Eyes On Fire escrita por Brê Milk


Capítulo 22
Chapter 20: Querer é poder — Part I


Notas iniciais do capítulo

"Say you want a bad bitch, baby,
now you have it
Now you got the baddest,
show me you can handle this"

— Bebe Rexha feat. Ty Dolla $ign (Bad Bitch)





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— Broo, eles estão te esperando.

 

A voz de Gaz ecoou pelo quarto, e logo em seguida, sua cabeça surgiu pela porta, hesitante, enquanto seus olhos corriam pelo cômodo e se fixavam no canto inferior do quarto.
 

Parada diante ao espelho, Brooke deixou de encarar seu reflexo e desviou os olhos para o batente da porta, onde o Julions a encarava visivelmente nervoso. Ela balançou a cabeça, assentindo, e dirigiu um último olhar para a imagem que o espelho mostrava. O rosto inexpressivo, com olhos decididos acompanhados de olheiras e a boca comprimida em uma linha fina e dura, era tudo o que Brooke era naquele momento, junto com um turbilhão de sentimentos muito bem contidos por trás da fortaleza que voltara a erguer ao redor de seu coração nos últimos três dias, muito mais resistente, e da máscara de pedra e gelo que vestira para mascarar suas lágrimas e todos os sentimentos que expressasse em seus olhos.
 Ela deu as costas ao próprio reflexo, concentrando a atenção no amigo.

 

 

— Estou pronta — disse Brooke, sobriamente. Mas quando notou que Gaz a encarava com o cenho franzido, completou: — Algo errado?

 

 

O vampiro loiro coçou a nuca e balançou a cabeça, porém, continuou a encarando daquela forma. Então abriu a boca, voltou a fechar e abriu de novo. Por fim, ele soltou um pesado suspiro e adentrou o quarto, caminhando a passos pesados até parar de frente a morena, cruzando os braços.

 

 

— Você está... vestindo azul — Observou Gaz, fixando os olhos no suéter dela. Ele engoliu em seco antes de voltar a olha-la. — Pensei que tivesse que vestir preto... Hã, você sabe... a coisa do luto e tal.

 

Ela não se abalou.

 

— Já falamos sobre isso, Gaz — respondeu, o lançando um olhar de aviso.

 

Que ele ignorou.

 

— Eu sei, eu sei. A coisa do Só usa preto quem se permite ficar de luto e merece estar... eu sei. Mas estou seriamente preocupado com você, Brooke. Todos nós estamos...

 

— Todos?

 

— Bem, a maior parte de todos. Esqueça os Volturi, eles não contam. — Gaz agitou as mãos, fazendo uma careta. — O ponto é que eu estou preocupado. E não consigo aceitar o fato de você estar parecendo tão bem com a situação — Suspirou. E acrescentou: — Já fazem três dias desde o enterro.

 

 

Sim, Brooke sabia. Tinha consciência dos três dias passados. E o que aconteceram nesse período de tempo. Porém, não queria falar sobre os três dias. Nem no enterro. Nem no motivo de não ter ido ou o motivo de não estar usando preto. Já falara uma vez, e fora doloroso demais para ter uma segunda. Não permitiria que o assunto fosse tocado novamente, porque se fosse, os sentimentos que custara a controlar viriam à tona, e sua fortaleza se destruiria, a tornando fraca. E, considerando o que estava prestes a fazer, não poderia ser fraca. Nem naquele momento, nem amanhã, nem nunca mais.
Por isso, ela encarou o amigo enquanto se aproximava e parava em sua frente, pousando delicadamente as mãos em seus ombros.

 

 

— Estou prestes a comprar uma briga com os vampiros lá embaixo, Gaz. E falar de Amália agora não vai me ajudar em nada. Então por favor, não comece com isso novamente — disse Brooke, o encarando no fundos dos olhos. — Eu posso lidar com isso, Gaz.

 

— Isso não chega nem perto de um "Eu estou bem, Gaz" — ele bufou, cerrando os olhos. — Mas vou aceitar por hora. — Se inclinando, depositou um beijo terno na testa da morena, se afastando em seguida e completando: — Mesmo você sendo uma cabeça dura, saiba que estarei com você. Sempre.

 

 

Aquilo foi o suficiente para arrancar um mínimo sorriso de Brooke, que driblou a ardência na garganta e nos olhos, e não deixou que a onda de emoção a desestabilizasse.
Ela limpou a garganta.

 

— Vamos?

 

O Julions balançou a cabeça, a olhando desolado.

 

— Espero que saiba o que está fazendo, porque caso não tenha passado pela sua cabeça, o que você vai fazer é tipo uma revolução suicida.

 

— Eu sei o que estou fazendo — replicou Brooke, virando as costas.

 

— Então é hora do show.

 

 

Os dois acenaram um para o outro antes de se moverem até a porta do quarto e saírem para o corredor, caminhando lado a lado em silêncio.
 O enterro de Amália havia acontecido há três dias atrás, e Brooke não comparecera por escolha própria. Ninguém a impedira de ir; nem os Cullen, nem os Volturi. Ela apenas decidira que não era digna de ir ao velório de Amália Young, não quando era a culpada por ele. Tão pouco quisera saber os detalhes pelos jornais e reportagens na TV, que estava fervilhando de notícias e especulações sobre a volta dos assassinatos na cidade. Assim, se trancafiou dentro de sua casa durante aqueles três dias, sempre recebendo a visita de um Cullen, e após todas as lágrimas terem secado e ter tomado o controle de suas emoções, Brooke se ergueu e tomou uma decisão. Uma decisão que a levou de volta para a mansão, por onde trilhava o caminho do corredor do segundo andar, e a qual sabia que mudaria o rumo de tudo.
 Respirou fundo ao avistar o topo das escadas, e embora seu rosto estivesse impassível, suas mãos estavam encharcadas de suor e seu coração parecia um tambor.
 Você consegue, repetiu mentalmente enquanto se transformava em alguém diferente do que era. Alguém impenetrável, fria e estrategista. Alguém parecida com os que a esperava. E foi assim que Brooke se apresentou nas escadas: cabeça levantada, queixo empinado, ombros alinhados e expressão vazia. E assim que começou a descer os degraus, fixou os olhos nos rostos que a observaram lá embaixo.
Cullen e Volturi se levantavam, acompanhando seus movimentos, observando sua expressão e especulando com olhares entre si o que viria pela frente. Brooke quase dispensou um sorriso irônico à eles, mas se deteve e concentrou-se em chegar ao final das escadas. Quando por fim desceu o último degrau, caminhou até parar no centro da sala, na frente de todos. Gaz juntou-se a ela, parando ao seu lado.
Então Brooke encarou os vampiros, que a encararam de volta.

 

 

— Devem estar se perguntando porque convoquei essa reunião — disse Brooke, a voz firme e decidida, para seu grande alívio. Ela seguiu em frente. — Pretendo responder assim que todos estiverem presentes.

 

— Mas todos estão presentes, estúpida — retorquiu Jane, a lançando um olhar impaciente.

 

Brooke a dirigiu um olhar gelado.

 

— Na verdade, não — e como se fosse para enfatizar o que tinha acabado de dizer, o ronco do motor de uma moto adentrou a sala da mansão. — Aí estão eles.

 

 

Dois minutos depois, todos os pares de olhos no cômodo se fixaram na porta, que foi aberta e por onde Jacob Black e Seth Clearwater passaram, arrancando rosnados dos Volturi e olhares confusos dos Cullen.

 

— Sem querer ser grosseiro rapazes, mas quem os convidou? — Carlisle foi o primeiro a se manifestar, encarando os dois quileutes sem entender.

 

— Fui eu — respondeu Brooke, atraindo os olhares. Depois explicou.— Pedi que Renesmee entrasse em contato com eles, já que não tinha como eu mesma fazer isso, é claro.

 

Roendo a unha do dedão, Renesmee se encolheu ao lado de Bella.

 

— Quer explicar, Evern?

 

 

Brooke moveu a cabeça e fitou Alec, que a encarava duramente a espera de uma reposta. Ele não se parecia e não possuía o olhar gentil de três dias atrás, havia retornado ao estado habitual de frieza e indiferença. Mas ela também não era a mesma de três dias atrás, por isso não se importou com aquela mudança abrupta de tratamento, ou ao menos tentou não se importar.

Ela não expressou a fagulha de raiva e ressentimento que sentia por ele por ter se negado a ensina-la e sugerido que esquecesse a ideia. Tão pouco expressou o pouco de gratidão que percebeu nutrir por ele pelo mesmo dia que a rejeitou, e embora custasse aceitar, realmente tinha que ser grata ao Volturi. Não era qualquer um que faria o que ele fizera por ela no dia que Amália fora assassinada, e ela sabia disso. Quanto mais alguém como ele, sendo ele. De qualquer forma, Brooke não expôs nenhum daqueles sentimentos. Ela apenas devolveu o olhar que ele a lançava, uma mescla de dureza e frieza.

 

 

— É simples, Volturi. Eles estão aqui para ouvir o que eu tenho a falar, então sugiro que não cause problemas por isso — Brooke desviou os olhos. — Seth, Jacob, venham até aqui e acomodem-se. A reunião está prestes a começar.

 

Os dois lobos se entreolharam e encolhendo os ombros, se aproximaram, parando próximos ao braço de um dos sofás, no lado oposto da sala onde os vampiros estavam. Como ninguém se sentou, Brooke continuou de pé, pensando na melhor forma de começar com o assunto sem entregar seus pontos e estragar seu plano. Ao seu lado, sentiu Gaz a olhando pelo canto do olho, o que não diminuiu as voltas que seu estômago começava a dar.
 Ela inspirou e pousou os olhos em Edward, que a fitava com os olhos cerrados, como se estivesse tentando decifrar um código. Brooke não sabia se o escudo de Bella ainda estava protegendo sua mente, mas estando ou não, ela não se importou. Sabia as coisas que deveria pensar e as que deveria manter escondidas no canto mais obscuro de sua mente.
Respirando fundo, ela abriu a boca.

 

 

— Agora que estão todos aqui, posso falar livremente — Começou, passeando com os olhos por todos os rostos na sala. — Chamei-os aqui porque tomei uma decisão.

 

— Sobre o quê? — questionou Seth, rapidamente enquanto se inclinava para frente, curioso.

 

Jacob o puxou para trás pela orelha.

 

— Sobre mim. Sobre vocês. Sobre tudo. Principalmente sobre mim — As palavras saíram firmes da boca de Brooke, que aos poucos, foi sentindo a confiança lhe preenchendo. — Decidi que quero fazer parte disso.

 

— Disso o quê? — perguntou Emmet, a careta em seu rosto destoando das expressões sérias dos outros.

 

 

Esboçando um sorriso torto e sem humor, Brooke respondeu:

 

 

— Do mundo de vocês. Quero ajudar a encontrar o responsável pelas mortes na cidade, pelos vampiros recém-criados. Quero ser uma de vocês

 

Houve um longo minuto de silêncio.

 

— Você enlouqueceu por acaso?! — exclamou Jane, incrédula. — Uma criaturinha tosca como você fazer parte da gente? Nem vampira você é!

 

— Pelo que eu me lembre, vocês me deram a opção da transformação e eu aceitei. Apenas estou esperando ela acontecer.

 

 

Vagarosamente, Brooke desviou o olhar de Jane e o prendeu em seu irmão gêmeo.

 

 

— Você será transformada após as coisas serem resolvidas — Alec trincou a mandíbula. — Achei que tivéssemos discutido sobre isso.

 

— E eu achei que tivesse dito à você para não ficar no meu caminho se não for me ajudar — retrucou ela, o fuzilando com os olhos. — Mas ao que parece, os dois se enganaram.

 

 

Alguém abafou uma risada, provavelmente Seth ou Emmet, ou ambos. Os outros permaneceram calados, observando tensos o confronto silencioso que acontecia entre o Volturi e a Evern, que se fitavam de maneira intensa e faiscante. Nenhum desviou o olhar, como se estivessem em uma disputa. No entanto, era uma disputa sem vencedor, porque ambos não vacilariam, não se dariam por derrotados, e naquela troca de olhares fixados, raiva, escárnio e ódio levaram a melhor.
 Por fim, Alec movimentou a cabeça, em um movimento quase imperceptível, enquanto cruzava os braços sob o peito.

 

 

— Está fazendo isso pela sua amiga morta, não está? — Foi uma afirmação. O sorriso torto e sem humor deixou os lábios de Brooke, reaparecendo nos do Alec. — Não é pelas mortes, pela cidade ou por nenhum outro motivo. É pela morte de Amália e porque você quer vingança, Evern. Estou errado?

 

 

A morena fechou as mãos em punhos, os cerrando ao lado do corpo. Sentiu a pulsação acelerando no momento em que uma onda de calor provocada pela raiva inundava seu corpo com o assunto tocado. Soltou o ar entre os dentes, e com muito esforço, conseguiu controlar a explosão que queria eclodir de si, o que arruinaria sua fortaleza.
 Ela sentiu Gaz a encarando ao seu lado, com certeza preocupado, mas não considerou dizer-lhe que estava bem. Não, porque estava muito concentrada mantendo a máscara inexpressiva e, um segundo depois, avançando em passos pesados e firmes, até parar a poucos centímetros de distância em frente a Alec Volturi, que ergueu a sobrancelha com a aproximação inesperada.

 

 

— Você está, Volturi — Cuspiu Brooke, o olhando friamente. — Sim, eu posso querer vingança pela morte da minha amiga e estar fazendo isso por ela, mas diferente de você e do seu clã do mal de assassinos, não sou movida pelos meus próprios interesses. Quero pegar e acabar com o culpado não só pelas minhas razões, não só pelas suas ou pelas de qualquer um aqui nesta sala. Quero fazer isso porque mais nenhuma pessoa dessa cidade merece ser sacrificada para o que quer que seja o que está acontecendo. Chega de mortes. E se você pensa que conhece meus motivos, você está errado. Sei que me odeia e me quer morta, mas adivinhe... O sentimento é recíproco. Então vamos superar isso e trabalhar juntos já que temos a mesma causa em comum — ela inclinou a cabeça para o lado. — e, se ainda não ficou claro, você não sabe nada sobre mim, por isso nunca mais faça suposições sobre meus sentimentos ou minhas ações.

 

— Eu sempre soube que ela era das minhas — balbuciou Seth, interrompendo o silêncio que se formara.

 

 

Alec rosnou, os olhos injetados de cólera, mas não se moveu para estrangula-la. Ao contrário disso, se manteve sisudo.

 

 

— Se são só esses os seus ideais para lutar como uma de nós, o que a faz pensar que a aceitaríamos? — questionou ele, a olhando com desprezo.

 

Brooke encolheu os ombros.

 

— Porque acho que está na hora de todos aqui colocarem as cartas na mesa e pararem de esconder segredos importantes.

 

— E por que você acha que escondemos algo? Ou se tivermos, por que revelaríamos? — Indagou Demetri, ironicamente, a olhando por cima do ombro de Alec.

 

— Porque eu escondo. E está na hora de revelar esses segredos.

 

 

A atmosfera na sala ficou ainda mais tensa, se transformando em uma bomba relógio prestes a explodir.
Alguém pigarreou.

 

 

— Se estiver disposta, pode compartilha-los conosco nesse momento. Estamos ouvindo — Carlisle acenou para ela, um movimento que poderia muito bem ser um sinal de alerta para parar por ali.

 

 

Mas Brooke o ignorou. E seguiu em frente com o plano que tinha arquitetado detalhadamente. Porque precisava dele para conseguir o que queria e para levar alguma justiça à morte de Amália, pois era daquilo que aquela reunião de tratava. Do primeiro passo para uma vingança. E, no caminho, de justiça e algumas vidas salvas.

 

 

— Eu tenho sonhos. Não sonhos normais, mas do tipo que me mostram o que vai acontecer. Comigo. E sempre estou dentro deles, participando como um narrador-observador — Brooke apertou os olhos, lembrando de todos os sonhos que tivera. — Não sei o que eles são, o que significam ou como controla-los, mas sei que realmente acontecem. Começaram um pouco antes de eu descobrir o que vocês são. Até agora tive dois. O primeiro se realizou quando eu o conheci — ela indicou o Volturi em sua frente. — e o segundo, se eu estiver certa, brevemente irá acontecer e eu acho que é uma pista sobre os recém-criados. Uma pista muito importante.

 

— Você não me contou sobre isso — Acusaram Gaz e Renesmee, em uníssono.

 

— Eu não sabia por onde começar — Brooke encolheu os ombros. — Mas agora vocês sabem. E precisam acreditar, porque mesmo que pareça loucura, acho que é um mapa. O significado desses sonhos. Eles me levam a lugares que irei encontrar, a pessoas que irei conhecer. E mesmo não fazendo sentido, eu sei que é isso, posso sentir de alguma maneira.

 

— Pode ser um dom se manifestando... — Ponderou Jasper, subitamente. — ... mais um — ele se corrigiu rapidamente, balançando a cabeça. — Como a visão que ela teve junto com Alice e as vozes dos cadáveres que ouviu no penhasco.

 

 

Todos os vampiros concordaram.

 

 

— Mas isso levanta uma questão — Pronunciou Alec, parecendo satisfeito com a interrupção. — O que isso faz de uma mera humana com dons e habilidades assim. Quem ela é?

 

— Eu sou Brooke Evern. — respondeu a morena, erguendo o queixo. — E agora que já coloquei as minhas cartas na mesa, por que você não coloca as suas, Volturi? Ou vai dizer que não esconde nada?

 

 

Os olhos de Alec se estreitaram.
E lá estava o lado perigoso da Evern se revelando, ele percebeu. Em todos seus séculos na guarda, aprendera a ter cuidado com os inimigos que se declaram como tais, os demônios; mas além disso, aprendera a ter o dobro de cuidado com aqueles que nada aparentam grau de periculosidade, como anjos, porque esse são os verdadeiros inimigos. Traiçoeiros como cobras, que trocam de pele e se tornam maiores e mais fortes.
 A Evern era um exemplo perfeito daquilo. Ali estava ela em sua frente, com outra pele, por trás de uma máscara que ele reconhecia, manipulando a direção da conversa, jogando seu próprio jogo e pronta para levar a melhor.
 Alec tina que reconhecer que aquilo era muito inteligente da parte dela. No entanto, ela deveria saber que mesmo em seu próprio jogo sempre há mais de um jogador, e ele estava disposto a ser o adversário em questão. Só não prometia ter uma vitória limpa.
Daquele modo ele a direcionou um olhar gelado e a deu as costas, encarando os outros vampiros na sala. E diabos, ele iria mesmo abrir mão e compartilhar as informações que tinha apenas para colocar a garota petulante atrás de si em seu devido lugar? Apenas para jogar seu jogo e ganha-la no final?
 Sim, ele ia.

 

 

— Bem, há algumas coisas que devo compartilhar com vocês — ele se ouviu dizendo, enquanto cruzava os braços atrás das costas. Evitando um grunhido, relatou tudo sobre as informações que tinha.

 

 

A câmera que encontrara no posto de gasolina antes do local ser explodido. As siglas nos braços dos recém-criados. Os padrões familiares dos desaparecimentos e mortes que Jane descobrira. Deixando de fora apenas o perseguidor de Brooke, que por alguma razão desconhecida ele preferiu não contar.
No fim, quando Alec fechou a boca, se deparou com muitos pares de olhos o encarando furiosamente.

 

 

— E você achou que era desnecessário a gente saber de tudo isso? — berrou Rosalie, balançando o longo cabelo dourado.

 

— Não devemos nada a vocês — Disparou Jane, antes que Alec pudesse responder.

 

— Sim, vocês devem. — Edward se meteu, irritado. — Quando vocês chegaram nesta cidade e aceitaram uma trégua, quando fizeram um acordo conosco prometendo nos ajudar e aceitaram que trabalhássemos juntos, vocês começaram a dever.

 

 

Os outros Cullen concordaram.
Alec viu a irmã rosnar e dar um passo à frente, o que o levou a se deslocar e parar ao lado dela, a segurando pelo ombro. O rosto angelical e com traços tão parecidos com os seus o fitou, e ele apenas balançou a cabeça.

 

 

— Você está certo, Cullen — Admitiu Alec, entre os dentes. O rosto se transformando em uma careta. — Eu deveria ter compartilhando as informações quando descobri, mas apontar o dedo em minha direção agora não vai ajudar em nada.

 

Os Cullen bufaram.

 

— Da próxima vez que descobrirem algo importante, certifiquem-se de nos contar. Todos vocês — disse Carlisle, olhando para os quatro Volturi, pondo um fim na discussão.

 

Houve um pigarro.

 

— Tá legal. Agora que vocês já se acertaram, eu tenho uma pergunta... — proferiu Gaz, a testa encrespada, coçando o queixo. Todos os olhares da sala se concentram nele. — Se existe um padrão para as pessoas transformadas, por que eu não me encaixo nele? Fui transformado, e não sou nem de longe o mais velho da família, sabe. Tenho algumas tias na casa dos quarenta e, embora tenha primos que são bebês, e não tenha como ter certeza, não acho que foram sequestrados ou algo assi...

 

— Minha teoria é que você foi um erro mal calculado — Alec atalhou, girando os olhos. — Quando aqueles vampiros o atacaram, não estavam querendo você, mas a Evern... — ele virou para apontar para a garota que deveria estar pronta para abrir a boca e soltar farpas. Porém, a encontrou em outro estado completamente diferente. — Evern?

 

 

Brooke estava com os olhos ligeiramente arregalados, a boca aberta, imóvel. Conseguia ouvir a conversa dos outros, as indagações de Gaz e as retrucadas de Alec, mas estava muito ocupada repassando em sua cabeça uma das informações que o último dissera. Ela ouvira certo? Como ele poderia saber sobre as siglas? Então elas estavam mesmo relacionadas aos vampiros recém-criados?
Deus! Por que tudo tinha que ter uma ligação?
 Ela ouviu seu nome ser chamado, o que a fez erguer a vista e olhar diretamente para Alec, a pessoa que a chamara. Demorou alguns segundos até que a nuvem de perguntas sem resposta abandonasse sua mente, a deixando lúcida.

 

 

— Conte-me mais sobre as siglas S.D.S., Volturi.

 

— O que você sabe sobre elas? — perguntou Alec, ignorando o pedido da morena.

 

 

Brooke respirou fundo, cruzando os braços. O fato de estarem se confrontando novamente não a passou despercebido.

 

 

— São as mesmas siglas do meu último sonho. E se as siglas realmente existem e você já as viu, isso quer dizer que há mais chances do sonho acontecer e eu ficar pe.... — Pelada era a palavra, mas Brooke fechou a boca antes que lhe escapasse. Bem, não totalmente pelada. Os olhos do Volturi se estreitarem, a fazendo erguer o queixo e disfarçar o embaraço com a imagem do sonho vindo em sua cabeça.

 

— De você ficar...? — Instigou Bella.

 

— Hã... nada. Nada. — A Evern engoliu em seco. — O importante é que são as siglas do meu sonho.

 

— Ora, então o que está esperando para nos falar sobre ele? — perguntou Felix, austero.

 

 

Brooke abriu a boca, pronta para contar sobre o sonho. Mas se deteve. Uma ideia lhe surgiu. Uma estratégia. Uma jogada. E ela a agarrou com as duas mãos, um discreto sorriso crescendo em seus lábios.

 

 

— Por que ao invés de estar falando, está sorrindo, Evern? — questionou Alec, notando o cintilar nos olhos castanhos.

 

Ela o dirigiu um olhar ambicioso.

 

— Conto tudo que queiram saber sobre os sonhos e sobre as siglas se me deixarem trabalhar com vocês na investigação.

 

 

Broo, o que você está fazendo? — sussurrou Gaz, ao seu lado, parecendo nervoso.

 

 

Agora não, Gaz. Depois te explico — ela sussurrou de volta. Então voltou a atenção para os vampiros. — O que me dizem?

 

— Não. — Foi a resposta de Alec, que a fuzilava com os olhos.

 

— Você não pode falar por todos, Volturi!

 

— É, não pode! — Apoiou Renesmee, levantando o punho no ar.

 

— Sei que não posso, assim como também sei que todos aqui pensam como eu — refutou ele. — Você é humana, despreparada, aparentemente a pessoa que esses recém-criados estão atrás, fraca e nossa prisioneira.

 

— Sim. Posso ser tudo isso, mas se esqueceu de dizer que sou a única que sabe alguma coisa sobre as siglas que você está tentando desvendar — Grunhiu Brooke. — Achei que quisesse descobrir o que elas significam.

 

— Eu quero. Mas posso encontrar outra forma para isso, alguma que não a envolva — ele levantou os cantos dos lábios, uma leve sugestão de um sorriso surgindo.

 

 

Brooke, enraivecida, descruzou os braços, deslizando as mãos pela cintura até o quadril, onde as pousou.
Seu olhar duro estava direcionado aos outros vampiros além do imbecil que sorria para ela, quando perguntou:

 

 

— Vocês concordam com ele? — Não houve resposta, apenas trocas de olhares que deixaram bem claro o que eles queriam. E obviamente não era ela. Daquele modo, foi difícil transpor os sentimentos que ardiam em seu peito e aceleravam sua pulsação para o outro lado da fortaleza. E mais difícil ainda não descer do salto. — Quer saber? Dane-se! Cansei de ser diplomática e boazinha, já vi que isso não funciona com vampiros.

 

— Brooke, não é assim.... — murmurou Renesmee, com o olhar conflitante entre mágoa e frustração.

 

— É assim, sim, Renesmee. Espero que não se arrependam da decisão de vocês, porque eu não me arrependerei da minha — Empinando o nariz, a morena desviou os olhos para um ponto próximo ao sofá. Para seu plano B. — Jacob, preciso falar com você. A sós. Agora.

 

 

O Black a olhou confuso, mas assentiu sem fazer perguntas. Brooke indicou com a cabeça a porta da mansão e ele se deslocou até lá — não sem antes lançar um breve olhar para a híbrida.

 

 

— O que acha que está fazendo, Evern? — demandou Alec, a voz baixa e grave, quando ela já estava quase seguindo Jacob.

 

Brooke se limitou a um olhar gelado como gelo para ele, antes de responder:

 

— Você já sabe a resposta, então por que ainda pergunta? — e o deu as costas, começando a caminhar para fora da casa. — E não nos sigam. Ou então quebrarei tudo que ver pela frente e gritarei tanto que até a audição vampírica de vocês será danificada.

 

 

E sem dizer mais nenhuma palavra, ela virou as costas, caminhando com passos firmes até a porta, por onde saiu sob todos os olhares descrentes dos vampiros que deixava para trás.
 Brooke bufou diversas vezes enquanto descia os poucos degraus da varanda e ia de encontro a Jacob, que a esperava com os braços cruzados próximo aos arbustos, onde sua moto reluzente estava estacionada, o semblante confuso e cauteloso.

 

 

— Você tem mais coragem do que eu pensei — comentou ele, quando a morena o alcançou, mas não parou de andar. Ao invés disso, seguiu adiante até o começo da parte da floresta que cercava a mansão Cullen. O Black a seguiu. — Posso saber por que estamos entrando na floresta?

 

— Para ter um pouco de privacidade. Audição vampírica é uma droga. — Brooke o olhou por cima do ombro. — Mas saiba que eu odeio e tenho trauma de florestas, por isso vamos ser rápidos.

 

 

Os dois se embrenharam na mata e depois de se distanciar o suficiente dos ouvidos apurados dos vampiros na casa e da mente de Edward, a Evern parou de andar, se virando para o quileute. Ela respirou fundo, abriu a boca e a deixou assim, pois nada saiu, mesmo que tivesse muito a dizer.

 

 

— E então? — Jacob arqueou as sobrancelhas.

 

 

Ela tentou organizar as palavras e formular as frases que deveria dizer. Propor o que queria propor. No entanto, o que a escapou foi algo totalmente diferente do que tinha planejado e inútil para a ocasião.

 

 

— Por que sumiu? Renesmee ficou muito triste — Saiu como uma acusação e Brooke franziu o cenho.

 

— O que... — O murmúrio saiu dos lábios do lobo, sendo seguido por um profundo suspiro. Então ele a encarou e levou a mão à cabeça, passando os dedos entre os fios negros de maneira inquieta. Ele suspirou mais uma vez. — Estive ocupado por muito tempo. Coisas da matilha, que tem estado uma loucura. E também achei... achei que não seria bem vindo pelos Cullen depois de...

 

— Ficar do meu lado como os outros lobos — Brooke completou, quando viu a careta que ele tinha no rosto ao pronunciar as palavras.

 

Jacob assentiu com a cabeça.

 

— Bem, achei que seria o mais sensato a se fazer.

 

— E também achou que se viesse antes, provocaria um confronto com os vampiros da casa e sabia que isso acabaria machucando Renesmee. Estou certa?

 

— Hum, está. — ele desviou os olhos, bufando em seguida pela confissão. — Por que estamos falando sobre isso? Isso te importa?

 

 

Brooke deu um passo a frente, chegando mais perto de Jacob. A aproximação o fez voltar a olha-la.

 

 

— Eu não sei porque estamos falando sobre isso, mas já que temos a oportunidade, vamos falar — ela ergueu o queixo, encolhendo os ombros. — E sim, isso me importa. Porque me importo com Renesmee, e vê-la triste não me deixa feliz. Não sei o que rola entre vocês, mas é melhor esclarecer as coisas com ela e evitar maus entendidos, ok? Aquela garota é muito especial para ser enrolada, então tome logo uma atitude antes que seja jogado para escanteio. Eu jogaria.

 

 

Os olhos negros de Jacob se estreitaram, virando pequenas fendas que olhavam a garota atravessado. Mas parecia que ele concordava com ela, pois, lentamente, balançou a cabeça.

 

 

— Mensagem entendida — resmungou ele. — Foi por isso que me trouxe aqui?

 

— Não. — respondeu Brooke, sentindo a ponta do nervosismo revirar seu estômago. — O trouxe aqui porque quero lhe propor algo... Mas antes preciso saber se o que você e os outros lobos falaram aquele dia na divisa do tratado ainda se mantém. Se ainda estão comigo. Dispostos a lutarem por mim.

 

O quileute a encarou seriamente, analisando cada traço em seu rosto.

 

— Sim, continuamos com nossa palavra. Sam acha que estamos em dívida com você, Brooke. Por ter tomado a iniciativa e ter nos aberto os olhos e tudo — contestou ele, depois de um minuto em silêncio. — Por quê?

 

— Você sabe o porquê. Você estava lá dentro, viu como sou impotente com eles — A morena grunhiu a resposta.

 

— Sim, eu vi. Aí você percebeu que vampiros não são confiáveis — atestou Jacob, subindo os cantos da boca.

 

— E os lobos são? — Brooke retrucou.
— Não se trata de confiança, Jacob. Ou talvez se trate, eu não sei. O que sei é que isso tudo é um jogo, Alec deixou bem claro lá dentro. Um jogo que eles controlam. Então cabe a nós decidir se seremos peões no jogo deles ou se seremos adversários a altura, adversários com chances de vencer o jogo. Não me entenda mal, eu não quero lutar contra eles, nem colocar lobos contra vampiros, eu quero apenas o meu lugar nisso tudo. Porque embora eu diga e torça que não, eu sei que tenho um. E acho que está na hora de ocupa-lo. Sei que deveria falar isso com Sam, mas você também é um alfa, e quero confiar em você.

 

 

O Black ficou calado, a observando, ponderando.
Brooke não conseguiu ler a expressão no rosto bronzeado, e temeu que suas palavras não tivessem surtido o efeito necessário. Ela mordeu o lábio. O silêncio ao redor deles era tão intenso que podia ouvir as batidas de seu coração martelando em seus ouvidos, o que só contribuiu a favor para seu nervosismo. E então, quando ele não esboçou nenhuma reação, ela respirou fundo, apelando para o último artifício que tinha para convencê-lo, um muito doloroso por sinal. E, tirando a máscara que vestia e deixando de lado a personagem, ela o utilizou.

 

 

— É por Amália. É por ela que estou fazendo isso, ou tentando fazer, pelo menos. — Brooke engoliu em seco, recebendo a atenção do quileute. — A garota que morreu, minha amiga... é por causa dela que quero fazer parte do mundo de vocês. Para trazer alguma justiça a morte dela, nada mais ou menos do que isso. Ela morreu nos meus braços, sabia? Bem na minha frente. Agonizando e chamando pela irmã mais nova. Um vampiro apareceu e rasgou sua garganta, mas ela não fez nada, ela era inocente, Jacob, e foi morta mesmo assim... — Os olhos da morena se encheram de lágrimas, que ela segurou bravamente. Aquela era a primeira vez que falava sobre o episódio com alguém, e entre todas as pessoas, o lobo a frente foi a última pessoa que pensou compartilhar aquela história. Mas ali estava ela, à beira das lágrimas, à beira do precipício que as lembranças eram, em queda livre e gritos no vazio. — Não consigo dormir à noite, porque toda vez que fecho os olhos a imagem da garganta dela sendo cortada me vem à cabeça. Toda vez que olho para minhas mãos, vejo o sangue dela as manchando e sempre corro para a torneira mais próxima para lava-las. Consegue imaginar isso, Jacob Black? Viver atormentado desse jeito? Carregado mortes consigo? Porque eu consigo. E é horrível. Então se está me encarando a procura de um motivo para me ajudar, aqui vai um: porque se me ajudar, estará ajudando todas as outras pessoas desta cidade. Chega de mortes. Porque todo mundo está morrendo, todos próximos a mim. E isso tem que parar, porque amanhã pode ser Renesmee, e se for, nenhum de nós dois irá conseguir conviver com o fato de que poderíamos ter feito alguma coisa e não fizemos.

 

 

O lobo abriu a boca, mas a deixou suspensa no ar, pois nada saiu. Ele franziu a testa, estreitou os olhos, fechou a boca novamente e então assentiu lentamente. Algo em seu olhar se tornou sombrio, tenso, e enquanto Brooke esfregava a manga do suéter nos olhos, ele estendeu a mão para ela.

 

 

— Acho que temos uma aliança, Brooke Evern — Jacob exibiu a fileira de dentes brancos perfeitos, em um pequeno sorriso amigável. — Conte com os lobos para honrar a morte da sua amiga.

 

 

Surpresa por ter conseguido, Brooke abaixou a manga do suéter e fitou a mão estendida e o sorriso encantador do Black. Pestanejando, ela estendeu a própria mão e apertou a que lhe era oferecida, selando assim, naquela floresta, a aliança com os lobos.

 

 

— Obrigada, Jacob — disse, tentando sorrir também. — Mas o que eu disse sobre Renesmee ainda se mantém, então é melhor não pisar na bola.

 

 

 

Rindo, ele balançou a cabeça e sugeriu que voltassem. Após Brooke concordar, os dois fizeram o caminho de volta lado a lado, conversando sobre os outros lobos.
 Menos de cinco minutos depois, já estavam saindo da floresta, os olhares fixos na mansão que surgia à frente. Por trás das paredes de vidro, Jacob e Brooke avistaram os treze vampiros de pé, com os rostos quase grudados na superfície do vidro, provavelmente esperando eles dois.
A Evern olhou para o Black, que revirou os olhos.

 

 

— Para o azar deles, acho que esse é o início de uma longa aliança entre nós.
— sussurrou ele.

 

— Sim, é sim — Concordou Brooke. Eles passaram pelos arbustos e ela vislumbrou a moto preta estacionada. Uma ideia apareceu e a garota estancou no lugar. — Mas sabe... acho que você pode fazer uma coisa por mim para começar. Que tal?

 

— O quê?

 

A morena trilhou o olhar até a moto. Jacob seguiu.

 

— Você precisa ir a algum lugar?

 

— Na verdade, preciso fazer uma coisa muito importante — ela apalpou o bolso de trás da calça, tocando as laterais duras do chaveiro de madeira talhada. — Por favor, Jacob. É muito importante, eu juro.

 

 

O moreno coçou a nunca, intercalando olhares entre ela e os vampiros dentro da casa, que os observavam e com certeza ouviam tudo.
O que o davam poucos segundos se fossem cair na estrada, com certeza.

 

 

— Se subir na moto rápido, talvez eles não nos alcancem — O quileute suspirou, já girando nos tornozelos e correndo até a moto.

 

 

Brooke sorriu, o seguindo. Ela olhou para trás, e viu os Cullen e os Volturi se movendo, mas não desistiu do que ia fazer. Não mesmo. Ela voltou a olhar para frente e viu que Jacob já tinha ligado a moto, e sem pensar muito, ela pulou na garupa, se apoiando nas costas do lobo e o abraçando pela cintura.
 Brooke viu o exato momento que a porta da mansão foi escancarada, mas não se importou nem um pouco.

 

— Pisa fundo! — ela gritou.

 

Um segundo depois, o motor da moto roncou e Jacob deu partida, disparando a toda velocidade pela estrada de terra da mansão.

 

Os vampiros observavam a moto se distanciar depois de chegarem tarde demais.

 

— Podemos ir atrás deles — disse Demetri, já se preparando para correr.

 

Alec o impediu com um aceno de mão.

 

— Deixe-os ir — Cuspiu ele, virando as costas com brusquidão. Deu de cara com a híbrida atrás de si, com os lábios comprimidos e uma expressão decepcionada que o fez se voltar para ela e provocar: — Eles formam um bom casal, não acha?

 

Sem esperar pela resposta, Alec continuou a andar e desapareceu pelo caminho aposto ao que os dois novos aliados tinham ido.

 

 

...

 

 

— Aonde estamos, Brooke? — perguntou Jacob, encarando a construção à frente. O que o levou a reformular a pergunta. — De quem é essa casa?

 

— É a casa de Joseph e Lilian Young — respondeu a morena, com os olhos fixos na casa. — Os pais de Amália... Tenho que devolver algo a eles.

 

 

Brooke não olhou para Jacob para ver qual expressão ele esboçava, mas conseguiu identificar o tom compreensivo e penoso em sua voz quando ele murmurou sem jeito:

 

 

— Ah. Eu vou esperar aqui, então.

 

 

Dando um leve aceno de cabeça, ela respirou fundo e se obrigou a ir em frente.
O bairro em que os Young moravam era no outro lado da cidade, como Amália uma vez lhe dissera, próximo aos seus limites, e por isso a viagem havia levado quase meia hora. A boa notícia era que os Volturi e nem os Cullen os seguiram; a má era que daquele modo, Brooke precisaria mesmo fazer aquilo. O chaveiro em suas mãos deslizava entre seus dedos por conta do suor frio em suas palmas e Brooke sentia um grande nó se formando em sua garganta a cada passo dado em direção à estreita varanda da casa verde com fachada branca. Não havia cerca ou muro cobrindo o quintal, e a grama verde estava repleta de gnomos coloridos espalhados pelo caminho até a porta da frente. As persianas das duas grandes janelas estavam abertas e enquanto se aproximava, Brooke pôde vislumbrar um pedaço do interior da sala que estava vazia e silenciosa.
 A morena engoliu em seco, não sabendo se aquilo era uma boa coisa. Tinha ido até ali para cumprir a promessa que fizera a Amália: entregar o presente de aniversário de casamento aos seus pais. Mas a tarefa requeria que Brooke os encontrasse. Falasse com eles, os olhasse. E ela não sabia se conseguiria fazer nenhuma daquelas coisas, pois sabia como se sentiria. Como a assassina da filha deles e aquilo não era justo com ninguém. Então, o que faria?
 Ela mordeu os lábios com força, chegando a sentir o gosto metálico do próprio sangue, quando parou em frente à porta.
Não podia fazer aquilo. Não conseguia.
E foi balançando a cabeça que Brooke decidiu ser uma covarde.

 

 

— Eu sinto muito Amália, mas não posso fazer isso com seus pais — sussurrou enquanto se abaixava e deixava o chaveiro de madeira talhada em cima do tapete de "seja bem-vindo".

 

 

Quando voltou a se erguer, pronta para se afastar da casa e ir embora com sua covardia, Brooke tomou um susto ao se deparar com um par de olhos de olhos de ônix brilhantes a observando pela janela a sua direita.
 Ela pulou um metro longe e fitou a garotinha de pele cacau e cabelos com pequenos cachinhos pretos, que a olhava de uma maneira diferente.
 Lucy, Brooke reconheceu instantaneamente. Amália já havia mostrado algumas fotos em seu celular de sua irmã caçula, a autista. E agora ela estava ali, debruçada na janela, encarando a Evern como se não a visse realmente, como se ela não estivesse ali. Então, antes que Brooke pudesse falar ou fazer alguma coisa, os olhos de Lucy trilharam um caminho pelo chão até pararem no tapete, onde o chaveiro que a garotinha fizera, jazia. E aumentaram de tamanho, para logo depois subirem e se fixarem novamente em Brooke, que ficou sem reação.
 Uma vez, tinha lido em algum lugar, que pessoas autistas possuem um mundo somente delas, com coisas vistas pelos olhos delas e da maneira delas. Então Brooke não tinha certeza se Lucy compreendia que a irmã mais velha tinha morrido, ou se sabia o que isso significava. Ela deveria virar as costas e ir embora, por aquela e por várias outras razões, mas não conseguiu fazer isso enquanto olhava para a garotinha e sentia o nó na garganta crescendo.
Aí, abriu a boca.

 

 

— Sua irmã amava você. Amélia amava você, Lucy, e espero que possa me perdoar um dia por eu não ter conseguido salva-la — As palavras quebradas saíram de seus lábios, e Brooke tentou um sorriso para Lucy, mas pela inexpressão em seu rosto e pelo mesmo olhar vazio, talvez ela nem tenha escutado.

 

 

Ainda assim, a Evern sorriu tristemente e olhou uma última vez para a Young mais nova, se lembrando repentinamente do padrão de desaparecimento das famílias. Amália era a mais velha da família Young, e havia sido morta. Lucy era a mais nova e poderia ser um alvo. No entanto, enquanto virava as costas e refazia o caminho até Jacob e sua moto, Brooke jurou algo a si mesma.
Nada aconteceria com Lucy e diferente de Amália, ela a protegeria. E honraria aquele juramento.

 

 

***

 

 

Uma semana depois da morte de Amália, Brooke retornou para a escola. E foi estranho. Ainda eram os mesmos corredores, as mesmas pessoas que passavam por ela, as mesmas aulas e os mesmos prédios. Mas algo parecia diferente, como se algo faltasse. E ela sabia o quê. Quando pisou novamente na Forks High School, não havia comoção. As pessoas, tanto alunos quanto professores, não pareciam devastados, tristes ou nada do tipo. Apenas uma leve quietude se espalhou pela escola, sendo quebrada por dois ou três sussurros, acompanhada de uma tensão a respeito da volta dos ataques na cidade. E, a não ser por um pequeno memorial feito no armário de Amália em sua homenagem, que as pessoas olhavam por um breve tempo e logo depois desviavam o olhar, nada mais na atmosfera indicava que alguém falecera. E aí Brooke percebeu que todos estavam seguindo em frente com suas vidas, como se nada tivesse acontecido.
 E ela tinha tentado fazer o mesmo. Deus sabia como tinha. Mas não conseguia, não podia. Esquecer o que aconteceu na floresta diante de seus olhos, era impossível. E talvez ela não quisesse esquecer, pois se esquecesse, nunca teria a vingança que desejava.
 E foi assim que a sua volta para a escola aconteceu. Acrescentando as perguntas que teve que responder à polícia, no primeiro dia que retornou.
Sem deixar de lado que o chefe de polícia que a interrogou sobre o dia da morte de Amália Young, era Charlie Swan, pai de Bella e avô de Renesmee, que estava prestes a se aposentar.

 

 

— Obrigado por responder as perguntas... e, hã... Sinto muito pela sua amiga... Brooke, certo? Hum, Nessie fala muito sobre você — dissera Charlie, encarando Renesmee com as sobrancelhas unidas, na secretaria.

 

Brooke conseguiu se sentir mal por ter mentido durante todo o interrogatório. Mas era isso ou ser presa. Ou ir para o hospício, o que era mais provável.

 

 

— Fiquei sabendo que chegou um novo professor de literatura. Parece que o outro sofreu um acidente... — A voz de Renesmee a tirou dos devaneios, fazendo Brooke chacoalhar a cabeça. Elas estavam sentadas nas carteiras da frente, esperando a aula de literatura começar, mas, ao que parecia, não tinha professor. O ranger da porta soou. A ruiva ofegou. — Ai, meu deus. Não...

 

— O que foi? — perguntou a morena, pestanejando rapidamente.

 

 

A híbrida estava boquiaberta, por isso apontou para a porta.
Brooke trilhou o olhar até lá e sentiu a própria boca despencando. Adentrando a sala de aula, Félix Volturi estava ridiculamente vestido de forma normal com uma bolsa unissex de couro pendurada no ombro, um livro em suas mãos, o cabelo escuro empapado de gel. Nada de manto longo e escuro. E sim calça jeans, camisa polo, tênis, lentes pretas e... aquilo era um óculos de grau em seu rosto?

 

 

— O que ele tá fazendo aqui? — Brooke se ouviu perguntando, desviando rapidamente os olhos para Renesmee.

 

 

Ela encolheu os ombros, a mescla de surpresa e incredulidade em seu rosto. Então a garota voltou a olhar o vampiro, que mesmo de visual novo, ainda parecia um armário gigante agora na frente da sala. Um armário gigante com estilo de nerd.

Algo muito errado estava acontecendo ali.

A sala toda ficou em silêncio quando o vampiro — que não deveria estar ali presente — caminhou até a mesa do professor Helmsh, e colocou a bolsa e o livro em cima, se virando para a turma em seguida, as mãos deslizando para a cintura e um sorriso simpático lhe esticando os lábios e acentuando as feições sempre tão inexpressivas.
 Aquele com certeza não era o Félix Volturi que as duas garotas nas primeiras carteiras conheciam.

 

 

— Bom dia, alunos — Saudou ele, a voz extremamente empolgante. Seus olhos alterados pelas lentes percorrem pela sala toda, menos em Brooke e Renesmee, como se estivesse as ignorando de propósito. — Sou Félix Voltinni, o novo professor substituto de vocês. Infelizmente, o Sr. Helmsh sofreu um lamentável acidente de escada, e está de licença indeterminada, por isso estarei com vocês até o final do ano letivo. — E só então seus olhos que pareciam achar graça da situação, se focaram na morena e na ruiva chocadas. — Tenho a certeza que vamos nos dar muito bem. — Dando uma piscadela, ele esticou o braço e apanhou o livro em cima da mesa. — Agora, quem aqui já leu Lord Byron?

 

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Olá, amores! Como vocês estão?
Antes de mais nada, um aviso: Eu estava em período de provas, mas agora estou de férias, o que significa que muito provavelmente os capítulos não demorem mais tanto tempo para ficarem prontos (mas não prometo nada. Olá, bloqueio criativo!).
Então vamos lá falar sobre o que a gente tem para hoje. O capítulo vinte eu resolvi dividir em duas partes, porque já faz algum tempo que não tinha atualização e como eu já tinha escrito essa primeira parte antes das provas, aí resolvi revisar e postar.
Já estou escrevendo a segunda parte, não se preocupem.

Assim, queria fazer umas considerações sobre o capítulo: é visível que as coisas estão rumando para o clímax da história, o que automaticamente vai moldando os personagens à situação. Então, as atitudes da Brooke irão se alterando, algumas vezes vocês poderão até não reconhecer a personagem, mas isso não quer dizer precisamente que a personalidade e a essência dela tenha mudado.
O mesmo vale para o Alec; um personagem tão complexo quanto. O fato dele ter sido gentil no capítulo anterior não muda quem de fato ele é, por isso não se enganem pensando que a partir disso ele vai se transformar em um príncipe encantado de cavalo branco, porque não vai. O que veremos é um conflito interno, um dilema que ele estará entre ser o que deveria ser ou ser o que ele quer ser, o que está sentindo. Vai ser um pouco difícil para ele aceitar os sentimentos, e suas atitudes o farão estar sempre em uma linha tênue entre o papel de príncipe e cretino.
São detalhes pequenos, mas que me sinto melhor esclarecendo :)

E MEU DEUS DO CÉU! ALCANÇAMOS OS 100 COMENTÁRIOS!
Vocês não têm ideia de como estou feliz! Não sei se deu para perceber, mas eu amo comentários! Leio cada um e morro de amores! Por isso, comentem sempre que quiserem. Onde quiserem. Como quiserem. *-*

Antes de encerrar a nota final de hoje, queria informar que a fanfiction tem uma playlist disponível no spotify, e se vocês quiserem dar uma olhada, o link está no meu perfil. É só entrar lá e clicar (sei que sou suspeita, mas vale muito a pena dar uma olhada, amores. SÓ TEM MÚSICA BOA!)

É isso.

Até o próximo capítulo...

Bjs ❤



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