Samurai NOT escrita por phmmoura


Capítulo 23
O conto dos dois irmãos 5




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— Precisamos fazer alguma coisa, Jirou! — Ichirou quase gritou na manhã seguinte, antes da cerimônia. Por sua aparência exausta, ele cavalgara pela noite para chegar a tempo. — Deve ter algo que possamos fazer! Qualquer coisa!

— Não há nada ao nosso alcance, irmão — disse o samurai com a voz vazia, mal olhando nos olhos do mais irmão velho. — Nosso pai aceitou seu destino. Ele escolheu isso. Pelo bem de sua honra e das vidas que perdemos por causa dele.

Ichirou encarou o irmão sem acreditar no que escutara.

— Estamos falando do nosso pai! — gritou, atraindo atenção. Mas o mais alto não se importou. — Devemos…

— Por favor, irmão… Por favor… aceite… o desejo do pai… — Jirou conseguiu dizer com a voz rouca, prestes a chorar.

Ichirou percebeu. Ele mordeu os lábios, conteve as palavras e abaixou o olhar. Jirou não podia chorar. Nem ele. Não agora, quando tantas pessoas importantes se reuniram para ver a cerimônia.

Então o irmão mais velho também encarou a realidade. Não havia nada que pudessem fazer para mudar o destino do pai dos dois. Com um suspiro derrotado, Ichirou passou suas grandes mãos pelo rosto lentamente, respirando fundo.

Jirou não conseguia olhar o rosto de seu irmão. Não podia ver sem sentir a vontade de chorar dentro dele ficar mais forte. Ele virou o rosto para cima. O sol brilhava forte, sem nuvens para acalentar seu calor.

Contra a vontade, o samurai começou a se lembrar de fatos da infância. De quando ele e o irmão se esgueiravam à noite para treinar. De quando o pai se juntou ao treinamento noturno secreto deles. Quando a mãe os pegou e deu um sermão nos três. Quando todos dormiram do lado de fora sob o luar e os pais contavam histórias para os filhos sobre Yasuhiro-sama.

O samurai tocou seu peito, onde a carta, a última que seu pai escrevera, estava. Debaixo das roupas, ele apertou o papel, lembrando das palavras. Sinto muito. Proteja seu irmão. Mesmo agora, enquanto o pai se purificava para a cerimônia, Jirou só conseguia imaginar o sorriso triste enquanto fazia seu último pedido.

— Servirei ao nosso Senhor — disse Jirou após muito tempo, depois de controlar-se.

Ichirou arregalou os olhos, o rosto mostrando que ele não entendera.

— Eu servirei o Senhor no lugar de nosso pai — repetiu o samurai com a voz mais firme dessa vez.

— Mas eu sou o mais velho — disse Ichirou, lentamente. — Eu quem deveria…

— Sim, deveria ser você. — Jirou ergueu a cabeça para olhar nos olhos do irmão. — Mas serei eu quem servirá em seu lugar. Já conversei com o Senhor. Como foi o último pedido do pai, ele aceitou sem reclamações.

Ichirou abriu a boca, mas a fechou sem nada dizer. Respirou fundo e mostrou um sorriso triste.

— Acho que o Senhor prefere assim. Você sempre foi o mais forte… Apesar do meu tamanho, nunca venci você… Quem gostaria de um samurai como eu, quando podem ter você? — O homem soltou uma risada vazia.

Jirou se impediu antes de confortar o irmão. É o melhor para ele… ele tem uma família… tem um filho… não há por que lidar com o Senhor…

— É o melhor… irmão… O pai quis isso…

Ichirou deu um olhar longo e duro para o irmão.

— Se é o melhor, então por que seus olhos estão tão vazios?

— É por que…— Jirou não conseguia achar um motivo para dizer sem mencionar o pai. Após um longo tempo, ele abaixou o olhar. — Foi pedido do pai. Para deixá-lo livre para viver como quiser com sua família.

— E quanto a você? — disse Ichirou, sem se incomodar em manter a voz baixa. — Você não deveria servir ao Senhor. Não me diga que esqueceu seu sonho. Você admirava e queria ser como Yasuhiro-sama desde que éramos pequenos. Sei que deseja ser livre e viajar para ficar ainda mais forte. Por favor… não destrua seus sonhos… não por mim… Já perdi meu pai… Não quero perder meu irmão também…

Jirou olhou em volta. Muitas pessoas importantes pararam para ver a discussão dos irmãos. Embora ele não pudesse ouvir seus sussurros, sabia que julgavam a ele e sua família.

— Sonhos são para crianças, irmão — disse Jirou com uma voz fria e vazia. — Falei isso quando nada sabia do mundo. Que tipo de samurai, que tipo de honra, eu encontraria se não servisse a um senhor? Eu irei servir.

Novamente, Ichirou abriu e fechou a boca quando não conseguiu achar o que retorquir.

— Jirou… — Igual ao mais novo, o irmão mais velho estava prestes a chorar. — Que destino é esse? — ele sussurrou para que só Jirou ouvisse.

— Não fique triste, irmão. Você tem a chance de viver a vida que merece. Por favor, crie seu filho para que cresça e seja um samurai como nosso pai um dia.

Os irmãos não trocaram mais palavras após aquilo. Tudo que fizeram foi sentar na grande sala onde a cerimônia aconteceria.

A visão do pai deles em roupas brancas e tirando a própria vida era algo que jamais esqueceriam pelo resto da vida.


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