazer perguntas assim que entraram no beco e soltaram as mãos, olhando para trás assustada.

 

— É uma longa história... — murmurou Brooke, sentindo o coração martelar em seus ouvidos. Uma olhada para trás e ela viu o rosto colérico de Noah se aproximando junto com os comparsas. Ela voltou a olhar para frente, perturbada. — Mas resumindo: ele não é meu amigo. Eu quebrei o nariz e o orgulho dele. Também o rejeitei diversas vezes. E ele também é meio psicopata. Então, corra mais rápido!

 

 

A ruiva choramingou.
Brooke soltou uma enxurrada de palavrões. Empurrou as mechas de cabelo que caiam em seu rosto para trás. Felizmente, o beco não era sem saída e logo, elas alcançaram o fim dele, que as levou para um ferro velho deserto e cercado por cercas de arame, o que era ainda pior.
Com o coração quase saindo pela boca e o desespero começando a crescer, Brooke olhou para todos os lados, no encontrando nada mais do que carros quebrados, pneus furados e várias outras peças metálicas sem utilidade. Nenhuma porta. Nenhum buraco na cerca. Nenhuma arma. Nada que pudessem se defender.
Mas pensou ter visto um vulto preto, assim como a aba de um chapéu desaparecendo entre uma fileira de carros quebrados.
Ela apertou os olhos.

 

 

— Oh, não! Não há saída! O que faremos agora?

 

— Acha que consegue lutar contra eles? — A Evern olhou vorazmente para a Cullen. — Você tem super força, não tem? É parte vampira.

 

A híbrida balançou a cabeça, os olhos arregalados.

 

— N-nunca lutei contra n-ninguém.

 

 

Brooke enterrou os dentes no lábio inferior, sentindo o desespero crescer e borbulhar em seu estômago enquanto as duas se encaravam em busca de uma solução.
 Infelizmente, antes que a encontrassem, o som de passos ecoou pelo ferro velho deserto e cinco segundos depois, as figuras ameaçadoras de Noah e dos outros dois homens surgiram pelo beco.
As garotas recuaram o quanto puderam, até sentirem as costas baterem contra a cerca.

 

 

— Fugir é o seu hobbie favorito, não é, amor? — rosnou Noah, enfurecido. A vermelhidão em seu rosto e a mandíbula contraída evidenciava isso enquanto ele se aproximava como um predador prestes a dar o bote. — Mas vou dar um jeito nisso, não se preocupe. Você nunca mais vai fugir depois que eu colocar minhas mãos em você.

 

 

Brooke viu o exato momento em que os outros dois caras avançaram na direção de Renesmee. Uma fúria silenciosa a preencheu, junto com o instinto de proteção, e quando percebeu, estava empurrando a amiga e ocupando seu lugar, de modo que foi a ela quem os homens pegaram ao atacar.

 

 

— Corra, Renesmee! — gritou, enquanto sentia as mãos a apertarem o tronco e os braços.

 

 

Agarrada a cerca e recuperando o equilíbrio pelo empurrão recebido, a híbrida olhou apavorada e incerta para a cena.

 

 

— Soltem-na, seus idiotas! — A voz de Noah reverberou pelo ferro velho. No instante seguida, Brooke se viu livre do pares de mãos que a prendiam, mas tão logo respirou aliviada, sentiu outras a segurarem, dessa vez mais firme e uma respiração pesada soprou em seu pescoço. — Ela é minha.

 

 

A morena quis vomitar com o toque dele, mas se concentrou em tentar se soltar e começou a se sacudir, a retesar o corpo, mas apenas conseguiu ser segurada com mais força.

 

 

— É melhor ficar quietinha, amor. Quem sabe assim eu faça os rapazes serem gentis com sua amiga — Noah soltou uma risada enjoativa em seu ouvido. — Peguem a ruiva.

 

Brooke arfou.

 

— Não! Não! Deixem- na ir! Você já me têm, então solte-a!

 

— Bem, isso é verdade. Mas se eu não deixar meus amigos se divertirem, eles ficarão chatea... Porra!

 

 

Brooke não conseguia enxergar mais nada no momento; o cabelo lhe caia pelo rosto, tampando sua visão. Mas ela foi capaz de ouvir claramente os sons de pancadaria e os gritos e gemidos de dor. Ela ficou imóvel.
 Será que Renesmee perdeu o medo e está dando uma surra naqueles dois?, se perguntou, se enchendo de esperanças.
Porém, não era Renesmee quem estava dando uma surra em alguém.

 

 

— Isso não são maneiras de tratar uma mulher, e desconfio seriamente que essa não seja a maneira de segurar uma — Era Alec Volturi.

 

 

O coração de Brooke disparou, quase saindo do peito, para depois afundar em alívio. Era Alec. Aquele tom de voz calmo, neutro, mas grave e potente, capaz de penetrar em qualquer superfície, por mais sólida que fosse, era dele. E ela nunca pensou que ficaria tão feliz em vê-lo, como estava naquele momento. Ou ouvir, como era mais correto. O cabelo ainda atrapalhava sua visão.
No entanto, o alívio durou pouco. Ela sentiu quando os braços de Noah, enrolados em torno de si, enrijeceram. E quando ele deslizou a ponta de uma faca por seu pescoço, encostando o metal frio em sua jugular.
Ela ficou rígida.

 

— Parece que você fez amigos novos nesse tempo sozinha, amor — falou Noah, a puxando pelos cabelos até ficar com o rosto direcionado para o céu. Seu pescoço estalou. — Amigos estranhos. Aberrações, ouso dizer.

 

 

Brooke quis se livrar de suas garras e esbofeteá-lo com toda sua força. E não entendeu o que ele quis dizer com amigos, no plural.

 

— São melhores do que você era — ela se ouviu escarnecer.

 

Como resposta, ganhou um puxão de cabelo que a fez ver estrelas no céu claro.

 

— Você nunca teve noção do perigo ou medo da morte — Noah gargalhou. Uma gargalhada debochada. — É por isso que sempre a considerei estúpida.

 

— Sinto interromper a conversa de vocês, mas tenho assuntos a resolver com ela. Então é melhor a soltar enquanto estou pedindo educadamente — A voz de Alec voltou a soar, dessa vez, mais baixa e mais grave, o que a tornava ameaçadora.

 

 

Brooke não podia ver, mas sabia que o Collins encarava o Volturi, arrogantemente, tinha certeza.

 

 

— Parece que muitas pessoas têm assuntos pendentes com a Brooke — estalando a língua, Noah deslizou a ponta da faca por sua pele. — Isso é natural dela, um de seus encantos. Mas tenho certeza que ela não contou de seu passado, de onde veio, quem ela era. Se tivesse contado, você não estaria aqui agora, a querendo de volta, se importando o suficiente para implorar que eu não a mate.

 

— Eu não imploro nada para ninguém
— respondeu Alec. — E não me importo com ela. É meu trabalho mantê-la segura, e você está o dificultando.

 

 


Toda a alegria, todo o alívio ao ver o Volturi e saber que ele estava ali, evaporaram assim que Brooke escutou aquelas palavras. Ele não estava ali para salva-la porque queria, e sim porque era seu trabalho. É claro. Ela era uma prisioneira fugitiva. Deveria saber daquilo.
Mas não sabia. E por alguma razão, algo se abalou dentro dela, algo que fez seu peito apertar e sua garganta apertar.

 

 

— Meio insensível da sua parte, meu chapa — Noah voltou a rir. — E o que você me diz, Brooke? Também o acha insensível? Esse cara pálido é sempre assim? Ele é o seu namorado? Hum... acho que não. Ele parece muita coisa pra você. Assim como você sempre disse que era muita coisa para mim. Como era mesmo que Luke a chamava? Ah, sim. Lembrei. A rainha.

 

— Cala a boca — comandou Brooke, em uma voz trêmula que não parecia ser sua.

 

 

Tinha que sair dali. De repente, queria chorar. Queria bater em alguma coisa. Queria libertar toda a raiva que vinha retendo dentro de si desde que Amália morrera. Desde que deixara sua mãe ir. Desde que entrara de cabeça no mundo sobrenatural. Desde que Penny morrera. Queria calar o louro que a segurava antes que ele expusesse mais de seu passado sombrio. Queria mostrar para Alec que não precisava ser salva, que não precisava dele.
 Ela inspirou fundo, lembrando de todas as sessões que tinha tido na aula de defesa pessoal quando mais nova.

 

 

— A rainha da gangue — Zombou Noah, a estreitando em seus braços, suas mãos ásperas deslizando para o traseiro da morena. — Você gostava desse título não é? Gostava que todos se curvassem diante de você e a adorassem como adoravam. Mas você nunca foi tudo isso, Brooke. Você foi, é e sempre será uma vagabu...

 

 

Com um silvo furioso do fundo da garganta, Brooke levantou um braço e levou a mão até o pescoço, pressionando a faca em sua própria pele. A ponta afiada do metal afundou em sua carne e ela segurou o grito.
 Como havia pensado, Noah se assustou, abriu os braços, dando um passo para trás, e ela aproveitou para cravar os dentes em uma de suas mãos, sentindo o gosto de sangue invadir sua boca. Projetou o cotovelo e o acertou nas costelas.
Ele gritou, e Brooke girou para trás, o joelho levantado, e o acertou nas partes baixas.
Noah cambaleou para o lado, caindo de joelhos no chão de terra, a mão ensanguentada pela mordida, pendendo no colo.

 

 

— Da próxima vez que colocar as mãos em mim, vai ficar sem elas — grunhiu ela, tirando o cabelo do rosto e olhando ferozmente para o louro.

 

— Vadia! — Noah urrou.

 

 

Brooke abriu um sorriso cínico, se aproximando dele, que a encarava cheio de ódio. Ela viu o exato momento em que os olhos azuis do louro se fixaram na faca caída alguns metros adiante, e quando ele se atirou para frente para pega-la, ela foi mais rápida e esticou a perna, pisando em cima da mão boa que alcançara a faca.
Noah berrou.

 

 

— Uma vadia que você deseja — Brooke se inclinou e o pegou pelo cabelo, o puxando para trás, como ele fizera com ela antes. Levantando o pé, deixou que ele recolhesse a mão. — mas que nunca terá. Quer relembrar o passado, Noah? Ok, vamos relembrar. Sim, eu era uma rainha. E todos me adoravam. Posso ter abandonado aquela vida, posso ter sumido do mapa e ter resolvido mudar, mas quando se é rainha, não importa o que aconteça, isso nunca irá mudar. Assim como ser um verme — ela elevou o rosto com o dele. — E esse é você.

 

— Luke nunca deveria ter deixado você sair viva — cuspiu Noah, e gemeu ao ter o coro cabeludo puxado.

 

— Mas ele deixou. E você vai enviar uma mensagem a ele — disse Brooke. — Diga a Luke que eu voltei. Não irei mais me esconder e se ele me quiser, ele que venha me encontrar.

 

 

A risada mal-humorada de Noah a fez arquear a sobrancelha.

 

 

— É mesmo? E por que você acha que eu darei o recado?

 

— Porque é a única forma de você sair daqui vivo. Ou inteiro — Brooke mirou as partes baixas atingidas dele, que ele escondeu rapidamente se encolhendo. — É melhor correr enquanto pode, Noah. E correr muito. Porque da próxima vez que você aparecer na minha frente, eu o mandarei para o inferno. E, ah. Esta é a minha cidade, agora. Diga isso ao Luke também. Ele será inteligente se ficar longe — ela o soltou. — Você tem dez segundos para desaparecer da minha frente.

O desafio chispou nos olhos azuis injetados.

 

 

— Você não está falando sério.

 

— Nove segundos agora. Oito, sete...

 

 

Rosnando, Noah se equilibrou nos joelhos e fez duas tentativas em se erguer antes de conseguir. Com a mão sangrando apoiada no peito e uma careta de dor mesclada a raiva e a humilhação no rosto, ele olhou para a morena.

 

 

— Isso não vai ficar assim — Prometeu.

 

— Ah, vai sim. E você sabe disso — Brooke ergueu o queixo e empinou o nariz. — Adeus, Noah.

 

 

Batendo os dentes e lançando um último olhar para algo além dela, o fantasma de seu passado virou as costas, andando em direção ao beco, meio curvado, meio mancando.
 A morena respirou aliviada enquanto o via se afastar, a adrenalina passando aos poucos, e só quando o viu desaparecer beco a dentro, foi que se virou para trás, lembrando que tinha plateia. Primeiro viu os corpos dos dois homens que tentaram pegar Renesmee, estirados ao lado de um carro quase totalmente desmontados. Vivou ou mortos, ela não sabia dizer. Depois, viu as duas silhuetas masculinas em pé, e entendeu o motivo de Noah ter usado o plural assim que viu Emmet e Edward, o último com uma expressão descontente enquanto abraçava a filha. Renesmee retribuía o abraço, o rosto enterrado no peito do pai, como se não o visse há anos.
 Brooke desviou os olhos da cena, incomodada, querendo dar um pouco de privacidade para o momento família dos dois. Como consequência, seus olhos encontraram os de carmesins de Alec, que mesmo ele tentando esconder, a fitavam surpreso e aborrecido.

Ah, sim. Isso mesmo. Fique surpreendido. Não preciso de você para nada.

Satisfeita com o pensamento, ela se aproximou, enfiando as mãos nos bolsos da frente da calça jeans. Parou de frente a ele, os ombros alinhados, o queixo erguido.

 

 

— Para quem estava pedindo por aulas de luta, você se saiu muito bem há poucos minutos — pronunciou Alec, soando desinteressado. Mas Brooke viu seus olhos, que começavam a ficarem pretos, percorrem seu rosto, seus braços, seu corpo. E isso a confundiu.

 

 

— Há muito tipos de monstros nesse mundo. Consigo lidar com o tipo que Noah é, já os que são como você, não — respondeu, indiferente. — E claro, eu sei me defender sozinha. Uma garota na minha posição não pode esperar pelo regaste para sempre, não é?

 


— Claramente — A frieza era palpável em seu tom de voz. — Você não deveria ter deixado seu amigo ir. Ainda mais quando ele viu o que fizemos com os outros dois ali.

 

Alec a fitou de maneira repressora.
Brooke ajeitou a postura.

 

— Ele não é meu amigo. E acredite, ele não falará nada para ninguém. Deve estar assustado — ela ergueu o queixo. — Além do mais, ele é assunto meu. Eu decido se o deixo ir ou não, pois foi eu quem o deu uma lição.

 

 

Algo chispou no olhar do Volturi enquanto ele tencionava a mandíbula.
A Evern esperou pela resposta agressiva, mas ela nunca veio. Ao invés disso, ele apontou:

 

 

— Você está sangrando.

 

Levando a mão ao pescoço, onde provavelmente vinha o sangramento, Brooke sentiu um líquido quente e viscoso nas pontas de seus dedos.

 

— Parece que estou — murmurou ela, pressionando a mão no local e erguendo os olhos para o vampiro. — Acho que a culpa é minha.

 

O Volturi abriu um meio sorriso inesperado, mas antes que pudesse contestar alguma coisa, outra voz ressou. Uma voz bastante brava:

 

 

— E não é só isso que é sua culpa! — esbravejou Edward, a fuzilando com os olhos, o topete balançando enquanto falava. — Vocês duas poderiam estar mortas, agora! Ou algo bem pior poderia ter acontecido. Que ideia foi essa de fugirem da escola e virem até aqui sozinhas?

 

— Pai! — Renesmee o repreendeu, se afastando dele, mas mantendo o abraço. — Brooke não me forçou a vir, eu que quis. Além do mais, ela me salvou — Então olhou para a morena, uma mescla de preocupação e vergonha no olhar. — Você está bem?

 

— Tirando o meu couro cabeludo dolorido, estou — Brooke sorriu para ela. — E você?

 

— Bem, também — A ruiva assentiu. Então comprimiu os lábios, a curiosidade florescendo em seu semblante. — Mas, Brooke... Quem é Luke?

 

 

Oh, sim. Lá estava o assunto que a morena não queria tocar, mas sabia que seria preciso assim que Noah Colins apareceu em sua frente, como uma assombração enviada para lhe torturar.
Soltando um pesado suspiro, ela murmurou:

 

 

— Luke é meu ex-namorado — Antes que a híbrida voltasse a abrir a boca, ela se apressou a completar: — e sim, eu fazia parte de uma gangue. Agora vamos esquecer esse assunto, por favor.

 

 

Os três vampiros e a híbrida ficaram em silêncio, a encarando de várias maneiras que Brooke achou pouco educado.
Por fim, o silêncio foi quebrado por uma salva de palmas incoerentes para a hora.

 

 


— Viram? Tá todo mundo bem. Então podemos esquecer o sermão e o castigo. E ah, você mandou ver, Brooke! Colocou aquele malandro no lugar — falou Emmet, dando uma piscadela.

 

As garotas riram.

 

— Isso não muda o fato que elas quebraram as regras — resmungou Edward. — Você está de castigo, Renesmee Carlie Cullen. Por tempo indeterminado.

 

— Pai!

 

 

Brooke se virou para Alec, a expressão petulante.

 

 

— Não podem me colocar de castigo também.

 

— Não, mas bem que você merecia — retrucou ele, a sobrancelha levantada em... diversão? Era muito difícil acompanhar as emoções do Volturi. — Pode me dizer por que fez isso?

 

— Eu disse que queria me envolver na investigação. Então, quando vocês não me deram ouvidos, comecei a agir por conta própria.

 

— Como foi que você fez isso? Como descobriu sobre o clube? — perguntou Alec, estreitando os olhos.— E não invente mentiras, porque eu sei que você veio até aqui por ele.

 

Brooke hesitou.

 

— Bem, a princípio eu não sabia — disse. — Mas, mesmo que pareça loucura, uma menina autista de sete anos me deu as pistas. A irmãzinha da Amália.

 

— Dizem que as pessoas autistas são capazes de ver coisas que deixamos passar. Uma criança então — refletiu o Volturi. — Ela te deu as pistas e você as juntou, o que a trouxe até este bairro que você não esperava encontrar aquele seu amigo. Estou certo?

 

— Sim. E Noah não é meu amigo — bufou Brooke. — E vocês, como chegaram aqui? Achei que também não soubessem do lugar.

 

 

A morena observou quando os olhos de Alec giraram dentro das órbitas.

 

 

— Carlisle falou com os contatos dele. Alguém conhecia o lugar e nos falou sobre ele. Parece que receber ajuda não é tão ruim assim, afinal — ele também bufou. — Eu estava vindo para cá quando recebi uma ligação de um Edward extremamente irritado.

 

 

Brooke sentiu o rosto corar, mas encolheu os ombros, tentando não parecer afetada pelo tom cínico quando resolveu perguntar:

 

 

— E você vai agora até lá? Ao clube? — ela o encarou com expectativa.

 

— Não agora — respondeu ele. — Mas tenho um plano.

 

— Eu...

 

— Vai querer participar — Alec a interrompeu, abaixando as sobrancelhas de maneira zangada. — Se eu não permitir isso, você não vai parar de se meter em problemas e confusão até me convencer do contrário, não é?

 

 

Exibindo o seu sorriso mais largo, Brooke assentiu.

 

— Pode ter certeza.

 

Ele suspirou.

 

— Você ganhou, mas só desta vez. Não tenho tempo para ficar correndo sempre que você se mete em perigo — Se empertigando, Alec a olhou intensamente. — Sendo assim, é melhor se preparar, Evern. Esta noite teremos uma missão.

 

— E qual é? — questionou Brooke, embora pudesse imaginar a reposta e a temesse.

 

 

Concretizando seus pensamentos, o Volturi sorriu. Diabolicamente.

 

 

— Esta noite iremos invadir aquele clube noturno.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Olá, amores! Como vocês estão?
Aqui estou eu, trazendo a segunda e última parte do capítulo vinte!
Eu tenho muita coisa para falar sobre ele, principalmente porque ele é um dos meus favoritos até agora, mas estou com muita pressa nesse momento. Então, vou resumir tudo bem rapidinho.
Vamos lá.

Eu realmente amo a Brooke. Ela é uma das minhas melhores personagens, modéstia à parte. Eu amo escrever a personalidade dela, ainda mais quando ela tem esses surtos de girl power!
E o que vimos hoje é só a ponta do iceberg!
E quem esperava que Lucy fosse alguém com papel importante na história? Porque ela é! Hehehe.
A inspiração para essa personagem veio do Jack, um menino autista da série Touch, que a propósito, eu recomendo.
Espero que tenham gostado da segunda parte.

O próximo capítulo estará pegando fogo!

Até o próximo capítulo...
Bjs! ❤



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