Samurai NOT escrita por phmmoura


Capítulo 27
Capítulo 21




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Estamos a salvo? Mesmo depois do ninja e do menino samurai terem ido embora, Ei ainda apertava a espada com força. Sua respiração não tinha retornado ao normal. Eles realmente se foram? Ela sentiu o frio atacando contra sua pele descoberta, mas ignorou a dor.

Só quando Tadayoshi tocou a mão dela ela abaixou a espada lentamente.

— Eles… Kenshin não vai voltar. Não importa o quanto ele ordene, Masa não vai deixar. Não com um ferimento daqueles — disse o espadachim, encarando o local onde os inimigos deles desapareceram.

Ei notou os olhos de seu mestre estavam sem foco por um momento. Então esse era o filho de Yasuhiro-sama, ela pensou, olhando para o mesmo local que o espadachim. Então ela percebeu que a mão dele, ainda em cima da dela, estavam vermelhas e pegajosas.

— Me deixe tratar esse ferimento — ela disse numa voz baixa, finalmente embainhado sua espada.

Tadayoshi mal murmurou sim. Ainda encarando o local onde Kenshin desaparecera, ele deixou sua discípula o arrastar até a casa que passaram a noite.

Ela molhou um pano na água da garrava de bambu e entregou para ele limpar o sangue no braço. Então ela usou o resto da [agua para encher a vasilha extra que tinham. Mesmo que significasse carregar mais peso, ela fez questão de ter duas.

Se dependesse dele, a gente usaria a mesma vasilha pra cozinhar e misturar os remédios, ela pensou distraidamente enquanto Tadayoshi acendia o fogo. Enquanto esperava para a água aquecer, Ei amassou as ervas. Mestre e Kenshin… eles cresceram como irmãos… e mesmo assim, aquele menino samurai estava olhando para ele com tanto ódio…

Ela sentiu um aperto estranho no estômago. Mestre nunca negou que matou Yasuhiro-sama, mas ele sempre diz que não fez por querer… ninguém além do mestre sabe o que aconteceu naquela noite, mas todos o culpam… Não importa o que faça, ele sempre será conhecido como o homem sem lealdade, o homem que matou o herói, Yasuhiro-sama.

Ei acreditava em seu mestre. Eles estavam juntos por mais de um ano agora e ela tinha aprendido muito sobre ele. Ela sabia que o espadachim, mesmo sem hesitar em matar, não sentia qualquer prazer nisso. E apesar de falar mal dele aqui e ali por alguma coisa, ela sabia o quanto Tadayoshi o amava o mestre.

Mesmo assim, a maior parte de seu passado continuava um mistério. O mestre dela prometera contar a verdade um dia, quando ela estivesse preparada. Acho que ainda não estou, ela pensou, abraçando os joelhos para aquecer. Depois de um tempo, ela parou de perguntar. Não que sua curiosidade tivesse diminuído; apenas que a confiança em seu mestre cresceu ainda mais.

Enquanto ela se perdia em seus pensamentos, Tadayoshi puxou uma das shurikens de suas roupas e virou para se distrair. Quando ele apanhou isso? Ei se perguntou, encarando a arma. Não tinha a ponta apenas afiada. Tinha pequenas fendas ao longo da lâmina para arrancar carne quando retirada. Pelo menos não parece envenenada.

Quando a vasilha estava exalando vapor, Ei apagou o fogo e pegou um pano limpo. Depois de mergulhar na água quente, ela limpou o ferimento. Então, sob a careta de Tadayoshi, a garota pegou um pouco das ervas amassadas com o dedo e cobriu o lugar onde a shuriken atingira.

— Precisa mesmo de ataduras pra um arranhão desses? — Tadayoshi perguntou, sem esconder seu nojo pela pasta em seu braço

— Não. Mas já que você é como uma criança que fica coçando a casca, eu preciso — ela respondeu e continuo a enfaixar o braço dele.

Depois de tudo feito, Ei usou a água quente para limpar a vasilha. Então ela guardou todos os matérias na bolsa. Vou ter que limpar os panos depois, ela pensou, lembrando o quão fedorento tudo ficava quando ela esquecia.

Ei abraçou as pernas de novo e esperou seu mestre dizer qualquer coisa. Mas tudo que Tadayoshi fez foi passar o dedo na shuriken, tocando na lâmina afiada. A discípula sabia que seu mestre estava pensando no passado, e talvez revivendo as memórias. Apesar da curiosidade a devorando por dentro, ela ficou calada.

Não é só curiosidade, ela pensou depois de um tempo. Ele é meu mestre. Eu preciso saber tudo sobre ele. É o dever de um discípulo. Mas tudo que sei é que Yasuhiro-sama apanhou Tadayoshi no meio de uma estrada quando ele era criança.

— Kenshin… ele é…

Tadayoshi quebrou o silêncio depois de um longo tempo. Sua expressão era difícil de ler, mas ele encarava a shuriken com olhos desfocados. Ei nunca gostou do fato de seu mestre poder ler a mente dela tão bem. Mas em momentos como esse, onde era difícil encontrar palavras, ela secretamente agradecia por essa habilidade dele.

— A gente se conhece desde que meu mestre me encontrou e me trouxe para sua casa… Kenshin é… — Ele fechou os olhos quando a voz falhou. — Ele era bem apegado a mim. Parcialmente porque não tinha crianças da idade dele, mesmo ele sendo alguns anos mais novo do que eu, acho. Mas não ajudava o fato dos gêmeos serem bem unidos. Aqueles dias eram… divertidos…

Tadayoshi mostrou um sorriso pequeno. Mesmo tendo a dor da perda naquela expressão, Ei ficou aliviada. Ela estava acostumada com seu mestre rindo e sorrindo, especialmente dela. Era estranho o vê-lo dessa forma.

Então Kenshin é um pouco como eu, ela pensou, olhando para seu mestre pelo canto dos olhos. Ele admirava Tadayoshi… mas agora ele acha que mestre traiu Yasuhiro-sama. Alguém que ele considerava um irmão matou seu pai… Traição era a fonte daquele ódio que até mesmo a assustou.

Agora faz sentido aquele olhar que ele me deu quando chamei Tadayoshi de mestre, ela pensou, estremecendo com a lembrança. Aquele menino samurai não conseguia acreditar que o homem que ele negava o nome ousou passar o estilho de seu pai. Não era sobre mim. Ainda sou ninguém. Agora, tudo que sou é discípula de Tadayoshi…

— E o ninja? — Ei perguntou de repente. Como espadachim, ela ainda sentia uma mistura de alívio e raiva por ter sido completamente ignorada. Ele teria me matado antes que eu pudesse sequer perceber o que aconteceu.

— Aquele idiota…? — Tadayoshi deu um grande suspiro e então atirou a shuriken pela janela. — Vou deixar ele se apresentar.

— Quem está chamando de idiota? — uma voz fria e baixa falou.

Ei arregalou os olhos quando sentiu um tremor percorrendo o corpo. De repente parecia que estavam cercados por muitas pessoas com uma sede de sangue insana. A mesma intenção assassina da floresta, ela pensou, suor frio descendo pelo seu pescoço.

Ela rapidamente virou para a janela, mas sua mão procurava pela espada. Tudo que encontrou foi a bolsa e ela empurrou desesperadamente. Mas não teria feito nenhuma diferença. Antes que percebesse, o ninja já estava dentro da casa, descansando contra a parede oposta.

Ei congelou. Como ele entrou sem mestre perceber? Uma das coisas que mais treinara era como sentir a presença dos outros. Mas agora o ninja estava tão perto e ela não tinha sentido nada.

Ela olhou para Tadayoshi. Sempre se impressionara como seu mestre podia sentir se tinha alguém por perto deles. Até mesmo enquanto dormia. No momento que sentia alguém ou algum animal, ele acordava com a espada em mãos. Apesar da habilidade dela não chegar nem perto da de Tadayoshi, ela não era surpreendida por pessoas pelo menos. Mas agora, até mesmo seu mestre ficou sem reação.

Sua respiração ficou rápida e rasa. Respirar doía. Sua mente tentou pensar em algo, mas ela se recusava a funcionar. A garota não queria tirar os olhos do inimigo, mas precisava. Não importava a situação, precisava de sua espada. Mesmo que não fizesse diferença contra um inimigo como o ninja, ela se sentia nua.

Pelo canto do olho, ela finalmente encontrou Asahi. Estava perto de Tadayoshi no outro lado o quarto, fora de seu alcance. Merda, a garota pensou, olhando para a arma de seu mestre. A espada dele também estava fora de seu alcance.

— Você já está morto. — o ninja disse, apontando para o braço de Tadayoshi com a shuriken, sua intenção assassina crescendo.

Ei parou de respirar. Apesar de mal falar acima de um sussurro, a garota sentiu o peso de suas palavras como um aperto em sua garganta.

— Oi, Masa. Faz tempo — Tadayoshi disse, sem reagir para as palavras do ninja. Ele olhou para as ataduras e colocou a mão nelas, sorrindo. — Eu o deixei me atingir. Ou Ken… o jovem mestre teria descoberto.

— Sempre dando uma desculpa. Você não mudou. — Apesar de usar o mesmo tom de voz, Ei conseguia dizer que o ninja estava sorrindo sob a bandana. Ele guardou a shuriken dentro das roupas e suspirou. — Infelizmente você ainda superestima a inteligência do jovem mestre. Não tem chances dele ter percebido algo como isso.

— Ele poderia nunca ter percebido que você revelou sua presença por um momento na floresta antes de atacar. Mas até mesmo ele teria suspeitado se você não me atingir. É você que subestima Ken… o jovem mestre.

Um estranho silencio se estabeleceu dentro da casa. O que está acontecendo…? Não estamos… em perigo…? Era difícil para Ei acreditar que estavam a salvos.  Mas a conversa deles parecia dois amigos colocando a conversa em dia depois de muito tempo sem se ver…

Mesmo assim, a espadachim queria, precisava de sua espada. Ei tentou lentamente se empurrar até Asahi, rezando que o ninja ainda a ignorasse. Mas no momento em que se mexeu, ele virou a cabeça para ela, seus olhos a olhando diretamente.

Ei congelou sob aquele olhar. Aqueles olhos pareciam com os de Tadayoshi, olhando fundo na alma dela. Mas, diferente de seu mestre, eles eram frios, quase vazios.

— Você disse que nunca teria um discípulo. — o ninja disse depois de um tempo, sua atenção voltando para Tadayoshi.

Ei pensou que a boca dele se contorcendo no que parecia ser um sorriso sob a bandana. Um diferente do de antes. Um zombeteiro. Isso também é bem parecido com Tadayoshi, ela pensou.

— Bem… Vamos dizer que encontrei algo interessante no meu caminho — Tadayoshi disse, sorrindo enquanto olhava para sua discípula. — Ei, não precisa se preocupar. Se ele estivesse aqui pra nos matar, já poderia ter feito. Então, por que está aqui?

— O casal idiota acredita que tem algo nessa montanha. Pode ser nada, mas disseram que mandariam um sacerdote para investigar…

O ninja ficou quieto, mas até Ei podia ver que ele estava hesitando em contar o resto. Ele encarou o espadachim em silencio e Tadayoshi manteve o olhar.

Ei olhou entre eles, sentindo o ar ficar mais frio. O clima de amizade entre os dois tinha sumido por completo. Agarota ficou com medo de respirar alto demais e quebrar o silêncio.

— Eles suspeitam que talvez possa ser o que você procura — disse o ninja por fim. Então ele desapareceu antes que Tadayoshi pudesse sequer reagir.

Ei virou para seu mestre. Ela estava curiosa demais sobre a conversa que entendera nada, mas se manteve quieta.

Tadayoshi não estava prestando atenção nela. Ele tinha a cabeça baixa, os olhos vagos e sua mão dentro das roupas, tocando a cicatriz na barriga.

Não era a primeira vez que Ei via seu mestre dessa forma. Sempre que escutavam rumores estranhos, Tadayoshi ficava assim. Coisas como ataques estranhos nas vilas durante a noite. Lugares onde pessoas desapareciam do nada. Moradores que começavam a agir de forma estranha de repente.

Ei agora tinha certeza que tinha alguma relação com Yasuhiro-sama. Se aquele ninja veio até aqui pra dizer isso, tem que ser. Talvez até tenha a ver com a noite quando Yasuhiro-sama morreu, ela pensou.

Agora ela não conseguia culpar a obsessão de Tadayoshi pelos rumores estranhos. Infelizmente, a maioria das vezes eram bandidos espalhando rumores falsos para afastar a competição ou atrair a atenção de algum nobre tentando fazer uma reputação para si sem participar da eterna guerra.

Uma das poucas vezes que não eram bandidos, eram apenas rumores sendo exagerados. Uma vez eles acabaram numa vila porque o novo chefe estava agindo de forma estranha e poderia estar possuído. No final, ele estava contando trocadilhos e queria popularizar eles, mas os mercadores viajantes acharam estranho demais.

Mas, por alguma razão, ver Tadayoshi agindo como sempre fez Ei sorrir. É como daquela vez, ela pensou, lembrando. Pensando bem, foi a primeira vez que vi o mestre agindo assim. Algumas semanas depois do Obon, eles escutaram os rumores estranhos pela primeira vez. Ela nunca conseguiria esquecer como era esquisito ver ele sério fora de uma luta ou numa conversa envolvendo Yasuhiro-sama.

Depois de passarem um bom tempo perdidos numa floresta de novo, eles procuraram qualquer lugar com um telhado para descansar. Para o azar deles, algo que Tadayoshi gostava muito de dizer, a única vila próxima era uma que seu mestre não queria chegar nem perto. Agora Ei tinha uma forte suspeita tinha relação quando seu mestre precisou fugir pelado. Ela nunca confirmara, no entanto.

Mas eles foram mesmo assim. Quando chegaram lá, o sol estava se pondo. A caminhada os deixara exaustos, e tudo que Ei queria era comer alguma coisa e descansar. Mas para o azar dela, eles acabaram escutando a conversa dos moradores.

Eles estavam debatendo sobre como lidar com os roubos recentes na redondeza. Por causa deles, os mercadores se recusavam a passar perto da vila. Alguns diziam para pedir ajuda ao Senhor deles. Outros diziam que era inútil e que deveriam arriscar contratar ronin.

Tadayoshi não estava nenhum um pouco interessando nisso, mas quando começaram a debater sobre os bandidos, ele ficou interessado. Eles eram conhecidos pela área, mas eram fracos e mal faziam qualquer ameaça. Mas de repente eles ficaram bem fortes.

Apesar dos protestos dela, seu mestre a arrastou para lutar com os bandidos na mesma noite. Pelo menos foi fácil encontrar eles, ela lembrou. Eles atacavam as principais estradas e na primeira que tentaram, o grupo veio até eles.

Tadayoshi ficou tão desapontado que talvez tivesse deixado os bandidos em paz se não atacassem. A razão pela mudança repentina do grupo era um soldado desertor do senhor local. Ele se tornou o líder e sob seus treinos e táticas, o grupo de bandidos ficou mais perigoso. Ainda eram fracos para o nível de Tadayoshi, mas o senhor estava ocupado demais e os bandidos puderam agir livremente.

Ei duvidava que seu mestre se lembrava disso. Mas ela nunca se esqueceria. Para ela, foi especial; foi a primeira vez que lutou de verdade, a primeira vez que arriscou sua vida, a primeira vez que matou alguém com suas próprias habilidades.

— Vamos pro topo — Tadayoshi disse de repente, trazendo a mente dela de volta para a montanha. O jeito que ele falou não deixava espaço para Ei mudar ele de idéia.

A discípula, já esperando algo assim de seu mestre, foi rapidamente lavar as vasilhas e os panos. Sabendo da pressa de Tadayoshi, ela fechou os olhos e mergulhou tudo na água, incluindo sua mão. Ela lavou o mais rápido que podia. Para sua surpersa, o espadachim esperava ao seu lado, com a bolsa aberta para ela jogar as coisas dentro.

Enquanto voltavam para a floresta mais uma vez, ele não olhou para ela. Seus mestre tinha olhos apenas para o cume da montanha.

Ei fez o mesmo. Ela viu o topo coberto com neve envolto por nuvens, as árvores e as rochas coberta com branco. Apesar da bela vista, tudo que a garota sentia foi um mau pressentimento. Mesmo assim, ela ficou quieta.

— Ali. — Tadayoshi apontou para algum canto da montanha.

Ei olhou nessa direção, mas não viu nada diferente. Era a montanha, como o resto.

— Tudo parece igual — ela falou sem pensar, colocando as mãos debaixo das axilas para esquentar.

— Seus olhos são ruins. Olhe direito. — Ela fez como mandada, mas ainda assim não viu nada diferente. — Tem um pequeno espaço entre as árvores naquela área. Deve ser o córrego. A vila deve estar perto.

Ela olhou para ele desconfiada, mas Tadayoshi já estava indo. Ei ainda olhou para esse tal espaço que ele disse. É melhor ficar perto do rio, ela pensou, mas não falou. A discípula já sabia o que escutaria. Que era perda de tempo, que seria mais rápido ir em linha reta.

Ei suspirou e foi atrás de seu mestre.


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