Samurai NOT escrita por phmmoura


Capítulo 9
Capítulo 9




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— Mais rápido — Tadayoshi disse, observando Ei com uma expressão vazia. ‘Mais rápido’ era sua única instrução faz um tempo.

Os braços de Ei latejavam, mesmo assim ela cerrou os dentes e se forçou além de seus limites. O arco da pequena espada ficou um pouco mais rápido por um tempo.

— Não dá mais! — ela gritou e cravou a espada no chão, usando-a como suporte. Ela tentou respirar, mas até mesmo isso doía.

— Bem… pra sua segunda vez, está menos ruim. — Foi a única coisa que ele disse antes de jogar a bainha e ir embora sem tempo para ela descansar. — Vamos logo.

Ei mal conseguiu pegar a bainha. Ela encarou as costas dele, mas sabia que era inútil, e focou o sua raiva e o que restava de suas forças na espada. A lâmina mal se mexeu, mas era o suficiente para ir atrás de Tadayoshi, deixando uma fina trilha na terra atrás dela.

Cada respirada era como uma facada, mas Ei ainda assim se fossou a andar. Mesmo com Tadayoshi andando no seu ritmo normal, ela não conseguiu diminuir a distância entre eles. Com sua atenção toda em fazer suas pernas se mexerem, Ei não notou que ele parara, nem que oferecia frutas. Quando percebeu, devorou todas em poucos segundos e engasgou. Ele não esperou.

Ei finalmente consegui alcançá-lo quando se recuperou. Só então, debaixo do olhar duro e silencioso de Tadayoshi, ela percebeu. Eu sou completa idiota, ela pensou, desviando o olhar com vergonha. Ela não conseguia encará-lo nos olhos.

Não importava que ela estava exausta e seus braços pesados. Não importava se ela estivesse com pressa em alcançá-lo. Ele não precisava dizer; Ei sabia o quão tolo e perigoso era correr com uma lâmina nua.

Se xingando e jurando que nunca mais faria algo tão idiota de novo, ela embainhou a wakizashi. Ela estava prestes a colocar a bainha na cintura quando a voz de Tadayoshi ecoou em sua cabeça. Como foi um dos poucos momentos de seriedade dele sobre o treinamento dela, as palavras ficaram gravadas nela. Ela andou ao seu lado, carregando a arma com as duas mãos.

— Tenha cuidado. — ele disse, olhando de relance para ela.

Ei suspirou aliviada, mas não sorriu. Ela tinha planejado carregar a wakizashi em suas mãos até eles parassem como punição, mesmo com seus braços já latejando. Mas ao invés de feliz, suas palavras a deixaram preocupada.

A espada em sua cintura parecia estranha de alguma forma. Ela olhou para Tadayoshi, metade esperando alguma piada estúpida ou pelo menos um comentário. Mas ele não prestava mais atenção nela. Ele olhava para frente, o rosto tenso e os olhos estreitos. No pouco tempo que ela o conhecia, ela tinha visto essa expressão apenas uma vez; durante a luta contra o samurai.

— Qual o problema? — ela perguntou, sua mão indo para o cabo da espada.

Tadayoshi parou e esticou o braço, fazendo-a parar também. Ei procurou algum sinal de perigo e seus olhos pararam na final da estrada. Mesmo dessa distância, ela conseguia ver que tinham menos árvores até elas pararem. O final da floresta, ela pensou, apertando os lábios e segurando a respiração sem perceber.

— Consegue sentir alguma coisa? — Tadayoshi perguntou, olhando para ela. Por um instante Ei pensou que ele estava falando dos sentimentos dela. Mas ela entendeu o que ele quis dizer e balançou a cabeça. — Feche os olhos. Se concentre na sua respiração.

Ela fez como mandada. Seus sentidos aguçaram e os sons da floresta inundaram seus ouvidos. Ela escutou as folhas farfalhando, as águas de um riacho próximo, os pássaros piando em cima dos galhos, outros animais correndo, rastejando… Nada fora do comum para ela, que brincou a vida toda na floresta.

Sem perceber, um pequeno sorriso apareceu em seu rosto. Mesmo se ela estivesse longe de casa, os sons familiares eram reconfortantes. Ela limpou a mente, expirou e inspirou mais fundo dessa vez. Agora ela sentiu o cheiro de terra molhada, animais apodrecendo, frutas, flores… nada que deixaria Tadayoshi em alerta.

Ela respirou de novo e os mesmos cheiros vieram a ela. Só que dessa vez, ela pensou que notou algo diferente. Era quase nada, mas ainda estava lá.

— O ar… tem alguma coisa… ele está…mais pesado…?

No momento que falou, seu rosto ficou vermelho. Até mesmo para ela parecia idiota. Mas Tadayoshi não estava rindo, nem segurando uma risada. Ele não estava nem mais olhando para ela. Por alguma razão isso a deixou um pouco triste.

— Bom — Ele afagou a cabeça dela com um pouco mais de força e entregou a bagagem deles. — Está começando a sentir. Agora vá se esconder.

Ei apertou os lábios para esconder o sorriso e fez como mandada. Mas ela não iria apenas se esconder. Não podia. Só pode ser inimigos, ela sabia. Era a única outra coisa que poderia deixar Tadayoshi sério. E ela precisava ver, tinha que aprender, não importava quem fosse o inimigo. Do mesmo jeito que tinha queimado a luta contra o samurai em seu coração, queimaria essa também. Então um dia eu vou lutar ao lado dele, ela pensou, sem esconder seu sorriso agora.

Depois de confirmar que Ei estava fora de vista, Tadayoshi andou até a orla da floresta.

Ela tentou acompanhar entre as árvores sem tirar os olhos dele. Mas até mesmo para ela, não era fácil. Nessa área, as árvores nãos cresciam tão juntas, mas ela precisava prestar atenção nas raízes ou os galhos mais baixos.

Quando Ei o perdeu de vista, ela entrou em pânico e correu. Ela tropeçou, se cortou na bochecha e arranhou o joelho. Ignorando a dor, ela limpou o sangue e correu para a orla da floresta. Ainda escondida entre as árvores, Ei procurou Tadayoshi.

Ele estava quase as últimas árvores, mas parou e olhou para ela. Ele estava confirmando que estou segura, ela percebeu enquanto ele saída da floresta. O inimigo é tão forte assim? Ansiosa, ela se mexeu um pouco mais perto da saída. Agora podia ver o que acontecia além da floresta.

Não era apenas um inimigo. Cinco pessoas estavam fora da floresta. Ele estão esperando por a gente? Não, a gente não… eu sou ninguém, Ei pensou. Eles só podem estar esperando pelo homem que matou Yasuhiro-sama. Se isso for verdade… Ela pressionou os lábios e apertou os dedos contra a árvore.

Se os homens estavam mesmo esperando por ele, quer dizer que Tadayoshi estava certo. Alguém do castelo pode ter espalhado a notícia sobre ele, mas só alguém de sua vila poderia ter dito a direção deles. Ela não disse sobre os sussurros para manter Tadayoshi na vila até os soldados voltarem; ela mesma queria esquecer.

Ódio é mais forte que gratidão, Tadayoshi tinha dito a ela. Como se isso fosse o que ele sente… talvez seja assim que ele se sente sobre seu mestre… Ei sacudiu a cabeça, tentando afastar esses sentimento. Eu acredito nele! Eu acredito nele! Ele não matou Yasuhiro-sama porque quis!

Virando sua atenção para os homens, dessa vez ela observou cada detalhe deles. Do jeito que ele ensinou. Um calafrio percorreu o corpo dela. Com cicatrizes cobrindo seus rostos e braços, Ei só conseguia pensar neles como assustadores. Os bandidos…

Os cinco homens lembravam os bandidos que quase destruíram sua vila, que quase a mataram, que mataram sua mãe. Não! Ei gritou em sua mente, se abraçando para parar o tremor. Ela sabia que se pensasse em sua mãe agora, choraria. Não posso chorar… Eu… eu… não vou chorar…

Ei limpou os olhos, cerrou os dentes e se forcou a olhar para ele mais uma vez. Dois sentavam no chão, afiando suas armas; dois estavam de guarda. Cada um carregava uma espada na cintura. O único diferente era o que sentava numa rocha lisa debaixo da árvore solitária que o abrigava do sol. Ele carregava duas espadas, uma grande e uma pequena. Daishō… Tadayoshi tinha falado sobre isso. Normalmente aqueles que carregavam o conjunto de katana e wakizashi eram samurai.

Aquele homem não parecia em nada com Jirou no entanto. Enquanto Jirou parecia como Ei idealiza Yasuhiro-sama, quase um herói de histórias, esses homens lembravam o Samurai Demônio, personagem de uma história que Dai-jii gostavam de contar para assustar as crianças.

Seu rosto era duro e o cabelo imundo, como se não fosse lavado a semanas. Por quanto tempo eles estão esperando aqui? Talvez desde que a gente deixou minha vila… Os restos de frutas e ossos de animais espalhados ao redor da árvore confirmavam isso.

Agora ela percebeu que eles não pareciam nenhum pouco com aqueles bandidos. Mesmo de longe, uma iniciante como Ei conseguia sentir. Eles tinham uma aura feroz parecida, endurecida por batalhas. Mas tinha uma diferença. Esses homens não eram bandidos; eles eram verdadeiros guerreiros.

No instante em que Tadayoshi estava a vista, os homens em guarda pararam de conversar e encararam o recém chegado. Os que afiavam suas armas saltaram de pé e o samurai levantou com sua espada em mãos. Sem qualquer gesto, os outros formaram um semicírculo ao redor de Tadayoshi, bloqueando qualquer rota de fuga exceto do caminho de volta para a floresta.

Eles estão deixando espaço pra uma luta um a um? Então Tadayoshi estava certo. As pessoas atrás dele estavam perto, ela pensou sombriamente.

Tadayoshi não reagiu. Ele continuou andando na direção do samurai na mesma velocidade, seu rosto indicando nada. O que está fazendo, seu idiota? Porque não está sacando sua espada? Ei queria gritar quando ela viu ele bocejando e esfregando o pescoço com a mão direita. Então ela notou a mão esquerda dele deslizando discretamente para o cabo da espada. Um momento depois ela percebeu; com dois passos, qualquer um deles estaria dentro do alcance de Tadayoshi.

— Posso ajudá-los? — ele perguntou, olhando de um em um com uma expressão vazia.

— A honra por sua cabeça será o suficiente. — No momento em que o samurai terminou de falar, os cinco atacaram.

Tadayoshi não perdeu tempo, avançado no mesmo instante. Ele foi para o homem à esquerda do samurai. O guerreiro brandiu sua espada, mas Tadayoshi desviou sem dificuldades e acertou o ombro com força no peito do inimigo

O homem perdeu o fôlego e Tadayoshi agarrou as mãos dele. Com uma velocidade incrível, ele atacou o líder com a espada de seu próprio subordinado.

Rápido demais para ele, o samurai não conseguiu desviar ou defletir a espada e a lâmina perfurou sua barriga. A surpresa em seu rosto durou apenas um instante. Ela virou surpresa e então dor. Ele soltou a espada e caiu com as mãos no ferimento, se contorcendo e gemendo até ficar em silêncio.

Ei não sabia nada sobre o mundo da espada. Mas ela tinha certeza de uma coisa; Tadayoshi era forte. Muito forte. Mesmo sabendo isso, ela ainda assistiu com os olhos brilhando. Ele matou aquele samurai em instantes… Ela não percebera, mas não conseguia deixar de sorrir. Um dia eu vou ser forte desse jeito e lutar ao lado dele.

Os homens hesitaram enquanto a terra bebia o sangue do samurai. Seus rostos gritavam seus pensamentos; mesmo sendo fortes, seu líder tinha morrido fácil demais. Mas eles não desistiram e atacaram de novo.

No breve instante em que tiraram os olhos de seu alvo, eles não perceberam o que acontecera. Tadayoshi ainda segurava a espada do homem, mas com a mão livre, ele sacou a pequena faca e a cravou no coração dele. O homem arregalou os olhos, sem acreditar enquanto suas roupas encharcavam de sangue.

Contornando o moribundo, Tadayoshi o jogou para os dois mais longe. Um conseguiu desviar de seu companheiro, mas o outro não foi tão rápido. O cadáver o atingiu em cheio e ele sucumbiu sob o peso.

Sem olhar para ver o resultado, Tadayoshi sacou a própria espada e cortou o mais próximo na garganta. Antes mesmo que o guerreiro caísse, o espadachim já tinha virado para encarar os inimigos restantes.

O único ainda em pé não hesitou; ele nem mesmo olhou para seus companheiros no chão enquanto ele brandia sua espada. Mas, até mesmo para Ei, seu ataque lento demais. A espada de Tadayoshi subiu, encontrou com a do inimigo e redirecionou o ataque para o chão. Aproveitando o momento, Tadayoshi enfiou a faca na garganta do guerreiro.

O último inimigo finalmente conseguiu sair debaixo do cadáver e levantou com a espada pronta. Mas quando viu apenas Tadayoshi em pé e todos seus companheiros mortos, ele largou a arma e correu para a floresta.

Ei obedecera Tadayoshi e permaneceu escondida. Mas, hipnotizada pela luta e por sua necessidade de ver tudo, ela tinha pouco a pouco se aproximado. E agora o último sobrevivente estava correndo na direção dela.

Sua mente congelou. Ei sabia que eles nem parecia, mas tudo que ela conseguia ver era o bandido que matou sua mãe correndo na sua direção. Não… não… Ela deu um passo para trás. Então outro. E outro. Até algo bloquear seu caminho. A respiração dela ficou rasa e rápida. Seu corpo inteiro tremeu. Com medo de olhar, ela usou sua mão e quase chorou de alívio quando percebeu que era apenas uma árvore.

Ela puxou a mão suada de volta e encostou na espada. Mesmo nesse estado, ela tinha uma vaga ideia do que fazer. Eu preciso sacar… preciso me defender… Eu preciso… matar… Seu dedos fecharam ao redor do cabo, mas ela não sacou a arma. Ela não conseguia. Ela tremia tanto que era impossível.

O guerreiro estava quase na floresta, mas não tinha percebido a presença dela. Ele estava ocupado demais olhando sobre o ombro para ver se Tadayoshi o seguia.

Tadayoshi estava no mesmo lugar, sacudindo a espada para limpar o sangue. Depois que ele embainhou a katana, ele começou a recolher as armas dos mortos, sem notar o homem correndo na direção de Ei.

O guerreiro não prestou atenção e tropeçou em uma raiz, caindo aos pés da menina.

Por reflexo, por medo, Ei sacou a espada.

Ela tentou trazer a espada para baixo, mas suas mãos não a obedeciam. O metal tremia tanto que matava todos os outros sons. O homem levantou a cabeça e a encarou, seus olhos enchendo de terror.

Ei conseguia se ver refletida naqueles olhos. Ela, segurando uma espada, prestes a tirar uma vida, prestes a matar alguém. Tudo ficou gelado. Sua respiração ficou mais rápida e seu coração bateu mais alto. Num piscar de olhos, Ei estava surda para tudo além de suas arfadas e seu coração.

O momento esticou, e Ei não se mexeu. Tudo que ela conseguia fazer era encarar o homem. Tudo parecia parado por uma eternidade. Apenas quando os baixos sons dos passos apressados de Tadayoshi chegaram em Ei foi que o tempo andou de novo.

O homem olhou para trás, levantou e correu, ignorando a Ei petrificada.

Tadayoshi ofegava e mexia sua boca, mas nada saia. Ei sabia que ele estava falando alguma coisa, mas para ela, ele não tinha voz. Não… sou eu que não consigo escutar, ela pensou vagamente. Só quando ele pegou nas mãos dela e apertou com força, Ei olhou para ele e finalmente escutou sua voz.

— Você está bem?

Aqueles olhos negros e profundos a acalmaram e ela abaixou sua espada, sua respiração lentamente voltando ao normal. Ela percebeu que suas mãos estavam dormentes e frias e ela não fez nada quando ele tirou a arma delas.

Tadayoshi puxou a bainha da cintura dela, embainhou a espada e a segurou frente dela sem dizer uma palavra. Ei aceitou, mas abaixou a cabeça com vergonha de olhá-lo nos olhos. Ela esperou ele dizer alguma coisa, qualquer coisa. Até mesmo uma brincadeira a deixaria se sentindo melhor.

Mas tudo que ele fez foi apanhar a bagagem que ela não lembrava ter derrubado e sair da floresta. Limpando as lágrimas que ameaçavam cair, ela o seguiu sem colocar a bainha na cintura.

Pensei que tinha ficado mais forte. Que tudo seria diferente com uma espada, mas… eu não mudei nada… Sou a mesma criança fraca que não consegue fazer, Ei pensou, apertando a bainha.

As costas de Tadayoshi parecia ainda maior que ontem a noite. Você deveria parar de perder seu tempo comigo. Sou fraca, não consigo fazer nada… Sou só uma menininha da vila que só consegue tremer quando está com medo…

Ela sentia falta de casa, sentia falta de Dai-jii, Sumire, seu primo e de todos os outros. E sentia mais falta de sua mãe. Mãe… Desta vez Ei não fez nada para impedir as lágrimas, deixando elas caírem em silêncio.


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