Eyes On Fire escrita por Brê Milk


Capítulo 20
Chapter 18: Antes da tormenta




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/709638/chapter/20

Alec Volturi

 

 

— Já faz duas semanas, Alec — murmurou Felix, saindo da cozinha com uma bolsa de sangue O+ à meio caminho da boca.

 

Alec o ignorou, como vinha fazendo nos últimos dias. Ou nas últimas duas semanas. E voltou a fitar a atraente, enlouquecedora e maldita amostra de sangue dentro de um tubinho de ensaio em cima da mesa de centro.
Ele estreitou os olhos.
Aquele era o pior sábado que já tivera em séculos.
O lugar no sofá ao lado afundou, e Felix estendeu as pernas no ar, as colocando em cima da mesma mesa que o tubinho de ensaio com sangue estava, o que o fez balançar, fazendo Alec Volturi exalar como um cão que tem um pedaço de bife balançado em frente ao seu focinho.
Ele estreitou ainda mais os olhos, perigosamente.

 

— Algum avanço? — Felix tornou a falar, o tom despreocupado, fazendo um irritante barulho de sucção com a bolsa de sangue.

 

 

Alec o encarou, os lábios curvados para baixo, e o observou ligar a TV de plasma e começar a zapear os canais com o controle remoto.

 

 

— Calado — rosnou.

 

— Não está mais aqui quem falou — O vampiro grandalhão encolheu os ombros, nem um pouco afetado. — Já tive minha resposta, de qualquer jeito.

 

 

Alec rosnou outra vez, voltando a atenção para o tubo de ensaio com o líquido escarlate. Félix estava enganado. Não era o que parecia: ele com certeza já tinha tido algum avanço. Comparado a primeira vez que Jane apareceu com a amostra de sangue coletada da Evern, ele definitivamente tivera um avanço. Agora não se descontrolava como um louco ao mais leve cheiro que o sangue emanava. Não. Agora o máximo que acontecia era respirar fundo e retesar o corpo com o cheiro invadindo suas narinas. E se levasse em consideração que o sangue da Evern fora de seu corpo, longe do cheiro natural que a garota tinha (lavanda e amêndoas), era puro e portanto mais forte e poderoso sobre si, deveria estar orgulhoso de seu desempenho.
 Ele realmente fizera um bom trabalho ali. Os últimos quatorze dias confinado dentro daquele apartamento haviam valido a pena. Agora que as chances de assassinar sua cantante (e aquela quem fora encarregado de proteger, não podia esquecer), haviam diminuído, Alec podia voltar ao seu objetivo principal ali: resolver o mistério e pegar o culpado.
 Perdera tempo demais treinando seu controle, e deveria voltar a se concentrar em sua missão o mais rápido possível, afinal, já estava preso àquela cidadezinha tempo demais para o seu gosto. Não via a hora de voltar para a Itália, para o castelo, para casa. E deixar tudo aquilo para trás. Para isso, ele sabia como iria proceder. Resolveria os problemas de uma vez por todas, um a um. E já tinha até decidido a ordem para fazer isso.
Descobrir e seguir as pistas que tinham.
Encontrar o culpado.
Evitar que mais mortes aconteçam. Completar a missão.
Lidar com a Evern no processo, ainda que isso parecesse ser a tarefa mais difícil da lista.
 Alec suspirou. Seus ombros caíram por um momento, e ele jogou a cabeça para trás, fechando as pálpebras e pressionando-as com as mãos. Precisava de um whisky.
O barulho da porta da entrada rangendo, ecoou, seguido de passos.

 

 

— O que aconteceu com ele? — A voz recém-chegada de Demetri chegou até Alec, o deixando mais frustrado do que estava.

 

Antes que pudesse responder ou fazer um gesto obsceno, Felix respondeu em seu lugar:

 

 

— Ele está tendo um dia difícil — O Volturi grandalhão respondeu, então produziu mais barulho de sucção.

 

— Bem... — Demetri se aproximou, rindo debochadamente. Alec abaixou as mãos, abrindo os olhos e o encarando mortalmente. — Parece que vai piorar.

 

 

Como se não conseguisse esperar para piorar o dia, o vampiro jogou na mesa de centro um envelope pardo que trazia nas mãos, a fazendo tremer e por pouco não derrubando o tubinho de ensaio com o sangue. Alec resmungou.

 

 

— O que é isso? — perguntou, estendendo o braço para pegar o envelope.

 

— Abra e veja você mesmo. Mas deixe eu adiantar que é o fruto do trabalho que você me pediu para fazer.

 

 

O Volturi louro-acastanho revirou os olhos, e abriu o envelope. Enfiou a mão lá dentro e puxou um apanhado de fotos reveladas. Todas elas com um único rosto estampado como centro: o da Evern. Alec olhou para as fotos, e encarou o que bem podia ser a rotina da garota nas últimas duas semanas.
 Haviam fotos de todos os jeitos e ângulos: Evern na entrada da escola, Evern amarrando o cadarço no estacionamento, Evern caminhando ao lado da híbrida, Evern sozinha, com os Cullen, com uma garota negra e bonita. Entre outras.
 Tinha pedido à Demetri que ficasse de olho na garota em seu lugar, que virasse sua sombra, a seguindo para todos os cantos que os Cullens não estivessem e fotografado cada movimento para Alec. Então ali estavam as fotos. E, prestando atenção a um detalhe, ali estava outra sombra atrás da Evern, que não era seu amigo.
 As sobrancelhas de Alec se arquearam. Ele espalhou as fotos pela mesa de centro, muito calmamente.

 

— Algo errado? — Ouviu Felix perguntar.

 

— Sim. — respondeu Alec, travando o maxilar. — Parece que Demetri não é o único seguindo a Evern esses dias.

 

 

Ele apontou com o indicador para o fundo da fotografia mais próxima, e cerrou as pálpebras. Como uma imagem escondida dentro de outra, que necessita de muita atenção para se notar, se não ninguém percebe, uma outra pessoa aparecia na fotografia que o dedo do Volturi apontava. E na outra fotografia. E na outra. E na outra. E em todas mais. Não dava para ver quem era, mas com certeza se tratava de um homem pelas roupas masculinas, e o chapéu preto inclinado para frente cobria a maior parte do rosto, revelando apenas o nariz e a boca. Essa é a intenção, pensou Alec. O ponto era que o homem estava sempre ao fundo das fotos, olhando para as costas da Evern, à uma distância segura, mas ainda assim olhando. E como Demetri, também estava a vigiando, não restavam dúvidas.

 

 

— Olhem a hora de todas as fotos — comandou Alec, esfregando a testa.

 

 

Felix esticou o pescoço, Demetri se aproximou e inclinou para olhar.
Assim que viram 10h34 gravado na borda de todas as fotografias, suspiraram em sincronia.

 

 

— É um padrão — comentou Demetri, retomando a postura e permanecendo no mesmo lugar.

 

Alec assentiu.

 

— Padrões são sinais de fumaça. E sempre onde há fumaça... — Felix refletiu.

 

— Há fogo. — Completou Alec, sombriamente. Ele olhou para os outros dois vampiros, com o mesmo olhar que tinha dentro de seu quartel.
— Descubram o mais rápido possível quem é o homem nas fotos, e assim que fizerem isso, me avisem. Já temos problemas demais para resolver, e na melhor das hipóteses esse cara pode ser só um perseguidor; na pior, a pessoa que estamos procurando e motivo por termos vindo aqui.

 

 

Os vampiros assentiram de imediato, trocando olhares tensos. Alec se jogou para trás, apoiando as costas contra o sofá e soltou um chiado que deveria ser mais ou menos um rosnado irritado/ cansado. Era isso. Estava mentalmente cansado, e nenhum pouco feliz.
Mais problemas. Por que sempre apareciam problemas quando se tratava de Brooke Evern? Por quê?
O barulho da porta rangendo soou novamente, e dessa vez o som era de saltos altos batendo contra o piso.
Todos os três vampiros viraram a cabeça, simultaneamente.

 

 

— Cheguei — A doce e melódica voz de Jane anunciou, e ela apareceu na entrada da sala, despindo o longo manto negro e o largando no chão, enquanto tirava os óculos escuros do rosto. Em suas mãos, ela trazia uma pilha de pastas pretas e pesadas. — Não vão perguntar onde eu estava?

 

Alec, Felix e Demetri se entreolharam. Então responderam, em uníssono:

 

 

— Não — E desviaram a atenção da vampira logo em seguida.

 

Jane rosnou.

 

— Ei! — gritou ela, jogando as pastas no chão furiosamente. — Estou falando com vocês, seus imbecis!

 

 

Os vampiros a olharam, percebendo o erro tarde demais. Jane cerrou as pálpebras e os fez sentir como se o fogo do inferno estivesse se alastrando em suas mentes, os fazendo gritar de dor. Demetri cambaleou para o lado, segurando no encosto do sofá para não cair. Felix escorregou para o chão, levando a bolsa de sangue O+ junto. Alec a amaldiçoou.

 

— Estamos prestando atenção!

 

— Assim é bem melhor — Jane sorriu travessa. Então piscou, parando de fazer o irmão, o amigo e o namorado se retesarem de dor. — Prontos para me ouvirem, agora?

 

 

Os três Volturi resmungaram xingamentos enquanto se levantavam, se ajeitavam e recobravam a postura. A loura aguardou pacientemente, e quando nenhum deles disse nada, ela pigarreou, cruzando os braços.

 

 

Onde você estava, irmã? — Alec perguntou, quase grunhindo, quando percebeu que a vampira esperava por aquilo.

 

Ela piscou um olho para ele, que quase bateu o rosto na superfície de vidro da mesa de centro.

 

 

— Eu estava pesquisando.

 

— Pesquisando? O quê? — questionou Demetri, tentando esconder a careta no rosto.

 

— Uma maneira de irmos embora daqui.

 

— O que você quer dizer?

 

Todos a olharam torto.

 

— O que eu quero dizer, Felix, é que fiz o que vocês três, garotos, e os incompetentes dos Cullen não conseguiram fazer.

 

— E o que pode ser isso? — Inquiriu Alec, cruzando os braços e olhando desafiadoramente para a irmã gêmea.

 

— Uma pista concreta, a melhor que já tivemos, para a execução da missão. — Jane ergueu o queixo, deslizando as mãos para a cintura, parecendo muito orgulho de suas palavras e de sua pessoa.

 

Eles a olharam chocados.

 

— Depois de passar os últimos dias pesquisando - não que vocês tenham percebido, é claro -, busquei pela ficha das vítimas dos ataques, e levantei uma investigação pessoal feita por mim mesma. Descobri muitas coisas, e depois de comparar com os casos ocorridos, descobri que há um padrão acontecendo. — disse Jane, repentinamente séria. — Todas as vítimas têm ligação. Nós só estávamos vendo pelo ângulo errado. Todas as pessoas que foram atacadas e morreram, eram o componente mais velho de suas famílias, e após procurar por seus dados, descobri que todos os componentes mais novos de cada vítima está na lista de desaparecidos. Como disse, um padrão.

 

— Como você... descobriu tudo isso sozinha? — Felix foi o primeiro a se pronunciar, tão impressionado quanto os outros.

 

A Volturi abriu um sorriso indiferente.

 

— Tenho minhas táticas. E não sou só um rostinho bonito, e vocês também não deveriam ser — ela alfinetou. — Bem, isso é tudo. Eu só queria compartilhar com vocês a minha descoberta, então já fiz minha parte nessa missão horrenda. Mas se não acreditam em mim, vão em frente e leiam as pastas — Apontou para as pastas pretas aos seus pés. — os arquivos que achei estão aí dentro, e também fiz um relatório, caso seja difícil para os garotos entenderem — Jane suspirou dramaticamente. —... Ah! Estou tão cansada! Acho que preciso de um banho com sais perfumados... Com certeza preciso. E estou com fome. Um de vocês saia e me traga sangue fresco! Estou indo para o quarto agora e não quero ser perturbada — Os olhos dela se fecharam em pequenas fendas. Então Jane estalou os dedos e girou nos saltos altos, começando a caminhar em velocidade humana na direção do único quarto daquele apartamento. Não sem antes provocar: — E agora que já fiz minha parte, vão logo falar com aqueles inúteis dos Cullen e resolvam logo as coisas! Quero voltar para casa antes que eu vire a assassina dessa cidade.

 

 

E assim, os três vampiros, respeitados e temidos Volturi, observaram Jane sumir pelo final do corredor e escutaram a porta do quarto bater com força. Quando ficaram livres da presença dela, se encararam, parecendo pela primeira vez em séculos, perdidos e espantados.

 

 

— O que foi isso? — perguntou Felix, em voz baixa.

 

— Eu não sei — murmurou Alec. — Ela nunca ficou desse jeito. Isso foi inesperado.

 

— Eu sei... — Demetri assentiu. — Eu fiquei com medo dela agora.

 

Os outros dois concordaram.

 

— Mas não podemos ignorar que ela realmente descobriu algo importante. Algo que nós não conseguimos descobrir em meses — disse Felix, como se estivesse lamentando a morte de alguém. — Quer dizer, é a Jane. Sua namorada, Demetri. E sua irmã, Alec. E minha superior. Jane, a nossa Jane. O que isso faz de nós?

 

 

Os três ficaram a se entreolhar durante um longo tempo, até que se tornou constrangedor e os três pigarrearam.
Alec abriu a boca.

 

 

— O quê? Do que está falando? Vão fazer o que eu mandei! Encontrem aquele homem que está atrás da Evern, o mais rápido que puderem. Agora saiam daqui, seus idiotas.

 

 

Ele escutou Demetri e Felix o xingando, mas os ignorou. E se mexeu desconfortavelmente no sofá pensando nas palavras da irmã. E então percebeu, a contragosto, que não estava envergonhado por ter sido Jane a descobrir a pista. Não.
Ele estava orgulhoso por ter sido ela. Afinal, talvez sua irmã gêmea finalmente pudesse estar amadurecendo depois de quase mil anos.

 

 

Brooke Evern

 

 

— Me coloque no chão, Gaz Julions!

 

O mais novo vampiro riu, ignorando a ordem desesperada da morena em suas costas, enquanto ele corria e girava no topo das escadas.
Já faziam cinco minutos que estavam naquilo — dez se contassem o tempo que Gaz levou para arrancar Brooke de trás de Renesmee —, e após a terceira tentativa fracassada de fuga, a garota desistiu e mudou de estratégia: O apelo. Não que estivesse funcionando.

 

 

— Você sabe que não irei fazer isso, Brookezinha — respondeu Gaz, parando um momento de girar. — Ao invés de gastar sua preciosa saliva, segure firme aí.

 

 

Brooke gemeu, frustrada. E ouviu algumas risadas vindas do andar de baixo.

 

 

— Parem de rir! — gritou ela, na direção de Alice, Renesmee e Emmet, mas não tinha como ter certeza pois voltou a ser rodopiada como um pião nas costas de um vampiro. O que soava estranho. — Por que não estão fazendo nada? Façam alguma coisa! Mandem ele parar de girar e me soltar!

 

As respostas vieram rápido.

 

— É melhor não nos intrometermos — disse Alice.

 

— Vocês parecem estar se divertindo — Murmurou Renesmee.

 

— Não queremos. Você está muito engraçada agora, eu estou me divertindo muito e não vale a pena acabar com isso. Desculpe! — Gargalhou Emmet.

 

 

Brooke choramingou.
 Garotas normais na idade dela iam a parques de diversões se quisessem girar daquele jeito. Mas como a garota em questão era ela, o parque era seu melhor amigo vampiro de espécie estranha. Por quê? Aquilo era tão estranho!
 Mas o que não é estranho a essa altura do campeonato? Ela se perguntou enquanto Gaz se afastava do topo da escada, nunca parando de girar. Ele fez uma pirueta e Brooke quase voou de suas costas, por isso o abraçou pelo pescoço com mais força, uma força capaz de estrangula-lo se ainda fosse humano.
Uma pena.
 Ela comprimiu os lábios, com uma súbita vontade de rir. Aquilo era engraçado. Não deveria ser, mas era. Sempre quisera ser normal, ainda que sempre soubesse que não fosse. Mas sempre se esforçou para ser. Se esforçou muito. E mesmo depois de tanto esforço, nunca atingiu seu objetivo. Porque talvez a normalidade não fosse para ela, ou talvez estivesse tentando de um jeito errado. Se Brooke pudesse se ver agora... Nas costas de seu melhor amigo vampiro recém criado, girando juntos no segundo andar da mansão que também era seu cativeiro... ela realmente não combinava com os padrões normais.
 Com isso ela riu, alto. E então Gaz também riu, e a estratégia do apelo foi por água abaixo porque de repente Brooke estava se sentindo muito confortável nas costas do Julions e não queria mais descer e nem parar de girar até que estivesse tonta como se estivesse bêbada. E todas as coisas que estivera pensando deprimentemente encolhida no sofá, antes de Gaz ter a ideia de usufruir de seus super sentidos, girando, desapareceram. As coisas que estava passando com o retorno à escola. As saudades da mãe. A anorexia. O confinamento na mansão. A existência dos Volturi. O mundo sobrenatural. As mortes. Os vampiros inimigos. Seus sonhos.
Tudo ficou esquecido naquele momento.
E em muito tempo, Brooke estava se divertindo.

 

 

— Gire mais rápido. Mais rápido, mais rápido! — ela pediu, entre as risadas.

 

— Sim, comandante! — Gaz bateu continência, e começou a girar mais rápido e mais forte.

 

 

Parecia uma criança, sabia. Mas não se importava. Gostava daquela sensação de riso fácil e leveza no coração. Gostava de voltar a agir feito criança.
Assim, ela acompanhou o amigo na brincadeira. Eles giraram por mais algum tempo, e quando já estava tonta o suficiente para ser confundida com uma bêbada, Brooke viu Gaz indo para a beira da escada, onde o corrimão começava, quando ele iniciou uma nova pirueta. Ela ainda estava rindo quando suas vistas escureceram e uma fraqueza a atingiu, deixando todo seu corpo mole. Ela se sentiu escorregando das costas do vampiro, e deve tê-lo pegado desprevenido, pois não deu tempo de nada. Nem de se segurar em Gaz, nem dele alcança-la.
  Quando Brooke percebeu, já estava caindo do topo das escadas, em uma queda de quase três metros que com certeza faria muito estrago. Ela não ria mais, mas tinha absoluta certeza que estava com a boca aberta, pois ouviu claramente o grito subindo por sua garganta e sendo liberado no ar, junto com seu corpo que despencava mais rápido que as gotas de chuva do céu.
Esperou que sua vida passasse diante de seus olhos, como todos diziam que acontecia, mas não aconteceu. Já tivera experiências como aquela em que estivera esperando o filme de sua vida passar, umas três vezes, e em todas elas nada nunca passou. Se aquela quarta vez realmente desse certo e ela passasse daquela para melhor, então Brooke teria a confirmação que o filme de sua vida estava queimado.
Ela fechou os olhos, os apertando com força. Não sabia dizer qual era a reação de Gaz, Alice, Emmet e Renesmee naquele momento, mas também não queria saber. Estava mais preocupada em saber o que iria e o que não iria quebrar.
  O chão foi ficando cada vez mais próximo, ela conseguia sentir. Seu coração disparou só naquele momento e Brooke esperou pelo impacto e o ruído de seus ossos se partindo. Mas tudo que ouviu, um segundo antes de chegar ao primeiro andar, foi o zumbido de uma corrente de ar.
Então se chocou contra algo.
Algo duro e frio, mas que não era o chão. Algo que a segurava e apertava, mas que também a protegia do terrível chão.
  Brooke abriu os olhos, o coração quase pulando pela boca aberta, e encontrou um par de olhos vermelhos carmesins a fitando à meros centímetros de distância.

 

— Por que sempre que a vejo, você está em uma situação difícil? — Os olhos eram acompanhados por uma boca, que junto com o nariz e as outras partes formavam um rosto. Um rosto conhecido.

 

 

O rosto de Alec Volturi, que naquele momento, estava apenas a cinco centímetros de distância do seu. Perto demais.

 

 

•••

 

Os quatro Volturi tinham acabado de entrar na mansão quando escutaram gargalhadas. Eles pararam no lugar, silenciosos como fantasmas, e contemplaram a cena que se desenrolava no centro da sala de estar, no topo das escadas. Lá em cima o recém criado de espécie desconhecida, girava em círculos com a Evern nas costas, que ria alto.
 Alec ficou os encarando, inexpressivo, acompanhando tudo com os olhos estreitos. Ao seu lado, ele tinha certeza que Jane revirava os dela.
 Aquilo não ia dar certo, ele percebeu quando Gaz — aquele deveria ser o nome do recém-criado — reproduziu uma pirueta indo para o início dos degraus, e a Evern sacudiu como uma boneca de pano em suas costas. Alec apertou os dentes, sentindo uma onda de ansiedade esquisita. Ele não estava a segurando da maneira correta, e ainda estava girando rápido demais e forte demais para um recém-criado sem controle de suas habilidades.
Mas não houve tempo para pensar em dizer aquilo em voz alta e atrapalhar o casalzinho. Alec observou quando os braços da Evern afrouxaram o aperto no pescoço de Gaz, e no momento seguinte ela estava caindo. Um grito ecoou.
 Ele a assistiu despencando em uma queda de quase três metros, e não pensou muito. Seus instintos berraram e após se convencer que aquele era seu mais novo trabalho — proteger e cuidar da Evern —, ele agiu por impulso. Quando percebeu, era uma sombra atravessando a sala em velocidade vampírica, o manto farfalhando suavemente atrás de si.
Alec olhou para cima e estendeu os braços, chegando bem a tempo de pegar a Evern, que o agarrou pelos ombros como se sua vida dependesse disso.


  Ele se manteve imóvel, e desceu os olhos para o rosto dela. Ela tinha as pálpebras fechadas, estava pálida como papel, e a boca estava aberta em gritos silenciosos. Alguns fios de cabelo castanho cobriam o rosto redondo com traços delicados, e Alec podia ouvir os batimentos desgovernados do coração batendo em seu peito. O cheiro do sangue que estava acostumado a sentir agora, se misturava com o cheiro de lavanda e amêndoas, uma combinação que não sentia há muito tempo. Ele ficou a fitando, sem se mexer, sem piscar, até o seu cérebro lhe enviar a mensagem de parar com aquilo. Era estranho. Tinha que parar de fitar a Evern daquele jeito. Tinha que solta-la imediatamente. Não. Tinha que ter a deixado chegar ao chão em um sonoro e doloroso baque. A queda com certeza não a mataria, então por que ele a segurou?
 Alec engoliu em seco, de repente desconfortável, tomando consciência dos pares de olhos postos em si. Sem aviso prévio, a morena em seus braços abriu os olhos, os arregalando.
A expressão no rosto dela foi de apavorada para incrédula, e mesmo sem querer, o Volturi achou graça, mas continuou com a expressão impassível de sempre.

 

 

— Por que sempre que a vejo, você está em uma situação difícil? — As palavras saíram de sua boca antes que ele pudesse raciocinar direito, e ainda que seu tom fosse sério, ele estava se divertindo internamente com a expressão da garota.

 

 

A Evern piscou. Uma, duas, três, quatro vezes antes de fechar a boca e abrir de novo. Nada saiu. Alec arqueou as sobrancelhas ouvindo os outros se aproximarem e percebendo só então a posição em que estavam: Brooke em seu colo, o agarrando pelos ombros como se estivesse a ponto de tirar sua camisa social, e ele com o rosto inclinado para perto do dela.
Ele fechou a cara.

 

 

— Você deve estar muito confortável, mas eu iria preferir que você me soltasse antes que eu abra os braços e dessa vez você cumpra seu trajeto até o chão — disse Alec. Quando a Evern não mostrou nenhuma reação, ele acrescentou: — Agora.

 

 

Arregalando mais os olhos — se possível — e ficando com as bochechas da coloração de um tomate, Brooke soltou o ar que até então estivera retendo, e se deu conta que era verdade. Estava agarrada a Alec Volturi como um chiclete colado em um chinelo. Ela corou, violentamente dessa vez, e ainda um pouco assustada com a situação e envergonhada, afastou as mãos dos ombros largos do vampiro louro-acastanhado, tentando não pensar como eram firmes e tentando afastar as imagens de suas mãos explorando outros cantos abaixo dos ombros — não que tivesse vontade de fazer isso. Era só... era só... Só sua imaginação fértil plantando cenas sem sentido em sua cabeça ferrada numa hora daquela.
 Ela apertou os cantos dos olhos, mortificada com aquele tipo de pensamento. Sua visão ainda estava um pouco turva quando ela desviou os olhos para bem longe de Alec, enquanto descia do colo dele de maneira nem um pouco graciosa. O Volturi deu um passo para trás, passando as mãos na camisa social amassada, o rosto se contraindo em uma expressão irritada.
 Brooke nem reparou, estava mais concentrada em parar em pé, trabalho difícil quando suas pernas não pareciam suportar o peso do próprio corpo e sua cabeça parecia estar flutuando pela galáxia, absorvendo todo pó das estrelas e todo o peso dos planetas. E então, vários pares de mãos apareceram em sua frente, a puxando de volta para o planeta Terra.

 

 

— Brooke, Brooke, Brooke! Você está bem? Oh, cara. Eu não devia ter usado tanta força! Eu sou um mané... Você está me escutado? Está me vendo? Quebrou alguma coisa... Ai. É tudo culpa minha... — A voz urgente de Gaz a alcançou, e logo em seguida as mãos dele também, percorrendo seus braços, queixo, nariz, sobrancelhas. Uma inspeção desesperada. — Santo Batman! Diga alguma coisa, menina.

 

 

Gaz a chacoalhou, os olhos vermelhos quase grudados nos seus. Ele parecia estar morrendo de preocupação e culpa, e ela quis dizer que estava tudo bem, que não tinha quebrado nada, que foi só um susto. Mas não conseguiu. Não encontrou a voz, de repente fraca demais para isso, então apenas fechou os olhos e suspirou.
O vampiro a sua frente entrou em colapso.

 

 

— Acho que ela bateu com a cabeça! Será que é um traumatismo craniano?

 

Alguém bufou.

 

— Traumatismo craniano uma ova, seu esquisito! Você não viu que meu irmão a segurou a tempo? Ela obviamente está bem. Não sei para quê esse alarde todo, francamente — falou Jane, grosseiramente como sempre. Ela olhou feio para o irmão. — Não vim aqui para isso.

 

— Então você pode realizar o objetivo que a trouxe aqui outra hora, Jane. Agora Brooke está passando mal, obviamente — disse Alice, encarando a Volturi com impaciência. Depois se voltou para a morena de olhos fechados, mais pálida do que o normal. — O que você está sentindo, Broo?

 

 

Brooke abriu a boca, pronta para responder.

 

 

— Você comeu? — Perguntou Renesmee, que até então estava em silêncio, retorcendo as mãos enquanto fitava a amiga.

 

 

Brooke abriu os olhos, encarando a ruiva com algum esforço. Os olhares se encontraram, e a resposta pairou entre as duas como uma nuvem negra de fumaça. Não. Renesmee respirou fundo. Brooke abaixou os olhos, os piscando rapidamente.
 A atmosfera ficou tensa, todos perceberam. Alec observou as duas garotas trocando olhares, como se estivessem se comunicando, e soube na mesma hora que elas escondiam algo. Ele cruzou os braços atrás das costas, esperando que acabassem a conversa por comunicação visual. Quando nenhuma das duas exprimiu uma reação, o Volturi tomou a palavra, desconfortável em estar ali parado como uma planta criando raízes, ainda mais após ter agido de maneira tão impulsiva como agira.

 

 

— Com licença, mas não viemos até aqui para participar dos problemas de vocês — Sua voz soou normal, pelo menos. — Preciso falar com Carlisle.

 

— O quê... O que esse cara está falando? — Gaz murmurou, desviando a atenção por um momento de Brooke. Ele encarou Alec indignado. — Você não está vendo que ela não está bem? E ainda muda o assunto para seus próprios interesses? Ah, sinceramente. Esses Volturi...

 

Alec o designou um olhar frio.

 

— Meus interesses são mais importantes do que a condição da sua amiga — respondeu. Ele sentiu quando Brooke o encarou, mas ignorou. Então se virou para Alice, e insistiu: — Preciso falar com Carlisle. Onde ele está?

 

— Carlisle não está, está no hospital. Onde mais ele estaria?

 

— Então quero falar com Edward.

 

— Ele também não está. Saiu com Bella.

 

O vampiro louro-acastanhado quase rangeu os dentes.

 

— Sendo assim, já estamos indo.

 

 

Alec se virou, acenando com a cabeça para Felix, Jane e Demetri o seguirem.

 

 

— Espera aí, Volturi. Se veio até aqui para falar de algo importante, por que não nos conta? — A pergunta partiu de Emmet, que fez os quatro vampiros da realeza se virarem. O Cullen grandalhão estava com o dedo estirado, apontando de Alice para ele mesmo.

 

A resposta veio rápida.

 

— Porque vocês são insignificantes.

 

Emmet rosnou, fechando as mãos em punhos e se preparando para partir para cima de Alec. Alice o segurou pela gola da camisa antes disso, evitando que a sala de estar de Esme virasse um ringue de luta para os vampiros.

 

 

— Ignore-o, Emmet. Apenas o ignore que ele para de tentar nos irritar — Alice cuspiu, parecendo mais que irritada. — Já que não podemos ajudar em nada, vão embora logo. Até mais!

 

 

Os quatro Volturi abriram sorrisos frios, se entreolharam e viraram as costas, prontos para deixarem a mansão.
Parada no lugar, com as mãos de Gaz a segurando firme e com a consciência da intensidade do olhar de Renesmee caído em si, Brooke estava alheia a tudo. Seus olhos estavam fixos no vampiro entre os Volturi que mais se destacava: aquele cujo o cabelo com coloração indefinida entre o louro e o castanho apresentava um ótimo aspecto no modo como caia pela testa, escondendo quase as sobrancelhas escuras; aquele que era alto, mas não tão alto. Com uma boa altura; e aquele que acabara de salva-la. Aquele vampiro era Alec, e ela não conseguia se convencer disso.
Ele, que toda vez que se encontravam, a ameaçava de morte?
Ele, que mais tinha motivos para mata-la do que salva-la?
Ele, que simplesmente era Alec Volturi?
O mundo deveria estar acabando e Brooke não sabia.
 Ela o acompanhou com os olhos até ele virar as costas. Então um estalo ocorreu em sua mente, e a morena percebeu que em duas semanas, aquela era a primeira vez que se viam. Não que isso importasse, mas ele estava devendo à ela. Devendo o telefonema para Marcy que prometera. E Brooke iria cobrar aquilo, e ia ser agora.

 

 

— Ei! Espere aí! — Ela exclamou a meio tom, tentando se soltar das mãos de Gaz. Os três Cullen a olharam, mas não era o olhar deles que Brooke queria. Ela cerrou as pálpebras. — Eu estou falando com você, Alec Volturi.

 

 

A especificação na última frase fez efeito. Alec diminuiu os passos, até parar de se movimentar, e dando um segundo de suspense, se virou lentamente. Ele encontrou com os olhos castanhos no meio do caminho, e viu o confronto e a ansiedade que se misturavam neles.
Brooke abriu a boca, soltando uma lufada de ar antes de dizer o que queria:

 

— Eu preciso falar com você.

 

 

As palavras chegaram até ele claramente. E Alec também tinha algumas coisas para falar com ela. O homem que estava a vigiando, por exemplo. Sabia que a Evern tinha direito de saber, e que seria certo deixa-la avisada sobre o perigo; mas não queria lhe trazer preocupações naquele momento em que ela estava voltando para uma parte da antiga vida e tentando se adaptar e sobreviver na nova. Ali, olhando para a garota, tinha que admitir isso pelo menos para si mesmo, ainda que não soubesse o porquê ou soubesse dizer quando começara a pensar dessa forma. Apenas era aquilo. E bem, também porque não achava que fosse a hora adequada, é claro.
Além do mais, sabia do que ela queria falar — O telefonema para a mãe —, mas também não achava que fosse a hora adequada. E sua promessa teria que ser cumprida em outro momento.
Sendo assim, Alec encarou Brooke. No fundo dos olhos. Inexpressivamente. Ele viu a expectativa, a coragem e a timidez, mas foi incapaz de não destruir tudo isso quando abriu a boca para responder.

 

 

— Eu não tenho tempo, e não tenho nada para falar com você — Alec respondeu. Então deu um pequeno aceno com a cabeça, começando a se virar novamente. — Por isso, com licença.

 

 

Com olhos arregalados e os punhos se fechando, Brooke o observou virar as costas e partir.

 

 

[...]

 

 

Na segunda-feira, os corredores da Forks High School se transformavam em um hospício. Nas sextas-feiras também, mas ninguém se importava muito por ser um dia antes do final de semana. A aglomeração de adolescentes com hormônios à flor da pele sempre levava ao mesmo caminho: conversas altas, risadas histéricas, brincadeiras maldosas e uma combinação de tudo um pouco.
Sem falar da pegação dos casais escondidos embaixo da escada ou na dispensa.
Mas, sendo a exceção de tudo isso, às dez e trinta e quatro daquela manhã, duas garotas caminhavam pelo corredor da secretaria. E conversavam (em tom normal).

 

 

— Eu sei que posso estar parecendo muito exagerada, mas é o aniversário de casamento de vinte anos deles. Tenho que dar um presente espetacular, afinal foi o esperma do meu pai é o útero da minha mãe que me trouxeram ao mundo. O mínimo que posso fazer por eles é dar um presente decente, Broks.

 

 

Brooke, que escutava com atenção as palavras repetidas de Amália, fez careta. Já tinha perdido a conta de quantas vezes ouvira a menina mencionar o esperma do pai e o útero da mãe. Não que estivesse interessada ou estivesse gostando de ouvir sobre aquilo.
Mas, ainda assim, e como das outras vezes, ela assentiu solenemente.

 

 

— Tenho certeza que você vai encontrar o presente perfeito para eles, não se preocupe — disse, a mesma coisa que vinha dizendo. Então abriu um sorrisinho. — Você vai conseguir.

 

Amália suspirou dramaticamente.

 

— É o que espero. Até Lucy já tem um presente e eu não.

 

 

Brooke voltou a assentir.
Pelo que sabia, Lucy era a irmãzinha mais nova de Amália. Tinha sete anos, um talento com artesanato e era autista. Nunca falava nada e a comunicação era difícil, mas Amália amava muito a irmã, e sempre que falava dela dava para perceber isso.
As duas viraram o corredor.
Brooke estava indo se encontrar com os Cullen após a aula de sociologia que tinha sozinha, Amália estava indo comer. Então como as duas coisas ficavam no mesmo lugar, estavam indo juntas.
Depois do encontro no banheiro, as duas haviam se aproximado, e agora eram amigas. Tudo aconteceu rápido demais: uma hora estavam conspirando contra Courtney Jones, na outra estavam descobrindo que tinham os mesmos gostos — como David Bowie e fanfics de Harry Potter — e quando percebeu, Amália já tinha dado um novo apelido — Broks —, à Brooke, que achou aquilo louco. Gostava de Amália, a achava divertida e uma boa pessoa, mas também sabia que o ideal era se manter afastada. Porque se fossem amigas, teriam que contar um pouco de si uma para a outra, e uma coisa levaria a outra, e então chegariam no ponto que Brooke queria evitar.
O ponto onde os vampiros existiam em sua vida. Aquele ponto.
Teria que omitir isso, e mentir em algumas partes. Então, chegaria uma hora que se sentiria pressionada, e iria querer contar para a mais nova amiga sobre aquela parte obscura de sua vida. Mas como contaria?
 "Ah, tudo bem. Já que estamos falando de mim, eu já te falei que sou refém de alguns vampiros? Sério, eles existem. E alguns até estudam nessa escola, mas fica relaxada porque eles são vegetarianos e consideram o sangue humano muito gorduroso para a dieta light deles."
 Nada daquilo fazia sentido. E, ainda que Amália fosse uma cristã praticante, haviam chances altíssimas dela acreditar em Brooke. Ela acreditava que em algum lugar em Londres, uma das construções em ruínas era o verdadeiro castelo de Hogwarts, oculto por um feitiço e abrigando toda a massa bruxa do mundo.
Mas, além disso, a morena não queria puxar a garota para aquela história, colocado sua vida em perigo. Já bastava ela própria.

 

— Quem sabe um conjunto de roupões personalizados... Vi isso uma vez na internet... — Amália ia balbuciando, batendo com o indicador no queixo.

 

 

Brooke balançou a cabeça. As duas saíram do prédio da secretaria, passando pelo desvio do estacionamento que levava até o outro prédio ao lado, onde ficava o refeitório. O ar estava seco, a falta do vento fazia as folhas das árvores ficarem paradas, caídas de seus galhos, e o céu acima era uma mistura de cinza e branco, com pesadas nuvens que impediam os raios de sol saírem. Poderia apostar que uma tempestade estava vindo.
 Enquanto andavam, Brooke notou algumas cabeças se virando em sua direção e algumas bocas se curvando em sorrisos maldosos e zombeteiros. Ela revirou os olhos, respirando fundo. Já fazia um tempo que tinha retornado para a escola e ainda era o centro das atenções por causa da falsa mononucleose. Até quando aquilo iria durar?
 Andando ao lado de Amália, que parecia absorta demais em suas indecisões sobre qual presente escolher para os pais, Brooke tentou fazer o de sempre: ignorar. E conseguiu. Até mesmo quando passou por Courtney, na fachada do prédio do refeitório, e a Loira-Super-Tudo abriu um dos seus falsos sorrisos, se esquivando da porta da fachada tão rápido que parecia temer contrair uma doença contagiosa.
Amália não estava errada: Courtney Jones era uma vaca. As semanas passadas ali mostraram isso.
 Brooke balançou a cabeça, fugindo daqueles pensamentos. Amália entrou primeiro no prédio do refeitório, e antes que fosse atrás dela, uma sombra se materializou na passagem da porta. Uma pessoa. Parecia ser um rapaz, bem estranho por sinal, vestido de preto da cabeça aos pés e com um chapéu grande demais na cabeça, mas Brooke não dedicou muita atenção a ele. Apenas parou na entrada do prédio e ficou esperando o rapaz sair para que ela pudesse entrar.
Assim aconteceu. O estranho passou pela porta aberta e caminhou em sua direção. Não em sua direção literalmente, porque ela sabia que ele só estava caminhando pelo único caminho, mas a sensação que teve foi essa. Só que, um segundo depois, o estranho passou reto por ela, mas não sem antes esbarrar em seu ombro.
Então aconteceu a coisa mais estranha que poderia acontecer com um esbarrão de ombro.
A mesma vibração que sentira quando tocou Alice, um tempo atrás na cozinha dos Cullens, a percorreu, e o mundo pareceu rodar como da outra vez, a levando para dentro de uma visão, totalmente diferente da última vez.


 Relâmpagos cortavam o céu em meio o dilúvio de água que caia das nuvens. Os galhos das árvores balançavam e estalavam em ruídos com a força do vento, e o cenário era de uma clareira lamacenta e tenebrosa. Brooke, que acabara de aterrissar ali, estava de pé, com os pés afundados na lama, mas não se molhava.
Ela mordeu o lábio, sentindo o coração se apertar em antecedência com o que encontraria ali. Seus olhos vagaram por toda a extensão da clareira e entre as árvores, e, a uma distância de dez metros, encostada em um grosso tronco de árvore, ela encontrou algo. Ou melhor, alguém.
Uma pessoa estava caída ali, com os olhos fechados e as mãos caídas ao lado do corpo. Não se mexia, e não parecia estar respirando. Em suas roupas, grandes manchas escuras se destacavam. Manchas vermelhas. Sangue.
 Brooke arregalou os olhos, e com passos hesitantes e cautelosos, foi se aproximando. Quando parou à três metros de distância, se inclinou para frente e ergueu a mão para tocar o rosto virado para o lado da garota imóvel. Era uma garota.
Em seu interior, ela torcia para que fosse quem fosse, não estivesse morta.
Ela tocou a bochecha da garota, e a confirmação da morte veio quando a cabeça pendeu para a frente. E ela reconheceu aquele rosto.
Brooke gritou. Um trovão cortou o céu. E naqueles segundos, ela contemplou ela mesma ali. Porque a garota era ela, e naquela visão, ela estava morta...

 

Brooke arfou, e dois segundos depois, estava de volta ao mundo real, onde ainda estava viva e onde o clima ainda era nublado e abafado e estava em frente ao prédio do refeitório da escola e não em uma clareira assustadora. Suas pálpebras piscaram, frenéticas, e um sibilo soou em seu ouvido. Ela levantou os olhos, e percebeu que o estranho garoto de preto ainda estava ali, parado no mesmo lugar, mas com o ombro longe de si. Porém, no momento seguinte ele já estava se afastando, puxando o chapéu para baixo, de modo que não deu para ver seu rosto, mas Brooke viu quando os cantos dos lábios dele subiram em um sorriso que a deu arrepios e a deixou petrificada, com o coração acelerado e um pressentimento nada bom.

 

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá, amores! Como vão vocês?
Estou aqui nesse feriado trazendo capítulo novo para vocês (amém) e aproveitando para desejar feliz dia das crianças para aqueles que são, se consideram ou os dois. Se você está em um dos casos, receba minas felicitações.
Mas vamos ao que interessa. Esse capítulo estava programado para ser postado há algum tempo, mas como sempre, minha vida não deixou isso acontecer. Então só deu para postar agora, então espero que gostem e que não me matem.
Ah! Também tenho que falar do capítulo passado, que foi muito importante para mim e me deixou feliz por saber que ajudei algumas pessoas. Foi uma pequena ação, mas que proporcionou grandes coisas e me deixou contente e orgulhosa. Enfim, obrigada a todos que se abriram no capítulo passado e que assim como a Brooke, estão enfrentando seus problemas com muita força. Eu realmente adoro vocês ♥
Agora, vamos falar sobre o capítulo de hoje?
EU NÃO ESPERAVA POR ESSAS ATITUDES! Eu não tinha muita coisa planejada para esse capítulo, mas quando sentei e comecei a escrever, parece que os personagens ganharam vida própria e saiu isso. E eu gostei muito do resultado, a propósito. E SIM! O relacionamento de Alec e Brooke começa a partir daqui.

Podem comemorar. Kskskskks.

Daqui para frente a fanfic entrará em uma fase mais dark e séria, então se preparem e peguem os lencinhos para o próximo capítulo, pois ele estará de matar.
Muahhhhhh.
Enfim, isso é tudo. Quero ver vocês surtando nos comentários, leitores fantasmas aparecendo, e todo mundo torcendo para o casal Broolec.

Então até o próximo capítulo...
Bjs! ❤



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Eyes On Fire" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.