Eyes On Fire escrita por Brê Milk


Capítulo 12
Chapter 11: Instintos selvagens


Notas iniciais do capítulo

Forcing our darkest souls to unfold Forcing our darkest souls to unfold Pushing us into self destruction Pushing us into self destruction

— Showbiz (Muse)




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Alec Volturi

 

 

— La tua cantante — Havia dito Edward, mas já era tarde demais.

 

 

Tudo havia acontecido rápido demais.

Em uma hora Alec reagia a investida de ataque do vampiro recém criado que caçaram na festa, cortando sua garganta com os dentes; na outra, ela estava lá. Aquela que fez seus instintos se rebelaram, seu olfato se apurar e sua garganta arder em desejo. Ela o havia feito sentir — sentir a fome desesperada, o formigamento em sua pele, o cheiro imensamente alucinante do sangue quente e fresco correndo por suas finas veias. Ela o havia empurrado para um lado seu dentro de si que até aquele dia, não conhecia. Sabia que estava ali, já era o monstro, mas um animal não. E ela era Brooke Evern. Por fim a encontrara, por fim a conhecera. E ela não era nada que Alec esperasse encontrar: era apenas uma garota comum. Sem grandes atrativos, sem sinais de que fosse uma ameaça. Nada. Brooke era absolutamente normal e como todas as outras garotas, e o olhar aterrorizado dela ainda estava fresco na memória do Volturi, assim como o momento exato de quando os olhares se cruzaram.
A morena tinha os olhos castanhos mais profundos que alguma vez ele tivesse visto, — portadores de segredos, talvez — que por um minuto, pareceu se conectar com os deles. Então Alec teve que prestar atenção nos outros detalhes, e se viu observando a garota por um tempo que pareceu sua eternidade condenada. Brooke Evern não tinha nada de excepcional, tinha um cabelo castanho longo desgrenhado, um corpo magricela, um rosto redondo com traços finos, um nariz reto e uma boca aberta sem palavras. Mas, em compensação, ela tinha o cheiro mais delicioso que um dia o vampiro sentira, uma mistura alucinante de lavanda, amêndoas e sangue. O sangue que cantava para ele.
Contudo, ela tinha algo mais do que aquilo. Ela tinha o poder de faze-lo perder o controle, completamente. E foi aquilo que aconteceu, quando o som de seu coração batendo, bombeando o sangue, seu pulso acelerado, chegou aos ouvidos de Alec e levou embora a sua sanidade. Ele rosnou, tomado pelo desejo de sentir o gosto daquele sangue, e atacou a garota, que no desespero de fugir, tropeçou nos próprios pés e acabou caindo, batendo a cabeça no chão e desmaiando em seguida.

Alec não deixou isso o impedir, assim que viu o corpo da morena cair no chão, se agachou para alcançar seu pescoço, mas antes que desse a mordida, sentiu os braços de Edward o enlaçando em um aperto de ferro, que o conteve. Ele rosnou em resposta, descontrolado, e começou a golpear o Cullen, que teve que devolver os golpes e logo, ambos estavam travando uma luta sobrenatural no meio da dispensa do zelador da escola.

 

 

— Você não pode mata-la, Alec —  Edward disse, tentando segurar seus braços, mas o Volturi sabia como desviar bem. — Escute, eu sei o que está pensando. Sei como é difícil encontrar sua La tua cantante e não devora-la... Mas por favor, resista ao desejo. Brooke não faz parte disso... —  Outro desvio. Alec rosnou em resposta, a mente tomada pelo cheiro inebriante do sangue da garota inconsciente. — Eu consegui com Bella, tenho certeza que você conse...

 

— Isso não é sobre você! — Berrou entre os dentes. Edward girou para se defender de mais um ataque, mas Alec foi mais rápido e transferiu o peso para o lado certo, com a vantagem de estar transtornado demais para pensar em seus movimentos e ter a mente lida por seu adversário, e então, alcançou Edward em seu giro.

 

 

Alec puxou o braço do Cullen para trás, quase o arrancando fora, e o empurrou de joelhos para o chão, torcendo o braço atrás das costas dele. Sua outra mão livre ele usou para circular o pescoço, fúria manchando sua visão, o dominado, e em um movimento rápido, já estava a meio caminho de arrancar a cabeça de Edward, que tentava se libertar e ganhar o combate, quando foi puxado violentamente por pares de mãos que o jogaram para trás, o segurando.
Ele se sacudiu violentamente, tentando escapar das mãos que o prendiam no lugar, e sua visão estava manchada de vermelho, um acesso de raiva vindo pela frente. Alec resistiu, sentindo-se encurralado, as mãos o apertando, seus olhos frenéticos, o cheiro de Brooke Evern o enlouquecendo. Sem pensar com clareza, ele começou a liberar sua névoa paralisante contra quem quer que fosse que o prendia, planejando atacar novamente a Evern. Porém, antes que liberasse a névoa completamente, um grito interrompeu seu estado caótico:

 

 

— O que você fez com ela? O que você fez? ME RESPONDA!

 

 

O grito trouxe sua consciência de volta. Alec parou de se mexer, ficou parado, e levantou os olhos para a figura agachada ao lado do corpo inerte, a mente se clareando. Em seu campo de visão periférico, estava Renesmee, as feições sempre tão doces e inocentes, agora transformadas em pura consternação e ira. Ela olhava diretamente para ele, os punhos levantados cerrados, o lobo ao seu lado a segurando. Renesmee parecia tão fora de si quanto Alec estava. E foi naquele momento que ele se deu conta do que estava fazendo. Como estava agindo. O papel que estava se prestando a passar na frente dos Cullen — era Emmet e Félix que o seguravam, ele percebeu.
"Dessa vez você passou dos limites. Um Volturi não se comporta assim. Um Volturi não reage assim".
Ele sabia. E teve raiva de si mesmo naquele momento.

 

 

— Oh, Brooke... — O lamento partiu da híbrida, que voltou a atenção para a morena desacordada no chão frio, enquanto começava a levanta-la com a ajuda do Black.

 

 

Um silêncio mortal se instalou. Félix e Emmet ainda o seguravam, mais frouxamente, e ele ainda continuava sem reação, tentando processar o que tinha acontecido nos últimos minutos.
Matara um recém-criado que espreitava a festa de boas vindas do Colégio. Encontrara sua La tua cantante (que por acaso era a principal suspeita de ter alguma ligação com os assassinatos na cidade). Se descontrolara. A atacara. Lutara corpo-a-corpo contra Edward Cullen. E fora contido. Era mais do que uma humilhação para Alec Volturi, era como se de repente, todo seu ego, posição social e poder, tivessem sido jogados na lama. Um Volturi não agia assim, e ele havia desonrado o nome do clã em apenas uma noite. Por uma maldita humana de sangue atraente.
Tremores internos o percorreram, e ele travou a mandíbula, sabendo que tinha que sair dali. Tinha que fazer a coisa que mais abominava: fugir. Fugir daquela dispensa, fugir dos malditos Cullen, fugir para longe dela. Pois se continuasse no mesmo lugar que Brooke Evern estava, ele não se responsabilizava.

Houve um estalo, e movendo os olhos para a esquerda, Alec observou  Edward á de pé, já o encarando de volta enquanto massageava a parte de trás do pescoço. Os olhos dourados não demonstravam nenhum rancor, raiva ou nada. Apenas compreensão.

 

 

— Podemos resolver isso agora, você sabe — Disse ele, e a resposta veio rápida na mente conflitante de Alec. Não. Você sabe do que eu preciso, preciso ir. Edward suspirou. — Soltem ele.

 

 

Emmet e Félix hesitaram por um instante, mas o largaram lentamente e se afastaram, bloqueando o caminho até Renesmee e Brooke. Alec grunhiu, e antes que sucumbisse aos seus instintos, se levantou do chão em velocidade vampírica, e no mesmo modo, saiu pela porta. Sem olhar para trás, sem esperar por nada. Somente deixando os outros vampiros, o lobo, o recém-criado morto e a humana — sua La tua cantante — todos para trás.

O céu desabava em uma tempestade quando chegou do lado de fora. Ninguém o seguiu. Alec ficou parado no meio da rua deserta e fria, a chuva encharcando suas roupas caras, o longo manto negro arrastando pelas poças de água, mas ele não deu a mínima para isso. Alguns fios de seu cabelo começavam a grudar em seu rosto, mas ele também não se importava. Deixou que seu olhar vagasse até o prédio da escola, de onde podia ouvir a música sendo tocada. De onde humanos tolos se divertiam e desconheciam o fato de vampiros entre eles. De onde a tentação o chamava. Estava em êxtase, abalado, surpreendido. Não existia uma palavra que pudesse descrever o turbilhão de sensações que sentia, e por aquele motivo, riu amargamente de si mesmo.
Não conseguia processar o fato de que tinha encontrado aquela por quem faria tudo para provar o sangue. Tudo para matar.
A garganta dele ardeu com os pensamentos, e o monstro dentro de si, a fome desesperada, despertou. Alec trincou os dentes, em um dilema entre ceder aos seus instintos ou fazer o que sabia que era o certo, o sensato: não podia atacar, ferir ou machucar Brooke Evern. Não enquanto ela não respondesse algumas perguntas e confessasse o que sabia. Para Alec, ela era suspeita, e enquanto não fosse provado o contrário, ela continuaria respirando.

Ele gostasse ou não.

Seus pés o levaram para a direção contrária da escola antes que ele perdesse o controle, novamente. A noite escura camuflava sua rápida velocidade, e foi só quando teve certeza que estava bem longe da Forks High School, que parou em uma esquina. Precisava pensar, colocar a cabeça no lugar. Precisava fazer muitas coisas, entre elas, se alimentar. Já faziam três dias que não caçava, ocupado demais tentando desvendar o que realmente tinha acontecido no posto de gasolina, algumas semanas atrás. E foi assim, que sentiu o som de um coração batendo a distância, uma  antiga cantiga entoada por uma voz rouca e embolada, e um cheiro de álcool e sangue.
Alec visualizou o velho bêbado com trapos imundos antes que ele o visse. Era um morador de rua, uma garrafa de bebida barata balançando em uma mão e as pernas sendo trocadas enquanto caminhava. Uma falta que ninguém sentiria. O velho assoviou, e um instante antes de terminar a cantiga, o Volturi saiu das sombras, o atacando selvagemente depois.

 

 

 

          ***

 

 

 

O cheiro de queimado impregnava suas narinas, sua visão estava embaçada não só pela densidade da fumaça, mas também pelas lágrimas que queriam escapar e ele não deixava. Precisava ser forte. Por ele, por sua irmã. Os gritos de satisfação e euforia dos aldeões só não eram mais agoniantes do que os de Janett, amarrada ao seu lado, os soluços e as grossas lágrimas o torturando. As mãos de Alec estavam presas, amarradas no tronco grosso do Pinheiro que costumava servir de balanço para ele e para todas as crianças da aldeia — agora, sendo queimado junto com ele e com sua irmã gêmea. Janett gritou mais uma vez quando as chamas foram se aproximando, subindo, se enrolando em volta dos dois jovens. O calor foi aumentando, excruciante, e o jovem Alec se desesperou, assistindo com horror as labaredas subindo pelo lado de Jane, sua irmã mais velha por cinco minutos, mas que nunca agira como tal. Ela o olhou desesperada, os olhos azuis sempre tão bondosos, traumatizados com o que havia acontecido antes, quando a levaram para longe dele e a usaram.
E então Alec fez a única coisa que podia fazer naquele momento: usar a força que tinha do tronco para baixo e  jogar metade do corpo para o lado, se estendendo em cima da irmã, cobrindo o corpo dela com o seu e sentindo a dor arrebatadora do fogo tocando suas costas, queimando sua pele...

 

Ele abriu os olhos para o mar à frente, percebendo só então que estava com os dedos enfiados na areia, a apertando como se quisesse aliviar a dor da memória antiga. Alec puxou as mãos, batendo as palmas uma contra a outra para limpa-las, e as repousou em seu joelho dobrado na frente do corpo, o queixo apoiado em cima dele, tão imóvel quanto uma estátua esculpida pelos anjos. Os ventos do oceano a noite eram furiosos, jogavam seus cabelos para trás em um vendaval rebelde, mas ele gostava de sentir a brisa violenta contra sua face. Gostava de sentir algo que não desprendesse dele, pelo menos naquela fase de sua existência. O cheiro da maresia o invadia. O mar estava calmo, diferente dele que há muito, revirava as poucas — e quase inexistentes — lembranças de sua vida minutos antes de se tornar vampiro. Aqueles momentos de pavor, raiva e dor eram as únicas coisas que se lembrava de sua vida humana, tirando a canção de sua mãe e as corridas na infância com Jane, e ele não conseguia removê-las da mente. Não porque não quisesse, mas sim porque eram impossíveis.
Se tocasse as próprias costas, sem camisa, lá estariam elas, as lembranças. Estavam gravadas em sua pele, tão profundas que nem a transformação em imortal foi capaz de apagar. Um lembrete sutil e eterno de como era sortudo por ser um Volturi.

Mas Alec não acreditava em sorte.

E por isso estava ali, sentado na areia da praia, no Canadá. Correra por horas até ali, e já faziam alguns dias que estava isolado do mundo à sua volta, somente ele e os pensamentos. Não precisava de sorte para saber que estava arruinando tudo, principalmente, a missão. Quando deixara a festa da escola, não considerou avisar a nenhum dos seus ou dos Cullen, que desapareceria por alguns dias necessários — nem a si mesmo. Mas a decisão foi impulsiva, e lá estava ele em seu esconderijo, bem longe da pacata Forks. O celular em seu bolso estava com a caixa postal cheia, SMS ameaçadores de Jane e apenas uma ligação perdida de Aro, ao qual não pretendia retornar nem tão cedo.
Alec não tinha o hábito de ignorar seus mestres, mas daquela vez, ele abriria uma exceção apelativa. E sabia que Aro entenderia, ou pelo menos, fingiria. Também lembrava de suas palavras quando Alec ainda era um recém-criado descobrindo o novo mundo ao qual começara a pertencer, certa vez em uma das aulas na biblioteca sobre sua espécie e uma página de um dos livros escritos a mão por seus três mestres — Marcus, Caio e Aro, chamou sua atenção:

 

 

— La tua cantante, meu querido Alec. O sangue de uma humana que canta para você, que o tenta, que o hipnotiza a ser provado. Poucos vampiros têm a chance de encontrar a sua cantante, e por isso, se um dia você encontrar a sua, não a deixe fugir — Havia dito Aro, naquela época há muitos séculos atrás, ascendendo uma chama de esperança ardente em Alec, que foi apagada com o passar dos anos. Até agora.

 

 

De fato, ele tinha encontrado sua cantante. O problema era que não sabia o que fazer com ela. Bem, na verdade sabia: Ele queria muito sugar seu sangue até a única gota. Mas existia um conflito de interesse, pois mesmo querendo a matar, não podia. Por enquanto não. Brooke Evern era a  pista mais concreta que tinham, e não podia descarta - lá enquanto não tivessem coisa melhor. A verdade era que nem ele estava cem por cento certo que a garota tinha alguma ligação com os vampiros de espécie diferente, não depois de ficar frente-a-frente com ela. Isso era um problema. A dúvida.

Alec fitou a forma redonda e brilhante da lua inclinada no céu, provocando sombras que se estendiam por todo mar. A força do vento provocava zunidos afiados, mas ele percebeu que algo estava errado quando um barulho de um passo errante chegou aos seus ouvidos. Ele ficou atento, e esperou na mesma posição, fingindo estar distraído. Uma lufada de ar bateu em seu rosto, no exato momento em que a presença desconhecida saltou em cima dele, que em um movimento rápido e antecipado, girou o corpo em um ângulo de 90 graus e bloqueou o ataque, agarrando a vampira loura pelos pulsos.
Ela o olhou ferozmente, os olhos vermelhos flamejantes, a expressão contorcida, a boca em um rasgão, e reconhecimento atingiu Alec. Era uma das vampiras que atacou a casa dos Cullen, a única que tinha conseguido escapar.

 

 

— Ora, ora, ora. Parece que não se pode fugir para sempre, não é mesmo? —  Ele sorriu irônico. A vampira rosnou selvagemente em resposta e chutou suas canelas, o derrubando.

 

 

Alec rolou pela areia, a fúria o invadindo, e sentiu quando ela cravou as garras em sua coxa esquerda, arrancando um pouco de couro e pele junto. Ele grunhiu, e aproveitando a pouca distância, chutou o rosto dela que caiu para trás. Os dois se levantaram ao mesmo tempo, cada um de um lado da praia, ambos agachados em posição de ataque. Apenas duas silhuetas estranhas e escuras na penumbra da praia, em uma briga de imortais.
Com sua experiência de general, Alec sabia que a melhor chance de se ganhar uma luta é estudar o inimigo e o deixar atacar primeiro, pois assim se ganha tempo para refutar o ataque e improvisar uma defesa perfeita. E foi o que fez, quando a vampira loura correu em sua direção, os braços abertos, e ele tirou os seus do caminho, sabendo muito bem a principal regra de uma luta contra um recém-criado: Não o deixe tocar em você.
Alec se lançou para fora do caminho antes que ela o alcançasse, e girando pelo ar, ele retrocedeu, a acertando pelas costas. Sua mão se fechou em torno do curto cabelo ressecado da vampira, e ele o puxou para trás, a fazendo jogar a cabeça, antes de ser derrubada no chão e ter o rosto pressionado na areia, os braços torcidos nas costas.

 

 

— Muito bem. Eu poderia tirar todos os seus sentidos e acabar com isso de uma vez — Cantarolou ele, agachado ao lado dela. — Mas eu quero que você sofra... A bagunça que você e seus amiguinhos deixaram naquele dia foi realmente devastadora... O que não a ajuda nem um pouco.

 

 

A vampira rosnou em resposta, se debatendo tentando se soltar. Mas Alec estava no controle, pela primeira vez naqueles dias. E se sentiu imensamente satisfeito.

 

 

— Agora, presumo que irei ter que fazer umas perguntinhas a você. E se você colaborar, sua punição por ter se metido no caminho dos Volturi, não será tão severa.

 

 

— Eu não vou responder a nenhuma de suas perguntas estúpidas! — Atirou ela em um sotaque inglês bruto.

 

 

Alec puxou um dos ombros da vampira, o deslocando do lugar, sentindo falta dos métodos de tortura da irmã. Ela gritou grotescamente.

 

 

— Já vi que vai ser por mal —  Ele bufou, cedendo o aperto nos braços da loura tempo suficiente para rola-la pela areia, até ficar cara-a-cara com ele. — O que me agrada muito.

 

 

Ela mostrou os dentes afiados, se contorcendo embaixo dele a procura de uma saída. Alec agarrou um de seus dedos da mão e o contorceu, o quebrando e ouvindo seus gritos.

 

 

— Quem ordenou que atacasse a casa aquele dia? —  Ele perguntou, qualquer sorriso irônico ou traço de emoção sumindo de seu rosto.

 

 

A vampira não respondeu, apenas arreganhou os dentes.

 

 

— Não vai responder? Tudo bem. Talvez isso sirva de incentivo — Alec agarrou o outro ombro dela, e o puxou com extrema força, dessa vez o arrancando fora e espirrando sangue para todos os lados. Os gritos se transformaram em berros de dor. — Oh, sim. Eu havia esquecido que vocês dessa espécie  sangravam — Um sorriso sádico. — Agora me responda.

 

 

Os olhos escarlates vidrados brilharam injetados, e tudo que ele obteve foi um balançar de cabeça.

 

 

— Não.

 

— Então vamos continuar nosso joguinho. Quem é o seu líder?

 

— Eu não vou responder.

 

 

Os olhos do Volturi se estreitaram. Ele quebrou mais um dedo.

 

 

— Por que nos atacaram

 

Silêncio. Dessa vez ele quebrou os três dedos restantes de uma vez.

 

 

—  O que pretendem matando os humanos de Forks e deixando rastros? A explosão do posto de gasolina foi obra de vocês?  Por que são diferentes dos demais vampiros? Aonde se escondem? Quantos de vocês estão por aí?

 

 

Silêncio. Silêncio. E silêncio. A vampira loura se limitou a o encarar indiferente, os gemidos de dor sendo abafados pelas perguntas que ele fazia. A raiva explodiu dentro de Alec, e soltando um xingamento, ele arrancou a mão dela, frustrado.

 

 

— Pode me desmembrar pedaço por pedaço, mas eu não contarei nada sobre minha raça para você, vampiro indigno! — A vampira conseguiu falar entre os próprios gritos, se debatendo furtivamente.

 

 

Alec pestanejou. Indigno? Ele era um Volturi. Do mais alto escalão. Não existia mais dignidade do que aquela. Mas não foi a falta de respeito que o chamou atenção, foi a palavra "raça" que o fez ficar ligado. Então queria dizer que existia muito mais vampiros como aquela sob seu domínio. Ele piscou, a fitando pensativo por um momento. Sabia que a vampira não iria responder perguntas óbvias do tipo que estava fazendo, ela estava provando isso, então tinha que pensar num jeito melhor de conduzir a interrogação.
Alec encarou bem os ângulos e traços retorcidos da vampira — não eram bonitos e perfeitos como os de um vampiro normal. Não como o de um imortal —, escaneou seus olhos injetados, e observou a mão e o braço separados do corpo, jogados na areia. A pergunta que tinha que fazer não era sobre a recém-criada e sua raça, tão pouco sobre seus motivos a agirem contra a dele. A pergunta que tinha que fazer ia além disso, ele sabia. Não era sobre quem estava envolvido, com precisão, mas sobre alguém que chegava perto, um palpite.

 

 

— E Brooke Evern? — A pergunta saiu em tom de desafio.

 

 

A vampira arregalou os olhos e abriu ligeiramente a boca. Bingo, Alec pensou antes de sorrir sombriamente. Então o corpo dela começou a convulsionar, e as palavras começaram a deslizar de sua boca, todas roboticamente:

 

 

— A-a ga-garota é-é... a chav-e... —  A loura engasgou, empurrando a cabeça para cima na direção do Volturi, que demonstrou surpresa quando ela espremeu os olhos contra os seus. — Tudo... a-a-acaba com-m... Brooke...

 

 

E então a opacidade varreu sua íris, e ela tombou para trás, imóvel. O espanto com o que havia acabado de acontecer ainda pairava sobre Alec, que se afastou da vampira morta. Várias perguntas, centenas delas, acrescentadas na lista em sua cabeça. A vampira morrera sozinha, sufocando, logo após fazer a revelação. Sobre Brooke Evern. Isso não parecia uma coincidência. Isso não era normal, nem mesmo no mundo vampiresco. Era bizarro.

Alec levantou, os olhos varrendo toda a extensão da praia, se certificando de que ninguém tinha presenciado tudo que acabara de acontecer. Ninguém tinha. Ele suspirou em alívio, e antes de  tirar o isqueiro com o V gravado de dentro da camisa com as mangas arregaçadas até os cotovelos, a luz prateada da lua bateu de relance no braço arrancado da vampira, revelando três siglas tortas gravadas na pele: S. D. S.
Nada mais além disso.
Alec franziu sem saber o significado, e tentou puxar da memória se já havia visto aquelas letras antes. Não se surpreendeu quando não encontrou nada, e dizendo a si mesmo que talvez fosse só uma tatuagem dos tempos de humana, ateou fogo no corpo segundos depois.
Seus olhos observaram as chamas derretendo pele, osso e carne, sua mente perturbada. Se antes tinha dúvida quanto a ligação de sua La tua cantante com o mistério que os espreitava, agora tinha certeza.

Brooke era culpada, de algum modo. E ele iria puni-la sem piedade.

O som do toque do seu celular o tirou do transe das chamas, e Alec o pescou de dentro do bolso. Na tela, um número desconhecido brilhava sem parar, e ele deslizou o dedo sobre o botão verde, distraído.

 

 

— Não desligue, foi uma verdadeira batalha lutada bravamente para conseguir que sua irmã me desse seu número — A voz do outro lado da linha parecia zangada, e ele logo descobriu de quem se tratava.

 

— De todas as pessoas que eu pensei que fosse atender primeiro, você era a última da lista, híbrida — Alec soou sarcástico, virando de frente para o mar tranquilo. O som de água escorrendo veio do outro lado da linha. — Sua família sabe que está me telefonando?

 

— É exatamente por isso que estou trancada no banheiro, desperdiçando a água do chuveiro.

 

 

Ele revirou os olhos, devolvendo o isqueiro para o lugar de origem, escorregando a mão para o bolso da calça.

 

 

— Alguma razão específica para isso?

 

— Sim, e você sabe qual — Ele ouviu o suspiro de Renesmee e aguardou. —  Não deveria ter agido daquele jeito com você no dia da festa - não que você não merecesse - porque deveria ter compreendido a situação. Brooke é sua La tua cantante, por ironia do destino, e não há nada que se possa fazer para mudar isso. E eu cresci ouvindo o suficiente sobre a história dos meus pais para saber como é difícil se controlar Alec, ainda mais nessas circunstâncias.

 

— Quais circunstâncias? — Ele questionou, querendo irrita - lá.

 

— Quais você acha? Você é um Volturi. Acostumado com sangue humano. Papai me disse que isso só piora as coisas, pois se alimentar de humanos é comum para você, o que impulsiona seus instintos como predador ainda mais.

 

— Seu pai não sabe nada sobre mim para tirar conclusões precisas, ruiva.

 

— É. Mas você goste ou não, ele está certo. E você sabe disso — A Cullen pontuou, diminuindo o tom de voz pela chamada. — Mas... Você não quer saber dela? Da Brooke?

 

 

O Volturi girou os olhos algumas vezes, já esperando pela curiosidade incômoda da híbrida do outro lado da linha. Ele sabia que se quisesse, desligava a chamada e a deixava sem uma resposta. Fim. Sabia que podia fazer aquilo, e devia, em dias normais. Mas aquele não era um dia normal, e estranhamente, enquanto escutava o chuveiro da garota e seu atrevimento habitual, se sentiu relaxado. Tão relaxado quanto o mar à sua frente.

 

 

— Não. E nem me interessa — Alec trocou o peso do corpo para a outra perna, incomodado.

 

 

— Você não pode continuar evitando o assunto, Volturi! —  Resmungou ela, falando mais baixo ainda. — Não pode continuar se escondendo como um garotinho assustado só porque não consegue se controlar perto de uma adolescente indefesa... EU JÁ VOU, MÃE! MUITO BOLO DE CHOCOLATE...

 

 

Ele aguardou, a paciência se estreitando.

 

 

— ... Tenho que ser rápida, aonde eu estava? —  Renesmee voltou a questionar depois de um minuto, o tom pensativo.

 

—  Na parte em que dizia que eu tenho problemas com controle perto da sua amiga.

 

— Ah, sim, obrigada — Um pigarro. — Você entende o que estou querendo dizer aqui? Isso é patético. Você é um Volturi e todo aquele blá blá blá, não é? Então haja como tal!

 

 

Alec deixou uma risada azeda escapar, apertando a ponte do nariz.

 

 

— Eu prefiro que não se meta nisso, Cullen, e nem dê opinião sobre o que faço ou deixo de fazer. Não vai ser bom para você, pode crer — Ele replicou irritado. — E por que tudo isso? O telefonema, os conselhos, a preocupação? Não sei se sua mente estranha se lembra, mas não somos amigos.

 

— Ainda não — Ela retrucou. — Mas estamos quase lá.

 

 

O suspiro o escapou, e ele ponderou se as baboseiras que tinha ouvido já eram suficientes e se já podia desligar o telefone. Mas antes que o júri se decidisse, a voz suave voltou a soar do outro lado da linha:

 

 

—  Apenas volte para casa, Alec Volturi.

 

— Isso vai ser um pouco difícil, Renesmee Cullen, já que eu ainda não terminei em sua cidade.

 

— Ótimo, porque era exatamente dela que eu estava falando.

 

 

Ele quase atirou o celular no meio do mar.

 

 

—  Você só pode estar brincando, ruiva. Será que ainda não percebeu que seu clã e o meu são incompatíveis? Nós somos a parte boa da espécie, vocês, a parte ruim. Nos deixe no mesmo lugar por muito tempo e a terceira guerra mundial acontecerá — Disse ele, a arrogância camuflando seu divertimento com as respostas da híbrida.

 

— O.K. Esperamos você às dez amanhã, sem falta —  Renesmee sussurrou antes de desligar em sua cara.

 

 

Híbrida metida! Ele berrou em pensamento voltando a guardar o celular no bolso. Mas as palavras dela flutuaram por sua mente por um bom tempo, e Alec teve que dar o braço a torcer. Havia uma chance de Renesmee estar certa, ele realmente tinha que voltar a ter o controle. Tinha que voltar a agir como um verdadeiro e autêntico Volturi. Como Alec Volturi, alguém imponente e que não fugia de um combate, muito menos de uma mera humana que nem das fraldas havia saído ainda.
Ele girou os olhos mais uma vez, certo que Renesmee tinha ganho aquela, e  escorregou as mãos para dentro dos bolsos da calça, se virando para as labaredas incinerando o corpo da vampira recém-criada.
Alec olhou para as luzes distantes das casas além da encosta da praia, pequenas construções irregulares e afastadas, e aproveitou a sensação do vento gelado em contato com seu rosto de mármore, fazendo planos futuros para quando chegasse à Forks, antes de murmurar consigo mesmo:

 

 

— Hora de voltar e resolver os assuntos pendentes.

 


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Notas finais do capítulo

HELLO!!
Vamos começar a semana com capítulo novo, sim! E com uma nota extensa, também!
Mas vamos lá. Antes de começar com as considerações do capítulo, eu tenho que fazer duas coisinhas. A primeira, é claro, é agradecer PELA LINDA RECOMENDAÇÃO QUE A GABY SPN FEZ!
Em menos de uma semana receber 2 recomendações é demais! Muito obrigada mesmo, amore, saiba que eu amei cada palavrinha viu? E que este capítulo é dedicado a você ♥

A segunda coisinha, é avisar a vocês que minha internet está com problemas e que por isso, os comentários do capítulo passado (Que eu amei) não foram respondidos. Mas assim que a conexão voltar, eu irei responder tudo com amor e carinho *-*

E AGORA SIM, AS CONSIDERAÇÕES FINAIS!
Para quem estava esperando um confronto entre Alec e Brooke, eu sinto muito, mas não foi dessa vez. Como podemos ver, parece que o Volturi resolveu fugir e tentar pensar racionalmente.
Mas tudo bem, porque ainda tem muita coisa para acontecer e oportunidade é o que não faltará. Entretanto, eu só quero explicar que na parte em que o Alec está na praia, já são dia depois do capítulo 10, mas que no próximo, no 12, a linha temporal volta para quando a Brooke acorda e descobre tudo com detalhes. Ok? Ok.

E ah, só eu estou sentindo um cheirinho de amizade entre ele e Renesmee? PORQUE EU ESTOU SIM! Mas nem se iludam, porque não vai durar muito...Ainda assim, eu achei interessante a ideia de criar um laço afetivo entre eles dois, que não seja romântico para aqueles fãs que shippam Reneslec. #TeamBroolec ♡

E finalmente, antes de me despedir, aviso, novamente, que as pistas do mistério estão jogadas pelo capítulo. Para aqueles que estão empenhados em descobrir, aconselho que preste atenção nos mínimos detalhes. E é só isso.
Espero que estejam gostando do rumo da fantiction até aqui e que nos vemos no próximo.

Bjs!




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