Eyes On Fire escrita por Brê Milk


Capítulo 18
Chapter 16: Negócios com o diabo


Notas iniciais do capítulo

"Petrified of who you are and who you have become
You will hide from everyone, denying you need someone"

— Twenty One Pilots (Friend, Please)




| LEIAM AS NOTAS FINAIS |



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Alec rangeu os dentes enquanto se movia para dentro da mansão. Como fora o último a entrar, fechou a porta atrás de si, e quando se virou, encontrou todos os rostos presentes na sala fitando um ponto específico ao lado da mesinha de centro. Um ponto que batia o pé contra o carpete do chão e que no momento, era seu objeto de ódio.
Em todos os seus anos de existência, de todas as pessoas e personalidades que já encontrou há cada século, de todos os mistérios aos quais já resolveu, nenhum se comprava a Brooke Evern. E isso Alec tinha muita certeza. A presença e os atributos deploráveis da garota o deixavam bastante seguro de nunca ter cruzado com alguém assim. Pelo menos não alguém que permaneceu vivo após ter tido o prazer de conhece-lo. Mas ali estava ela: viva! Desafiando suas ordens. Incitando uma guerra, como se já não tivessem disso o suficiente. E, acima de tudo, o provocando com seu sangue malditamente atraente.
O Volturi fixou os olhos nela, que agora que parava para prestar atenção, parecia diferente de alguma maneira. Eram os olhos, ele percebeu, que passaram a conter uma ferocidade aquela tarde. A ferocidade adormecida que ele vira quando a conhecera, despertara, não completamente, mas o suficiente para muda-la. E a consumiria se a garota assim quisesse, o que dificultaria o plano de mantê-la sobre controle agora que tinha a certeza de que ela era uma peça fundamental daquele enigma que vivenciavam.
Alec soube, antes mesmo do confronto com os lobos, que aquela garota iria dar trabalho, muito trabalho. E não estava nem um pouco feliz com isso, mas como o bom Volturi que era, gostava de um desafio, e domar Brooke Evern havia se tornado um naquela tarde.
Ele cerrou os olhos.
Ela arqueou uma sobrancelha, o surpreendendo pela coragem de retribuir o gesto.
Mas era ela, a Evern. E infelizmente matá-la, feri-la ou machuca-la não eram opções válidas. Não no momento.

 

— O que aconteceu esta tarde não poderia ter ocorrido — Veio a voz de Carlisle, que rompeu o silêncio tenso formado nos poucos minutos que estavam ali.

 

Ninguém discordou. Mas antes que o anfitrião dos Cullen pudesse continuar seu discurso lastimável, Alec se pronunciou de forma contida e estratégica, cruzando as mãos atrás das costas e retomando toda a sua postura elegante e nobre que perdera na divisa dos territórios entre os lobos e os Cullen. Coisa que ele repreendia até o exato momento.

 

— Você tem toda razão em suas palavras, Carlsile, mas isso é um fato, e lamentar por ele não o fará desaparecer. Então sugiro que deixemos esse assunto para lá e foquemos no que realmente importa agora. — Os olhos de Alec trilharam um caminho até Brooke. — Que é obviamente, a valente e rebelde Brooke Evern.

 

A tensão no ar se intensificou. E parecia até hilário o fato de que toda vez que se reuniam embaixo do mesmo teto, aquela fosse a atmosfera preferida das ocasiões.
Os olhos dos vampiros se fixaram na morena em pé, abraçada a si mesma, com o maxilar travado e os batimentos cardíacos acelerados. Alec inclinou a cabeça para o lado, e visualizou o momento em que Brooke o lançou um olhar que o lembrava rancor, e então virou o rosto para o lado, abrindo a boca e não se dirigindo a ninguém particularmente:

 

— Eu disse tudo que tinha a dizer lá na divisa. Mas se quiserem me punir por ter saído da mansão, vão em frente.

 

— Brooke, não! — Exclamou Renesmee, e Alec a viu a confusão de cabelos vermelhos correndo para se colocar ao lado da amiga instantaneamente. A híbrida cruzou os braços e empinou o nariz, de uma forma irritantemente imperiosa. — Não vou deixar que encostem um dedo nela! Brooke não tem culpa de nada. Eu a convenci a sair, então se forem puni-la por isso, terão que me punir também!

 

— Se afaste, Renesmee, e pare de falar besteiras — Ordenou Edward, encarando a filha severamente.

 

— Não.

 

— Nessie, não é necessário.

 

— Fique quieta, Brooke, você está estragando meu primeiro ato de rebeldia na vida. Santo deus! E olhe que nem religiosa eu sou.

 

— Calem-se vocês duas! Se querem ser punidas por que não falaram antes? Estou aqui para isso — Disparou Jane, abrindo um sorriso sádico logo em seguida.

 

Alec esperou pacientemente a discussão acabar, e quando isso aconteceu, limpou a garganta.

 

— Não há porque se preocuparem, garotas. Não haverá punição para ninguém, embora devesse ter — Ele sorriu, mas o sorriso não chegou até seus olhos, que congelaram em Brooke. Jane bufou. — No entanto, não posso deixar essa sua violação em minhas ordens, passar, Evern, ainda que ela tenha nos levado a uma direção certa, além de tudo. O que levanta a questão: Como você sabia sobre os cadáveres?

 

Fez-se silêncio. Alec esperou pela resposta, mas ela não veio. Ao invés disso, o que ele recebeu foi um prolongado olhar da morena, que depositou nele toda a frieza e desinteresse possíveis. Ele aceitou aquilo com toda a boa educação possível.

 

— Como você sabia sobre os cadáveres? — Insistiu Alec, se esforçando para manter qualquer ameaça longe do tom de voz.

 

Brooke não respondeu. Apenas piscou calmamente e girou a cabeça, olhando para a parede no outro extremo do cômodo. E então o Volturi compreendeu - como todos os outros onze vampiros presente - que ela estava o ignorando de propósito. E ele se enfureceu, incrédulo. Nunca ninguém o ignorara de tal maneira, não seria uma humana estúpida a fazê-lo.

 

— Hum, Brooke? — A híbrida cutucou a morena. — Alec te fez uma pergunta, e está esperando você responder... eu acho.

 

Aquilo definitivamente era o ápice de sua decadência, Alec pensou. Mas ele entendia o jogo que a Evern estava jogando, um jogo que ela tinha o domínio, mas não as regras. Isso era dele, sempre fora e sempre seria. Então se ela queria jogar, que jogasse. Ele era um jogador melhor.

 

— Eu ouvi — Disse Brooke. Ela olhou brevemente para Renesmee, mas logo voltou os olhos para a parede.

 

Os vampiros se entreolharam.

 

— E então? — Inquiriu Alice.

 

— Eu não sabia — Murmurou, enfim. As palavras saiam lânguidas dos seus lábios que quase não se mexiam. — Não fazia ideia, eu apenas... senti. Uma sensação intensa, sufocante. Era um pressentimento ruim, que comprimia meu peito, era... vozes. —Brooke correu os olhos pelos rostos na sala, e sua expressão ficou atordoada, as orbes vidradas com a lembrança. — Elas gritavam para mim. Aqui. — Ela indicou a cabeça. — elas pediam ajuda. Sei que pode parecer estranho, mas é verdade. Eu só... sabia. E então não me lembro de mais nada. Mas uma coisa é certa, era a visão que Alice teve.

 

— Louca — Enunciou Jane, quando ninguém soube o que responder.

 

Brooke se virou bruscamente para ela, a expressão atônita dando lugar a uma hostil. Alec a observou encarar sua irmã com os dentes cerrados, alinhar a postura e fechar as mãos em punhos. Uma verdadeira armadura trajada em tempo recorde.

 

— Eu disse a verdade, se quiser acreditar, acredite. Se não, vá para o inferno.

 

Jane rosnou.

 

— E como sabemos que podemos confiar em você? — A pergunta partiu de Demetri, que se manifestou unicamente para agradar e acalmar Jane.

 

Brooke soltou uma risada fraca e inesperada.

 

— A pergunta deveria ser ao contrário, Volturi. Mas, se você quer saber, aqui está a resposta. — Rebateu. — Talvez tenham esquecido, mas, vocês me sequestraram — Ela fez um gesto abrangendo todos eles. — Você tentou me matar e não duvido nada de que queira tentar de novo. — Apontou para Alec — Você me torturou e me fez gritar de dor porque é uma vadia psicótica. — Ela indicou Jane. — Vocês dois são farinha do mesmo saco que eles. — Acenou para Felix e Demetri. — E vocês... vocês os deixaram fazer isso comigo quando diziam lamentar. — Seus olhos pousaram nos Cullen, com a exceção de Renesmee. — Todos vocês arruinaram minha vida de alguma maneira. Como se viver já não fosse difícil antes. Arrancaram tudo de mim. Minha liberdade, minha rotina, minha mãe. Tudo! Então não me pergunte porque vocês iriam confiar em mim quando eu quem deveria questionar isso.

 

E lá estava a ferocidade nos olhos dela, Alec viu. E curiosamente não se sentia ofendido pelas palavras que acabara de ouvir, como o restante dos presentes aparentavam estar. Não. Ele se sentia... impressionado. Achara que a força que a Evern demonstrara antes tivesse sido dada simplesmente pelo fato da proteção professada dos lobos, mas ali estava ela. Enfrentando um dúzia de vampiros, falando verdades que ninguém dizia e continuando firme. Por alguma razão, Alec achou aquilo algo que ela faria, mesmo que não a conhecesse por inteiro. E então ele percebeu, chocado com a descoberta, que que a garota poderia ser um bom investimento. Ainda que ele nunca fosse admitir, e se amaldiçoasse por pensar aquilo, no pouco tempo de convívio, Alec soube reconhecer as características que alguém promissor poderia ter, e Brooke tinha.
Ela era atrevida em suas respostas, mas inteligente o suficiente para saber quando ficar calada; orgulhosa; e parecia ter o hábito de demonstrar coragem combinada com autoridade quando ninguém está esperando.
Mas ele não admitiria nada disso nem sob sentença de morte.
Tão pouco seria ele a investir na Evern.
E, enquanto se recuperava do choque em descobrir aquilo, as coisas continuam acontecendo ao seu redor.

 

— Você, sua estúpida, parece que perdeu o medo de morrer — Berrou Jane, encolerizada.

 

— Muito pelo contrário. Eu tenho medo, mas não de vocês. Não mais. — Retrucou Brooke, abaixando o tom de voz para um que beirava o desprezo. — Hoje a tarde percebi que precisam de mim, para o bem ou para o mal, e enquanto precisarem, não serão idiotas em me fazer mal. Podem até me ameaçar, gritar ou fazer o que quiserem, mas não vão me machucar. — Ela abriu um sorriso cínico, que nunca ninguém a vira abrir, e o direcionou a Jane. — É por isso que de hoje em diante, quando você tentar me torturar, terá que se contentar com a minha outra face, pois é ela que eu irei lhe dar.

 

— SUA...

 

— Irmã, contenha-se — Alec interviu, fazendo um gesto para Demetri que impediu Jane de avançar. Ele se virou para Brooke, lembrando-se de seu jogo. — Tenho a certeza que quando expressamos nossos desejos em palavras eles podem parecer reais. Mas há uma enorme diferença entre dizer e fazer, creio eu.

 

Brooke o fuzilou com os olhos, e Alec ficou satisfeito com o efeito de sua provocação, embora ela não o tenha respondido (como o esperado).

 

— Então esse é o seu posicionamento a partir de hoje? — Perguntou Carslile, para Brooke, claramente.

 

— Sim, é.

 

Posicionamento! — Protestou Jane. A ideia da palavra parecia lhe causar enjoo. — Essa insuportável insolente se posicionando entre nós!

 

— Tenho a certeza que você irá superar.

 

Alguém gargalhou.

 

— Essa é a minha garota.

 

Todos se viraram ao mesmo tempo, mas foi Brooke quem estancou no lugar e sentiu o impacto, que veio junto com um nome que rompeu por sua boca, retumbando pelas quatro paredes da sala e aquecendo seu próprio coração:

 

Gaz?

 

Tão imóvel quanto ela, no outro extremo da sala, conversando com Esme, lá estava ele, Gaz. Gaz Julions. Seu melhor amigo. Acordado. Ela mal podia acreditar. Mas, assim que ouviu seu grito, ele girou a cabeça e a olhou, um olhar que a tirou o fôlego. Ainda era o Gaz de quatro ou três dias atrás, mas algo havia mudado nele. Muita coisa havia mudado. Brooke apertou os olhos para ver se estava enxergando bem, e, com a confirmação que estava, se deixou analisar o amigo antes de pronunciar qualquer coisa. Uma parte para ter certeza que ainda era ele mesmo, outra parte porque era difícil não analisar, olhar ou se impressionar com a figura do rapaz naquele momento.
A primeira coisa que a morena notou foi que Gaz parecia ter crescido uns bons centímetros enquanto estivera no processo de transformação, a segunda, foi a palidez acentuada de sua pele. O cabelo parecia ter mudado também, para um tom de loiro quase dourado, como o de um anjinho, assim como os traços em seu rosto que como os outros vampiros presentes, se tornaram inumanamente perfeitos. Gaz estava perfeito. No entanto, foram os olhos que a deixaram impressionada, os olhos que antes tinham uma tonalidade de azul marinho, aquele azul que ela achava combinar tanto com a fofice do amigo, agora estavam vermelho. Vermelho sangue. E isso assustou Brooke a princípio, mas, foi só o loiro e mais recente vampiro, abrir um daqueles sorrisos maliciosos característicos dele, que Brooke teve a certeza que nada além da aparência dele havia mudado.
Ainda era ele.
Ainda era Gaz.
Seu Gaz. Seu melhor amigo e piadista ruim exclusivo.
E sempre seria ele.

 

— Ao vivo e em cores. — Respondeu Gaz, mas depois pareceu pensar um pouco e uma careta apareceu em seu rosto. — Na verdade, um pouco pálido, mas você entendeu.

 

Brooke riu, percebendo só naquele momento que estava com os olhos marejados. Ela os secou rapidamente com a palma da mão, e piscou duas vezes, só para ter certeza que Gaz não era uma miragem. E não era. Ele estava ali. Sorrindo para ela. Falando com ela. Vivo. E não poderia haver qualquer outra coisa que a deixasse mais feliz naquele momento, nem que fizesse seu peito transbordar de afeição ou que a impedisse de sorrir. Seu melhor amigo estava vivo. Parcialmente, mas vivo.
 E foi exatamente movida por tais pensamentos, que ela se moveu, dando um passo em direção ao outro extremo da sala, em direção a Gaz. No entanto, ele também se moveu, só que para mais longe. Brooke franziu o cenho, e deu mais um passo. Gaz recuou mais um.

 

— Por que está se afastando, Gaz? — Perguntou ela, contornando o sofá. — Eu quero abraça-lo!

 

— Não acho que seja uma boa ideia, Broo — Respondeu ele, se colocando atrás de Esme, o que não adiantou muita coisa, já que ele tinha o dobro do tamanho de Esme.

 

Brooke parou de avançar, colocando as mãos nos quadris em um gesto inconsciente e irritado.

 

— E por que não?

 

Gaz apenas balançou a cabeça, a olhando tristemente, e não respondeu. Ao invés disso, ele olhou para todos os lados, procurando uma saída, e quando não encontrou nenhuma, olhou para todos os rostos que observavam, com uma expressão que dizia "uma ajudinha aqui, por favor."

 

— Seu amigo agora é um recém-criado, Brooke — Explicou Carlisle, quando ninguém se dispôs a ajudar o pobre vampiro que se escondia atrás de Esme (essa que falava palavras tranquilizadoras para ele).

 

Brooke uniu as sobrancelhas.

 

— E...?

 

— E que ele deseja sangue humano mais do que tudo agora, garota — Murmurou Félix, repentinamente. Ele apontou para ela. — Você tem muito disso, pelo que eu sei.

 

Brooke fitou Félix, horrorizada. O Volturi assentiu, chacoalhando os ombros e voltando para sua habitual mudez. Assim, ela entendeu, com um clarão passando em sua mente, o motivo da reação nada acolhedora de seu melhor amigo. E entendeu mais ainda, o que aquilo queria dizer. O significado da mudança dele a partir dali.

 

— Ah, Gaz — Suspirou Brooke, se virando novamente para encarar o loiro. — É por isso que está se afastando? Por ter medo de me machucar? — Ele não respondeu, mas ela não precisava de respostas, e por isso, sorriu. — Não precisa ter medo, porque eu não tenho. — Brooke deu um passo para frente e viu o pavor nos olhos vermelhos. — Não se afaste, por favor! — Gaz obedeceu, mas ficou a fitando rigidamente enquanto ela se aproximava cautelosamente. Brooke parou diante de Esme, que sorriu e foi se juntar aos outros, deixando a morena e o loiro frente-a-frente. — Eu fiquei com tanto medo de te perder, Gaz, e quando você acorda não me deixa chegar perto para abraça-lo?

 

— Você não é a única com vontade de abraçar, Broo — Ele sussurrou, abaixando os olhos. — Mas não posso fazer isso, porque tenho medo de perder o controle e... — Gaz suspirou profundamente. — quando acordei no escritório do Dr. Cullen, algumas horas atrás, e descobri o que me tornei, meu primeiro pensamento foi te ver. Eu pedi isso, mas ele me disse que precisava me alimentar primeiro, para esse meu medo não se concretizar. Então saímos para caçar... animais, para ser mais exato, e quando estava me alimentando de um cervo, eu... eu... eu não consegui, Brooke. Não consegui beber sangue animal. Aparentemente, meu corpo e minha nova condição de vampiro rejeita esse tipo de sangue, porque eu não sou como os Cullen. — Gaz ergueu a cabeça, as orbes vermelhas brilhantes. — Sangue humano é a única coisa que irá me satisfazer, infelizmente. E por mais que eu não queira, tem essa fome dentro de mim, que está implorando para ser saciada. Mas eu não posso, não porque não queira, mas porque... Porque, o que você pensaria de mim? Não quero que me veja como um monstro.

 

— Gaz — Disse Brooke, ao fim de tudo, tocando o queixo do amigo e o erguendo até alcançar seus olhos, delicadamente. — Eu estou chorando, mas não é de medo — Ela piscou, espantando as grossas lágrimas que rolavam por suas bochechas. — porque eu não tenho medo de você e nunca terei. Você é meu melhor amigo, Gaz Ethan Julions, e sempre será. Não me importa se você é humano, vampiro, lobo ou qualquer outra espécie que exista nesse mundo. Também não importa o tipo de sangue que você bebe. O que importa é que você está aqui, agora, e que eu posso te abraçar sem temer ou imaginar um mundo onde Brooke Evern não teria Gaz Julions para fazer piadas ruins ou para irritar os professores quando eles pegam em nossos pés. — Os dois riram. — Eu nunca te veria como um monstro, Gaz, porque eu adoro você, e isso não vai mudar. Então, eu vou te abraçar agora, e se você se afastar de novo, sou eu quem vai te machucar, ok?

 

— Ok.

 

Os dois sorriram, e sob os olhares dos Cullen e dos Volturi, se abraçaram. Gaz prendeu a respiração, e Brooke resmungou algo, mas voltou a rir, percebendo a temperatura fria do amigo, e que no entanto, o coração ainda batia dentro do peito, para surpresa dela.
Se sentia bem, com ela mesma e com o mundo. Se sentia completa, como se pudesse dar a mão a Gaz e juntos combaterem todos os perigos do mundo. E talvez — pensou Brooke —, até mesmo os perigos naquela sala, que observavam a cena de cara amarrada. Mas isso ela deixaria para depois. Por hora, eram somente ela e ele, juntos contra o mundo.

 

— Gaz? — Chamou Brooke, alguns minutos depois, com dificuldade enquanto ainda estavam abraçados.

 

— Hum?

 

— Você está mais forte agora... e tá me apertando muito... não consigo respirar...

 

— Oh, desculpe.

 

Gaz a soltou rapidamente, e Brooke pôde sentir o oxigênio entrando em seus pulmões novamente. Quando voltou a olhar para ele de novo, os olhos do loiro haviam adquirido uma coloração preta como carvão. Ela sorriu amarelo.

 

— Vamos arranjar uma bolsa de sangue para você — Prometeu Brooke, recordando da vez que viu Carlisle chegando com um pequeno carregamento clandestino do hospital.

 

Gaz piscou um olho.

 

— Se eu pudesse vomitar, vomitaria — Grunhiu Jane, fazendo Brooke lembrar que ela e os outros estavam ali.

 

A morena se virou, alinhando a postura. Ela olhou para cada um, e viu Renesmee com um grande sorriso estampado no rosto e os olhos afundados em lágrimas, abraçada com Bella. Também viu Alec, que a observava inexpressivo, com as mãos dobradas atrás das costas. Como um general. Ele não piscou em nenhum momento, o que a fez virar o rosto para o lado, incomodada com o olhar dele.
Para seu grande alívio, Jasper se pronunciou:

 

— Precisamos decidir o que vamos fazer com ele — Disse, apontando para Gaz.

 

— Podemos matar ele — Pronunciou Jane, a voz vibrando em expectativa.

 

— Como é? — Balbuciou Gaz, olhando para Jane, espantado.

 

— Você não vai encostar nele — Bradou Brooke, se colocando na frente do loiro e lançando um olhar fulminante para a Volturi.

 

— Ninguém vai matar ninguém. Por enquanto — Decretou Alec, depois de muito tempo calado, o que o atraiu muitos olhares. Com apenas um direcionado a irmã, ele a fez se afastar resmungando. — Tenho pendências a resolver, e no momento não acho que dê para resolver alguma coisa — com todas essas emoções envolvidas, ele completou mentalmente, lançando um breve olhar para a dupla patética de amigos. — Quando eu voltar, resolveremos isso. Até lá, mantenham os dois dentro da casa — Alec indicou Brooke e Gaz. — isso é uma ordem, e dessa vez é para ser cumprida.

 

O olhar dele congelou sob a Evern, que estreitou os olhos, mas assentiu. E então, com aquela confirmação, não muito confiável, mas sendo o que tinha no momento, Alec virou as costas e saiu da casa em velocidade vampírica, deixando os seus, os Cullen, o vampiro novo e a Evern, para trás.
 Uma verdadeira diversidade cultural em um único lugar, ele refletiu, enquanto adentrava a floresta.

 

 

[...]

 

 

— Você precisa parar de me ligar, Heidi — Foi a primeira e a última coisa que Alec disse antes de encerrar a chamada e desligar o celular, o jogando em cima da cama, onde o aparelho quicou algumas vezes e depois pousou silenciosamente.

 

O vampiro bufou, jogando a cabeça para trás contra o estofado da poltrona, e fechou os olhos, sentindo que a qualquer momento sua mente poderia explodir. Alec nunca pensou que uma parceira de sexo causal pudesse dar tanto trabalho, mas Heidi dava. E ela estava em Volterra, na Itália, com um oceano separando os dois. E ainda assim a vampira conseguia persegui-lo, que se questionava como ela conseguia seu número, visto que ele mudava por aquele exato motivo. As ligações dela.
Aro. Claramente.
Outro que o fazia bufar. Ele havia ligado — antes de Heidi — e exigia por novidades. A notícia boa foi que Alec tinha novidades para ele, a notícia má, foi a reação que conseguiu por elas. Como de praxe, Alec fizera o relatório de desempenho da missão até aquele momento, onde entre todos os tópicos, apenas um parecera realmente interessar ao seu mestre: a Evern. O interesse de Aro pela garota ficara visível assim que Alec contara sobre O Livro dos Sonhos e o ocorrido que ele chamava de premonição com os corpos em decomposição em La Push.

 

— Inacreditável, meu caro! — dissera Aro, dando logo em seguida uma de suas risadas estranhas. — Pelo que você me conta, esta garota parece ser muito... promissora.

 

Promissora. Alec refletira sobre a palavra por um tempo, antes de responder, pois, ela também estivera em seus pensamentos um pouco antes, direcionada a Evern também.
 Entrementes, seu mestre não precisava saber daquilo, e Alec se limitou a concordar apenas porque era verdade.

 

 

— O livro de Drácula com uma mera humana... — Aro murmurara na ligação, ainda parecendo deslumbrado com a notícia. — A não ser que....

 

Aro se calara naquele momento, e durante alguns segundos, a chamada ficou muda.

 

— A não ser o que, mestre? — Alec teve que perguntar, com a curiosidade e a desconfiança lhe enchendo os sentidos.

 

Na ocasião, Aro apenas soltara um suspiro dramático e deixara o suspense encerrar o telefonema mais confuso que os dois já tiveram.

 

— Esqueça meu querido, esqueça. Preciso fazer umas pesquisas pessoais, mas posso lhe dizer que talvez estejamos lidando com um tesouro valioso em nossas mãos — Falou Aro, e seu tom de voz indicava uma alegria repentina.

 

Alec não gostara daquilo. Podia imaginar o que se passou na mente de Aro, e continuava firme em seu argumento que a Evern não podia ser a pessoa a quem a profecia do livro se referia. Por que todo mundo achava que era ela? Primeiro Alice, agora Aro. Alec não queria começar a duvidar de seu julgamento, mas começava a ser uma tarefa difícil.

 

— Mestre?

 

— Acabamos por aqui. Mas antes de desligar, preciso lhe incumbir mais uma tarefa, caro Alec. Quero que proteja nossa garota promissora. Esteja sempre ao lado de Brooke Evern, e cuide para que não se torne tão próxima dos Cullen — O sobrenome fora pronunciado com despeito. — E ah, por mais que ela seja sua cantante, Alec, não quero um fio de cabelo sequer tocado dela, estamos entendidos?

 

E ponto. A ligação acabara ali. Logo depois fora a vez de Heidi, e agora Alec sentia-se pronto para matar o primeiro que aparecesse.
 Não sabia o que Aro quisera dizer, mas suspeitava que fazia referência a Evern, e levando em conta todo o interesse, nada de bom poderia vir daquilo. Não que ele se importasse. Não se importava.
 Mas se preocupava. Com a parte de virar guarda-costas dela, claramente. Era uma preocupação egoísta e uma maneira de evitar mais problemas, especialmente se fosse levado em consideração o fato de Alec ainda estar aprendendo a controlar o impulso de saltar na jugular de Brooke sempre que a via. No entanto, era uma ordem direta de Aro, seu mestre. E ele cumpria as ordens que lhe eram dadas. Esse era o seu trabalho, afinal.
 Ele bufou mais uma vez e abriu os olhos. O quarto estava escuro e silencioso, assim como todo o apartamento, para onde rumara depois de sair da mansão Cullen, e ele estava parado entre as sombras. Seus olhos carmesim fitavam o nada negro a frente, e seus ouvidos captavam os sons e os ruídos de todo o prédio, mas ainda assim Alec não se moveu. Gostava daquilo: de ficar parado. Imerso em pensamentos e na escuridão. Ninguém para o perturbar, para lhe dar ordens ou para lhe puxar o saco. Mas, como todas as coisas tinham lados bons e ruins, aquela atividade também tinha seu lado desagradável: as lembranças que os pensamentos traziam. E eles trouxeram.
 Em um momento, Alec estava apenas parado, contemplando o escuro. No outro, sua mente estava sendo invadida pela imagem de um carro rodando na estrada, e o nome da Evern sendo berrado. Então ele piscou, percebendo que fazia tempo que não parava para pensar sobre aquilo. Em todo o tempo que estivera com Brooke, nunca a perguntara nada a respeito de um acidente de carro, mas também nunca a perguntara nada que não fosse sobre mortes ou ataques. Mas Alec se lembrava, vagamente, de ter lido em seu dossiê que ela sobrevivera a um acidente de carro.
Um acidente de carro que presenciei, ele refletiu.
Não sabia o que tinha acontecido depois que fora embora e deixara o carro pegar fogo, mesmo ouvindo os muitos gritos de ajuda que alguém repetia. Brooke tinha sobrevivido, isso era óbvio. Mas e se tivesse morrido? Como ele saberia disso agora?
 Alec se pegou imaginando, e quando notou a atitude descabida, se repreendeu e balançou a cabeça, se recusando a pensar sobre aquilo.

Que seja. Disse para si mesmo.
Que seja.

 

 

 

***

 

 

Noticiário local de Forks, segunda-feira de março... Ainda sobre a misteriosa onda de assassinatos e desaparecimentos da cidade, foi identificado mais uma pessoa desaparecida na última semana. Gaz Julions, de dezessete anos, desapareceu na última semana, sendo visto pela última vez em Seattle. A polícia declarou estar investigando o desaparecimento, assim como os outros quinze registrados nos últimos meses. Os pais do jovem Gaz não quiseram gravar entrevista, mas dizem estar muito angustiados e desolados com o sumiço do filho, e pedem desesperadamente, que qualquer um que tenha visto ou tenha notícias sobre o filho, entre em contato urgentemente com o departamento de Polícia...

 

— De todas as vezes que me imaginei aparecendo na TV, nenhuma envolvia o meu desaparecimento, sequestro ou morte — comentou Gaz, torcendo o nariz para a própria imagem na televisão.

 

— Sinto muito por isso — disse Brooke, sentada ao seu lado no sofá, e abraçou o amigo de lado, desajeitadamente. — Você deve estar com saudades dos seus pais. Sinto muito.

 

Gaz deixou de prestar atenção no noticiário, virando a cabeça para olha-la. Um mínimo sorriso apareceu em seus lábios.

 

— Tudo bem, acho que estou começando a superar isso — Ele apontou o indicador para a repórter do noticiário, que continuava falando sobre ele e seu suposto desaparecimento. — E também sinto muito. Pela sua mãe.

 

Foi a vez de Brooke abrir um mínimo sorriso.

 

— Você já me disse isso. Ontem. E antes de ontem. E semana passada.

 

— Nunca é demais prestar apoio a uma amiga.

 

Não teve como a morena não sorrir, o que fez o loiro sorrir e então logo os dois estavam rindo. Brooke balançou a cabeça e a deitou no ombro de Gaz, que voltou a atenção para a televisão e para seu rosto que estampava o canal.
 Os dois estavam sentados na sala da mansão já fazia quase três horas, onde eles começaram a maratona de Friends, série que ambos adoravam e que descobriram isso no espaço de tempo que estavam trancafiados na mansão, juntos. Juntos. Brooke agradecia tanto por isso. Não que ela tivesse se acostumado a ser uma prisioneira, ou que Gaz fosse um novo prisioneiro a agradasse; não era nada disso. Ela estava apenas contente por pelo menos estar naquela situação com alguém que amava, e com alguém que a compreendesse tão bem.
Gaz era esse alguém.
Mas, o fato de tê-lo ao seu lado agora, não descomplicava as coisas. Não do jeito que ela queria.
Uma semana atrás, quando conheceu os lobos e Gaz acordou como um recém-criado, as coisas tinham alcançado o ponto alto de tensão. Os Cullen e os Volturi tinham que chegar a uma decisão sobre o que fariam com Gaz, e embora ele fosse um vampiro diferente, (talvez) perigoso e o caminho mais fácil fosse sua execução — palavras ditas por Jane —, tudo havia acabado bem no final.
 Tanto os Cullen quanto os Volturi (menos Jane) tinham concordado em deixar o pobre Julions vivo — no sentido mais supérfluo da palavra — contanto que deixasse ser estudado cientificamente para ver se conseguiam extrair alguma pista da nova espécie de vampiros, e contanto que ele aprendesse a se controlar.

Não foi difícil aceitar.

E então, logo uma amostra de sangue de Gaz estava sendo coletada e encaminhada para um laboratório de pesquisa que os Volturi arranjaram com impressionante rapidez. E, em seguida, Edward tinha virado o novo professor de Gaz. Brooke tentou se manter distante todas as vezes que eles treinavam o lado descontrolado por sangue do amigo, ação bem sucedida graças a Renesmee, que a deixou bem ocupada durante todas as horas de treinamento com algumas histórias, todas elas sobre sua família, cujo Brooke já sabia mais coisas do que deveria. Os quatro Volturi iam e vinham com menos frequência, e a não ser por Félix — que ainda assustava Brooke com sua semelhança de armário gigante e nunca falava nada — , irritavam a todos cada vez mais, como se quisessem compensar todas as outras vezes que não estavam presentes. Em especial Alec, que tinha seu próprio jeito para irrita-la, em particular. Ela ainda o ignorava, não o respondia e o limitava olhares hostis. Mas para seu profundo descontentamento, o vampiro louro-acastanhado devolvia na mesma moeda, a alfinetando deliberadamente enquanto conversava com outra pessoa. E Brooke odiava isso, primeiro porque não podia se defender já que se recusava a falar com ele diretamente; segundo porque se perguntava o motivo de Alec ainda estar tolerando aquele comportamento dela e ter entrado no jogo. Ela sabia que estava sendo extremamente infantil ao ignora-lo, como uma criança de sete anos faria, mas não podia se conter. Tinha que revidar toda a glória e toda a ameaça que Alec Volturi representava. De alguma maneira, mas tinha. Brooke não teve notícias ou contato com nenhum Quileute, o que a deixou um pouco desapontada; e além dela, Renesmee parecia particularmente triste com a ausência de Jacob, que não dera as caras pela mansão desde o ocorrido do penhasco. Particularmente, Brooke achava que o afeto que os dois compartilhavam ia além da amizade, mas como a ruiva não comentou nada, preferiu guardar sua opinião para si mesma.
 E assim março chegou, trazendo a primavera e uma nova etapa na vida de todos eles. A missão ainda era prioridade para os Volturi, assim como pegar o culpado por todo o caos instalado em Forks, era para os Cullen. Mas, em um dia, as mortes pararam de acontecer. Os corpos pararam de serem achados e os desaparecimentos cessaram, — com a exceção de Gaz, que teve o desaparecimento arquitetado por eles — e então tudo o que sobrou foi suspeita. Os Cullen e os Volturi concordavam que aquilo estava errado. Talvez fosse uma armadilha ou uma distração. Mas para o quê? Eles não sabiam. Apenas tinham certeza que assassinatos em massa em uma cidade não era uma coisa que acontecia e parava sem um porquê. Não enquanto tivessem mais vítimas vivas.
 Mas era isso. Assim os dias se passaram, e quanto mais ocupados e focados em descobrir a mente por trás de todo aquele rastro de sangue os vampiros da mansão ficavam, mas confortável Brooke se sentia em sua "nova vida" — como ela denominava com um pouco de humor ácido.

Sentia muita falta de Marcy, isso era verdade, mas estava confortável com os recentes dias ali. Ela tinha se desculpado com Gaz, que depois de muitas aulas com Edward e um freezer abastecido de bolsas de sangue clandestinas, conseguia ficar ao lado de Brooke, abraça- lá ou cheira-la sem querer cravar os dentes em seu pescoço. Também tinha ganhado acesso livre para todo o resto da casa, inclusive havia se mudado para um novo quarto, cheio de vidro e transparência, com uma ótima vista para a floresta, e que — não podia esquecer — era o antigo quarto de Edward, antes dele se mudar para o chalé que Brooke nunca visitou, com Bella e Renesmee. E ainda tinha a parte que mais a agradava: ninguém dedicava muito tempo para supervisionar sua alimentação. Quer dizer, Gaz e Renesmee, sim. Mas a ruiva estava sempre na escola, e o amigo tinha as aulas de controle, o que deixava Brooke sozinha na maior parte do tempo, o que a levava a escolher a própria refeição.
O problema era que ela não escolhia.
 Tinha se convencido que precisava dedicar mais atenção no que acontecia ao seu redor, e que o tempo que levava para comer uma torrada no café da manhã ou tomar a sopa no jantar, poderia ser gasto em outra coisa. Qualquer outra coisa. Ela apenas não sabia no que, já que as opções eram limitadas dentro da mansão. E todas as vezes que alguém a questionava se não iria comer, Brooke dava uma resposta vaga, ou mentia, ou dizia apenas um "já estou indo". Ninguém percebia, e quando percebiam, ela os enrolava. Era boa em enrolar, um de seus vários truques anoréxicos — outra denominação com humor ácido.
Não importava. Ela estava bem. Muito bem. E achava que apesar de tudo, e depois de tudo, poderia estar começando a achar seu caminho novamente, mesmo que dentro de um mundo com criaturas míticas. Estava bem...

 

— Você está com fome? — A voz familiar de Gaz soando acima de seu ouvido a tirou dos devaneios.

 

Brooke levantou a cabeça do ombro dele em movimento rápido.

 

— O quê? — perguntou, um pouco assustada com o tema da pergunta quando era o mesmo que se passava em seus pensamentos.

 

Gaz franziu o cenho.

 

— Eu perguntei se você está com fome— respondeu. — Já estamos aqui há muito tempo, e achei que você estivesse com fome, sabe... você é humana, e tudo bem que eu era também há uma semana atrás, mas ainda sei como é sentir fome... por comida, é claro. Não por sangue. Não que eu não esteja com fome de sangue agora, porque sou vampiro, e vampiros sempre estão com esse tipo de fome... mas não precisa se assustar, porque eu não vou comer você... — Gaz se interrompeu quando a sobrancelha de Brooke se ergueu o mais alto que pôde. — Oh meu deus, não nesse sentido da palavra... claro que não! Digo, eu não vou comer você, no sentido de devorar... E é melhor eu calar a boca agora antes que fale mais besteiras.

 

Quando percebeu, Brooke já estava rindo da careta engraçada e fofa que o amigo fazia todas as vezes que se embolava com as palavras e acabava cometendo gafes como aquela.

 

— Sem problema, eu entendi o que você quis dizer — Ela sacudiu a cabeça, ainda rindo. — E não, não estou com fome. — Gaz abriu a boca para retrucar, mas Brooke foi mais rápida e emendou: — Devo estar cheia. Comi muito daquele bolo de chocolate que a Esme fez, que por sinal, estava uma delícia.

 

E sorriu falsamente. Brooke não gostava de mentir, mas já contara tantas mentiras na vida, que uma a mais ou uma menos não iria fazer diferença. Muito menos para seu estômago.
Gaz ficou a observando atentamente durante alguns segundos, até que por fim pestanejou e soltou um longo suspiro sôfrego:

 

— Maldição! Eu daria tudo para poder conseguir um bolo de chocolate.

 

A risada debochada subiu pela garganta da morena.

 

— Parece que ser humano tem suas partes boas, huh?

 

— Não me provoque, Evern — Gaz cerrou os olhos. — Mas, se quer saber, pelo menos sendo um vampiro, eu me livro da escola. Há!

 

Foi a vez de Brooke cerrar as pálpebras.

 

— Não sei se você percebeu, Gaz, mas eu andei bem livre dela nesse último mês.

 

— Você vai ter que voltar um dia — replicou o loiro, encolhendo os ombros. — E quando esse dia chegar, eu rirei da sua cara.

 

— Humpft! — bufou Brooke. Ela então se lembrou de duas coisas ao mesmo tempo. — Preciso ir tomar meu remédio — Se colocou de pé em um pulo, mas não saiu do lugar. — Me espere aqui, e cuidado.

 

— Cuidado com o quê? — Gaz perguntou.

 

— Os Cullen estão quase voltando da escola.

 

— E?

 

— Os Volturi vem junto — respondeu Brooke, arrancando uma expressão horrorizada do amigo.

 

— Ah, ótimo. Os bons e amáveis Volturi, que não gostam de me assustar nem um pouco e que tem uma loira psicopata como integrante — ironizou Gaz, fazendo uma careta dolorosa ao mencionar Jane. Ele piscou, balançando a cabeça como se estivesse tentando se livrar de um enxame de abelhas ao seu redor, e encarou Brooke. — Há alguma chance deles serem pior do que eu já presenciei até agora?

 

Em um gesto amigável e reconfortante, Brooke estendeu o braço e deu dois tapinhas no ombro dele, o olhando de forma compreensiva:

 

— Você só viu a ponta do iceberg, Julions.

 

Soltando algo parecido com um lamento, Gaz enfiou a cara na almofada ao lado.

 

 

 

Passava da meia-noite quando os pés descalços da morena pisaram no chão frio, em passos silenciosos que ela se esforçou em dar. Brooke segurou o corrimão da escada enquanto descia os degraus, encolhida dentro de um pijama que cabia três dela, mas que em compensação, a deixava quentinha na madrugada fria e chuvosa que fazia. Em sua outra mão, dois comprimidos brancos repousavam, mais conhecidos como seus calmantes para dormir. A recomendação era só tomar um por noite, mas apenas um não surtia efeito, e ela realmente precisava dormir. Já fazia muito tempo que passava as noites em claro, e já não aguentava mais aquela situação. As bolsas roxas abaixo de seus olhos demonstravam isso.
 Então ali estava ela: escapando no meio da noite do quarto, indo até a cozinha pegar um copo de água para tomar os comprimidos, sem fazer barulho, é claro. Não que fizesse muita diferença, ela refletiu enquanto descia o último degrau, todos os moradores daquela casa tinham uma super audição, e todos estavam acordados em seus respectivos quartos.
Não dava para ser sorrateira quando se convive com vampiros.
 Brooke girou os olhos, mesmo estando no escuro e mesmo que ninguém estivesse ali para ver. Era um hábito que não conseguia largar. Ela balançou a cabeça e virou o corredor, adentrando a cozinha, que assim como o resto da casa, estava escura. Não se deu ao trabalho de ligar a luz, sabia onde a geladeira ficava, e por isso, se deslocou, tateando a escuridão a frente e os eletrodomésticos também.
 Brooke circulou a bancada e após mais alguns passos, espalmou a mão na porta da geladeira, a abrindo em seguida. Imediatamente a luz que provinha do interior dela acendeu, clareando a visão da morena e provocando sombras atrás de si. Ela esquadrinhou o interior e assim que viu uma garrafinha de água, a puxou, colocando os dois comprimidos na boca e destampando a garrafinha em seguida. Os calmantes desceram machucando sua garganta, e Brooke tossiu devolvendo a garrafinha de volta para seu lugar. Estava quase fechando a porta da geladeira quando viu, intocado em um canto, seu prato de espaguete com almôndegas, do jantar de algumas horas atrás.
"Farei um prato para você e deixarei na geladeira. Quando você tiver fome, esquente no microondas, querida", Esme falara após Brooke dar sua típica resposta para se livrar de uma refeição. Na ocasião, não se sentara a mesa com Renesmee para jantar, justamente para fugir da comida. Mas agora estava ali: de frente para ela. E bastou um olhar para a tentação despertar. Seu estômago roncou alto, e Brooke se viu em um conflito interno entre virar as costas para o espaguete com almôndegas e voltar para o quarto, ou permanecer ali e fazer a refeição atrasada.
 Pareceu anos até que ela se decidisse, mas quando percebeu, já estava se inclinando para frente e estendendo as duas mãos que seguraram o prato e o levaram até a bancada da cozinha, onde Brooke o pousou com hesitação. Sem a luz do interior da geladeira, seus olhos voltaram para a escuridão, mas ela abaixou o rosto e aspirou o cheiro delicioso do molho de espaguete e das almôndegas. E foi ali que percebeu que estava faminta.
Mas, se Brooke tivesse prestado mais atenção, teria percebido outra coisa além de sua fome. Teria percebido que não estava sozinha naquela cozinha.

 

Sentado em uma das cadeiras da mesa, os olhos carmesim de Alec se destacavam na escuridão do cômodo, a fitando desde do momento que ela adentrara o lugar. Ele esteve ali a noite toda após os Cullen se retirarem para seus quartos, concentrado nos papéis espalhados por toda mesa. Alec recolheu todo o material que tinham sobre as investigações das mortes e dos sequestros e os juntou, procurando uma ligação entre todos eles. Aquilo levara toda a sua noite e até aquele momento, a metade de sua madrugada, mas não podia ser mais adiado. Precisava descobrir mais uma pista, não importava qual fosse. Era verdade que poderia fazer isso em seu apartamento, mas existia um motivo bastante convincente para não colocar os pés lá aquela noite: Jane e Demetri.
Alec nem queria imaginar o que os dois deveriam estar fazendo naquele momento. Em sua cama. Urgh!
 Ele espantou o pensamento com violência e urgência, e voltou a se focar no que a Evern fazia acordada aquela hora. Estava escuro, mas com sua visão periférica de vampiro, Alec a viu sorvendo um pouco de água com dois comprimidos, e depois se inclinar para frente, retirando algo de dentro da geladeira que ele notou ser um prato com comida. Pelo cheiro, era espaguete com almôndegas. Ele observou silenciosamente enquanto a garota ia até a bancada e pousava o prato nela, abaixando o rosto e inalando o cheiro da comida. O estômago dela roncou alto, mas ela nem tocou no espaguete. Apenas ficou a encara-lo, parecendo estar no meio de um dilema muito sério e angustiante.
Alec não entendeu nada.

 

— Não sabia que você fazia o tipo de garota que assalta a geladeira à noite, Evern — murmurou ele, após alguns minutos a observando imóvel fitando o prato, alto o suficiente para ela perceber sua presença.

 

Brooke cobriu a boca com uma das mãos para não gritar, mas não conseguiu evitar o pulo que deu ao escutar a voz. Um segundo depois, as luzes da cozinha se acenderam, golpeando seus olhos, e após eles se acostumaram com a recém claridade, ela se virou. Alec Volturi estava sentado a mesa, as costas eretas, o costumeiro sobretudo negro pendurado nas costas de outra cadeira, as mangas da camisa social arregaçadas até os cotovelos, expondo os músculos de seus braços que se salientavam na pele pálida, e a cabeça inclinada para o lado enquanto a observava da cabeça aos pés, com humor.
Brooke piscou duas vezes, abaixando a mão da boca, que começava a se abrir em um perfeito "O". Ela piscou novamente, sentindo-se repentinamente afetada, e disse para si mesma que não era por Alec Volturi, que sentado diante de si, parecia um deus grego, porque, entre todos os motivos que tinha para se assegurar disso, ele era Alec Volturi.
Deveria ter repulsa dele, não acha-lo tão atraente.
 É o efeito dos comprimidos, assegurou Brooke a si mesma. Com certeza é isso.
Ela respirou fundo, se recuperando do susto, e encarou o vampiro com visível irritação.

 

— Você está querendo me matar de susto? Porque acredite, quase funcionou, e para sua informação, eu acho que tem muitas outras formas para me matar, umas que tenho a certeza que você ficaria bem mais contente em utilizar... Por que diabos você está rindo? — Brooke se interrompeu, e cruzou os braços na altura dos seios assim que ouviu o ruído que sabia se tratar de uma risada.

 

Alec sabia que deveria se conter, mas não conseguiu segurar a breve risada que lhe escapou entre os lábios assim que ela começou a falar. Não que fosse algo engraçado, porque de fato não era. E sim porque ele se deu conta que aquela era a primeira vez que a Evern lhe dirigia a palavra diretamente, após dias, e estava fazendo isso só para ralhar com ele.
Isso estranhamente o divertiu, ainda que não parecesse ter feito o mesmo com ela, que o encarava de cara fechada.

 

— Porque se você não se deu conta, você está falando comigo — respondeu Alec, a imitando e cruzou os braços também. — Eu pensei que seu capricho de não falar comigo continuaria por mais alguns dias, mas devo admitir, estou decepcionado.

 

— Meu capricho? — repetiu Brooke, quase rosnando.

 

— Sim, seu capricho.

 

— O fato de eu não estar falando com você não era um capricho! — trovejou ela, cerrando as pálpebras perigosamente. — Você me enganou! — Apontou para ele. — Disse que não havia nada mais a ser feito por Gaz, quando aquele outro vampiro o mordeu, mas sabe o que descobri, Alec Volturi? Que sim, tinha! Você poderia ter sugado o veneno, e mesmo que evidentemente você não quisesse, você poderia ter me contado!

 

— Você está magoada por causa disso? Pensei que fosse por algo pior — murmurou o Volturi, se dando o trabalho de encolher os ombros.

 

Brooke cerrou os punhos, ficando com o rosto e pescoço vermelhos.

 

— Filho da mãe! Mentiroso! Cretino! Monstro!

 

Ao ouvir tais xingamentos, Alec perdeu todo o bom humor que adquirira minutos antes e fitou Brooke friamente, a vendo devolver o olhar enquanto mais palavras ofensivas saiam de sua boca que o dava nos nervos. Ele apertou a mandíbula, desejando que ela se calasse, mas quando isso não aconteceu, Alec perdeu a paciência e a prudência, e com um movimento rápido, se levantou. Em um nano segundo, já estava na frente dela, a olhando severamente e com os lábios comprimidos em uma linha reta. Perigosamente perto.
 As palavras ficaram presas na garganta de Brooke assim que percebeu a aproximação inesperada, e foi recuando para trás até que sentiu as costas baterem contra a bancada, o que a indicava que não tinha mais para onde fugir. Ela levou as mãos para trás, tateando atrás de algo sólido suficiente para fazer um estrago caso precisasse, mas não encontrou nada, então tudo que pôde fazer foi apertar as laterais da superfície da bancada. Era um pouco menor do que Alec, e precisou erguer os olhos para encara-lo, reunindo toda a coragem que tinha e tentando parecer tão forte quanto desejava ser.
Infelizmente, seu coração acelerou algumas batidas, enunciando seu nervosismo.

 

— Vamos parar com a gritaria e com os xingamentos porque eu não gosto disso — disse Alec, quase sem mover os lábios. Seus olhos eram dois rubis no escuro, quase hipnotizando os castanhos de Brooke.

 

— Basta um grito meu e os Cullen aparecem — sussurrou ela.

 

Alec soltou uma risada rouca.

 

— Eu acho que não, Evern — Ele inclinou o rosto para o lado, até alcançar o ouvido dela. A pulsação estava acelerada ali, a pele quente, e o cheiro do sangue o inebriava. — Descobri que as paredes dessa casa são à prova de som, o que quer dizer que ninguém vai ouvir se você gritar.

 

O corpo inteiro de Brooke se arrepiou, e ela afundou os dentes no lábio inferior, lutando para se manter firme. Ela conseguia detectar a ameaça velada nas palavras dele, o perigo que ele significava e o seu corpo grande e gelado a meros centímetros de distância. Ela queria se encolher e gritar a plenos pulmões, mas sabia que isso só o divertiria, coisa que ela não estava tentada a proporciona-lo.
 Assim, Brooke reuniu toda a coragem que tinha e levantou suas defesas. Empinou o queixo e soltou as lentamente as laterais da bancada, trazendo as mãos para frente e as espalmando no peito de Alec, o empurrando para trás com todas suas forças.

 

— Eu não tenho medo de você, Volturi.

 

Alec a mirou, surpreso pelo empurrão, mas logo se recompôs. Seus olhos analisaram o rosto da morena em busca de algum vestígio de medo, mas não encontraram nada. Ela estava sendo sincera, e isso o incomodou. Ela deveria temer ele. Eram assim que as coisas funcionavam, afinal.

 

— Tem certeza disso? Porque deveria ter — Ele quase grunhiu. Pensou em avançar, mas a mão dela ainda estava espalmada no ar, prevenindo qualquer tentativa de aproximação. — Sou um predador, e você é minha presa. Tenho quase mil anos a mais que você. Sou um Volturi, e você não passa de uma insignificante humana órfã. Tenho uma grave queda pelo seu sangue, o que quer dizer que posso quebrar seu pescoço em segundos e ninguém poderia me deter. E, caso tenha esquecido, Evern, sei muitas coisas sobre você.

 

Brooke abaixou a mão, e avançou ela mesma até Alec, ficando a centímetros de distância, chegando a roçar a barra da camiseta do pijama na camisa social dele. Os dentes dela estavam cerrados quando ela disse, em um tom estranhamente baixo e controlado, que não combinavam com alguém na situação dela:

 

— Você pode ter um dossiê sobre uma parte da minha vida, Volturi, pode conhecer algumas das minhas fraquezas como você mesmo disse, mas não pense que isso o faz ter algum poder sobre mim. Você não me conhece totalmente. Não conhece meus pontos fortes. E muito menos conhece o meu outro lado, por isso, não brinque comigo.

 

— E como se parece o seu outro lado?

 

— Com uma vadia. Como sua irmã.

 

Alec esboçou um sorriso torto.

 

— Eu deveria ficar preocupado?

 

— Você quem decide. Mas, se continuar me subestimado desse jeito e achando que pode me manipular como quiser, eu ficaria mais do que preocupada. Sei que posso parecer indefesa e bondosa demais, mas quando eu quero ser má, Alec Volturi, eu sou. E, caso não se lembre, há uma matilha de lobos dispostos a lutarem por mim, além, é claro, de você e seus amiguinhos serem apenas quatro em território inimigo. Então não me faça mostrar esse outro lado, porque nem eu gosto dele. — Quando percebeu que conseguiu tirar o sorriso do rosto dele, Brooke se afastou, mantendo a neutralidade. — Agora se me der licença, vou voltar para meu quarto.

 

— Não vai, não — Rosnou Alec, a segurando pelo pulso e a mantendo no lugar. — Temos negócios a tratar.

 


— Não, não temos — Retrucou Brooke, puxando o braço para longe do toque gelado do vampiro, sem ter muito êxito. Ela grunhiu. — Não faço negócios com o diabo!

 

O Volturi girou os olhos, a soltando.

 


— Bem, esse diabo estava disposto a oferecer um telefonema com Marcy Evern, mas como você não está interessada... — Ele encolheu os ombros e no segundo seguinte já estava de volta a mesa, organizando os papéis espalhados, como se os últimos minutos não tivessem ocorrido.

 

Brooke prendeu a respiração quando ouviu o nome da mãe. Ela encarou o vampiro sentado indiferentemente, e piscou. Não confiava no Volturi, e fosse lá o que ele queria negociar, ela sabia que seria vantajoso para ele, mas nenhum pouquinho para ela. E no entanto, a ideia de falar com a mãe, nem que fosse por ligação, ofuscava qualquer desconfiança ou aversão que Brooke poderia ter.
Sendo assim, ela suspirou profundamente e engolindo o próprio orgulho, se aproximou da mesa, cautelosamente, parando no lado oposto ao qual o Volturi estava sentado.

 


— O que você quer? — perguntou ela, trincando os dentes.

 

Alec levantou a cabeça, uma expressão de vitória no rosto.

 


— Sente-se — Ele apontou para a cadeira na frente dela. Ela sentou com alguma hesitação, enquanto ele empurrava os papéis para o lado e cruzava as mãos sob a superfície da mesa.

 

— Então, quais negócios temos para tratar? — Brooke foi direta, o olhando seriamente.

 

— Estou disposto a deixa-la telefonar para sua mãe uma vez por semana, e não pense que faço isso porque as mensagens e os e-mails que mandamos não são suficiente, pois são.

 


— A troco de que você faria isso?

 

Os cantos da boca de Alec se repuxaram para cima.

 

— Ótimo, vejo que percebe que nessa vida nada é de graça. — Murmurou ele, fazendo Brooke bufar. — Mas, indo direto ao assunto, em troca dos telefonemas, você vai ter que me fazer dois favores... — Ele pausou, pareceu pensar um pouco e depois voltou a olha-la, balançando a cabeça: — Na verdade, não são favores. Você fará de qualquer jeito, então por que colocar em termos mais delicados?

 


— Dá para falar logo? — Resmungou a morena.

 


— A primeira coisa que preciso que você faça é que tire uma amostra do seu sangue — disse Alec, ignorando a pressa dela. — Para eu treinar o meu controle e não mata-la qualquer dia desses. — esclareceu ele, quando ela ergueu as sobrancelhas sem entender nada.

 


Brooke fez uma careta, mas concordou com a cabeça.

 

— Tudo bem. Eu peço para Carlisle tirar depois — Ele assentiu. — E a segunda?

 

O rosto de Alec mudou. As maçãs do rosto se elevaram quando ele abriu um sorriso, um sorriso tipicamente dele. Algo que combinava crueldade e diversão ao mesmo tempo. Ele batucou com o indicador uma vez na madeira da mesa, e olhou para Brooke como se estivesse prestes a revelar sua carta na manga em um jogo de pôquer. Mas, quem podia o condenar? Ele havia esperado por aquele momento, durante todo o tempo que pensara em uma forma de castigar a garota sentada em sua frente, por todas as afrontas cometidas, pelas ofensas e por todas as demonstrações dela mesma, que o deixavam fora de controle. E sabia exatamente o que fazer para atingi-la.
 Se não podia mata-la, tortura-la ou feri-la, então iria castiga-la. E Alec sabia o castigo perfeito para aplicar em Brooke. Já fazia um tempo que ele vinha notando que ela começava a se acostumar com tudo naquela casa, com as pessoas, com a rotina, com as discussões. Precisava tira-la da zona de conforto, o que certamente iria a custar muito.

 

— Volturi? — Ela chamou, o tirando dos devaneios.

 

Alec olhou para Brooke. Ela estava com os lábios franzidos, o cabelo longo e castanho caindo como cascata pelos ombros, algumas mechas cobrindo parte de seu rosto, e sua expressão era zangada.
Ele quase riu dela naquele momento, mas se manteve sério para poder desfrutar da reação que ela teria, quando abriu a boca:

 

— Você voltará para a escola amanhã.

 

Os olhos de Brooke se arregalaram.

 


— Como é? — Foi o que ela conseguiu pronunciar.

 

— Suas coisas já estão preparadas, e aconselho você a ir dormir logo, pois será despertada cedo — Foi a única coisa que o Volturi respondeu.

 

— Você só pode estar brincando comigo.

 

A morena engoliu em seco. Negociar com Alec Volturi, para falar com sua mãe, em troca de uma amostra do seu sangue, tudo bem. Mas voltar para a escola assim, de repente?
 Não estava pronta para voltar para a vida normal, e a escola representava isso. Fora jogada do mundo normal para aquele em que estava, e agora seria jogada de volta?
Brooke não tinha certeza se conseguiria lidar com isso.

 

— Ao contrário, Evern, estou falando bem sério. Se quiser ter o direito de falar com a sua mãe, faça essas duas coisas. Essa é a minha proposta. — respondeu Alec, tão cínico quanto podia. — É pegar ou largar.

 

Os dentes dela bateram, e por um instante, suas pálpebras se fecharam. Ela sabia que não tinha escolha, e mesmo que quisesse recusar a proposta de Alec, não podia. Era de sua mãe que estavam falando, e Brooke sentia muita saudade dela. Maldito fosse aquele vampiro!
Por fim, ela reabriu os olhos, e o encontrou a observando. Ela quis levantar o dedo médio e manda-lo para um lugar nada bonito, mas se conteve. E fez a última coisa que pensaria fazer no mundo.

 

— Eu pego — Fechou um negócio com Alec Volturi.

 

Brooke piscou, descrente com ele, com ela e com aquela madrugada. E percebeu, enquanto empurrava a cadeira para trás, se levantava bruscamente e virava as costas, saindo da cozinha o mais rápido possível, que precisaria de um terceiro calmante.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Olá! Antes de qualquer coisa, convido vocês a visitarem o tumblr que criei para a fanfic, que está cheio de edições e vídeos sobre os personagens! Lá vocês acharam o cast (elenco) de Eyes On Fire, alguns Aesthetics e vídeos que pretendo fazer sobre os personagens. Então, se você ficou curioso e curte esse tipo de coisa, entra nesse link e segue o tumblr!

https://bre-fanfiction.tumblr.com/post/162522791852/dreamcast-alec-volturi-brooke-evern

Agora, vamos voltar a normalidade e as coisas que eu sempre falo aqui.
Olá novamente, amores! Como vocês estão? Eu sei que a tia aqui está muuito atrasada (como sempre), mas houveram alguns contratempos que me impediram de escrever por completo, desde problemas familiares, a uma enfermidade que me deixou derrotada por um bom tempo. Minhas férias do recesso já estão no fim, mas juro que irei me esforçar para o próximo sair mais rápido. Juro!
Enfim. Eu estou com pressa hoje, e por isso não vai dar para falar muito sobre o capítulo de hoje, apenas que, podem anotar, vocês vão pirar nos próximos capítulos. Só vou falar isso.
Antes de ir embora, queria dizer que amo cada comentário que recebo e esclarecer que os que ainda não foram respondidos, com certeza foi por falta de tempo ou por falta de atenção. Mas isso será corrigido, ok?

Agora eu vou finalizar por aqui e dizer que ano muitos vocês. Espero pelos comentários e que perdoem a demora, mas que não desistam de mim!

Amo vocês! Até o próximo capítulo...

Bjs!



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